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Economia Institucional I 2013- Aula 17

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Economia Institucional I 
 
Bibliografia: 
 Bush (1987); Fiani (2011), cap.9 
 
Aula 17: 
Instituições, mudança 
institucional e desenvolvimento 
econômico. 
1 
Aula 17 - Mudança institucional 
Aula 17 - Mudança institucional 2 
 1. O papel do estado no DE - I 
• O Estado pode ser entendido como uma organização, 
mas também, como todas as organizações, é uma 
instituição: as leis, regras, etc. (i.e., boa parte das 
instituições formais), caracterizam o próprio Estado. 
• Nas últimas duas aulas, vimos duas visões bastante 
negativas quanto ao papel do estado como indutor do 
desenvolvimento econômico (DE). 
a) North: estado como “rei” → ação estatal sempre visa 
maximizar a utilidade do estado. 
b) TBR: Estado como “balcão desorganizado” de 
atendimento de interesses particulares. 
 
Aula 17 - Mudança institucional 3 
 1. O papel do estado no DE - II 
• Vamos estudar visões que combinam as duas 
abordagens, resultando numa perspectiva mais 
otimista e construtiva quanto ao papel do Estado 
no DE. 
• Concretamente, vamos a seguir as visões do 
Peter Evans (algumas escritas em co-autoria com 
Dietrich Rueschmeier) e de Ha-Joon Chang. 
• Esses autores não partem de uma visão teórica 
geral quanto ao papel do Estado, mas de estudos 
de caráter mais aplicado de intervenção do 
estado em diferentes processo de DE. 
Aula 17 - Mudança institucional 4 
 2. Peter Evans e a intervenção do estado - I 
1. Falhas de mercado só podem ser superadas 
com intervenção externa a ele. 
 Problemas de falhas são maiores em países 
subdesenvolvidos. 
• Poucos agentes nos mercados 
• Elites que utilizam o estado para si e que têm interesses 
vinculados a grupos no exterior. 
 Nesse caso, a intervenção permite racionalidade 
administrativa como contraponto à racionalidade 
individual 
• Superar falhas de mercado 
• Superar resistências sociais ao processo de DE 
• Superar resistências à redistribuição de renda 
 
Aula 17 - Mudança institucional 5 
 2. Peter Evans e a intervenção do estado - II 
2. Estado pode ter racionalidade administrativa 
que permita superar os limites do mercado, mas 
nada garante que seja usado eficientemente. 
• Ou seja, o Estado pode ter interesses próprios, sem ser o 
“ruler” de North. 
• Lutas internas no Estado podem levar à sua fragmentação 
e paralisação. 
 Segundo Evans, o Estado pode ao mesmo tempo 
promover o bem comum e alguns interesses 
particulares. 
• Toda intervenção do estado, apoiando uma indústria, 
contratando um serviço ou abrindo uma estrada vai 
favorecer algum grupo específico. 
 
Aula 17 - Mudança institucional 6 
 2. Peter Evans e a intervenção do estado - III 
3. O estado deve adquirir uma autonomia relativa 
da classe dominante para promover o DE. 
 Para conseguir essa autonomia, o Estado deve 
desenvolver uma “burocracia weberiana” (BW). 
 Essa burocracia se caracteriza por: 
• Profissionalismo (remuneração boa, regras de carreira). 
• Preparo técnico. 
• Regras claras de funcionamento (inclui estabilidade). 
• Hierarquia e fiscalização. 
 Quanto maior a proximidade da burocracia ao ideal de 
BW, maior a possibilidade de agir coletivamente. 
• Essa burocracia demora para ser construída. 
• A solução para a captura do estado pelos interesses 
particulares não é sua redução, mas a construção da BW. 
 
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 2. Peter Evans e a intervenção do estado - IV 
4. Sem perder sua autonomia, Estado deve 
desenvolver parceria com agentes privados. 
• Isso permite uma negociação contínua de objetivos e 
políticas. 
 Para Evans, a autonomia do Estado é uma condição 
necessária para a oferta de bens públicos e para a 
formulação e implementação de políticas 
desenvolvimentistas, mas não é condição suficiente. 
• Os agentes do Estado enfrentam problemas de 
informação, os privados conhecem melhor os problemas 
dos seus setores específicos. 
• Parceria sem autonomia é o pesadelo da TBR; autonomia 
sem parceria é o pesadelo de North. 
Aula 17 - Mudança institucional 8 
 2. Peter Evans e a intervenção do estado - V 
5. Tipologia dos Estados. 
 Evans fala de dois modelos polares, o Estado predador e o 
estado desenvolvimentista 
 
 
 
 
 
 
 
 A maioria dos estados reais entra na categoria que Evans 
denomina de Estado intermediários. 
Predador Desenvolvimentista 
Sem BW Com BW 
Busca interesses pessoais dos 
chefes 
Defesa interesses coletivos 
da sociedade 
Cimento são as relações 
pessoais entre os agentes do 
estado, e entre eles e os 
privados (clientelismo). 
Alianças sociais ligam Estado 
e sociedade, criando canais 
contínuos de formulação e 
avaliação de políticas. 
Aula 17 - Mudança institucional 9 
 3. Ha-Joon Chang , o estado e o DE - I 
 Chang baseia suas análises em casos concretos de 
processos de DE, mostrando que não ocorreram 
conforme a teoria tradicional supõe. 
 Vamos destacar três características teóricas do 
pensamento de Chang: 
a) Ativos específicos, coordenação ex-ante e ex-post. 
• Mercados modernos (vinculados ao DE) têm poucos agentes, 
com ativos específicos (físicos e humanos), com dificuldades 
de reutilização e portanto elevados custos de transação. 
• Coordenação através do mercado é ex-post: só permite saber 
se o investimento foi bom depois de que este foi 
realizado→risco de desperdício. 
• Coordenação ex-ante através do estado reduz incertezas e 
evita desperdício. 
 
 
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 3. Ha-Joon Chang , o estado e o DE - II 
b) Estado como gestor de conflitos. 
• Processo de DE inerentemente conflituoso 
(permanente deslocamento de fatores produtivos). 
• Perdas podem gerar reação defensiva dos agentes 
prejudicados, pois não há reutilização “suave” dos 
seus ativos. 
• Ação política desses agentes é algo natural 
• Estado pode reduzir conflitos “interferindo” nos 
resultados do mercado: protecionismo, defesa de 
setores (bancos ou automóveis nos EUA em 2008), 
inflação como mecanismo de transferência de 
rendas disfarçado, políticas fiscais, transferências 
abertas, etc. 
 
 
Aula 17 - Mudança institucional 11 
 3. Ha-Joon Chang , o estado e o DE - III 
c) Estado como empreendedor. 
• Sistema econômico é altamente interdependente → precisa 
mudanças sistêmicas que estão além da compreensão e das 
possibilidades de ação dos agentes individuais. 
• Nesse caso, pareceria que o estado pode solucionar falhas de 
coordenação, permitindo sair de um equilíbrio ruim para um 
equilíbrio bom (como no jogo da garantia). 
• Todavia, é mais importante que o Estado redefina a matriz de 
payoffs, fornecendo os objetivos do DE. 
“...a mudança estrutural...requer muito mais do que escolher a 
partir de um conjunto de escolhas preexistente. Ela requer 
formular o próprio conjunto de escolhas, quer dizer, oferecer 
uma visão de futuro. E o Estado, como agente central, pode 
desempenhar um papel importante ao oferecer essa visão” 
(Chang apud Fiani, p.220) 
 
 
Aula 17 - Mudança institucional 12 
 4. Um balanço da questão da mudança institucional- I 
• Problema básico: se as instituições devem ser 
estáveis, como se explica sua mudança? 
• As mudanças se originam em: 
i. Tecnologia: 
• Decorre das atividades instrumentais da 
humanidade (instintos de trabalho eficaz e de 
curiosidade desinteressada), criando um processo 
de causação cumulativa. 
i. Mas também há um reflexo nos mercados através 
da mudança de preços relativos. 
ii. Preferências 
iii. Contatos interculturais. 
 
Aula 17 - Mudança institucional 13 
 4. Um balanço da questão da mudança institucional- II 
• As normas de uma sociedade também mudam 
porum processo evolutivo 
• Há um equivalente cultural aos genes, 
denominados memes, características culturais 
transmitidas por imitação numa sociedade. 
• Podemos pensar num esquema de transmissão 
com algumas analogias com a herança genética, 
p.ex. numa situação em que convivem dois 
memes numa população. 
• A transmissão de valores dos pais para seus 
filhos e chamada de transmissão não-viesada: 
100% dos memes passam para os filhos. 
 
 
Aula 17 - Mudança institucional 14 
 4. Um balanço da questão da mudança institucional- III 
• Quando as crianças passam a ser adultos jovens, 
entram em contacto com outros adultos (jovens ou 
não) com valores diferentes: transmissão viesada. 
• Neste caso, os indivíduos acabam escolhendo os 
valores: este é o âmbito das escolhas conscientes. 
• O processo se repete nas sucessivas gerações. 
• A escolha depende de se o meio-ambiente é estável 
ou fixo, e se o aprendizado é fácil ou difícil. 
• Numa situação de meio-ambiente em mudança e 
aprendizado fácil, não tem sentido simplesmente 
imitar os valores anteriores. 
 
Aula 17 - Mudança institucional 15 
 4. Um balanço da questão da mudança institucional- IV 
• A mudança institucional começa com a incorporação de 
um novo conhecimento ao “fundo de conhecimento” da 
sociedade. 
• Esse novo conhecimento, para ser incorporado, tem 
que ser instrumental e cerimonialmente viável. 
Instrumental 
Viável Inviável 
Cerimonial 
Viável 
Setor I 
(encapsulamento 
cerimonial) 
Setor III 
(Efeito 
Lysenko) 
Inviável 
Setor II (eficiência 
instrumental 
perdida) 
Setor IV 
(vazio) 
Aula 17 - Mudança institucional 16 
 4. Um balanço da questão da mudança institucional- V 
• O aumento do fundo de conhecimento bate nos 
limites da estrutura institucional: a mudança pode 
ou não ser permitida. 
• Uma alternativa é a incorporação através do 
encapsulamento cerimonial, que dificulta a 
incorporação da mudança (uma sociedade 
tradicional tem mais dificuldades para aceitar a 
inovação; na sociedade capitalista ela é tipicamente 
incorporada de maneira que não afete a estrutura 
de poder). 
• Mas também a incorporação da mudança pode ser 
cerimonialmente inviável: há perda líquida de 
eficiência na sociedade. 
• No caso do Efeito Lysenko, fatores cerimoniais 
provocam o surgimento de um conhecimento falso.

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