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1 PRAZOS Guilherme Freire de Melo Barros Leonardo Carneiro da Cunha I. Introdução; II. Natureza Jurídica III. Sistemática de aplicação e pontos importantes 1. Preservação de competência 2. Garantia da autoridade das decisões do tribunal 3. Decisão do STF em controle concentrado 4. Observância de súmula vinculante 5. Observância de acórdão em IRDR e incidente de assunção de competência 6. Cumulação da reclamação com outros meios de impugnação 7. Hipóteses de não-cabimento da reclamação 8. Recursos 9. Reclamação contra decisões de Juizados Especiais I. INTRODUÇÃO O CPC-2015 uniformizou o tratamento da matéria, estabelecendo no art. 183, que “a União, os Estados, o DF, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal”. Portanto, atualmente, inexiste distinção com relação à natureza da manifestação da Fazenda Pública, se recurso, contestação ou qualquer outra espécie. O prazo em dobro para manifestação da Fazenda Pública constitui uma prerrogativa, e não um privilégio (questão cobrada na fase oral da PFN-2012). Isso porque privilégio designa vantagem sem fundamento, significa uma discriminação, com vantagem para uma parte e 2 desvantagem para a outra, em ofensa ao princípio republicano. As prerrogativas da Fazenda Pública, por outro lado, são condições necessárias e razoáveis para viabilizar a defesa do erário e do interesse público, em atenção ao princípio da isonomia em seu aspecto material. Quando o Estado está em juízo, ele está defendendo o erário, que, em última instância, é custeado pela própria sociedade. Além de defender o interesse público, a Fazenda mantém uma burocracia inerente à sua atividade, tendo dificuldade de ter acesso aos fatos, elementos e dados da causa. O volume de trabalho que cerca os advogados públicos impede, ainda, o desempenho de suas atividades nos prazos fixados para os particulares. Um advogado particular pode selecionar suas causas, recusando aquelas que não lhe convém, situação que não se aplica ao advogado público. Dessa forma, diante da discrepância existente entre a realidade dos advogados públicos e a dos privados, bem como em face das peculiaridades dos interesses defendidos por cada um deles, mostra- se razoável e necessária a existência de prerrogativas processuais à Fazenda Pública, as quais não podem ser consideradas privilégios, já que pautadas na isonomia e no interesse público. II. ALCANCE: A prerrogativa do prazo em dobro se destina à Fazenda Pública, que engloba as entidades da administração direta e indireta dotadas de personalidade jurídica de direito público (excluídas, portanto, as sociedades de economia mista e as empresas públicas, pessoas de direito privado). Ressalte-se, todavia, que esse conceito tem sido ampliado para abarcar também as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviço público sem finalidades lucrativas e de forma não concorrencial. Neste último caso, o exemplo mais relevante é o da ECT (Empresa de 3 Correios e Telégrafos), a respeito da qual o STF decidiu que se deve aplicar as prerrogativas próprias da Fazenda Pública. Litisconsórcio: o art. 229 prevê que “os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações”. Vale ressaltar, entretanto, que não se pode cumular a prerrogativa do art. 229 com a do art. 183. Ou seja, caso estejam litigando um particular e o Poder Público, cada um terá prazo em dobro para se manifestar. O particular, por força do art. 229; a Fazenda Pública, por aplicação do art. 183. Contagem em dias úteis: importante novidade do CPC-2015 é a que impõe que os prazos são contados em dias úteis, conforme art. 219. Recesso: O CPC-2015 uniformizou, ainda, os períodos de recesso, ao prever que se suspende o curso dos prazos processuais entre 20 de dezembro e 20 de janeiro. III. HIPÓTESES DE NÃO APLICAÇÃO DO PRAZO EM DOBRO 1. Prazo próprio para o ente público: Segundo prescreve o §2º do art. 183, “não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público”. No próprio CPC existe previsão de prazos específicos para a Fazenda Pública. São os arts. 535 e 910, os quais estabelecem o prazo de 30 dias para impugnar a execução e para opor embargos na execução fundada em título extrajudicial, respectivamente. 4 Além desses, pode-se mencionar a inexistência de prazos diferenciados nos Juizados Especiais Federais e nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, seja por previsão expressa na lei, seja por se tratarem de prazos específicos, voltados ao Poder Público. CUIDADO. SUSPENSAÇÃO DE LIMINAR. AGRAVO. PRAZO EM DOBRO. DIVERGÊNCIA. Para o STF, NÃO. Ao prazo de 05 dias para interpor agravo contra a decisão do presidente do tribunal em suspensão de segurança não se aplica o art. 183, por se tratar de prazo específico à Fazenda Pública. Para o STJ, SIM. Apesar de longo tempo de divergência interna, acabou por, recentemente, pacificar o entendimento em sentido contrário, considerando que referida Suspensão também pode ser ajuizada por entidades de direito privado em prol do interesse público primário, a exemplo de empresas públicas, sociedades de economia mista, concessionárias e permissionárias prestadoras de serviço público, não se tratando, assim, de prazo específico à Fazenda Pública. Salientou o STJ não haver razão para afastar a regra, mormente considerando a função da medida de preservar o interesse público. (AgRg no AgRg na SLS 1.955/DF, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/03/2015, DJe 29/04/2015) 2. Prazos judiciais: Os prazos judiciais são aqueles fixados pelo juízo para cumprimento de determinado ato ou para manifestação sobre algum fato processual. Nesse caso é preciso fazer a seguinte distinção: Se o despacho do juiz é genérico e dirigido a ambas as partes, há a necessidade de contagem em dobro. 5 Se o despacho do juiz for dirigido especificamente para o Poder Público, existe divergência, uma vez que o §2º afasta o prazo em dobro apenas no caso de previsão legal. Prevalece, contudo, que não haveria razão lógica para se estabelecer a contagem dobrada, uma vez que aquela determinação foi dirigida diretamente ao ente público. 3. Audiência de conciliação: O CPC-2015 prevê que o procedimento comum se inicia com a audiência de conciliação ou mediação, a ser designada com antecedência mínima de 30 dias (art. 334), para a qual o réu deverá ser citado com, pelo menos, 20 dias de antecedência. Como não há regra específica para o Poder Público, deve-se aplicar a regra geral (art. 183), de forma que a audiência deverá ser designada com antecedência mínima de 60 dias, devendo o réu ser citado com, pelo menos, 40 dias de antecedência. Vale registrar que o §4º do art. 334 admite a dispensa de realização da audiência de conciliação quando o litígio não admitir autocomposição, ocasião em que a parte será, desde logo, citada para contestar. Esse comando possui especial relevância para a Fazenda Pública, que, não raro, defende interesses indisponíveis. 4. Prazos em ações de controle de constitucionalidade (ADI/ADC): Sobre a aplicação do prazo dobrado em processos objetivos, envolvendo controle abstrato de constitucionalidade, oentendimento dominante, no seio do STF, sempre foi o da inaplicabilidade. Para o Pretório Excelso, a regra em questão apenas se aplicaria a processos subjetivos, que se caracterizam pelo fato de admitirem, em seu âmbito, a discussão de situações concretas e individuais. No processo objetivo 6 (próprio do controle abstrato), por outro lado, inexistem essas características, não havendo sequer lide no sentido próprio da palavra (vide ADI 2130). Vale ressaltar, entretanto, que, em julgado isolado, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, entendeu-se de forma diversa, no sentido de que a Fazenda Pública possui prazo em dobro para interpor recurso extraordinário de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça em sede de representação de inconstitucionalidade (art. 125, § 2o, da CF/88). “Não há razão para que exista prazo em dobro no controle de constitucionalidade difuso e não haja no controle concentrado”. Segundo o Min. Dias Toffoli, “o prazo em dobro é uma prerrogativa exercida pela Fazenda Pública em favor do povo” (Informativo 745, STF). Reitere-se, todavia, que esse foi um julgado isolado, que não representa a jurisprudência majoritária no bojo do STF, que permanece sendo o da inaplicabilidade do prazo em dobro nos casos de controle abstrato de constitucionalidade. 5. Estado estrangeiro: Segundo já decidiu o STJ, não se aplica a prerrogativa do prazo em dobro para Estado estrangeiro (Ag 297.723/SP). 6. Ação rescisória: Prazo para defesa: segundo o art. 970 do CPC, o prazo de resposta à ação rescisória é fixado entre 15 e 30 dias. Por ser fixado pelo juiz, existe divergência a respeito da aplicabilidade do prazo em dobro. O STJ já se manifestou sobre o tema, decidindo pela aplicabilidade (afinal o prazo está previsto em lei) (REsp 363.780/RS) 7 Prazo para ajuizamento: o prazo para ajuizamento da ação rescisória é de 2 anos (art. 975). Em relação a esse prazo, não se aplica o art. 183 do CPC, conforme entendimento do STF. Isso se justifica porque, no caso, não existe sequer processo; não se trata de um prazo endoprocessual, mas de um prazo para ajuizar uma nova demanda. 7. Mandado de Segurança: Prazo para prestar informações: não se aplica o prazo em dobro, uma vez que se trata de um prazo específico. Além disso, as informações não possuem natureza de defesa do ente, mas de mera manifestação da autoridade coatora. Outro argumento é justamente a celeridade, própria do MS. Prazo para recursos: aplica-se o prazo em dobro, uma vez que a lei do MS não prevê prazos específicos para a apelação ou demais recursos. 8. Contestação em ação popular: A lei 4.717, no art. 7º, IV, prevê prazo de 20 dias prorrogável por mais 20 a critério do juiz. A própria lei estabelece que o prazo é comum a todos os interessados, de modo que não se aplica o art. 183 do CPC. Todavia, CUIDADO! Embora o entendimento ora esposado seja pacífico, em provas PRÁTICAS não é demais defender a aplicação da prerrogativa de prazo para contestar ação popular. O tema foi cobrado na 3ª fase da PGE/PI e o CESPE cobrou a defesa do candidato, pontuando a aplicação do art. 188 do CPC/73, então vigente, ao caso.
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