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A gnose Africana em V.Y. Mudimbe

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2 
 
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
Faculdade de Filosofia 
 
 Roberto Caetano Alfredo 
 
TEMA: POSSIBILIDADE DO RESGATE DA GNOSE AFRICANA EM MUDIMBE 
 
Biografia e contextualização 
Valentim Yves Mudimbe nasceu em 1941 em Jadotville, no antigo Congo Belga, hoje República 
Democrática do Congo. Durante a juventude foi seminarista, mas afastou-se para se dedicar ao 
estudo das forças que enformaram a história africana. Professor, filósofo e autor de uma vasta 
bibliografia sobre a história e a cultura africanas, doutorado em filosofia pela Universidade de 
Católica de Lovaina em 1970. Em 1997 recebeu o doutoramento Honoris Causa pela 
Universidade Paris VII Diderot e, em 2006 recebeu a mesma distinção pela Katholiene 
Universiteit Leuven. 
Este livro surge acidentalmente na sequência de um convite para preparar um inquérito sobre 
filosofia africana. Aqui o conceito de filosofia africana é concebido como a contribuição de 
africanos que praticam filosofia segundo os parâmetros definidos pela disciplina e pela sua 
tradição histórica. Este livro é apenas uma síntese critica de questões complexas sobre o 
conhecimento e o poder de e em África. 
Neste livro o autor procura responder as seguintes questões: que significado tem hoje África e o 
que significa ser africano? O que pode ser considerado filosofia africana e o que não pode? A 
filosofia é parte do africanismo? O termo gnose etimologicamente está relacionado com gnosko, 
que no grego antigo significa saber. Para o autor, Gnose significa especificamente, procurar 
saber, questionar métodos de conhecimento, investigação e mesmo ainda familiaridade com 
3 
 
alguém. A gnose é diferente da doxa ou opinião e, por outro lado, não pode ser confundida com 
episteme, entendida tanto como ciência assim como configuração intelectual genérica. 
Mudimbe está preocupado com os processos de transformação dos vários tipos de conhecimento, 
porem, esta orientação tem duas consequências: por um lado uma aparente diminuição da 
originalidade das contribuições africanas e, por outro lado uma ênfase excessiva sobre 
procedimentos externos, tais como influências antropológicas ou religiosas. A questão em causa é 
que até agora, tanto interpretes ocidentais como analistas africanos têm vindo a usar categorias de 
análise e sistemas conceptuais que dependem de uma ordem epistemológica ocidental. Mesmo 
nas mais evidentes descrições afrocêntricas os modelos de análise utilizados, referem-se directa 
ou indirectamente, consciente ou inconscientemente, à mesma ordem. Segundo Mudimbe os 
antropólogos e os missionários ocidentais, introduziram distorções cuja influência se faz sentir 
não apenas no estrangeiro, mas também nos africanos, à medida que procuraram compreender-se 
a si próprios. 
Discurso de poder e o conhecimento de alteridade: estrutura da colonização e 
marginalidade. 
A disputa por África no período mais intenso da colonização, durou menos que um século e 
envolveu uma grande parte do continente africano entre os finais do século XIX e melados do 
século XX. A experiencia colonial quando olhada a partir da perspectiva actual, representa 
apenas um breve momento na história africana, mas a verdade é que se trata de um período ainda 
contestado e controverso, pois significou uma nova configuração histórica e possibilidade de 
tipos de discursos completamente novos a cerca da tradição e da cultura africana. 
Numa leitura inadvertida, pode se pensar que esta nova configuração histórica significou desde as 
suas origens a negação de dois mitos contraditórios: a imagem hobbesiana de uma África pré-
europeia, onde não existia noção do tempo; nem de artes; nem de escrita; uma África sem 
sociedade; e, pior ainda marcada pela perpetuação do medo e pelo perigo de uma morte 
violenta; e ainda a imagem rosseana de uma era africana dourada, plena de liberdade, 
igualdade e fraternidade. As palavras colonialismo e colonização significam essencialmente 
organização, arranjo. Ambas derivam do termo latino colere que significa cultivar ou conceber. 
4 
 
Não obstante a experiência colonial histórica não reflecte nem pode obviamente reflectir as 
conotações pacíficas que estas palavras encerram. 
Mudimbe assevera que, quer os colonos que estabelecem uma religião, quer os colonizadores que 
exploram o território pelo domínio de uma maioria local, tenderam ambos a organizar e 
transformar zonas não europeias em construções fundamentalmente europeias. Por isso é 
necessário que, ao analisar este processo utilizar três explicações principais para determinar as 
modulações e métodos representativos da organização colonial, que são: os procedimentos de 
aquisição, distribuição e exploração de terras nas colónias; as políticas para domesticar nativos; e 
a forma de gerir organizações antigas e implementar novos modos de produção. E por via disso, 
emergem três hipóteses e acções complementares: o domínio do espaço físico, a reforma das 
mentes nativas, e a integração de histórias económicas locais segundo a perspectiva ocidental. 
Nesta abordagem o autor cita Césaire ao afirmar que, a grande tragédia histórica de África tem 
sido não tanto o facto de ter entrado em contacto com o resto do mundo tardiamente, mas com a 
forma como esse contacto se processou. O colonialismo foi uma época de acidente histórico, uma 
fase em grande medida não planeada, transitória na relação em desenvolvimento entre as partes 
do mundo mais e menos desenvolvidas. De acordo com esta visão, este acidente foi a pior coisa 
que poderia ter acontecido ao continente negro. A disputa por África associa-se ao capitalismo e 
à procura capitalista de lucros mais elevados nas conquistas coloniais. O colonialismo bem como 
a sua causa, o imperialismo não obedecem a uma lógica. Foram inclinações irracionais puramente 
instintivas em direcção a guerra e à conquista que guiaram tendências sem finalidades em 
direcção a expansão à força, sem limites definidos utilitários. 
Devido a estrutura colonizadora emergiu um sistema dicotómico e com este surge um grande 
número de oposições paradigmáticas: tradicional versus moderno; oral versus escrito e impresso; 
comunidades agrárias e consuetudinárias versus civilização urbana e industrializada; economias 
de subsistências versus economia altamente produtiva. A desintegração social das sociedades 
africanas e o crescente proletariado urbano como resultado de uma desestabilização das 
organizações comuns através de um estabelecimento incoerente de novas ordens e instituições 
sociais. 
A nível cultural e religiosa, através de escolas e igrejas, imprensa e meios audiovisuais, o 
projecto colonizador difundiu novas atitudes que eram modelos contraditórios e profundamente 
5 
 
complexos em termos de cultura, valores espirituais e no que respeita a sua transmissão, também 
fragmentou o esquema culturalmente unificado e religiosamente integrado de grande parte das 
tradições africanas. A partir desse momento as formulações da cultura colonial e dos seus 
objectivos serviram de alguma forma, de meio de banalização de todo o modo de vida tradicional 
e da sua estrutura espiritual. A marginalidade é o intermédio entre a denominada tradição africana 
e a modernidade projectada do colonialismo. Não existe qualquer dúvida de que o colonialismo 
directo ou indirectamente provoca sempre nos países essa experiencia de domínio cultural, uma 
contaminação tão profunda como oculta. Os estilos de vida e modos de pensar das nações 
dominantes tendem a impor-se sobre as nações dominadas. Por isso, seja como for, o espaço 
intermédio poderia ser visto como principal expressão do subdesenvolvimento, revelando a forte 
tensão entre uma modernidade que é frequentemente uma ilusão de desenvolvimentoe uma 
tradição que por vezes reflecte uma imagem fraca de um passado mítico. 
Formações Discursivas e Alteridade 
A estrutura colonizadora nas suas manifestações mais extremas, como a crise na África, não foi a 
única explicação para a actual marginalidade de África, essa marginalidade foi entendida na 
classificação dos seres e das sociedade, pois essa afirmação foi vista no ponto de vista dos 
discursos antropológicos.. Desde Turgot na década de 1750 classificou pela primeira vez línguas 
e culturas, de acordo com os povos que eram caçadores, pastores ou lavradores, e acabou por 
definir um caminho ascendente desde o estado selvagem, até as sociedades comerciais. 
A marginalidade não-ocidental tem sido um sinal de um recomeço e de uma origem primitiva da 
história convencional. Mudimbe na sua exposição faz referência a obras de artes referindo-se a 
Foucoult nas suas pinturas onde desde antigamente as artes sempre foram vista como os 
contrastes entre o preto e branco, onde contam história que provavelmente duplica uma 
configuração silenciosa, mas epistemológica poderosa. A analogia e simpatia contam que como o 
mundo se deve dobrar sobre si mesmo, para que as coisas possam assemelhar-se umas as outras. 
Michel Foucault escreve ao comentar a obra Las Meninas de Velasquez: o pintor está de pé um 
pouco afastado de sua tela, ele olha para o seu modelo talvez esteja a pensar se deve dar um toque 
final, embora seja possível o primeiro traço ainda não tenha sido feito. O pintor está de um lado 
da tela a trabalhar, ou a meditar sobre como representar os seus modelos. Foucault foca-se nesse 
6 
 
exemplo da pintura para buscar uma representação que se compromete a representar em todos os 
elementos, imagens, os olhos a quem é oferecido os rostos que torna visível os gestos que a 
chama a existência. 
Burgkmair dá um exemplo da pintura onde as figuras negras de um rapaz, um homem e uma 
mulher que se encontra sentada com um bebé ao peito, possuem as proporções adequadas entre 
elas e relativamente ao contexto mais geral. Todas se encontram nuas e possuem braceletes nos 
pulsos ou um fio ao pescoço, sinais evidente de que pertencem a um universo selvagem. A 
pintura representa no seu todo, com a sua simplicidade e o equilíbrio dos ritmos das linhas, 
parece uma pintura verdadeiramente encantadora e decorativa, isso expressa realmente uma 
ordem discursiva. 
A estrutura das figuras bem como o significado dos corpos nus, proclamam as virtudes das 
similitudes, para mostrar os negros que o pintor representa brancos enegrecidos, técnica essa que 
não era rara durante os séculos XVI e XVII conforme revela os grandes números de pintura nessa 
época. O mais importante nas pinturas de Burgkmair é a dupla representação que tem a ver em 
assimilar os corpos exóticos da metodologia das pinturas italianas do século XVII, reduziu e 
neutralizou todas as diferenças na igualdade simbolizada pela norma branca, que tem a ver com a 
história religiosa do que com a simples tradição cultural. Numa linguagem concreta, a referência 
significava uma solução bíblica para o problema das diferenças culturais que era considerada, 
pela maioria dos homens como a melhor que a razão e a fé poderiam propor, ou seja a mesma 
origem para todos os seres humanos, seguida da difusão geográfica e diversificação racial e 
cultural. Acreditava-se que a bíblia estipulava que os africanos apenas poderiam ser os escravos 
dos seus irmãos. 
Há um outro nível mais discreto que identifica a segunda representação que através da similitude 
articula distinções e separações, classificando assim os tipos de identidades. Na pintura de 
Burgkmair existe duas actividades representativas: por um lado, sinais de uma ordem 
epistemológica, que silenciosa mas imperiosamente indicam os processos de integração e 
diferenciação das figuras no âmbito da igualdade normativa, por outro lado, a excelência de uma 
pintura exótica que cria uma distância cultural, graças a acumulação de diferenças acidentais, 
como a nudez, a negrura, o cabelo encarapinhado, as braceletes e os fios de pérolas. 
7 
 
Devidos as diferenciações de ordem fundamental que revelam as virtudes das semelhanças 
apagam variações físicas e culturais, defendendo e propondo as diferenças superficiais para a 
complexidade humana. Na formação discursiva encontramos duas formações diferentes: a 
descoberta da arte africana e a construção de objectos dos estudos africanos, ou seja a invenção 
do africanismo como disciplina científica, que podem ser demonstradas a sua eficácia de 
diferenciação de mecanismos de classificação geral como padrão da realidade, nomeação, 
disposição, estrutura, e carácter. 
A similitude foi afastada das percepções dos negros segundo Ruben, o que se encontra 
oferecendo-se uma descrição detalhada, pode considerar como nomenclatura, e uma alteridade 
que se refere a uma ordem epistemológica, onde refere-se a uma teoria da compreensão e da 
análise só sinais dos termos a organização de identidades e diferenças nas tabelas ordenadas. 
Os navegadores portugueses trouxeram a Europa nos finais do século XV, os primeiros feitiços, 
objectos africanos que supostamente teriam poderes misteriosos, os artefactos africanos foram 
considerados precisamente no século XVIII, como arte dos africanos. O continente negro ainda 
surgia nos mapas como terra incógnita, mas os seus povos e suas produções naturais eram mais 
conhecidas dos viajantes, estudantes da espécie humana, dos comerciantes e dos Estados 
europeus. 
No mesmo século XVIII houve um aumento do comércio de escravos e de uma economia 
transatlântica rentável que envolveu a maioria dos países ocidentais. Houve revolta dos africanos 
perante a escravização ou comércio dos escravos, pois os africanos na costa leste em 1729, 
expulsaram os portugueses das suas fortalezas, na região norte de Moçambique e no sul. 
Na atmosfera de trocas intensas e violentas, os feitiços tornaram-se símbolos da arte africana, 
pois, eram considerados primitivos, simples, infantis e absurdos , o africano foi ridicularizado 
tendo sido posto como sendo um incapacitado na produção de um pano de cerâmica de pior 
qualidades, foi visto como um inútil. A arte selvagem ou primitiva abrangiu uma vasta gama de 
objectos introduzidos, pelo contacto entre africanos e europeus durante o intenso comércio de 
escravos no contexto do século XVIII. 
 Os objectos que não são realmente arte no seu contexto nativo, tornaram-se arte quando lhes 
confere em simultâneo um carácter estético e a capacidade de produzir e reproduzir outras formas 
8 
 
artísticas. Por outro lado encontramos as artes onde elas são produzidas localmente para serem 
consumidas foras por estranhos o autor diz: embora o conceito de sistemas de arte para turistas 
enfatize como os artistas e suas audiências compreendem as imagens e as convertem em bens 
económicos. 
A arte para turistas é um intercâmbio simbólico como económico, isto pode ser entendido de 
acordo com Jules Rosette, através da referência a três modelos: as artes tradicionais com um 
significado social e cerimonial podem e tornam-se objectos produzidos principalmente para o 
comércio externo; na própria arte para turistas, há sinais de uma grande tensão existente entre 
cultura popular e alta cultura. 
Génese da africa 
A génese da ciência antropológica ocorreu no contexto da ideologia mercantilista, durante o 
século XVIII, as colónias eram de valor apenas por trazer vantagens materiais para a pátria. No 
mesmo século as interpretações sobre os selvagens são propostas pelos cientistas sociais do 
iluminismo. A questão é que durante este período tanto o imperialismo como a antropologia 
ganhavam forma possibilitando a rectificação doprimitivo. O importante é a ideia da história 
com o “H” maiúsculo que primeiro integra a noção de providência de santo Agostinho e depois 
se manifesta na evidência do Darwinismo social. 
A evolução conquista e diferença torna-se sinais de destino teológico, biológico e antropológico 
que atribui as coisas e os seres as suas áreas naturais emissão social. As ciências naturais 
serviram como modelo para implementação progressiva d hesitante das ciências sócias, novas 
classificações metodológicas ligam factos sociais a fenómenos físicos, as leis de organização e 
distribuição estrutural e os padrões de desenvolvimento individual ou colectivo são responsáveis 
pelas transformações históricas. O cientista social tende a imitar o naturalista e a concentrar os 
comportamentos sociais e as culturas humanas em paradigmas científicos. 
 O impacto da ideologia e o modelo das ciências naturais podem orientar a unidade 
epistemológica relativa das ciências sociais desde o século XIX, seria mais fácil traçar um 
paralelo entre a filologia e a antropologia. A antropologia e a filologia e todas as ciências sociais 
podem ser efectivamente compreendidas apenas no contexto das alternativas epistemológicas. A 
preocupação básica da antropologia não é tanto a descrição de sociedades primitivas e das suas 
9 
 
realizações, mais sim, a questão dos seus próprios motivos e a historia do campo epistemológico 
que a torna possível e na qual floresceu como discurso filosófico. 
Contudo, muitas vezes, continua a parecer impossível imaginar qualquer antropologia sem uma 
ligação epistemológica ocidental, podíamos esperar ainda mudanças profundas na antropologia, 
conforme propõe R. Wangner (1981), não pode ser completamente eliminada do campo da sua 
origem epistemológica, e das suas raízes, ou seja, a ciência depende de uma estrutura precisa sem 
a qual a ciência não existe, nem a antropologia. Os dois tipos de etnocentrismo, uma filiação 
epistemológica e uma ligação ideológica. 
 
A primeira é uma ligação episteme, uma atmosfera intelectual que confere á antropologia o seu 
estatuto como discurso, o seu significado como disciplina e sua credibilidade como ciência no 
campo da epistemologia humana. A segunda é uma atitude intelectual e comportamental que 
varia de indivíduo para indivíduo. 
Na experiencia colonizadora á fusão destes dois aspectos de etnocentrismo tendia, quase 
naturalmente a ser completa no discurso do poder e do conhecimento, ao ponto de transformar a 
missão da disciplina num projecto de aculturação. A antropologia que costumava ser o estudo dos 
seres e coisas antigas, gradualmente depara-se com a difícil tarefa de recordar como o selvagem 
se torna um participante activo da civilização moderna. 
Desde o inicio do século XIX os relatórios de exploradores, tinha sido úteis para a abertura do 
continente africano aos interesses europeus. As teorias de expansão colonial sobre primitivos 
africanos enfatizam uma certa historicidade e a promoção de um modelo específico da história. 
Para obter a história dos estudos africanos é portanto, importante observar que alterações 
aparentes dentro dos símbolos dominantes nunca modificou substancialmente o sentido da 
conversão da África, mas apenas as politicas para a expressão e pratica ideológica e etnocêntrica. 
As categorias intelectuais podem permitir, como demonstrando por Copans na sua periodização 
uma distinção entre a literatura de viagens, etnológicas e antropológicas aplicadas. 
 Questões do método 
10 
 
Na idade clássica o conhecimento constituía o princípio de ordem, em que este conhecimento é 
organizado por via do discurso em que podemos observar três sistemas epistemológicos dos quais 
são: a gramática geral onde estuda-se a ordem verbal com a importância representativa em que o 
que domina é o nome atribuindo as coisas existentes; a historia natural consiste em criar 
ordenamento do visível ou em termos de formação de origem dos objectos cuja permita ira mais 
tarde definir o seu valor em termos da prolixidade da natureza; e a teoria da riqueza. 
Nessa época à apenas uma espécie de ciência que define as condições de possibilidades de todo o 
conhecimento quer expresso em teoria quer aplicado silenciosamente na prática. Em seguida nos 
séculos XVIII houve uma ruptura e a concepção sobre a ciência clássica desaparece 
gradualmente, com esta mutação radical da ordem para história, definem se novas formas de 
conhecimento graças aos novos transcendentais que são: trabalho, vida, e linguagem. 
"A linguagem não consistia apenas em representações e sons que por sua vez simbolizam as 
representações mas também são ordenados entre eles conforme as associações do pensamento o 
requerem, com isso constituem a base de uma organização que não é a das representações". Os 
discursos antropológicos representam subordinados e desenvolvem-se no seio de um sistema 
geral, quer a história havia abandonado as suas tentativas de compreender os eventos em termos 
de causa e efeito na unidade. 
 A partir desse pressuposto desenvolve-se novo da epistemologia isto é, uma nova ciência ou 
Episteme onde há mutação que a origina a metamorfose da teoria da riqueza na economia, da 
história natural na biologia e da gramática geral na filologia, o homem aparece com a sua posição 
ambígua de objecto de conhecimento e de sujeito que conhece. A mudança de modelos não 
trouxe uma nova “invenção” necessariamente mais credível que a primeira. Apenas postulou um 
sistema de valores diferentes ao enfatizar o Outro e qualificar-lhe a partir das suas normas, regras 
regionais e coerências claramente localizadas. Isto tornou possível a pluralização das ciências 
sociais e humanas ocidentais ou seja a mutação epistemológica impuseram-se como paradigmas 
essências: 
A função e norma; conflito e significado e sistema, pois essas constituem todo campo que deve 
ser conhecido e dito por seres humanos, e definem exactamente o que o ser humano pode 
oferecer sobre os seres humanos. Para Foucault essa deve ser estudada pelos modelos biológicos; 
11 
 
económico; filológico e linguístico. Por questões metodológicas a partir dos discursos em 
sociedades não ocidentais caracterizam se normalmente por uma perspectiva funcional. 
Com isso é interessante encararmos a ordem de ideias que é arqueologia das ciências humanas. A 
arqueologia do conhecimento deve tratar cada discurso como um monumento e enfatizar a 
análise diferencial das suas modalidades e as normas silenciosas que lideram as práticas 
discursivas. Assim sendo a origem é a especificidades são relativas, na medida em que 
geograficamente e o uso cultural, com isso essa é uma forma de se opor a metodologia propondo 
contribuições para uma nova compreensão da experiencia ocidental no mesmo tempo que 
indicam claramente a sua capacidade de aproximarem o conhecimento e o poder. 
Para Mudimbe as semelhanças que existem entre a história e a antropologia são mas interessantes 
que as suas diferenças, pois todas tratam de afastamento e a alteridade, onde a história trata do 
distanciamento do tempo, a antropologia lida com o afastamento do espaço, o seu objectivo é 
compreender as sociedades no seu tempo e espaço. 
Lévi-Strauss propõe a distinção entre a metodologia que esta relacionada com o futuro da 
antropologia e a epistemologia como forma de descrever a solidariedade. Assim visando distancia 
a antropologia dos paradigmas explicativos da primitividade, em que de acordo com Lévi-Strauss 
a mente selvagem é lógica. Todo conhecimento esta enraizado numa vida, numa sociedade e 
numa língua que tem uma história e é nesta própria historia que o conhecimento que lhe permite 
comunicar com outras formas de vida, outros tipos de sociedades e outrossignificados. Sobretudo 
enfatiza-se que deve haver uma nova antropologia segundo afirmação de Marx: o homem cria a 
sua própria história mas sem saberem que estão a criar. 
O pensamento mítico é essencialmente constituído por processos de analogias dominado por 
relações de semelhança"é a partir dessas observações ou analogias que permitem tirar 
conclusões a partir do campo de percepção desde o conhecimento utilizável que constitui a base 
com a qual o pensamento dos primitivos organiza as ideias que se reflecte infinitamente a 
imagem recíproca dos humanos e do mundo". 
Nessa perpectiva Mudimbe pensa que "a magia e a ciência" não deveriam ser consideradas 
etapas diferentes de uma evolução cronológica, onde a magia que é primitiva é mensageira da 
segunda, assim sendo existem dois sistemas diferentes e paralelos do conhecimento. A magia 
12 
 
postula um determinismo completo e abrangente e assim é possível uma expressão da apreensão 
inconsciente da verdade do determinismo o modo que origina o fenómeno científico. A ciência 
baseia-se numa distinção entre níveis: o determinismo em que outras estão para não serem 
aplicadas. 
Nesta perspectiva o paralelismo contribuiria para a ciência poder coexistir com a magia.Com isso 
a oposição da ciência do concreto e ciência do abstracto que poderia introduzir o significado do 
pensamento mítico e ciência são duas etapas de evolução do conhecimento e ambos são 
igualmente validas, todos os sistemas requerem adquirir o conhecimento. A magia e a ciência são 
duas formas de adquirir o conhecimento, pois os valores teóricos e práticos se diferem no valor. 
A magia e ciência requerem o mesmo tipo de operações mentais. 
A ciência abstracta ou primitiva exprime e abre o caminho para compreender a lógica oculta por 
detrás do pensamento mítico, assim como também pode potenciar a descoberta de sistemas éticos 
o que Lévi-Strauss julga poderem dar-nos uma lição de humildade. Os mitos e a ciência devem 
ser manuseados com delicadeza. Os dois sistemas paralelos não devem ser pensados em etapas 
cronológicas. O processo histórico deve ser responsável pelo crescimento do conhecimento por 
meio de dois pressupostos que são: oral e escrita, olhando cada cultura como autónomo isto é, 
uma lei por si mesmo. Não existe uma cultura humana normativa. 
 
 BIBLIOGRAFIA 
MUDIMBE, Valentim Yves. A invenção de África: gnose, Filosofia e a ordem do conhecimento. 
Pedago. 1988.

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