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Linguagem jurídica - Prof Meire Mara Coelho Nogueira

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ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 
Juiz Marco Antônio da Silva Lemos (ex-Jornalista) 
Estabelecido que o texto jurídico é uma forma de comunicação, nele ocorrem os 
elementos envolvidos no ato comunicatório; deve haver, então, um objeto de 
comunicação (mensagem) com um conteúdo (referente), transmitido ao receptor por um 
emissor, por meio de um canal, com seu próprio código. Fundamental é lembrar que toda 
e qualquer forma de comunicação se apoia no binômio emissor-receptor; não há 
comunicação unilateral. A comunicação é, basicamente, um ato de partilha, o que 
implica, no mínimo, bilateralidade. 
 
LÉXICO E VOCABULÁRIO 
Léxico reserva-se à língua como um conjunto sistêmico posto ao usuário; é um inventário 
aberto, com número infinito de palavras, podendo ser sempre acrescido e enriquecido 
não só pelo surgimento de novos vocábulos, mas também por mudanças de sentidos dos 
já existentes na língua. Esse conjunto de palavras pode ser organizado, por ordem 
alfabética, indicando nos verbetes o significado. Dá-se a ele o nome de dicionário: é o 
elemento concreto da língua e possui grande mobilidade, apesar de não registrar ele todas 
as possibilidades lexicais. 
Vocabulário, por sua vez, é o uso do falante, é a seleção e o emprego de palavras 
pertencentes ao léxico para realizar a comunicação humana. 
Sendo o vocabulário expressão da personalidade do homem e de seus conhecimentos 
linguísticos, é de capital importância, ao usuário de uma língua, o enriquecimento 
continuado de seu inventário vocabular, facilitando, assim, sua tarefa comunicativa, 
principalmente redacional, por ampliar o leque para a escolha da palavra mais adequada. 
Para tanto, a consulta frequente a dicionários e a leitura de autores renomados são 
atividades imprescindíveis para a riqueza vocabular e, por consequência, à produção e 
compreensão das imagens verbais. 
 
O SENTIDO DAS PALAVRAS NA LINGUAGEM JURÍDICA 
A clareza das ideias está intimamente relacionada com a clareza e precisão das palavras. 
No Direito, é ainda mais importante o sentido das palavras porque qualquer sistema 
jurídico, para atingir plenamente seus fins, deve cuidar do valor nocional do vocabulário 
técnico e estabelecer relações semântico-sintáticas harmônicas e seguras na organização 
do pensamento. 
Três são os tipos de vocabulário jurídico: unívocos, equívocos e análogos. 
Unívocos: são os que contêm um só sentido. A codificação vale-se deles para descrever 
delitos e assegurar direitos, e.g.: furto (art. 155 CP - subtrair, para si ou para outrem, 
coisa alheia móvel); roubo (art. 157 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa móvel 
alheia mediante grave ameaça ou violência, depois de reduzir a resistência da pessoa); 
mútuo (art. 1.256 CC - empréstimo oneroso de coisas fungíveis); comodato (art. 1.248 
CC - empréstimo gratuito de coisas não fungíveis). São unívocas, ainda, palavras 
pertencentes ao jargão do profissional do Direito, e.g.: ab-rogar (revogar totalmente uma 
lei); derrogar (revogar parcialmente uma lei); ob-rogar (contrapor uma lei a outra); 
repristinar (revogar uma lei revogadora). 
Bom de lembrar que a repristinação não é automática, pois não se restaura por ter a lei 
revogadora perdido a vigência nos termos do art. 2°, § 3° da LICC. 
Pode-se dizer, assim, que a univocidade representa os termos técnicos do vocabulário 
especializado. 
Equívocos: são os vocábulos plurissignificantes, possuindo mais de um sentido e sendo 
identificados no contexto. 
Exemplos: 
Sequestrar 
Direito Processual: apreender judicialmente bem em litígio. 
Direito Penal: privar alguém de sua liberdade de locomoção. 
Seduzir 
Linguagem usual: exercer fascínio sobre alguém para benefício próprio. 
Direito Penal: manter conjunção carnal com mulher virgem, menor de dezoito anos e 
maior de catorze, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança. 
O profissional do Direito deve empreender bastante esforço semântico ao usar as palavras 
plurissignificativas. Para tanto, não deve empregar acepções que não pertençam ao jargão 
jurídico, ou, se o forem, mas tiverem natureza equívoca, devem ser acompanhadas de 
especificadores que resguardem o sentido pretendido. 
Análogos: são os que, não possuindo étimo comum, pertencem a uma mesma família 
ideológica ou são tidos como sinônimos. 
Resilição (dissolução pela vontade dos contraentes) 
Resolução (dissolução de um contrato, acordo, ato jurídico) 
Rescisão (dissolução por lesão do contrato) 
A precisão vocabular contribui para a eficiência do ato comunicativo jurídico. 
 
POLISSEMIA E HOMONÍMIA 
A polissemia é a multiplicidade significativa de um mesmo significante. Já homonímia é 
a identidade fônica (homofonia) ou a identidade gráfica (homografia) de dois morfemas 
que não têm o mesmo sentido, de modo geral. 
Como exemplos de homônimos homófonos, têm-se: 
a) acender: alumiar, pôr fogo - ascender: subir 
b) acento: tom de voz, sinal gráfico - assento: lugar de sentar-se 
c) caçar: apanhar animais ou aves - cassar: anular 
d) cessão: ato de ceder - sessão: reunião - seção: repartição 
e) cela: cubículo, prisão - sela: arreio 
f) estático: firme, imóvel - extático: admirado, pasmado 
h) tacha: pequeno prego, mancha - taxa: imposto, tributo, percentagem 
Exemplos de homônimos homógrafos: 
1. Assentar 
a. O réu assentou na ponta da cadeira. 
b. O Tribunal de Justiça assentou a questão submetida à sua apreciação. 
c. José assentou praça. 
d. Ele assentou a cabeça. 
e. O exército assentou acampamento em Itatiba. 
2. Decadência 
a. Escreveu-se um livro sobre a decadência de Roma. 
b. No caso, não houve decadência da queixa. 
c. A partir de certa idade, começa a decadência da vida. 
3. Diligência 
a. Realizou-se diligência para a elucidação do crime. 
b. O aluno estuda Direito Penal com diligência. 
c. O filme de John Ford "No tempo das diligências" é ótimo. 
Além desses casos de homonímia total, pode ocorrer homonímia 
parcial: a) Olho o gato com olho carinhoso. 
b) Começo o livro no começo da minha vida. 
c) A estrela francesa estrela este filme. 
Poderá perguntar-se o leitor: em que polissemia e homonímia se diferem? Na verdade, 
em ambos os fenômenos linguísticos há um significante para vários significados. Na 
polissemia, o emissor alarga as acepções de uma única palavra, enquanto na homonímia, 
ele distingue várias palavras, e.g.: vão = substantivo vão = adjetivo vão = verbo 
No tocante à polissemia descarta-se, em geral, a possibilidade de problemas de 
compreensão ou ambiguidades pelo contexto; é o que se percebe nos exemplos: 
O juiz mandou relaxar a prisão. O guarda não pode relaxar a vigilância. Convém relaxar 
o corpo ao dormir. Não se deve relaxar a consciência. 
 
USOS DA LINGUAGEM JURÍDICA: ALGUMAS DIFICULDADES 
O profissional do Direito, conquanto a ciência jurídica busque a univocidade em sua 
terminologia, convive com um sem número de palavras polissêmicas. 
Exemplo clássico é o termo Justiça, que tanto exprime a vontade de dar a cada um o que 
é seu, quanto significa as regras em lei previstas, e, ainda, o aparelhamento político-
jurídico destinado à aplicação da norma do caso concreto. 
Outro exemplo de polissemia jurídica é a palavra agravo (do latim agravare) com acepção 
de afrontar, ofender. Como corolário deste sentido, cabe desagravo ao ofendido, 
reparando-se-lhe a injúria feita. 
Na linguagem processual, porém, agravar é recurso interposto contra decisão 
interlocutória ou mesmo definitiva (neste último caso, quando não se decidiu sobre o 
mérito) que, por sua natureza, exige do agravante ser parte no feito. O desagravo, na 
hipótese, indica que o recursofoi provido, com o desfazimento do gravame praticado 
pelo juiz a quo. 
a) A OAB desagravou o advogado Paulo Bernardes que, ao reclamar do 
impedimento a ele imposto de assistir ao interrogatório do Réu, em causa patrocinada 
por um seu colega, recebeu do magistrado ordem de prisão. 
b) O réu agravou da decisão denegatória de pedido de acareação de testemunhas, 
formulado pela defesa na fase do art. 499 do CPP, em razão de declarações contraditórias 
prejudiciais ao conhecimento da verdade. 
A polissemia pode ser, ainda, morfológica. Em sua acepção adverbial, a expressão 
bastante indica intensidade. Aplicada a uma procuração, é o vestígio do particípio 
presente do verbo bastar (o que basta, o que é necessário). Assim, outorgam-se poderes 
bastantes ao procurador, ou seja, os poderes necessários ao cumprimento do mandato. 
Contaminado, foi, também, o substantivo procurador. Bastantes procuradores são os que 
reúnem condições e qualidades para praticar os atos necessários à validade do Mandato. 
A conclusão óbvia que se pode tirar dessas observações é que, se o mero conhecimento 
dos conceitos jurídicos não é suficiente para a expressão do pensamento, torna-se 
imperativo, ao profissional do Direito, estar atento aos verbetes do dicionário de 
terminologia jurídica para empregar as palavras de acordo com as ideias do contexto. 
 
SINONÍMIA E PARONÍMIA 
Sinônimos 
A busca, no Dicionário de Sinônimos, de uma palavra com o mesmo sentido atende ao 
objetivo de eliminar-se a repetição e a consequente monotonia. Louve-se o esforço, mas 
a asserção de que não há sinônimos perfeitos é, hoje, comum. De acordo com a 
Linguística moderna, seria sinônimo perfeito aquele permutável em todos os contextos. 
No caso de uma série sinonímica, é possível proceder à substituição de um termo por 
outro, em determinados contextos. Tal fato pode verificar-se numa série sinonímica 
como: 
morrer, falecer, expirar, extinguir-se 
A - O mendigo morreu. A chama do círio pascal morreu. 
O mendigo faleceu. A chama do círio pascal .... 
O mendigo expirou. A chama do círio pascal .... 
O mendigo..... A chama do círio pascal extinguiu-se 
Observe-se a diferença entre: 
a. Casa (sentido genérico de habitação); residência (lugar de parada ou 
permanência); domicílio (sentido estrito, residência com animus permanendi; lugar onde 
a pessoa responde pelos atos da vida civil). 
Verifique o leitor que houve em todos os casos "equivalência de significação" entre 
palavras. Perceba, no entanto, que não houve "identificação" completa. Isso ocorre 
porque cada palavra se reveste de feição própria, apresenta um grau de afetividade ou 
expressividade peculiar; ajusta-se desta ou daquela forma a determinado conjunto, enfim, 
a palavra ganha vida própria e assume tonalidade própria. 
 
PARÔNIMOS 
Denominam-se parônimas as palavras de sentido diverso, mas que se aproximam pela 
forma gráfica ou mesmo pelo som. Tal afinidade pode suscitar confusões, gerar 
equívocos e levar a situações jocosas ou mesmo embaraçosas. O socorro ao dicionário é, 
por certo, a melhor forma para que se evitem situações do tipo. Os parônimos são 
inúmeros; citam-se apenas alguns mais relacionados com a área jurídica: 
absolver (perdoar) absorver (assimilar) deferimento (concessão) diferimento (adiamento) 
descriminar (isentar de crime) discriminar (diferenciar) destratar (ofender) distratar 
(romper o trato) 
elidir (suprimir) ilidir (refutar, anular) emenda (correção) ementa (resumo) emitir (mandar 
para fora) imitir (investir em) flagrante (evidente) fragrante (perfumado) incontinenti (sem 
demora) incontinente (falto de moderação) infligir (aplicar pena) infringir (desobedecer) 
lide (demanda) lida (trabalho) mandato (procuração) mandado (ordem, determinação) 
prescrever (ordenar) proscrever (banir) ratificar (confirmar) retificar (corrigir) tráfico 
(comércio ilegal) tráfego (trânsito) 
Exercício obrigatório ao profissional do Direito é, assim, perscrutar com zelo os 
dicionários de palavras análogas e, firmada uma família ideológica, pesquisar os 
dicionários especializados para informar-se sobre os usos das palavras. 
Aparentemente penosa, gratificante é a tarefa, porque o profissional, ou mesmo o 
estudante, vai aprimorando sua linguagem, de sorte a não realizar trocas impensadas de 
palavras; ao contrário, vai ajustando com precisão crescente as palavras às ideias, 
nomeando o pensamento de maneira lógica e designando corretamente a ideia na 
linguagem jurídica. 
Se exigente deve ser a tratativa dada aos sinônimos que cuidam de ideias assemelhadas, 
mais criteriosa há de se configurar a seleção de palavras parônimas, porque os sentidos 
delas não fazem parte de uma mesma família ideológica, embora semelhantes na forma. 
Se a troca desmedida entre sinônimos compromete a precisão do pensamento, a confusão 
na paronímia provoca resultados desastrados.

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