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INTRODUÇÃO À ENFERMAGEM AS PRÁTICAS DE SAÚDE NOS PERÍODOS HISTÓRICOS: O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DA ENFERMAGEM HISTÓRIA – ORIGEM DA PALAVRA Palavra de origem grega que significa: investigação, informação, busca pela verdade. Classicamente, História é definida como: – O desenvolvimento da vida da humanidade; – A narração do que acontece no tempo; – O estudo da origem e desenvolvimento de uma arte ou ciência. PORQUE ESTUDAR A HISTÓRIA DE UMA PROFISSÃO? Quando nos dedicamos ao estudo da história não somente lembramos o que os outros se esquecem, mas principalmente compreendemos e explicamos porque as coisas aconteceram da forma como aconteceram, e como elas se relacionam entre si. A principal tarefa de um historiador não é julgar, mas compreender, mesmo o que temos mais dificuldade de entender. Entretanto, o que dificulta a nossa compreensão não são apenas nossas convicções, mas também a experiência histórica que as formou (Hobsbauwm, 1995). IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA HISTÓRIA DA ENFERMAGEM Nenhuma ocupação, seja ela qual for, pode ser compreendida sem que haja uma análise de alguns aspectos à luz da história e sua interpretação, sob o ponto de vista humano. O estudo da história é importante para descobrir os caminhos percorridos pelas gerações passadas e entender as razões que motivaram a escolha de determinados percursos, cujas conseqüências podem estar se refletindo na situação presente. Inerente à própria história da humanidade, o estudo da História da Enfermagem nos permite o conhecimento de nossa origem, evolução, assim como maior compreensão de nossos deveres, além de nos permitir preservar a nossa identidade (características essenciais). AS ORIGENS DA ENFERMAGEM A palavra enfermo vem de infirmus, que tanto no espanhol, francês ou italiano, significa “aquele que não está firme”, abrangendo idosos, crianças e doentes, ou seja, os que precisam de apoio, de cuidado, de ajuda e de compreensão, e que são atividades tidas como próprias da enfermagem. O termo enfermagem se define na sua origem inglesa nursing, do verbo to nurse, que significa nutrir, e nurse aquela que nutre, que cuida e que assiste. A Enfermagem é uma ciência e uma arte. A Ciência da Enfermagem oferece conhecimentos resultantes de pesquisas científicas e análises lógicas, e deseja ser capaz de transferir esses conhecimentos para a prática. A Arte da Enfermagem se dá através do uso criativo e imaginativo do conhecimento para a melhoria do homem, ou seja, do poder de observação, do uso e manejo de suas mãos e do domínio do Cuidado. Cabe à enfermagem desenvolver atividades para a manutenção e promoção da saúde, bem como para a prevenção de doenças, sendo de sua responsabilidade o diagnóstico e a intervenção de enfermagem. Seu objetivo é assistir as pessoas para atingirem seu potencial máximo de saúde. Todos necessitam de cuidado, e dependem de cuidado em todas as etapas da vida. As necessidades de cada pessoa, de cada grupo de clientes, determinam o cuidado de que necessitam. A dependência, independência, e interdependência do cuidado variam de acordo com a situação e com a cultura do indivíduo. 2 A identificação da enfermagem com as atividades tidas como femininas é explicada, como decorrente do “instinto materno”, de um “impulso” da mulher de conservação da espécie, presente até nos animais irracionais. Em épocas remotas a enfermagem era incluída como uma arte doméstica, já que as atividades das mulheres se restringiam ao lar e a vida em família. Como profissão predominantemente feminina, ao estudarmos o desenvolvimento da enfermagem em uma sociedade devemos relacioná-la com a ideologia referente ao casamento, aos deveres femininos, ao grau de dependência econômica e a liberdade usufruída pela mulher. Nesta perspectiva, o avanço da profissão só se tornou possível após a libertação da mulher de suas condições de sujeição e depois dela ter adquirido, pela instrução, conhecimentos mais amplos sobre as condições sociais e as necessidades existentes. AS PRÁTICAS DE SAÚDE As práticas de saúde (primeiras formas de prestação da assistência) são tão antigas quanto a humanidade, porque estão diretamente ligadas à sua própria condição de sobrevivência. De acordo com os diversos momentos da História, as Práticas de Saúde podem ser classificadas como: – Práticas de Saúde Instintivas; – Práticas de Saúde Mágico-Sacerdotais; – Práticas de Saúde no Alvorecer da Ciência; – Práticas de Saúde Monástico-Medievais; – Práticas de Saúde Pós Monásticas; e – Práticas de Saúde no Mundo Moderno. PERÍODO ANTES DE CRISTO – AS PRÁTICAS DE SAÚDE INSTINTIVAS As práticas de saúde instintivas caracterizam a prática do cuidar nos grupos nômades primitivos. Desde o início da espécie, o ser humano, independente de sexo, tinha como preocupação principal sobreviver, e para isso, precisava primeiro de alimento e água. Posteriormente, buscava abrigo e proteção contra inimigos e, mais tarde ainda, contra frio e chuva. Com o passar do tempo, aprenderam a cultivar a terra, produzindo para seu próprio consumo, o que permitiu seu estabelecimento em áreas permanentes. Nesta época, as mulheres parecem ter adquirido um comportamento diferenciado dos homens, devido à maternidade. A demonstração de interesse e afeto entre elas era mais evidente, enquanto que o homem era menos gentil e seu toque bastante rude, inclusive com a família. A proteção materna instintiva foi a primeira forma de manifestação do homem no cuidado a seu semelhante, pois, mesmo nas épocas nômades, quando as crianças eram sacrificadas por atrapalharem as andanças dos grupos em busca de alimentos, muitas foram salvas devido aos cuidados de suas mães. Neste período, havia o cuidado instintivo ao outro, e essencialmente, à cria. A mulher era a primeira a cuidar do filho, do companheiro, transmitindo essa experiência para as filhas, que iam disseminando este saber. Ou seja, havia uma espécie de marca “genética”, através da qual era transmitida a sensibilidade, a compaixão a compreensão, o amor, o aconchego; a ajuda, a ligação. Assim, as práticas de Enfermagem, por sua vez, confundem-se com a figura materna, pois é através da mãe que todos recebem o acalento, o carinho, a amamentação, a higiene, o conjugado do atender e o nutrir. Portanto, cabe à mãe em qualquer civilização, por mais remota que seja, o papel de enfermeira, designada como uma atividade tradicionalmente feminina. Vale ressaltar que, o cuidar da mulher no parto configurou-se desde logo como um ofício específico, somente para mulheres experientes, pois durante séculos não era permitido aos homens dar essa assistência. 3 Dessa forma, todas as atividades ligadas ao nascimento, ao cuidado de crianças e também de doentes e moribundos foram designadas principalmente às mulheres, os primeiros seres a tratar no sentido de cuidar/medicar. Não porque eram as “enfermeiras naturais” de seus homens e crianças, nem porque realizavam partos, mas devido a sua conexão tão próxima com o solo (agricultura). Essa experiência deu-lhes conhecimento das plantas, frutas, raízes, capacitando-as a desenvolver a arte de cuidar através do preparo de remédios, distinta da prática dos religiosos surgida tempos depois. Quanto aos homens, além de exercerem as funções patriarcais, por disporem de maior força física eram responsáveis por uma série de outros cuidados com o corpo, em situações como: acidentes durante a caça e a pesca, ferimentos de guerra, traumatismos e fraturas, domínio de pessoas agitadas, embriagadas ou em estado de delírio. Mais tarde, vincularam-se mais à ortopedia, à cirurgia e à psiquiatria. O costume de nossos antepassados de esfregar, comprimir, amassar ou bater com as mãos em seus corpos ou nos de seus companheiros a fim de se livrar do frio, se aquecendo ese livrando do desconforto ocasionado pela fadiga, distensão abdominal e vários outros sofrimentos, representava o cuidado como um instinto nato de autodefesa. AS PRÁTICAS DE SAÚDE MÁGICO-SACERDOTAIS As Práticas de Saúde Mágico-Sacerdotais abordam a relação mística (espiritual) entre as práticas religiosas e as práticas de saúde primitivas, desenvolvidas por sacerdotes nos Templos. Este período corresponde à fase de empirismo (conhecimentos práticos baseados na experiência), verificada antes do surgimento da filosofia, que ocorreu por volta do século V a.C. Com o passar do tempo, constatando que o conhecimento dos meios de cura resultavam em poder, o homem aliou este conhecimento ao misticismo (crença religiosa que admite a comunicação do homem com as divindades), fortaleceu tal poder e apoderou-se dele, transformando-se numa figura religiosa para aplacar as forças do mal. Esses religiosos eram conhecidos como pajés, feiticeiros, xamãs e sacerdotes, que utilizavam magias, danças e beberagens (remédios à base de ervas) para afugentar os demônios causadores dos males do corpo e do espírito. Os Sacerdotes executavam ações essenciais ao tratamento e à recuperação dos enfermos, exercendo as funções que seriam próprias de médicos, farmacêuticos e enfermeiros. Diante da questão da sobrevivência, “cuidar” tornou-se tratar a doença. O paciente, objeto dos cuidados, foi isolado, reduzido a parcelas e excluído do convívio social e coletivo. Surgiram então os diversos especialistas que, sozinhos, não conseguiram tratar os doentes. Com isso necessitava-se de outras pessoas que assumissem as numerosas atividades paralelas ao trabalho de investigação e de tratamento das doenças. Essa trajetória, na verdade, influenciou definitivamente a prática de enfermagem e contribuiu para dificultar a identificação dos cuidados pertinentes à profissão. Desse modo, a prática de saúde se associava à prática religiosa, permanecendo por muitos séculos desenvolvida nos templos que, a princípio, foram simultaneamente santuários e escolas, onde os conceitos primitivos de saúde eram ensinados. Posteriormente, desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da arte de curar no sul da Itália e na Sicília, propagando-se pelos grandes centros do comércio, nas ilhas e cidades da costa. Naquelas escolas pré-hipocráticas, eram variadas as concepções acerca do funcionamento do corpo humano, seus distúrbios e doenças, concepções essas que, por muito tempo, marcaram a fase empírica da evolução dos conhecimentos em saúde. O ensino era vinculado à orientação da filosofia e das artes e os estudantes viviam em estreita ligação com seus mestres, formando as famílias, as quais serviam de referência para mais tarde se organizarem em castas. Quanto à enfermagem, as únicas referências concernentes a essa época estão relacionadas à prática domiciliar de partos e a atuação pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as atividades nos templos com os sacerdotes. 4 AS PRÁTICAS DE SAÚDE NO ALVORECER DA CIÊNCIA As Práticas de Saúde no Alvorecer da Ciência relacionam a evolução das práticas de saúde ao surgimento da filosofia e ao progresso da ciência, quando estas então se baseavam nas relações de causa e efeito. Inicia-se no século V a.C., estendendo-se até os primeiros séculos da Era Cristã. Filósofos anunciavam princípios matemáticos, geométricos e principalmente astronômicos, sem, contudo poder prová-los pela insuficiência dos meios de observação e de conhecimentos. As práticas de saúde, antes místicas e sacerdotais, passam a se basear essencialmente na experiência, no conhecimento da natureza e no raciocínio lógico – que desencadeia uma relação de causa-efeito para as doenças – e na especulação filosófica, baseada na investigação livre e na observação dos fenômenos, limitada, entretanto, pela ausência quase total de conhecimentos anatomofisiológicos. Este período é considerado pela medicina grega como PERÍODO HIPOCRÁTICO, graças à figura de Hipócrates (460-370 a.C.), considerado o pai da medicina, que propôs uma nova concepção em saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e sacerdotais, através da utilização do método indutivo, da inspeção e da observação. Hipócrates afirmava que as doenças relacionavam-se com fatores climáticos, raciais, dietéticos e com o meio onde as pessoas viviam, eliminando a crença de que as mesmas eram causadas por maus espíritos. Para ele a doença era parte de um processo natural, e não sobrenatural. Os sintomas eram reações do organismo à doença, e o principal papel do médico era ajudar as forças naturais desse organismo em sua recuperação. Hipócrates percebeu ainda que haviam grupos de sintomas comuns a determinados grupos de enfermos. Com isso, reuniu conhecimento considerável acerca dos males das pessoas que o procuravam para tratamento e passou a ensinar a seus discípulos que era necessário investigar a história e os sintomas de cada paciente, e que o tratamento deveria ser individual, dependendo do diagnóstico feito. Dessa forma, Hipócrates e seus seguidores afastaram-se dos templos e das divindades propondo uma nova concepção de saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e sacerdotais através da utilização da inspeção e da observação do doente para o diagnóstico, o prognóstico e a terapêutica. Quanto ao tratamento, como o princípio fundamental era não contrariar a natureza, mas auxiliá-la a reagir, Hipócrates utilizava massagens, banhos, exercícios físicos, dietas, sangrias, ventosas (espécie de sugadouro para retirada de sangue), vomitórios, purgantes, calmantes e ervas medicinais. Neste período, não existe uma caracterização nítida da prática de Enfermagem. Cuidar dos doentes ainda era tarefa praticada por feiticeiros, sacerdotes e mulheres dotadas de aptidão, e que possuíam conhecimentos rudimentares sobre ervas e preparos de remédios. SÍNTESE DO PERÍODO PRÉ-CRISTÃO No período Pré-Cristão, até o surgimento de Hipócrates, as doenças eram tidas como um castigo de Deus ou resultavam do poder do demônio. Nessa época, os sacerdotes ou feiticeiros acumulavam funções de médicos e enfermeiros. O tratamento consistia em aplacar as divindades, afastando os maus espíritos por meio de sacrifícios. Para isso usavam massagens, banhos de água fria ou quente, purgativos (substância que faz limpar os intestinos), substâncias provocadoras de náuseas. Mais tarde, os sacerdotes adquiriram conhecimentos sobre plantas medicinais e passaram a ensinar as pessoas, delegando-lhes as funções de enfermeiros e farmacêuticos. Alguns papiros, inscrições, monumentos, livros de orientações políticas e religiosas, ruínas de aquedutos e outras descobertas nos permitem formar uma idéia do tratamento dos doentes. Quanto à enfermagem, esta era caracterizada por traços de submissão, de subserviência, permeando vários contextos: 5 Egito Os egípcios deixaram alguns documentos sobre a medicina conhecida em sua época. As receitas médicas deviam ser tomadas acompanhadas da recitação de fórmulas religiosas. Praticava-se o hipnotismo, a interpretação de sonhos; acreditava-se na influência de algumas pessoas sobre a saúde de outras. Havia ambulatórios gratuitos, onde era recomendada a hospitalidade e o auxílio aos desamparados. Índia Documentos do século VI a.C. nos dizem que os hindus conheciam: ligamentos, músculos, nervos, plexos, vasos linfáticos, antídotos para alguns tipos de envenenamento e o processo digestivo. Realizavam alguns tipos de procedimentos, tais como: suturas, amputações, trepanações e corrigiam fraturas. Neste aspecto o budismo contribuiu para o desenvolvimento da enfermagem e da medicina. Os hindus tornaram-se conhecidos pela construção de hospitais. Foram os únicos, na época, que citaram enfermeiros e exigiam deles qualidades morais(tais como asseio, habilidade, inteligência, conhecimento de arte culinária e de preparação de remédios, pureza, dedicação e cooperação) e conhecimentos científicos. Nos hospitais eram usados músicos e narradores de histórias para distrair os pacientes. O bramanismo fez decair a medicina e a enfermagem, pelo exagerado respeito ao corpo humano – proibia a dissecação de cadáveres e o derramamento de sangue. As doenças eram consideradas castigo. Palestina Moisés, o grande legislador do povo hebreu, prescreveu preceitos de higiene e exame do doente: diagnóstico, desinfecção, afastamento de objetos contaminados e leis sobre o sepultamento de cadáveres para que não contaminassem a terra. Os enfermos , quando viajantes, eram favorecidos com hospedagem gratuita. Assíria e Babilônia Entre os assírios e babilônios existiam penalidades para médicos incompetentes, tais como: amputação das mãos, indenização, etc. A medicina era baseada na magia – acreditava-se que sete demônios eram os causadores das doenças. Os sacerdotes-médicos vendiam talismãs com orações usadas contra os ataques dos demônios. Nos documentos assírios e babilônicos não há menção de hospitais, nem de enfermeiros. Conheciam a lepra e sua cura dependia de milagres de Deus. China Os doentes chineses eram cuidados por sacerdotes. As doenças eram classificadas da seguinte maneira: benignas, médias e graves. Os sacerdotes eram divididos em três categorias que correspondiam ao grau da doença da qual se ocupava. Os templos eram rodeados de plantas medicinais. Os chineses conheciam algumas doenças: varíola e sífilis. Procedimentos: operações de lábio. Tratamentos: anemias, indicavam ferro e fígado; verminoses, tratavam com determinadas raízes; sífilis, prescreviam mercúrio; doenças da pele, aplicavam o arsênico. Anestesia: ópio. Construíram alguns hospitais de isolamento e casas de repouso. A cirurgia não evoluiu devido à proibição da dissecação de cadáveres. Grécia As primeiras teorias gregas se prendiam à mitologia. Apolo, o deus sol, era o deus da saúde e da medicina. Usavam sedativos, fortificantes e hemostáticos, faziam ataduras e retiravam corpos estranhos, também tinham casas para tratamento dos doentes. A medicina era exercida pelos sacerdotes-médicos, que interpretavam os sonhos das pessoas. Tratamento: banhos, massagens, sangrias, dietas, sol, ar puro, água pura mineral. Dava-se valor à beleza física, cultural e a hospitalidade, contribuindo para o progresso da Medicina e da Enfermagem. O excesso de respeito pelo corpo atrasou os estudos anatômicos. O nascimento e a morte eram considerados impuros, causando desprezo pela obstetrícia e abandono de doentes graves. A medicina tornou-se científica, graças a Hipócrates, que deixou de lado a crença de que as doenças eram causadas por maus espíritos. Hipócrates, considerado o Pai da Medicina, observava o doente, 6 fazia diagnóstico, prognóstico e a terapêutica. Reconheceu doenças, tais como: tuberculose, malária, histeria, neurose, luxações e fraturas. Seu princípio fundamental na terapêutica consistia em "não contrariar a natureza, porém auxiliá-la a reagir". Tratamentos usados: massagens, banhos, ginásticas, dietas, sangrias, ventosas, vomitórios, purgativos e calmantes, ervas medicinais e medicamentos minerais. Roma A medicina não teve prestígio em Roma. Durante muito tempo era exercida por escravos ou estrangeiros. Os romanos eram um povo, essencialmente guerreiro. O indivíduo recebia cuidados do Estado como cidadão destinado a tornar-se bom guerreiro, audaz e vigoroso. Roma distinguiu-se pela limpeza das ruas, ventilação das casas, água pura e abundante e redes de esgoto. Os mortos eram sepultados fora da cidade, na via Ápia. O desenvolvimento da medicina dos romanos sofreu influência do povo grego. IDADE MÉDIA – AS PRÁTICAS DE SAÚDE MONÁSTICO-MEDIEVAIS Nos primeiros séculos do período cristão, as práticas de saúde Monástico-Medievais (Séc. V ao XIII) sofreram a influência dos fatores sócio-econômicos e políticos do período medieval e da sociedade feudal e as relações destas com o cristianismo. Na ocasião, o modelo econômico era o feudalismo, caracterizado pela centralização do poder nas mãos dos senhores feudais e donos da terra. A autoridade dos poderosos ameaçava os colonos que, sobrecarregados com pesados impostos, mal conseguiam subsistir, ficando cada vez mais sob a dependência dos senhores feudais e do Estado. As grandes epidemias de sífilis e lepra, assim como os terremotos e inundações, reforçaram as superstições e crendices do povo, apoiadas na ignorância coletiva. Nesse período, como ainda não havia os princípios de higiene e assepsia, que surgiram muito tempo depois com as descobertas de Louis Pasteur (1822-1895) no Séc. XIX, os doentes compartilhavam a mesma cama com um ou mais pacientes, permitindo a disseminação de doenças. Mesmo nas habitações comuns não havia separação entre o lugar de comer e o de dormir, como até hoje ocorre em muitas culturas indígenas e em algumas orientais mais tradicionais. Nesse contexto, a necessidade de auxílio e redenção dos sofrimentos aliada à sensibilidade mística do povo, encontrou apoio na religião cristã que começava a progredir. A religião era o instrumento de controle dos anseios da sociedade, uma vez que o clero e os latifundiários trabalhavam em parceria para acumularem mais riquezas. Assim, numa aliança velada com a Igreja Católica, os senhores feudais continham a insatisfação social, sob a justificativa de que o importante era a conquista da vida eterna através de ações caritativas aos necessitados. Esta ideologia era estimulada pelo Cristianismo, que tinha como pano de fundo a resignação e a virtude como condutores das pessoas à vida sublime, para alcançarem a salvação de suas almas. As pessoas interessadas em conquistar a vida eterna procuravam as casas de assistência aos enfermos e desvalidos para prestarem caridade e se purificarem. Nesta época surgiu então uma enfermagem rudimentar, ainda delineando-se como ofício, mas, principalmente, com a forma de benevolência e caridade. Restritos ao clero, os conhecimentos de saúde não estavam vinculados ao interesse científico, direcionando-se para uma prática baseada na fé, que era desenvolvida quase que exclusivamente nos claustros (conventos) que, durante muito séculos, foram os depositários do saber. A grande difusão do cristianismo em Roma levou muitas das mais distintas damas a se dedicarem aos serviços dos pobres e doentes. Muitas transformavam seus palácios em hospitais e reuniam-se para estudos religiosos e profanos (que não é sagrado, leigo). Além disso, em virtude do grande fervor religioso, muitos leigos, movidos pela fé cristã, voltaram suas vidas para a prática da caridade, assistindo os pobres e enfermos por sua própria conta. Assim, foram 7 criadas inúmeras congregações (companhia de sacerdotes, irmãos leigos ou irmãs) e ordens seculares (que não pertencem a ordem religiosa), formando um grande contingente em favor da associação da assistência religiosa com a assistência à saúde. O advento do cristianismo trouxe então uma nova visão de enfermidade. Entendiam-na como castigo divino, mas proveniente de um Deus misericordioso e bom. Ao mesmo tempo, o cuidado transformava-se em um instrumento poderoso de remissão dos pecados, de fortalecimento da fé e, portanto, de aproximação com cristo e salvação na vida eterna. Desse modo, a religião incentivou grandemente o atendimento dos doentes e dos pobres favorecendo a constituição de diaconatos (instituições que abrangiam os seguidores dos apóstolos de cristo – diáconos e diaconisas) visando à prática da caridade. Por decisão dos concílios religiosos (assembléia composta por bispos e arcebispos católicos que delibera sobre questões de doutrina ou disciplina eclesiásticas),as ordens e congregações religiosas passavam a assumir a liderança na construção de hospitais na vizinhança dos mosteiros e igrejas, e na assistência hospitalar, ligando definitivamente a prática de saúde a estas instituições. Os primeiros hospitais foram inicialmente destinados aos monges e, só mais tarde, surgiram outros, para assistir os estrangeiros, pobres e enfermos devido à demanda dos povos peregrinos e das guerras. Quanto à prática de enfermagem, foi a partir do aparecimento das ordens religiosas e em razão da forte motivação cristã que movia as mulheres para a caridade, a proteção e a assistência aos enfermos é que ela começou a aparecer como uma prática leiga, rudimentar, desvinculada de conhecimentos científicos, desenvolvida por religiosos e, principalmente, com a forma de benevolência e caridade. A moral e a conduta eram mantidas sobre regras rígidas nos grupos de jovens que se submetiam aos treinamentos de enfermagem nos conventos. O ensino era essencialmente prático, não sistematizado, sendo desenvolvido em orfanatos, residências e hospitais. As atividades estavam centradas no fazer manual e os conhecimentos eram transmitidos por informações acerca de práticas vivenciadas. Predominavam as ações de saúde caseiras e populares, com forte conotação mística, sob a indução dos sentimentos de amor ao próximo e de caridade cristã. Os alicerces da formação de enfermagem na época, ou seja, a aprendizagem e o desenvolvimento das ações de cuidar baseavam-se nos códigos de tolerância, submissão, conformismo e alienação, devendo ser respeitados os princípios de humildade, simplicidade e caridade. A esse tipo de vida, acorreram principalmente as mulheres virgens e as viúvas e, como fundadoras de monastérios femininos, as damas de grande influência na sociedade, vindas do poder e da nobreza. Por muitos séculos a enfermagem foi praticada dessa maneira, por religiosas e abnegadas mulheres que dedicavam suas vidas à assistência aos pobres e doentes. O trabalho caritativo e religioso foi muito importante e dominou a ideologia e o trabalho da enfermagem por um longo período após o advento do cristianismo. Os valores deixados como legado neste período foram aos poucos legitimados e aceitos pela sociedade como características inerentes à Enfermagem. Ou seja, a abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos desse tipo dão à Enfermagem não uma conotação de prática profissional, mas de sacerdócio. A influência do cristianismo foi tão grande que até hoje o trabalho em enfermagem é visto como parte da assistência caritativa e, os profissionais, como exemplo de devotamento, de vida ascendente e de dedicação aos pobres desvalidos e necessitados de ajuda. A INFLUÊNCIA DAS CRUZADAS NA PRÁTICA DO CUIDAR As Cruzadas foram expedições militares organizadas pelos cristãos a partir do final do século XI para libertar e recuperar Jerusalém, em poder dos muçulmanos desde o século VII. O movimento estendeu- se desde os fins do século XI até meados do século XIII. 8 O termo Cruzadas passou a designá-lo em virtude de seus adeptos (os chamados soldados de Cristo) serem identificados pelo símbolo da cruz bordado em suas vestes. A cruz simbolizava o contrato estabelecido entre o indivíduo e Deus. Era o testemunho visível e público de engajamento individual e particular na empreitada divina. Partindo desse princípio, as peregrinações em direção a Jerusalém, assim como as lutas travadas contra os muçulmanos na Península Ibérica e contra os hereges em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja, através do conceito de Guerra Santa – a guerra divinamente autorizada para combater os infiéis. Para os homens que não haviam se recolhido a um mosteiro, havia um meio de lavar suas faltas, de ganhar a amizade de Deus: a peregrinação. Deixar a casa, os parentes, caminhar durante meses, anos era uma forma de penitência, provação, instrumento de purificação, preparação para o dia da justiça e, igualmente, de prazer. Quando partiam para Jerusalém, os cavaleiros peregrinos levavam armas, esperando poder guerrear contra o infiel: foi durante essas viagens que se formou a idéia da guerra santa, da cruzada. Além de funções militares as Cruzadas tinham também as funções religiosas e assistenciais de enfermagem. Com isso, surgiram diversas ordens militares, como a Ordem dos Cavalheiros Hospitalares de São João de Jerusalém – que fundaram os hospitais São João (para homens) e Santa Maria Madalena (para mulheres), a Ordem dos Cavalheiros de São Lázaro, e a Ordem dos Cavalheiros Hospitalares Teutônicos. Todas essas ordens militares foram desaparecendo ou sendo substituídas por outras instituições de acordo com as necessidades de cada época. Os expedicionários que participavam das Cruzadas enfrentavam uma caminhada longa e árdua até a Terra Santa, e não havia provisão alimentar suficiente nem precauções sanitárias. O cultivo da terra era abandonado pelos homens na medida em que aderiam a essas expedições, ou então a colheita era tomada pelos famintos cruzados, expostos a todo tipo de adversidade e mau tempo. Os monges também deixaram mosteiros para participar dessas expedições. Para atender a demanda de feridos, a Igreja começou a construir hospitais, onde um grande número de monges-militares eram responsáveis por cuidar dos guerreiros, viajantes e doentes. Cabe ressaltar que durante o período das Cruzadas a enfermagem era exercida praticamente pelos homens. A enfermagem sofreu forte influência das Cruzadas, uma vez que a rígida hierarquia e a disciplina existentes na vida militar, clerical e religiosa foram muito assimiladas pelos pioneiros para moldar a formação dos primeiros enfermeiros. Durante este período, os males do corpo não eram alvo de muita preocupação. O cuidar não se dedicava ao corpo, pois este era fonte de impureza e fornicação. Quando o cuidador tocava o corpo era para tratar feridas, como uma espécie de sacrifício por meio do qual poderia obter-se a salvação da alma e o fortalecimento da fé. Apesar da total falta de condições higiênicas e de manutenção da maioria dos hospitais medievais, eles subsistiam por meio de doações, oferendas e terras; também recebiam apoio dos poderes públicos, através da isenção de impostos, o que muito contribuiu para o enriquecimento da igreja. AS PRÁTICAS DE SAÚDE PÓS-MONÁSTICAS As práticas de saúde pós monásticas evidenciam a evolução das práticas de saúde e, em especial, do exercício da Enfermagem no contexto dos movimentos Renascentistas e da Reforma Protestante. Corresponde ao período que vai do final do século XIII ao início do século XVI. Neste período, o regime feudal iniciou sua decadência, em virtude das mudanças revolucionárias da economia ocasionadas pela expansão do comércio e da indústria e pelo progresso contínuo das grandes cidades. As Práticas de Saúde avançam da observação para a experimentação, voltando-se mais para o cliente que para os ensinamentos literários. Priorizou-se o estudo do organismo humano, seu comportamento e 9 suas doenças. Acompanhando as recentes descobertas anatômicas, a cirurgia também faz notáveis progressos. As universidades se multiplicam, impulsionadas pelo crescimento das cidades e pela riqueza e poder que elas acumulam. Neste período, são fundadas 80, só na Europa. No entanto, a igreja ainda permanecia ligada à vida científica e universitária, tanto que a maioria dos professores pertencia ao clero e a formação teológica dominava a Universidade, tendo o Papa direito de intervir e fiscalizar o ensino. Somente com a entrada de judeus e outros não católicos na universidade é que esse quadro começou a se reverter vagarosamente. Assim, as práticas de saúde foram passando das mãos do clero para as mãos dos leigos e, com a fundação das universidades tornam-se, quase que totalmente,uma atividade leiga. Ao sair dos mosteiros para as universidades, a medicina encontrou um refúgio seguro para sua evolução, pois a universidade era a confirmação do status intelectual tão valorizado pela classe dominante para a ascensão ao poder. Entretanto, a retomada da ciência, o progresso social e intelectual da Renascença e a evolução das universidades não constituíram fator de crescimento para a Enfermagem. Enclausurada nos hospitais religiosos permaneceu empírica (baseada na experiência, nos conhecimentos adquiridos pela prática) e desarticulada por muito tempo, vindo a desagregar-se ainda mais durante o período da Reforma Protestante e das conturbações da Santa Inquisição. A REFORMA PROTESTANTE Em toda a Idade Média, o grande número de terras em posse da Igreja concedia uma forte influência sobre as questões políticas e econômicas das monarquias e reinos da época. Além disso, as novas atividades vinculadas à burguesia, principalmente no que se refere à prática da usura (cobrança de juros sobre empréstimo), eram consideradas de natureza pecaminosa. Por outro lado, a grande prosperidade material da Igreja veio acompanhada de uma verdadeira crise de valores e princípios. O comércio de relíquias sagradas, a venda de títulos eclesiásticos e indulgências (perdão dos pecados) eram algumas das negociatas (trapaças) praticadas pelos representantes do clero. Além disso, várias denúncias sobre a quebra do celibato e a existência de prostíbulos para clérigos questionavam a hegemonia da Igreja. No Renascimento, as críticas à Igreja se manifestavam em diversos meios. Dessa forma, as transformações que se seguiam na Idade Moderna trouxeram à tona a criação de instituições religiosas com uma diferente base doutrinária cristã. Entre essas novas instituições podemos destacar o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo como exemplos das novas religiões protestantes surgidas no século XVI. A Contra-Reforma, de modo geral, consistiu em um conjunto de medidas tomadas pela Igreja Católica com o surgimento das religiões protestantes. Longe de promover mudanças estruturais nas doutrinas e práticas do catolicismo, a Contra-Reforma estabeleceu um conjunto de medidas que atuou em duas vias: atuando contra outras denominações religiosas e promovendo meios de expansão da fé católica. Uma das principais medidas tomadas foi a criação da Companhia de Jesus, onde, designados como um braço da Igreja, os jesuítas deveriam expandir o catolicismo ao redor do mundo. A Inquisição, instaurada pelo Tribunal do Santo Oficio, outra instituição eclesiástica criada na Contra- Reforma, teve como principal função combater o desvio dos fiéis católicos e a expansão de outras denominações religiosas. Além de perseguir protestantes, a Santa Inquisição combateu judeus e islâmicos, que eram considerados pecadores e infiéis. A Inquisição também atuava investigando denúncias contra hereges e praticantes de bruxaria, que caso fossem comprovadas, resultavam em punições que iam desde o voto de silêncio até a morte na fogueira de “feiticeiras e bruxas”. Calcula-se que muitas mulheres curandeiras tenham sido vítimas desse movimento, bem como filósofos e cientistas que propagavam suas descobertas na época. 10 Como resultado das revoluções ocasionadas, inúmeros hospitais cristãos foram fechados e, em decorrência de conflitos políticos, as religiosas que cuidavam dos doentes foram expulsas, sendo substituídas por mulheres de baixo nível moral e social e de prisões para assumirem o posto de cuidar dos doentes. Essas mulheres em sua maioria eram meretrizes, analfabetas e pouco escrupulosas. Assim, com a saída das ordens religiosas dos hospitais estes se transformaram em depósitos humanos, e o cuidado passou a ser prestado por pessoas de moral duvidosa (em sua maioria mulheres), prostitutas, bêbados e vagabundos, os substitutos das religiosas no cuidado ao enfermo ou desvalido. Ao mesmo tempo, o cuidado com o enfermo também tornava-se então o meio de vida de mulheres carentes, sem lar, que em sua maioria viviam nos hospitais num processo de alienação e degradação social, sendo fortemente discriminadas e ditas de moral duvidosa; um ser ignorante, sem ideal. O hospital, negligenciado, passa a ser um depósito insalubre de doentes, onde homens, mulheres e crianças utilizavam as mesmas dependências, amontoados em leitos coletivos. Nesse ambiente degradado as enfermeiras desenvolviam tarefas essencialmente domésticas, recebendo um parco salário e uma precária alimentação por um período de 12 a 48 horas de trabalhos ininterruptos. Desse modo o serviço de enfermagem era confundido com o serviço doméstico e, pela queda dos padrões morais que o sustentava, tornou-se indigno e sem atrativos para as mulheres de casta social elevada. As condições políticas, o baixo nível de qualidade das práticas de saúde e a posição considerada inferior da mulher na sociedade contribuíram ainda mais para o desprestígio da enfermagem. Caracterizava-se então um período obscuro na assistência de enfermagem àqueles que se encontravam no espaço hospitalar, que ficou conhecido como o Período Crítico ou Período Negro da Enfermagem. Este período, que durou cerca de 300 anos (1550-1850) marcou tão profundamente a história da enfermagem que pode-se verificar suas repercussões até hoje em nossa sociedade. Apenas no limiar da revolução capitalista é que alguns movimentos reformadores, que partiram principalmente de iniciativas religiosas e sociais, tentaram melhorar as condições do pessoal a serviço dos hospitais. Algumas representações sobre a profissão de enfermagem ainda se baseiam na moral e no caráter daqueles que forneciam os cuidados de enfermagem naquela época. Essas representações só foram parcialmente confrontadas no Século XIX, com o surgimento da Enfermagem Moderna, desencadeada por Florence Nightingale. IDADE MODERNA – AS PRÁTICAS DE SAÚDE NO MUNDO MODERNO Este período analisa as práticas de saúde e, em especial, a de Enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico da sociedade capitalista. Ressalta o surgimento da Enfermagem como prática profissional institucionalizada. Inicia-se com o surgimento da Revolução Industrial e culmina com o surgimento da Enfermagem Moderna na Inglaterra, no século XIX. Com a Revolução Industrial (1760) a era agrícola foi superada, a máquina foi suplantando o trabalho humano, e uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, permitindo a expansão mundial da economia burguesa e a migração dos povos, estabelecendo o capitalismo industrial a partir do século XIX. Com a liberação da mão de obra do poder dos senhores feudais, houve o aperfeiçoamento das técnicas, a ampliação dos mercados e a acumulação de capital, trazendo desemprego, mendicância, fome e ócio. A população camponesa formou uma grande massa popular, que foi absorvida em parte pelas indústrias das grandes cidades. Com isso, observou-se o aumento da população urbana e um movimento portuário incrementado. 11 Enquanto a revolução intelectual da filosofia e da ciência contribuía para a construção de uma sociedade mais liberal e mais humana, a industrialização manufatureira explorava mulheres e crianças. Sob condições insalubres e sub-humanas, os camponeses trabalhavam em favor da riqueza e do poder político burguês, que passou a ser a classe econômica dominante. Ao sair do campo para os novos centros industriais, diante das novas condições de vida, da desigualdade econômica e da exploração de seu trabalho, a população torna-se susceptível às doenças dele provenientes. Tuberculose, desnutrição, acidentes e intoxicações passaram a fazer parte do cotidiano das classes operárias. Houve também um aumento da mortalidade infantil, provocado pelo trabalho do menor e pelo trabalho feminino. Com a aproximação de povos e conseqüentementede doenças, os países foram obrigados a adotar medidas sanitárias e repressivas que impedissem a disseminação das doenças endêmicas. Leis foram criadas para disciplinar os espaços urbanos no sentido de saneá-lo; e os hospitais gerais foram usados para excluir e segregar não só as pessoas doentes, mas, sobretudo, pobres, velhos, loucos e toda a população marginalizada, servindo como um espaço de controle social. Cabe ressaltar que, no que diz respeito à medicina, esta ganhou destaque. A categoria foi projetada para manter seu status e seus membros passaram a fazer parte dos grupos políticos e da elite econômica, reforçando cada vez mais o seu poder. Quanto às universidades, apesar de permanecerem elitistas, estavam agora mais liberadas do controle religioso graças ao grande avanço do corpo de conhecimentos da medicina (descobertas anátomo- patológicas e terapêuticas). Neste período, o Estado viveu uma prosperidade econômica, fruto do aumento da crescente industrialização. Observou-se uma acentuada melhoria nas condições de vida, levando a avanços tecnológicos e científicos. O trabalhador passou a ser encarado como bem de serviço e, doente, causaria a queda da produção e dos lucros. Com isso, o Estado começou a valorizar a saúde, e, principalmente, as medidas de prevenção e recuperação rápida dos que se encontravam doentes. A intervenção do Estado para a preservação da saúde coletiva contou com medidas de higienização dos espaços urbanos, de saneamento básico, de vacinação, de práticas de medicalização, controle de doenças infecto-contagiosas e dos cuidados de saúde gratuitos. Influenciadas pelas alterações sócio-econômicas, científicas e políticas do momento, as modificações no cenário hospitalar refletiram-se na enfermagem, onde o cuidado ao enfermo passou a fundamentar- se numa metodologia que valorizava a observação sistemática do doente, os registros constantes de sua evolução frente ao cuidado prestado, e as avaliações metódicas da saúde daqueles que estavam sob seus cuidados. Nesse momento surgiu Florence Nightingale, como a principal figura das transformações positivas para a profissão de enfermagem. Em 1860, criou a primeira Escola de Enfermagem da Inglaterra, onde as alunas recebiam ensino com base técnico-científica, após passarem por rigorosa seleção. A Enfermagem idealizada por Florence Nightingale difundiu-se por todo mundo ocidental, influenciando decisivamente a estruturação da profissão. Nascia então uma nova Enfermagem, após um longo período de obscuridade e de degradação social e profissional no qual se viu inserida. Esta Enfermagem baseava-se na rígida divisão hierárquica, rigorosa disciplina e severo controle moral de quem a praticava. Nasceu integrada ao modelo médico da burguesia, e se propunha a organizar e a administrar o espaço hospitalar, cenário do poder e do domínio médico. Disciplina: Introdução à Enfermagem Prof. Marilia J. Pereira O paciente, objeto dos cuidados, foi isolado, reduzido a parcelas e excluído do convívio social e coletivo. Surgiram então os diversos especialistas que, sozinhos, não conseguiram tratar os doentes. Com isso necessitava-se de outras pessoas que assumissem as numerosas atividades paralelas ao trabalho de investigação e de tratamento das doenças. Essa trajetória, na verdade, influenciou definitivamente a prática de enfermagem e contribuiu para dificultar a identificação dos cuidados pertinentes à profissão.
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