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Aula 7 Anna Nery

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ANNA NERY 
A MÃE DOS BRASILEIROS 
Ana Justina Ferreira nasceu no dia 13 de dezembro de 1814 na rua da Matriz, situada na vila 
Cachoeira do Paraguaçu (ou Vila de Nossa Senhora de Cachoeira), no interior da Bahia. Era filha de 
Luísa Maria das Virgens e de José Ferreira de Jesus. Ana casou-se em 1837, aos 23 anos de idade, 
com Isidoro Antônio Néri, capitão-de-fragata da Marinha, passando a se chamar Ana Justina Ferreira 
Néri. 
Com o marido sempre ausente, trabalhando em alto-mar, Ana acostumou-se a ter todos os 
encargos da família sob a sua responsabilidade. E, devido a um infortúnio do destino, Isidoro morre a 
bordo do Brigue “Três de Maio”, no Maranhão, em 05 de julho de 1844, aos 43 anos de idade, 
fulminado por uma meningite cérebro-espinhal, deixando Ana viúva aos 29 anos de idade e com três 
filhos pequenos para educar: Justiniano de Castro Rebelo, Isidoro Antônio Néri Filho e Pedro Antônio 
Néri. Sozinha, ela formou os dois primeiros em medicina e, o último, se tornou militar. 
Em dezembro de 1864, com a formação da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), o 
Brasil lutaria na histórica Guerra do Paraguai (1965-1970), na ocasião sob a presidência de Solano 
Lopes, e os filhos de Ana foram convocados pelo exército para lutar nas frentes de batalha. 
Na época com 51 anos de idade, viúva e católica praticante, Ana Néri tomou uma decisão 
histórica que constituiu uma das mais belas páginas do heroísmo em meio à carnificina da Guerra do 
Paraguai. Proprietária de fazendas de fumo, cana-de-açúcar e algodão e viúva recatada, Ana Néri 
poderia ter terminado sua vida como qualquer católica praticante, devota de Nossa Senhora da 
Conceição da Praia, se não tivesse atendido ao chamado da história. 
Na manhã fria do recôncavo baiano, de 08 de agosto de 1865, Ana Néri, olhou demoradamente 
o retrato dos filhos e dos irmãos Manuel Jerônimo Ferreira e Joaquim Maurício Ferreira, ambos 
oficiais do exército, que partiram para a guerra. Vestida de luto fechado pela morte do marido, duas 
décadas antes, deixou os olhos, insones, vagarem pelas brumas da aflição e da saudade. Minutos 
depois, veio a centelha (divinamente humana) que resgataria toda uma vida do tédio e da acomodação. 
Com as mãos trêmulas, mas a mente impulsionada pela firme decisão dos obstinados, pegou a caneta e 
o papel. Com tinta, pergaminho e sangue de mãe nas veias, escreveu a carta que iria mudar 
radicalmente sua vida: um ofício para o Presidente da Província, solicitando para si mesma um 
trabalho na guerra como enfermeira, alegando, basicamente, dois motivos principais: primeiro, a dor 
causada pela separação dos filhos e segundo, a vontade de atenuar o sofrimento dos combatentes. 
ENFERMEIRA DE ALMAS 
Dias depois veio a resposta à súplica de uma mulher que foi, acima de tudo, mãe zelosa (não só 
dos filhos biológicos, como também de uma legião de desconhecidos, arrebentados por fora e por 
dentro, nos hospitais de campanha). O Presidente da Província expediu ordens ao comandante do 
Conselho das Armas para que Ana Néri fosse contratada como a primeira enfermeira brasileira na 
Guerra do Paraguai. 
O comunicado oficial foi publicado na edição de 13 de agosto de 1865 do Diário da Bahia. Com 
a aceitação, Ana Néri se transformaria na primeira enfermeira voluntária do país, na “Matriarca dos 
Enfermeiros”, na precursora da Cruz Vermelha no Brasil e, por sua dedicação a toda prova, a qualquer 
hora do dia ou da noite, ficou conhecida como “A Mãe dos Brasileiros”. 
Ana não se importava se o ferido fosse amigo ou inimigo; todos eram homens e mereciam ser 
cuidados. Contam-se que, mesmo correndo o risco de enfrentar a corte marcial e o pelotão de 
fuzilamento, ela chegou a libertar oficiais paraguaios submetidos a torturas para passarem informações 
ao inimigo. 
Ana Néri adquiriu a prática de cuidar dos doentes em Salvador, com as irmãs da Ordem de São 
Vicente de Paulo, considerado o “Pai da Caridade”, pela Igreja Católica. Com as freiras vicentinas, 
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aprendeu noções de higiene pessoal, primeiros-socorros, a aplicar injeções, controlar hemorragias, 
dissecar feridas e fazer remédios caseiros, como um à base de pimentão amarelo, potente 
antiinflamatório. Porém, a habilidade ambulatorial que mais se revelaria útil nos campos de batalha 
foi a de cauterização, feita com uma lâmina quente (geralmente facão), que salvaria muitas pernas, 
braços e vidas. 
Das vicentinas, a dedicada aprendiz ganhou o título de “Grande Irmã da Caridade Leiga”. Ana 
Néri cuidava dos ferimentos físicos, mas foi também uma enfermeira de almas, pelo poder de resgatar 
a auto-estima e a vontade de viver dos espíritos estilhaçados pelos traumas, orgânicos e psicológicos, 
de uma guerra que cobriu de sangue e de vergonha a história de quatro países da América Latina. 
Trabalhou no hospital de Corrientes, onde contou com a ajuda de poucas freiras vicentinas para 
cuidar de mais de 6 mil soldados internados. Partiu dali algum tempo depois, atuando em Salto, 
Humaitá, Curupaiti e Assunción. Com recursos próprios, herdados de família, Ana montou uma 
enfermaria-modelo em Assunción, capital paraguaia sitiada pelo exército brasileiro. Ali trabalhou, 
abnegadamente, até o fim da guerra, na qual perdeu seu filho mais velho, Justiniano de Castro Rabello 
e um sobrinho, Arthur Rodrigues Ferreira, que também se alistara como voluntário da pátria. 
Devido à sua grande coragem, desvelo, amor ao próximo e conhecimentos de fitoterapia e, a 
despeito das deficientes condições de trabalho, como falta de higiene e de materiais e excesso de 
doentes, Ana Néri conseguiu permanecer quase cinco anos no front de batalha, chamando a atenção, 
como enfermeira, em todas as regiões por onde passara. 
No final da guerra, em 1870, Ana Néri voltou ao Brasil e recebeu várias homenagens: foi 
condecorada com as medalhas de prata humanitária e de campanha e recebeu do imperador Dom Pedro 
II uma pensão vitalícia, com a qual educou quatro órfãos que recolhera no Paraguai. 
Em 1926, Carlos Chagas, diretor do Instituto Osvaldo Cruz, batizou com o nome de Ana Néri a 
primeira escola oficial brasileira de enfermagem de alto padrão (criada por ele em 1923), em 
homenagem à primeira enfermeira brasileira, que serviu como voluntária na guerra do Paraguai. 
Dentre outras homenagens recebidas, cabe ressaltar ainda que a Rua da Matriz, local onde a 
heroína nasceu, passou a se chamar Rua Ana Néri. 
No dia 20 de maio de 1880, aos 66 anos de idade, acometida por uma enfermidade 
desconhecida, Ana falecia no Rio de Janeiro e era sepultada no Cemitério São Francisco Xavier. Seu 
retrato, pintado por Vítor Meireles, ocupa até hoje lugar de honra no Paço Municipal de Salvador. 
Como uma justa homenagem, foi criado, na cidade de Salvador, em um dos locais mais 
visitados pelos turistas, o Pelourinho, o Museu Ana Néri, para divulgar os aspectos mais significativos 
da vida da ilustre baiana e resgatar, ao mesmo tempo, a história da enfermagem brasileira, do século 
XIX até a atualidade. 
Tendo entrado na história como a primeira enfermeira voluntária do Brasil, numa época em que 
ainda não havia profissional de nível universitário nessa área, a destemida filha da cidade de 
Cachoeira, no recôncavo baiano, foi quem mais contribuiu para que os brasileiros se conscientizassem 
do quão importante é a Enfermagem como profissão. 
 
 
 
 
 
 
Disciplina: Introdução à Enfermagem 
Profa. Marilia J. Pereira

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