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1 HAITI: HISTÓRIA, CRISE E INTERVENÇÃO Paulo Gustavo Pellegrino Corrêa Graduando em ciências sociais na UNESP – Araraquara Pesquisador do OREAL (Observatório das Relações Estados Unidos – América Latina) Bolsista da Fundação para o Desenvolvimento da Unesp - Fundunesp e-mail:paulogustavo@hotmail.com Resumo: Após mais de duzentos anos de independência, o Haiti ainda não conseguiu estabelecer um Estado forte o suficiente para proporcionar condições mínimas necessárias ao desenvolvimento de sua sociedade. Sucessivos golpes de Estado marcam a política haitiana, assim como freqüentes intervenções internacionais por parte dos Estados Unidos e das Organizações das Nações Unidas (ONU). A última delas, tem em sua composição forças armadas brasileiras e de outras nações não pertencentes aos paises de capitalismo avançado. O presente estudo faz uma análise introdutória dos problemas de governabilidade enfrentados pelo Haiti desde sua independência Palavras-chave: Haiti, Nações Unidas, Estados Unidos, Intervenção * * * O Haiti, hoje o país mais pobre da América Latina, foi a primeira colônia a se independizar das metrópoles européias, em 1° de janeiro de 1804. Esse fato influenciou bastante outras colônias latino-americanas para que dessem início a um processo de libertação. A revolução haitiana teve outra importante peculiaridade: foi protagonizada por escravos que combinaram a questão nacional com a sua inserção no sistema sócio-econômico. Após dois séculos de independência, o povo haitiano não conseguiu consolidar uma nação democrática e economicamente menos injusta. Entre 1804 e 1820 o país passa por uma fase fundacional. A ordem colonial é desestruturada e é implantada uma economia agrícola de subsistência toma o espaço da antiga economia agro-exportadora. Práticas culturais de origem africana são estimuladas na construção de uma nova identidade. Ao mesmo tempo, proíbe-se aos estrangeiros possuir propriedades no país. O período de 1820 a 1915 corresponde à segunda fase da história nacional. A economia se volta novamente para a exportação, principalmente de café. No plano político, os comandantes militares haitianos vão se tornando os novos donos do poder e passam a governar o Haiti sob a força do autoritarismo militar. A idéia da construção de uma nação socialmente mais justa vai sendo gradativamente abandonada. (PIERRE-CHARLES, 2003) O Estado autoritário haitiano passa a controlar a vida econômica local. No poder dessa nação que nasce com os princípios de igualdade, formam-se os abismos entre negros e 2 mulatos, civis e militares, burgueses crioulos e estrangeiros. A maior parte da população se submetendo a uma pequena oligarquia. É também nesse período que o capital francês volta a sua antiga colônia. Em 1915, o restabelecimento da ordem democrática foi o motivo para a primeira atuação estadunidense no Haiti, cujas tropas ocupam o país durante 19 anos. Apesar de ter se apresentado como progressista, a invasão dos Estados Unidos pouco contribuiu para o desenvolvimento econômico nacional. Os setores vinculados à exportação e à importação passam a representar o eixo principal da economia do país, favorecendo o nascimento de uma pequena burguesia local. A partir dos anos 1950, Haiti passa a ser governado pela família Duvalier. Em 1957, Francois Duvalier (Papa Doc) promove um golpe de Estado e se mantém no poder até 1971, sendo substituído pelo seu filho, Jean-Claude Duvalier (Baby Doc) nomeado presidente vitalício. Em 1986 é forçado a deixar o país devido à pressão de diversos setores da sociedade que reagem contra o autoritarismo e a repressão que marcam seu governo. O fim da ditadura dos Duvalier coloca o país numa nova fase da sua história, com a realização das primeiras eleições democráticas, que em 1990 dão a vitória a Jean-Bertrand Aristide, um ex-padre simpatizante da teologia da libertação. Contudo, o promissor cenário político não durou muito. Em setembro de 1991 Aristide é derrubado do poder por um golpe militar encabeçado pelo General Raul Cedras. No entanto, três anos depois Aristide retorna sob a tutela dos Estados Unidos, que promovem, com o apóio da OEA e de tropas de vários países da região, uma invasão destinada a restaurar o governo eleito e estabilizar a situação política e econômica do país. A intervenção dos Estados Unidos foi motivada também por razões de ordem interna. A mais forte foi a contenção de haitianos que com apenas um dia de barco chegavam às costas do país. Entre 1991 e 1994 mais de 68 mil pessoas deixaram o Haiti na tentativa de chegar aos Estados Unidos. Grande parte terminou na base de Guantânamo, em Cuba. Por outro lado, os conflitos internos tinham deslocado mais de 300 mil pessoas para fora das suas cidades de origem e 30 mil se encontravam na Republica Dominicana. O que significa um impacto regional considerável. O tráfico de drogas foi outro grande incentivo para a intervenção norte-americana, já que o Haiti se encontra no meio do caminho entre Colômbia e Estados Unidos. A ditadura corrupta de Cedras facilitava as operações ilegais no país. Estimava-se que aproximadamente 60% da droga proveniente da Colômbia com destino aos Estados Unidos passavam por terras haitianas. Um presidente confiável e sob tutela das forças armadas norte-americanas, dentro de um sistema democrático, seria mais eficaz no combate as drogas. A reconstrução do país era percebida pelos organismos internacionais como uma tarefa de extrema dificuldade. Os problemas haitianos eram muito mais de ordem estrutural do que conjuntural, principalmente pela ausência de uma cultura política democrática somada à pobreza do país. O presidente Aristide era favorável à ocupação do Haiti pelos Estados Unidos, apesar de ter sido um crítico da política externa do país, tinha clareza de que sem a ajuda norte- americana não teria possibilidades de retornar ao poder. Após seis meses de ocupação pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, as Nações Unidas assumem a principal responsabilidade pelo país. Entretanto, um general norte-americano permanece no comando. Após concluir seu mandato original, Aristide convoca, com a ajuda da ONU e dos Estados Unidos, uma nova eleição presidencial, realizada em 1996. Mesmo com auxílio externo, o processo não foi considerado exemplar pelos observadores internacionais. 3 Para o então presidente Clinton, as eleições haitianas foram apresentadas como um passo a frente na democratização do país. No entanto, com a vitória dos Republicanos nas eleições parlamentares de 1996 -que ganham a maioria no Congresso- a política em relação ao Haiti sofre mudanças em função da redução das verbas para a reconstrução do país solicitadas pelo poder executivo. Nesse contexto, o presidente Aristide passa a ser pressionado pela Casa Branca e pelo Banco Mundial para privatizar empresas estatais, processo que não avançou por causa de conflito de interesses no interior do governo haitiano. A falta de atrativos do país para os investidores estrangeiros foi agravada por uma política de assistência internacional que não priorizava a construção de uma infra-estrutura capaz de despertar interesses no setor privado. No Kosovo, por exemplo, foram destinados recursos cinco vezes maiores do que para o Haiti. Em 1996 a ajuda dos Estados Unidos era igual a anterior ao conflito. A falta de dinheiro externo somado a falência da economia nacional tornaram-se obstáculos até agora insuperáveis na reconstrução do Haiti. Apesar da intervenção ter colocado Aristide novamente no poder, não foi capaz de criar uma estrutura governamental competente. A pobreza continuou se agravando, a nova polícia civil foi superada pelos problemas de insegurança e a corrupção dentro do aparelho do Estado continuou no mesmo nível anterior.O fim do mandato de Aristide foi seguido da eleição de René Prevél, continuador das suas políticas. Com o fim do mandato de Prevél, Aristide voltou ao poder em 2000. As eleições ocorreram através do voto direto. Entretanto, sua legitimidade foi duramente questionada pela oposição política e também por setores da sociedade civil, que alegaram fraudes e deram início a uma campanha contra o governo, que clama abertamente por mais uma intervenção estadunidense, mas desta vez para retirar Aristide do poder. Em 2003, a partir de incursões desde a fronteira com a República Dominicana, forças paramilitares lideradas por Guy Philippe e Luis Jordel Chamblain, conseguem avançar até Porto Príncipe. Essa força armada era composta por setores que em outros tempos trabalharam para o governo de Aristide e ex-soldados do exército haitiano dissolvido em 1995. Muitos desses homens estavam refugiados na República Dominicana. Para fortalecer a oposição ao governo, é criada a convergência democrática, uma colisão entre diversos partidos. Por outro lado, setores da sociedade civil formam o chamado grupo dos 184, que inclui jornalistas, estudantes, comerciantes, igrejas entre outras organizações. Suas atividades eram concentradas em fazer reivindicações, organizar protestos e manifestações contra o governo. A princípio, a Convergência Democrática e o Grupo dos 184 não tinham uma ligação direta com as forças paramilitares. Mas seu avanço desde a fronteira até a capital contribuiu para solidificar os interesses das forças opositoras, que passam a reivindicar da comunidade internacional uma mediação com o governo de Aristide para conduzir pacificamente sua saída. Contudo, essas pressões não obtiveram o apóio desejado. Documentos emitidos pela Caribbean Community (CARICOM), a OEA e a ONU, afirmavam a legitimidade do governo e apoiavam o termino do seu mandato, que expiraria em fevereiro de 2006. Entretanto, o avanço das forças rebeldes era rápido e a falta de uma atitude que transcendesse o apoio verbal por parte da comunidade internacional, culminou na chegada da oposição armada na capital Porto Príncipe e na fuga de Aristide para a África. A saída de Aristide foi amplamente promovida pelos Estados Unidos através do General Collin Powell. O General conversou muitas vezes com o Presidente haitiano defendendo sua renúncia como uma forma de evitar maiores confrontos com os rebeldes. Algumas pessoas envolvidas com Aristide, e o próprio Aristide, afirmaram que o que se 4 passava naquele momento no Haiti era um golpe contra o Estado haitiano legitimado pelas forças internacionais. Após sua renúncia, uma força militar multinacional composta por estadunidenses, franceses e canadenses chegou ao Haiti com o intuito de "restaurar a democracia" e evitar uma guerra civil. Essa força multinacional passou a ter o comando brasileiro e os soldados desses paises passaram a ser substituídos por soldados provenientes da Argentina, Chile, Nepal, Sri Lanka e Uruguai. (precisa destacar o papel de Estados Unidos na saída do Aristide e as acusações de golpe) Bibliografia: JAMES, Dobbins... America´s Role in Nation-building: from Germany to Iraq, Rand, 2003. <http://www.rand.org/publications/MR/MR1753/ > Acesso em 12 dezembro de 2004. JAMES, Dobbins... Un´s Role in Nation-building: from Congo to Iraq, Rand, 2005. <http://www.rand.org/pubs/monographs/2005/RAND_MG304.sum.pdf > Acesso em 03 de fevereiro de 2004. 5 PIERRE-CHARLES, Gérard; F, S. et.al. Revista “Casa de las Américas”, 233, outubro-dezembro, 2003. MINUSTAH, United Nation Stabilization in Haiti. Disponível em: <htpp://www.um.org/deps/dpko/missions/minustah/ PIERRE-CHARLES, Gérard. Crise del Estado e intervención en Haiti. In: Observatório Social da América Latina, Ano V, N° 13, janeiro- abril de 2004.
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