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Junho de 2013 Leis do Eletromagnetismo e Corrente Variável Abstract Lei de Gauss; lei de Faraday; equações de Maxwell; capacitores e indutores; circuitos RC, RL e LC. Dirceu Portes Centro Federal de Educação Tecnológica -CEFET/RJ Contents 1 Lei de Gauss 1 1.1 Fluxo de um campo vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Lei de Gauss para o campo elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.3 Lei de Gauss para o campo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2 Capacitância e capacitores 4 2.1 Energia e potência em um capacitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2 Capacitância equivalente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 3 Lei de Faraday-Lenz 7 4 Equações de Maxwell 10 5 Indutância e indutores 11 5.1 Energia e potência em um indutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 6 Circuitos com corrente variável 15 6.1 Circuito RC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 6.2 Circuito RL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 6.3 Circuito LC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 7 Problemas 18 7.1 Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1 Lei de Gauss O eletromagnetismo está alicerçado em quatro leis fundamentais, que podem ser expressas em linguagem matemática e são conhecidas como as quatro equações de Maxwell. Partiremos agora para o estudo de duas leis fundamentais do eletromagnetismo a lei de Gauss para o campo elétrico e a lei de Gauss para o campo magnético. Mas, primeiramente, é conveniente rever o noção matemática de uxo de um campo vetorial. 1.1 Fluxo de um campo vetorial Qualquer superfície plana pode ser representada por um vetor ~S, de módulo igual a área da superfície e direção perpendicular à superfície (o sentido do vetor ~S é arbitrário no caso de uma superfície plana). Suponha uma superfície plana, representada pelo vetor ~S; imersa em um campo vetorial uniforme ~� qualquer; o uxo �v pode ser obtido facilmente pelo produto escalar dos vetores dos vetores ~S e ~�; � = ~� � ~S (superfície plana). (1) O uxo não é um vetor, pois o produto escalar resulta em um número real. Na Física, a noção de uxo é aplicada em diferentes contextos e seu signi cado irá depender da natureza do campo vetorial ~�: Por exemplo: se ~� fosse o campo de velocidades em um uido, o uxo corresponderia a vazão do líquido através da superfície ~S; se ~� fosse a densidade de corrente ~j, o uxo corresponderia à corrente elétrica através da superfície ~S: O cálculo de uxo resume-se a um simples produto escalar apenas quando a superfície for plana e o campo uniforme, no caso mais geral, quando a superfície for curva, ou quando o vetor ~� variar ao longo da superfície, a relação (1) acima perde o sentido. No entanto, ainda pode ser aplicada a uma pequena região da superfície (in nitésimo), representada pelo vetor d �! S , d� = ~� � d~S: A idéia é simples: o planeta Terra possui uma superfície curva, mas temos a ilusão que é plana. Isso porque alguns quilômetros quadrados ao nosso redor são ín mos quando comparados à superfície total da Terra. Justamente essa é a idéia de in nitésimo: uma fração de superfície tão pequena, 1 que pode ser tratada como plana. Desse modo, o produto escalar de ~� � d~S (~� é o campo em d~S) fornece o in nitésimo de uxo através da fração de área d~S. O uxo total será obtido pela soma de todos d� ao longo da superfície. A soma de in nitésimos é a própria integral, logo � = Z S d� = Z S ~� � d~S: (2) O sentido do vetor d~S é relevante para o cálculo do uxo. Em superfícies aberta seu sentido é arbitrário, mas em superfícies fechadas, por convenção, o sentido do vetor d~S é sempre para fora da superfície. Também temos que o uxo em superfícies fechadas é denotado por um círculo no sinal de integral, � = I S ~� � d~S: O cálculo de uma integral de superfície pode ser bastante trabalhoso, porém tais integrais cam enormemente simpli cada quando há simetria (o valor de ~� � d~S é o mesmo sobre a superfície). Para uma superfície que apresente simetria, uxo poderá ser facilmente calculado como � = � S cos �; (3) onde � é o módulo do campo ao longo da superfície, S é a área da superfície, e � é o angulo entre os vetores ~� e d~S. Por exemplo, se desejarmos calcular o uxo do campo gravitacional ~g em um tonel fechado perfeitamente cilíndrico apoiado no chão com a sua parte superior de área A perfeitamente per- pendicular ao vetor ~g; teremos: o uxo na tampa superior é igual a �gA; pois o ângulo entre ~g e d~S é de 1800; o uxo no fundo é igual a gA; pois o ângulo entre ~g e d~S é de 00; e zero no envoltório lateral, pois o ângulo entre ~g e d~S é de 900. Portanto uxo na superfície fechada do tonel será zero, soma do resultado obtido em cada uma das três partes. 1.2 Lei de Gauss para o campo elétrico Considere uma superfície fechada S, envolvendo uma região nita do espaço tridimensional. Na da região limitada por essa superfície sempre haverá uma carga líquida q (positiva, negativa, ou nula). A lei de Gauss a rma que o uxo do campo elétrico através de S será diretamente proporcional à 2 carga q, isto é, I S ~E � d~S = q "0 : (4) Ressaltamos que na equação acima q não corresponde à carga de um monopolo, mas é o resultado da soma de todas as cargas contidas no interior da superfície fechada. A equação (4) é bastante geral, aplica-se a qualquer superfície fechada que imaginarmos (superfície gaussiana) e a qualquer distribuição de cargas. A lei de Gauss é fundamental no formalismo matemático do eletromagnetismo, isso signi ca que ela não pode ser deduzida de outras equações e que outras equações são deduzidas a partir dela. No entanto, a lei de Gauss não possui uma utilidade apenas teórica (deduzir outras equações a partir dela), também pode ser aplicada diretamente na resolução de diversos problemas Na prática, a lei de Gauss poderá ser aplicada diretamente quando houver simetrias que simpli quem muito o cálculo do uxo. Nesse caso I S ~E � d~S = E S cos � ) E S cos � = q "0 : Por exemplo, vamos aplicar a lei de Gauss para calcular o campo elétrico produzido por um monopolo. Tomando como superfície gaussiana uma esfera de raio r com o seu centro na posição da carga pontual q; por simetria esférica, teremos I S �! E � d�!S = E S = E 4�r2: Aplicando a Lei de Gauss (4), obteremos E4�r2 = q "0 ; o que é equivalente a E = 1 4�"0 q r2 ; um resultado já conhecido. 3 1.3 Lei de Gauss para o campo magnético A lei de Gauss para o campo magnético a rma que para qualquer superfície fechada o uxo do campo magnético será nulo; isto é, I S �! B � d�!S = 0: (5) De certa a equação acima para o campo magnético é análoga a lei de Gauss para o campo elétrico, eq. (4), com a diferença que a carga será sempre nula, pois não existe carga magnética. A lei de Gauss para o campo magnético é fundamental no formalismo do eletromagnetismo, porém raramente é aplicada diretamente na resolução de problemas. 2 Capacitância e capacitores Já explicado que o potencial elétrico possui o mesmo valor em todos os pontos de um condutor. Particularmente, para uma esfera de raio R o valor do potencial é determinado de forma simples pela relação V = q 4�"0R : Por conseguinte, a razão entre a carga e o potencial, q V = 4�"0R; depende apenas de R, uma característica geométrica da esfera. Para outros condutores, com qualquer forma geométrica, também é verdade que a razão q=V só dependerá de característicasdo condutor. A capacitância, também chamada de capacidade elétrica, é justamente de nida como como essa razão C = q V : A capacitância de um condutor é expressa em farad (abreviada F) em homenagem a Michael Faraday. Um capacitor é constituído por dois condutores próximos, porém isolados um do outro, tendo cargas q e �q: O conceito de capacitância pode ser estendido para capacitores. Para capacitores, 4 a capacitância é de nida como C = ��� q �V ��� ; (6) onde �V é ddp entre os dois condutores que constituem o capacitor. Os capacitores têm larga aplicação em circuitos elétricos, pois é uma forma simples de fornecer ddp a um circuito e de armazenar energia. O capacitor mais simples e comum é formado por duas placas paralelas separadas por uma distância d, com o espaço entre elas preenchido por um isolante (dielétrico). O cálculo da ca- pacitância para o capacitor de placas paralelas é bastante facilitado pelo fato do campo elétrico ser uniforme entre as placas, exceto por alguma disprezível distorção nas bordas. Aplicando a lei de Gauss (problema 3.6), pode-se demonstrar que o campo próximo a qualquer condutor será perpendicular à superfície e seu módulo será dado por E = � "0 : Temos que, entre as placas de um capacitor de área A; E = � "0 = q A"0 : (7) Como �V = Ed; (8) teremos, pelas eqs (6) a (8), C = A"0 d : (9) A última equação seria a capacitância se houvesse vácuo entre as placas do capacitor. No entanto, na prática, os capacitores são construídos com um dielétrico entre as placas e a capacitância é dada por C = A" d ; (10) pois "0 ) " em dielétricos. Como " � "0; a presença de um dielétrico entre as placas do capacitor é um importante fator de aumento da capacitância do mesmo. 5 Deve car claro que a eq. (10) é válida apenas para o capacitor de placas paralelas. Para capacitores com outras formas geométricas, será necessário calcular �V e aplicar a de nição dada na eq. (6). 2.1 Energia e potência em um capacitor Determinar o sinal da carga em um capacitor pode car confuso, pois sempre que uma placa tiver uma carga q a outra placa terá uma carga �q: Por essa razão, arbitramos uma placa como referência e nos referimos à carga do capacitor q (positiva ou negativa) como a carga dessa placa. também, devemos escolher como positivo o sentido da corrente que carrega a placa de referência, de modo a se ter i = dq dt : O sinal da ddp no capacitor, obtida de (6), ca determinado por �VC = � q C ; (11) porque a fem produzida pelo capacitor se opõe à corrente que o carrega. O capacitor fornecerá energia positiva ao circuito quando estiver sendo descarregado (dq=dt < 0), e, ao contrário, "fornecerá" energia negativa ao circuito quando estiver sendo carregado (dq=dt > 0). Pode-se determinar a potencia de um capacitor, tanto na carga quanto na descarga, pela relação universal P = �V i: Substituindo eq.(11), tem-se a fórmula nal para a potencia fornecida por capacitor, P = � q C dq dt : Para se calcular a energia armazenada em um capacitor, basta calcular a energia fornecida ao circuito pelo capacitor durante uma descarga completa. Denotando por U a energia armazenada no capacitor, obteremos U = � 1 C Z tf ti q dq dt dt = � 1 C Z 0 q q dq = 1 2C q2 : 6 Logo, a energia armazenada em capacitor é dado por U = 1 2C q2: (12) Vê-se que a energia em um capacitor é diretamente proporcional à carga presente nas placas. Podemos também obter uma relação direta entre a energia e o campo elétrico presente entre as placas, das eqs. (7) e (9), obtém-se U = "0 2 Ad E2: Note que Ad é o volume no interior do capacitor, ou seja, U = "0 2 � volume� E2: (13) 2.2 Capacitância equivalente A capacitância equivalente de uma combinação de capacitores é a capacitância de um único ca- pacitor que, usado no lugar da combinação, forneceria a mesma capacitância que a combinação de capacitores. Para N capacitores Ci colocados em série, Ceq = 1P 1=Ci : Para N capacitores Ci colocados em paralelo Ceq = X Ci : 3 Lei de Faraday-Lenz A lei de Faraday-Lenz introduz ingredientes novos a teoria eletromagnética. Até o momento foi visto que o campo elétrico é produzido por cargas e o campo magnético é produzido por cargas em movimento, porém a lei de Faraday a rma que o campo elétrico pode ser produzido pela variação do campo magnético. Em linguagem matemática, a lei de Faraday-Lenz é expressa como I C ~E � d~l = � d dt Z S ~B � d~S; (14) 7 Figure 1: Lei de Faraday-Lenz onde S é superfície aberta qualquer é C a curva fechada correspondente ao contorno desta super- fície. A forma matemática da lei de Faraday-Lenz pode parecer muito difícil e abstrata, mas cada elemento tem um signi cado físico bastante concreto. O lado esquerdo corresponde a uma ddp lembramos que a ddp é, por de nição, a integral de linha do campo elétrico. Para simpli car, vamos denotar por E essa ddp, ou seja, I C ~E � d~l = E : O lado direito da eq. (14) é a derivada temporal do uxo do campo magnético, pois �B = Z S ~B � d~S: Substituindo as duas últimas equações na eq. (14), tem-se que a lei de Faraday pode ser escrita como E = �d�B dt : (15) De forma esquemática variação de �B ) campo elétrico) ddp. Veja a gura (1), ao aproximarmos o campo magnético de um condutor, a variação do uxo magnético através área circunscrita pela espira irá induzir uma ddp, a qual, por sua vez, gera uma corrente elétrica, fenômeno descoberto por Faraday descobriu em 1888. Relacionando o fenômeno com a eq. (14) identi camos o o da espira como o caminho C e a área interna delimitada pelo o 8 Figure 2: Lei de Lenz para o sentido da corrente induzida como a superfície S S é chamada de área acoplada ao circuito. Observe que o imã parado não produz corrente, é necessário haver movimento, pois é a variação do uxo (derivada no tempo) que produz a corrente. É importante enfatizar o sinal negativo presente na lei de Faraday, o qual está relacionado com sentido da corrente induzida. Na gura (2) ilustramos o campo magnético produzido pela corrente induzida (a gura não ilustra o campo do imã). Observe que, na aproximação do imã, surgirá uma força repulsiva entre os polos se opondo ao movimento, ao contrário, no afastamento do imã, surgirá uma força atrativa entre os polos, também se opondo ao movimento. Em suma, a corrente induzida será tal que o campo produzido por ela irá se opor ao movimento que a produziu. Tal princípio é atribído a Lenz não é um "mero detalhe ", não fosse o sinal negativo na equação (14) a princípio da conservação da energia seria violado e o moto contínuo poderia ser construído. As aplicações práticas da lei de Faraday são enormes. De imediato temos os geradores e todos os demais dispositivos que transformam energia mecânica em elétrica, também, os transformadores, os indutores, e diversos outros equipamentos têm a lei de Faraday como princípio fundamental de funcionamento. Na gura (3) ilustramos o protótipo de um alternador, o movimento circular do imã vai periodicamente gerando corrente alternada nas espiras. Contudo, não é apenas por suas aplicações tecnológicas que a lei de Faraday possui um papel relevante, as implicações teóricas dela também são relevantes. Observe que, até agora, exceto pela lei de Faraday-Lenz, não havíamos estudado nenhuma equação relacionando o campo elétrico com 9 Figure 3: Protótipo de um alternador o campo magnético, a eletrostática e a magnetostática eram tratadas como teorias independentes. O único vínculo entre os dois campos residia no fato da carga elétrica, que gera ~E, estar relacionada à corrente elétrica, que gera ~B. Alei de faraday-Lenz ensina que existe uma relação mais forte entre o campo elétrico e o campo magnético, na realidade, eles são faces distintas de um mesmo fenômeno e devem ser estudados em conjunto por uma única teoria o eletromagnetismo. Em particular, para campos estáticos, d�B dt = 0 o que acarreta em I C ~E � d~l = 0; uma equação fundamental da eletrostática que exprime o fato de o campo elétrico ser conserv- ativo, o que permite a existência do potencial elétrico. Disso conclui-se que o campo elétrico é conservativo apenas na eletrostática. Se houver variação temporal, o campo elétrico poderá deixar de ser conservativo e sua integral de linha em um caminho fechado poderá resultar em uma ddp diferente de zero. 4 Equações de Maxwell Até o momento estudamos quatro leis fundamentais no eletromagnetismo: lei de Gauss para o campo elétrico, lei de Gauss para o campo magnético, lei de Ampère, e lei de Faraday-Lenz. Um 10 físico chamado Maxwell, no nal do século XIX, percebeu que havia uma inconsistência entre essas quatro leis e acrescentou um termo na lei de Ampère. A contribuição de Maxwell teve como conseqüência a descoberta das ondas eletromagnéticas, o que permitiu um salto tecnológico para a humanidade. Com o termo de Maxwell as quatro equações cam da seguinte forma: I ~E � d~S = q "0 ; (16) I ~B � d~S = 0; (17)I ~E � d~l = � d dt Z ~B � d~S; (18)I ~B � d~l = �0i+ �"0 d dt Z ~E � d~S: (19) Essas quatro equações são coletivamente chamadas de equações de Maxwell. Passado mais de um século as equações da Maxwell continuam a ser consideradas corretas, e são coerentes com as teorias mais modernas da Física, como Física Quântica e relatividade. As equações de Maxwell constituem um dos pilares do conhecimento humano e formam a base teórica para uma in nidade de aplicações tecnológicas. Um estudo mais profundo das equações de Maxwell e das ondas eletromagnéticas será feito no curso de Ondas 5 Indutância e indutores Na seção anterior, foi visto que um campo magnético variando no tempo pode produzir ddp em um circuito elétrico, ddp essa proporcional à variação do uxo do campo magnético através da área acoplada ao circuito. Nos exemplos ilustrados nas guras (1) e (3), a variação temporal do campo magnético é obtida pelo movimento mecânico de um imã natural: movimento do imã) uxo magnético variável) ddp no circuito. Nada impede, porém, que o campo magnético variável seja produzido por outro circuito elétrico, o esquema seria o seguinte: corrente variável no circuito 1) uxo magnético variável) ddp no circuito 2. 11 Em conclusão, um circuito elétrico, portador de corrente alternada, pode induzir correntes em outro circuito próximo. Tal fenômeno é chamado de indutância, um curioso efeito onde a variação de corrente em um circuito produz ddp em outro circuito próximo. É claro que o segundo circuito, aquele que sofre a ação da indutância, também pode produzir ddp no primeiro, mas a indutância nem sempre é recíproca. Um o retilíneo portador de corrente variável pode produzir ddp em algum circuito adjacente, mas não é passível do efeito; um circuito precisa ser fechado para ser passível de indução. A indutância é um importante e sutil fenômeno eletromagnético, particularmente signi cativo entre bobinas solenóides como ocorre nos transformadores. Todavia, não é apenas entre dois circuitos diferentes que pode haver indutância, um circuito pode induzir a ele mesmo no seguinte esquema: corrente variável) uxo magnético variável) ddp no próprio circuito da corrente. Esse efeito, por motivos óbvios, é chamado de auto-indução, e o uxo magnético obtido, de autouxo. Pela lei de Faraday d dt �autofluxo = ��V : (20) O autouxo em um circuito �autofluxo irá depender de sua forma geométrica, além da corrente elétrica i presente no próprio circuito. Tem-se que �autofluxo = Li; (21) na qual L é uma características intrínsecas do circuito. Chamada de auto-indutância do circuito, ou simplesmente indutância, L corresponde a propensão de um circuito a se auto-induzir. Para um o retilíneo, onde L = 0, inexiste o efeito de auto-indução. Qualquer circuito que apresente auto-indutância diferente de zero pode ser chamado de indutor, porém, na prática, o predomínio de solenóides e toróides é absoluto. Substituindo eq.(21) em eq.(20), é fácil ver que �V = �Ldi dt : (22) 12 �V é a ddp que o circuito produz nele mesmo sempre que sua corrente variar no tempo, para correntes contínuas di=dt é zero e o efeito inexiste. Semelhante aos resistores e capacitores, os indutores também podem fornecer ddp a um circuito. Observe que a ddp produzida por um indutor sempre irá se opor a variação da corrente: se a corrente estiver diminuindo �V será positivo, caso contrário, �V será negativo (conseqüência da lei de Lenz). A auto-indutância de um circuito qualquer, em princípio, sempre poderá ser calculada pela de nição, eq.(21), L = �autofluxo i : Em particular, para um solenóide com N espiras, comprimento l e área de seção transversa A; L = �0lSn 2; (23) onde n é a densidade de espiras, n = N l : Lembramos que o campo magnético no interior de um solenóide é dado por B = �0in: (24) Como o campo magnético é uniforme, o autouxo magnético será obtido por �autofluxo = NSB: Combinando as três últimas equações, �autofluxo = �0lSn 2i: Ora, L = �autofluxo i = �0lSn 2; conforme antecipamos. Enfatizamos que a fórmula acima é válida apenas para o indutor formado por um solenóide. Para circuitos com outras formas geométricas, será necessário calcular o autouxo caso a caso. A unidade de auto-indutância é o henry (abreviado H) em homenagem a Joseph Henry. Tam- bém podemos usar o Wb A�1 como unidade de auto-indutância, pois Wb é a unidade de uxo para o campo magnético. 13 5.1 Energia e potência em um indutor Tem-se que P = �V i ; logo, em um indutor, eq.(22), P = �Lidi dt (25) O indutor fornecerá energia positiva ao circuito quando a corrente estiver diminuindo (di=dt < 0); ao contrário, "fornecerá" energia negativa ao circuito quando a corrente estiver aumentando (di=dt > 0). Para se calcular a energia armazenada em um indutor, basta calcular a energia fornecida ao circuito pelo indutor quando a corrente com seu valor inicial i vai a zero. Temos que U = �L Z tf ti i di dt dt = �L Z 0 i i di = 1 2 Li2 : Vê-se que a energia em umindutor é diretamente proporcional à corrente presente no circuito. Podemos também obter uma relação direta entre a energia e o campo magnético presente no interior do solenóide, das eqs. (23) e (24), obtém-se U = 1 2�0 lSB2: Note que lS é o volume no interior do solenóide, ou seja, U = 1 2�0 � volume�B2: (26) Diferente dos resistores, que dissipam energia, os indutores e os capacitores conservam a energia em um circuito. A energia que eles absorvem não é dissipada, mas ca armazenada neles, podendo ser devolvida ao circuito. Enquanto o capacitor armazena energia através da carga q presente em suas placas e libera essa energia ao ser descarregado; o indutor armazena energia através da corrente i presente em seu circuito e libera essa energia quando a corrente decresce. No capacitor, a energia ca armazenada no campo elétrico presente entre as placas; no indutor, a energia ca armazenada no campo magnético presente no interior do solenóide. 14 As eqs. (13) e (26) são de validade geral, apesar de terem sido deduzidas para casos particulares capacitor de placas paralelas e indutor solenóide, respectivamente . Por conseguinte, a energia do campo eletromagnético é dada por Energia volume = "0 2 E2 + 1 2�0 B2: Essa, justamente, é a energia presentena onda eletromagnética, como a proveniente do nosso Sol. 6 Circuitos com corrente variável Indutores, capacitores e resistores são três dispositivos básicos de ampla utilização. São três formas distintas de se obter ddp. O comportamento dos resistores independe se a corrente é contínua ou alternada, mas os capacitores e os indutores estão associados a correntes que variam no tempo. O fenômeno da auto-indução inexiste se não houver variação temporal da corrente, e é na corrente alternada que um capacitor pode ser carregado e descarregado periodicamente. São tantas as relações envolvendo esses três dispositivos que convém organizá-los em uma tabela: Propriedade ddp Potência fornecida Energia armazenada Unidade R resistência �Ri �Ri2 0 Ohm ( ) C capacitância � qC � qC dqdt 12C q2 Farad (F ) L auto-indutância �L didt �Li didt 12Li2 Henry (H) (27) Em um circuito, a energia liberada por um dos dispositivos terá que ser armazenada ou dissi- pada por outros, ou seja, a soma das potências deve ser igual a zero sempre, X P = 0: (28) Veremos aqui apenas três circuitos simples: RC, RL e LC. Um estudo de circuitos mais complexos iria além dos objetivos do nosso curso. 15 6.1 Circuito RC Se as duas placas que constituem o capacitor, uma com carga q e a outra com carga �q, forem ligados por um o o capacitor irá descarregar. A ddp fornecida pelo capacitor irá estabelecer uma corrente elétrica que só terminará quando o capacitor estiver descarregado (q = 0). Tal descarga sempre ocorrerá com a participação de alguma resistência, nem que seja a própria resistência do o, formando um circuito RC. Tem-se que a energia liberada pelo capacitor será dissipada pelo resistor, Pcapacitor + Presistor = 0 Substituindo as expressões da potência (27), obtém-se � q C dq dt �Ri2 = 0; sendo i = dq dt : (29) É claro que o capacitor irá descarregar e a corrente será negativa, como os cálculos vão mostrar. Combinando-se as duas últimas equações, obtém-se a seguinte equação diferencial dq dt = �1 RC q; cuja solução é q(t) = q(0) exp � � t RC � : A equação acima determina como a carga irá decrescer durante a descarga do capacitor, vemos que é um decaimento exponencial e que, quanto maior for a resistência R, mais lentamente o capacitor irá descarregar. A partir da função da carga com o tempo, facilmente obtém-se a corrente i = dq dt = �i(0) exp � � t RC � ; com i(0) = q(0) CR : Observe que a corrente será negativa como esperado. 16 6.2 Circuito RL Suponha que no instante inicial haja uma corrente i em circuito formado apenas por um indutor e um resistor. Não importa como a corrente foi produzida, suponha que previamente havia uma fonte que foi retirada. Semelhante ao que ocorre na descarga de um capacitor, a energia fornecida pelo indutor será dissipada no resistor, Pindutor + Presistor = 0: Substituindo as expressões da potência (27), obtém-se �Lidi dt �Ri2 = 0; Dessa última equação, temos a seguinte equação diferencial di dt = �R L i; cuja solução é i(t) = i(0) exp � �R L t � : Semelhante ao capacitor, obtemos um decaimento exponencial para a corrente; diferente do ca- pacitor, quanto maior for a resistência R, mais rapidamente a corrente irá decrescer. 6.3 Circuito LC No circuito formado exclusivamente por um capacitor e um indutor (LC) a resistência é considerada desprezível. A energia será trocada inde nidamente entre o indutor e o capacitor, sem haver dissipação. Pela conservação da energia e pela tabela (27), tem-se que � q C dq dt � Lidi dt = 0: Dessa última equação, temos a seguinte equação diferencial d2q dt2 = � 1 LC q: Essa equação é bem conhecida pela teoria e fornece a solução do oscilador harmônico, q(t) = qm�ax cos(!t+ �); 17 com ! = r 1 LC : Signi ca que a carga irá oscilar no capacitor, entre uma valor máximo qm�ax até um valor mínimo �qm�ax (a carga negativa signi ca que o capacitor foi carregado de modo inverso). A partir da função da carga com o tempo, facilmente obtém-se a corrente i(t) = �im�ax sin(!t+ �); Portanto o circuito RL produz uma corrente alternada que se comporta como um oscilador har- mônico. A frequência do circuito pode ser determina pela relação entre ! e a frequência do movimento harmônico, f = ! 2� = 1 2� r 1 LC : Existe uma completa analogia entre as oscilações em circuito LC e as oscilações em um sistema mecânico massa-mola. Nessa analogia a L corresponde à massa; 1=C corresponde à constante elástica k; a energia armazenada no indutor corresponde à energia cinética; a energia armazenada no capacitor corresponde à energia potencial elástica; etc.. 7 Problemas 3.1) Considere uma esfera de raio igual a 10 cm uniformemente carregada com uma carga total igual a 10�10 C: Obtenha o módulo do campo elétrico para um ponto distante: a) 5 cm do centro da esfera; b) 10 cm do centro da esfera; c) 15 cm do centro da esfera. d) Faça um esboço do grá co do campo elétrico versus distância ao centro da esfera. 3.2) Para um o muito longo (despreze os efeitos das extremidades) com uma densidade linear de carga igual a �; calcule o módulo do campo elétrico em função da distância ao centro do o. 3.3) Uma esfera condutora oca, de raio externo R2, e raio interno R1, tem uma carga q em seu centro. Calcule o módulo do campo elétrico para um ponto: a) fora da esfera oca; b) na esfera ôca; c) no interior da esfera ôca. 18 3.4) Um cubo de aresta igual a 1; 0 cm é colocado em uma região onde existe um campo elétrico uniforme de módulo igual a 102 N=C, perpendicular a uma das faces do cubo. Adicionado a este campo existe um outro campo produzido por uma carga elétrica de 6�10�11 C colocada no centro do cubo. Calcule o uxo do campo elétrico em cada uma das seis faces do cubo. 3.5) Uma esfera oca, de raio externo R2, e raio interno R1, tem uma carga q uniformemente distribuída em seu volume. Calcule o módulo do campo elétrico a uma distância r do centro da esfera. a) r < R1. b) R1 < r < R2. c) r > R2. 3.6) Uma chapa metálica quadrada de lado 50 cm está uniformemente carregada com carga total igual a 10�9C. a) Calcule o módulo do campo elétrico para um ponto muito próximo da chapa. b) Considere uma segunda chapa idêntica, porém carregada com cargas negativas, colocada paralela à primeira sem encostar (capacitor). Qual a campo elétrico na região entre as duas chapas. 3.7) Um capacitor é formado por um condutor cilíndrico de raio R1 e comprimento l, envolvido por uma casca condutora, igualmente, cilíndrica e coaxial, com raio R2 (R2 > R1): Pela lei de Gauss, sabemos que o campo na região entre os condutores é E = q 2�"0rl ; onde r é a distância ao eixo axial dos cilindros (R1 � r � R2). Determine a capacitância deste capacitor. 3.8) Um capacitor de placas paralelas com área A e separação d é parcialmente preenchido com um dielétrico de espessura x (x < d) e constante dielétrica �. Estabeleça um expressão para a capacitância deste capacitor. (dica: considere o sistema como dois capacitores em série) 3.9) Um estudante do CEFET-RJ dispõe de 20 m de o de 1; 0 mm de espessura, incluindo o material isolante. Ele constrói um solenóide de área transversa quadrada enrolando o o com- pactamente em uma camada. Qual deve ser o comprimento do solenóide para que esse tenha indutância de 80� �H? 3.10) Uma haste condutora de comprimento l = 120mm é articulada em uma extremidade, en- quanto a outra extremidade desliza em um condutor circular perpendicular a um campo magnético uniforme B = 400 mT . A haste gira em sentido anti-horário com velocidade angular constante 19 ! = 370 rad=s; conforme a gura abaixo. Suponha uma resistênciaR = 1:2 e calcule a corrente instantânea induzida no circuito. 3.11) O toróide é uma bobina em forma de câmara de ar com N voltas de o enrolado em torno dela. Considere um toróide de área transversa retangular, com raio interno R1; raio externo R2; e largura a: Pela lei de Ampere, sabemos que o campo magnético no interior de um toróide é dado por B = �0iN 2�r ; onde r é a distância ao eixo axial do toróide (R1 � r � R2). Determine a auto-indutância do toróide. 3.12) Um espira quadrada de lado igual a l delimita uma superfície representada pelo vetor ~S. Esta espira gira na presença de um campo magnético uniforme e constante ~B: A rotação da espira é tal, que o ângulo � entre ~B e ~S varia no tempo de acordo com a expressão � = !t: Determine o valor máximo fem induzida na espira. 3.13) Para se determinar uma resistência R; de valor desconhecido, um capacitor C = 1; 5 �F é descarregado sobre a esta resistência R: Durante a descarga, cronometra-se 0; 20 s para que a ddp fornecida pelo capacitor caia para a metade do seu valor incial. Qual o valor da resistência R? 3.14) Considere um circuito LR com corrente inicial i. O indutor de L = 10 mH descarrega sobre a sua própria resistência interna R = 2; 0 : Calcule o tempo para que a corrente diminua para metade do sue valor inicial. 3.15) Considere um circuito LC com L = 0; 10 H e C = 0; 10 �F; a carga inicial do capacitor é 2; 0 �C e a corrente inicial no circuito é zero. 20 a) Qual a frequência deste circuito? Estabeleça expressões como função do tempo para: b) a corrente elétrica no circuito; c) a ddp no capacitor; d) a ddp no indutor. 3.16) Considere um circuito LC em um instante em que 25% da energia eletromagnética está armazenada no capacitor e 75% está armazenada no indutor. Para esse instante determine: a) a carga no capacitor em termos de sua carga máxima; b) a corrente no indutor em termos de sua corrente máxima. 3.17) Uma bobina formada por 200 espiras e com raio de 0:10m é colocada perpendicularmente a um campo magnético uniforme de 0:2T; o qual é desligado, indo linearmente a zero em 50 ms. Para o momento em que o campo magnético é desligado, determine: a) a fem induzida na bobina, b) o campo elétrico no interior do o da espira. 3.18) Um solenóide muito longo de 3 cm de raio possui 20 espiras por centímetro e é percorrido por uma corrente de i = 0; 5 sen(10t) (no sistema internacional). No extremo deste solenóide é colocada uma espira circular concêntrica com o solenóide e com a metade do raio deste. Determine a fem induzida na espira. 7.1 Respostas 3:1 a)zero; b)90 N=C; c)40 N=C 3:2) E = 1 2�"0 � r 3:3 a) E = 1 4�"0 q r2 ; b) zero; 3; c) E = 1 4�"0 q r2 3.4) Tomando como orientação o sentido do campo, teremos: 0; 13 Nm2=C na face dianteira, 2; 13 Nm2=C na face posterior e 1; 13 Nm2=C nas demais quatro faces. 21 3:5 a) zero; b) E = 1 4�"0 q r2 r3 �R31 R32 �R31 ; c) E = 1 4�"0 q r2 3:6 a)14 N=C; b)28 N=C 3:7) C = 2�"0l ln(R2=R1) 3:8) C = �"0A �d+ x(1� �) 3:9) l = 12; 5 cm 3:10) i = 0:89 A 3:11) L = �0N 2a 2� ln R2 R1 3:12) �V = Bl2! 3:13) R = 192 k 3:14) t = 3:5 ms 3:15 a) f = 20� kHz b) i = �0:0 2 sin 104t A c) �VC = �20 cos 104t V d) �VL = 20 cos 10 4t V 3:16 a) q = �1 2 qm�ax b) i = � p 3 2 im�ax 3:17 a) �V = 8� V b) E = 0:4 V=m 3:18) �V = �8:9� 10�6 cos(10t) 22
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