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03 Poder Relacoes Internacionais e Mudanca

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Anais Eletrônicos do SIMPORI 2015  
Simpósio de Pós­Graduação em Relações Internacionais do 
Programa “San Tiago Dantas” (Unesp, Unicamp, PUC­SP) 
“Governança Global: transformações, dilemas e perspectivas” 
São Paulo, 09 a 12 de novembro de 2015 
ISSN 1984­9265  
 
Poder, Relações Internacionais e Mudança Tecnológica: 
Contextualizações da Indústria de Defesa sob um Marco Realista 
 
Giordano Bruno Antoniazzi Ronconi  1
 
1. Introdução 
Este trabalho tem como objetivo formular uma concepção teórica das Relações                     
Internacionais para avaliar a dinâmica da indústria de defesa brasileira com as do resto                           
do mundo. Para isso, assunções, conceitos e suas relações causais são colocadas dentro                         
de um contexto no qual se teoriza em dois níveis: em nível estatal, no qual o Estado                                 
toma suas decisões/ações; e no nível internacional, no qual se procura inserir as ações                           
do Estado dentro da dinâmica do Sistema Internacional. A indústria de defesa é um                           
fator­chave para aumentar o poder potencial e este se sobrepõe ao poder real em                           
períodos de relativo equilíbrio no sistema, pois gera capacidades dissuasórias e abre                       
possibilidades de conversão futura para um maior poder militar.  
Uma vez colocados em evidências os arcabouços e as sistematizações teóricas,                     
faz­se uma breve contextualização das variáveis na indústria de defesa brasileira e de                         
sua posição no Sistema Internacional. Para medir a intensidade destas variáveis no                       
1 Mestrando em Estudos Estratégicos da Segurança e Defesa (PPGEST) na Universidade Federal                         
Fluminense (UFF), sob orientação do Professor Luiz Pedone. Bolsista CAPES do programa Pró­Defesa.                         
Contato: giordano.antoniazzi@gmail.com 
sistema internacional, utiliza­se como metodologia uma análise comparativa de                 
elementos quantitativos que caracterizam os conceitos empregados. Será uma forma de                     
contextualizar os conceitos teóricos empregados no trabalho. Não obstante, devido às                     
alterações qualitativas deste setor nas últimas décadas, algumas considerações serão                   
colocadas sobre as atuais transformações no perfil deste mercado internacional. Com                     
isso, será feita uma discussão sobre o caso brasileiro. 
Será desta contextualização internacional que poderá ser explorado o argumento                   
de que, a despeito dos grandes constrangimentos internacionais, característicos de um                     
sistema em equilíbrio, o Brasil vem direcionando fatores que, teoricamente, gerariam                     
tendências de mudança de sua política externa e de seu perfil regional. Serão elementos                           
que moldam tanto a adaptação de sua indústria de defesa no sistema internacional                         
quanto possibilitam uma maior presença regional. 
Após esta introdução, a segunda seção tratará da relação entre a indústria de                         
defesa e o pensamento realista das Relações Internacionais sob três moldes: sua relação                         
com o poder; sua influência na ação estatal; e sua presença na dinâmica internacional. A                             
terceira parte analisa sua contemporaneidade nas relações internacionais, os possíveis                   
desdobramentos em países emergentes e a influência desta no Brasil. Como conclusão,                       
sintetiza­se as possibilidades das concepções teóricas elaboradas para o atual momento                     
brasileiro. 
 
2. Realismo e Indústria de Defesa 
Em sua essência ​, o realismo pode ser caracterizado por três pressupostos: há um                         2
sistema internacional cuja estrutura é anárquica; seus principais atores são os Estados,                       
dotados de racionalidade e diferenciados pelas suas capacidades materiais; o principal                     
objetivo destes é a sobrevivência. Com isso, pode­se contextualizar as relações entre                       
Estados como uma relação competitiva e de incerteza sobre as possíveis ações do outro,                           
2 É de grande importância destacar, principalmente para os propósitos deste trabalho, que o realismo é                               
uma escola de pensamento, contendo diversas teorias inter­relacionadas. O poder explanatório deste está                         
justamente na permanência de elementos fundamentais que englobam esta escola (WOHLFORTH, 2011).                       
Por isso será possível conjugar diversas abordagens teóricas para explicar a importância da Indústria de                             
Defesa, variável difícil de ser comtemplada por outras escolas das Relações Internacionais. 
mas que todos procuram desenvolver­se internamente capacidades que aumentem sua                   
segurança. Decorrente deste contexto, há esforços do Estado no seu desenvolvimento                     
econômico e na criação de relações de poder que tendam a uma estabilidade favorável a                             
estes.  
Dessa forma, o relacionamento teórico entre essa abordagem e a indústria de                       
defesa deve ser colocado em três momentos: primeiro, sob uma avaliação de poder;                         
segundo, sob o processo de atuação do Estado no sistema internacional; e terceiro, sob a                             
sua influência na dinâmica estrutural do sistema. Acredita­se que, uma vez colocada em                         
evidência as relações causais, as considerações teóricas retiradas das Relações                   
Internacionais sirvam como suporte para um diagnóstico amplo, para antecipar eventos                     
ou para prescrever e estimar políticas públicas na área da defesa (WALT, 2005). 
A ideia geral deste trabalho é de que a Indústria de Defesa representa uma ampla                             
parcela do Poder Potencial de um Estado e seu aumento amplia a possibilidade de                           
conversão para Poder Real. A indústria de defesa representa um complexo industrial                       3
que se relaciona com o Estado e a sociedade e por isso engloba diversos elementos                             
constituintes do poder nacional de um país. Desse modo, sua dinâmica ocorre de forma                           
relacionada com o desenvolvimento político e econômico do Estado como um todo. Se                         
ela representa uma das faces do poder nacional, ela pode ser contextualizada na própria                           
dinâmica internacional de poder, andando junto com as diferentes transformações                   
globais. Com isso, analisar a indústria de defesa e seus rumos é prospectar alguns                           
caminhos possíveis das relações internacionais contemporâneas e compreender as                 
possibilidades do Brasil atualmente ​. 4
 
3 Por isso uma definição mais abrangente da Indústria de Defesa poderia ser colocada como Complexo                               
Militar­Industrial­Acadêmico, retirada de estudos sobre os Estados Unidos (MEDEIROS, 2004). Haveria                     
também uma definição oficial de Base Industrial de Defesa (BID), de acordo com a Estratégia Nacional                               
de Defesa (BRASIL, 2008). Optou­se por Indústria de Defesa neste trabalho, para não recorrer às                             
definições extensas e siglas constantemente. 
4 Um adendo deve ser feito referente ao seu poder explanatório: como qualquer argumentoteórico de                               
Relações Internacionais, a afirmação desta frase fica limitada à área de estudo e sua relevância se                               
fundamenta nos marcos conceituais e em sua parcimônia (WALT, 2005). Ou seja, é possível ver em                               
detalhe e amplamente as Relações Internacionais pela análise da Indústria de Defesa, mas não será por ela                                 
que se explica todos os fenômenos do campo. 
a. O Poder Material e Potencial: gerando uma Capacidade Dissuasória 
A definição do poder para o realismo se situa fundamentalmente nas capacidades                       
materiais do Estado. Logo, ao tratar­se de um instrumento para o Estado exercer sua                           
soberania, o poder militar torna­se um valor padrão para uma avaliação internacional,                       
fundamentado no seu poderio econômico (CARR, 2001). É um ponto de partida, no                         
entanto, falta ainda maior operacionalidade para os objetivos deste trabalho. 
Para isso, procura­se diferenciar o poder nacional em Real (Efetivo) e Latente                       
(Potencial) de acordo com as definições de Mearsheimer. O primeiro é o poder militar                           
imediato de uma Nação, ou seja, sua capacidade de projeção de suas Forças Armadas no                             
presente. Não é um conceito puramente quantitativo, pois é moldado pela relação                       
qualitativa entre as três Forças e pela sua capacidade de projeção (MEARSHEIMER,                       
2007). Dessa forma, não basta contar soldados, aviões e navios para mensurar o Poder                           
Real, é necessário situar estes fatores ao “atrito da guerra” ​. Já o Poder Latente seria a                               5
habilidade do Estado transformar eficientemente sua riqueza e população em poder                     
militar.  
Essa definição original é ampla demais para o trabalho proposto: atrás da ideia                         
de “eficiência” estão a capacitação de recursos humanos e de transformação de um                         
complexo militar­industrial­acadêmico para a criação de Forças Armadas               
contemporâneas (MCNEILL, 1982). Para Mearsheimer, não era interessante o                 
aprofundamento nesse conceito, pois seu foco eram as capacidades de prontidão das                       
Grandes Potências. No entanto, o foco em Poder Potencial é fundamental para uma                         
concepção teórica sobre a indústria de defesa, a inovação tecnológica e a sua                         
potencialidade de dissuasão. Se a exploração de variáveis constituintes do poder                     
nacional em seus diferentes domínios (recursos naturais, desempenho nacional e                   
capacidades militares) é de grande número (TELLIS ​et al.​, 2000), a Indústria de Defesa                           
(por incorporar variáveis como tecnologia, recursos humanos, infraestrutura) se torna                   
uma das facetas deste poder. Dessa forma, tendo em mente uma grande eficiência na                           
5 Uma tentativa de síntese do Poder Militar é de difícil obtenção, visto que este pode ser ampliado para o                                       
conceito de fungibilidade, afetando de diversas formas a atuação do Estado (ART, 1996), ou pela forma                               
de emprego de forças (BIDDLE, 2004). Não será o objetivo deste trabalho o aprofundamento deste                             
conceito e sim somente contextualizá­lo na discussão. 
conversão destas variáveis em Poder Efetivo, fica clara a importância dos elementos                       
(empresas, laboratórios, formação acadêmica) que pertencem à indústria de defesa                   
(CORTEZ, FERREIRA & BRICK, 2014). 
O tamanho de um complexo industrial sempre tem o que dizer das                       
potencialidades de desenvolvimento, imediato e futuro: este relaciona­se fortemente                 
com o crescimento do PIB, indica as possíveis tendências estruturais na sociedade de                         
um país e abre espaço para possibilidades de investimento produtivo em larga escala.                         
Relacionado com este último ponto, está também um direcionamento de investimentos                     
públicos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), incluindo também a promoção de um                       
complexo institucional que envolva esforços para promover a inovação tecnológica                   
(FREEMAN, 1995). Não obstante, é importante frisar o desenvolvimento deste                   
complexo industrial como uma variável dependente do desenvolvimento econômico                 
nacional (BECKLEY, 2010). Ou seja, um país que promove uma estratégia de                       
desenvolvimento nacional fornece a sustentação para um esforço industrial na área                     
bélica. Inverter tal causalidade gera diversas dificuldades não só para a sobrevivência da                         
indústria de defesa, como também para alcançar objetivos de uma maior autarquia                       
tecnológica no setor (BRAUER, 1998; BITZINGER, 2003). 
Como reflexo do Poder Potencial, a indústria de defesa, suas capacidades                     
produtivas e inovadoras, sua relação com o Estado e com a sociedade, está evidente a                             
ideia de transformação: o Estado que tem capacidades bélicas produtivas e tecnológicas                       
para empregar suas Forças Armadas aumenta a sua potencialidade de exercer Poder                       
Real no meio internacional. O aumento do Poder Potencial, por implicar grandes                       
consequências ao aumentar o Real, insere­se como elemento­chave para objetivos                   
dissuasórios e securitários. 
Desse modo, a dissuasão é uma consequência das crescentes capacidades e                     6
superioridades produtivas e tecnológicas: o desenvolvimento de um complexo                 
militar­industrial­acadêmico é uma rede produtiva capaz de gerar produtos para o                     
emprego militar de acordo com a estratégia nacional (MALDIFASSI & ABETTI,                     
6 No seu sentido mais amplo, significa persuadir o oponente a não iniciar uma ação específica devido à                                   
percepção dos benefícios não justificar os custos e riscos estimados (MEARSHEIMER, 1985, p. 14). 
1994). A dissuasão, principalmente a convencional (não­nuclear), não pode ser vista                     
como uma função das armas existentes ou uma relação de forças, pois acaba ficando                           
restrita à mensuração do Poder Real. Seu relacionamento com a estratégia é um ponto                           
fundamental para afirmar que capturar ou defender um território dependerá do uso e                         
aplicação das capacidades bélicas do Estado (MEARSHEIMER, 1985). Logo, promover                   
o desenvolvimento de uma indústria de defesa e de seu complexo inovador (seu Poder                           
Potencial) aumenta as possibilidades dissuasórias que um Estado pode empregar                   
estrategicamente no sistema internacional. Essa promoção envolve um complexo                 
relacionamento do Estado, interna e externamente, como se verá mais adiante. 
 
b. Atuação do Estado no Cenário Internacional 
Com o objetivo de sistematizar uma aplicação teórica da ação estatal no                       
ambiente internacional, coloca­se como pressuposto que tal ação deve ser compreendida                     
como um resultado de Política Externa. Dessa forma, a convergência de níveis                       
sistêmicos e unitários geram uma “grandeestratégia”: a atitude dos Estados frente ao                         
ambiente internacional e como eles mobilizam seus elementos de poder em torno de                         
seus objetivos políticos globais (KITCHEN, 2010). Para dividir de forma analítica e                       
clarificar tais relações, a política externa é moldada e formulada por questões estruturais                         
e dinâmicas, de ordem doméstica e internacional.  
A questão estrutural de ordem internacional são os constrangimentos sobre os                     
Estados, impelindo­os a limitarem seu raio de ações: é o que compele os Estados à                             
autopreservação e à maximização de seu poder (sua segurança) de todas as formas                         
racionalmente possíveis (WALTZ, 2002). Tirando as capacidades militares, a melhor                   
forma de representar tais constrangimentos são as instituições e as regras informais, que                         
seriam um “espelho” da distribuição internacional de poder (MEARSHEIMER, 1994).                   
É devido aos constrangimentos internacionais que haveria uma aparente estaticidade das                     
relações internacionais. No entanto, é enganosa tal suposição: além de outros fatores,                       
destacados na próxima seção, existe uma dinâmica relação entre os Estados, no sentido                         
em que estes procuram se relacionar para aumentar suas capacidades relativas.  
As alianças seriam um exemplo desta questão, pois são uma forma fundamental                       
dos Estados balancearem contra ameaças mútuas (WALT, 1990). Logo, questões de                     
cooperação envolvem arranjos formais ou informais de segurança para os Estados. Ou                       
seja, estes estão sempre buscando ganhos relativos quando formalizam acordos e                     
entendimentos ou quando criam instituições internacionais (GRIECO, 1988). É a partir                     
desta dinâmica que surgem mudanças conjunturais de interação, oriundas                 
paulatinamente do constrangimento estrutural (GILPIN, 1981). Esses apontamentos               
teóricos indicam que, tendo em mente o valor estratégico (de poder) que a transferência                           
de tecnologias militares possui, questões como cerceamento tecnológico e dificuldades                   
de acordos na área da defesa sejam evidentes nas relações internacionais por motivos                         
muito bem definidos (LONGO, 2007).  
Já as questões estruturais e dinâmicas de ordem doméstica perpassam a política                       
interna do Estado e se relacionam no seu planejamento estratégico (que deve ser                         
entendido pela discussão anterior nas formas de transformar o poder potencial em real e                           
aplica­lo), levando à definição de um interesse nacional (KITCHEN, 2010). Ou seja,                       
sua formação decorre do estabelecimento de pactos políticos e de arranjos                     7
institucionais que garantam o andamento de uma estratégia de desenvolvimento para o                       
país. ​Dessa forma, os constrangimentos institucionais internos e os pactos políticos são                       
variáveis intervenientes na relação causal entre a distribuição internacional de poder e a                         
condução da política externa (TALIAFERRO, LOBELL & RIPSMAN, 2009). Com                   
isso, a ação em tomar uma determinada conduta de política externa envolve levar em                           
conta os interesses de atores ou grupos internos para alcançar ações que relacionam                         
ameaças externas e internas (LOBELL, 2009).  
Tendo isso em mente, é possível afirmar que Estados mais preocupados com                       
segurança doméstica inovam relativamente menos do que os mais preocupados com                     
ameaças externas. As decisões políticas de segurança do governo (consequentemente,                   
sua alocação de recursos) decorrem do resultado da balança entre ameaças internas                       
(instabilidade política) e externas (não só adversidades militares, mas também                   
7 Para alguns autores é entendido como o consenso das elites (TALIAFERRO, LOBELL & RIPSMAN,                             
2009). No entanto, é mais interessante para este trabalho obter como definição um conjunto de classes                               
socioeconômicas que se juntam com o objetivo de colocar um projeto de desenvolvimento para o país                               
(BRESSER­PEREIRA, 1972). 
econômicas e sociais), afetando, dessa forma, a inovação tecnológica do país                     
(TAYLOR, 2005). Colocando tal relação com a indústria de defesa, a alocação e                         
distribuição de gastos militares para a defesa pode ser colocada ou para o mercado                           
externo ou para o fortalecimento da sua capacidade industrial: estas opções e a                         
intensidade dos recursos serão determinadas pelas ameaças externas (MALDIFASSI &                   
ABETTI, 1994; TAYLOR, 2012). Dessa forma, a alocação de recursos é entendida                       
como uma ação racional do Estado tendo em mente o seu ambiente de ameaças: o                             
orçamento de defesa é, teoricamente, resultado do cálculo deste ambiente interno e                       
externo (GLASER, 2010). 
São com essas divisões analíticas que um Estado formula sua Política Externa,                       
contextualizada na figura 1. As relações da indústria de defesa e seu complexo inovador                           
com tais aspectos teóricos mencionados são de grande importância. Primeiro, ela se                       
situa dentro de uma hierarquia de poder criada estruturalmente, logo, sua capacidade de                         
produção de armamentos e o seu nível tecnológico possuem padrões relacionados com a                         
estrutura de poder (KRAUSE, 1992). Segundo, acordos de cooperação sobre o assunto,                       
assim como a transferência de tecnologia, envolvem tanto a restrição oriunda do                       
constrangimento estrutural quanto das percepções securitárias de ganhos relativos entre                   
os Estados.  
 
 
 
 
Figura 1: Os Condicionantes da Formulação da Política Externa 
 
Fonte: elaboração própria 
Em terceiro lugar, a consonância com a estratégia de desenvolvimento                   
empregada pelo governo, a orientação, consistência e estabilidade do Pacto Político e de                         
suas instituições e a própria percepção de ameaças por parte do Estado são fatores                           
fundamentais para que haja um desenvolvimento industrial na defesa e nos seus                       
objetivos produtivo­tecnológicos ​. Além disso, a opção da emulação ou inovação de                     8
práticas militares, econômicas e/ou tecnológicas decorre de uma “estratégia de                   
balanceamento”, na qual o Estado gerencia a sua capacidade de extrair seus recursos                         
econômicos e sociais (TALIAFERRO, 2009). Ou seja, os interesses internos                   
conjugam­se com os fatores externos, moldando­se a posição da indústria no cálculo de                         
ação da Política Externa de determinado país e as suas intenções de transformação. 
 
 
8 Há inclusive aplicações conceituais sobre interesses de classes e a economia política do rearmamento.                             
Ou seja, governos conservadores teriam dificuldades em colocar uma política de financiamento para a                           
indústria de defesa(rearmamento) pois sofreriam represálias de seus apoiadores (envolveria aumento de                         
impostos), enquanto governos laborais a veriam como uma possibilidade de aplicar impostos progressivos                         
e aumentar a presença do Estado (NARIZNY, 2003). Não obstante, a possibilidade de generalizar a                             
questão interna em um​trade­off entre bem­estar e segurança e a sua relação com gastos militares também                                 
foi aplicada (DIKICI, 2015). No entanto, são abordagens economicistas do Estado e de suas relações                             
internacionais. 
c. A Dinâmica do Sistema Internacional: a Relação com o Mercado de                     
Armamentos e a Influência da Inovação 
Uma crescente mudança nas interações e capacidades dos Estados pode ir além                       
do balanceamento de poder: o desenvolvimento do poder potencial e sua transformação                       
para o real leva a uma mudança na estrutura internacional. Uma precondição para a                           
mudança política de um Estado no sistema internacional é a disjunção entre o                         
desenvolvimento doméstico e a sua posição de poder internacional, levando os atores a                         
verem benefícios sobre os custos com uma mudança no sistema ​. As possíveis                       9
decorrências desta dinâmica são a guerra hegemônica ou as concessões por meio da                         
barganha pacífica, ambas criando consequentes mudanças no sistema (paulatina ou                   
radicalmente). Claramente, como elemento de grande importância para desencadear tais                   
mecanismos é a forma da indústria de defesa dos Estados. 
Incitar essa mudança vem de vários fatores, sendo alguns deles a situação                       
econômica, as capacidades militares e as suas respectivas inovações. Dessa forma, “o                       
ambiente material econômico (englobando fatores como o sistema de comunicações e                     
transporte, a tecnologia militar e a natureza produtiva de sua economia) e a balança                           
internacional de poder, criam incentivos ou desincentivos para um Estado promover                     
mudanças no sistema” (GILPIN, 1981, p. 55­84). A figura 2 procura clarificar tal                         
processo e indicar as variáveis que desencadeiam ou que são características de uma                         
mudança na distribuição de poder do sistema internacional. A transição do equilíbrio                       
internacional para o seu desequilíbrio envolve diferentes momentos de uma gradativa                     
mudança na interação dos atores a ponto destes Estados questionarem sua posição na                         
distribuição de poder. Já a transição de uma crise estrutural para um novo equilíbrio                           
envolve a busca por um novo consenso internacional, possível de ser resolvido pela                         
guerra ou pela concessão de poder através da barganha. 
9 Os três tipos de mudanças podem ser: de sistema, na qual muda a natureza dos atores; sistêmica, na qual                                       
se mudam as regras e/ou a hierarquia dos atores, alterando a governança do sistema por meio de guerras                                   
hegemônicas ou por resoluções pacíficas entre os atores; e de interação, na qual o processo (ou as suas                                   
regras) político­econômico entre Estados é alterado, tornando­se mais como um presságio para os dois                           
primeiros tipos de mudança (GILPIN, 1981, p. 40). Devemos nos atentar ao segundo tipo de mudança,                               
que parece caracterizar o contexto atual, devido ao fato de o Sistema estar apresentando momentos de                               
instabilidade no equilíbrio de poder (MARTINS, 2013, p. 180). 
Figura 2: Os Condicionantes de Mudanças no Sistema Internacional
Fonte: elaboração própria, tendo Gilpin (1981) como base 
Focando­se na indústria de defesa, percebe­se que há dois fatores que moldam                       
tal questão. O primeiro é o constrangimento causado pela hierarquia de produção de                         
armamentos e tecnologias, que conjugados com o ciclo de vida do produto militar (que                           
causam a difusão e inovação), criam uma dinâmica internacional na qual há uma divisão                           
hierárquica dos atores, determinada por critérios como produção militar, capacidades de                     
P&D, sofisticação tecnológica, demanda doméstica e dependência da exportação                 
(KRAUSE, 1992). O segundo fator se refere às relações sociais internas do Estado: a                           
inovação tecnológica, principalmente na área de defesa, envolve arranjos institucionais,                   
relações políticas dispostas a colocar uma estrutura produtiva para esse complexo                     
militar­industrial­acadêmico.  
Como se percebe na figura 2, estes dois fatores são de grande peso e influência                             
para a alteração do comportamento dos atores no sistema. Além disso, estes entram nos                           
cálculos dos atores em suas decisões de política externa frente às ameaças do                         
desequilíbrio internacional. Sob uma visão securitária, as instituições e políticas                   
públicas seriam os instrumentos para o Estado coordenar recursos para solucionar                     
ameaças externas e essa coordenação dependeria da sua intensidade (TAYLOR, 2012;                     
2005). Dessa forma, em períodos de alterações internacionais é necessário que o Estado                         
que queira subir na hierarquia industrial de armamentos tenha precondições estruturais                     
internas e assuma riscos condizentes com sua posição de poder. 
Sobre a inovação tecnológica, é necessário destacar que ela sustenta a                     
expansão econômica dos Estados ​. Na medida em que um país se mantém como                         10
inovador, ele passa a ser dominante em setores econômicos e militares. O segundo setor                           
possibilita a influência ou o domínio além de seu território e, caso tal expansão se                             
consolide em hegemonia, este se mantém como um “centro econômico­inovador”                   
(ARRIGHI, 2009, p. 25). Todavia, “os custos desta manutenção de superioridade                     
aumentam gradativamente, fazendo com que outros (aqueles que absorveram as                   
tecnologias a custos muito mais baixos que o país inovador e criaram suas bases                           
produtivas a partir disso) despontem para desafiar sua posição”: é um resultado do                         
processo de difusão (GILPIN, 1981, p. 162). Essa tendência de aquisição de                       
capacidades de autonomia tecnológica já foi discutida por diversos autores (KRAUSE,                     
1992; BITZINGER, 2003) e um modelo simplificado desta “escada de indigenização”                     11
é visto na Tabela 1. 
Tabela 1: A Escada de Produção da Autonomia Industrial 
Etapa  Função 
1.  Revisão e serviço das armas importadas 
2.  Montagem licenciada das armas estrangeiras 
3.  Fabricação de componentes pouco complexos (opção de montagem final) 
4.  Crescimento no design e produção local de componentes, com montagem                   
final no local  
5.  P&D e produção independentes 
Traduzido de​: ​(KATZ, 1984) 
 
10 Necessário destacar que, a despeito da importância dada à inovação tecnológica neste trabalho, deve­se                             
ter em mente que a tecnologiaaltera a as dimensões e as visões sobre os fenômenos nacionais e                                   
internacionais, mas as assunções tradicionais sobre o Estado, sua atuação econômica e de poder                           
persistem: com o advento de novas tecnologias, “aumenta­se a complexidade, mas não a essência da                             
política” (SKOLNIKOFF, 1993, p. 7). Rejeita­se assim o determinismo tecnológico sobre a estrutura                         
política. 
11 Há outros modelos com mais fases que diferenciam as formas de coprodução e codesenvolvimento,                             
indicando uma crescente autonomia em P&D (KRAUSE, 1992). Além disso, poderia­se argumentar que,                         
devido à complexidade atual dos produtos de defesa, haveria escadas paralelas para um único sistema: um                               
para as plataformas dos sistemas, outro para somente os armamentos, outro para os subsistemas                           
eletrônicos, etc (BRAUER, 1998). 
O que a tabela não indica é o grau de recursos que se destina a cada fase: a                                   
variação de custos é a principal barreira econômica para um Estado alcançar a autarquia.                           
Para ilustrar tal ideia, a figura 3 indica as diferentes fases: entre A (total dependência) e                               
B (manutenção e montagem local de componentes importados) há custos iniciais                     
grandes, devido à necessidade de construir fábricas e redes industriais para o setor. De                           
B para C, há uma maturação do complexo industrial criado, na qual surgem esforços                           
para o codesenvolvimento e produção licenciada de armas sofisticadas, enquanto se                     
produz autonomamente sistemas de armamentos intermediários. No entanto, é na                   
tentativa de alcançar D (autonomia de produção e de P&D) que surgem custos                         
referentes ao desenvolvimento pleno de um sistema complexo, envolvendo um esforço                     
estatal para a inovação (MAZZUCATO, 2014). 
Figura 3 – a Curva de Produção da Autonomia 
 
Fonte: Adaptado de (BITZINGER, 2003) 
Logo, há pontos definidores da inovação tecnológica para as Relações                   
Internacionais. Primeiro, ela engendra a renovação do capitalismo e permite com que                       
países caracterizados como líderes tecnológicos estejam no centro desta dinâmica.                   
Todavia, como a difusão tecnológica é inevitável países que tinham o monopólio de                         
tecnologias podem impor formas de controle somente para retardar seu espalhamento.                     
Segundo, a inovação cria investimentos e tecnologias que não são neutras, mas                       
distributivas em várias formas e setores. Desse modo, ela altera a distribuição de poder                           
tanto dentro de uma sociedade quanto entre os Estados. Terceiro, o controle e                         12
gerenciamento da inovação é essencial para construir uma base tecnológica,                   
característico de Estados no primeiro escalão. Por fim, possuir esse domínio das                       
capacidades de inovar é um fator­chave para desenvolver uma indústria de defesa                       
autônoma, pois gerencia um conhecimento voltado para objetivos nacionais. No                   
entanto, a escalada de custos pode se tornar uma barreira de difícil superação. 
 
3. Contextualização de Mudanças Internacionais da Indústria de Defesa e                 
Relação com Brasil 
Os elementos teóricos permitem uma análise tanto sistêmica quanto específica                   
da indústria de defesa de um país. Nesta seção, procura­se fazer uma contextualização                         
geral da atual dinâmica de gastos e produções bélicas mundiais e observar possíveis                         
mudanças no sistema oriundas de transformações nas indústrias de defesa dos principais                       
países. Surgem nessa intenção dois grandes obstáculos: dados quantitativos que                   
englobem completamente os conceitos teóricos supracitados e um grande número de                     
variáveis a serem tomadas em conta. Dessa forma, a tentativa em ilustrar, por meio da                             
tabela 2, as mudanças nos gastos militares e sua composição tecnológica ainda é                         
insuficiente, porém evidencia algumas tendências significativas para a teoria                 
empregada.  
Tabela 2: Mudanças nos Padrões de Produção Internacional de 
Armamentos 
Gastos Militares*  Produção, Exportação e Inovação (Geral) 
2
0
1
4 
2
0
0
5 
País 
2014 
($ 
b.) 
Mudanç
a 
2005­14 
(%) 
Número 
grandes 
empresas de 
armamentos 
Exportação 
Armamentos 
% global 
(2014) 
Exp. Alta 
tecnologi
a 2013 
($ bi.)​b 
Posição 
no Top 
50 
BIN​c 
Patentes 
Total 
2013 
(mil)​d 
1°  1°  EUA  610  ­0.4  43  31  147,8  6°  571,6 
2°  5°  China  ~216  167  Sem dados, provável 10  5  560  22°  825,1 
3°  9°  Rússia  ~84,
5  97  15  27  8,6  14°  44,9 
4°  8°  Arábia 
Saudita  80,8  112  ­­  <1  0,28  ­­  0,9 
5°  3°  França  62,3  ­3.2  10​a  5  112,9  9°  16,8 
12 Entende­se a criação (ou renovação) de conflitos políticos entre atores domésticos, no qual o Estado                               
procura gerenciar ou solucionar: conduzir a inovação tecnológica, a despeito de ser desejável, traz custos                             
econômicos a atores políticos com grande peso doméstico (TAYLOR, 2012). 
6°  2°  Reino 
Unido  60,5  ­5.5  9​
a  4  24,2  10°  22,9 
7°  10
° 
Índia  50  39  3  <1  16,6  ­­  43 
8  6°  Alemanh
a 
~46,
5  ­0.8  4​
a  5  193  3°  63,1 
9°  4°  Japão  45,8  ­3.7  4  <1  105  2°  328,4 
10
° 
11
° 
Coréia do 
Sul  36,7  34  4  <1  130,4  1°  204,5 
11
° 
14
° 
Brasil  31,7  41  1  <1  8,3  47°  30,8 
12
° 
7°  Itália  30,9  ­27  6​a  3  29,7  24°  9,2 
13
° 
13
° 
Austrália  25,4  27  2  <1  4,5  13°  29,7 
14
° 
22
° 
EAU  ~22,
8  135  ­­  <1  ­­  ­­  1,4 
15
° 
15
° 
Turquia  22,6  15  1  <1  2,1  35°  4,6 
  Total 
Top 15  1427   
 Total 
Global  1776 
*Todos os dados desta coluna e do SIPRI Top 100 (as empresas de armamentos) oriundos das bases de 
dados de (SIPRI, 2014). 
a ​mais as empresas transeuropeias (4) 
b​ Dados do Banco Mundial: http://data.worldbank.org/indicator 
c​ Bloomberg Innovation Index: http://www.bloomberg.com/graphics/2015­innovative­countries/ 
d​ World Intelletual Property Indicators: http://www.wipo.int/ipstats/en/wipi/ 
Primeiro, é necessário destacar a primazia estadunidense na produção de                   
armamentos em todas as variáveis utilizadas, indicando que o atual contexto                     
internacional ainda se situa em uma posição de hegemonia desde 1991. Não obstante, há                           
claramente uma tentativa de ascensão de países como China, Rússia, Índia e Brasil, com                           
grandes variações de gastos nas últimas décadas. Não é uma mudança homogênea, pois                         
cada país se distingue não só pelo seu aumento em gastos militares, como também por                             
terem números significativos de grandes empresas bélicas, posições relevantes em                   
rankings de inovação ou um número expressivo de patentes totais. Logo, explicita­se a                         
formação de bases de defesa incompletas. Além disso, por meio da tabela 3, é possível                             
contextualizar, mesmo que com um nível de abstração maior (pois se generaliza a                         
produção dos setores)os atuais estados da produção industrial de meios navais e aéreos. 
Tabela 3: Estado Atual da Produção Naval e Aeroespacial  
Estaleiros  Manufatura Aeroespacial* 
Posição  País 
Produção em 
toneladas em 
2014​a 
Posiçã
o  Empresa 
Produçã
o ($ bi.) 
em 
2014​b 
País 
1°  China  22.682  1°  Boeing  86.6   EUA 
2°  Coreia do Sul  22.455  2°  Airbus  78.7   UE 
3°  Japão  13.421  3°  Lockheed Martin   45.4    EUA 
4°  Filipinas  1.878  4°  United 
Technologies 
33.1   EUA 
5°  Taiwan  600  5°  Northrop 
Grumman  
24.7   EUA 
6°  Alemanha  519  6°  Raytheon  
 
23.7    EUA 
7°  Vietnã  375  7°  General Eletrics 
Aviation 
21.9   EUA 
8°  Romênia  326  8°  Finmeccanica  19.4   Itália 
9°  Itália  312  9°  Safran  17.5   França 
10°  EUA  293  10°  Rolls Royce  14.5   RU 
11°  Brasil  212  11°  Honeywell  12.0   EUA 
* Considerado um sistema complexo, essa 
lista engloba as empresas que produzem todo 
ou uma parte do sistema: motor, foguetes, 
drones, helicópteros. 
a​ Dados de Shipbuilders Association of Japan: 
http://www.sajn.or.jp/e/statistics/Shipbuilding
_Statistics_Mar2015e.pdf 
b​ Dados de Flight International Aerospace 
Top 100: 
http://www.pwc.co.uk/aerospace­defence/asse
ts/2014­aerospace­top­100.pdf 
 
12°  BAE Systems  10.6   RU 
13°  L­3 
Communications  
1.17  EUA 
14°  General Dynamics  10  EUA 
15°  Bombardier  9.4  Canadá 
16°  Textron  8.96  EUA 
17°  Mitsubishi  6.86  Japão 
18°  Precision Castparts  6.56  EUA 
19°  Embraer  6.24  Brasil 
20°  Dassault Aviation  6.1  França 
 
Tais indicações mostram que em uma região bastante específica do mundo                     
(China­Coreia do Sul­Japão) localiza­se um concentrado núcleo de produção naval e                     
que na produção aeroespacial há uma hegemonia estadunidense, com a participação                     
significativa de outros países neste mercado. Importante destacar que, a despeito desta                       
concentração e hegemonia, o Brasil consegue participar nesta competição. As tabelas                     
colocadas nos ajudam a compreender que se ocorre uma mudança de acordo com o                           
exposto pela teoria, ela é lenta e de longa duração. No entanto, com as alterações                             
políticas nas últimas décadas, são variações significativas de análise para a indústria de                         
defesa. Como indicado anteriormente, são a partir destes setores que se cria uma base                           
produtiva para o desenvolvimento de um complexo de defesa que produz capacidades                       
militares e promove o avanço de inovações. 
A visão por números ainda não é suficiente para contextualizar as recentes                       
transformações no mercado internacional de armamentos, fazendo com que as recentes                     
alterações no pós­Guerra Fria abram espaço para duas visões distintas sobre as                       
tendências nessa área: uma mais econômica e globalizada deste processo e outra que dá                           
prioridade para a adaptação securitária dos países (DEVORE, 2013). O primeiro grupo                       
advoga que a primazia estadunidense impossibilita qualquer autonomia por outros                   
Estados, forçando­os a uma interdependência industrial, enquanto o segundo grupo                   
coloca que o domínio estadunidense formaliza uma nova hierarquia na indústria de                       
defesa consonante, com a distribuição de poder do sistema internacional. Isso não                       
implica que não haja conteúdo político no primeiro grupo: estes consideram a                       
unipolaridade estadunidense como constrangedor estrutural determinante de qualquer               
política externa de outro país, tornando­os dependentes do mercado, tecnologias e                     
inovações dos EUA (NEUMAN, 2010). 
O fato da globalização ter efeitos sobre a indústria de defesa e as relações                           
internacionais é evidente. Anteriormente à dissolução da União Soviética no fim da                       
década de 1980, diversos países, como Brasil, África do Sul, Coreia do Sul, Taiwan, e                             
Suécia, adotavam estratégias de desenvolvimento e autonomização de suas indústrias de                     
defesa (BITZINGER, 2003). No entanto, retomando o conceito de “escada de                     
produção”, os custos e a importação de tecnologias e sistemas para alcançar a autarquia                           
se tornaram insustentáveis, principalmente no início dos anos 1990 ​, quando a demanda                       13
por armamentos cai drasticamente. Este crescimento excepcional no custo e sofisticação                     
de equipamentos, as grandes aquisições de empresas que ocorriam e a ascensão da                         
importância das cadeias globais de valor foram as principais tendências                   14
transformadoras da globalização no mercado de armamentos (DEVORE, 2013).                 
Concomitante a tais processos, é necessário frisar a dissonância entre as intenções de                         
autarquia neste setor e a situação industrial do país como um todo: não haviam uma                             
infraestrutura tão avançada nas indústrias dos países para garantir essa próxima fase,                       
algumas estavam inclusive em declínio (BRAUER, 1998). 
13 Conhecendo a história da economia brasileira, tal afirmação não é nova: a substituição de importações                               
diminuía a dependência de um setor de produtos por uma nova gama de produtos, criando assim novas                                 
contradições de trabalho e capital na sociedade (TAVARES, 1972). Logo, as transformações que ocorrem                           
no setor industrial da defesa estão fortemente relacionadas com o atual estágio de desenvolvimento da                             
economia do país. 
14 Deve ser entendido como um conjunto de atividades realizadas em diferentes países, com o objetivo de                                 
construir um sistema complexo com mais eficiência e menor custos. No caso da indústria de defesa, um                                 
exemplo seria um avião: compra de componentes básicos em diversos países, montagem inicial das partes                             
em países industrializados e montagem final no país com altas capacidades tecnológicas (BROOKS,                         
2005). 
No entanto, não só de constrangimentos externos, mas também por objetivos                     
nacionais e reações internas que se formula uma ação de um Estado, tanto que é                             
percebida a adaptação da política de indústria de defesa de diversos países, presentes ou                           
não na tabela 2, colocada anteriormente. As percepções de novas ameaças por parte de                           
Israel fizeram com que o país mantivesse sua autonomia produtiva e continuasse                       
investindo em capacitações próprias (TAYLOR, 2012). Países como África do Sul                     
consolidaram suas empresas de defesa e as internacionalizaram, como forma de manter                       
um grande financiamento de P&D em seus principais projetos (DEVORE, 2013). O que                         
se percebe em tais países também se aplica à Índia, Rússia e, principalmente, China,                           
que, dentro de sua estratégia de mecanização e informatização de suas Forças Armadas,                         
vem transformando suas linhas de produção para patamares tecnologicamente                 
avançados (ÖZKAN, 2008). A modernização militar das capacidades balísticas, navaise aeronáuticas chinesas teve um grande salto de produtividade e conteúdo tecnológico                       
próprio nas últimas décadas (MEDEIROS ​et al.​, 2005). 
Tendo em mente que o Sistema Internacional aparenta estar, nos termos de                       
Gilpin, em um estado de equilíbrio homeostático, cabe considerar as variáveis internas                       
da formulação da ação brasileira no cenário internacional. Percebe­se que internamente                     
há um crescente debate sobre as opções de desenvolvimento da Base Industrial de                         
Defesa (BID) brasileira (DAGNINO, 2010), proporcionando um novo entendimento da                   
concepção deste crescente complexo militar­industrial­acadêmico. Além disso, com a                 
formulação de documentos legais que explicitem uma estratégia sobre as formas de                       
desenvolvimento da defesa brasileira (BRASIL, 2003; 2005; 2008; 2012), já há as                       
intenções de amplamente utilizar a absorção de tecnologia e de questionar o fraco grau                           
de recursos dados ao Ministério da Defesa no referente a investimentos em P&D                         
(SAINT­PIERRE & ZAGUE, 2014). Também é uma nova etapa de embate entre atores                         
políticos que optam ou pela modernização das Forças Armadas através da aquisição                       
externa de equipamentos ou pela revitalização da indústria de defesa através de uma                         
nova relação civil­militar (DAGNINO, 2009). 
No entanto, há ainda diversos obstáculos a serem solucionados, como a taxa de                         
crescimento negativa no saldo de comércio exterior, resultante de sua                   
desestruturalização nos anos 1990 (FERREIRA & SARTI, 2011). Essa tendência é ao                       
mesmo tempo um forte inibidor de inserção de empresas no exterior, como também                         
uma motivação principal para reestruturar a indústria de defesa brasileira. Cabe                     
destacar também que a balança de preocupações brasileiras tende fortemente a questões                       
domésticas do que ameaças externas, “dificultando incentivos para inovações                 
tecnológicas” e assim retardando qualquer alteração estrutural profunda (TAYLOR,                 
2012, p. 148). Aumentar a cadeia produtiva nacional, requerindo uma consolidação de                       
um sistema nacional de inovação no setor de defesa, é um elemento fundamental para                           
desencadear um maior desenvolvimento nas capacidades do país. Não obstante, a falta                       
de um amplo planejamento e gestão de aquisições e produções estratégicas coloca­se                       
como um sério obstáculo para a relação indústria­universidade­governo e,                 
consequentemente, para a inovação tecnológica no setor de defesa (BRUSTOLIN,                   
2015). Como indicado na seção anterior, este é um fator de grande impacto na ação de                               
política externa de um Estado. 
Será uma adaptação que requirirá um modelo diferente do adotado no século                       
passado. Anteriormente, se perseguia uma industrialização da área liderada pelas                   
exportações como objetivo de alcançar a autarquia (BITZINGER, 2003). Agora, embora                     
se indique uma nova “substituição de importações” da indústria brasileira, sua                     
transformação vai além. A internacionalização de cadeiais de valor da EMBRAER, a                       
ênfase no caráter dual da produção de armamentos (não só no seu uso, mas também na                               
participação de empresas privadas civis) e os acordos estratégicos, exigindo medidas de                       
compensação (​offsets) como forma de promover a industrialização local, são novas                     
características no panorama brasileiro (GOUVEA, 2015). 
Dessa forma, a despeito de uma estrutura internacional que constrange maiores                     
desenvolvimentos na produção de defesa, é possível afirmar que o Brasil possui padrões                         
e instrumentos de transformação interna, no sentido de alavancar mais recursos e                       
esforços no desenvolvimento tecnológico da BID. A cooperação envolvendo                 
transferência de tecnlogia é sempre mencionada, no entanto, deve ser contextualizada                     
dentro de uma transferência envolvendo ​sistemas de sistemas ​, e estes de acordo com o                           15
15 Exemplos deste conceito são uma aeronave de última geração ou um navio com altas capacidades de                                 
detecção. Basicamente, é um produto envolvendo diversos outros equipamentos e capacidades de                       
diversificada intensidade tecnológica. 
ambiente de cada Força, pois assim possibilita o contínuo aperfeiçoamento e inovação                       
em cada setor das Forças Armadas (SILVA & PROENÇA JÚNIOR, 2014). A falta de                           
sincronização e relacionamento com a atual estrutura econômico­tecnológica brasileira                 
(universidades, laboratórios de P&D) em torno do programa FX­2 (PERON, 2011), que                       
culminou na compra dos aviões Grippen, refletem estas considerações estratégicas. Não                     
obstante, indicam, em meio a diversos percalços referentes ao planejamento e à política                         
econômica interna, um progressivo rumo de objetivos nacionais ​. As raras relações de                       16
cooperação envolverão sempre estas considerações de ganhos relativos, impedindo                 
sempre um alcance ideal de objetivos. 
Estas dinâmicas em torno de uma consolidação da BID conscientizam a política                       
externa de seu país de novas potencialidades. A despeito da opção por políticas                         
não­conflitativas, devido ao fato da longa consolidação da diplomacia sobre o fraco                       
poder militar brasileiro (ALSINA JR., 2009), o elemento de barganha e negociação                       
internacional no que refere ao fortalecimento da indústria e tecnologia de defesa toma                         
novas formas, mesmo que complementares às ações principais de estruturação da BID.                       
Com essas novas potencialidades, o ambiente de teste das influências da indústria de                         
defesa brasileira seria o seu contorno estratégico, a América do Sul, pois indicaria um                           
avanço em termos da capacidade de força em levar adiante o projeto de integração                           17
(BERTONHA, 2010). Com uma primazia brasileira em termos de capacidades materiais                     
na região, indicando uma distribuição bastante unipolar, as coesões sociais internas                     18
(ou sua falta) dos países sul­americanos podem levar a consistentes balanceamentos por                       
parte dos vizinhos (SCHENONI, 2015). Dessa forma, as novas dinâmicas criadas pelo                       
fortalecimento da BID brasileira abrem tanto novas problemáticas quanto novas                   
possibilidades para sua atuação regional. A despeito da Indústria de Defesa ser somente                         
16 Está uma grande preocupação no fato da ​eficiência na conversão do Poder Potencial em Efetivo, visto                                 
que, no caso brasileiro, a sua conversão é entendida como pouco eficiente (CORTEZ, FERREIRA &                             
BRICK, 2014). Outra grande preocupação é a manutenção de um nível constante no orçamento de defesa,                               
possibilitandouma maior previsibilidade e consistência na implementação dos programas de aquisição                       
(MATOS; GOUVEA, 2015) 
17 Não no sentido de fomentar guerras, mas sim em exercer a dissuasão com mais eficácia em momentos                                   
de crises regionais. A indicação de força em conjunto com a capacidade de mediação legitima a liderança                                 
brasileira no âmbito da integração regional. 
18 Em termos do realismo neoclássico apresentado, seriam as instituições políticas e o consenso das elites                               
(TALIAFERRO, LOBELL & RIPSMAN, 2009). 
um dos componentes do Poder Potencial, ela se destaca ao possibilitar um sustentáculo                         
aos desafios regionais e à conversão de Poder Real brasileiro. 
 
4. Considerações Finais 
Este trabalho estabeleceu conceitos teóricos específicos para a indústria de                   
defesa a partir de uma concepção realista. Utilizar como variável central a indústria de                           
defesa com a teorização já conhecida das teorias de relações internacionais é uma forma                           
de compreender sua importância para a área. Este foco permite análises e prospecções                         
que relacionem níveis domésticos e internacionais e com conceitos fundamentais do                     
realismo, como poder (potencial), política externa (planejamento estratégico e pactos                   
políticos) e dinâmicas internacionais de mudança (difusão, inovação e potencialidades                   
de alteração estrutural). 
Utilizando dados e discussões que englobam as variáveis teóricas empregadas,                   
pode­se afirmar que há ainda uma estabilidade no sistema internacional e que a                         
precondição fundamental para uma mudança, que seria a disjunção entre capacidades                     
internas de atores emergentes e o equilíbrio de poder, ainda não está sendo colocada por                             
nenhum país. Como o desenvolvimento de um complexo militar­industrial­acadêmico é                   
um fator de fundamental importância para influir neste tipo de movimento                     
internacional, este pode ser entendido dentro desta teoria como uma “variável de                       
controle”. Ou seja, compreendendo as transformações internacionais e internas nas                   
indústrias de defesa dos diversos países, capta­se uma das faces da atual dinâmica de                           
poder nas relações internacionais. 
A aparente manutenção de status quo internacional constrange, porém não                   
impede a transformação estrutural interna de esforços sobre o desenvolvimento de uma                       
indústria de defesa brasileira cada vez mais robusta. Questões econômicas e                     
dificuldades orçamentárias tem a sua importância no tema, mas também são                     
fundamentais o planejamento e a formulação de políticas referentes aos assuntos da                       
defesa nacional. Suas intenções de aumentar as capacidades dissuasórias estão                   
evoluindo a ponto de serem fundamentais nas formulações de política externa e de                         
estratégia nacional. Os programas de aquisição de sistemas complexos, como o recente                       
caso do Gripen, são um exemplo desta nova dinâmica. Desse modo, é possível concluir                           
que, em termos teóricos apresentados, essa seria uma tendência que vem se fortalecendo                         
nos últimos anos. 
 
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