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Genética Bacteriana o genoma bacteriano consiste no conjunto total de gen~s transportados pelas bactérias quer em seu cromossomo ou em seus elementos genéticos extracromossômicos, uan- do presentes. O cromos somo bacteriano difere do cromos- somo humano em vários aspectos. O cromos somo de uma bactéria típica como aEscherichia caliconsiste em uma única molécula de DNA circular, de filamrnto duplo, ~ontendo aproximadamente 5 milhões de pares de bases (ou 5.000 quilobase pares [kb]) medindo aproximadamente 1,3 mm (isto é, cerca de 1.000 vezes o diâmetro da célula). Os me- nores cromos somos bacterianos (encontrados nos mico- plasmas) possuem cerca de um quarto desse tamanho. Em comparação, os seres humanos apresentam duas cópias de 23 cromossomos, que representam 2,9 X 109 pares de ba- ses com 990 mm de comprimento. Cada genoma contém muitos o érons, ue são constituídos or enes. Os eu- cariontes geralmente apresentam uas cópias distintas de cada cromos somo (eles são, por conseguinte, diplóides). As bactérias apresentam somente uma cópia de seus cro- mossomos elas são ha lóides). Considerando que as bac- térias ossuem apenas um único cromossomo, a a teraçao do ene (mutação) Irá exercer um efeito mais óbvio sobre a cél a. ém isso, a estrutura do cromossomo bacteriano é mantidã referentemente por oliaminas, como a es er- mina e a es ermidina, o ue or histonas. s actérias tam em contêm e ementos enéticos extracromossômicos como os plasmídios ou bacterió- faB:Js (vírus bacterianos). Esses elementos são independen- tes o cromossomo bacteriano e, em muitos casos, podem ser transmitidos de uma célula para outra. Os genes são seqüências de nucleotídios com determi- nada função biológica; como exemplos temos os genes das proteínas estruturais (cístrons, que são genes codificado- res), genes do RNA ribossomal e sítios de reconhecimento e ligação para outras moléculas (promotores e operadores). Os promotores e operadores são seqüências de nucleotí- dios que controlam a expressão de um determinado ~e ao influencIar as sequencIas a serem transcntas emA mensageiro (RNAm) (ver discussão mais adiante). Os opérons são grupos de um ou mais genes estrutu- rais ex ressos a artir de um determinado romotor ue izam em um elemento ara o término da transcri ão. Por conseguinte, todos os genes que codificam as enzimas de uma determinadil via podem ser coordenadamente re- gulados. Os opérons com muitos genes estruturais são policistrônicos. O opéron lac da E. cali inclui todos os genes necessários para o metabolismo da lactose, assim como os mecanismos de controle para desativar (na pre- . sença de glicose) ou ativar (na presença de galactose ou de indutor) esses genes somente quando necessários. O opéron lac inclui uma seqüência repressora, uma seqüên- cia promotora e genes estruturais para a enzima 13- galactosidase, uma permease, e uma acetilase (Fig. 5.1). O opéron lac será discutido posteriormente neste capítulo. Repressor Beta-galactosidase Permease Aeetilase A0tl~1 z I~ RNAm I I ~Repressor B o_, _l~--z--I~ Nenhum RNAm lae RNAm.~ ~ c ~~~~essor ~ Repressor C [!:]I l~ _ RNAm t ~ RNAm1 Repressor ~ T Indutor d ~9' alolactose Repressor t matlvoTransgalaetosldação Lactose W T 111 ...••1--_'\-- ATP CAP AMPe Adenilato Repressor ciclase D [~].J;":·J~====z====~ RNAm ~ RNAm I I I ~ R,p"=' ~ + ~tc7o.~:~ J 000 ~ ~ >-- ....•~~~ 00 O O ~Q)O ~ 000 e IndutorO Repressor o oW inativo CAP TAMPe ..•••••I--A-d-e~~-i1a-to-ATP Repressor eiclase[~]··...·.·.·!>j~====Z===~ RNAm ~- t Nenhum RNAm lae Repressor ~ ~ ativo _ z I~' ~ ~ ~ ~ 000 @G Eil 00 nos cromossomos filhos, cada um com seu par de forquilhas de crescimento para a síntese de novo DNA. A polimerase deslo- ca-se ao longo do filamento do DNA, incorporando o nucleo- tídio apropriado (complementar) em cada posição. Areplicação se completa quando as duas forquilhas de replicação fazem um ângulo de 180 graus a partir da origem. O 'processo de replicação do DNA exerce uma forte tensão de torcão sobre Q UNe cir- ~ular cromossomial; essa tensão é aliviada elas to oisomera- ~ por exemp o, girase).1 topoisomerase é essencial para as ,bactérias, constituindo o aJvo dos antibióticos quinolônicos:. z:::t:::::;::±: --- Regulação da Expressão Gênica As bactérias desenvolveram mecanismos para se adaptar rá- pida e eficientemente às mudanças de concentração de nutri- entes em seu ambiente. Quando necessário, as bactérias ati- vam um conjunto completo de enzimas e evitam sintetizar a Fig. 5.1A, O opéron da lactose é transcrito como RNAmensa- geiro (RNAm) policistrônico a partir de um promotor (P) e tra- duzido em três proteínas: ~-galactosidase (Z), permease (Y) e acetilase (A). O gene lac 1 codifica a proteína repressora. B, O opéron da lactose não é transcrito na ausência de um indutor alolactose, uma vez que o repressor compete com a RNA poli- merase no sítio operador (O). C, O repressor, complexado com o indutor, não reconhece o operador devido a uma alteração de conformação no repressor. O opéron lac é então transcrito em um nível baixo. D, Escherichia coli crescendo em meio de cultura pobre, na presença de lactose como fonte de carbono. Tanto o indutor quanto o complexo CAP-AMPc estão ligados ao pro- motor, que está totalmente "ativado", e verifica-se um alto nível de transcrição e tradução do RNAm lac. E, O crescimento de E. coli em meio de cultura pobre sem lactose resulta na ligação do complexo CAP-AMPc à região promotora e na ligação do repressor ativo à seqüência do operador, uma vez que não há qualquer indutor disponível. O resultado será a ausência de trans- crição do opéron lac. CAP = proteína ativadora do gene catabólito; AMPc = adenosina monofosfato cíclico;ATP = ade- nosina trifosfato. ~nzima ou enzimas de determinada via quando o substrato está ausente. ~ primeiro lugar, a organização dos genes de uma via bioquímica em um opéron, com mecanismos de controle g,enético apropriados, permite a produção coordenada das t;,nzimas necessárias em resposta a um estímulo nutricional. :gm segundo lugar, a transcrição do gene é regulada direta- mente pelas proteínas repressoras (que se ligam aos operado- resfem resposta a sinais nutricionais no interior da célula ...Em terceiro lugar. a velocidade de síntese de proteína pelo ribos- somo pode regular a transcricãg QQ§ rrg,carionJ:,es. A ausência Qe uma membrana nuclear nos procariontes para separar os Q.ois processos permite ao ribossomo se ligar ao RNAm à medida que ele está sendo transcrito a partir do DNA.* Regulação Transcricional O início da transcrição pode estar sob controle positivo ou negativo. Os genes sob controle negativo são expressos"a Múltiplas Forquilhas de Crescimento {!) _;Filamento seguidor ~5' 11' Filamento líder Fig. 5.2 Admitindo-se um tempo de 40 minutos para completar um ciclo de replicação e considerando-se um novo início a cada 20 mi- nutos, o início da síntese do DNA precede a divisão celular. Múlti- plas forquilhas de crescimento podem ser iniciadas na célula antes da completa formação do septo e divisão celular. As células filhas "nascem grávidas". um aumento na freqüência de iniciação da transcrição. O com- plexo CAP-AMPc pode aumentar a transcrição do opéron através da interação proteína-proteína com a RNA polime- rase ou através de uma interação proteína-DNA. O o éron tri tofano (o éron contém os enes estru- mrais necessários à iossíntese o triptofano e possui meça- nismos de controle duplos transcricionais (Fig. 5.3). Embora o triptofano seja essencial para a síntese de proteínas, um ex- cesso de triptofano na célula pode ser tóxico; conseqüente- mente, ~ua síntese deve ser regulada. No nível de DNA, a roteína re ressora é ativada or um aumento da concentra- ~o intracelular do triptofano,.Jlara impedir a transcrição:l:i9 nível de síntese de roteína, a rá ida traduão de um" e tí- qio teste' no início do RNAm, na presença de triptofano, promove a formação de uma alça de filamento duplo no RNA, Que finaliza o processo de transcricão. A mesma alça é forma- da se não houver nenhuma síntese de proteína, uma situação em que não há necessidade de síntese de triptofano. Esse mecanismo re Ia a síntese do tri tofano no nível de RNAm em um processo enominado atenuação, no gual a síntese do RNAm é prematuramente finalizada. Regulação Pós-transcricional ou Pós-tradução A velocidade e a eficiência da síntese de proteínas podem ser controladas por outros fatores. Estes podem incluir a estru- tura do RNAm ou as concentrações do RNA transportador (RNAt) e de aminoácidos na célula. Com o RNAm policis- trônico, o controle da tradução pode resultar em diferenças na quantidade de cada proteína expressa a partir de cada gene. Por exemplo, para o opéron lac, a l3-galactosidase, a galacto- sídio permease e a acetilase são produzidas à razão de 10:5 :2. O DNA transmite a informação genética; conseqüentemen- te, as células devem ser capazes de replicar o DNA com pre- cisão. Além disso, lesões adicionais ao DNA devem ser minimizadas através da elabora ão de eficientes sistemas de reparo do DNA. fuses sistemas de contenção de esão são tão importantes para a vida de uma célula que uma bactéria deve edicar uma rande uantidade de seu enoma ara especifi- c-ª!:e controlar as enzimas envo vi as nesse sistema. Mutações que Afetam o DNA Uma mutação se refere a qualql}er mudança na seqüência de bases do DNA. A alteração de uma única base pode resultar em uma transição, na qual uma purina é substituída por ou- tra urina ou na ual uma irimidina é substituída or outra eirimidina. Po e também ocorrer uma transversão, niLqual, por'exemplo, uma purina é substituída por uma pirimidina e yice-versa. Uma mutação silenciosa é uma alteração no ní- vel de DNA que não resulta em qualquer mudança de ami- noácido na proteína codificada. Esse tipo de mutação ocorre porque mais de um códon pode codificar um aminoácido. Uma mutàção de sentido equívoco resulta na inserção de um aminoácido diferente na proteína, mas essa pode ser ~a muta ão conservativa se o novo aminoácido a resenta ro- 12..riedadessemelhantes (por exemp o, va ina substituindo a Fosforribosil ontroniloto isomerose/indol 3-glicerol-fosfato sintetase Triptofono sintetase alfa Fosforribosil antronilato tronsferase Triptofano sintetase beta Repressor ~-- CQ--~ __D_~C_~ RNAm Nenhum RNAm trp ! Repressor 1 ~inativo r · 8. Repressor . ativo OCo-repressor(triptofano) 1-0:------ ATG Peptídia TGA.---.--.--b líder d-. L::EW W__ 2_~~~ __ E_~ BBaixa concentração de Trp A Alta concentração de Trp VJ...AAJJJJ Nenhum RNAm trp policistrônico RNAm trp policistrônico C Ausência de síntese de proteína Nenhum RNAm VJ...AAJJJJ trp policistrônico alanina). Fina mente uma muta ão sem sen .do modifica o ,çódon gue codifica um aminoácido em um có on je terminalização (por exemplo, TAG [timidina-adenina-guani- na]), &zendo com que o ribossolllQ se desprenda do RNAm e Ill\ralise prematuramente a síntese da proteína. Podem ocorrer alterações mais drásticas nas proteínas quando estão envolvidas várias bases. Por exemplo, uma pe- quena depleção ou inserção que não é em múltiplos de três pro- duz uma mutação por deslocamento do quadro de leitu- ra. Em conseqüência, ocorre uma alteração na estrutura de leitura, resultando geralmente em um peptídio sem sentido e Fig. 5.3 Regulação do opéron do triptofano (trp). A, O opéron trp codifica as cinco enzimas necessárias para a biossíntese do triptofano. Esse opéron trp se encontra sob duplo controle. B, A conformação da proteína repressora inativa é alterada após a sua ligação pelo triptofano co-repressor. O repressor ativo (R) resultante se liga ao operador (O), bloqueando qualquer transcrição do RNAm do trp pela RNA polimerase. C, O opéron trp também está sob o controle de um mecanismo de atenuação-antiterminação. Acima dos genes es- truturais estão o promotor (P), o operador e um líder (L), que pode ser transcrito em um pequeno peptídio contendo dois triptofanos (IV) próximo à extremidade distal. O RNAm líder possui quatro repeti- ções (1, 2,3 e 4) que podem formar pares diferentes de acordo com a disponibilidade do triptofano, resultando em terminação precoce da transcrição do opéron trp ou em sua transcrição completa. Na presença de alta concentração de triptofano, as regiões 3 e 4 do RNAm líder podem formar pares, originando um grampo de termi- nação, não ocorrendo nenhuma transcrição do opéron trp. Entre- tanto, na presença de pouco ou nenhum triptofano, os ribossomos permanecem na região 1 durante a tradução do peptídio líder, devi- do à seqüência dos códons do triptofano. Em seguida, as regiões 2 e 3 podem parear, formando o grampo de antiterminação e levando à transcrição dos genes trp. Finalmente, as regiões 1:2 e 3:4 do RNAm líder podem parear, acarretando também a paralisação da transcri- ção antes do primeiro gene estrutural trpE. A= adenina; G = gua- nina; T = timina. em truncamento prematuro da proteína. As mutações nu- las, que destroem completamente a função gênica, surgem uando ocorrem extensa inser ão deleção ou rearran'o pro- nunciado na estrutura do cromossomo. A inserção de longas seqüências e N muitos milhares de pares de bases) por. recombinação, transposição ou durante a engenharia genéti- ca pode produzir mutações nulas ao separar as partes de um gene, inativando-o. Muitas mutações ocorrem espontaneamente na natureza (por exemplo, por erros da polimerase); entretanto, as muta- ções podem também ser induzi das por agentes físicos ou químicos. Entre os agentes físicos utilizados para induzir mu- tações em bactérias temos o calor, que resulta na desamina- ção dos nucleotídios; a luz ultravioleta, que induz a formação de dímeros de pirimidina; e a radiação ionizante, como os raios X, que originam radicais hidroxila muito reativos que podem ser responsáveis pela abertura de um anel de uma base ou por quebras de filamentos simples ou duplos no DNA. Os agentes químicos mutagênicos podem ser agrupados em três classes. A primeira classe é constituída pelos análogos de bases nucleotídicas; eles são incorporados ao DNA durante a replicação e acarretam pareamento equívoco e freqüentes erros durante a replicação do DNA. A semelhança entre 05- bromouracil e a timidina permite a sua incorporação ao DNA. Entretanto, um rearranjo estrutural da molécula permite a ligação do 5-bromouracil à guanina em vez da adenina, alte- rando o par de bases T-A para G-c. A segunda classe é constituída por moléculas planas poli- cíclicas, como o brometo de etídio ou os derivados da acridina; constituem exemplos de substâncias que induzem mutação por deslocamento do quadro de leitura. Inserem-se (ou inter- calam-se) entre as bases à medida que elas se empilham na dupla hélice, causando a adição ou a deleção de uma única ba- se. Esses agentes de intercalação aumentam o espaçamento entre sucessivos pares de bases destruindo o esqueleto regu- lar de açúcar-fosfato e diminuindo o espaço entre as voltas da hélice. Essas alterações levam a erros freqüentes durante a replicação do DNA. A terceira classe é constituída por substâncias químicas capazes de reagir com o DNA; elas atuam diretamente so- bre o DNA, resultando na modificação da base normal em outra estrutura quimicamente diferente. As bases modifica- das podem fazer pareamentos anormais ou não fazer qualquer pareamento. O dano pode causar a remoção da base do arca- bouço do DNA. Essa classe inclui o ácido nitroso (HNO) e agentes alquilantes, como a nitroso guanidina e o sulfonato de etilmetano que são conhecidos por adicionarem grupos meti! ou etil aos anéis das bases do DNA. 5',llllllli3' •• 5"1'1 iiii3' 3" I , I , , , , I 5' A base lesada éreconhecida 3" I , I I , , , '5' A base lesada é reconheci- pelo glicosilase, que diva a li· Uma endonudease AP rec~ da pela endonuclease, que gação entre o açúcar do nhece o sítio AP e c1iva o c1ivao arcabouço fosfodiés- nucleotídio e o arcabouço fos- arcabouço fosfodiéster pró- ter em ambos os lodos fodiéster ximo ao local da base au· da lesão sente (l t .l 5'T0 : , : : : T~ • 5';-r-r-r--' -,--,3' 3'------5 Provavelmenteocorreumaou_3' ' . , " , 5' As exonucleases transportam Ira fenda no outro lado do sí- B o fragmento do DNA que foi tio AP cortado e que apresentava a base lesadol 5'T'"TõOH T 3' 3" , , , !, I '5' A A DNA palimerase I preen- che o lacuna da 3'OH livre A DNA ligose sela a fendo entre o fragmento recém-sin- tetizado e o Fjlomento origi- nal do DNA 5' T""T""T"!T,- r'"r 3' Fig. 5.4 A, Mecanismos de reparo por excisão generalizada. B,Me- canismo de reparo por excisão especializada. AP = apurínica (endo- nuclease). Inúmeras bactérias, especialmente muitas espécies bacteria- nas patogênicas, são promíscuas com o seu DNA. A troca de DNA entre células permite o intercâmbio de genes e carac- terísticas entre essas células, produzindo assim novas cepas bacterianas. Essa troca pode ser vantajosa para o receptor, especialmente se o DNA alterado codifica resistência a anti- bióticos. O DNA transferido pode ser integrado no cromos- soma do receptor ou mantido de modo estável como elemen- to extracromossômico (plasmídio) ou em um vírus bacteria- no (bacteriófago) e transferido para as bactérias filhas como unidade de replicação autônoma. Os plasmídios são pequenos elementos genéticos que se replicam independentemente do cromos soma bacteriano. Os plasmídios são, em sua maioria, moléculas de DNA de fila- mento duplo, circulares, que variam de 1.500 a 400.000 pa- res de bases. Entretanto, a Borrelia burgdorferi, o agente eti- ológico da doença de Lyrne, e a Borrelia hermsii, são singula- res entre todas as eubactérias, uma vez que possuem plasmí- dios lineares. De maneira semelhante ao DNA cromossômi- co bacteriano, têm a capacidade de replicação autônoma e, em conseqüência, são considerados réplicons. Alguns plas- mídios, como o plasmídio F de Escherichia coli,são epissomas, o que significa que eles podem se integrar ao cromossoma do hospedeiro. Os plasmídios transportam informação genética, que pode não ser essencial mas pode fornecer uma vantagem seletiva à bactéria. Por exemplo, os plasmídios podem conferir altos níveis de resistência antibiótica, podem codificar a produção de bacteriocinas ou toxinas e podem conter genes capazes de conferir uma vantagem peculiar no metabolismo de alguns Vetor pBR322 (4.363 pb) 1 início 14 20 26 37 ~ 51 55 62 73 75 82 94 103 112 126 Fig. 5.5 Plasmídios. O plasmídio pBR322 é um dos plasmídios uti- lizados para a donagem do DNA. Esse plasmídio codifica resistên- cia à ampicilina (Amp) e à tetraciclina (Tet) e uma origem de repli- cação (ori). O sítio de donagem múltipla no plasmídio pGEM for- nece diferentes pontos de divagem de enzimas de restrição para a inserção de DNA dentro do gene da l3-galactosidase (lacZ). Ele é flanqueado por promotores de bacteriófagos para permitir a expres- são direcional do RNA mensageiro da seqüência donada. substratos (Fig. 5.5). O número de cópias de plasmídio pro- duzido pela célula é determinado pelo plasmídio particular. O número de cópias é a relação entre as cópias do plasmídio e o número de cópias do cromossoma. Essa relação pode ser tão pequena quanto 1, no caso dos grandes plasmídios, ou de até 50, nos pequenos plasmídios. Os grandes plasmídios (20 a 120 kb), como o fator de fer- tilidade F encontrado em E. cali,ou o fator de transferência de resistência (80 kb), podem, com freqüência, mediar sua própria transferência de uma célula para outra por um processo deno- minado conjugação (ver adiante seção sobre conjugação). Es- ses plasmídios conjugativos codificam todos os fatores neces- sários para a sua transferência. Outros plasmídios podem ser transferidos para uma célula bacteriana por um mecanismo diferente da conjugação, como a transformação ou transdução. Esses termos serão discutidos posteriormente neste capítulo. Os bacteriófagos são vírus bacterianos. Esses elementos genéticos extracromossômicos podem sobreviver fora de uma célula hospedeira uma vez que o genoma de ácido nucléico (que pode ser DNA ou RNA) é protegido por uma capa de proteína (Fig. 5.6). Os bacteriófagos infectam as células bacterianas e ou se replicam em grandes números causando a lise celular (infec- ção lírica) ou, em alguns casos, integram-se ao genoma do hospedeiro sem causar a sua morte (estado lisogênico), como o bacteriófago À de E. cali (Fig. 5.7). Alguns bacteriófagos lisogênicos transportam genes de toxinas (por exemplo, o corinefago 13transporta o gene da toxina diftérica). O bacte- riófago À permanece lisogênico enquanto houver síntese de uma proteína repressora que impede a desintegração do fago e sua replicação independentemente do cromossoma do hos- pedeiro. Essa reação pode ser deflagrada se o DNA da célula hospedeira sofrer lesão por irradiação ou por qualquer outro mecanismo ou se a célula não puder mais produzir a proteína repressora, um sinal de que a célula hospedeira não está mais saudável e não constitui mais um local adequado para "carre- gamento livre". Os transposons são elementos genéticos móveis (Fig. 5.8) que podem passar de uma posição para outra no genoma ou entre diferentes moléculas de DNA. Os transposons mais sim- ples são denominados seqüências de inserção. Os transposons complexos transportam outros genes, como os genes que con- ferem resistência aos antibióticos. Algumas vezes os transpo- sons se inserem nos genes, inativando-os. Se a inserção e a inativação ocorrerem em um gene que codifica uma proteína essencial, a célula morrerá. Algumas bactérias patogênicas utilizam um mecanismo semelhante para coordenar a expressão de um sistema de fa- tores de virulência. Os genes para a atividade podem ser agru- pados em uma ilha de virulência ou de patogenicidade, que é circundada por elementos móveis semelhantes aos transpo- sons, o que permite aos genes se moverem dentro dos cro- mossomas e para outra bactéria. A unidade genética total pode ser desencadeada por um estímulo ambiental (por exemplo, pH, calor, contato com a superfície da célula hospedeira) como meio de coordenar a expressão de um processo complexo. Por exemplo, a ilha SPI-l de Salmanella codifica 25 genes que permitem à bactéria penetrar em células não-fagocíticas. A troca de material genético entre células bacterianas pode ocorrer por um de três mecanismos: (1) conjugação, que é o . acasalamento ou troca quase sexual de informação genética de uma bactéria (o doador) para outra bactéria (o receptor); (2) transformação, que resulta na aquisição de novos marca- dores genéticos por incorporação de DNA estranho ou exó- geno; ou (3) transdução, que é a transferência de informa- ção genética de uma bactéria para outra através de um bacte- riófago. A conjugação ocorre na maioria das eubactérias, se- não em todas. Em geral, a conjugação ocorre entre membros C~J (~) (~) (~) (~) Fig. 5.7 Infecção lisogênica de bactéria por bacteriófago tempera- do.A, O fago infecta uma bactéria sensível, e o DNA do fago é inje- tado. B,O DNA do fago torna-se integrado no cromossoma bacte- riano. C, A bactéria se multiplica, aparentemente não-afetada pela infecção. Ela foi lisogenizada. D, Ocasionalmente o DNA do fago sofre excisão do cromossoma bacteriano, adquire o controle da cé- lula e se replica. E, Uma célula individual (ou, por indução, todas as células) produz componentes do fago. F, Os componentes são pos- teriormente organizados em partículas de fagos. G, Finalmente, a célula sofre lise e libera partículas maduras de fagos. de uma mesma espécie, mas foitambém demonstrada a sua ocorrência entre procariontes e células vegetais, animais e fungos. A transformação é o processo pelo qual as bactérias cap- tam fragmentos de DNA desnudo e o incorporam em seus genomas. A transformação foi o primeiro mecanismo de trans- ferência genética descoberto em bactérias. Em 1928, Griffith observou que a virulência dos pneumococos estava relacionada com a presença de uma cápsula polissacarídica que circunda- va a célula e que extratos de células portadoras de cápsulas produziam colônias lisas que podiam transferir essa caracte- ____________ 1 FÉÓC'B'Á ____ ~ ~Beta-Iactamase~ t-- · Sítio res DNAde E. col; ~2.icab Segmento G DNA de passível E. col; de inversão ~ ~~~+ + ~enes para a cabeça e a uda Repetição invertida da esquerda Repetição invertida do direita Fig. 5.8 Transposons. A, As seqüências de inserção codificam ape- nas uma transposase (tnp) e possuem repetições invertidas (15 a 40 pares de bases) em cada extremidade. B,Os transposons compostos contêm uma região central que codifica a resistência aos antibióti- cos, ou toxinas, flanqueadas por duas seqüências de inserção (1S),que podem ser diretamente repetidas ou invertidas. C, Tn3, um mem- bro da família do transposon TnA. A região central codifica três genes - uma transposase (mpA), uma resolvase (mpR) e uma l3-lactamase - conferindo resistência à ampicilina. Um sítio de resolução (sítio Res) é utilizado durante o processo replicativo de transposição. Essa região central é flanqueada, em ambas as extremidades, por trechos repetidos diretos de 38 pares de bases. D, O transposon associado ao fago é exemplificado por um bacteriófago p. rística para bactérias não-capsuladas, geralmente aparecendo com bordas rugosas. Os estudos de Griffith levaram Avery, MacLeod e McCarty a identificar o DNA como o princípio transformador, cerca de 15 anos mais tarde. As bactérias gram-positivas e gram-negativas são capazes de capturar e manter o DNA exógeno de maneira estável (Fig. 5.9). Certas espécies são naturalmente capazes de capturar DNA exógeno (essas espécies são denominadas competen- tes), e incluem Haemophilus influ-enzae, Streptococcus pneumo- niae, espécies de Bacillus e espécies de Neisseria. A competên- cia se desenvolve no final da fase do crescimento logarítmico, algumas vezes antes de uma população entrar na fase estaci- onária. A maioria das bactérias não exibe uma capacidade na- tural de captação de DNA. São utilizados métodos químicos ou de eletroporação (uso de pulsos de alta voltagem) para in- duzir a entrada de plasmídios e outros DNA em E. coli e ou- tras bactérias. Conjugação A transferência genética em E. coli foi descrita pela primeira vez por Lederberg e Taturn em 1946, quando eles observa- cromossoma~ bactenano . ~~. ----- • Captação +de DNA ~) Integração por , recombinação .J[ID0U "" Degradação Transformação com plasmídio Plasmídio de DNA O O (~:~~:o • Captação +do plasmídio ~ Fig. 5.9 Transformação bacteriana. O DNA estranho pode ser cap- tado ou forçado a penetrar em bactérias e a se incorporar em seu genoma ou se manter como um plasmídio. Esse processo "transfor- ma" a bactéria em um novo microrganismo. ram troca semelhante a uma troca sexual entre duas cepas mutantes de E. coliK12. A conjugação é o processo pelo qual o DNA é transferido diretamente por contato entre duas cé- lulas, durante o acasalamento das bactérias. A conjugação re- sulta na transferência unidirecional do DNA de uma célula doadora (ou macho) para uma célula receptora (ou fêmea) através do pilus sexual. O tipo de união (sexo) da célula de- pende da presença (masculino) ou ausência (feminino) de um plasmídio conjugativo, como o plasmídio F de E. coli. O plasmídio F é definido como conjugativo porque ele transpor- ta todos os genes necessários para a sua própria transferên- cia, incluindo a capacidade de produzir os pili sexuais e inici- ar a síntese do DNA na origem de transferência (OriT) do plasmídio. Além de E. coli, a transferência ocorre em bacte- róides, estreptococos, streptomyces e clostrídios. Muitos dos grandes plasmídios de conjugação especificam colicinas ou resistência a antibióticos. O plasmídio F se auto transfere convertendo as células re- ceptaras em células masculinas F+ (Fig. 5.10). Se um fragmen- to do DNA cromossâmico for incorporado ao plasmídio, ele passa a ser designado plasmídio F primo (F'). Quando ele se transfere em uma célula receptora, transporta esse fragmen- to consigo e também a converte em células masculina F'. Se a seqüência do plasmídio F for integrada ao cromossoma bac- teriano, a célula é denominada célula Hfr. Hfr significa alta freqüência de combinação (high frequency of recombination). O DNA transferido por conjugação não é constituído por uma dupla hélice, mas por uma molécula de filamento sim- ples. A mobilização se inicia quando uma proteína codificada pelo plasmídio efetua uma clivagem sítio-específica de fila- As células entram em contato, e o processo de conjugação se inicia Fenda no filamento único em OriT e ligação de proteína na extremidade 5', iniciando a replicação em circulo o DNA de filamento único é transferido, e ocorre síntese do filamento complementar As células se separam no final da transferência mento único na OriT. A "marca" inicia a replicação do círcu- lo, e o filamento linear deslocado é direcionado para a célula receptora. O DNA de filamento único transferido adquire uma nova estrutura circular e seu filamento complementar é sintetizado. Uma importante propriedade do plasmídio F é a sua capa- cidade de integração ao cromossoma bacteriano, gerando uma célula Hfr. Essa integraçao do plasmídio F envolve a quebra e a religação de ambas as moléculas de DNA. Nas células Hfr, os genes envolvidos na mobilização e transferência ainda são expressos. Assim, a conjugação pode ainda ser iniciada por uma marca no sítio OriT no cromossoma para transferir uma par- te da seqüência do plasmídio seguida por DNA cromossômi- co e, às vezes, embora raramente, pelo restante do plasmídio F na outra extremidade do cromossoma. Seriam necessários 100 minutos a 37°C para transferir o genoma masculino com- pleto para o receptor feminino. Entretanto, a frágil conexão entre os pares de bactérias é geralmente quebrada e a trans- ferência interrompida antes de ser completada, o que explica por que apenas as seqüências cromossômicas adjacentes ao F integrado são habitualmente transferidas. Interrupções arti- ficiais de um cruzamento entre um par Hfr e F- foram de utilidade para a construção de um mapa coerente do DNA cromossômico de E. cali.Nesses mapas, a posição de cada gene é fomecida em minutos de acordo com o seu momento de entrada em uma célula receptora em relação a uma origem fixa (Fig.5.11). Os plasmídios conjugativos R (resistência a antibiótico) foram encontrados em bactérias gram-positivas como estrep- tococos, streptamyces e clostrídios. Em vez de utilizar pili, o par é mantido junto por uma molécula de adesina presente na superfície da célula doadora. PVrc mli J<yl pisB '\'~ .f~,~ O" ($O/>. pvrO pvrC porB Fig. 5.11 Mapa cromossômico dos genes de Escherichia coli.Os nú- meros representam o tempo (em minutos) necessário para transfe- rir segmentos de DNA da origem da primeira cepa Hfr. (Modifica- do de Bachmann BJ, Low KB, Taylor AL: BaeteriolRev 40:116-167, 1976.) Transdução A transferência genética por transdução é mediada por vírus bacterianos (bacteriófagos) (Fig. 5.12), os quais apanham frag- mentos de DNA e os empacotam dentro de partículas do bacteriófago. O DNA é liberado nas células infectadas e tor- na-se incorporado ao genoma bacteriano. A transdução pode ser classificada como especializada se os fagos em questão transferem determinados genes (geralmente aqueles adjacen- tes aos seus sítios de integraçãono genoma) ou generalizada Infecção por fogo, degradação do DNA do hospedeiro Replicoção do fogo Organização do DNA viral e bacteriano pelo fogo Fogo de transdução A célula sofre lise, o fogo infectaoutra célula e libera O DNA dacélula doadora Integração doI DNA do doador. se a seleção das seqüências for aleatória devido a reunião aci- dental do DNA do hospedeiro no capsídio do fago. As partículas de transdução generalizada devem conter principalmente DNA bacteriano e pouco ou nenhum DNA do fago. Por exemplo, o fago Pl de E. coli codifica uma nuclease que degrada o DNA cromossômico do hospedeiro E. coli. Uma pequena percentagem das partículas resultantes do fago acondiciona os fragmentos de DNA em seus capsídios. O DNA encapsulado, em lugar do DNA do fago, é injetado em uma nova célula hospedeira, onde pode se recombinar com o DNA homólogo do hospedeiro. As partículas transdutoras generalizadas são importantes no mapeamento genético dos cromossomas bacterianos. Quanto mais próximos dois genes estiverem no cromossoma bacteriano, maior a probabilidade de co-transdução. Transposons Conjugativos Os transposons podem transferir DNA no interior de uma célula de uma posição para outra no genoma ou do DNA cro- mossômico para um plasmídio ou vice-versa. Os transposons encontrados em bactérias podem ser divididos em três clas- ses: seqüência de inserção, transposons cófiíPÍexos e transpo- sons fago-associados. Os elementos de seqüência de inser- ção são os transposons mais simples; variam em comprimen- to de 150 a 1.500 pares de bases e possuem repetições inver- tidas de 15 a 40 pares de bases em suas extremidades (ver Fig. 5.8). As seqüências de inserção transportam apenas a infor- mação genética necessária para a sua própria transferência (isto é, o gene que codifica a transposase). As seqüências de inser- ção podem ser detectadas quando se inserem em um gene e interrompem ou inativam o gene ou liberam a expressão do gene adjacente. Recombinação A incorporação do DNA em um cromossoma ocorre por re combinação. Existem dois tipos de recombinação: homólog e não-homóloga. A recombinação homóloga (legítima ocorre entre seqüências de DNA estreitamente relacionada e geralmente substitui uma seqüência por outra. O processl requer um conjunto de enzimas produzidas (em E. colz) pelo genes rec. A recombinação não-homóloga (ilegítima) ocorr entre seqüências de DNA diferentes e, em geral, produz in serções, deleções ou ambas. Esse processo, em geral, reque enzimas especializadas de recombinação (algumas vezes sítio específicas), como as produzidas por muitos transposons bacteriófagos lisogênicos. Engenharia Genética A engenharia genética, também conhecida como tecnologi do DNA recombinante, utiliza as técnicas e ferramentas d{ senvolvidas pelos geneticistas bacterianos para purificar, am plificar, modificar e expressar seqüências gênicas específic A utilização da engenharia genética e da "clonagem" revoh: cionou a biologia e a medicina. As ferramentas básicas da er genharia genética são (1) vetores de clonagem, que podeI ser utilizados para liberar as seqüências de DNA nas bactér as receptivas e amplificar a seqüência desejada; (2) enzim~ de restrição, que são utilizadas para clivar o DNA reprod~ tível em seqüências definidas (Quadro 5.1); e (3) DNA ligasl a enzima que une o fragmento ao vetor de clonagem. Os vetores de clonagem devem permitir a inserção d DNA estranho, mas ainda devem ser capazes de se replic: normalmente na bactéria hospedeira. Muitos tipos de vet< res são utilizados. Os plasmídios vetores, como pue, pBR32: Microrganismo Enzima Sítio de Reconhecimento Acinetobaeter calcoaceticus AccI 5' GTI@ CB1AC CA CD (X) TG Bacillus amyloliquefaciens H BarnHI 5' GIGATC C C CTAGIG Escherichia coliRY13 EcoRI 5'GIAATTC C TTAAIG Haemophilus influenzae Rd HindIII 5'AIAGCT T T TCGAIA H. influenzae sorotipo c, 1160 HincII 5' G T (1) I (X) A C C A (X) Ct) T G Providencia stuartii 164 PstI 5' CiGCAIG GACGTC Serratia marcescens SmaI 5' C C C IGGG GGG CCC S~aphylococcusaureus 3A Sau3AI 5' IGA T C CTAGI Xanthomonas malvacearum XmaI 5' CICCGG G G GGCCIC
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