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Ciências Contábeis Interdisciplinar Unid I(1)

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Ciências Contábeis 
Interdisciplinar
U413. 09
 
 
Autores: Prof. Me. Alexandre Saramelli
 Prof. Ma. Divane Alves da Silva
Colaboradora: Profa. Elisabeth Alexandre Garcia
Ciências Contábeis 
Interdisciplinar
Professores conteudistas: Me. Alexandre Saramelli / Ma. Divane Alves da Silva
Professor Mestre Alexandre Saramelli
Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e 
mestre profissional em Controladoria pela mesma Universidade.
Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio a grande porte como contador em áreas de custos e 
orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP.
Atualmente é professor adjunto na Universidade Paulista e consultor empresarial.
Como entusiasta de tecnologia da informação e ambientes altamente informatizados, é um incentivador da 
pesquisa, difusão e uso eficiente e intensivo das modernas ferramentas de gestão, “transferência de conhecimento”, 
ensino a distância e audiovisual.
Professora Mestra Divane Alves da Silva
Nascida na cidade de São Paulo, é mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998), 
especialista em Controladoria e Contabilidade Gerencial pela Faculdade Santana São Paulo (1992), especialista em 
Didática do Ensino Superior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996), especialista em Ensino a Distância – 
EaD (2011), graduada em Ciências contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências contábeis Tibiriçá (1990) e em 
Filosofia – Bacharel e Licenciatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009).
Possui dois livros editados sobre a área contábil, além de participações em congressos, tanto na área contábil 
quanto na educacional, inclusive em EaD.
Funções empresariais na área técnica: controller, contadora, auditora e consultora; na área acadêmica: atualmente, 
é coordenadora do curso de Ciências contábeis nas modalidades presencial e a distância na Universidade Paulista – UNIP, 
professora de pós‑graduação – nível lato sensu em Instituições de Ensino Superior – IES: Universidade Presbiteriana 
Mackenzie, Universidade Paulista – UNIP, Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU e em diversos cursos e disciplinas 
correlatas à formação. Também atua ministrando curso in company.
Conteudista de materiais para ensino a distância, incluindo gravações de aulas.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S243c Saramelli, Alexandre
Ciências contábeis interdisciplinar / Alexandre Saramelli; Divane 
Alves da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2012.
 
108 p., il.
1. Ciências contábeis. 2. Ciências contábeis interdisciplinar. 3. 
Interdisciplinaridade. I. Título.
CDU 657.1
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Virgínia Bilatto
 Andréia Gomes
 Vitor Andrade
Sumário
Ciências contábeis Interdisciplinar
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9
Unidade I
1 O DESAFIO DA CONTABILIDADE NO PADRÃO INTERNACIONAL ................................................... 11
1.1 Esquentando os motores ................................................................................................................... 11
1.2 O contador frente aos grandes desafios da sociedade atual ............................................. 12
1.3 Outros fatores da sociedade atual que trazem desafios aos contadores ...................... 19
1.4 Princípios de contabilidade .............................................................................................................. 24
1.5 O conceito de fair value – valor justo .......................................................................................... 25
1.6 Processo de convergência ................................................................................................................. 30
2 O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE .............................................................................................. 34
2.1 Conceitos importantes para a aplicação do IFRS e as características 
qualitativas das demonstrações financeiras ..................................................................................... 34
2.2 Definição da vida econômica e da vida útil de determinado ativo ................................. 35
2.3 Características qualitativas das demonstrações contábeis ................................................. 36
2.4 Características qualitativas fundamentais ................................................................................. 37
3 OUTRAS CARACTERíSTICAS DESEJáVEIS ............................................................................................... 44
3.1 Neutralidade ........................................................................................................................................... 44
3.2 Confiabilidade ........................................................................................................................................ 45
3.3 Limitações existentes na divulgação de informações financeiras ................................... 46
4 A INTERDISCIPLINARIDADE DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE ........................................ 47
4.1 Como atender à necessidade de interdisciplinaridade? ....................................................... 47
Unidade II
5 UMA REVISÃO SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS – CONCEITO E 
LEGISLAÇÃO .......................................................................................................................................................... 52
6 COMO SURGIRAM AS EMPRESAS? .......................................................................................................... 62
6.1 Tipos de sociedades e enquadramento fiscal das empresas ............................................... 65
6.2 Tributos relacionados à atividade de compra e venda de materiais para o 
estoque para empresas industriais ....................................................................................................... 67
6.3 Tributos relacionados ao resultado apurado pelas empresas, inclusive com 
a atividade industrial .................................................................................................................................. 70
6.4 Tributos sobre a contratação de empregados .......................................................................... 73
7 UMA EMPRESA EM OPERAÇÃO .................................................................................................................74
8 UM ESTUDO SOBRE A ELABORAÇÃO E UTILIzAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES 
FINANCEIRAS ........................................................................................................................................................ 75
7
APRESENTAÇÃO
O ensino da contabilidade no Brasil, desde o técnico em contabilidade até o bacharel em Ciências 
contábeis, até poucos anos carregava uma preocupação essencialmente técnica. O profissional de 
contabilidade, via de regra, envolvia‑se em atividades como classificar contas, escriturar os livros da 
empresa, em sua maioria ainda de forma manuscrita ou mecanografada, gerenciar os fechamentos 
contábeis, preenchimento de documentos para o Fisco, entre outras. Todas essas atividades são da mais 
alta importância, porém, como diziam Johnson e Kaplan (1987) em seu famoso e polêmico livro The 
rise and fall of management accounting (O apogeu e declínio da contabilidade gerencial) os contadores 
eram vistos trabalhando em salas isoladas, sem interação com os demais profissionais da entidade. 
De fato, um contador, para prestar bons serviços, não precisaria necessariamente se envolver com os 
gestores de uma empresa ou mesmo saber em detalhes como seria o processo produtivo. Tanto faz se 
o contador trabalhasse em uma metalúrgica, em um supermercado, em um clube de futebol, em uma 
emissora de rádio e TV, o trabalho contábil seria exatamente o mesmo.
A tecnologia evoluiu de forma rápida e influenciou todas as áreas do saber. A contabilidade teve um 
enorme benefício com o desenvolvimento da tecnologia, e hoje o perfil do profissional passou de um técnico 
que realizava atividades mecânicas a um consultor, que precisa orientar os profissionais de outras áreas.
É necessário, como dizem Miranda e Miranda (2007), que o Ensino Superior também acompanhe essa 
evolução e prepare o profissional da contabilidade para atuar em um ambiente em que a contabilidade 
é um sistema de informações para a tomada de decisões. Atento a essa mudança de perfil, o Conselho 
Nacional de Educação (CNE), ainda em 2004, considerou que o “novo” profissional de contabilidade deve 
contar com conhecimentos não somente da área em que atua, mas também de áreas afins. Esses novos 
conhecimentos podem ser entendidos como uma atividade de “interdisciplinaridade”.
O Parecer CNE/CES 776/97, nas orientações gerais para as diretrizes curriculares dos cursos de 
graduação, no ponto número 4, diz que devemos observar o seguinte:
Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro 
graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício 
profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de 
formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa.
Ainda no Parecer CNE/CES 776/97, no artigo 4, inciso II, entre as competências e habilidades que 
devem ser embutidas na formação de bacharéis, está a de “demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar 
da atividade contábil”.
Essa orientação é atendida no planejamento do curso de Ciências contábeis da Universidade 
Paulista. Na grade curricular, há várias disciplinas que fazem intersecção com outras áreas do saber 
indispensáveis ao “novo” contador, como direito, língua e interpretação de textos, matemática etc. No 
entanto, como comentam Miranda e Miranda (2007) baseados na opinião de Bellinaso (1998) “o aluno 
do ensino superior tem a impressão de estar estudando assuntos distintos sem ligação entre si, ou seja, 
uma colcha de retalhos, uma justaposição de informações, de especializações”. E como diz Santomé 
8
(1998), “cada professor preocupa‑se apenas com sua disciplina, considerando‑a mais importante e 
forçando os alunos a se interessarem somente por ela”.
A interdisciplinaridade, tal como proposta pelo Conselho Nacional de Educação, é um conceito 
complexo que vem sendo discutido nos meios acadêmicos e está em processo de construção. O Termo 
foi descrito pela primeira vez em 1937 pelo sociólogo Louis Wirtz, que deu a ele um significado filosófico 
prático, de integração de teorias, métodos, instrumentos. Miranda e Miranda (2006), baseados em autores 
como Luck (2002), Eagan (et al. 2002) e Caviglia‑Harris, Hatley J. (2004), dizem que a interdisciplinaridade 
é a “integração e engajamento de educadores no conjunto, na interação das disciplinas do currículo 
escolar entre si e com a realidade”.
Ainda segundo Miranda e Miranda (2006), Fazenda (1998) menciona que a interdisciplinaridade 
possui duas finalidades que não devem ser confundidas, porém,
[...] precisam ser trabalhadas conjuntamente em relação ao método didático 
adotado, que são: a científica e a escolar. A principal diferença entre elas está 
em seu objetivo. A científica está ligada à produção de novos conhecimentos 
em resposta a algumas necessidades sociais, e a escolar, por outro lado, está 
ligada à difusão do conhecimento e à formação de atores sociais.
Como forma de apresentar meios para os alunos diminuírem a suposta sensação de “colcha de 
retalhos” do curso de Ciências contábeis, tal qual exposta por Bellinaso (1998) e da natural tendência de os 
professores preocuparem‑se apenas com suas disciplinas, como disse Santomé (1998), e ainda de promover a 
interdisciplinaridade de forma científica e escolar como disse Fazenda (1998), decidiu‑se incluir no currículo 
do curso de Ciências contábeis da Universidade Paulista a disciplina Contabilidade Interdisciplinar.
Esta disciplina, de acordo com o Plano Pedagógico do Curso (PPC), traz a seguinte descrição:
Esta disciplina visa levar o aluno a estabelecer um diálogo entre os conhecimentos 
adquiridos em sua área e aqueles advindos de outros campos do saber. Pretende 
possibilitar o estabelecimento de um diálogo interdisciplinar, verificando áreas 
de intersecção, de complementação e de transferência de conhecimento.
Como forma de obter os resultados almejados, os professores conteudistas optaram, para este 
livro‑texto, por realizar uma introdução com os principais requisitos necessários ao “novo” contador, 
por conta do uso no país das normas internacionais de contabilidade. Essa introdução é imprescindível 
porque traz uma reflexão sobre o que se espera do “novo” contador, acima de questões técnicas que as 
normas internacionais trazem. E, posteriormente, trabalha‑se o caso fictício das irmãs Josefa da Silva e 
Jussara da Silva, duas brasileiras que sonham em ter seu próprio negócio.
A introdução desse caso, além de seguir uma opção pedagógica, que é uma tendência no moderno 
ensino de contabilidade, a exemplo de Hastings (2011) e sua “novela contábil”, possibilita a intersecção 
de conhecimentos e trabalha de forma transversal as pequenas e médias empresas, tão importantes 
para a economia atual.
9
INTRODUÇÃO
Olá, aluno(a)
Imagino que você esteja franzindo a testa em reação a uma situação muito esquisita e se perguntando: 
o que é Contabilidade Interdisciplinar? E, mais do que isso, enfim, como estudar contabilidade 
“interdisciplinar”? Além disso, o que de tão importante esta disciplina traz e o quais os benefícios para a 
sua atuação profissional? Vale a pena estudar Contabilidade Interdisciplinar? Para quê?
A ementa (Plano de Ensino) da disciplina Contabilidade Interdisciplinar traz o seguinte objetivo:
Percorrer o conceito de aprendizado multidisciplinar e chamar a atenção para 
as diferenças das práticas e das teorias em Ciências contábeis; objetiva um 
diálogo interdisciplinar, verificando áreas de intersecção, complementação e 
de transferência de conhecimento nas Ciências contábeis.
Esta disciplina, então, tem uma missão muito importante! A de promover uma reflexão sobre 
a intercomunicação entre as diversas disciplinas do curso de Ciências contábeis, e, para isso, serão 
propostas atividades práticas nas quais você possa vivenciar os conteúdos abordados.
Mas, para entender perfeitamente a proposta desta disciplina, é interessantevoltarmos um pouco 
no tempo e entender por quais modificações a profissão contábil passou nos últimos anos.
A realidade da profissão contábil, até meados da década de 1980, era a de ser uma profissão de cunho 
técnico, prática. O ensino, então, era voltado a essa realidade, e continua a ser, em muitos aspectos.
Embora alguns contadores sempre se envolvessem em atividades mais sofisticadas de uma 
entidade, a maioria gastava o seu dia em atividades essencialmente manuais, mecânicas, tinham 
de fato uma rotina de trabalho mais isolada. E como trabalhavam! Havia tanta carga de trabalho 
nas empresas que em muitos momentos não era possível sequer conversar com os contadores, 
completamente atarefados!
Apesar de tanto trabalho, muitos questionavam se a contabilidade teria mesmo um lugar 
na nova sociedade. Essas críticas vieram até mesmo de acadêmicos muito importantes, como 
Johnson e Kaplan (1987), que levavam a entender que os contadores estariam perdendo a 
sua relevância, uma vez que não apresentavam nada de novo em termos científicos. Não 
seriam mais profissionais que pudessem trazer benefícios para a sociedade. Essa discussão, 
que, diga‑se de passagem, foi muito boa para a contabilidade, mostrou que Johnson e Kaplan 
(1987) estavam errados. Ao contrário, provou‑se que a contabilidade é cada vez mais relevante 
para a sociedade.
As tecnologias evoluíram de maneira formidável nos últimos trinta anos, muito rapidamente e 
intensamente, e trouxeram mudanças fantásticas para todas as áreas do saber e da vida cotidiana, 
revolucionando a maneira como as pessoas vivem e trabalham.
10
Para os contadores não foi diferente. Nem todos reconhecem, mas é fato que sempre utilizaram a 
mais avançada tecnologia disponível no momento ao seu favor. Foram os primeiros a utilizar calculadoras 
eletrônicas, as míticas “HP12C”, os computadores, a tecnologia da informação. Mais do que isso, com as 
possibilidades que a tecnologia da informação oferece, os contadores distribuíram parte de sua grande 
carga de trabalho a outras áreas da empresa. Por exemplo, se antes um contador precisava classificar 
uma nota fiscal da compra de uma nova máquina e depois escriturar nos livros contábeis, atualmente 
a classificação é realizada pelos engenheiros, quando da emissão do pedido de compra. Assim que a 
máquina chegar ao prédio da fábrica, é realizado um registro automático nos livros contábeis, sem 
nenhum envolvimento direto do contador.
O envolvimento do contador com os profissionais da área de tecnologia da informação é tão grande 
que muitos chegam até a confundi‑lo com o analista de sistemas. Da mesma forma, muitos contadores 
não se envolvem mais no trabalho de escrituração, que é completamente automático. O contador passou 
muito rapidamente de uma atividade técnica, isolada, para ser um consultor.
Com isso, pode‑se dizer que o contador simplesmente abandonou seu perfil técnico, mecanicista, e 
passou a ser um profissional que ajuda os profissionais de outras áreas em matéria contábil. Ou seja, o 
contador já não está mais isolado em sua sala, passou a ser um profissional atuante, que interage com 
pessoas de dentro e fora da organização. Mas essa não e uma tarefa nada fácil, exige um preparo cuidadoso.
Você está tendo esse preparo desde o momento em que iniciou seu curso; mas, por conta da atual 
dinâmica do sistema universitário, é bem capaz que esteja nesse momento com uma sensação de que 
as disciplinas são uma grande “colcha de retalhos” sem relação entre si.
A disciplina Contabilidade Interdisciplinar surge, então, como uma oportunidade fantástica para 
você aplicar todos os conhecimentos que adquiriu até agora. E de forma muito próxima ao que irá 
encontrar ou já encontra no mercado de trabalho.
Primeiramente, você será convidado(a) a entender, além das orientações mais imediatas, a forma como 
órgãos nacionais e internacionais, como o IASC (International Accounting Standard Committee – Comitê 
Internacional de Contabilidade), a IASB (International Accounting Standar Board – Comissão Internacional 
de Normas Contábeis) e o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), esperam que você atue. E, depois, 
irá conhecer o simpático caso das irmãs Josefa e Jussara, que querem abrir um negócio próprio.
Imagine que você é o(a) contador(a) dessas irmãs. E imagine também como iria lidar com essa situação 
que envolve os diversos conhecimentos que tivemos ao longo do curso. Se tiver dificuldades com esses 
conhecimentos, sempre que achar necessário, retorne aos livros das disciplinas anteriores. A proposta é que 
você atue de forma profissional, em uma privilegiada preparação, para agir em situações reais.
Bom e entusiasmado estudo!
Um forte abraço dos
Professores Mestres: Alexandre Saramelli e Divane Alves da Silva.
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CiênCias Contábeis interdisCiplinar
Unidade I
1 O DESAFIO DA CONTABILIDADE NO PADRÃO INTERNACIONAL
1.1 Esquentando os motores
Da mesma forma que um atleta se aquece antes de iniciar um dia de exercícios físicos, vamos 
nos “aquecer” para iniciar o estudo de Ciências contábeis Interdisciplinar. O nosso aquecimento 
será baseado em um dos filmes mais aclamados da história do cinema internacional: Titanic. A 
pergunta é:
Quanto custou o filme Titanic?
Figura 1 – Cartaz do filme Titanic
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Unidade I
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A imprensa especializada diz que um dos filmes mais caros para serem produzidos na história do 
cinema foi Titanic. Grande parte da “conta” é devido ao fato de o diretor de cinema James Cameron, 
conhecido como um perfeccionista, ter exigido que fosse construído um gigantesco tanque de água onde 
uma réplica do navio, praticamente do tamanho real, foi afundada de verdade! A ideia era produzir uma 
cena autêntica, sem recorrer a efeitos especiais, que, por mais perfeitos que fossem, sempre deixariam 
escapar um artificialismo nas imagens. Os números exatos da contabilidade não estão disponíveis, mas 
a especulação em torno dos custos de produção gerou enorme polêmica. Diz‑se que uma boa parte dos 
custos foram relacionados com a construção da réplica do navio, com a decoração e a mobília luxuosa 
que foram usadas nos cenários e com a construção do tanque.
No entanto, após as filmagens, o tanque onde Titanic foi filmado não foi desativado. Faz parte de 
um complexo dos Estúdios de Cinema Baja, no qual muitos outros filmes foram gravados desde então.
Esse exemplo do cinema nos faz pensar sobre vários aspectos da contabilidade, atiçando nossa 
curiosidade e dando um prenúncio dos grandes desafios enfrentados atualmente pelos contadores.
Por exemplo, como um contador deve responder a estas perguntas:
1) Se o tanque de água onde o “Titanic” foi filmado continua a ser usado para outras produções 
cinematográficas, não seria então um ativo? Ou seria uma despesa de produção do filme?
2) Um filme pode ser ativado nos balanços de um estúdio de cinema ou... é uma despesa?
3) Caso seja possível manter um filme no ativo de uma empresa, por quanto tempo ele poderá 
permanecer?
4) E as receitas, por quanto tempo poderão ser lançadas?
 Observação
No final deste livro‑texto, há um texto sobre como os norte‑americanos 
lidam com a contabilidade do audiovisual.
1.2 O contador frente aos grandes desafios da sociedade atual
O mundo precisa da contabilidade?
Essa inquietante pergunta traz um enorme desconforto, um amargor digno das maiores ameaças! Será 
que a contabilidade teria perdido o seu valor e sua razão de existir, caducando à margem das modernas 
e dinâmicas tecnologias? Será que a contabilidadejá não mais atenderia aos anseios da sociedade e 
deveria ser encaminhada a um museu para que as pessoas do presente e do futuro conheçam “como as 
coisas eram feitas”? Todo nosso esforço como contadores (e, é claro, também o seu como estudante da 
ciência contábil) já não faria mais sentido?
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CiênCias Contábeis interdisCiplinar
Ou... as modernas tecnologias e as mudanças sociais estariam dando para a contabilidade 
oportunidades valorosas? Estaríamos em um momento em que todas as condições seriam favoráveis 
para a contabilidade dar um salto qualitativo e ser reconhecida como um importante instrumento não 
apenas para administrar patrimônios e negócios, mas de democracia?
Felizmente, nos últimos trinta anos muitos contadores ao redor do planeta não esmoreceram frente 
às ameaças e trabalharam em prol de uma contabilidade de oportunidades. No entanto, esse não é um 
caminho fácil e que está consolidado. Tornar a contabilidade relevante é uma tarefa de todos nós.
Nesse sentido, abre‑se outra pergunta, que é o centro dos estudos da disciplina Ciências contábeis 
Interdisciplinar.
O que devemos fazer?
Para responder a essa pergunta, precisamos, antes, estudar o que ocorreu nos últimos trinta anos na 
contabilidade e o significado do processo de convergência da contabilidade às normas internacionais.
Segundo Chua (2001), a partir da década de 1970, os acadêmicos sentiram um grande desconforto em 
relação ao desenvolvimento da pesquisa contábil e, em 1977, a Associação Americana de Contabilidade 
concluiu que não haveria uma teoria contábil geralmente aceita, mas uma proliferação de paradigmas 
que possibilitam somente uma orientação limitada para os tomadores de decisão. Ainda segundo Chua 
(2001), em 1976, Wells escreveu o livro Revolution of Accounting Thought – Revolução no pensamento 
contábil –, em que afirmava que a contabilidade careceria de um paradigma definitivo ou de uma matriz 
disciplinar.
Em 1987, aumentando ainda mais um sentimento de insegurança que rondava a contabilidade, 
Johnson e Kaplan (1987) assustaram a comunidade acadêmica e a profissão contábil em geral quando 
afirmaram no livro The relevance lost (A perda da relevância) que a contabilidade havia perdido a 
relevância, sobretudo a contabilidade gerencial. Para essa afirmação, os autores apontaram como o 
motivo dessa “perda de relevância” o fato de que os gerentes continuavam a adotar técnicas que haviam 
sido desenvolvidas ainda no início do século passado.
Esses autores argumentavam que se passaram várias décadas sem a adoção de novos e mais 
avançados artefatos contábeis. As teorias, então, teriam sido exageradamente simplificadas. Mesmo 
os mais modernos desenvolvimentos da tecnologia da informação usavam as mesmas teorias que já 
haviam sido criadas no período pós‑Revolução Industrial. Então, como não se produzia nada de novo, a 
contabilidade teria caducado ou se tornado irrelevante.
Essas (fortes) críticas de Johnson e Kaplan (1987) receberam a atenção de vários pesquisadores 
desde então, que contestaram essa situação de irrelevância. Houve desenvolvimentos de novos artefatos 
contábeis, mas também a criação de uma certeza de que é necessário conferir para a contabilidade 
uma contínua relevância. Segundo Borinelli et al. (2005), houve respostas positivas da contabilidade 
gerencial. A seguir, um quadro com as principais críticas de Johnson e Kaplan (1987):
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Quadro 1 – Quadro‑resumo dos argumentos e das críticas do Relevance Lost
Argumento Justificativa Crítica
Crescimento das organizações 
e descentralização da gestão
•	Administração	profissional	
desconhece o processo produtivo.
•	Tomada	de	decisão	com	base	em	
indicadores financeiros de curto 
prazo.
•	Crescimento	de	custos	não	
identificáveis diretamente com os 
produtos.
•	Todos	os	custos	e	despesas	deveriam	
ser imputados aos produtos.
•	Como	imputar	todos	os	custos	e	
despesas aos produtos?
•	A	relevância	é	perdida	em	função	das	
relações sociais e do trabalho.
Influência das informações 
contábeis para usuários 
externos
•	Inexistência	de	informações	
periódicas.
•	Subserviência	da	contabilidade	
gerencial à contabilidade financeira.
•	Informações	financeiras	
inadequadas para informações 
gerenciais.
•	Os	argumentos	são	baseados	em	
evidências não empíricas.
•	Necessidade	de	J&K se posicionares 
sobre os propósitos da contabilidade 
gerencial e da contabilidade 
financeira são os mesmo.
Redução do foco de gestão 
de custos e ênfase na 
contabilidade de custos
•	Ênfase	na	contabilidade	e	não	na	
gestão de custos.
•	Alto	custo	de	geração	de	
informações por produtos.
•	Formação	universitária	pautada	em	
informes financeiros.
•	A	educação	contábil	de	custos	
não ficou estagnada, uma vez que 
houve diversas publicações que 
contemplavam informações para a 
gestão.
Automatização dos sistemas 
de informação
•	Automatização	dos	sistemas	já	
existentes.
•	Ausência	de	inovações.
•	Novos	sistemas	estão	limitados	ao	
custo x benefício.
Pouca participação dos 
acadêmicos
•	Desaparecimento	da	avaliação	
gerencial de custos de produtos pós 
1ª Guerra Mundial.
•	Educação	pautada	na	administração	
com base em indicadores 
financeiros.
•	Pesquisadores	acadêmicos	
influenciados por um modelo 
simplificado do comportamento das 
empresas.
Estudiosos acadêmicos enfatizam:
•	Relação	custo	x	benefício	das	
diferentes alternativas de decisão.
•	Limitações	da	contabilidade	
financeira.
•	A	importância	de	outros	dados	
para o planejamento e controle das 
operações.
Os profissionais não estavam 
divulgando novas técnicas
•	Questionamento	das	contribuições	
dos profissionais nos últimos 
sessenta anos.
•	Tem	havido	sim	relacionamento	entre	
profissionais e acadêmicos.
•	O	poder	dos	profissionais	
e acadêmicos vem do seu 
conhecimento técnico. não 
aprimorá‑lo seria contraproducente 
ao interesse da classe.
Fonte: Borinelli et al. (2005)
Johnson e Kaplan (1987) dão a entender que os contadores estariam trabalhando de forma isolada, 
automática, restritos a seu escritório e a suas próprias preocupações, sem envolvimento com a equipe 
de profissionais da empresa, conforme podemos visualizar na figura a seguir:
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Figura 2 – Isolamento funcional dos contadores dentro das organizações
Além de a contabilidade gerencial (ou seja, a contabilidade para usuários internos) ter sofrido 
esse diagnóstico negativo, também a contabilidade financeira (ou seja, a contabilidade para usuários 
externos) estava enfrentando problemas muito graves. Cada país mantinha seu próprio conjunto de 
normas contábeis, sendo que as normas norte‑americanas, devido ao gigantismo e à importância da 
economia dos Estados Unidos da América, passaram a ser utilizadas como um padrão internacional, 
principalmente pelas empresas com ações nas bolsas americanas.
Em alguns casos vergonhosos, empresas passaram a interpretar as normas contábeis da forma que melhor 
lhes conviesse. Não demorou para que surgissem escândalos, que foram agravados ainda mais pelas recentes 
crises internacionais, como a crise da ásia. O diagnóstico de vários especialistas era de que a contabilidade não 
estaria atendendo às necessidades de informação dos investidores e gerando dúvidas ao invésde incertezas.
É possível entender esse momento negativo da contabilidade pelas palavras de Sir David Tweedie, 
numa declaração ao jornal britânico The Guardian:
Figura 3 – Declaração de Sir David Tweedie
 Saiba mais
É extremamente recomendável pesquisar na internet e conhecer um 
pouco sobre a impressionante biografia do Prof. Sir David Tweedie.
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Mais do que isso, os próprios fundamentos da contabilidade passaram a ser questionados. As 
entidades contábeis internacionais passaram, então, a tentar estabelecer um conjunto de regras 
com validade internacional, mas esse processo não decolava por várias razões. Essa situação 
chegou a seu ápice com a crise de 2007‑2008, em que finalmente os governos nacionais, em 
particular o G201 (Grupo dos vinte), entenderam que adotar um conjunto comum de normas 
contábeis, com validade planetária, seria indispensável para evitar novas crises econômicas 
internacionais.
A seguir, uma carta encaminhada ao Presidente Barack Obama pelos presidentes da IASB e da 
FASB (International Accounting Standards Board – Comissão Internacional de Normas Contábeis e 
Financial Accounting Standards Board – Comissão de Normas Contábeis dos Estados Unidos da America, 
respectivamente).
Figura 4 – Miniatura de uma carta do IASB/IFRS ao Presidente dos Estados Unidos Barack Obama
1 O G20 é um grupo que reúne os ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do 
mundo (incluindo o Brasil) mais a União Europeia. Foi criado em 1999 como uma ação intergovernamental para enfrentar os 
problemas de sucessivas crises financeiras mundiais e após a crise financeira mundial de 2008 passou a assumir a centralidade 
como fórum de discussão sobre governança internacional antes ocupada pelo G7(atual G8). Para mais informações, consulte o 
site da entidade <http://www.g20.org/> – disponível em inglês e em espanhol) e a matéria jornalística do Bol <http://noticias.
bol.uol.com.br/internacional/2010/11/09/paises‑do‑g20‑concentram‑80‑do‑comercio‑mundial.jhtm>.
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A IASB/IFRS respondeu a recomendações da declaração do grupo do G‑20 publicada em abril de 2009 
e, desde então, a cada reunião desse grupo é emitida uma carta ao anfitrião (o líder político máximo do 
país) do país que sedia uma reunião do G‑20, atualizando os líderes com as ações que estão em curso 
para a convergência contábil internacional. As cartas são escritas em língua inglesa e sua leitura literal 
é muito recomendável para refletir e entender o enorme esforço que está sendo empreendido. Uma das 
cartas foi traduzida para o português:
24 de junho de 2010
Ao honorável Stephen Harper
Primeiro‑Ministro
Gabinete do Primeiro‑Ministro
80 Wellington Street
Ottawa – Canadá
K1A 0A2
Prezado Sr. Primeiro‑Ministro:
Em nome do Comitê Internacional de Normas Contábeis – International Accounting 
Standards Board (IASB) e do Comitê de Normas Contábil‑Financeiras – Financial Accounting 
Standards Board (FASB), que representam os órgãos normativos encarregados de desenvolver 
padrões contábeis de alta qualidade, escrevemos ao senhor na qualidade de anfitrião da 
próxima reunião da Cúpula de Líderes do G20. Solicitamos respeitosamente que a Secretaria 
da reunião faça circular esta carta para todos os outros participantes da reunião.
Entendemos a importância que os líderes do G20 atribuem à questão da normatização 
de contabilidade. No encontro de Pittsburgh, em setembro de 2009, os líderes do G20 
afirmaram:
Apelamos aos nossos organismos internacionais de contabilidade para redobrar seus 
esforços para alcançar um conjunto único, global e de alta qualidade para normas de 
contabilidade, que dentro do âmbito do seu padrão independente e de seus processos de 
decisão, completem o seu projeto de convergência até junho de 2011.
O Comitê Internacional de Normas Contábeis – International Accounting Standards 
Board (IASB) deverá aumentar ainda mais o envolvimento dos vários intervenientes.
Relatamos o progresso do nosso trabalho para os Ministros das Finanças do G20 antes de 
sua reunião na Coreia no início deste mês. Atribuímos essa carta para o seu conhecimento.
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Essa carta ressaltava nosso compromisso comum para a melhoria internacional das normas 
internacionais – Financial Reporting Standards (IFRS), e a convergência dos princípios geralmente 
aceitos norte‑americanos (USGAAP). Destaque‑se também a nossa compreensão da relevância do 
objetivo de junho de 2011 como meta para os que os membros do G20 adotem as IFRS, e 2011 ou 
2012 para os outros países, incluindo o Japão e os Estados Unidos que consideram a continuidade 
da melhoria e convergência como um aspecto importante para os seus mercados de capitais.
Observamos também que muitas partes interessadas (stackholders) manifestaram a 
sua preocupação sobre a capacidade de fornecer informações de alta qualidade para os 
relatórios que foram planejados para publicação no segundo trimestre deste ano. Por essa 
razão, no momento da nossa redação ao grupo de ministros de finanças do G20, as duas 
entidades estavam no processo de desenvolvimento da revisão de uma estratégia que dê 
condições de cumprir o prazo de junho de 2011 ou antes disso. Para tal, o mais urgente é 
melhorar as IFRSs e as normas contábeis geralmente aceitas norte‑americanas.
Nós também estamos identificando projetos que são adequados e podem ser analisados 
em um segundo momento, aqueles que acreditamos tenham assuntos que acreditamos ter 
uma prioridade menor ou que vão demandar análise e pesquisa.
Já completamos nossa atenção nas estratégias a serem modificadas e enviamos em 
anexo o programa de trabalho atualizado.
O pronunciamento dos líderes em Pittsburgh enfatizou a importância do engajamento 
das partes interessadas (stakeholders). Acreditamos que o programa modificado de trabalho, 
onde há fases para a publicação de pronunciamentos e interpretações, possibilitam a 
participação das partes interessadas (stakeholders) de forma ampla e eficaz nesse processo 
que é crítico para atingir uma boa qualidade nos nossos padrões. A natureza dos comentários 
recebidos em nossos documentos de discussão vai determinar a extensão das redeliberações 
necessárias e outros passos e esforços que vão ser necessários para atingir esse objetivo.
Nós gostaríamos do suporte do G20 para o desenvolvimento de um conjunto comum de 
padrões contábeis globais de alta qualidade. As duas instituições continuam compromissadas em 
alcançar o objetivo. Iremos continuar a providenciar atualizações periódicas relatando os progressos.
Atenciosamente,
David Tweedie
Presidente da IASB
Robert Herz
Presidente da FASB
Tradução: Prof. Me. Alexandre Saramelli
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CiênCias Contábeis interdisCiplinar
 Saiba mais
No site da IASB, é possível encontrar uma página exclusiva dedicada aos 
documentos emitidos ao G20, relatando as ações da IASB/IFAC (em inglês).
<http://www.ifrs.org/Financial + crisis/Update+G20+response.htm>
Durante as discussões das normas internacionais pela IASB e outros órgãos, a questão da relevância 
foi muito lembrada. Para conferir às demonstraçõesfinanceiras maior relevância, entendeu‑se que 
seria imprescindível conferir para a contabilidade características qualitativas e uma preferência por 
demonstrações contábeis que vão ao encontro dos interesses dos investidores, como é o caso da 
Demonstração do Fluxo de Caixa.
Segundo Chua (2001), a tendência atual da contabilidade alicerça‑se em um conjunto de pressupostos 
filosóficos sobre o conhecimento, o mundo empírico e a relação entre teoria e prática. Os contadores 
teriam a tendência de lidar apenas com o que seria “mais eficiente e efetivo” para estabelecer quais são 
as necessidades de um tomador de decisões. Um contador não se envolveria com julgamentos morais 
sobre as necessidades ou objetivos de um tomador de decisões, limitando‑se a orientar o que deve 
fazer para que esse tomador de decisões tenha mais sucesso, seja mais rentável. Chua (2001) (apud 
CHAMBERS, 1966, p. 40‑58) dá ao contador uma característica de neutralidade.
 Observação
Estudaremos as características qualitativas das demonstrações 
contábeis nas próximas unidades.
1.3 Outros fatores da sociedade atual que trazem desafios aos contadores
Neste tópico, analisa‑se o cenário mundial e os principais fatores que afetam o trabalho dos 
contadores e o ambiente da contabilidade internacional.
A globalização e a União Europeia
O fenômeno da globalização, visto simplificadamente como o comércio internacional entre nações, 
não é recente. Há séculos, ocorre comércio entre pessoas de diversas nacionalidades. Os diversos Estados 
Nacionais (países) influenciam e regulamentam esse processo, e nem sempre há permissão para a livre 
circulação de mercadorias, pessoas e capitais.
Não raramente, impede‑se a um cidadão de certa nacionalidade o direito de viver em um país que 
proporcione melhores condições de vida, embora, na maioria dos casos, seja permitido a esse mesmo cidadão 
acesso a mercadorias e serviços produzidos em outros países, além de liberdade para remeter capitais.
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Com a livre circulação de capitais, é possível formar negócios em diversos países, o que naturalmente 
abre o desejo de que esses negócios estejam sob as mesmas normas contábeis. Porém, por si só, a 
globalização não traz necessariamente uma necessidade de adoção de uma contabilidade internacional. 
O que vimos, poucos anos atrás, é que as nações mais desenvolvidas, principalmente a pujante economia 
norte‑americana, faziam de suas normas internacionais um padrão a ser seguido também em outros 
países, atuando na prática como com normas internacionais.
Apesar de já haver normas internacionais, as IAS (International Accounting Standards – 
Normas Contábeis Internacionais), emitidas pela Federação Internacional de Contadores, não 
havia motivação para a aplicação prática. A situação, de certa forma, estava confortável dessa 
maneira.
Essa situação começou a mudar por ocasião de uma iniciativa notável: a formação da Comunidade 
Europeia, fato relevante que vem inspirando a adoção de atitudes semelhantes por outros países.
Conforme comenta Thorstensen (1992), após conflitos sangrentos nos quais se tentou, por meio da 
força, impor uma unificação entre os países europeus, chegou‑se a um acordo no qual os países, por 
livre e espontânea vontade, criaram uma união comercial com livre circulação de mercadorias, pessoas 
e capitais.
O ponto básico de toda a experiência da Comunidade Europeia é a 
consciência de que ganhos econômicos só seriam possíveis através de uma 
integração política, o que implicaria a transferência de grande parte das 
soberanias nacionais para o âmbito da estrutura de poder da Comunidade 
(THORSTENSEN, 1992).
Essa experiência trouxe, naturalmente, a necessidade de tentativas de padronização da contabilidade, 
porque se fez necessário uma integração entre os negócios da comunidade.
Dessa forma, os países, em matéria de adoção de princípios e normas contábeis, ao invés de olharem 
apenas para seus problemas nacionais, passaram a olhar também para a comunidade e a agir em 
conjunto. Foram justamente as reuniões da União Europeia e as publicações de “diretivas” comuns 
que fizeram o sonho das normas realmente internacionais de contabilidade começarem a virar uma 
realidade.
O surgimento de grupos políticos, como o G7 (Grupo dos Sete) e atualmente o G20 (Grupo dos Vinte), 
também é acompanhado por iniciativas de padronização contábil por meio de órgãos internacionais, 
conforme estudaremos em capítulo específico.
O ordenamento jurídico nas nações
O Brasil adota como base jurídica o chamado direito romano. Não são todos os países que adotam 
essa mesma base jurídica. Alguns, como a Inglaterra, preferem outros ordenamentos jurídicos, como a 
Commom Law, outros preferem a Sharia, a lei islâmica.
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Walton (apud NIYAMA, 2005) resume com enorme lucidez, e até bom humor, as diferenças de 
ordenamento jurídico entre os países:
A compreensão de regras internacionais é muito difícil porque as regras têm 
diferentes significados: na Alemanha, tudo é proibido a menos que esteja 
explicitamente previsto na lei, enquanto na Inglaterra tudo é permitido a 
menos que esteja explicitamente proibido em lei. No Irã, tudo é proibido, 
mesmo que esteja permitido na lei, enquanto na Itália tudo é permitido, 
especialmente se é proibido.
Certamente, o fenômeno da globalização não irá alterar essas preferências, o que significa que 
um mesmo objeto poderá ter várias interpretações e decisões diferentes de acordo com o país. Como 
consequência, os aspectos contábeis também são afetados.
A evolução das telecomunicações, da tecnologia da informação e o uso de sistemas integrados 
na área contábil
Ainda no estudo da globalização, observou‑se a adoção de tecnologias de telecomunicação e de 
informação que diminuem as distâncias. Atualmente é possível que um brasileiro interaja em seu trabalho, 
ao mesmo tempo, com um indiano e um sul‑africano, distantes entre si milhares de quilômetros.
Isso não significa que perdem sua cultura e seus costumes, mas que podem trabalhar em conjunto 
como se estivessem em uma mesma sala. Dessa sala, esses cidadãos podem controlar negócios a 
distância, entrar em sistemas de informação e remeter capitais entre países, mesmo não tendo sequer 
um passaporte.
É cada vez maior o uso, nas empresas, de sistemas informatizados integrados, como os ERPs 
(Enterprise Resource Planning – Planejamento dos Recursos Empresariais). Podem‑se encontrar dezenas 
de empresas multinacionais que controlam suas atividades em tempo real, em diversos países ao redor 
do globo, por meio de redes de computadores ligadas a esses sistemas integrados.
Segundo Saramelli (2010), os sistemas geralmente embutem melhores práticas – best‑practices – 
que são utilizadas, mas nem sempre completamente compreendidas. Ainda segundo Saramelli (2010), é 
muito grande o apelo à padronização dos procedimentos para que esses sistemas possam atuar de forma 
mais eficiente, mas nem sempre isso é possível, porque os fatos contábeis podem guardar diferenças 
significativas entre os países.
Surge, então, uma difícil situação, na qual, ao mesmo tempo, se espera do contador que padronize as 
operações e aplique julgamento profissional, o que força o surgimento de procedimentos diferenciados.
O contador, ao mesmo tempo em que precisa preparar informações periódicas e de qualidade para 
os usuários externos (o simples atraso de um dia na publicação de balanços contábeis pode criar grandes 
aborrecimentos), precisa prepararinformações contábeis relevantes para os usuários internos, muito 
antes que as operações ocorram.
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Também na área financeira, há uma crescente e rápida informatização. As operações financeiras 
são realizadas em tempo real em todos os fusos horários, e muitas vezes de forma tão ágil que o 
mercado e os jornalistas, não raramente, descobrem e/ou analisam situações antes mesmo que o próprio 
contador e/ou gestor da empresa consigam fazer o mesmo. O resultado é, como comenta Garcia (2004), 
o surgimento repentino de crises que, se não forem rapidamente esclarecidas, podem afetar com 
gravidade a empresa. Isso requer dos contadores habilidades para lidar com a mídia e com os jornalistas.
O conhecimento como fator de produção
Definia‑se em economia que os fatores de produção seriam “terra, trabalho e capital”. O 
conhecimento, embora sempre existisse, não era, e por muitos continua não sendo, considerado como 
fator de produção. Toffler e Toffler (1996) defendem a ideia de que atualmente o conhecimento não só 
deve ser considerado um fator de produção, como é o mais importante de todos. Dizem Toffler e Toffler 
(1996) que uma máquina computadorizada, trabalhando com conhecimentos formados ao longo de um 
histórico de aprendizados, pode economizar matérias‑primas. Mais do que isso, o conhecimento pode 
ser aplicado em locais diferentes, ao mesmo tempo.
A crescente informatização e o surgimento das redes de comunicação fazem com que muitos 
negócios trabalhem exclusivamente de forma virtual, sem forma física. Os serviços são cada vez mais 
importantes para uma economia. Ao mesmo tempo, Toffler e Toffler (1996) tecem uma crítica aos 
economistas e contadores tradicionais que ainda usam técnicas do passado e que não reconhecem as 
novas possibilidades e formatos de negócios que surgem com a chamada “era do conhecimento”.
 Observação
Alvin e Heide Toffler são influentes pensadores sociais nos EUA, famosos 
pela publicação do livro A terceira onda.
É muito difícil para a maioria dos contadores, por exemplo, o reconhecimento de temas sofisticados, 
como o valor de um fundo de comércio (goodwill), ativos intangíveis e/ou de capital intelectual. 
Alguns temas sofisticados, como os ativos intangíveis, já são tratados nas normas internacionais de 
contabilidade.
A crise financeira de 2008-2010
Assim como a histórica crise financeira de Nova York na década de 1930 gerou profundas 
consequências para a história da humanidade e para a melhoria dos procedimentos contábeis, a crise 
financeira de 2008‑2010 será estudada nos próximos anos e trará diversas reflexões, inclusive no que 
se refere aos procedimentos contábeis. Os estudos seminais sugerem que a recente adoção das normas 
internacionais de contabilidade e, em especial, a adoção do fair value (valor justo) tiveram um efeito 
benéfico. A crise teria sido uma espécie de “batismo de fogo” das IFRS, embora seja muito cedo para uma 
conclusão mais fundamentada.
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 Observação
Quando o assunto é muito recente, obviamente não há estudos 
científicos que abordem o fenômeno. Os primeiros estudos exploratórios 
realizados sobre o fenômeno são, então, denominados de “estudos seminais”.
Nas recentes reuniões do grupo dos vinte ministros da fazenda e presidentes de banco central (G20), 
enfatizou‑se a necessidade e o reconhecimento desses países quanto ao desenvolvimento de normas 
contábeis internacionais.
Figura 5
Foto oficial dos chefes de Estado que participaram do encontro do G20 em Seul, na Coreia do Sul, 
em novembro de 2010.
A crise de 2008‑2010 sugeriu que a iniciativa privada não deve agir sozinha nos mercados 
internacionais. A atuação do Estado seria fundamental para o bom funcionamento dos mercados. Longe 
de um mercado financeiro que mais se parece com um cassino global, os mercados exigem, acima de 
tudo, honestidade, ética, responsabilidade, prudência e bons controles.
Nesse sentido, o mundo passou a olhar com mais atenção para a economia e os bancos de inspiração 
islâmica, assunto que será tratado no tópico a seguir.
 Saiba mais
Sugestão para aprofundamento: tese de mestrado do Prof. Eric Barreto 
de Oliveira.
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde‑07102009 
‑143816/pt‑br.php>.
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Novos mercados: BRICS e finanças islâmicas
Após o final da Segunda Grande Guerra, no século passado, durante o período da chamada Guerra 
Fria, o mundo estava dividido entre duas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética, e os 
aliados dessas potências. Cada qual representando um sistema econômico, capitalistas de um lado e 
socialistas do outro.
Com o fim da União Soviética, o mundo foi dividido entre os EUA, a maior e mais representativa 
economia; a Europa, com a União Europeia, com menos força econômica; e os demais países desenvolvidos 
e/ou em desenvolvimento.
Posteriormente, entre os países em desenvolvimento, observou‑se que cinco países reunidos na sigla 
BRIC (Brasil, Rússia, índia e China, e alguns também incluem a áfrica do Sul) relatam força econômica 
e política diferenciada, o que justifica uma classificação própria. O ambiente de negócios entre esses 
países apresenta muitas diferenças, enquanto Brasil, Rússia, índia e, principalmente, a China crescem a 
taxas invejáveis, países desenvolvidos enfrentam problemas econômicos severos.
Os países islâmicos, principalmente o Catar e os Emirados árabes Unidos, apresentam um notável 
crescimento, e possuem planejamento estratégico para serem países que oferecerão qualidade 
de vida invejável a seus habitantes nos próximos anos. Cidades como Dubai ou Abu Dhabi são 
atualmente tão cosmopolitas como São Paulo, Roma, Nova York ou Tóquio, e possuem centros 
financeiros importantes.
Em específico, nos países islâmicos, conforme reportam jornalistas como Belkaid (2008) e Philipp 
(2008), surgiu um tipo de banco que segue as orientações da religião islâmica, a lei Sharia, na qual não 
existe a cobrança de juros. A remuneração dos bancos se dá a partir da cobrança de mais‑valias. Esse 
sistema chama a atenção por sua novidade e por uma atitude prudente. A contabilidade islâmica será 
analisada em capítulo específico, pela sua relevância para o estudo de contabilidade internacional.
O surgimento do BRIC, o fortalecimento dos países e das finanças islâmicas trazem impactos aos 
contadores brasileiros, surgindo a necessidade de estudar esses fenômenos com mais atenção.
1.4 Princípios de contabilidade
Após estudar os desafios da profissão contábil na sociedade atual, iremos estudar e/ou relembrar 
alguns aspectos sobre os princípios fundamentais de contabilidade, que são imprescindíveis para 
entender as normas internacionais de contabilidade e como devemos agir.
 Lembrete
Certamente, aluno(a), você não irá encontrar dificuldades neste tópico, 
porque já deve ter estudado esses princípios. Por isso, ele tem um caráter 
recordatório.
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CiênCias Contábeis interdisCiplinar
Os Princípios Fundamentais de Contabilidade, (hoje somente princípios de contabilidade, conhecidos, 
antes na legislação brasileira na Resolução 750/93 do Conselho Federalde Contabilidade), num esforço para a 
harmonização contábil internacional, foram alterados pela Resolução CFC 1.282/10 NBC TI 1 (Atualiza e consolida 
dispositivos da Resolução CFC n.º 750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade.).
Conforme Iudícibus et al. (1990), princípios contábeis são premissas básicas sobre os fenômenos e 
eventos contemplados pela contabilidade. Muitos profissionais no mercado e/ou estudantes costumam 
chamar os princípios contábeis norte‑americanos de USGAAP (United States Generally Acepted 
accounting principles – princípios contábeis geralmente aceitos dos Estados Unidos da América do 
Norte) e, por analogia, os princípios brasileiros de BRGAAP (Brazilian Generally Acepted accounting 
principles – princípios contábeis geralmente aceitos do Brasil).
 Observação
O GAAP, ao final dessas siglas, abrevia a expressão Generally Accepted 
Accounting Principles ou princípios contábeis geralmente aceitos.
Segundo Iudícibus et al. (1990), para um princípio ser incorporado à doutrina contábil, é necessário 
que atenda a duas condições básicas:
1. o objetivo deve ser considerado praticável pelo consenso profissional;
2. deve ser considerado útil.
A ordem de classificação é importante porque, para muitos profissionais da contabilidade, é de 
fundamental importância que um princípio seja praticável antes de ser relevante. Não basta que um 
princípio seja aderente a uma realidade econômica, é necessário que tenha como ser colocado em prática 
com facilidade, em uma relação de custo‑benefício. Isso não quer dizer que um potencial princípio 
contábil que hoje é considerado impraticável não venha a ser considerado praticável no futuro, mas 
quer dizer que a tecnologia e a cultura podem favorecer sua aceitabilidade.
 Saiba mais
Consulte a Resolução CFC 1.282/10 NBC TI 1, no site do Conselho Federal 
de Contabilidade: <www.cfc.org.br>.
1.5 O conceito de fair value – valor justo
Uma das novidades que as normas internacionais trazem para o universo contábil brasileiro é o 
conceito de true and fair value – valor justo e verdadeiro, certamente um conceito muito polêmico, por 
isso mesmo, necessita ser estudado com muita profundidade.
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A FASB norte‑americana, por meio de seu pronunciamento SFAS 157, definiu valor justo como “o 
valor que seria recebido ao vender um ativo, ou pago ao transferir um passivo em uma operação normal, 
entre participantes do mercado na data de mensuração”.
Anteriormente, entendia‑se que um ativo deveria ser mantido em seu custo de aquisição, 
sendo que, na sua venda, se apurava um lucro ou prejuízo, de acordo com as condições de 
mercado. Esse conceito, no entanto, foi amplamente debatido e entendeu‑se que não era razoável 
manter um ativo a seu custo de aquisição, porque os ativos sofrem modificações de valor ao 
longo do tempo.
Segundo a pesquisa de Barreto (2009), Iudícibus e Martins (2007, p. 3) definiram valor 
justo como “O montante pelo qual um determinado item poderia ser transacionado entre 
participantes dispostos e conhecedores do assunto numa transação sem favorecimento”. Nessa 
definição, há mais clareza sobre o aspecto “justo” do conceito, porque, de fato, se um imóvel 
foi comprado a um valor X alguns meses atrás e, por algum motivo, passa a ter um valor Y, 
um valor maior (ou menor), não é certo mantê‑lo no valor histórico, surge a necessidade de 
reconhecer esse fato.
Da mesma forma, não se deve sobrevalorizar o valor desse imóvel, muito menos subvalorizar. O valor 
deve ser correto, verdadeiro.
Sá (2008) argumentou contra a aplicação desse conceito porque entendia que a questão não 
estaria em conservar valores históricos, mas em saber de forma objetiva como atualizá‑los. Para Sá 
(2008), a questão não estaria em volatilidade, mas em responsabilidade técnica e social. Seu receio 
era de que, se a informação contábil ficasse à mercê do subjetivismo, teria toda a condição de lesar 
seus usuários. Ele via dificuldades para a aplicação prática desse princípio, que é um desafio para 
todos os contadores.
Os contadores europeus entenderam que havia condições práticas para a aplicação do valor justo 
e adicionaram esse conceito na 4ª Diretiva europeia, em que se tratava da contabilidade praticada 
pelas empresas situadas nos países da União Europeia. A 4ª Diretiva foi o primeiro e mais importante 
documento de harmonização das normas contábeis na União Europeia.
Castro Neto et al. (1992) escreveram um artigo para o XIV Congresso Brasileiro de Contabilidade com 
uma aprofundada análise das origens do termo true and fair view, uma contribuição que, por ser muito 
esclarecedora para nosso estudo, é descrita a seguir:
 Saiba mais
O Congresso Brasileiro de Contabilidade é um dos mais importantes 
eventos da classe contábil brasileira. Pesquise sobre esse evento.
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Segundo Castro Neto et al. (1992), Parker (1990) expõe que o true and fair view surgiu na lei inglesa 
Company Acts, em 1947, e posteriormente na Company Acts de 1948. O 1º item (ou parágrafo) desse 
normativo pronunciava que: “todo balanço e demonstração de resultado de uma companhia deve 
espelhar uma visão justa e verdadeira dos negócios da empresa”.
Castro Neto et al. (1992) comentam que Walton (1991) sugeriu adotar os ensinamentos de Saussure 
de distinguir entre o “significado” e o “significante” para explicar o que vem a ser visão justa e verdadeira. 
No caso, o primeiro refere‑se aos termos true e fair view, sua “imagem acústica” (cadeia de sons) no 
plano da forma, enquanto o segundo implica as ideias, os conceitos veiculados por essas palavras no 
plano do conteúdo.
 Observação
Ferdinand de Saussure foi um linguista e filósofo suíço que viveu entre 
1857 e 1913.
O significado de true and fair view estaria originado na sua origem inglesa; porém, os significados 
em outras línguas europeias não seriam traduções literais.
A 4ª Diretiva europeia teria introduzido diversos significados, de acordo com os países aos 
quais ela se aplica. Veja, a seguir, quadro com as principais traduções, segundo Castro Neto et 
al. (1992):
•	 Inglaterra	e	Irlanda:	true and fair view;
•	 Holanda:	een getrouw beed;
•	 Dinamarca:	et palideligt;
•	 França,	Luxemburgo	e	Bélgica:	une image fidèle (een getrouw beeld, em flamenco);
•	 Alemanha:	ein den Tatsachlichen Verhaaltnissen entsprechendes Bilds;
•	 Grécia:	ten pragmatiki ikona;
•	 Espanha:	una imagem fiel;
•	 Portugal:	uma	imagem	fiel;
•	 Itália:	un quadro fedele.
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 Observação
Todos os documentos emitidos pela União Europeia são disponibilizados 
nas línguas de todos os países‑membros. Consequentemente, é possível 
surgirem divergências ocasionadas por causa da tradução.
Nos Estados Unidos, o significador usado é present fairly in conformity with generally accepted 
accounting principles.
Castro Neto et al. (1992) continuam a análise comentando que “o Reino Unido concebe que espelhar 
uma true and fair view deve ser o objetivo final das demonstrações contábeis, o que implica aceitar a 
ideia de que certos procedimentos contábeis sobrepõem‑se à letra da lei”. E citam um exemplo, discutido 
por Nobes (1993), que diz que “... a prática de alguns países do norte da Europa de lançar ativos contra 
reservas para tirar proveito fiscal não deveriaser permitida na contabilidade, pois tal não favoreceria 
uma visão justa e verdadeira das contas”.
Nessa mesma discussão, segundo Castro Neto et al. (1992) (apud HOPWOOD, 1990, p. 84) teria 
sugerido que a true and fair view:
[...] tornou‑se particularmente importante no Reino Unido como uma 
contraposição ao excessivo legalismo do texto da 4ª Diretiva. O significado 
do conceito relacionava‑se à interpretação que os advogados do Reino 
Unido davam à ele e estava associado às práticas correntes da contabilidade.
Castro Neto et al. (1992), baseados em Flint (1995, p. 15) ensaiam, então, uma conclusão de que 
não existiria uma unanimidade quanto ao significado e à interpretação da true and fair view. Seria um 
“conceito filosófico” e, portanto, não suscetível de definição por um conjunto de regras detalhadas. Essa 
opinião revelaria um dos pontos fracos do termo, aquele sobre o qual alguns estudiosos centram suas 
críticas.
Dessa forma, ainda segundo Castro Neto et al. (1992), o entendimento da noção de valor justo 
é polêmico, porque pode ser interpretado de diferentes formas, Tweedie (1983, p. 424) sugeriu três 
cenários alternativos para os legisladores da área contábil abordarem o conceito:
a) deixar os administradores decidirem, à luz das circunstâncias, quais 
informações são necessárias;
b) uma prescrição das regras de avaliação e mensuração, além das 
exigências de disclosure;
c) uma prescrição estatutária do conceito de verdade (Truth) e justiça 
(Fairness).
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Castro Neto et al. (1992) expõem que Flint defendia o uso da última alternativa, e reconhecia que 
“tal opção impõe uma maior obrigação dos administradores em escolher a informação adequada a 
evidenciar para satisfazer obrigações legais e estatutárias das empresas que representam”.
Finalizando a exposição da análise de Castro Neto et al. (1992), que contribui para este texto, os 
autores procuram uma definição de cunho mais prático, de Rutherford (1985, p. 483): true and fair view 
é “aquilo que é correntemente empregado pelo profissional, de modo consistente e coerente” e expõe 
dois entendimentos de órgãos regulamentadores:
Comitê de Padrões Contábeis da Inglaterra:
As contas não serão verdadeiras (true) nem justas (fair) a menos que as 
informações nelas contidas sejam suficientes em quantidade e qualidade 
para satisfazer as expectativas razoáveis dos leitores a quem elas se destinam.
International Accounting Standards Committee (IASC)
Uma true e uma fairview somente podem ser alcançadas se:
Fatos, e não ficção, são evidenciados nas demonstrações contábeis.
As bases de avaliação e determinação da receita são aceitáveis. Referidas 
bases são evidenciadas em notas explicativas.
O agrupamento e o arranjo dos itens nas demonstrações contábeis estão 
adaptados ao negócio.
Há poucas reflexões ou mesmo opiniões e reclamações de contadores não acadêmicos (ou práticos) 
brasileiros, o que parece indicar que ou o conceito ainda está sendo ignorado ou o conceito de valor 
justo está sendo entendido e soluções para sua aplicabilidade estão sendo desenvolvidas. No entanto, a 
aplicação do conceito de valor justo no trabalho do contador é necessária.
 Saiba mais
O artigo Mensuração a valor justo: um estudo sobre a opinião dos 
professores e profissionais contábeis, de pesquisadores da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade de Brasília, explora os 
impactos do complexo conceito de fair value.
Disponível em: <http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos112011/ 
474.pdf>. Acesso em: 14 out. 2012.
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1.6 Processo de convergência
O que é convergência?
Além de um conjunto de normas internacionais, o que é necessário para a aplicação correta 
das IFRS?
Neste tópico, iremos estudar o processo de convergência para entender como agir na “nova 
contabilidade”:
Três conceitos precisam ser estudados para melhor compreensão do que significa convergência 
contábil:
•	 convergência;
•	 harmonização;
•	 padronização.
O processo de globalização e as facilidades para o comércio internacional acabam por gerar um 
desejo de padronização, no qual as regras precisariam ser rigorosamente as mesmas em todos os países. 
Assim, harmonizar seria aplicar as mesmas regras, na íntegra. Logo nos lembramos de normas técnicas, 
como as que a ISO (International Standardization Organization – Organização Internacional para a 
Padronização) publica.
Por exemplo, se alguém quiser produzir cabos telefônicos, independentemente se uma fábrica está 
no Paquistão ou na Argentina, deve aplicar as mesmas regras de qualidade. Não deve haver influência 
do país e/ou da cultura do país.
No entanto, em matéria contábil, não é possível dar esse tratamento. Como vimos, até mesmo 
nas coisas mais simples, a língua e os usos e costumes precisam ser observados para que não ocorram 
situações problemáticas. Portanto, o uso da palavra harmonizar no sentido de padronizar, tornar as 
coisas rigorosamente iguais, não é razoável.
Então, fez‑se ou faz‑se necessário o uso de outra palavra, outro conceito que é muito mais difícil e 
complexo de ser colocado em prática: a convergência.
Sob o conceito de convergência, as regras e/ou procedimentos podem ser diferentes, respeitando a 
cultura, a língua, os usos e os costumes e/ou legislação local, desde que o resultado final leve ao mesmo 
entendimento, ao mesmo objetivo.
Essa é uma costura complexa de ser realizada. Como, por exemplo, fazer com que um contador árabe 
relate a sua contabilidade de forma que um contador asiático ou da América Central possa entender 
essa contabilidade, mesmo sabendo que as diferenças culturais influenciam nos negócios?
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Figura 6 – Processo de padronização
Figura 7 – Processo de harmonização
A respeito dessa problemática, Weffort (2005, p. 19) complementa:
A contabilidade é moldada pelo ambiente no qual opera. Da mesma 
forma que as nações têm diferentes histórias, valores e sistemas 
políticos, elas também têm diferentes padrões de desenvolvimento da 
contabilidade financeira.
(…) Esta diversidade é resultante da variação dos ambientes de negócios 
ao redor do mundo e do fato de a contabilidade ser ambientalmente 
sensível.
Harmonização, o ato de deixar harmônico, ou, comparando com a música, o fato de uma melodia soar 
de forma agradável e empolgante, independentemente da nacionalidade do músico, na contabilidade 
significa não a padronização, mas a convergência.
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Uma analogia para entender o que significa convergência: muito se fala que a palavra “saudade” só 
existe na língua portuguesa.
Figura 8 – Saudades, de Almeida Júnior, 1899
 Saiba mais
O óleo sobre tela Saudades, de Almeida Júnior, está disponível no Google 
Art Project: <http://www.googleartproject.com>.
A palavra, o sentimento, ou ainda o conceito de “saudades” inspirou dois importantes gêneros 
musicais: o fado em Portugal e o samba no Brasil. Apesar de ser o mesmo sentimento, é notória a 
herança cultural que cada um desses povos imprime.
Mas se “saudades” é um termo próprio da língua portuguesa,então, como um cidadão que nasceu 
nos Estados Unidos ou na Inglaterra, que fala inglês, expressaria esse sentimento? Pela não existência 
de uma palavra em seu idioma como “saudade”, o sentimento não existiria?
Segundo Jacobs (2001), existe uma palavra que expressa esse sentimento na língua inglesa, 
que é homesickness. Essa palavra, que na verdade é uma composição de duas palavras, significa 
na língua portuguesa “doente de lar”. Ou seja, o cidadão americano ou inglês fica “doente” 
quando sente “saudades”, o que é tão forte ou até mais significativo do que o que a palavra 
“saudade” expressa.
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E, complementando, um russo não sentiria saudades? Certamente sente, mas não há uma palavra 
no idioma russo que seja equivalente a “saudades”. Geralmente, recorre‑se ao equivalente, à palavra 
“nostalgia”. No entanto, os russos têm no seu idioma a palavra razbliuto, que demonstra um sentimento 
que permanece após um amor que não existe mais.
De qualquer forma, apesar de terem significados diferentes, tanto a palavra em português “saudade” 
como a palavra homesickness levam à demonstração do mesmo sentimento. Portanto, temos uma 
oportunidade de “convergência”, ou seja, independentemente da cultura, é possível relatar as mesmas 
coisas.
Após essa análise comparativa, voltemos para a área contábil: observa‑se, no Comitê de 
Pronunciamentos Contábeis – (2010), o cuidado de Alfried Ploger, como coordenador de relações 
institucionais do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, ao comentar uma preocupação para 
não criar resistências para que as normas internacionais sejam adotadas no Brasil:
Destinado a buscar soluções para as questões que se apresentarem, com 
ampla e indiscriminada consulta a quem possa ser afetado, o Comitê inova no 
trato de questões regulamentares porque reúne representantes de entidades 
da área privada, do mundo acadêmico e do setor governamental, sentados à 
mesma mesa e imbuídos de um único critério, que é a busca da modernidade.
Na verdade, estamos diante de uma dupla convergência: de um lado, a 
necessidade universal de integrar regras contábeis aos padrões internacionais; 
de outro, a participação, no debate interno, de representantes de todos 
os atores do mercado brasileiro – governo, iniciativa privada e órgãos 
acadêmicos – dialogando livre e democraticamente no CPC.
Nós sabemos, por nossa própria experiência de vida, que nada será fácil na 
trajetória do CPC. O mundo da contabilidade é complexo e sutil; as soluções 
buscadas devem responder às questões levantadas e aos ambientes nos 
quais proliferam, mas nem sempre isso é muito fácil de identificar Para 
citar um exemplo já muito discutido, será necessário muito cuidado para 
verificar se alguma norma ou procedimento adotado produzirá elevação dos 
custos tributários, de modo a minimizar as possíveis resistências à adoção de 
procedimentos modernizantes.
São cuidados que deveremos ter, para tocar a difícil tarefa, que será 
gratificante, de colocar o CPC em pleno funcionamento.
Uma vez, no entanto, vencida a dificuldade de convergir, o resultado é empolgante: uma 
demonstração contábil em língua portuguesa poderá ser usada no exterior sem necessidade de um 
trabalho de conversão. Da mesma forma, uma demonstração contábil feita em outra língua também 
poderá ser usada por nós, brasileiros, sem a necessidade de conversão, no máximo, com uma tradução 
linguística. É o que comentam Carvalho, Lemes e Costa (2006, p. 15):
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Balanços de empresas (…) em diversos países tinham que ser comparados 
quanto a margens, retornos, custos de oportunidade, estruturas patrimoniais 
e desempenhos, e havia (ainda há) enorme desperdício de tempo e dinheiro 
para entender as distintas normas contábeis nacionais e reconciliá‑las para 
um padrão único. Isso deixará de ser obstáculo e deixará de ser um custo 
a partir das IFRS – as normas das empresas de países que as adotarem já 
sairão, na origem, em IFRS e eventualmente o máximo que se exigirá será a 
tradução do idioma, e não mais das práticas contábeis.
Em suma, as IFRS nos trazem o desafio de ser verdadeiros tradutores, preparando demonstrações 
financeiras que não sejam entendíveis apenas em uma região ou apenas por um grupo muito 
específico de usuários. As demonstrações financeiras precisam ser entendidas por qualquer usuário, 
independentemente do país e/ou da cultura.
 Saiba mais
Veja o relatório Quem somos e o que fazemos, da IASB, disponível em:
<http://www.ifrs.org/NR/rdonlyres/B6338983‑6155‑4699‑B05C‑B593
82D89F67/0/WhoWeArePortuguese21072011.pdf>.
2 O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE
“O trabalho da contabilidade é manter o capitalismo honesto.”
(Hans Hoogervorst – IAAER Conference 2012 Amsterdã – Holanda)
2.1 Conceitos importantes para a aplicação do IFRS e as características 
qualitativas das demonstrações financeiras
 Lembrete
A IASB fomenta demonstrações financeiras de maior relevância para o 
usuário, com características qualitativas.
Uma vez que estudamos os desafios para o trabalho do contador na sociedade atual e o processo 
de convergência, em que se definiu que é importante o contador conferir às demonstrações contábeis 
elementos não apenas quantitativos, mas qualitativos, começaremos a estudar quais são esses 
elementos qualitativos.
A seguir, alguns conceitos que são importantes para a aplicação do IFRS, segundo Mourad e 
Paraskevopoulos (2010).
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2.2 Definição da vida econômica e da vida útil de determinado ativo
Embora vida econômica e vida útil de um bem sejam definições simples, de compreensão intuitiva, 
provocam muitas confusões no dia a dia. Dessa forma, faz‑se necessário estudar com muita atenção as 
seguintes definições:
Benefício econômico
Os benefícios econômicos são fatores importantes para a consecução de metas e objetivos de curto ou longo 
prazo. O conceito de benefício econômico é o resultado atingido por uma entidade após realizar uma atividade.
Vida útil e vida econômica
A vida útil de um bem é a quantidade de tempo que uma entidade deseja usar determinado ativo. 
Já a vida econômica, é a quantidade de tempo que um bem dura.
Caso real
A linguagem de computador COBOL, sigla de Common Business Oriented Language (Linguagem 
Orientada aos Negócios), foi criada na década de 1950, tornando‑se uma das mais utilizadas no mundo. 
Atualmente, a COBOL é considerada ultrapassada, pois outras linguagens muito mais ágeis e modernas 
foram desenvolvidas. No entanto, vários bancos e instituições financeiras no Brasil continuam a utilizar 
sistemas desenvolvidos em COBOL.
Sistemas em COBOL não teriam valor algum no mercado. Mas, se considerarmos sua importância 
dentro do ambiente da empresa, principalmente aspectos como diferenciação estratégica, são 
fundamentais, por isso teriam um valor muito alto.
Assim, pode‑se dizer que sistemas em COBOL já ultrapassaram há muito tempo a sua “vida econômica”, 
mas continuam a ter “vida útil” e a gerar benefícios econômicos para a entidade.
Exemplo de aplicação
A empresa eletrônica Eetris Ltda. mudou‑se para um excelente e barato terreno, mas com muita 
dificuldade de acesso. Como não encontrou um prestador de serviço para transportar os funcionários, 
por causa das péssimas condições de uma estrada vicinal,

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