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Histórico da Escola de Frankfurt Bárbara Freitag

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Histórico da Escola de Frankfurt* 
 
Bárbara Freitag 
 
Outrora fazia parte do senso comum que sociólogos empenhassem todo seu esforço em 
compreender o presente como história. Hoje, pelo menos entre os colegas da área, 
desprezam-se as análises do presente, de cunho histórico, juntamente com a herança da 
filosofia da história. (Habermas, Philosophisch-politische Profile) 
 
 
 
Introdução 
Como Siater (1976), um dos divulgadores da teoria 
crítica nos Estados Unidos e no Brasil, destacou muito 
bem, o nome “Escola de Frankfurt” refere-se 
simultaneamente a um grupo de intelectuais e a uma 
teoria social. Em verdade, esse termo surgiu 
posteriormente aos trabalhos mais significativos de 
Horkheimer, Adorno, Marcuse, Benjamin e Habermas, 
sugerindo uma unidade geográfica que já então, no 
período do pós-guerra, não existia mais, referindo-se 
inclusive a uma produção desenvolvida, em sua maior 
parte, fora de Frankfurt. 
Com o termo “Escola de Frankfurt” procura-se designar 
a institucionalização dos trabalhos de um grupo de 
intelectuais marxistas, não ortodoxos, que na década 
dos anos 20 permaneceram à margem de um 
marxismo-leninismo “clássico”, seja em sua versão 
teórico-ideológica, seja em sua linha militante e 
partidária. 
A criação do Instituto de Pesquisa Social (1922-
1932) 
A partir de uma semana de estudos marxistas em 1922 
na Turíngia, na qual participaram, além de seu 
idealizador e organizador, Félix Weil, os marxistas Karl 
Korsch, Georg Lukács, Friedrich Pollock, Karl August 
Wittfogel e outros, surgiu a idéia de institucionalizar um 
grupo de trabalho para a documentação e teorização 
dos movimentos operários na Europa. Procurou-se, 
desde o início, assegurar o vínculo do Instituto a ser 
criado com uma universidade. Para tal foi escolhida a 
Universidade de Frankfurt. 
O Instituto de Pesquisa Social foi oficialmente criado 
em 3 de fevereiro de 1923. O Instituto, com prédio 
próprio desde 1924, ficou vinculado à Universidade de 
Frankfurt, mas preservava sua autonomia acadêmica e 
financeira, dedicando-se exclusivamente à pesquisa e 
reflexão. Apesar dos tempos turbulentos que se 
seguiram, boa parte dos intelectuais filiados ao 
Instituto, bem como o próprio prédio, sobreviveram aos 
bombardeios e à perseguição nazista. Seus primeiros 
colaboradores foram típicos socialistas de cátedra, 
raros numa época em que a maior parte dos marxistas 
rejeitava o trabalho acadêmico, envolvendo-se em 
militâncias partidárias. 
O primeiro diretor do Instituto foi Carl Gruenberg, 
historiador e marxólogo de Viena, que de fato só 
permaneceu no cargo, de forma ativa, até 1927, e 
simbolicamente até 1930, momento em que foi 
substituído por Max Horkheimer, jovem filósofo 
formado em Frankfurt, que assumiu a cátedra de 
filosofia social. 
Sob a gestão de Gruenberg o Instituto editou uma 
revista (Arquivo) que, como indica o título, era voltada 
para a história do socialismo e do movimento operário 
e tinha uma orientação claramente documentária, 
procurando descrever, dentro da tradição marxista, as 
mudanças estruturais na organização do sistema 
capitalista, na relação capital-trabalho e nas lutas e 
movimentos operários. 
Com a nomeação de Max Horkheimer para a direção 
do Instituto em 1930 essa orientação mudou 
substancialmente. O Instituto passou a assumir as 
feições de um verdadeiro centro de pesquisa, 
preocupado com uma análise crítica dos problemas do 
capitalismo moderno que privilegiava claramente a 
superestrutura. 
Essa mudança também se expressa na criação de uma 
nova revista que substituiria o Arquivo (o arquivo da 
história do socialismo e do movimento operário), a 
Revista de Pesquisa Social, novo veículo da produção 
e divulgação dos pesquisadores e críticos filiados ao 
Instituto. Seu primeiro número foi lançado em 1932 e 
seu último em 1941, completando nove anos de 
editoração. Ao lado de sua função de diretor do 
Instituto, Horkheimer assumia também a função de 
editor da revista, assegurando sua publicação durante 
todo o período de existência do Instituto em Frankfurt e 
na emigração. 
Como professor universitário, Horkheimer satisfazia às 
exigências da carreira acadêmica e assegurava o 
vínculo com a Universidade de Frankfurt; como 
intelectual marxista, despreocupado com a burocracia 
e a legitimação acadêmica, investia toda sua energia 
na reflexão sobre a especificidade do capitalismo 
moderno nas condições históricas da Europa e em 
especial da Alemanha do Pós-guerra. Havia sido 
indicado para diretor do Instituto por seu amigo e 
companheiro de estudos Friedrich Pollock que, por sua 
vez, mantinha contato com Felix Weil, o financiador e 
fundador do Instituto. Felix Weil era filho de um 
produtor de trigo alemão, emigrado para a Argentina no 
final do século XIX, e que com suas exportações de 
grãos para a Europa financiava não somente os 
estudos do filho como ainda o próprio Instituto. Foi 
esse financiamento generoso que permitiu ao grupo de 
intelectuais sobreviver nos tempos turbulentos que se 
seguiram, dando ao Instituto uma autonomia e 
independência que poucos centros de estudos tinham 
na época. 
O grotesco dessa situação chegou a incentivar a 
imaginação de Bertholt Brecht para uma possível peça 
de teatro. Depois de um jantar com Eisler na casa de 
Horkheimer, faz as seguintes anotações em seu diário: 
“Um velho rico (especulador de trigo) morre, 
angustiado com a miséria do mundo. Ele doa, em seu 
testamento, uma quantia respeitável de sua fortuna 
para a fundação de um instituto que deve investigar as 
fontes dessa miséria, que se encontra, obviamente, em 
si mesmo”. Seria uma possível versão do Romance do 
Tui (cf. Diário de Brecht, citado em H. Gumnior e R. 
Ringguth; Max Horkheimer, Rororo, Reinbeck, 1973, p. 
29). 
Graças à envergadura intelectual de Max Horkheimer e 
à sua excelente formação filosófica (havia elaborado 
suas teses de doutorado e de livre-docência, sobre 
Kant e Hegel, sob a orientação de Hans Comelius em 
Frankfurt), conseguiu aglutinar em torno do Instituto 
intelectuais como Pollock, Wittfogel, Fromm, Gumperz, 
Adorno, Marcuse e outros que passaram a contribuir 
regularmente com artigos, ensaios e resenhas para a 
Revista. Muitos dos ensaístas, como foi o caso de 
Benjamin, Marcuse e Adorno, somente se filiaram ao 
Instituto na fase de sua emigração para os Estados 
Unidos. 
Preocupado com o anti-semitismo crescente na 
Alemanha e o progresso implacável do movimento 
nazista encabeçado por Hitler, Horkheimer teve a 
previsão de criar, a partir de 1931, filiais do Instituto em 
Genebra, Londres e Paris, transferindo a redação da 
Revista de Leipzig para Paris, onde permaneceria até a 
invasão alemã, depois que seus principais redatores já 
haviam emigrado há muito para os Estados Unidos. 
Em 1933 o governo nazista decreta o fechamento do 
Instituto em Frankfurt por suas “atividades hostis ao 
Estado”, confiscando seu prédio juntamente com os 
60000 volumes de livros que então constitituiam o 
acervo de sua biblioteca. 
A produção intelectual dos pensadores de Frankfurt 
nessa primeira fase não se restringiu aos ensaios 
publicados nos números iniciais da revista. Um dos 
trabalhos mais significativos desse período foi (Estudos 
sobre Autoridade e Família, Paris, 1936), realizado sob 
a coordenação geral de Horkheimer e Fromm em 
vários países europeus. Trata-se de um estudo 
empiricamente orientado que procurou obter 
informações sobre a estrutura de personalidade da 
classe operária européia. Segundo os teóricos de 
Frankfurt, essa classe teria perdido a consciência de 
sua missão histórica, submetendo-se a formas de 
dominação e exploração totalmente contrárias ao seu 
interesse emancipatório. A busca de uma integração da 
teoria marxista com o freudismo constitui a 
preocupação central desse estudo, em queHorkheimer 
e Fromm lançam os fundamentos teóricos para uma 
retomada da discussão iniciada pelo grupo Sex-Pol e 
especialmente elaborada por Bernfeld, Fenichel e 
Reich nos anos 20 (cf. A. Schmidt, 1980, pp. 31 e 
segs.; e Rouanet, 1983, pp. 157 e segs.). Também 
data desse período um ensaio de Horkheimer sobre 
história e psicologia, no qual o diretor do Instituto 
reflete sua profunda preocupação em integrar o nível 
macroteórico (produção capitalista) com o nível micro 
(indivíduo sexualmente reprimido), mediatizados pela 
estrutura familiar autoritária. O interesse de Horkheimer 
pela psicologia é de longa data. Originalmente havia 
planejado fazer sua tese de doutorado não no campo 
da filosofia (onde efetivamente viria a defendê-la) mas 
sim no campo da psicologia da Gestalt. Foi obrigado a 
desistir desse tema, que já se encontrava em fase 
adiantada de elaboração, quando soube da publicação 
de uma tese análoga na Universidade de Copenhague. 
A grande preocupação teórica e política de Horkheimer 
nesses primeiros anos de existência e funcionamento 
do Instituto ficou explicitada em seu discurso inaugural, 
no momento em que assumia a direção do Instituto. Ele 
se propunha elaborar “o esboço de uma teoria 
materialista, social-psicológica dos processos históricos 
societários” (cf. A. Schmidt, 1980, p. 27). A elaboração 
dessa teoria somente seria possível se fossem 
incluídas na reflexão teórica as contribuições empíricas 
e históricas da sociologia e da moderna historiografia. 
Isso não deveria ocorrer de forma acrítica e 
indiscriminada mas sim a partir de uma teorização 
freudo-marxista flexível, cuja dinâmica se basearia em 
uma metodologia dialética, de inspiração hegeliana e 
marxista. Desta forma, Horkheimer imaginava 
reorientar a reflexão filosófica da época, partindo de um 
patamar abstrato para um nível mais concreto que não 
se confundisse, no entanto, com o puro ativismo da luta 
partidária. 
Como se pode ver facilmente, a primeira fase de 
existência do Instituto foi decisivamente marcada pela 
personalidade de Max Horkheimer, sua orientação 
teórica e suas convicções políticas. Foi ele quem 
conduziu com firmeza e prudência o processo de 
institucionalização do Instituto, criando a Revista como 
porta-voz de seus trabalhos teóricos e empíricos. A ele 
se deve a maior ênfase no trabalho teórico voltado para 
a superestrutura, mudando a temática básica do centro 
de pesquisas por ele administrado. O interesse 
documentário de como a classe operária enfrentava as 
crises especificas do capitalismo do início do século XX 
transformou-se no interesse teórico do porquê de a 
classe operária não ter assumido o seu destino 
histórico de revolucionar a ordem estabelecida. Essa 
explicação era buscada na conjunção específica das 
macro-estruturas capitalistas com as micro-estruturas 
da família burguesa e proletária. 
O período de criação e consolidação do Instituto de 
Frankfurt traz a marca inequívoca da filosofia social de 
Max Horkheimer, inspirado no freudo-marxismo de 
Reich e Fromm. 
O período da emigração para os Estados Unidos 
(1943-1950) 
Em 1933 Horkheimer assegura a transferência do 
Instituto de Frankfurt para Genebra, onde ele passa a 
funcionar sob o nome de Sociedade Internacional de 
Pesquisas Sociais. Nessa fase estão filiados Pollock, 
Tillich, Ch. Beard,R. 5. Lynd, F. de Saussure, E. 
Fromm, Neumann e outros, todos colaboradores ativos 
da Revista, agora já editada em Paris. 
Em 1934 Horkheimer negocia a transferência do 
Instituto para Nova York. Ela se tornara possível graças 
ao apoio dado por Nikolas Murray, diretor da 
Universidade de Colúmbia em Nova York, Reinhold 
Niebuhr e Robert Mcíver. Assim como sua primeira 
sede era vinculada à Universidade de Frankfurt, o 
Instituto passa a vincular-se sob o nome de Instituto 
Internacional de Pesquisa Social à Universidade de 
Columbia, mantendo, no entanto, sua autonomia 
financeira que lhe fora assegurada graças ao auxilio 
irrestrito do “especulador de grãos” da Argentina. 
Neste período de emigração o Instituto concede mais 
de cinqüenta bolsas de estudo e de pesquisa a 
intelectuais e judeus perseguidos pelo nazismo na 
Europa. Entre eles se encontravam W. Benjamin, que 
entre 1933 e 1938 viveu em Paris, custeado por uma 
das bolsas do Instituto, e Ernst Bloch, que ao contrário 
de Benjamin consegue emigrar em tempo para os 
Estados Unidos. Benjamin e Maurice Halbwachs são 
presos; o primeiro, recolhido a um campo de 
concentração mantido pelo governo de Vichy, 
consegue ser liberado por intervenção de Horkheimer. 
Ao tentar a fuga pela França e Espanha é barrado por 
um agente de polícia na fronteira espanhola, o que o 
leva a suicidar-se (1943). O segundo, Halbwachs, é 
internado em Buchenwald, onde morre nas câmaras de 
gás do regime nazista (1945). 
Em 1940 Horkheimer e Adorno se transferem para a 
Califórnia, onde se encontram com Thomas Mann, 
Bertholt Brecht e outros intelectuais alemães e judeus 
refugiados. Fromm já se havia incompatibilizado com o 
grupo em Nova York; Marcuse, colaborador da Revista 
também no período da emigração, passa a trabalha 
passa a trabalhar no Escritório de serviços 
Estratégicos; Polock vira conselheiro do Ministério da 
Justiça americano. A Revista, que até 1940 é publicada 
em alemão, elabora um número em inglês em 1941; 
será seu um último número. 
Em 1946 Horkheimer recebe o convite da 
municipalidade de Frankfurt para retornar a essa 
cidade com os membros do Instituto que quisessem 
acompanhá-lo. Em 1948 Horkheimer decide viajar para 
a Alemanha liberada do nazismo, mas derrotada e 
destruída, a fim de negociar as condições de sua volta, 
sendo surpreendido por uma recepção calorosa que o 
leva a concordar com a transferência, que seria 
efetivada em 1950. 
A produção do Instituto nessa época da emigração 
para os Estados Unidos se reflete, por um lado, em 
uma série de artigos fundamentais publicados na 
Revista, e que deram origem à criação da “teoria 
crítica” e, por outro, em duas obras que se 
transformariam em um marco para a pesquisa e 
teorização sociológicas. Trata-se da obra coletiva de 
um grande número de cientistas americanos e 
alemães, entre os quais Frenkel-Brunswik, Levinsou, 
Sanford e Morrow que, juntamente com Adorno, 
elaboraram a pesquisa empírica publicada sob o título 
de A Personalidade Autoritária (1950), e da coletânea 
de ensaios escritos em colaboração por Horkheimer e 
Adorno: A Dialética do Esclarecimento (1947). 
Os trabalhos da fase de emigração estão sob o 
impacto provocado sobre os intelectuais europeus pela 
cultura americana, expressão máxima do capitalismo 
moderno e da democracia de massa. Horkheimer 
procura salvar a reflexão filosófica dialética face a uma 
crescente tendência positivista e empirista nas ciências 
sociais. Com seu ensaio “A teoria crítica e teoria 
tradicional” (1937) lança os fundamentos da teoria 
critica da Escola de Frankfurt. Adorno, nessa época, se 
concentra na fundamentação de uma sociologia 
marxista da música, analisando a “regressão da 
capacidade auditiva dos ouvintes”, o jazz e outras 
manifestações musicais da moderna sociedade de 
consumo como os “musicais” do teatro e do cinema, a 
produção em massa de discos e as emissões 
radiofônicas. 
Em Personalidade Autoritária os psicólogos, 
psicanalistas, filósofos e pesquisadores empíricos que 
colaboraram nesse estudo procuram refletir sobre a 
interação entre a dinâmica psíquica do indivíduo e as 
condições sociais e políticas da sociedade em que 
vivem esses indivíduos. 
Apesar de sua maior sofisticação metodológica e 
empírica, o estudo americano traz claramente a marca 
da reflexão teórica de Horkheimer e Fromm, 
desenvolvida originalmente nos Estudos sobre 
Autoridade e Família (1936) do primeiro período de 
trabalhos do Instituto na Europa. “Mas seriaum erro 
subestimar a importância teórica da Personalidade 
Autoritária, vendo nela uma simples reedição, adaptada 
ao contexto americano e às exigências da 
operacionalização empírica, de teorias preexistentes”, 
adverte Rouanet (1983, p. 172). 
Se nos Estudos Horkheimer e Fromm foram os 
grandes intérpretes teóricos dos dados coletados na 
Europa dos anos 30, no caso da Personalidade 
Autoritária esse papel coube a Adorno. A riqueza desse 
trabalho se encontra na capacidade de Adorno de 
teorizar, de forma original, sobre um material 
exclusivamente empírico, no contexto americano. 
Adorno preserva a unidade teórica entre os Estudos e 
a Personalidade Autoritária, mantendo a orientação 
freudo-marxista do estudo anterior. Interpreta o que em 
Fromm e Reich ainda aparecia sob a denominação de 
“caráter” como “personalidade”, a qual conceitua como 
sendo “uma organização de forças mais ou menos 
durável” no indivíduo (cf. Rouanet, 1983, pp. 168-169). 
Como no caso de Reich e Fromm, a personalidade é 
vista como uma instância entre a base econômica e a 
ideologia das sociedades capitalistas modernas. Não 
há, pois, na essência, divergência teórica entre Adorno 
e seus antecessores. Somente Adorno amplia a 
tipologia caracterológica introduzida por Reich (caráter 
neurótico e caráter genital) e por Fromm (caráter 
individual e social), colocando ainda em parênteses a 
reflexão sobre a estrutura familiar. Apoiando-se nos 
dados empíricos das diferentes escalas (etnocentrismo, 
autoritarismo, fascismo, organização econômica e 
social) elaboradas pela equipe, propõe uma nova 
tipologia de estruturas de personalidade (a do liberal 
genuíno, do conservador, do lunático, do manipulador, 
etc.) diferenciando cada um dos tipos em high e low 
scorers. Com isso ressalta a necessidade de 
considerar diferentes graus de intensidade em cada um 
dos tipos ou síndromes de personalidade. Somente 
dessa forma consegue explicar um aparente paradoxo 
encontrado na pesquisa americana: a baixa correlação 
entre os níveis altos da escala PEC (temas econômicos 
e sociais) e a escala F (fascismo). Mostra que os dados 
colhidos na primeira escala somente atingem camadas 
superficiais da personalidade, enquanto os dados da 
escala F detectani a dinâmica profunda da vida 
pulsional dos indivíduos. Desta forma consegue 
explicar como pessoas que emitem opiniões 
conservadoras sobre a política e a economia podem ter 
estruturas caracterológicas menos fascistas que outras 
pessoas, com opiniões liberais e democráticas. Essas 
opiniões progressistas podem ter caráter meramente 
episódico e superficial, ao passo que ao nível profundo 
esses indivíduos têm personalidade rígida, frutos de 
um conflito edipiano mal resolvido, e que portanto são 
vulneráveis ao anti-semitismo, em outros momentos 
históricos, como válvula de escape para pulsões mal 
interiorizadas. 
A Dialética do Esclarecimento (1947), escrita na 
Califórnia, reflete a atitude crítica com a qual Adorno e 
Horkheimer encaram a evolução da “cultura” nas 
modernas sociedades de massa, da qual os Estados 
Unidos seriam a versão capitalista mais avançada. 
Segundo Habermas (Die Zeit, n? 40, de 27.9. 1985) 
esse trabalho constitui uma espécie de ruptura dos dois 
autores com os trabalhos anteriores, dando início a 
reflexões teóricas mais radicais que posteriormente 
conduziriam Adorno à sua nova concepção de dialética 
negativa. Até então, tanto Horkheimer quanto Adorno 
haviam mantido uma certa confiança na razão critica, 
que se imporia no decorrer do processo histórico que 
gerou a modernidade. Acreditavam até então que, 
apesar dos percalços e retrocessos, a humanidade 
chegaria, em última instância, a realizar a promessa 
humanística, contida na concepção kantiana da razão 
libertadora. 
A razão acabaria por realizar-se concomitantemente 
com a liberdade, a autonomia e o fim do reino da 
necessidade. A Dialética do Esclarecimento representa 
a ruptura com essa convicção profunda. A onipotência 
do sistema capitalista, reificado no mito da 
modernidade, estaria, segundo essa nova análise, 
deturpando as consciências individuais, narcotizando a 
sua racionalidade e assimilando os indivíduos ao 
sistema estabelecido. Esses se incorporam hoje na 
totalidade do sistema, sem condições de uma 
autodeterminação, sem participação na elaboração do 
futuro da humanidade, sem possibilidade de uma 
resistência crítica. Desta forma, a Dialética do 
Esclarecimento tematiza, em última instância, a morte 
da razão kantiana, asfixiada pelas relações de 
produção capitalista. 
Com esse diagnóstico de seu tempo, Adorno e 
Horkheimer abandonam definitivamente os paradigmas 
do materialismo histórico, buscando um novo caminho 
que igualmente se afasta e distancia dos paradigmas 
do positivismo e neopositivismo que dominam as 
ciências naturais e humanas de sua época. Mas esse 
caminho não lhes trará a “salvação”. Horkheimer 
reaproxima-se, no final de sua vida, da teologia e 
Adorno, desesperando cada vez mais da capacidade 
do pensamento de compreender o particular sem 
anulá-la pelo terrorismo do conceito, busca um refúgio 
na dialética negativa e na teoria estética. Mas isso já 
são os frutos do trabalho de uma nova fase que se 
inicia com o regresso de Adorno e Horkheimer a 
Frankfurt depois da Segunda Guerra Mundial. 
A reconstrução Instituto de Pesquisa Social (1950-
1970) 
O Instituto passa a funcionar novamente em sua velha 
sede na S~nckenbergan1age em Frankfurt ao lado dos 
prédios da universidade a partir de 1950. 
Horkheimer e Adorno são nomeados professores 
catedráticos do Departamento de Filosofia da 
Universidade Johann Wolgang Goethe, ministrando 
regularmente os seus cursos até 1969 e trabalhando 
simultaneamente em pesquisa. A biblioteca do Instituto 
havia sido renovada e os arquivos organizados depois 
dos desfalques sofridos durante o nazismo. 
Horkheimer continua sendo diretor do Instituto durante 
os primeiros anos depois do seu regresso, nomeando, 
logo em seguida, Adorno como seu co-diretor. Este 
assume integralmente a direção do Instituto depois da 
aposentadoria de Horkheimer (em 1967). O grupo de 
intelectuais que outrora cercava os dois teóricos se 
havia reduzido muito. Marcuse decidira ficar nos 
Estados Unidos. Deixara o Escritório de Serviços 
Estratégicos para assumir uma cátedra na 
Universidade Brandeis na Califórnia, onde 
permaneceria até sua morte em 1980. Loewenthal 
tornou-se diretor da “Voz das Américas”; Wittfogel e 
Neumann aceitaram cátedras nas universidades de 
Washington e Nova York, e Fromm, como já foi dito, se 
incompatibilizara com o grupo ainda durante os 
primeiros anos da emigração em Nova York. 
Permaneceu nos Estados Unidos até sua 
aposentadoria, transferindo-se somente depois para a 
Floresta Negra, pouco antes de sua morte. Benjamin 
havia se suicidado em 1943 na fronteira espanhola. 
Bloch, depois da emigração nos Estados Unidos iria 
para a Alemanha Oriental. Aceitou depois uma cátedra 
em Tuebingen, onde lecionou até sua morte. A “Escola 
de Frankfurt” estava, pois, reduzida aos seus 
expoentes mais significativos: Adorno e Horkheimer. 
Associaram-se a eles, nos primeiros anos da década 
de 60, jovens filósofos como Alfred Schmidt, que viria a 
editar toda a obra de Horkheimer bem como reeditar 
uma versão fac-similar da Zeitschrift; Juergen 
Habermas, que até certo ponto pode ser considerado o 
grande herdeiro intelectual da teoria crítica, procurando 
salvá-la do pessimismo e do desespero no qual 
ameaçava perder-se; Ludwig von Friedeburg, atual 
diretor do Instituto de Pesquisa Social em Frankfurt; 
Rolf Tiedemann, o grande editor da obra de Benjamin 
(foi ele quem resgatou o Passagens para o público 
moderno) e de Adorno (cuja Teoria Estética lançou 
depois de sua morte); Helge Pross, Christoph Oehler e 
outros. 
Nesse período Habermas e Friedeburg,auxiliados por 
Oehler e Weltz realizam um estudo entre estudantes 
universitários de Frankfurt e Berlim — Estudante e 
Política (1961) — que segue as trilhas dos dois estudos 
anteriores: Estudos sobre Autoridade e Família e A 
Personalidade Autoritária. No contexto da reconstrução 
democrática da Alemanha Ocidental eles procuram 
estudar — recorrendo às escalas A e F (autoritarismo e 
fascismo), elaboradas nos Estados Unidos e adaptadas 
às condições alemãs o potencial autoritário e/ou 
democrático da nova geração estudantil pós-Segunda 
Guerra. Essa geração, educada por pais autoritários, 
em sua maioria nazistas ou simpatizantes do regime de 
Hitler, e criada durante a Guerra, é agora confrontada 
com um regime liberal-democrático, quase imposto 
pelos aliados. Interessava aos pesquisadores saber 
como se configurava nessa geração a questão do 
autoritarismo e do anti-semitismo. A pesquisa, 
realizada em Frankfurt no final da década de 50, é 
publicada em 1961 e revela uma síndrome autoritária 
latente na maioria dos entrevistados. O estudo de 
Berlim, coordenado por von Friedeburg no início da 
década de 60, é surpreendido, antes de sua 
publicação, pelo movimento estudantil que eclode em 
todo das as cidades alemãs e européias em grandes 
universidades, revelando o novo potencial político de 
uma geração estudantil não conformista. 
Já nos anos 1966-1967 o protesto estudantil contra as 
estruturas autoritárias da universidade e da sociedade 
alemãs começou a mobilizar centros como Berlim, 
Frankfurt, Heidelberg. Esse movimento, encabeçado 
pela organização estudantil SDS , tem como expoentes 
os irmãos Wolff (que morreriam em um desastre de 
automóvel), os irmãos Enzensberger, Rudi Dutschke e 
Cohn-Bendit, original de Hessen, mas que liderara o 
movimento de maio de 68 em Paris, até a sua expulsão 
da França. Os jovens contestadores, entre os quais 
Rudi Dutschke assumiria um papel de liderança na 
Alemanha, fundamentavam seu protesto nas reflexões 
críticas de Marcuse, Adorno e Horkheimer. Refugiado 
da Alemanha Oriental e inconformado com o 
marxismo-leninista autoritário do SED (partido 
comunista da RDA), imposto pela linha partidária de 
Ulbricht, Dutschke havia encontrado no pensamento da 
teoria critica uma nova forma de contestação da 
sociedade. Sua atenção nos cursos e seminários dos 
Departamentos de Sociologia, Política e Filosofia da 
Universidade Livre de Berlim revelava o alto nível de 
sua formação teórica (estudara teologia na República 
Democrática Alemã, filosofia com Marcuse na 
Califórnia e sociologia e política na Universidade Livre 
de Berlim). Sua atuação como líder estudantil permitiu 
transpor a teoria crítica em prática revolucionária. 
Em nome da unidade da teoria e prática, da relação 
dialética entre o particular e o universal e entre o 
sujeito do conhecimento e o seu objeto, Dutschke e 
seus companheiros de luta defendiam a transformação 
radical da sociedade capitalista do Milagre alemão, 
tomando como ponto de partida a democratização da 
própria universidade. Apregoavam a “longa marcha 
pelas instituições” burguesas, começando pela des-
truição da família e do Estado autoritário. O projeto 
político do movimento estudantil decorria logicamente 
dos ensinamentos recebidos dos seus maítres à 
penser. Estes, no entanto, se assustaram com a 
radicalidade do movimento e com a imaturidade da 
grande maioria dos estudantes que seguiam seus 
dirigentes, não por motivos racionais, mas por sua 
liderança carismática, que paralisava a autocrítica dos 
seus adeptos. 
Os frankfurtianos viram no movimento estudantil da 
segunda metade dos anos 60 nítidos traços fascistas, 
passando a combatê-lo, cada qual com suas armas. 
Adorno mandou chamar a policia quando os 
estudantes ameaçaram invadir o Instituto e depredar o 
prédio e a biblioteca. Para ele não havia diferença 
entre os nazistas radicalizados que vieram incinerar os 
livros “judeus”, a partir do incêndio do Reichstag em 
Berlim, e o estudantado engajado do final da década 
de 60. A forma de manifestação do protesto estudantil 
era aparentemente a mesma: invasão violenta dos 
prédios, saque de livros, irreverência com os 
intelectuais e sua produção acadêmica. Havia, é certo, 
uma variante pop do movimento estudantil: o teatro, a 
pantomima, reproduzindo a hierarquia empoeirada da 
universidade; a ocupação de prédios para festas e 
danças e provocação da polícia; as passeatas pelas 
ruas em protesto à política agressiva dos Estados 
Unidos no Vietnã e em favor de uma sociedade mais 
democrática. 
Habermas procurou usar a arma do debate crítico 
escrito. A expressão “fascismo de esquerda” foi criada 
e divulgada por ele. Como não conseguiu adesão dos 
estudantes, nem quis participar do movimento por eles 
desencadeado, preferiu retirar-se para Starnberg, onde 
trabalhou de 1971 a 1983 no Instituto Max Planck que 
se propunha a estudar as condições de vida do homem 
na civilização técnica e industrial. 
Ludwig von Friedeburg e Herbert Marcuse enfrentaram 
“corpo a corpo” as massas estudantis, procurando 
dialogar, convencer, fazer refletir. Eram partidários de 
reformas profundas do sistema universitário e 
educacional, mas rejeitavam as propostas 
revolucionárias e os movimentos de guerrilha urbana 
do grupo Baader-Meinhoff e da Rote Armée Fraktion 
(RAF). 
A incorporação da “teoria crítica” ao movimento 
estudantil parecia anunciar o seu fim. A desilusão e 
incompreensão de ambas as partes – frankfurtianos e 
estudantes – terminou com a saída de Horkheimer para 
a Suíça (1967), a morte prematura de Adorno (1969) e 
a crítica de Marcuse a certas simplificações da revista 
New Left (Nova Esquerda). Os estudantes 
abandonaram os seus “ídolos”, voltando-se alguns para 
a carreira universitária tradicional, outros aderiram a 
seitas, outros ainda se filiaram a partidos (a maioria ao 
SED e Westberlins – Berlim Ocidental) e uma minoria 
ingressou em grupos de esquerda que partiram para a 
luta armada. Um pequeno grupo de estudantes optou 
pelo debate teórico com os frankfurtianos, 
desenvolvendo linhas próprias de trabalho nas quais, 
entretanto, não se deixa de sentir a influência do 
pensamento critico de Frankfurt, como foi o caso de 
Offe, Preuss, Brandt, Senghaas, Altvater, Buerger, 
Sloterdijk e muitos outros. 
O renascimento e a superação da teoria crítica 
Acalmados os ânimos, R. Tiedemann, J. Habermas, A. 
Schmidt, A. Wellmer e outros passaram a publicar as 
obras ainda inéditas dos teóricos críticos da primeira 
geração, reeditando, como já foi dito, as obras 
esgotadas (como foi o caso da Zeitschrift) ou 
inacessíveis (como foi o caso do Passagens de 
Benjamin). 
Desta forma se dá início a uma quarta fase de trabalho, 
desta vez sobre a Escola de Frankfurt. Nela se 
distinguem duas tendências: uma, representada por 
Tiedemann e A. Schmidt, que consiste em preservar o 
pensamento de Benjamin, Horkheimer, Adorno e em 
parte Marcuse, através de um trabalho minucioso de 
reconstituição e revisão dos textos para sua edição ou 
reedição, com novos comentários e interpretações; e 
outra, seguida por Habermas, Wellmer, Buerger e 
outros, que consiste em prosseguir de modo original e 
criador o pensamento dos mestres, não hesitando em 
criticá-los e superá-los. 
Em trabalho exaustivo e meticuloso Tiedemann publica 
a Teoria Estética de Adorno e reedita posteriormente 
toda a sua obra, bem como vários trabalhos de Walter 
Benjamin, entre eles a Origem do Drama Barroco (de 
1925). E ainda Rolf Tiedemann quem consegue a 
proeza de reconstituir, na íntegra, o Passagens, 
considerado impublicável por Adorno, devido ao seu 
caráter fragmentário. 
Tiedemann resgata os manuscritos de Benjamin na 
Biblioteca Nacional de Paris e lança uma edição em 
dois volumes, depois de checar em laborioso trabalho 
todas as fontes (mal) citadas porBenjamin. Rouanet se 
deu o trabalho de ler os dois volumes e de fazer uma 
interpretação do trabalho para o leitor brasileiro (cf. 
Folhetim, de 12.9. 1982, e Tempo Brasileiro, n? 68/69, 
1982). 
Depois de reeditar múltiplos escritos de Horkheimer, A. 
Schmidt se empenha em reeditar uma versão fac-
similar de todos os números de Zeitschrift fuer 
Sozialforschung (DTV Verlag, Munique, 1980), 
fornecendo ao leitor uma excelente introdução e 
avaliação dos trabalhos do grupo entre 1932 e 1941. 
Ao lado desse trabalho editorial torna-se digna a de 
nota a atuação da Suhrkamp Verlag (Frankfurt) que 
começa a lançar a correspondência entre os grandes 
expoentes da Escola de Frankfurt, que conseguiu ser 
salva ou resgatada no pós-guerra, como a de Benjamin 
e Scholem. Benjamin e Adorno, Bloch e Adorno, Bloch 
e Lukács e muitos outros. Esse movimento editorial 
lança uma nova luz sobre a rica produção dos 
frankfurtianos durante quase meio século de atividades 
intensas. 
Especialmente Habermas se preocupa em retomar o 
debate de conteúdo da obra de Adorno, Benjamin, 
Horkheimer, Marcuse em vários ensaios e 
conferências, criticando, discutindo-os e 
transcendendo-os. Além de comentar e debater a 
primeira geração dos teóricos críticos, Habermas pode 
ser considerado o pensador mais produtivo de uma 
nova versão da teoria crítica do momento. Desde os 
seus trabalhos de cunho mais epistemológico (Lógica 
da Socialdemocracia, 1967, Conhecimento e Interesse, 
1968.), Habermas vem se preocupando com uma 
reformulação da teoria crítica de Frankfurt que permita 
a sua saída do impasse ao qual foi conduzida 
especialmente por Adorno. Suas reflexões em torno 
dos problemas da legitimação do Estado moderno 
(Técnica e Ciência como Ideologia, 1968, O problema 
de Legitimação do Neocapitalismo, 1972) e a 
elaboração de uma teoria da ação comunicativa (Teoria 
da Ação Comunicativa, 1981-1984, 3 vols.) 
exemplificam os esforços de Habermas em preservar o 
cunho crítico dos teóricos de Frankfurt no interior de 
uma reformulação e inovação teórica que os supera e 
transcende. 
O renascimento da teoria crítica não é devido 
exclusivamente aos trabalhos de A. Schmidt, R. 
Tiedemann e J. Habermas. Há toda uma geração de 
jovens filósofos, pedagogos, sociólogos e críticos 
literários que têm usado a teorização dos frankfurtianos 
para novas reflexões e buscas de apropriação ou 
superação de seu pensamento. Neste ensaio somente 
serão relacionados alguns do mundo de fala alemã. E o 
caso de A. Wellmer com sua Dialética sobre o Moderno 
e o Posmoderno (1985), ou a coletânea organizada por 
W. Bonss e A. Honneth, Sozialforschung als Kritik, que 
leva o subtítulo sugestivo de “sobre o potencial 
sociológico da teoria crítica” (1982), ou a Conferência 
sobre Adorno de 1983, organizada por Ludwig von 
Friedeburg, o atual diretor do Instituto, posteriormente 
publicada juntamente com Habermas e que contém 
contribuições de Carl Dahlhaus, Peter Buerger, 
Ruediger Bubner, Ullrich Oevermann, além dos vários 
nomes aqui citados. 
A contribuição desses autores mais jovens – uma 
terceira geração de frankfurtianos – será objeto da 
terceira parte deste livro, que busca avaliar de que 
forma a primeira geração (da qual faziam parte 
Horkheimer, Adorno, Benjamin, Marcuse) e até mesmo 
a segunda geração (à qual pertencem Habermas, A. 
Schmidt e Tiedemann) influenciaram a teorização 
crítica na Alemanha, na França, na Itália, nos Estados 
Unidos e no Brasil. 
Numa breve retrospectiva do caminho até agora 
percorrido, poder-se-ia dizer que a teoria crítica foi 
concebida e desenvolvida em três grandes momentos. 
No primeiro, Horkheimer exerce a principal influência 
sobre o andamento dos trabalhos. E o período de antes 
e durante a Segunda Guerra Mundial, até a volta de 
Horkheimer e Adorno para Frankfurt em 1950. Num 
segundo momento, que se segue ao período da 
reconstrução do Instituto, é Adorno quem assume a 
direção intelectual, introduzindo o tema da cultura e 
desenvolvendo em sua teoria estética uma versão 
especial da teoria crítica. Finalmente, no terceiro 
momento, a liderança passa a Habermas que, 
discutindo a teoria crítica, buscará, com sua teoria da 
ação comunicativa, uma saída para os impasses 
criados por Horkheimer e Adorno, propondo, para isso, 
um novo paradigma: o da razão comunicativa. Esse 
terceiro momento tem início na década de 70 e 
continua em pleno desenvolvimento. Nele os dois 
momentos anteriores são absorvidos, preservados e 
superados, deixando no ar a questão da relação entre 
a teoria crítica e a teoria da ação comunicativa. 
Se houve momentos em que a Escola de Frankfurt 
nada tinha a ver com Frankfurt, encontrando-se todos 
os seus representantes dispersos pelo mundo, temos 
agora o fenômeno contrário: Habermas e Friedeburg 
encontram-se em Frankfurt, mas seriam eles ainda 
“teóricos críticos” segundo a visão original de 
Horkheimer? O desenvolvimento dos eixos temáticos 
da segunda parte deste trabalho poderá fornecer 
alguns subsídios para que o próprio leitor forme uma 
opinião a respeito, tornando-se capaz de responder, 
por conta própria, a essa pergunta. 
 
* FREITAG, Bárbara. O histórico da Escola de 
Frankfurt. In: A Teoria Crítica: ontem e hoje. São 
Paulo: Brasiliense, 1993, p. 9-30.