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Estado de Bem-Estar Social no Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UM ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CLAUDIA DO VALLE BENEVIDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
FEVEREIRO 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UM ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CLAUDIA DO VALLE BENEVIDES 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Economia da 
Universidade Federal Fluminense como 
parte dos requisitos para a obtenção do 
título de Mestre em Economia. 
 
 
Orientadora: Prof. ª CÉLIA LESSA KERSTENETZKY 
 
 
 
 
 
FEVEREIRO 2011
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade da autora.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, por permitir que eu chegasse até aqui. 
A meus pais, pelo amor e dedicação ao longo de toda vida.
AGRADECIMENTOS 
 
 
À Faculdade de Economia da UFF e a todos os seus docentes pelo curso de qualidade; 
Aos professores Fernando Mattos e Maria Lúcia Werneck pela prontidão em aceitar o convite 
para compor a banca examinadora; 
Ao professor Fábio Waltenberg por seu empenho e disposição demonstrado ao longo de todo 
o curso com o intuito de contribuir em nossa formação e, ainda, por aceitar fazer parte da 
banca examinadora; 
À professora Célia Kerstenetzky pelo aprendizado proporcionado, pela disposição, 
competência e paciência durante toda a orientação; 
Aos amigos da UFF pelo apoio e amizade durante todo o mestrado, em especial à Karla, à 
Cynthia e à Alessandra, por estarem sempre dispostas a ajudar; 
A meus pais e amigos pelo carinho e incentivo. 
RESUMO 
 
 
Este trabalho teve por objetivo observar as políticas sociais brasileiras sob a perspectiva do 
Welfare State. A escolha por esse tema justifica-se pela escassez de estudos que analisam o 
sistema de proteção social brasileiro a partir da visão mais ampla do Estado de Bem-Estar 
Social. Os resultados insatisfatórios dos nossos indicadores sociais são a principal explicação 
para a falta de visão global das políticas brasileiras sob a ótica desse tipo de Estado, visto que 
o mesmo geralmente é associado a resultados socialmente positivos. Assim, com esse intuito, 
buscou-se primeiramente definir o Estado de Bem-Estar Social para posteriormente 
caracterizar as diferentes formas que o mesmo assumiu ao longo dos anos nos diversos países, 
de modo a se conseguir situar o Brasil nesse contexto, ressaltando suas características e 
tendências, de forma que seja possível observar a proximidade ou distanciamento do nosso 
país em relação aos diferentes modelos de Welfare State apresentados. 
 
Palavras-Chave: Estado de Bem-Estar Social, Proteção Social, Brasil, Desigualdade Social, 
Cidadania. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This study aimed at observing the Brazilian social policies from the perspective of the 
Welfare State. The choice of this topic is justified by the scarcity of studies analyzing the 
Brazil’s social protection system from the wider view of the Welfare State. The unsatisfactory 
results of the Brazilian social indicators are the main explanation for the lack of overview of 
Brazilian politics from the perspective of such State, since that is usually associated with 
socially positive outcomes. So with this in mind, we first sought to define the Welfare State to 
later characterize the different forms it has assumed over the years in different countries, in 
order to situate the Brazil in this context, highlighting their characteristics and trends, making 
it possible to observe the proximity or remoteness of our country in relation to different 
models of Welfare State presented. 
 
 Keywords: Welfare State, Social Protection, Brazil, Social Inequality, Citizenship.
ÍNDICE 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 
 
CAPÍTULO I - O WELFARE STATE E SUAS TENDÊNCIAS ....................................... 11 
I.1 – O Welfare State ............................................................................................................. 11 
I.2 – Os Regimes de Welfare State ...................................................................................... 17 
I.2.1 - Regime Liberal ....................................................................................................... 20 
I.2.2 - Regime Conservador .............................................................................................. 22 
I.2.3 - Regime Social-Democrata ...................................................................................... 24 
I.2.4 - Comparando os Regimes de Welfare State ............................................................ 26 
I.2 – Conclusão .................................................................................................................... 31 
 
CAPÍTULO II - INDICADORES DO WELFARE STATE ............................................... 32 
II.1 – Gasto Social Público ................................................................................................... 32 
II.2 – Educação ..................................................................................................................... 41 
II.3 – Saúde ........................................................................................................................... 46 
II.4 – Mercado de Trabalho .................................................................................................. 48 
II.5 – Desigualdade de Renda e Pobreza .............................................................................. 54 
II.6 – Potencial Trade-off ...................................................................................................... 56 
II.7 – Conclusão .................................................................................................................... 59 
 
CAPÍTULO III - O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL ......................... 61 
III.1 – A Evolução do Estado de Bem-Estar Social Brasileiro ............................................. 61 
III.2 – Gasto Social Público .................................................................................................. 65 
III.3 – Educação .................................................................................................................... 68 
III.4 – Saúde .......................................................................................................................... 72 
III.5 – Mercado de Trabalho ................................................................................................. 76 
III.6 – Desigualdade de Renda e Pobreza ............................................................................. 80 
III.7 – Classificação do Brasil em Regime de Welfare State ................................................ 81 
III.8 – Conclusão ................................................................................................................... 83 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 85 
 
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 88 
 
ANEXO A – O FIM DA GOLDEN AGE .............................................................................. 94 
 
ANEXO B – EFETIVIDADE DOS REGIMES ................................................................... 96 
ÍNDICE DE GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS 
 
 
GRÁFICO 2.1: Gasto social público em percentual do PIB no regime liberal ........................ 33 
GRÁFICO 2.2: Gasto social público em percentual do PIB no regime conservador .............. 34 
GRÁFICO 2.3: Gasto social público em percentual do PIB no regime social-democrata ....... 35 
GRÁFICO 2.4: Composição do gasto social público no modelo liberal em percentual do 
PIB ............................................................................................................................................ 37 
GRÁFICO 2.5: Composição do gasto social público no modelo conservador em 
percentual do PIB ..................................................................................................................... 38 
GRÁFICO 2.6: Composição do gasto social público no modelo social-democrata em 
percentual do PIB ..................................................................................................................... 40 
GRÁFICO 2.7: Gasto público na educação em percentual do PIB .......................................... 42 
GRÁFICO 2.8: Participação do gasto privado em relação ao gasto total em educação........... 43 
GRÁFICO 2.9: Média do gasto público na educação pré-primária como percentual do 
PIB ............................................................................................................................................ 44 
GRÁFICO 2.10: Taxas de emprego em percentual para diferentes níveis de instrução 
em 2008 .................................................................................................................................... 46 
GRÁFICO 2.11: Participação pública nos gastos com saúde .................................................. 47 
GRÁFICO 2.12: Gastos públicos em serviços de cuidado com idosos como percentual 
do PIB ....................................................................................................................................... 48 
GRÁFICO 2.13: Indicador relacionado à proteção no emprego nos diferentes regimes ......... 51 
GRÁFICO 2.14: Emprego público como percentual da força de trabalho .............................. 53 
GRÁFICO 2.15: Índice de Gini ................................................................................................ 55 
GRÁFICO 2.16: Percentual de pobres por regime ................................................................... 56 
GRÁFICO 2.17: Taxas de emprego entre os indivíduos de 15-64 anos .................................. 58 
GRÁFICO 3.1: Composição do gasto público social em percentual do PIB ........................... 67 
GRÁFICO 3.2: Composição do gasto público em educação em percentual do PIB ............... 70 
GRÁFICO 3.3: Percentual de crianças entre 7 e 14 anos que frequentam escola e não 
sabem ler e escrever em 2007 ................................................................................................... 71 
GRÁFICO 3.4: Evolução da mortalidade infantil e expectativa de vida ................................. 73 
GRÁFICO 3.5: Composição do gasto em saúde em 2008 ....................................................... 74 
GRÁFICO 3.6: Participação pública no gasto total com saúde ............................................... 75 
GRÁFICO 3.7: Emprego vulnerável como proporção do emprego total ................................. 77
GRÁFICO 3.8: Políticas de mercado de trabalho em percentual do PIB................................. 78 
GRÁFICO 3.9: Demonstrativo do FAT em 2007 .................................................................... 79 
GRÁFICO 3.10: Emprego público como percentual da força de trabalho .............................. 80 
 
TABELA 1.1: Perfil dos gastos nos três regimes de bem-estar ............................................... 26 
TABELA 1.2: Impacto dos serviços na redução da desigualdade entre os domicílios: 
média dos regimes .................................................................................................................... 27 
TABELA 1.3: Coeficiente de Gini e percentual de pobres ...................................................... 28 
TABELA 2.1: Gasto social público em percentual do PIB ...................................................... 36 
TABELA 2.2: Composição do gasto social público nos Estados Unidos em percentual 
do PIB ....................................................................................................................................... 38 
TABELA 2.3: Composição do gasto social público na Alemanha em percentual do PIB ...... 39 
TABELA 2.4: Composição do gasto social público na Dinamarca em percentual do PIB ..... 40 
TABELA 2.5: Composição do gasto médio nos regimes, entre 1980 e 2007, em 
percentual do PIB ..................................................................................................................... 41 
TABELA 2.6: Média de anos de estudo ................................................................................... 44 
TABELA 2.7: Resultado do PISA de 2009 .............................................................................. 45 
TABELA 2.8: Taxas de participação no mercado de trabalho em percentual ......................... 49 
TABELA 2.9: Taxas de desemprego em percentual ................................................................ 50 
TABELA 2.10: Decomposição das políticas públicas de trabalho em percentual do PIB ....... 52 
TABELA 2.11: Taxas de crescimento do PIB em percentual .................................................. 58 
TABELA 3.1: Resultado do PISA ............................................................................................ 71 
 
QUADRO 1.1: Resumo das características dos regimes .......................................................... 25 
QUADRO 1.2: Efetividade dos regimes .................................................................................. 30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O sistema de proteção social brasileiro começa a se estruturar a partir de 1930, sob o 
governo de Getúlio Vargas. Nesse primeiro momento, seu objetivo era a mediação das 
relações entre os capitalistas e os trabalhadores, baseando suas ações principalmente no 
campo previdenciário, de modo a antecipar as reivindicações trabalhistas. O acesso à provisão 
das políticas era, geralmente, associado à inserção do indivíduo no mercado de trabalho. A 
partir da ditadura militar, em 1964, temos um ponto de inflexão no conjunto das políticas 
sociais, que são estendidas a uma parcela da população que se mantinha a margem das ações 
do setor público, de modo a legitimar a posição de repressão política adotada. Mas apesar 
dessa expansão na cobertura das políticas, o que observamos foi um aumento acentuado nas 
desigualdades sociais, com uma intensa precarização dos serviços prestados, diante de uma 
crescente clientela. Ou seja, a expansão da provisão de serviços sociais baseou-se em níveis 
bastante baixos de segurança social, o que acabou por expulsar uma parcela da população do 
acesso aos serviços públicos. A Constituição de 1988 é um marco na história da proteção 
social para o país. A partir de então, as políticas sociais passam a ser dever do Estado, estando 
ancoradas no direito social dos cidadãos. Ao instituir propostas de políticas universais e 
igualitárias, objetivou-se promover a inclusão social de toda a população. 
Observar essa evolução e configuração do sistema de proteção social brasileiro, a 
partir da perspectiva do Welfare State, é o objetivo principal deste trabalho.A ideia é traçar 
um panorama da origem e caminhos seguidos pelos Estados de Bem-Estar Social até os dias 
atuais, onde assumiram diferentes formas de organização: mais universalistas ou focalizados, 
mais privatistas ou dependentes do Estado, mais residuais ou generosos na cobertura dos 
serviços/benefícios, etc. A partir de então, pode-se observar as diferentes tendências seguidas 
pelos mesmos, de modo a tornar possível a percepção daqueles mais ou menos efetivos na 
redução da exposição dos indivíduos aos riscos sociais. Assim poderemos analisar em que 
medida o Brasil caminha em direção às políticas mais efetivas em termos de equidade e 
oportunidades proporcionadas. 
Para tanto esta dissertação está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo 
busca uma definição mais operacional do que vem a ser um Estado de Bem-Estar Social, 
antes de partir para a diferenciação dos países em modelos de Welfare State. Adota-se a 
tipologia estabelecida por Esping-Andersen (1990), que se baseia em uma análise empírico-
comparativa para dividir os países em três regimes ideais: Liberal, Conservador e Social-
10 
 
Democrata. Objetiva-se caracterizar cada regime a partir das propriedades mais gerais de suas 
políticas predominantes. Entretanto, cabe ressaltar o caráter comparativo dessa classificação, 
visto que países considerados liberais, por exemplo, podem possuir características 
consideradas mais de cunho conservador. 
O segundo capítulo tem por intuito identificar os indicadores que podem ser usados 
para analisar e acompanhar o desenvolvimento dos diferentes regimes de bem-estar social. Os 
países aqui analisados são os delineados por Esping-Andersen (1990) em sua tipologia de 
modelos ideais. Assim, poderemos observar como indicadores relativos aos gastos sociais, 
educação, saúde, mercado de trabalho, pobreza e desigualdade comportam-se nos diferentes 
países dos regimes. Esses indicadores permitirão uma melhor visualização da posição em que 
se encontra o Welfare Brasileiro. 
 O terceiro e último capítulo tem como objeto de análise o Brasil. A falta de visão das 
políticas sociais brasileiras como pertencentes a um padrão mais geral de Estado de Bem-
Estar Social provavelmente está ligada à reduzida eficácia das políticas sociais do país em 
termos de resultado. Geralmente o termo Welfare State é relacionado a conteúdos socialmente 
positivos, o que tornaria estranho usar esse tipo de nomenclatura diante da situação, muitas 
vezes alarmante, dos problemas sociais no país. Entretanto, os avanços ocorridos em nosso 
sistema de proteção social apontam para o mesmo caminho trilhado pelos países precursores 
na montagem dos Estados de Bem-Estar. Assim, o questionamento seria não a existência 
desse tipo de Estado no Brasil, mas, sim, sua caracterização e tendências, contrastando com o 
percurso seguido pelos Estados de Bem-Estar contemporâneos mais efetivos 
(KERSTENETZKY, 2010). Para tanto, o capítulo três faz uma breve retomada da evolução 
do Welfare State no Brasil, tentando explicitar as características intrínsecas de suas políticas. 
Então parte-se para a análise de indicadores referentes ao gasto social no país, educação, 
saúde, mercado de trabalho e desigualdade. O intuito é não apenas situar o Brasil em termos 
internacionais, mas também perceber a tendência de evolução do próprio país. 
Portanto, a ideia é analisar a situação brasileira à luz de uma literatura que examina 
comparativamente os processos de formação do Welfare State em vários países, admitindo 
diferentes características no desenvolvimento de seus Estados de Bem-Estar Social, oriundas 
de condicionantes históricos ou culturais, mas que guarda relação com padrões mais gerais de 
evolução desse tipo de Estado. 
 
 
 
 
11 
 
I – O WELFARE STATE E SUAS TENDÊNCIAS 
 
O objetivo deste capítulo é buscar uma definição para o que vem a ser um Estado de 
Bem-Estar Social, bem como observar as tendências contemporâneas desse tipo de organização. 
Para isso, o mesmo encontra-se dividido em mais três seções, além desta introdução, a saber: a 
primeira busca elucidar o significado do termo Welfare State, a partir de revisão de alguns 
autores, de modo a se obter uma definição mais operacional que englobe os diferentes ângulos 
tratados na literatura sobre o tema; enquanto que na segunda seção serão observadas as 
tendências dos modernos Estados de Bem-Estar Social a partir da classificação dos mesmos em 
diferentes regimes segundo características próprias; a terceira, e última, seção objetiva retomar 
os principais pontos do capítulo. 
A adoção de uma clara definição para o Welfare State é de fundamental importância para 
o prosseguimento do trabalho. Para Seeleib-Kaiser (2008), o primeiro dilema a ser superado por 
um estudo sobre o Estado de Bem-Estar Social é estabelecer sua definição. A maioria dos 
trabalhos que se dedicam ao assunto dirige-se diretamente para a identificação de indicadores, 
sem dedicar atenção à definição. Já no que se refere ao segundo objetivo do capítulo, a 
classificação dos países em clusters facilita a visualização das opções disponíveis, bem como de 
seus resultados. Esse tipo de análise comparativa é importante para que um país como o Brasil 
possa aproveitar as oportunidades de “catching up” social, que foi definido por Kerstenetzky 
(2010, p.27) como “aprender com as experiências mais bem sucedidas sem ter que 
necessariamente percorrer toda a trajetória desses países para alcançar o grau de efetividade 
social que estes alcançaram.” 
 
I.1 – O Welfare State1 
 
O Welfare State pode ser pensado como uma transformação do próprio Estado a partir 
de suas funções, estrutura e legitimidade. Surge devido à demanda por serviços de segurança 
sócio-econômica. Para Arretche (1995), os serviços sociais emergem para dar respostas às 
dificuldades individuais, visando garantir a sobrevivência das sociedades. A autora ainda 
salienta que as medidas de proteção aos pobres foram progressivamente deixando de tratá-los 
indistintamente, isto é, passaram a surgir políticas de atenção à heterogeneidade da pobreza. 
 
1
 Os termos Welfare State e Estado de Bem-Estar Social estão sendo usados indistintamente neste trabalho. 
12 
 
Para Briggs (2006), o Welfare State é um Estado no qual se usa deliberadamente o 
poder organizado em um esforço para modificar o jogo das forças do mercado em no mínimo 
três direções: primeiro, garantindo aos indivíduos e às famílias uma renda mínima, 
independentemente do valor de mercado de seu trabalho ou de sua propriedade; segundo, 
reduzindo a exposição à insegurança, colocando os indivíduos e famílias em condições de 
enfrentar certas contingências sociais que, de outro modo, levariam a crises do indivíduo ou 
de sua família; e terceiro, assegurando que a todos os cidadãos, sem distinção de status ou 
classe, sejam oferecidos os mais altos padrões de um conjunto reconhecido de serviços 
sociais. 
Wilenski (1975) trabalha com uma definição mais concisa: O fundamento do Welfare 
State, para esse autor, é a existência de um padrão mínimo (garantido pelo Estado) de renda, 
alimentação, saúde, alojamento e instrução, assegurado a qualquer cidadão como um direito 
político e não como caridade. Enquanto isso, para Pierson (1991), no momento em que há o 
comprometimento de um gasto social de pelo menos 3% do Produto Nacional Bruto, pode-se 
falar em surgimento nacional do Welfare State, ainda que incipiente. 
Resumindo, essas definições fazem referência à ação estatal na organização e 
implementação das políticas de provisão de bem-estar, independentemente do grau em que se 
efetiva a participação do Estado, reduzindo os riscos sociais aos quais os indivíduos estão 
expostos, baseando-se em uma noção de direito social, conforme será exposto mais adiante. 
Também estãoligadas a uma determinada relação entre o Estado e o mercado, na qual o 
segundo tem alguns de seus movimentos modificados pelo primeiro de modo a se reduzir os 
resultados socialmente adversos do mercado. Além disso, há a noção de substituição da renda, 
quando esta é perdida temporária ou permanentemente, dados os riscos próprios aos quais as 
economias capitalistas estão expostas. Vale mencionar ainda, a busca da presença da 
manutenção da renda em pelo menos um patamar mínimo de modo a que as necessidades dos 
indivíduos sejam atendidas, mesmo a dos que se encontram fora do mercado. 
Podem-se identificar dois padrões originários de intervenção social do Estado na 
história da modernidade capitalista que se estende até o fim do século XIX: o inglês e o 
alemão. No que cabe à Inglaterra, uma análise histórica permite identificar estreitas relações 
entre a centralização do poder que acompanhou o nascimento do Estado absolutista e a 
liberação da força de trabalho camponesa que acompanhou a mercantilização das terras, e a 
proteção originária que foi dada aos pobres. A nova legislação2 estava preocupada 
 
2
 Em 1601, todas as medidas que aos poucos foram sancionadas no sentido do auxílio aos pobres foram 
organizadas em um estatuto denominado Primeira Lei dos Pobres. 
13 
 
notadamente com a questão da ordem e do disciplinamento do trabalho, porém acabou por dar 
espaço também a um tipo pioneiro de assistencialismo que não apenas difundiu-se pela 
Europa como se manteve presente chegando à Poor Law Act3 de 1834. Com relação à 
Alemanha, pode-se identificar uma estreita associação entre a legislação bismarckiana4 e a 
antecipação ao movimento socialista. Nascia na Alemanha um novo paradigma, conservador e 
corporativo, onde os direitos sociais, definidos de forma contratual, já que o acesso aos 
benefícios era condicionado ao status ocupacional, eram outorgados por um governo 
autoritário que ainda não tinha reconhecido os direitos elementares da cidadania política. Esse 
modelo que se generalizou pela Europa, assim como no caso do assistencialismo inglês, 
acabou tendo enorme influência na construção conservadora dos sistemas de assistência e 
proteção social que se espalharam na América Latina principalmente depois de 1930 (FIORI, 
1997). 
A Lei dos Pobres, implantada na Inglaterra, compreendia uma série de medidas legais 
vigentes desde o início do século XVI até a promulgação da Poor Law Act, em 1834, e pode 
ser entendida como um conjunto de políticas de combate à pobreza, administrada de forma 
descentralizada pelas paróquias, as quais eram as principais unidades administrativas locais. 
Segundo Brundage (2002), enquanto que o estatuto legal de 1601 estabelecia a necessidade da 
criação de lugares específicos para a habitação dos pobres incapacitados (as chamadas 
poorhouses), para os pobres desempregados que estivessem em plenas condições para o 
exercício do trabalho existiam as workhouses, nas quais os responsáveis pelas paróquias 
deveriam fazer com que os pobres produzissem conforme sua capacidade (PASINATO, 
2009). 
Esse modelo de gestão da pobreza permaneceu até a revisão da Lei dos Pobres de 
1834. A nova lei restringiu os critérios de elegibilidade para se ter direito à assistência e 
aumentou os controles sobre os seus beneficiários (LAVINAS; COBO, 2009), diante das 
críticas quanto à excessiva interferência do Estado. A nova Lei dos Pobres baseou-se na 
centralização das políticas de auxílio aos pobres em uma Comissão Nacional para o controle 
operacional do sistema. Essa nova Lei estabeleceu, principalmente, que nenhum indivíduo em 
condição de trabalhar poderia receber dinheiro ou qualquer outro auxílio fornecido pela Lei 
dos Pobres e que as condições nas casas de trabalho deveriam ser tais que desencorajassem os 
indivíduos a receber auxílio por este meio (BRUNDAGE, 2002). 
 
3
 Ficou conhecida como a Nova Lei dos Pobres. 
4
 Na década de 1880 abarcava a legislação relativa a acidentes, seguro-saúde e aposentadoria por idade ou 
invalidez. 
14 
 
Apesar da importância revestida pelo pioneirismo de suas ações na intervenção social 
do Estado, a principal característica das Leis dos Pobres era a consequente estigmatização dos 
que necessitassem de seu auxílio, destituindo-os de qualquer tipo de cidadania. As demandas 
dos indivíduos seriam atendidas devido à condição de pobreza e não objetivando a garantia da 
plena integração social do ser humano (PASINATO, 2009). 
Até o final do século XIX, as principais formas de intervenção estatal para a proteção 
em relação aos riscos sociais eram de caráter assistencialista e ocorriam ex post. Com a 
implantação do seguro social na Alemanha, por Bismarck, no fim desse mesmo século, 
observamos um novo padrão de intervenção do Estado na esfera social, que deixa de ser 
somente residual. O seguro social estabelecia que, mediante uma contribuição compulsória 
feita por empregados e empregadores, os trabalhadores estariam protegidos em situações de 
inatividade, como velhice e doença, assim como seus familiares. Esse sistema trouxe para as 
políticas sociais a questão da proteção ao trabalhador e a desestigmatização de seus 
beneficiários. Entretanto, o projeto do seguro social não se originou no interior da classe 
operária alemã, que era bastante politizada, mas na burocracia estatal, recebendo, inclusive, a 
oposição veemente do movimento operário. 
Em 1883, é adotado o seguro de saúde na Alemanha, consistindo em um programa de 
provisão de serviços de saúde para a população trabalhadora, sendo um terço de seus gastos 
pagos pelos empregadores e os dois terços restantes pelos empregados. Em 1884, temos a 
implantação do seguro de acidentes de trabalho que atribuiu a responsabilidade do tratamento 
de saúde e das indenizações devidos aos empregados que se tornassem inválidos aos 
empregadores. Além disso, foi criado um seguro para reduzir os riscos do envelhecimento e 
da invalidez, que contava com contribuições de empregados, empregadores e do Estado. Aqui 
cabe ressaltar a característica contributiva dessas políticas, que possuíam na participação no 
mercado de trabalho um pré-requisito para o usufruto da condição de cidadania (PASINATO, 
2009). 
Assim, surgem os primeiros benefícios previdenciários, que se espalharam pela 
Europa. Áustria, Noruega, Dinamarca, Itália, Finlândia, dentre outros países, ainda no século 
XIX, também implantaram o seguro social. Com o passar dos anos surgem experiências ainda 
mais abrangentes, onde os benefícios não pressupõem contribuição prévia, como na Suécia, 
“...que introduz já em 1913 um sistema universal de aposentadorias de valor modesto, a ser 
complementado por outros benefícios, associados ao trabalho (seguro social) ou mediante 
comprovação de insuficiência de renda (means-tested)” (LAVINAS; COBO, 2009, p.5). 
O seguro social se diferencia do padrão de assistência à pobreza, que era caracterizado 
15 
 
por uma intervenção residual e discricionária, por garantir a obrigatoriedade das 
contribuições. Além disso, fornece benefícios padronizados baseando-se para isso em direitos 
e não na boa vontade estatal, rompendo, assim, a lógica seguida pela assistência que era 
prestada aos pobres. Neste sentido, a regulação da pobreza e o seguro social seriam estratégias 
dicotômicas: enquanto que o pobre era considerado um assistido, o trabalhador figurava como 
o responsável pela proteção que lhe era fornecida, por contribuir para o financiamento da 
mesma (2003, PALIER apud LAVINAS; COBO, 2009). 
William Beveridge5 supera essa dicotomia ao defender que as políticas sociais devem 
constituir-se em um mecanismo preventivo e inclusivo, que seja capaz de retirar os indivíduos 
da pobreza. A chamada “revolução beveridgiana” inclui a ideiade que todos os cidadãos são 
beneficiários de transferências e serviços públicos tão somente por pertencerem a uma 
determinada comunidade, independentemente de alguma contribuição prévia (LAVINAS; 
COBO, 2009). O Plano Beveridge6 objetivava a estruturação de um novo sistema de seguro 
social, que possuísse cobertura compulsória e universal, com gestão nacional pública. “A 
partir da visão beveridgiana, dá-se a integração, em um sistema único de proteção social – a 
Seguridade Social – da assistência e do seguro social, em uma mesma institucionalidade” 
(LAVINAS; COBO, 2009, p.6). 
O referido plano continha propostas para estender e melhorar o sistema de segurança 
social existente na Inglaterra até então e era baseado em três pilares: subsídios às famílias, 
cuidados de saúde abrangente (com a legitimação do National Health Service Act, que em 
1946 criou um sistema nacional, universal e gratuito de assistência médica, desvinculado da 
relação contratual que havia caracterizado até então a essência das políticas sociais 
governamentais) e política de pleno emprego. O sistema seria administrado de forma central e 
teria um financiamento baseado em contribuições de empregadores, empregados e Estado, 
com benefícios fixados a um nível de subsistência. Nesse sentido, a seguridade social foi 
concebida para dissociar a cobertura individual do desempenho econômico em geral 
(CARVALHO, 2006). 
Esse lento processo de experimentação de políticas rompe com a visão clássica 
paternalista da assistência, que foi a primeira forma de intervenção do Estado na proteção das 
 
5
 Responsável por apresentar ao Parlamento recomendações sobre os sistemas de segurança social existentes a 
pedido do então Ministro do Trabalho, Ernest Bevin, o que resultou no chamado Plano Beveridge de 1942. 
6
 O Plano Beveridge, adotado na Inglaterra em 1942, e reformado em 1946, tinha como objetivo constituir um 
sistema de seguro social que garantisse ao indivíduo proteção diante de certas contingências sociais, tais como a 
indigência ou incapacidade laborativa. Esse plano objetivava unificar os seguros sociais existentes e estabelecer 
a universalidade de proteção social para todos os cidadãos, a partir de uma forma tríplice de custeio. 
 
16 
 
classes mais destituídas e percebidas como ameaça à paz social. Para Esping-Andersen 
(1990), dentre outros autores como Mishra (1990), há uma ruptura entre as políticas sociais 
anteriores à Segunda Guerra Mundial e o que veio a ser, a partir do Plano Beveridge, o 
Welfare State contemporâneo, que adquire uma nova dimensão ao ser pensado com base no 
reconhecimento de direitos sociais dos cidadãos e não mais apenas com base na condição de 
trabalhador e dos seus beneficiários. 
Ainda segundo Esping-Andersen (1990), o Welfare State não pode ser compreendido 
apenas em termos de direitos e garantias. Também precisamos considerar a forma pela qual as 
atividades estatais se entrelaçam com o papel do mercado e da família em termos de provisão 
social. A produção de Bem-Estar, entendida como a articulação de programas de Welfare e 
instituições (que incluem o Estado, famílias e mercado), protegeria os indivíduos contra os 
riscos sociais aos quais estão expostos. 
A proteção social existente até o Plano Beveridge não se alicerçava na noção de 
cidadania. O pobre não tinha direito social de requerer essa proteção. A extensão da cidadania 
significou a mudança da relação do Estado com o cidadão. O interesse do Estado foi além da 
tradicional ajuda à destituição e da manutenção da ordem. A seguridade social passa a ser 
vista como parte do conjunto de direitos e deveres, e receber proteção pública deixou de ser 
obstáculo para a participação política, configurando um benefício para a plena cidadania 
(PIERSON, 1991). 
Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, na qual foram inseridos vários objetivos de promoção do 
bem-estar social que se encontravam presentes no Plano Beveridge e que viriam a nortear a 
maior parte dos modernos sistemas de proteção social, no sentido de basear a provisão de 
bem-estar em um direito social, incluído na noção de cidadania. 
Não existe uma progressão linear ou uma convergência inevitável entre os muitos 
tipos nacionais existentes dos Estados de Bem-Estar Social, ou mesmo entre os seus vários 
padrões de construção e organização. Entretanto, respeitadas as especificidades, quase todos 
os países e padrões de organização desse tipo de Estado seguiram uma evolução cujos 
momentos de maior ou menor desenvolvimento são análogos porque estão determinados pela 
trajetória crítica do contexto mais amplo em que se insere o Welfare State – tanto econômico 
quanto político. E ainda que a evolução dos Estados de Bem-Estar obedeçam às trajetórias 
onde o mesmo se ambienta, suas características e estruturação têm sido diferentes em cada 
país, segundo as configurações individuais dos mesmos (FIORI, 1997). 
O Estado de Bem-Estar Social pode ser mais universalista ou focalizado, mais 
17 
 
privatista ou estatizado, mais residual ou mais generoso na cobertura, assim como na 
diversificação dos benefícios e serviços sociais. Alguns modelos conseguiram reduzir a 
pobreza de forma substancial, de modo a garantir uma renda mínima àqueles que ficaram 
desprotegidos pelo mercado, enquanto outros têm deixado a população pouco protegida. Em 
relação ao financiamento e ao gasto social, as diferenças também podem ser encontradas. Os 
sistemas de proteção social costumam ser financiados por contribuições sociais de 
empregados e empregadores, mas os pesos relativos dessas contribuições, assim como a 
participação do Estado no financiamento do sistema, variam muito ao se analisar diferentes 
grupos de países. No que diz respeito ao gasto social, há uma tendência de elevação desde o 
pós-guerra. 
É necessário pensar o Welfare State menos como a concretização de programas sociais 
democratas oriundos do pós-guerra, e mais como um importante elemento estrutural das 
economias contemporâneas. Então, o próprio conceito de Welfare State seria repensado, 
abrindo espaço para modelos mais ou menos redistributivos, caindo a concepção idealizada 
desse conceito, que associa o termo a resultados socialmente positivos. Na próxima seção, 
iremos observar a classificação dos países em tipologias, o que possibilita uma delimitação 
mais clara do objeto de estudo. 
 
I.2 – Os Regimes de Welfare State 
 
O Estado de Bem-Estar Social pressupõe o reconhecimento do papel do Estado na 
busca do bem-estar dos indivíduos, baseando-se nos direitos sociais dos mesmos. Sua 
implementação nos diversos países, no entanto, obedeceu às especificidades históricas dos 
mesmos, resultando em características diversas. Alguns autores construíram tipologias de 
modo a reunir as várias experiências em alguns padrões básicos, diferenciados por sua forma 
de financiamento, pela extensão e variedade de seus serviços, pelo peso do setor público, pela 
sua forma de organização institucional, etc. 
Neste trabalho, será usada a tipologia estabelecida por Esping-Andersen (1990), que é 
o referencial clássico no debate do tema Welfare State. A análise desse autor coaduna-se aos 
primeiros esforços de classificação de regimes que podem ser vistos em Titmuss (1974). Ao 
abandonar a lógica das pesquisas anteriores, centradas, em sua maioria, nos níveis de despesas 
sociais, a abordagem desses autores transformou os estudos comparativos sobre políticas 
sociais. Esping-Andersen (1990) procurou lidar com uma perspectiva comparativa, partindo 
18 
 
dos conceitos de “desmercantilização” de Polanyi (2000), de “cidadania social” de Marshall 
(1967) e a classificação dos países em modelos ideais típicos de políticas sociais de Titmuss 
(1974). 
Esping-Andersen(1990) propôs a existência de três Regimes de Welfare State, quais 
sejam: Modelo Liberal (Anglo-Saxão), Modelo Conservador (Continental) e Modelo Social-
Democrata (Nórdico). Três características principais são utilizadas para diferenciar os países 
em modelos: o grau de desmercantilização; o mix de provisão de bem-estar através de 
famílias, mercado e Estado; e, por último, a capacidade de modificação da estratificação 
social. 
O quanto a provisão do bem-estar é dependente do mercado indica o grau de 
mercantilização do regime. Já a desmercantilização refere-se à possibilidade de os indivíduos 
obterem um nível socialmente aceitável de vida independentemente da participação no 
mercado. Na proposta do autor, quanto maior o grau de desmercantilização, maior o grau de 
autonomia proporcionada pelas políticas de proteção. Em outras palavras, isso implica 
analisar as políticas sociais tendo como referência o grau de independência que essas políticas 
conseguem garantir aos indivíduos de sobreviverem para além das relações de mercado. 
Outro aspecto importante reside no fato de que a provisão de bem-estar não depende 
somente do Estado e do mercado, há um terceiro mecanismo provedor, que é a família. Cada 
regime estaria baseado em um mix de provisão de bem-estar, articulando esses três atores. 
Além dessas duas características, Esping-Andersen (1990) ressalta que o sistema de bem-estar 
não é apenas um mecanismo que intervém na estrutura de desigualdade; é, em si mesmo, um 
sistema de estratificação. E em que medida esse sistema é capaz de modificar a estratificação 
social o classifica como pertencente a diferentes regimes. 
Para classificar os países em clusters, o autor analisa variáveis empíricas que se 
relacionam às três características principais citadas acima. Em relação à desmercantilização, 
observar as regras de elegibilidade dos programas é fundamental: um programa pode gerar 
uma maior desmercantilização se o acesso aos benefícios for mais fácil e se os direitos 
relacionados a um adequado padrão de vida independerem do emprego, de teste de meios ou 
de contribuição prévia. Além disso, se os programas fornecerem benefícios por um curto 
período de tempo, sua capacidade de desmercantilização é limitada. Uma segunda dimensão 
relacionada à desmercantilização refere-se ao benefício: se o mesmo está substancialmente 
abaixo dos rendimentos normais, insuficiente para a manutenção de um padrão de vida 
considerado adequado ou aceitável na sociedade. O terceiro aspecto importante a ser 
observado refere-se a gama de direitos fornecidos (ESPING-ANDERSEN, 1990). 
19 
 
Esping-Andersen (1990) observou variáveis relacionadas aos benefícios com 
aposentadorias, desemprego e doença para criar um índice de desmercantilização que 
refletisse as três dimensões citadas no parágrafo anterior, a saber: Aposentadoria – valor 
mínimo como percentual dos ganhos habituais de um trabalhador, taxa de reposição das 
aposentadorias, número de anos requeridos de contribuição e percentual do gasto total com 
aposentadorias que é financiado pelos indivíduos; Desemprego e doença - taxa de reposição 
para os benefícios, número de dias de espera para o recebimento e tempo de duração. 
A mensuração do indicador para desmercantilização foi feito a partir da classificação 
do resultado de cada uma das variáveis acima em desmercantilização potencial “alta”, 
“média” ou “baixa”, de modo comparativo, com atribuição de valores a esses rótulos. Por fim, 
para dividir os países em três diferentes grupos, segundo a maior ou menor 
desmercantilização, foi utilizado o desvio-padrão da média desses valores. 
Todos os modelos de Welfare State participam do processo de estratificação social, 
porém o fazem de modo diverso. Para identificar os clusters dos Estados de Bem-Estar Social 
é necessário também olhar para a dimensão da estratificação. Segundo Esping-Andersen 
(1990), os princípios liberais podem ser visualizados em termos de políticas residuais, 
responsabilidade financeira do beneficiário e peso do setor privado na provisão de bem-estar; 
já os princípios corporativos são identificados pelo grau em que o seguro social é diferenciado 
e segmentado em distintas ocupações; enquanto isso, os princípios da social-democracia 
podem ser captados pelo grau de universalismo e igualdade entre os benefícios. 
Para observar a estratificação e o mix entre os agentes provedores de bem-estar, 
Esping-Andersen (1990) procurou observar o quanto as políticas dos diferentes países 
estavam relacionadas aos princípios liberais, corporativos e social-democratas. De modo a 
captar os princípios do liberalismo o autor utilizou as seguintes variáveis: percentual de gastos 
em políticas sociais focalizadas em relação ao gasto social público total, percentual do gasto 
privado em aposentadorias e em saúde em relação aos gastos totais com essas rubricas. As 
variáveis designadas para identificar os princípios conservadores de estratificação foram o 
grau de segregação ou corporativismo mensurado através do número de distintos regimes de 
aposentadorias existentes e o grau de estatismo que mede o gasto em aposentadorias do 
funcionalismo público em relação ao PIB. O universalismo (percentual da população entre 16 
e 64 anos que são elegíveis para benefícios relacionados à doença, desemprego e 
aposentadorias/pensões) e o grau de igualdade na estrutura dos benefícios (média da relação 
entre o benefício básico relacionado às três áreas citadas anteriormente e o benefício máximo 
das mesmas) foram as informações utilizadas para a visualização da presença de princípios da 
20 
 
social-democracia (ESPING-ANDERSEN, 1990). 
O mesmo artifício utilizado para o cálculo do grau de desmercantilização é utilizado 
aqui, mas no intuito de atribuir valores a cada uma das variáveis que são representativas dos 
princípios liberais, corporativos e social-democratas. O autor dividiu os países em três 
clusters segundo a preponderância de cada um desses princípios. Esping-Andesen (1990) 
concluiu pela convergência para com os resultados encontrados no estudo relativo à 
desmercantilização. 
Evidentemente que a tipologia construída por Esping-Andersen (1990), 
empiricamente, encontra situações diversas, na medida em que Estados liberais, por exemplo, 
podem apresentar características conservadores ou social-democratas e vice-versa. Isso 
porque não há uma diferenciação rígida ou bem-definida, visto que a proposta do autor 
baseia-se principalmente em um exercício teórico de comparação de modelos. 
Kerstenetzky (2010) afirma que a contribuição de Esping-Andersen (1990) reside, 
principalmente, em sua conceituação de Estado de Bem-Estar Social mais abrangente do que 
simplesmente contabilizar os programas de transferência de renda e de provisão de serviços 
presentes, permitindo uma compreensão do papel mais abrangente do Estado na economia e 
seus consequentes impactos sobre o bem-estar. A documentação da existência do Welfare 
State passa a ser vista, desse modo, a partir da contribuição do Estado para a 
desmercantilização do bem-estar, a estratificação social e a divisão nas responsabilidades dos 
agentes na provisão de bem-estar. Em síntese, segundo Kerstenetzky (2010), na maioria das 
economias modernas haveria determinado mix de provisão, entre Estado, família e mercado, 
que geraria algum grau de desmercantilização, resultando em determinada estratificação 
social. A idéia é partir de uma análise comparativa a fim de se observar os diferentes tipos de 
Welfare State (KERSTENETZKY, 2010). 
 
I.2.1 – Regime Liberal 
 
O Welfare State liberal é aquele no qual predominam mecanismos de mercado e 
assistência aos comprovadamente pobres, com reduzidas transferências universais e com 
planos de previdência social modestos. O Estado encoraja o mercado subsidiando esquemas 
privados de previdência. Nesse sistema há uma minimizaçãodos efeitos da 
desmercantilização e a construção de uma estrutura de estratificação que é a combinação de 
uma igualdade relativa dos pobres beneficiados pelas ações mínimas do Estado, com uma 
21 
 
gama de serviços diferenciados prestados pelo mercado (ESPING-ANDERSEN, 1990). 
Esse regime concebe os direitos sociais através da comprovação da condição de 
pobreza/indigência e, portanto, não estende plenamente os direitos de cidadania, sendo 
caracterizado pela garantia de determinados níveis de renda e uma moderação dos benefícios, 
devido ao receio de os mesmos levarem a uma falta de incentivo ao trabalho. Assim, quanto 
mais restritivos os testes de comprovação da pobreza, menor o grau de desmercantilização. 
Neste modelo, o progresso da reforma social foi limitado pelas normas tradicionais e 
liberais da ética do trabalho. As regras para a habilitação aos benefícios são, portanto, estritas 
e muitas vezes associadas ao estigma e os benefícios são tipicamente modestos (ESPING-
ANDERSEN, 1990). Aqui, os seguros contributivos de bases atuariais são bem vistos, já que 
os benefícios refletem as prévias contribuições, havendo, em teoria, o incentivo ao trabalho 
(GUERREIRO, 2010). Como a proteção social do Estado concentra-se nos mais pobres, a 
classe média precisa buscar no mercado a provisão de bem-estar, entretanto seu afastamento 
como beneficiária das ações sociais públicas acaba por dificultar expansões do orçamento 
social, visto que essa não irá querer submeter-se a impostos cada vez mais altos, já que não 
faz parte da clientela atendida pelos programas. 
Em linha com seu apoio às soluções de mercado, esse regime favorece um mercado de 
trabalho desregulamentado sob a alegação que esse estimularia o crescimento do emprego, 
ainda que venha acompanhado de elevação da insegurança e desigualdade social. 
O Estado somente intervém quando o mercado impõe demasiadas penas a 
determinados segmentos sociais e onde os canais considerados naturais de satisfação das 
necessidades, ou seja, o esforço individual, a família e o mercado, mostram-se insuficientes. 
Nesta concepção, o mercado funciona como o espaço da distribuição, do que resulta a 
prevalência de esquemas privados e ocupacionais de seguro social. Esse modelo mostra 
possuir algumas características semelhantes à primeira fase histórica da política social
 
e pode 
ser visualizado em países como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e, em menor medida, 
no Reino Unido, onde a organização dos atores sociais era fragmentada, pluralista e não se 
traduziu como força política na formação de seus Estados de Bem-Estar Social (ESPING-
ANDERSEN, 1990). 
Aqui cabe a ressalva do caso Reino Unido, país precursor do universalismo com o 
plano Beveridge. Ainda segundo Esping-Andersen (1990), o universalismo presume uma 
estrutura de classe onde a maioria da população considera um benefício modesto, embora 
igualitário, adequado. Quando isso já não ocorre, com a crescente prosperidade das classes 
trabalhadoras e o aumento da classe média, o universalismo promove um dualismo: aqueles 
22 
 
em melhor situação econômica voltam-se para a provisão privada de bem-estar de melhor 
qualidade, enquanto os mais pobres dependem da provisão pública. Esse parece ser o caso do 
Reino Unido, que apresenta um universalismo mais residual, fazendo com que os mais pobres 
dependam do Estado e a população restante recorra ao mercado. 
 
I.2.2 – Regime Conservador 
 
Nesse regime, os indivíduos têm seus direitos sociais atendidos pelo Estado 
principalmente a partir de sua ocupação econômica. Observamos aqui uma preservação no 
diferencial do status ocupacional, sejam entre os setores de atividades ou as posições nas 
ocupações ou, ainda, nas diferenciações presentes entre o setor privado e o público 
(KERSTENETZKY, 2010). Nesses casos, prevalece o princípio de que o Estado só intervém 
quando a família falha. A ênfase estatal na manutenção das diferenças de status acaba por 
reduzir os impactos da redistribuição, já que o modelo reflete em grande medida a 
estratificação presente no mercado de trabalho. 
De acordo com Esping-Andersen (1990), embora o regime Conservador apresente um 
sistema previdenciário bastante amplo, sua capacidade de intervenção na desmercantilização 
pode ser, em parte, comprometida, pois não é a presença de um direito social, mas suas regras 
e pré-condições que determinam a extensão em que os programas de bem-estar social 
oferecem alternativas à dependência em relação ao mercado. O modelo é baseado, 
principalmente, em transferências. Porém, seus benefícios, como aposentadoria, por exemplo, 
são, em regra, proporcionais à contribuição efetuada, não guardando relação imediata com as 
necessidades do beneficiário. Este modelo acaba por excluir da proteção exatamente os 
grupos mais necessitados que são os que estão à margem do mercado formal de trabalho. Por 
conseguinte, parece não se observar uma pretensão de alteração na hierarquia de classes, mas, 
sim, sua reprodução. 
A incorporação da classe média na provisão pública de bem-estar nesse regime ocorre 
de modo bastante heterogêneo, visto que é dependente da posição que cada grupo ocupa no 
mercado de trabalho e os benefícios, de modo geral, necessitam de prévia contribuição. 
Com exceção parcial da França e da Bélgica, devido ao considerável poder de 
barganha que os sindicatos possuem na vida social desses países, esse regime assume que para 
aqueles que estão fora do mercado de trabalho, a família é a principal provedora de bem-estar. 
Políticas que ajudam a conciliar a maternidade e elevar a taxa de participação feminina no 
23 
 
mercado de trabalho são relativamente pouco desenvolvidas. Além disso, o papel do Welfare 
privado é marginal, principalmente, porque a seguridade social oferece extensos benefícios e 
uma cobertura ampla para a população empregada, mas também devido ao alto custo do 
emprego nesses países, fazendo com que os preços de serviços privados sejam 
demasiadamente elevados (ESPING-ANDERSEN; MYLES, 2009). 
Como o mercado assume uma posição marginal na geração do bem-estar, há alguma 
promoção de desmercantilização. A característica principal do sistema, o papel central que 
ocupam as políticas previdenciárias, é complementada por políticas residuais voltadas para os 
segmentos de inclusão mais precária no mercado de trabalho. Além disso, uma parte 
significativa da atenção à saúde e outros serviços de cunho assistencial são desenvolvidos por 
setores com fins não-lucrativos da economia. 
A forte regulamentação do mercado de trabalho e os altos custos relacionados ao 
trabalho têm influenciado os padrões de emprego de várias maneiras nesse regime: a taxa de 
desemprego entre os jovens é muito alta, com exceção da Alemanha, quando comparamos 
com a taxa de desemprego para toda a população, o que é justificado pelo fato de que a 
obtenção do primeiro emprego é muito difícil; a taxa de emprego feminino tem permanecido 
baixa quando comparada aos países nórdicos devido, por exemplo, à falta de políticas 
incentivadoras à expansão da taxa de participação feminina no mercado de trabalho; e, além 
disso, a antecipação de aposentadorias tem sido usada como um veículo para retirar do 
mercado de trabalho os trabalhadores mais velhos, reduzindo as taxas de emprego e 
aumentando os gastos com pensões (ESPING-ANDERSEN; MYLES, 2009). 
Diante da elevação na dificuldade de se conseguir um emprego e da vulnerabilidade 
nos postos de trabalho, os cidadãos enfrentam problemas em acumular créditos suficientes 
para suas pensões. Com o intuito de contornar esse déficit, o imposto sobre os postos de 
trabalho está aumentando e isso ajuda a manter os trabalhadores mais jovens e menos 
produtivos fora do mercado, já que a contratação de um trabalhador torna-se mais cara. 
Assim, há uma forte proteção trabalhista combinada comenormes barreiras para a entrada no 
mercado de trabalho, que tem criado, em muitos países, abismos entre os privilegiados que se 
encontram no mercado de trabalho e os demais (ESPING-ANDERSEN; MYLES, 2009). 
Em síntese, esse modelo caracteriza-se por vincular estreitamente a ação protetora do 
Estado ao pertencimento a determinados grupos. Prepondera na Europa continental 
(Alemanha, Áustria, França, Bélgica e Holanda) como resultante de vigorosa tradição 
corporativista e representação política e partidária dos atores sociais. Este modelo é o que 
apresenta maior heterogeneidade entre os diversos países que dele fazem parte. 
24 
 
I.2.3 – Regime Social-Democrata 
 
O terceiro tipo apontado por Esping-Andersen (1990) é o Social-Democrata, onde há o 
maior grau de desmercantilização. Este regime está assentado no princípio da solidariedade, e 
é marcado por políticas universalistas, onde se busca garantir direitos idênticos. Todas as 
camadas da população são incorporadas ao sistema de proteção social, com benefícios de 
acordo com os ganhos habituais, e não residuais ou condicionados à contribuição prévia, 
como nos modelos liberal e conservador, respectivamente. Nesse modelo, a política visa não 
apenas emancipar o indivíduo do mercado, mas também retirar da família tradicional as 
responsabilidades de garantia de bem-estar, motivo pelo qual o Estado atua antes da família, e 
não subsidiariamente como no sistema conservador. O ideal não é maximizar a dependência 
da família, mas capacitar a independência individual. Portanto, busca-se, ao máximo, 
“desfamiliarizar” as responsabilidades sobre o bem-estar pessoal, através de serviços públicos 
de ponta e de uma provisão privada de bem-estar apenas marginal. 
O Welfare State Social-Democrata objetiva a promoção da igualdade entre seus 
indivíduos baseando-se em elevados padrões de qualidade, de forma diversa do modelo liberal 
que se baseia em uma igualdade das necessidades mínimas: os benefícios refletem o mínimo 
necessário à sobrevivência, de modo a não encorajar o distanciamento do mercado de 
trabalho. A montagem desse regime está intimamente relacionada à inclusão da classe média 
em sua clientela, elemento fundamental para a sustentação de uma base tributária extensa que 
permita os gastos relacionados a seu regime de bem-estar. A busca do pleno emprego está no 
cerne da expansão e manutenção das políticas desse regime, o que explica sua importância, já 
que os altos custos relacionados a um sistema assim só podem ser cobertos com o maior 
número possível de pessoas trabalhando e com o mínimo possível vivendo a partir de 
transferências. As características mais importantes desse modelo são: as garantias de renda 
universais; políticas ativas de emprego; e prestação de serviços desenvolvidos, o que ocasiona 
uma extensa rede de segurança contra os riscos sociais (ESPING-ANDERSEN, 2002). 
Nos anos mais recentes, os países nórdicos passaram a dar ênfase nos gastos em 
serviços de cuidado (principalmente em creches e cuidados com idosos) e nas políticas ativas 
de mercado de trabalho. O serviço de creches de qualidade, além de permitir a ativação das 
mulheres no mercado de trabalho, tem um papel fundamental na redução da transmissão da 
desigualdade entre gerações (KERSTENETZKY, 2010). Além disso, pode-se dizer que se 
trata de um Welfare State serviço-intensivo: Ao retirarmos a rubrica saúde, os serviços sociais 
25 
 
são responsáveis por quase 20%, em média, do gasto público no interior do regime, frente a 
uma média de aproximadamente 5% para os países da OECD. 7 
Assim, no Regime Social-Democrata, compete ao Estado a produção e a distribuição 
de serviços extra-mercado, em grande parte financiados por impostos gerais e dirigidos a 
todos os cidadãos. O aspecto inovador desse regime relaciona-se ao fato de o acesso aos 
direitos sociais não depender da comprovação da pobreza ou do desempenho no trabalho. A 
elegibilidade resulta apenas do fato de o indivíduo ser um cidadão. Em virtude disso, esse 
regime de proteção social possui um grande potencial de reduzir a dependência do indivíduo 
em relação ao mercado. Esse modelo de sistema de proteção social é predominante nos países 
escandinavos. 
 
QUADRO 1.1: RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DOS REGIMES 
Regime Liberal Conservador Social-Democrata 
Funções dos Agentes 
Família Marginal Central Marginal 
Mercado Central Marginal Marginal 
Estado Marginal Subsidiário Central 
Características 
Unidade Social de Solidariedade Mercado Parentescos, Corporações e Estado Estado 
Grau de Desmercantilização Mínimo Alto (Trabalhadores Chefes de Família) Máximo 
Paradigma EUA Alemanha Suécia 
Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Esping-Andersen (2002). 
 
O Quadro 1.1, acima, resume o exposto até o momento sobre a tipologia estabelecida 
por Esping-Andersen (1990) e ratificada pelo mesmo autor em trabalho de 2002. O modelo 
liberal centra-se no papel do mercado, provendo um mínimo de desmercantilização; enquanto 
isso, os conservadores atribuem à família o papel principal de garantia de bem-estar, caindo 
sobre o Estado um papel secundário de auxiliar quando a família e o mercado não o fazem; já 
o regime social-democrata promove um alto grau de desmercantilização, através do papel 
central exercido pelo Estado. 
 
 
 
 
 
7
 Dados de Esping-Andersen & Myles (2009). 
26 
 
I.2.4 – Comparando os Regimes de Welfare State 
 
Mesmo com as diferenças institucionais, o regime social-democrata e o conservador 
convergem em termos de nível de gasto social público total, como será visto no próximo 
capítulo. As distinções dos regimes são mais acentuadas quando examinamos o papel do 
welfare privado (5% do gasto social é de responsabilidade do setor privado no regime social-
democrata frente a 8% no conservador), a intensidade do serviço social (35% diante de 26%, 
respectivamente) e o grau de focalização (34% dos social-democratas frente a 30% dos 
conservadores), conforme os dados das tabelas 1.1 e 1.2, abaixo. Também podemos capturar 
as diferenças através do exame da generosidade e distribuição de transferências de renda para 
as famílias. Nos países nórdicos, por exemplo, a transferência média de renda era igual a 18% 
da renda mediana das famílias, comparado aos 14% na Grã-Bretanha, no fim da década de 
1990 (FRITZELL, 2000). Além disso, quando nós excluímos a população mais idosa, a 
convergência desaparece e o modelo conservador fica mais próximo do liberal. Ou seja, pode-
se dizer que esse modelo tem um viés pensionista. Essas distinções entre os três regimes 
podem ser mais bem visualizadas quando analisamos os dados das tabelas 1.1 e 1.2, abaixo: 
 
TABELA 1.1: PERFIL DOS GASTOS NOS TRÊS REGIMES DE BEM-ESTAR 
 
Gasto Social Público 
(%GDP)1 
Gasto Privado como 
% do Gasto Social 
Serviços não-saúde 
como % do Gasto 
Público Total 
% de Transferências para 
Primeiro Quintil2 
Liberal 19 19 4 43 
Conservador 26 8 5 30 
Social-democrata 25 5 18 34 
Fonte: Esping-Andersen & Myles (2009, p. 649) – (cálculos a partir de Adema and Ladaique (2005: Table 6) e Forster & 
d_Ercole (2005)); Kerstenetzky (2010). 
1- Dados referem-se ao gasto social líquido. 
2 - Exclui domicílios aposentados. 
 
A análise da tabela 1.1, acima, nos permite perceber que, apesar de os regimes 
conservador e social-democrata possuírem gastos sociais similares, quando observamos a 
intensividade na aplicação de recursos em serviços (educação, saúde, habitação, políticas de 
promoção do emprego, organização agrária, etc), excetuando a saúde que representa uma 
rubrica que consome recursos crescentes em todos os modelos, consequência do 
envelhecimento populacional, percebe-se a preponderância dos países nórdicos. Além disso, 
através da observação databela 1.2, abaixo, vemos que um maior gasto em serviços está 
relacionado a uma maior redução da desigualdade, o que ajuda a explicar os melhores 
resultados do modelo social-democrata na tabela 1.3. 
27 
 
TABELA 1.2: IMPACTO DOS SERVIÇOS NA REDUÇÃO DA DESIGUALDADE ENTRE OS 
DOMICÍLIOS: MÉDIA DOS REGIMES 
 
Gasto em Serviços (% 
Renda Disponível) 
% Redução na Desigualdade 
da Renda Disponível 
% Redução da 
Desigualdade Excluindo 
Saúde e Educação 
Liberal 24 24 4 
Conservador 26 24 3 
Social-democrata 35 37 16 
Fonte: Esping-Andersen & Myles(2009, p. 654) - (cálculos a partir de Marical et.al. (2006: Table A9)); Kerstenetzky (2010). 
 
Também é possível observar as diferenças nos regimes quando nos atemos às políticas 
de mercado de trabalho. No modelo liberal, somente 0,27% do PIB é gasto com políticas 
ativas, relacionadas à promoção do emprego, como, por exemplo, políticas de qualificação 
profissional e intermediação de mão-de-obra, frente a 0,28% com passivas, representadas 
principalmente por políticas de benefícios aos desempregados. Já no regime da Europa 
Continental, é gasto 0,95% do PIB, diante de um gasto de 1,50% com políticas passivas. Por 
sua vez, os países Nórdicos gastam, em média, 0,96% e 1,00% com políticas ativas e passivas 
no mercado de trabalho, respectivamente.8 Segundo Kerstenetzky (2010), entretanto, é 
necessário diferenciar as políticas de ativação entre aquelas que ampliam as oportunidades de 
escolha dos indivíduos e as que podem, simplesmente, estar mantendo o indivíduo em um 
emprego pouco produtivo e que proporciona baixa realização pessoal e profissional. A ideia 
subjacente às políticas de ativação está pautada no aumento das possibilidades do indivíduo 
acessar o mercado de trabalho. No caso de as transferências governamentais estarem 
condicionadas à ocupação de postos de trabalho, mesmo que precários, as políticas ativas não 
estarão cumprindo seu papel de aumentar taxas de emprego, já que a rotatividade nesses 
postos será elevada, além de, provavelmente, estarem associados a baixas remunerações, que 
contribuiriam para o achatamento dos salários. 
De acordo com Kerstenetzky (2010), é principalmente a partir da observação dos 
resultados que melhor podemos vislumbrar as “opções em jogo”. Se nos concentramos nos 
resultados, também poderemos notar uma diferenciação por regime. A Dinamarca, por 
exemplo, apesar do uso de princípios de mercado dentro do segmento público de provisão de 
bem-estar e do aumento da participação privada na prestação de serviços sociais, não reduziu 
o universalismo ou a responsabilidade pública. Esse país continua a possuir um dos melhores 
resultados em termos de redução de pobreza e desigualdade. Em 2008, por exemplo, a 
população sob risco de pobreza após as transferências sociais era de 12% na Dinamarca frente 
a 18% no Reino Unido (SEELEIB-KAISER, 2008). Já entre os países do sul da Europa, o 
aumento da provisão pública de serviços não retirou a responsabilidade da provisão de bem-
 
8
 Dados da OECD Statistics para 2007. 
28 
 
estar da família (KERSTENETZKY, 2010). 
 
TABELA 1.3: COEFICIENTE DE GINI E PERCENTUAL DE POBRES 
 Coeficiente de Gini Percentual de Pobres1 
Países 1980 1990 2000 1980 1990 2000 
Regime Liberal 0,31 0,33 0,34 11,6% 11,4% 12,1% 
Estados Unidos 0,34 0,36 0,38 17,9% 16,7% 17,1% 
Reino Unido 0,33 0,35 0,34 - 10,9% 8,3% 
Austrália - 0,31 0,30 - 11,4% 12,4% 
Canadá 0,29 0,28 0,32 10,7% 9,5% 12,0% 
Nova Zelândia 0,27 0,34 0,34 6,2% 8,4% 10,8% 
Regime Conservador 0,27 0,27 0,28 8,8% 8,1% 8,2% 
França 0,31 0,28 0,28 8,3% 7,5% 7,1% 
Alemanha 0,26 0,27 0,30 6,3% 8,5% 11,0% 
Bélgica 0,27 0,29 0,27 14,6% 10,8% 8,8% 
Áustria 0,24 0,24 0,27 6,1% 7,4% 6,6% 
Holanda 0,26 0,28 0,27 - 6,3% 7,7% 
Regime Social-Democrata 0,22 0,23 0,25 5,2% 5,1% 6,2% 
Dinamarca 0,22 0,21 0,23 6,0% 4,7% 5,3% 
Suécia 0,20 0,21 0,23 3,3% 3,7% 5,3% 
Noruega 0,23 0,26 0,28 6,4% 7,1% 6,8% 
Finlândia 0,21 0,23 0,27 5,1% 4,9% 7,3% 
1 – Considera como pobres aqueles que auferem até 50% da renda mediana corrente. 
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da OECD Statistics. 
 
Na tabela 1.3, acima, pode-se observar o coeficiente de Gini e o percentual de pobres, 
após impostos e transferências, para países pertencentes aos três regimes citados. A análise da 
tabela nos permite concluir que os países com menor concentração de renda e o nível de 
pobreza mais baixo são os pertencentes ao regime social-democrata, seguidos do regime 
conservador e, por último, do regime liberal. Porém, é válido ressaltar que mesmo no interior 
dos próprios regimes há certa variância nos resultados: Alguns países foram mais efetivos no 
combate à pobreza e desigualdade que outros, lembrando que dentro dos regimes não há uma 
total homogeneidade de políticas, pois ainda que classificados a partir de características gerais 
em determinadas tipologias, cada país possui suas especificidades, segundo as configurações 
individuais dos seus Welfare States. 
Apesar da tipologia de Esping-Andersen (1990) ser um instrumento convincente para 
descrever e explicar diferenças entre os países, a mesma tem sido criticada em vários níveis. 
Por exemplo, alguns acham que os Estados de Bem-Estar mudaram bastante nos anos 1990 e 
que os três regimes identificados por Esping-Andersen (1990) começaram a convergir 
29 
 
(GILBERT, 2002). Outros argumentam que esses regimes ignoram as especificidades do 
sistema de segurança social dos países mediterrâneos (FERRERA, 2009; LEIBFRIED, 1992). 
Há, ainda, os que argumentam que essa tipologia é demasiadamente restritiva, baseada em 
programas de transferência de renda que tem como pilar a figura do homem provedor e carece 
de um tratamento referente ao gênero para examinar como diferentes regimes de proteção 
social afetam as mulheres e a vida familiar (O'CONNOR, 1993; SAINSBURY, 2001). 
Procurando responder às críticas, principalmente as que se referem ao papel da família 
(como deixar de fora importantes relações como o papel da mulher e a 
reprodução/contestação do poder patriarcal), Esping-Andersen (1999) buscou incorporar o 
conceito de desfamiliarização enquanto categoria de análise nos regimes de proteção social. A 
desfamiliarização pressupõe a redução das dependências familiares em relação à proteção e ao 
bem-estar. Dessa forma, quanto menor o grau de familiarização, maior a capacidade de as 
mulheres realizarem escolhas individuais, por exemplo. Um sistema é familista se a sua 
política pública pressupõe que a família é o primeiro responsável pelo bem-estar dos seus 
membros. O conceito de desfamiliarização é paralelo àquele de desmercantilização (ESPING-
ANDERSEN, 1999). 
Em um Welfare social-democrata, as políticas familiares enfatizam um papel forte do 
governo, ressaltando o objetivo da equidade de gênero e o bem-estar da criança. Devido a 
suas generosas políticas sociais, tais regimes apresentam o maior grau de desfamiliarização, 
que possuem impacto na participação feminina no emprego e, por conseguinte, na sustentação 
do próprio Estado de Bem-Estar Social. Em países da Europa Continental, muitas das 
políticas desencorajam o trabalho feminino, apresentando, desse modo, um nível modesto de 
desfamiliarização. Já no que concerne ao modelo liberal, observa-se o menor nível de 
desfamiliarização, resultado do baixo investimento em políticas de cunho familiar. 
Diversas outras tipologias foram estabelecidas por outros autores, como por exemplo, 
a de Korpi & Palme (1998), que estrutura a classificação em 5 tipologias, a saber: Basic 
Security – o direito se baseia na contribuição ou na cidadania. O modelo se assemelha às 
ideias de Beveridge; Corporatist – os programas são dirigidos para a parte economicamente 
ativa da população. A elegibilidade é baseada emuma combinação de contribuições e 
pertencimento a determinadas categorias profissionais. Os benefícios são claramente ligados 
às remunerações, mas os direitos e as regras podem diferir significativamente entre os 
programas de diferentes categorias profissionais; Encompassing – direitos baseados na 
cidadania e na participação na força de trabalho. Combina ideias de Bismarck e Beveridge em 
um novo padrão. Programas universais abrangendo todos os cidadãos são combinados com 
30 
 
benefícios claramente relacionados aos salários; Targeted – a elegibilidade é baseada em 
testes de meios, resultando em benefícios mínimos e relativamente semelhantes para aqueles 
abaixo de uma linha de pobreza; Voluntary State Subsidized – elegibilidade baseada na adesão 
ou contribuição. Os direitos baseiam-se em contribuições voluntárias e tem sido mais 
importantes para os trabalhadores qualificados e para a classe média. 
Entretanto, o desenvolvimento de tipologias para o entendimento das especificidades 
dos diversos regimes não resultou em modelos tão divergentes do proposto por Esping-
Andersen (1990). Além disso, a tipologia proposta por esse autor tem sido submetida a um 
número considerável de testes empíricos ao longo dos anos. E trabalhos recentes têm 
confirmado a resistência dessa tipologia9. A divisão em regimes retrata tipos ideais e está 
marcada pela formação política dos Welfare States. Na prática, porém, há casos um pouco 
mais híbridos, como, por exemplo, a Holanda e a Dinamarca10. Ocasionalmente, é feita, 
inclusive, menção a um chamado Modelo Mediterrâneo, mas são Estados que podem ser 
considerados como pertencentes ao modelo conservador, diante de suas características, 
guardada as especificidades e a heterogeneidade característica desse modelo. 
Em síntese, o que se pode apreender, é que a tipologia estabelecida por Esping-
Andersen (1990) não é algo rígido e pré-determinado. O autor parte de análises comparativas 
entre os países e obviamente encontra limitações, em parte resultantes, inclusive, do próprio 
exercício de classificação de algo tão complexo. 
Kenworthy (2004), ao observar mais diretamente a efetividade dos diferentes Estados 
de Bem-Estar Social, confirma essa tipologia por meio da investigação de indicadores de taxa 
de emprego, desigualdade e situação dos mais pobres. Como Kerstenetzky (2010) colocou, 
“não apenas os países se agrupam nos clusters indicados por Esping-Andersen, como a 
vantagem dos Welfares Social-Democrata é confirmada nas três dimensões de efetividade” 
(KESTENETZKY, 2010, p.10), como se pode observar no quadro 1.2, abaixo: 
 
QUADRO 1.2: EFETIVIDADE DOS REGIMES1 
 Taxa de Emprego Desigualdade Renda dos 10% mais pobres 
Liberal Alta Alta ** Moderada 
Conservador Moderada* Moderada Moderada 
Social-Democrata Alta Baixa Alta 
Fonte: Kerstentzky (2010). * Exceção: Holanda = alta; **Exceção: Austrália e Canadá= moderada. 
1 – Para maior detalhamento, observar o Anexo B. 
 
 
9
 Ver Kenworthy (2004); Kerstenetzky (2010); Doyle e Timonen (2007). 
10
 Ver Kerstenetzky (2010). 
31 
 
Ainda é válido observar que, para ROTHGANG et al. (2006 apud KERSTENETZKY; 
2010), parece haver uma redução na variância entre países quando se considera um conjunto 
conciso de políticas nos últimos anos. Entretanto, esse movimento não foi capaz de cancelar 
as diferenças institucionais que permanecem entre os regimes, segundo Kerstenetzky (2010). 
 
I.3 – Conclusão 
 
Em resumo, este capítulo tentou elucidar uma definição operacional de Welfare State, 
visto como um conjunto articulado de políticas e instituições que transparecem o 
reconhecimento da responsabilidade pública sobre o bem-estar, uma vez que esse não poderia 
ser alcançado tão somente pelas instituições de uma economia de mercado. E apesar de 
políticas para os pobres serem observadas em fases anteriores, elas estavam relacionadas à 
manutenção da ordem pública e ao disciplinamento em relação ao trabalho, não possuindo, 
portanto, um objetivo de garantia do bem-estar, retirando, por vezes, de seus beneficiários 
direitos de cidadania política, como contrapartida (KERSTENETZKY, 2010). Além disso, 
buscou-se ressaltar a classificação dos países em regimes de Welfare State, segundo o grau de 
desmercantilização, estratificação e mix entre os agentes na provisão de bem-estar, conforme 
analisado por Esping-Andersen (1990). 
Os três regimes de Welfare State concebem de modo diverso as responsabilidades da 
proteção social, cujos “pilares” condizem com a divisão de responsabilidades entre mercado, 
família e Estado. Numa perspectiva liberal de proteção social, o mercado é tido como o 
principal recurso de provisão, visto que a maioria dos cidadãos deveria obter uma renda que 
possibilitasse o sustento através da venda da força de trabalho. Na concepção conservadora, o 
Estado deve entrar em cena quando a família e o mercado falham, ou seja, quando os 
indivíduos não conseguem, por mérito e inserção do mercado de trabalho, garantir um padrão 
digno de sobrevivência. Os social-democratas, por outro lado, são os defensores das soluções 
coletivas e reconhecem que o mercado e a família são canais insuficientes de proteção social, 
sendo, inclusive, os principais causadores das desigualdades sociais. Enquanto os liberais têm 
como propósito garantir a capacidade individual de inserção no mercado, mesmo que isso 
implique uma maior desigualdade social, os social-democratas defendem maior 
desmercantilização, igualdade e segurança social contra riscos. Os conservadores, por sua vez, 
baseiam-se no princípio da subsidiaridade do Estado, cabendo à família um papel central na 
proteção social. 
 
32 
 
CAPÍTULO II – INDICADORES DO WELFARE STATE 11 
 
 
O objetivo deste capítulo é identificar os indicadores que podem ser usados para 
analisar e acompanhar o desenvolvimento dos diferentes regimes de bem-estar social. A partir 
de então, será possível não apenas visualizar efetivamente a diferenciação entre os países 
pertencentes a diferentes modelos, mas utilizar-se desses indicadores para observar o modelo 
brasileiro, no próximo capítulo. Para isso, o capítulo está subdividido em mais sete seções, 
além desta introdução: a primeira observa o tamanho e a composição do gasto público social, 
que se relaciona com o tamanho e prioridades da provisão de proteção social; a segunda, 
terceira e quarta seção analisam indicadores referentes à educação, saúde e mercado de 
trabalho, respectivamente, diante da importância que essas três rubricas assumem no mundo 
moderno; indicadores relacionados à desigualdade e pobreza são visualizados na quinta seção, 
refletindo a efetividade das políticas adotadas; o sexto tópico coloca em pauta o suposto 
trade-off existente entre crescimento econômico e equidade, discussão recorrente quando se 
fala em redução da desigualdade; e, para finalizar, faz-se uma retomada das principais 
conclusões do presente capítulo. 
A base real para a criação dos Estados de Bem-Estar Social é a intenção de responder 
às necessidades dos indivíduos e garantir um mínimo de bem-estar para a população. Os 
diferentes cursos de desenvolvimento e as condições nacionais específicas impedem que os 
países compartilhem estruturas idênticas de provisão de bem-estar social. Portanto, é preciso 
reforçar que a classificação em regimes utilizada neste trabalho baseia-se em uma análise 
empírico-comparativa, ou seja, não é uma classificação rígida ou bem definida, como já foi 
explicitado no capítulo anterior. 
 
II.1 – Gasto Social Público12 
 
Vários estudos na área social alicerçam sua análise, principalmente, no tamanho do 
montante total da despesa pública no setor. Não se pode negar a importância desse indicador, 
no entanto o mesmo não deve ser considerado representativo para o sistema

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