Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 NEUROEPISTEMOLGIA E APLICAÇÕES EDUCACIONAIS (Texto para o EVENTO, 12/05/2017. Prof. Dr. ALVINO MOSER INTRODUÇÃO A aprendizagem é uma atividade que se processa em primeira pessoa, ou como observa Eduardo Chaves (1999), “para dentro do indivíduo”. Ou em outros termos, não são as tecnologias ou a Internet que ensinam, é o indivíduo que aprende. Esta abordagem é designada como construtivista, pois enfatiza que a construção de um novo conhecimento e as maneiras de pensar mediante a exploração e a manipulação ativa de objetos e ideias, tanto abstratas como concretas, são desenvolvidas e adquiridas pelas trocas que o indivíduo realiza com o meio. Nessa perspectiva cabem o racionalismo cartesiano, o idealismo kantiano e teorias assemelhadas, como a de Descartes também é dualista: res cogitans. Do mesmo modo Kant. Os epistemólogos clássicos não se interessaram em saber o que se passa no cérebro quando as pessoas conhecem ou aprendem. Ficam no exterior ou na pele. São construções racionais de ordem subjetiva. Haveria ou uma espécie de homúnculo (conforme figura 01, abaixo) no interior do homem que organiza as informações dos sentidos e as categorizações, ou o cérebro seria uma espécie de computador operando softwares. Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOSTA PERGUNTA 1.nullNEUROCIÊNCIA E PSICOLOGIA COGNITIVA... ALTERNATIVA A Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOSTA PERGUNTA 2.nullPARA O EDUCADOR ANTONIO NÓVOA...nullALTERNATIVA A 2 Figura 1 – homúnculo motor 1 NEUROEPISTEMOLOGIA E APRENDIZAGEM A alternativa evidente consiste em construir uma teoria científica capaz de reconciliar as contradições e os dilemas aparentes. É claro para que uma teoria do desenvolvimento das funções cerebrais superiores seja satisfatória, deve evitar o apelo a homúnculos e a eletricistas ou programadores de softwares em todos os níveis1. A epistemologia, nos próprios termos empregados por EDELMAN (2007) é o ramo da filosofia que se interessa pela natureza, pela extensão e pelas origens do conhecimento. Em síntese, é a teoria do conhecimento2. A palavra EPISTEME, que é diferente da opinião, e que significa “saber comprovado”. Então, EPISTEMOLOGIA pode ser o “estudo do conhecimento” ou o “estudo das ciências”. Entre as muitas definições de epistemologia citamos a de PIAGET (1967): “É o estudo da constituição dos conhecimentos válidos, o termo 1 EDELMAN, Gerald. La Science du Cerveau et la Connaissance. Paris: Odile Jacob, 2007 p. 47. 2 EDELMAN, Gerald. La Science du Cerveau et la Connaissance. Paris: Odile Jacob, 2007, p.59. Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOSTA PERGUNTA 3null EPISTEMOLOGIA nullALTERNATIVA Bnull 3 “constituição” recobre ao mesmo tempo as condições de acesso e as condições propriamente constitutivas”.3 As epistemologias clássicas geram dilema, conforme Edelman4, porque são postas em cheque quando afirmam “que o comportamento dos animais dotados de cérebros complexos pode ser explicado apenas pela noção de aprendizagem”5. Como é que os homens podem reconhecer os fatos e os objetos do mundo que não são etiquetados ou rotulados? Como podem classificá-los em categorias e, em seguida, fazer generalizações? Como podem aprender com a ajuda de um professor? Como é que podem, em seguida, generalizar e construir conceitos universais na ausência desses objetos? Como ainda não se fundaram cientificamente de modo definitivo, as bases da consciência, e do conhecimento no cérebro, essa questão ficou por conta da filosofia. Diante dessa constatação, Edelman empreende o estudo da neuroepistemologia. Com a introdução de instrumentos de pesquisa e de análise do cérebro, isto é, com a Ressonância Magnética funcional (RMF) e, sobretudo, pela Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET), os cientistas têm condições de examinar em tempo real e diretamente o que se passa cérebro de uma pessoa quando está ouvindo, lendo, estudando, falando ou resolvendo problemas, conforme mostra a figura 02, abaixo. 3 PIAGET, Jean. Logique et connaissance scientifique. ENCYCLOPÉDIE DE LA PLÉIADE. Paris: Gallimard, 1967.p.6. 4 EDELMAN, Gerald. Biologie de la conscience. Paris: Odile Jacob, 1994, pp. 46-48. 5 EDELMAN, 2007, p. 46. 4 Figura 02 - Tomografia por emissão de pósitrons (PET) A neuroepistemologia, como a palavra o indica, analisa pela ótica das ciências neurológicas ou neurociências cognitivas os fenômenos e atividades que ocorrem no cérebro durante o processo de criação de um novo conhecimento. Gostaríamos de fundar a epistemologia sobre os resultados cientificamente certificáveis, mas gostaríamos também de avaliar a pertinência ou não pertinência dos fundamentos neurais desses resultados6., e nisso incluindo os aspectos da subjetividade de base neural numa análise do conhecimento humano7. A partir da hipótese de que se dispõe de uma teoria científica satisfatória da consciência e do conhecimento fundada na atividade do cérebro, a neuroepistemologia oferece as seguintes vantagens: afastam-se os dualismos, panpsiquismos, e outras teorias assemelhadas e proporciona meios para melhor compreender e tratar as questões relativas ao ensino e aprendizagem. 6 EDEMAN, 2007,p.67 7 Idem, p.22. Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOSTA PERGUNTA 4nullNEUROPISTEMOLOGIAnullALTERNATIVA A 5 COMO OCORRE A CRIAÇÃO DE UM NOVO CONHECIMENTO. Edelman8 explica a ocorrência do conhecimento pela teoria do darwinismo neural ou pela TEORIA DA SELEÇÃO DE GRUPOS DE NEURÔNIOS (TSGN). O cérebro do homem evoluído é constituído por cerca de 100 bilhões de neurônios que se conectam em mais de 100 trilhões de sinapses, conforme mostra, de forma figurada, a figura 03 abaixo. O cérebro é um sistema complexo auto-organizado e estruturado de várias partes que tem condições de coordenar o que o corre em todas essas diferentes partes, conforme mostra a figura 04, abaixo. Figura 03 – Representação esquemática do cérebro O resultado final desta coordenação é a categorização perceptiva – a saber, o recorte do mundo das entradas em objetos reconhecidos pelos diversos grupos neuronais e pela consciência, 8 EDELMAN. G. e TONONI, Giulio. Comment la matière devient conscience. Paris: Odile Jacob, 2000. Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOSTA PERGUNTA 6nullV.F.V.V nullALTERNATIVA E.nullA SEGUIR GRIFOS DAS RESPOSTAS. 6 conforme se apresentam pela percepção. O cérebro efetua reconhecimento das estruturas9. Para ele (Darwin), categorias poderiam resultar da seleção operada a partir da população de indivíduos diversos – isto é, tendo características diversas. [...] A ideia extraordinária de Darwin era que esta variação no seio de uma população não é precisamente ruído, mas servia pelo contrário para a seleção e para a sobrevivência possível10. EDELMAN (2007) sugere a hipótese de que os animais e os homens nascem com um repertório de neurônios. Estes reagem entre si modificando-se e gerando a diversidade de novas interações possibilitando e a emergência da consciência, logo do conhecimento. O repertório dos circuitos anatômicos formado reage como o meio ambiente provocando uma seleção experiencial modificando a força das sinapses existentes na anatomia do cérebro11, conforme mostra a figura 05, abaixo. Figura 05 – Representaçãoesquemática de uma seleção experencial 9 EDEMAN, 2007, p.32-33. 10 Idem, p. 39. 11 Idem, pp. 41-42. Sueli Highlight 7 As conexões e interações entre os neurônios e as sinapses são reguladas por meio de sistemas que são os diversos neurotransmissores. A dopamina que se encontra nos gânglios da base e no tronco cerebral, cuja liberação age como um sistema de recompensa favorecendo a aprendizagem. A serotonina governa o humor; a acetilcolina pode alterar os limiares de vigília e de sono. A combinação da atividade desses sistemas de valor, os neurotransmissores, conjuntamente com as modificações da seleção sináptica em redes específicas dos grupos de neurônios governa o comportamento. A recompensa acarretada pelo viés dos sistemas de valores determina as categorias de comportamento e de ação dos indivíduos12. Os sistemas de valor13 consistem em redes neurais ascendentes dispersas que modulam as respostas sinápticas liberando com abundância neuromoduladores ou neurotransmissores. Exemplo: a dopamina14. Nossos cérebros são exemplos perfeitos de sistemas selecionistas. Segundo esta teoria, a lembrança de tal evento é uma propriedade de sistema dinâmico no qual o reforço e enfraquecimento sináptico favorecem os rearranjos de certos circuitos do objeto original. Mas então, o sinal não vem do objeto original. Há antes estimulação, no seio do cérebro de um sujeito, circuitos reentrantes para proporcionar uma imagem ou um pensamento do objeto por relembrança. Nesse caso, a imagem é convocada porque o cérebro se fala a si mesmo. A memória, que é uma recategorização influenciada pelos sistemas de valor, troca a precisão extrema pelo poder de associação15. Não se pode deduzir da evolução selecionista que o cérebro, enquanto estrutura fundamental para a elaboração do conhecimento foi concebida para o conhecimento. A evolução é poderosa e oportunista, mas ela não é nem inteligente nem instrucionista16: tudo se dá pelos condicionantes ambientais e culturais, isto é do contexto. 12 EDELMAN, 2007, p 45. 13 O termo “valor” é utilizado na TSGN com um significado técnico próprio, referindo-se a predisposições fenotípicas conservadas durante a evolução porque conferem uma vantagem adaptativa ao organismo, por permitir a categorização dos comportamentos em termos de seu significado adaptativo. Esse conceito, portanto, não se relaciona estritamente ao significado coloquial do termo, devendo-se ter o cuidado de não o interpretar dessa maneira. 14 Idem, p. 76. 15 Idem, p. 47. 16 Idem, p. 70. Sueli Highlight 8 De fato, segundo SUCHUMAN17 a cognição humana é sempre situada. O pressuposto evolucionista exige necessariamente que o cérebro e o corpo sejam embarcados no entorno (eco nicho). A ocorrência da linguagem ao longo da evolução humana, nosso conhecimento e seu desenvolvimento, assim que nossa via da evolução depende dos condicionantes da cultura. A evolução se processa numa sequência histórica particular de seleções naturais que acontecem no seio de uma população de organismos diversificados. Isso não é levado em consideração pela física18. Os cérebros não operam por lógica, mas por reconhecimento de estruturas. O cérebro precoce procede por metáforas que têm forte poder de conectar propriedades associativas disparates de um sistema reentrante degenerado; tem grande força criativa. As metáforas não ser nem provadas nem negadas, mas constituem um ponto de partida para o pensamento e devem ser refinadas por outros meios como a lógica. 4. A APRENDIZAGEM. A tríade fundamental das funções cerebrais superiores é formada pela categorização perceptiva (percepção), pela memória (memorização) e pela aprendizagem (cognição). A categorização perceptiva das informações, que se inicia com os dados que são captados do ambiente pelos sentidos, é operada pelas conexões sinápticas que se conectam e reconectam, segundo os princípios 17 SUCHUMAN, L. Human-Machine Reconfigurations: Plans and Situated Actions. 2nd expanded edition. New York and Cambridge UK: Cambridge University Press, 2007. 18 EDELMAN, 1994, p. 32. 9 anteriormente assinalados. As percepções não produzem imagens dos objetos e do mundo, conforme pode ser evidenciado na figura 06, abaixo. Figura 06 – Categorização perceptiva Essas categorizações são efetuadas pelas classificações e cartografias neuronais e são necessárias para que haja a memória que é questão de categorizações antigas. E o funcionamento da 10 categorização perceptiva e da memória pode ser testado pela análise dos comportamentos19. No entanto acrescenta: Embora a categorização e a memória sejam necessárias para a aprendizagem, não são suficientes. É preciso ainda que estejam conectadas aos sistemas de valor por intermédio das partes do cérebro diferentes daquelas que efetuam as categorizações. A condição suficiente para a adaptação é proporcionada pela conexão dos assim denominados centros hedonistas e o sistema límbico do cérebro, de maneira que satisfaçam as necessidades homeostáticas e outras. As diversas estruturas cerebrais carregadas de valores – sobretudo o hipotálamo, diversos núcleos do mesencéfalo e a outros que apareceram durante a evolução20. A epistemologia tradicional não se interessava pelo efeito das emoções no conhecimento e na aprendizagem. Ao contrário, na perspectiva da neuroepistemologia a ação do cérebro, ao menos quando ao seu resultado, não pode ser considerada como um processo separado de cálculo mecânico efetuando-se na ausência da emoção21. “A motivação (consciente ou não), as emoções ou o reconhecimento das estruturas são essenciais para saber como se adquire os conhecimentos22. Os eventos cerebrais, em suas reações corticais e tálamo corticais e neurais ocorrem quando há a atividade consciente e de conhecimento como na aprendizagem. Na aprendizagem os sistemas de valor cerebrais atuam e ativam o interesse e o prazer ou o desgosto, como também as emoções atuam para essas atividades. E isso terá implicações importantes no processo de ensino e aprendizagem, como se verá ao falarmos de interesse e do fascínio da surpresa. 19 EDELMAN, 1994, p. 155. 20 Idem, p.155. 21 Idem, p.76. 22 Idem, p.117. Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOSTA PERGUNTA 8null ALTERNATIVA A. 11 Mas apesar disso a teoria do aprendizado é pré-científica – no sentido de que a ela falta ou poder preditivo ou explicativo. (OCDE, 2002, p.1). Contudo, após Regan declarar a década de 1980 como a década do cérebro, os estudos do cérebro foram intensificados e continuam trazendo constantemente novos conhecimentos, a ponto de no documento ENTENDENDO O CÉREBRO23, a OCDE declarar que a educação é hoje uma disciplina pré-científica que depende dos estudos da filosofia e da filosofia, mas que a ciência neuro cognitiva pode oferecer uma base mais sólida. É um lugar comum se afirmar que o conhecimento do cérebro humano seja a última fronteira da ciência. Sem dúvida, sempre haverá um novo horizonte para ser explorado pela ciência, na medida em que houver progresso intelectual. Não obstante, o descobrimento da complexidade do cérebro será um grande passo nesta jornada. Aparentemente, a ciência encontra-se no limiar de avanços substanciais no entendimento do cérebro. 6. CONSEQUÊNCIAS PARA O PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM. “É preciso tomar ciência de que conhecer como o cérebrofunciona não é a mesma coisa que saber qual é a melhor maneira de ajudar os alunos a aprender”.24 Mas, o conhecimento do funcionamento do cérebro poderia ao menos dar à pessoa a capacidade de rejeitar seus preconceitos e suas palavras ridículas25. 23 OCDE, Paris, 2002, p.3. www.oecd.org 24BARTOSZECK, A. B. Neurociência na Educação. GEOCITIES.wswww.geocities.ws/flaviookb/neuro, p.2. 25 EDELMAN, 2007, pp.174-176. Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOSTA PERGUNTA 8nullALTERNATIVA C 12 6.1 O cérebro de cada pessoa é único e o ensino precisa ser individualizado. 6.2 Há condicionantes sociais e culturais na formação do cérebro e do conhecimento, logo o processo de ensino- aprendizagem implica na necessidade de se conhecer a história de cada aluno e na mediação. Experiências de Lúria e colaboradores (LURIA, A .R. A construção da Mente; traduzido por Marcelo Brandão Cipolla. — São Paulo: ícone, 1992). Conclui-se, então que, embora o cérebro seja um sistema complexo auto organizador, ele sofre necessariamente a ação de um mediador. 6.3 A aprendizagem e a memorização “Tão cruelmente ausente às vezes no declínio da vida, a memória é paradoxalmente negligenciada nas aprendizagens na aurora da vida”. 26 A aprendizagem requer a capacidade de memorizar de modo consciente. Toda aprendizagem se dá num fundo de evocação: e se não soubermos evocar, ou lembrar o que aprendemos, então não aprendemos. Para Edelman os neurotransmissores, gerando satisfação ou prazer, permitem que as ocorrências cerebrais ocasionadas pelo meio ambiente e pela ação sejam memorizadas. Como já assinalamos anteriormente, a memória é condição necessária para a aprendizagem, embora não seja suficiente. 26 LIEURY, Alain. La Mémoire- Du Cerveau à L’École. Paris: Flammarion, 1994, p. 76. 13 Memorizar sem a devida compreensão pode levar ao que Montaigne denominava de pedantismo, que consiste em ter cabeças muito cheias, porém não cabeças bem feitas. A memorização mecânica pode levar ao psitacismo,27 que consiste em repetir o que se lê ouve, sem conhecer o significado. Os estados conscientes são unitários, mas sequenciais, pois mudam no tempo. Tem um alcance amplo, alcance que é modulado pela atenção e frequentemente vezes é intencional. Minha tese é que a evolução de um sistema talamocortical reentrante capaz de dar nascimento a um núcleo dinâmico que permitiu a integração complexa de entradas sensoriais cada vez maiores28. 6.4 Impacto da Surpresa e da novidade na aprendizagem. CONCLUSÃO. “É preciso tomar ciência de que conhecer como o cérebro funciona não é a mesma coisa que saber qual é a melhor maneira de ajudar os alunos a aprender” A tríade fundamental das funções cerebrais superiores é formada pela categorização perceptiva (percepção), pela memória (memorização) e pela aprendizagem (cognição). 27 Psitacismo 28 EDELMAN, 2007, p.55. Sueli Highlight Sueli Highlight Sueli Highlight Sueli Highlight Sueli Highlight Sueli Highlight Sueli Sticky Note RESPOST QUESTÃO 5- ALTERRNATIVA EnullRESPOSTA QUESTÃO 9-AnullRESPOSTA QUESTÃO 10- V.V.F.F
Compartilhar