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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia Departamento de Transporte NOTAS DE AULA MECÂNICA DOS SOLOS José Mario Doleys Soares Rinaldo J. B. Pinheiro Ildomar S. Tavares Santa Maria Maio / 2006 Notas de Aula - Mecânica dos Solos i SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO A MECÂNICA DOS SOLOS 1.1 Introdução ........................................................................................................................................................ 1 1.2 Origem e formação dos solos............................................................................................................................ 1 UNIDADE 2 - ÍNDICES FÍSICOS E RETIRADA DE AMOSTRAS 2.1 Introdução ........................................................................................................................................................ 3 2.2 Relação de fases ............................................................................................................................................... 4 2.2.1 Relação entre pesos ....................................................................................................................................... 4 2.2.2 Relação entre volumes .................................................................................................................................. 4 2.2.3 Relação entre pesos e volumes ..................................................................................................................... 6 2.3 Fórmulas de correlação .................................................................................................................................... 7 2.4 Determinação experimental dos índices físicos ............................................................................................... 8 2.4.1 Determinação do peso e volume de uma amostra ......................................................................................... 8 2.4.2 Determinação do teor de umidade ................................................................................................................. 8 2.4.3 Determinação do peso específico real dos grãos ........................................................................................... 9 2.5 Retirada de amostras ........................................................................................................................................ 10 2.5.1 Equipamentos e acessórios ........................................................................................................................... 11 2.5.2 Procedimentos para a amostragem ................................................................................................................ 11 2.5.3 Cuidados a serem tomados ........................................................................................................................... 15 2.5.4 Dimensionamento da amostra ....................................................................................................................... 16 2.6 Exercícios ........................................................................................................................................................ 21 UNIDADE 3 - GRANULOMETRIA DOS SOLOS 3.1 Introdução ........................................................................................................................................................ 23 3.2 Classificação dos solos baseados em critérios granulométricos ...................................................................... 24 3.3 Determinação granulométrica do solo ............................................................................................................. 25 3.3.1 Processo de peneiramento ............................................................................................................................. 26 3.3.2 Processo de sedimentação ............................................................................................................................. 27 3.4 Cálculo do ensaio de granulometria ................................................................................................................. 31 3.5 Propriedades que auxiliam na identificação dos solos ..................................................................................... 33 3.5.1 Textura .......................................................................................................................................................... 33 3.5.2 Compacidade ................................................................................................................................................ 35 3.5.3 Forma dos grãos ............................................................................................................................................ 36 3.6 Uso da granulometria ....................................................................................................................................... 37 UNIDADE 4 - PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA DOS SOLOS 4.1 Introdução ........................................................................................................................................................ 38 4.2 Composição mineralógica das argilas .............................................................................................................. 38 4.2.1 Argilo-minerais ............................................................................................................................................. 38 4.2.2 Estrutura dos argilo-minerais......................................................................................................................... 39 4.3 Estados de consistência .................................................................................................................................... 41 4.4 Determinação experimental dos limites de consistência .................................................................................. 43 4.4.1 Limite de liquidez ......................................................................................................................................... 43 4.4.2 Limite de plasticidade ................................................................................................................................... 44 4.4.3 Limite de contração ...................................................................................................................................... 45 4.5 Índice de plasticidade ....................................................................................................................................... 46 4.6 Índice de consistência ...................................................................................................................................... 47 4.7 Índice de liquidez ............................................................................................................................................. 48 4.8 Atividade coloidal ............................................................................................................................................ 48 4.9 Grau de contração ............................................................................................................................................ 48 4.10 Gráfico de plasticidade .................................................................................................................................... 49 4.11 Estrutura dos solos ...........................................................................................................................................50 4.11.1 Estrutura granular simples ............................................................................................................................. 51 4.11.2 Estrutura alveolar .......................................................................................................................................... 51 4.11.3 Estrutura floculenta........................................................................................................................................ 51 4.11.4 Estrutura esqueleto......................................................................................................................................... 51 Notas de Aula - Mecânica dos Solos ii 4.12 Amolgamento ................................................................................................................................................... 52 4.13 Tixotropia ......................................................................................................................................................... 53 4.14 Exemplos de limites de consistência ................................................................................................................ 54 UNIDADE 5 - CLASSIFICACÃO E IDENTIFICACÃO DOS SOLOS 5.1 Introdução ............................................................................................................................................................ 57 5.2 Classificação textural ........................................................................................................................................... 57 5.3 Classificação H.R.B / A.A.S.H.O ........................................................................................................................ 58 5.4 Sistema Unificado de Classificação dos Solos ..................................................................................................... 60 5.5 Classificação Geotécnica M.C.T. para solos Tropicais ........................................................................................ 67 5.6 Classificação Táctil-Visual .................................................................................................................................. 67 5.7 Exercícios ............................................................................................................................................................ 71 UNIDADE 6 - PERMEABILIDADE DOS SOLOS 6.1 Introdução ............................................................................................................................................................ 73 6.2 Regime de escoamento nos solos ......................................................................................................................... 73 6.3 Ley de Darcy ........................................................................................................................................................ 74 6.4 Fatores que influenciam a permeabilidade ........................................................................................................... 75 6.5 Ordem de grandeza do coeficiente de permeabilidade ......................................................................................... 77 6.6 Determinação da permeabilidade ......................................................................................................................... 77 6.6.1 Ensaios de laboratório ................................................................................................................................... 77 6.6.2 Ensaios de campo (in situ) ............................................................................................................................ 82 6.7 Fórmulas empíricas .............................................................................................................................................. 88 6.8 Exemplos de ensaios de permeabilidade .............................................................................................................. 89 6.9 Exercícios ............................................................................................................................................................ 91 UNIDADE 7 – PRESSÕES E TENSÕES NO SOLO 7.1 Introdução ............................................................................................................................................................ 93 7.2 Tensões geostáticas .............................................................................................................................................. 93 7.1.1 Água no solo ................................................................................................................................................. 94 7.1.2 Tensão vertical total ...................................................................................................................................... 95 7.1.3 Princípio das tensões efetivas ....................................................................................................................... 96 7.1.4 Solos submersos ............................................................................................................................................ 97 7.1.5 Solos não saturados ....................................................................................................................................... 97 7.1.6 Pressões efetivas em condições hidrodinâmicas ........................................................................................... 98 7.1.7 Tensões horizontais ...................................................................................................................................... 99 7.1.8 Superfície de terreno inclinado ..................................................................................................................... 101 7.1.9 Capilaridade .................................................................................................................................................. 102 7.2 Propagação de tensões no solo devido a carregamentos externos ........................................................................ 104 7.2.1 Tensões induzidas no interior do maciço ...................................................................................................... 105 7.2.2 Efeito de sobrecarga ..................................................................................................................................... 105 7.2.3 Teoria de distribuição de pressões no solo por efeito de sobrecarga ............................................................ 106 7.2.4 Hipótese simples ou antiga ............................................................................................................................ 106 7.2.5 Teoria da elasticidade ................................................................................................................................... 107 7.2.5.1 Carga concentrada - Solução de Boussinesq ................................................................................................. 107 7.2.5.2 Carga linear - Solução de Melan ................................................................................................................... 109 7.2.5.3 Área carregada - Carga uniforme sobre uma placa retangular de comprimento infinito .............................. 109 7.2.5.4 Área carregada - Carregamento uniformemente distribuído sobre uma placa retangular .............................. 111 7.2.5.5 Área carregada - Carregamento uniformemente distribuído sobre uma área circular ................................... 113 7.2.5.6 Área carregada - Carregamento triangular (Osteberg, Carothers, Fadum) ................................................... 115 7.2.5.7Área carregada - Carga uniforme distribuída sobre uma superfície de forma irregular (Newmark) ............. 118 7.2.6 Solução de Westergaard ................................................................................................................................ 119 7.3 Bulbo de pressões ................................................................................................................................................ 121 7.4 Pressão de contato ................................................................................................................................................ 123 7.5 Exercícios ............................................................................................................................................................ 124 UNIDADE 8 – COMPRESSIBILIDADE, ADENSAMENTO E RECALQUES NO SOLO 8. 1 Introdução .................................................................................................................................................... 130 8.2 Elemento de solo submetido a tensões ............................................................................................................. 131 Notas de Aula - Mecânica dos Solos iii 8.3 Processp de adensamento – solos finos saturados ............................................................................................ 131 8.4 Modelo mecânico de Terzaghi ......................................................................................................................... 131 8.5 Teoria de adensamento de Terzaghi ................................................................................................................. 133 8.6 Solução da equação diferencial do adensamento ............................................................................................. 136 8.7 Altura de drenagem........................................................................................................................................... 137 8.8 Solução gráfica – grau de adensamento localizado .......................................................................................... 138 8.9 Solução gráfica – grau de adensamento médio ................................................................................................ 140 8.10 Soluções aproximadas da equação de adensamento ........................................................................................ 140 8.11 Ensaio de adensamento ou compressão confinada ........................................................................................... 142 8.12 Apresentação dos resultados dos ensaios de adensamento .............................................................................. 143 8.12.1 Pressão de adensamento ............................................................................................................................... 144 8.13 Recalques por adensamento .............................................................................................................................. 149 8.14 Recalques devido ao rebaixamento do lençol freático ..................................................................................... 153 8.15 Correções do recalque por adensamento .......................................................................................................... 154 8.16 Compressão secundária .................................................................................................................................... 157 8.17 Recalques por colapso ...................................................................................................................................... 158 8.18 Recalques ........................................................................................................................................................ 159 8.19 Exercícios ........................................................................................................................................................ 160 UNIDADE 9 – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS 9.1 Introdução ........................................................................................................................................................ 164 9.1.1 Tensões no solo ............................................................................................................................................ 165 9.1.2 Círculo de Mohr ........................................................................................................................................... 167 9.1.3 Tensões totais, efetivas e neutras ................................................................................................................. 169 9.2 Resistência ao cisalhamento dos solos .......................................................................................................... 169 9.2.1 Atrito............................................................................................................................................................. 170 9.2.2 Coesão ......................................................................................................................................................... 170 9.3 Resistência dos solos ..................................................................................................................................... 171 9.4 Critério de ruptura de Mohr-Coulomb ........................................................................................................... 172 9.5 Ensaios para determinação da resistência ao cisalhamento dos solos ............................................................ 173 9.5.1 Ensaio de cisalhamento direto ..................................................................................................................... 173 9.5.2 Ensaio triaxial .............................................................................................................................................. 176 9.5.3 Ensaio de compressão simples ..................................................................................................................... 180 9.5.4 Ensaio de palheta ou vane test ..................................................................................................................... 182 9.6 Resistência ao cisalhamento das areias e argilas ........................................................................................... 184 9.6.1 Solicitações drenadas.................................................................................................................................... 184 9.6.1.1 Areias............................................................................................................................................................ 184 9.6.1.2 Argilas ......................................................................................................................................................... 187 9.6.2 Solicitações não-drenadas ............................................................................................................................ 189 9.6.2.1 Solos adensados não-drenados ..................................................................................................................... 190 9.6.2.1.1 Argilas normalmente adensadas ........................................................................................................ 190 9.6.2.1.2 Argilas pré-adensadas ........................................................................................................................ 191 9.6.2.2 Solos não drenados ......................................................................................................................................193 9.7 Aplicações dos ensaios de cisalhamento na prática ....................................................................................... 193 9.8 Análise em termos de tensões totais e efetivas .............................................................................................. 194 9.9 Exercícios ...................................................................................................................................................... 195 UNIDADE 10 - COMPACTACÃO DOS SOLOS 10.1 Introdução ....................................................................................................................................................... 204 10.2 Curva de compactação .................................................................................................................................... 205 10.3 Ensaio de compactação ................................................................................................................................... 206 10.4 Comportamento do solo .................................................................................................................................. 209 10.5 Técnicas e equipamentos de compactação ...................................................................................................... 210 10.5.1 Seleção dos equipamentos de compactação ................................................................................................. 212 10.5.2 Especifcações para compactação .................................................................................................................. 216 10.5.3 Sequência construtiva .................................................................................................................................. 217 10.5.4 Métodos de controle da compactação .......................................................................................................... 217 10.6 Ensaio califórnia ou C.B.R. Introdução .......................................................................................................... 222 10.7 Resistência dos solos compactados Introdução .............................................................................................. 224 10.8Exercícios ....................................................................................................................................................... 230 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 1 UNIDADE 1 - INTRODUCÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 1.1 Introdução A variedade dos tipos de solos encontrados em problemas de engenharia é quase ilimitada, variando de blocos de pedra dura, densa, grande a pedregulhos, areias, siltes, argilas até depósitos orgânicos de turfas compressíveis e moles. Para aumento de complexidade, todos estes materiais encontram-se numa ampla variedade de densidades e conteúdos de água. Em um dado local, um número diferente de tipos de solos pode estar presente, e a composição pode variar de intervalos grandes a pequenos até poucos centímetros. Não é surpreendente, entretanto, que uma porção considerável dos esforços dos engenheiros geotécnicos sejam dedicados à identificação dos solos e a avaliação de propriedades apropriadas para o uso em uma análise particular. O que é surpreendente, talvez, é que a aplicação dos princípios da mecânica a um material tão diversificado quanto o solo, de tão bons resultados. Entender e apreciar as características de qualquer depósito de solo requer uma compressão de que material é, e como este pode estar, e em que estado se encontra. De grande importância são as considerações sobre a intemperização de solos e rochas, a erosão e transporte de solos, processos deposicionais e mudanças pós-deposicionais em sedimentos (assunto visto na disciplina de Geologia de Engenharia). A definição do que é solo depende em muitos casos de quem o utiliza. Na língua portuguesa, solo significa a superfície do chão, original da palavra herdada do latim “solum”. Na agricultura solo é a camada de terra tratável, que suporta as raízes das plantas. Na geologia, o solo é somente a capa superficial sobrejacente a rocha. Para o Engenheiro Civil, os solos são um aglomerado de partículas provenientes de decomposição da rocha, que podem ser escavados com facilidade, sem o emprego de explosivos, e que são utilizados como material de construção ou de suporte de estruturas. O solo em contato prolongado com a água perde totalmente a sua resistência. Rochas são agregados naturais de um ou diversos minerais, podendo eventualmente, ocorrer vidro ou matéria orgânica. Na engenharia, rocha é todo o material que necessita de explosivo para seu desmonte. O solo, sob o ponto de vista da engenharia geotécnica, poderá ser utilizado tanto em suas condições naturais quanto como material de construção. Em sua condição natural, será usado como elemento de suporte de uma estrutura ou como a própria estrutura, nem sempre sendo possível melhorar suas propriedades de uma forma econômica. Como material de construção poderá ser usado, principalmente, na construção de aterros para finalidades as mais diversas, como sub-bases e bases de pavimentos sendo nestes casos, possível dar ao solo as características necessárias e desejadas em cada projeto (Nogueira, 1988). Na Tabela 1.1 estão indicados, resumidamente, alguns aspectos de utilização do solo em sua condição natural e como material de construção. 1.2 Origem e formação dos solos As rochas que constituem a crosta terrestre estão em equilíbrio. Mas, quando entram em contato com a atmosfera ou ficam próximas desta situação, as rochas sofrem a ação de um conjunto de processos físicos, químicos, físico-químicos e biológicos, que produzem sua destruição. Portanto, intemperismo é o processo que transforma rochas maciças e tenazes em materiais plásticos e friáveis (solos). O intemperismo pode ser físico ou químico. O intemperismo físico ou mecânico é o que causa a desintegração da rocha através dos seguintes processos: (a) variação de temperatura, (b) alívio de pressões, (c) crescimento de cristais, (d) hidratação dos minerais, (e) ação coloidal e (f) processos físico-biológicos. O intemperismo físico provoca a desintegração da rocha, formando sedimentos de tamanhos diversos, porém, sendo mantida a composição mineralógica da rocha matriz. O intemperismo químico é o processo caracterizado por reações químicas entre os minerais constituintes de uma rocha e soluções aquosas de diferentes teores. Há uma agilização do processo Notas de Aula - Mecânica dos Solos 2 do intemperismo químico se a rocha for fragmentada por um intemperismo físico, aumentando assim a superfície exposta às reações químicas. Os agentes do intemperismo químico, de acordo com a natureza da reação predominante no processo, são classificados: (a) oxidação, (b) carbonatação, (c) hidrólise, (d) hidratação e (e) troca de bases. Tabela 1.1 – Utilização do solo na Engenharia Civil ESTRUTURA EDIFÍCIOS, PONTES , VIADUTOS PAVIMENTO PISO INDUSTRIAL, PÁTIO, ESTRADA, AEROPORTO ESTRUTURA ENTERRADA CASA DE FORÇA, TUBULAÇÕES, GALERIAS FUNDAÇÃO ATERRO BARRAGEM, ESTRADA, INDUSTRIAL CORTE ESTRADA, MINERAÇÃO CONDIÇÃO NATURAL SOLO ESTRUTURAL VALA FUNDAÇÃO, GALERIA ATERRO BARRAGEM DE USOS MÚLTIPLOS MATERIAL DE CONSTRUÇÃO BASES E SUB-BASES ESTRADAS, PÁTIOS Os fatores mais importantes nos processos de formação dos solos são: rocha de origem, clima, topografia, vegetação e o tempo de atuação dos fatores anteriores. A composição mineralógica e a textura da rocha de origem, são elementos importantes na fase inicial do processo de intemperismo em face das diferenças nos tempos necessários a alteração. Dependendo ainda de outros fatores, uma mesma rocha poderá formar solos compropriedades diferentes, enquanto que rochas com composição e textura diferentes poderão formar um mesmo tipo de solo. O clima, através da temperatura e da chuva, é o fator preponderante no tipo e extensão do intemperismo. Na região equatorial onde a quantidade de chuva é grande e a temperatura alta, o intemperismo químico é mais ativo, bem como a formação de uma espessa camada de solo. Em regiões temperadas, com estações bem definidas, há uma atuação conjunta dos dois tipos de intemperismo, sendo os processos físicos predominantes no inverno e os químicos no verão. A topografia do terreno controla a percolação, infiltração e velocidade superficial da água e a erosão. Em face deste controle, os solos formados em taludes íngremes são diferentes daqueles encontrados em áreas pouco inclinadas. A quantidade de ácidos orgânicos que atacam as rochas depende da vegetação existente na área e é importante na formação de alguns tipos de solos. E finalmente, o tempo de atuação, de cada um dos fatores descritos pode gerar diferentes tipos de solo. O solo quanto à origem podem ser classificados em solos residuais, solos transportados (sedimentares) e solos orgânicos. Solos residuais são os solos que estão sobrejacentes às rochas que lhes deram origem. Solos transportados são os solos que sofreram algum tipo de transporte (água, vento, gelo, etc.), portanto não estão sobre a rocha que lhes deu origem. Em função do tipo de agente de transporte classificam-se em: (a) solos aluviais, (b) solos marinhos, (c) solos eólicos, (d) solos glaciais e (e) solos coluviais. Solos orgânicos são os solos que se caracterizam por apresentarem como constituinte principal, a matéria orgânica, proveniente de restos vegetais ou animais (solos diatomáceos). Camadas sedimentares de argila, areia fina e silte com húmus e turfas (grandes teores de carbono) são os mais comuns solos orgânicos. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 3 UNIDADE 2 - ÍNDICES FÍSICOS E RETIRADA DE AMOSTRAS 2.1 Introdução Numa massa de solo, podem ocorrer três fases: a fase sólida, a fase gasosa e a fase líquida. A fase sólida é formada pelas partículas minerais do solo, a fase líquida por água e a fase gasosa compreendem todo o ar existente nos espaços entre as partículas. Portanto, o solo é um sistema trifásico onde a fase sólida é um conjunto discreto de partículas minerais dispostas a formarem uma estrutura porosa que conterá os elementos constituintes das fases líquida e gasosa. A Figura 2.1 apresenta um esquema de uma amostra de solo em que aparecem as três fases tal qual na natureza e esta amostra com suas fases separadas para atender a uma conveniência didática de definição dos índices físicos. (a) (b) V = volume total W = peso total Vs = volume de sólidos Ws = peso dos sólidos Vv = volume de vazios Ww = peso de água Vw = volume de água Wa = peso de ar (Wa = 0) Va = volume de ar V = Vs + Vv, onde Vv = Vw + Va W = Ws + Ww Figura 2.1 - Esquema de uma amostra de solo. (a) elemento de solo natural; (b) diagrama de fases. As partículas sólidas do solo são pequenos grãos de diferentes minerais, cujos vazios podem ser preenchidos por água, ar, ou parcialmente por ambos (ar e água). Define-se mineral como uma substância inorgânica e natural, com uma estrutura interna definida (átomos e íons) e com composição química e propriedades físicas fixas ou variam dentro de limites definidos. As partículas sólidas dos solos grossos são constituídas por silicatos (feldspatos, micas, olivinas, etc.), óxidos (quartzo), carbonatos (calcita, dolomita), sulfatos (limonita, magnetita). Já os solos finos são constituídos por silicatos de alumínio hidratado (argilo-minerais). Em outras palavras, o volume total da massa de solo (V) consiste do volume de partículas sólidas (Vs) e do volume de vazios (Vv). O volume de vazios é geralmente formado pelo volume de água (Vw) e pelo volume de ar (Va). A Figura 2.1(b) mostra um diagrama de fase no qual cada uma das três fases é apresentada separadamente. No lado esquerdo, usualmente indicamos o volume das três fases e, no lado direito, os pesos correspondentes às fases. Wa ≈ 0 Ww Ws W Gasosa Líquida Sólida Va Vw Vs Vv V Notas de Aula - Mecânica dos Solos 4 Como o peso específico do ar é muito pequeno quando comparada aos pesos específicos da água e dos sólidos, o peso da fase gasosa (Wa) será sempre desprezado no cálculo do peso do solo. Os índices físicos são definidos como grandezas que expressam as proporções entre pesos e volumes em que ocorrem as três fases presentes numa estrutura de solo. Estes índices possibilitam determinar as propriedades físicas do solo para controle de amostras a serem ensaiadas e nos cálculos de esforços atuantes. Os índices físicos dos solos são utilizados na caracterização de suas condições, em um dado momento e por isto, podendo ser alterados ao longo do tempo. Seus nomes, simbologia e unidades devem ser aprendidos e incorporados ao vocabulário de uso diário do geotécnico. Nos itens seguintes, serão definidos os índices físicos, separando-os em três grupos, conforme definição anterior, bem como, apresentadas fórmulas de correlação entre os mesmos e a maneira experimental de obter alguns deles. Índices físicos, granulometria (Unidade 3) e limites de consistência (Unidade 4) formam as propriedades índices que são aplicadas na classificação e identificação dos solos (Unidade 5), uma vez que elas podem ser correlacionadas, ainda que grosseiramente, com características mais complexas do solo, como por exemplo, a compressibilidade e resistência. 2.2 Relação de fases As relações apresentadas a seguir constituem uma parte essencial da Mecânica dos Solos e são básicas para a maioria dos cálculos desta ciência. 2.2.1 Relação entre pesos a) Teor de umidade (w , h) O teor de umidade de um solo é determinado como a relação entre o peso de água (Ww) e o peso das partículas sólidas (Ws) em um volume de solo. De acordo com a simbologia mostrada na Figura 2.1, tem-se: w = (Ww/Ws) . 100 (%) O teor de umidade pode assumir o valor de 0% para solos secos (Ww = 0) até valores superiores a 100% em solos orgânicos. 2.2.2 Relação entre volumes Existem três relações volumétricas que são muito utilizadas na Engenharia Geotécnica e podem ser determinadas diretamente do diagrama de fases da Figura 2.1. a) Índice de vazios (e) É a relação entre o volume de vazios (Vv) e o volume dos sólidos (Vs), existente em igual volume de solo. Este índice tem como finalidade indicar a variação volumétrica do solo ao longo do tempo, tem-se: e = Vv/Vs O índice de vazios será medido por um número natural e deverá ser, obrigatoriamente, maior do que zero em seu limite inferior, enquanto não há um limite superior bem definido, dependendo Notas de Aula - Mecânica dos Solos 5 da estrutura do solo. O volume de sólidos permanecendo constante ao longo do tempo, qualquer variação volumétrica será medida por uma variação do índice de vazios, que assim poderá contar a história das tensões e deformações ocorridas no solo. Exemplo de valores típicos do índice de vazios para solos arenosos podem situar de 0,4 a 1,0; para solos argilosos, variam de 0,3 a 1,5. Nos solos orgânicos, podemos encontrar valores superiores a 1,5. b) Porosidade (η) É a relação entre o volume dos vazios (Vv) e o volume total (V) da amostra, tem-se: η = (Vv/V) . 100 (%) A porosidade é expressa em porcentagem, e o seu intervalo de variação é entre 0 e 100%. Das equações apresentadas mais adiante podemos expressar a porosidade em função do índice de vazios e vice versa, através das equações apresentadasabaixo: η = e / (1 + e) ou e = η / (1 - η) Segundo o IAEG (1979), a porosidade e o índice de vazios podem ser classificados segundo a tabela a seguir: Tabela 2.1 – Classificação da porosidade e do índice de vazios nos solos (IAEG, 1979) Porosidade (%) Índice de vazios Denominação > 50 > 1 muito alta 45 – 50 0,80 – 1,00 alta 35 – 45 0,55 – 0,80 média 30 – 35 0,43 – 0,55 baixa < 30 < 0,43 muito baixa c) Grau de saturação (S , Sr) O grau de saturação indica que porcentagem do volume total de vazios contem água. Se o solo está completamente seco, então Sr = 0%, se os poros estão cheios de água, então o solo está saturado e Sr = 100%. Para solos parcialmente saturados, os valores de “Sr” situam-se entre 1 e 99%. Sr = (Vw/Vv) . 100 (%) O grau de saturação, segundo o IAEG (1979), pode ser classificado em: Tabela 2.2 – Classificação do solo quanto ao grau de saturação Grau de saturação (%) Denominação 0 – 25 naturalmente seco 25 – 50 úmido 50 – 80 muito úmido 80 – 95 saturado 95 – 100 altamente saturado Notas de Aula - Mecânica dos Solos 6 2.2.3 Relação entre pesos e volumes Em Mecânica dos Solos se relaciona o peso das diferentes fases com seus volumes correspondentes por meio de pesos específicos. a) Peso específico aparente natural ou úmido (γ , γnat , γt) É a relação entre o peso total (W) e o volume total da amostra (V) para um valor qualquer do grau de saturação, diferente dos extremos, e utilizando-se a simbologia da Figura 2.1, será calculado como: γ = W/V unidades (g/cm3 , Kg/m3 , kN/m3 , t/m3 ) A magnitude do peso específico natural dependerá da quantidade de água nos vazios e dos grãos minerais predominantes, e é utilizado no cálculo de esforços (Unidade 7). b) Peso específico aparente seco (γd) É a relação entre o peso dos sólidos (Ws) e o volume total da amostra (V), para a condição limite do grau de saturação (limite inferior - Sr = 0%), tem-se: γd = (Ws/V) unidades (g/cm3 , Kg/m3 , kN/m3 , t/m3 ) O peso específico aparente seco é empregado para verificar o grau de compactação de bases e sub-bases de pavimentos e barragens de terra (Unidade 10). c) Peso específico saturado (γsat) É a relação entre o peso total (W) e o volume total (V), para a condição de grau de saturação igual a 100%, tem-se: γ = (Wsat/V) unidades (g/cm3 , Kg/m3 , kN/m3 , t/m3 ) Em nenhuma das condições extremas levou-se em consideração a variação do volume do solo, devido ao secamento ou saturação. d) Peso específico real dos grãos ou sólidos (γs , δ) (NBR 6508/84) É a relação entre o peso dos sólidos (Ws) e o volume dos sólidos (Vs), dependendo dos minerais formadores do solo, tem-se: γs = Ws/Vs unidades (g/cm3 , Kg/m3 , kN/m3 , t/m3 ) O valor do peso específico dos sólidos representa uma média dos pesos específicos dos minerais que compõem a fase sólida. A Tabela 2.3 apresenta o intervalo de variação do peso específico dos sólidos de diversos tipos de minerais. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 7 Tabela 2.3 - Valores de peso específico real dos grãos de alguns tipos de minerais. Mineral γs ( g/cm3 ) Mineral γs ( g/cm3 ) Quartzo 2,65 - 2,67 Dolomita 2,85 Feldspato K 2,54 - 2,57 Caulinita 2,61 - 2,66 Feldspato Na Ca 2,62 - 2,76 Ilita 2,60 - 2,86 Muscovita 2,70 - 3,10 Montmorilonita 2,74 - 2,78 Biotita 2,80 - 3,20 Clorita 2,60 - 2,90 Calcita 2,72 Hematita 4,90 - 5,30 e) Peso específico da água (γw) É a razão entre o peso de água (Ww) e seu respectivo volume (Vw). γw = Ww/Vw Nos casos práticos adota-se o peso específico da água como: 1g/cm3 = 10kN/m3 = 1000kg/m3. f) Peso específico submerso (γsub , γ‘) Quando a camada de solo está abaixo do nível freático, define-se o peso específico submerso, o qual é utilizado para o cálculo de tensões (Unidade 7). γsub = γsat - γw g) Densidade real dos grãos ou sólidos (G) É a razão entre o peso especifico real dos grãos (γs) e o peso específico da água a 4°C. G = γs/γw 2.3 Fórmulas de correlação As fórmulas de definição dos índices físicos não são práticas, para a utilização em cálculos e assim, recorre-se as fórmulas de correlação entre os índices, como as apresentadas a seguir: 9 peso específico natural: γ = W/V 9 teor de umidade: w = (Ww/Ws) 9 peso específico real dos grãos: γs = Ws/Vs 9 peso específico aparente seco: γd = Ws/V = γ/(1 + w) 9 índice de vazios: e = Vv/Vs = (γs/γd) - 1 9 porosidade: η = Vv/V = e/(1+ e) 9 grau de saturação: S = Vw/Vv = (w . γs)/(e . γw) 9 peso específico saturado: γsat = Wsat/V = (1 - η) . γs + η . γw 9 peso específico submerso: γsub = γsat - γw = (γs - γw) . (1 - η) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 8 2.4 Determinação experimental dos índices físicos Os índices físicos são determinados em laboratório ou mediante fórmulas de correlação, vistas no item anterior. Em laboratório, são determinados o peso específico natural (através do peso e volume total), o teor de umidade e o peso específico real dos grãos. 2.4.1 Determinação do peso e volume de uma amostra Molda-se um corpo de prova cilíndrico de solo indeformado, obtêm-se várias medidas de diâmetro (d) e altura (h) para o cálculo do volume da amostra de solo com os valores médios obtidos. Obter o peso total da amostra de solo (W) com a balança. Pode-se utilizar também para determinar o peso e o volume anéis metálicos de dimensões conhecidas, onde são moldados no solo. Deve-se salientar que o peso específico natural é normal- mente determinado em corpos de prova já talhados para os ensaios usuais de Mecânica dos Solos. No controle de compactação (Unidade 10) de camadas de solo, in situ, utiliza-se para determinar o peso específico um cilindro cortante (Figura 2.2) com peso e dimensões conhecidas que é cravado no solo (ABNT/NBR 9813/87 - Determinação da massa específica aparente in situ com o emprego do cilindro de cravação). No campo a determinação de γ pode ser feita, ainda, utilizando-se um frasco ao qual se adapta um funil munido de um registro (ABNT/NBR 7185/86 - Solo - Determinação da massa específica aparente, "in situ", com emprego do frasco de areia), mostrado na Figura 2.3. Figura 2.2 – Cilindro cortante Figura 2.3 – Frasco de areia 2.4.2 Determinação do teor de umidade (w) O teor de umidade é obtido por diferença de peso de uma amostra de solo antes e após a secagem em estufa. Os procedimentos adotados no laboratório (ABNT/NBR 6457/86 - Amostras de Solo - Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização) são: - toma-se uma cápsula com peso conhecido (Wc) - seleciona-se uma porção de amostra representativa (aproximadamente 50g) - coloca-se a amostra na cápsula e pesa-se o conjunto (Wc + W) - seca-se em estufa o conjunto até a constância do peso - pesa-se novamente o conjunto (Wc + Ws) O teor de umidade (w) é calculado de acordo com a expressão: ( ) ( )( ) ( )%.100×= −=−+ +−+= Ws Ww Ws WsW WcWsWc WsWcWWcw Notas de Aula - Mecânica dos Solos 9 onde: W = peso total da amostra Ws = peso seco Ww = peso da água Wc = peso da cápsula No campo utiliza-se para a determinação do teor de umidade: o processo da frigideira (DNER-ME 086/64), o método expedito do álcool (DNER-ME 088/94 - Determinação da umidade pelo método expedito do álcool), ou o método expedito “Speed” (Figura 2.4), (DNER-ME 052/94 - Solos e agregados miúdos - determinação da umidade pelo método expedito "Speedy"). Figura 2.4 – Umidímetro “Speedy” 2.4.3 Determinação do peso específico real dos grãos (γs) O peso específico real dos grãos, ou sólidos,é determinado, usualmente, empregando um frasco de vidro denominado picnômetro (balão volumétrico), de acordo com ABNT/NBR 6508/84 - Grãos de solo que passam na peneira de 4,8mm - Determinação da massa específica dos sólidos. O ensaio compara o peso de um picnômetro contendo água destilada até a marca de calibração (W1) com o peso do mesmo picnômetro contendo solo e água (W2) até a mesma marca, e determina-se a temperatura da suspensão e mediante a curva de calibração do picnômetro, determinam-se o peso do picnômetro e a água para a temperatura do ensaio. Esquema explicativo do ensaio está representado na Figura 2.5. Figura 2.5 - Esquema de cálculo do peso específico real dos grãos. Ww Ww ’ W W1 W2 Água Água Solo Marca da calibração Notas de Aula - Mecânica dos Solos 10 O peso de água correspondente ao volume deslocado pelos grãos (sólidos) será: W1 = Ww + Wp (água + picnômetro) W2 = Ww’ + Wp + Ws (água + picnômetro + solo) W1 - W2 = Ww + Wp - (Ww’ + Wp + Ws) W1 - W2 = Ww - Ww’ - Ws W1 - W2 = ∆Ww – Ws Portanto, o volume dos sólidos corresponde a volume de água deslocada, tem-se: Ww = Vw . γw Vs = Vw/γw W1 - W2 = Vs . γw - Ws Vs = (W1 - W2 + Ws) / γw w WsWW Ws Vs Wss γγ ×+−== 21 Normalmente são realizadas no mínimo três determinações, fazendo variar a temperatura e acertando o nível de água na marca de referência, com vistas à obtenção de valor médio consistente. A determinação do peso específico dos sólidos é muito simples, mas às vezes adota-se um valor médio para resolução de problemas, uma vez que a faixa de variação no caso de solos não é muito grande. Em geral para solos arenosos, pode-se tomar γs = 2,67 g/cm3 e para solos argilosos, γs = 2,75 - 2,90 g/cm3. 2.5 Retirada de amostras A caracterização de um solo, através de parâmetros obtidos em ensaios de laboratório, depende, simultaneamente, da qualidade da amostra e do procedimento dos ensaios. Tanto para a amostragem quanto para os ensaios existem normas, brasileiras e estrangeiras, que regem o assunto e que, portanto, devem ser obedecidas. Em qualquer laboratório de geotecnia, dois tipos de amostras são usadas na realização desses ensaios. A amostra deformada, uma porção de solo desagregado, deve ser representativa do solo que está sendo investigado, apenas, quanto à textura e constituição mineral. Ela é usada na identificação visual e táctil, nos ensaios de classificação (granulometria, limites de consistência e massa específica dos sólidos), no ensaio de compactação e na preparação de corpos de prova para ensaios de permeabilidade, compressibilidade e resistência ao cisalhamento. Essas amostras, até um metro abaixo da superfície do terreno, poderão ser obtidas através de ferramentas simples (pás, enxadas, picaretas e outras mais apropriadas a cada caso), enquanto que para profundidade maior ter-se-á necessidade de ferramentas especiais (trados ou um amostrador de parede grossa). A amostra indeformada, geralmente de forma cúbica ou cilíndrica, deve ser representativa da estrutura e teor de umidade do solo, na data de sua retirada, além da textura e composição mineral. Ela é usada para se determinar às características do solo “in situ”, como os índices físicos, o coeficiente de permeabilidade, os parâmetros de compressibilidade e de resistência ao cisalhamento. Uma amostra indeformada pode ser obtida de diversas maneiras dependendo da cota da amostragem, da densidade do solo e da posição do lençol freático; assim, para solos moles abaixo do nível d’água será usado um amostrador de parede fina, enquanto que, para solos acima do nível d’água e mais densos, deve-se abrir um poço até a cota de interesse e retirar um bloco de solo usando uma caixa metálica ou de madeira como fôrma e com dimensões apropriadas ao tipo e Notas de Aula - Mecânica dos Solos 11 número de ensaios a realizar. A NBR 9604/86 rege a abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas. Na retirada, no transporte e no manuseio, de qualquer um dos dois tipos de amostras, devem ser tomados cuidados extras para que a amostra não sofra nenhuma avaria. Os equipamentos e acessórios, o procedimento da amostragem, os cuidados e o dimensionamento de cada uma das amostras serão descritos nos itens seguintes. 2.5.1 Equipamentos e acessórios 9 Equipamentos: trados de diversos tipos e diâmetros; amostrador de parede grossa; caixa metálica; amostrador de parede fina; 9 Acessórios: sacos de lona ou de plástico de diferentes tamanhos, pás, enxadas, picaretas, facas, espátulas, conchas; fogareiro a gás; parafina; tecido (tipo estopa ou similar); etiquetas; caixas de madeira, serragem. 2.5.2 Procedimentos para a amostragem Para cada um dos tipos de amostras representativas o procedimento na amostragem será diferente. A seguir será descrita a forma de se obter uma amostra deformada e uma amostra indeformada em bloco, em uma camada acima do nível d’água. Amostra deformada Para este tipo de amostragem deve-se inicialmente, fazer uma limpeza no local de trabalho, retirando a vegetação superficial, raízes e qualquer outra matéria estranha ao solo, para só depois iniciar o processo de coleta de amostra. Se a cota de retirada da amostra estiver, no máximo, um metro da superfície do terreno pode-se fazer uma escavação, até a cota de interesse, com uma das ferramentas indicadas e, então fazer a coleta. Entre um e seis metros de profundidade pode-se usar o trado cavadeira, desde que, o furo não precise de revestimento. Para profundidade maior do que seis metros, ou quando o furo exigir tubo de revestimento deve-se usar o trado helicoidal, Figura 2.6. Quando o trabalho com o trado helicoidal se tornar difícil ou para amostragem abaixo do nível d’água, quando poderá se tornar pouco eficaz, pode-se utilizar um amostrador de parede grossa (Figura 2.7), que é cravado dinamicamente no solo através de energia fornecida pela queda livre de um martelo. A sondagem a trado é regulada pela NBR 9603/86. Figura 2.6 - Tipos de trado Figura 2.7 – Amostrador de parede grossa Notas de Aula - Mecânica dos Solos 12 O tipo e o emprego do equipamento de sondagem representado na Figura 2.8, introduzidos entre nós há mais de 40 anos, é o mais adotado por todos os institutos técnicos e oficiais, e firmas particulares especializadas. O Ensaio SPT obedece os critérios estabelecidos na NBR 6484/01. O Standard Penetration Test (SPT), possui a dupla função: de medir a resistência à penetração e de coletar amostras que nesse caso são alteradas pelo choque e vibração no momento da cravação do amostrador. Este método além de econômico é rápido e pode ser aplicado à maioria dos solos, exceto pedregulhos. O ensaio basicamente consiste em introduzir o “barrilete amostrador”, que é fixado na extremidade das hastes de cravação e cravado 45 cm no solo, por dentro de um tubo de sondagem. A cravação é feita por um peso (martelo) de 65 kg, com uma altura de 75 cm de queda. Inicialmente se fazem penetrar 15 cm e, a seguir, se registra o número N de golpes aplicados para cravar outros 30 cm, anotando-se separadamente cada 15 cm. Vários autores relacionam os resultados do N SPT, com as propriedades dos diferentes tipos de solos, conforme veremos nos capítulos que seguem. Figura 2.8 – Ensaio SPT A amostra deverá ser colocada em saco de lona ou plástico resistente, identificada através de uma etiqueta amarrada à boca do saco e contendo informações sobre o local, número, profundidade e data da amostragem. Além dessas informações deve-se fazer uma planta do local indicando os dados necessários a recuperação do ponto amostrado. Uma identificaçãovisual táctil da amostra retirada deve ser realizada indicando-se o resultado na folha de locação do furo, Figura 2.9. Figura 2.9 - Locação do poço BLOCO B Salas de aulas RN LOCAÇÃO EM PLANTA P1 12,8 25,4 LOCAL: CAMPUS USP - SÃO CARLOS DATA : 21/10/78 POÇO Nº: P1 Ø = 12,8 cm COTAS: RN - 819,70 BOCA DO POÇO - 820,40 TOPO DO BLOCO - 816,20 AMOSTRA DEFORMADA - 818,00 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 13 Amostra indeformada A viabilidade técnica e econômica da obtenção de amostras indeformadas é função da natureza do solo a ser amostrado, da profundidade em que se encontra e da presença do nível d’água. Esses fatores determinam o tipo de amostrador e os recursos a utilizar. Algumas formações apresentam maiores dificuldades que outras no processo de extração de amostras indeformadas. Assim, a retirada de amostras indeformadas pode ser subdividida em duas classes: Amostra indeformada de superfície: a coleta de amostras é realizada próxima à superfície do terreno natural, ou próximas à superfície de uma exploração acessível, utilizando-se amostradores em que o processo de avanço é por aparamento (cilindros e anéis biselados – Figura 2.10) ou escavações (blocos – Figura 2.11). Figura 2.10 – Cilindros e anéis biselados Figura 2.11 - Caixa para amostra em bloco Uma amostra indeformada, em bloco, poderá ser retirada em diversas posições como mostrado na Figura 2.12. Figura 2.12 - Retirada de amostra Figura 2.13 - Seqüência de amostragem de um bloco indeformada O procedimento de retirada de uma amostra indeformada, em bloco, no fundo de um poço é semelhante à retirada em qualquer outra posição, exceto algumas peculiaridades do próprio poço. O poço deverá ser aberto até, aproximadamente, dez centímetros acima da cota do topo do bloco (cota zero), pelo poceiro, com um diâmetro que permita ao técnico, encarregado de continuar TOPO BASE LATERAL +0 +10 +3 +3 +3 +3 (a) (b) (c) (d) (e) (f) Posição: 1 e 2 : Talude de um corte 3: Superfície do terreno 4: Fundo do poço 5: Parede do poço 5 NT 4 3 2 1 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 14 o serviço, fazê-lo de forma conveniente, Figura 2.13a. Caso não seja possível por apresentar o poço um diâmetro pequeno o bloco poderá ser retirado na parede (posição 5) lembrando que o fundo do poço deverá atingir uma cota mais baixa. Utilizando a caixa metálica o técnico deverá marcar no fundo do poço a área onde a amostra será retirada e com cuidado ir removendo o solo externo a essa área, Figura 2.13b, até que se tenha um degrau de, mais ou menos, sete centímetros. A caixa deverá ser ajustada ao solo, com a ponta biselada voltada para baixo e iniciar uma escavação em sua volta, ao mesmo tempo, ir pressionando, levemente, a caixa provocando sua descida, Figura 2.13c. Quando o topo da caixa atingir a cota zero deverá haver um excesso de solo, da ordem de 3cm, Figura 2.13d, que não deverá ser retirado neste momento. O bloco deverá ser cortado próximo a base da caixa para que possa ser separado do terreno, mantendo-se também um excesso de solo, como mostrado na Figura 2.13e. Entre o bloco e a caixa haverá sempre uma folga cuja espessura dependerá do tipo de solo amostrado. Um solo argiloso permitirá uma folga menor do que um solo arenoso. Dependendo da existência de condições favoráveis dentro do poço o excesso de solo na base e no topo do bloco poderá se aí retirado e colocadas, em seguida, a tampa e o fundo da caixa, Figura 2.13f. É sempre preferível realizar essa operação, após a subida do bloco para superfície do terreno. O bloco deverá ser elevado a superfície do terreno com todo o cuidado a fim de se evitar qualquer alteração estrutural no solo. O excesso de solo, do topo e da base ou a tampa e o fundo da caixa, deverá ser retirado e uma primeira camada de parafina, com espessura mínima de dez milímetros, aplicada. Logo em seguida, colocar uma etiqueta no topo do bloco indicando os dados necessários à sua identificação. As laterais da caixa só, então, devem ser retiradas e aplicada uma camada de parafina sobre as faces do bloco, reforçando os cantos e arestas, para garantir uma boa ligação com a camada aplicada no topo e na base. Com essa primeira camada de parafina estará garantida a manutenção do teor de umidade da amostra, mas não a preservação da sua estrutura, representativa da estrutura do solo in situ. Para a preservação da estrutura, o bloco deverá ser envolvido com um tecido poroso e, em seguida, aplicada uma segunda camada de parafina. Uma segunda etiqueta deverá ser colocada, preferencialmente sobre o topo do bloco com as informações necessárias a sua localização. Finalmente, desenhar a planta de localização do poço tendo como referência algum ponto imutável com o tempo e indicando todos os demais dados necessários, bem como, o nome do solo a partir dos testes de identificação visual e táctil, Figura 2.9. Amostra indeformada em profundidade: os métodos de perfuração para atingirem-se as profundidades desejadas são os mesmos das sondagens de reconhecimento. A diferença essencial entre as sondagens mais simples e das sondagens em questão está nos amostradores, sendo os mais usuais, os amostradores de parede fina, o amostrador de pistão, o amostrador de pistão estacionário, o amostrador de pistão “Osterberg” e o amostrador “Denison” ou barrilete triplo. O amostrador de parede fina mais empregado, o tipo Shelby, é composto basicamente de um tubo de latão ou de aço inoxidável de espessura reduzida, ligado a um cabeçote provido de uma válvula de esfera que permite ao ar e a água escaparem à medida que há a penetração da amostra (Figura 2.14). Figura 2.14 - Amostrador de parede fina Notas de Aula - Mecânica dos Solos 15 O amostrador é introduzido no solo por pressão estática e constante e retirado quando estiver cheio. A camisa é então liberada do cabeçote, selada e enviada ao laboratório. Este tipo de amostrador é usado para extração de amostras em solos moles. 2.5.3 Cuidados a serem tomados Amostra deformada Toda e qualquer matéria, orgânica ou não, estranha ao solo deverá ser excluída da amostra. Se esta operação for difícil de ser realizada no campo deve-se informar sobre a existência dessa matéria, para que no laboratório sejam tomadas as providências necessárias. Amostra indeformada Os cuidados a serem tomados com essas amostras devem ser maiores do que aqueles com uma amostra deformada indo desde a abertura do poço até sua utilização em laboratório. Estes cuidados com a amostra permitem a manutenção do teor de umidade e da estrutura do solo “in situ”. A seguir serão descritos os cuidados necessários durante as fases da retirada, tratamento com parafina e tecido, transporte para o laboratório, armazenamento e utilização da amostra. Durante a abertura do poço e a retira do bloco deve-se tomar cuidado para que: a) em amostra retirada à superfície do terreno, o sol não incida diretamente sobre o bloco provocando um secamento superficial do solo; b) o poceiro não leve a escavação até a cota do topo do bloco; c) a caixa não seja cravada no solo e, com isso, podendo provocar uma alteração na estrutura do solo, principalmente se for um solo arenoso fofo. A caixa deve descer justa sem cortar o solo e sem um grande esforço do operador; d) a caixa envolva, completamente, a amostra não permitindo folgas; se isto, não for possível preencher a folgacom o solo solto, com um mesmo teor de umidade; e) a amostra não sofra nenhuma vibração, principalmente, para solos arenosos finos; f) a amostra não tombe bruscamente quando da sua separação do terreno natural; g) o transporte da amostra até a superfície do terreno seja rápido. Durante o tratamento do bloco com parafina e tecido deve-se cuidar para que: h) este tratamento não seja feito no fundo do poço ou em lugar fechado, pois a parafina ao derreter emana gases que podem provocar mal estar; i) a parafina, da primeira camada, não esteja muito quente, principalmente, em solos com grandes vazios evitando-se com isso a sua penetração no interior do bloco; j) a primeira etiqueta seja colocada no topo do bloco indicando a posição correta em campo; k) o tecido poroso colocado, sobre a primeira camada de parafina, envolva o bloco sem folga, porém, sem pressioná-lo; l) a parafina colocada sobre o tecido esteja a uma temperatura mais alta permitindo uma aderência maior entre essas camadas e criando uma casca, parafina-tecido-parafina, rígida e impermeável; m) a segunda etiqueta esteja também sobre o topo do bloco onde foi colocada a primeira etiqueta e de fácil visualização no laboratório. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 16 Durante o transporte da amostra para o laboratório, principalmente, se forem usados diferentes meios de transporte deve-se cuidar para que: n) o bloco seja colocado dentro de uma caixa de madeira e protegida por serragem ou outro material qualquer; o) a caixa de madeira seja identificada como contendo material frágil e indicando a posição na qual deverá permanecer durante o transporte. Durante o período de armazenamento no laboratório, em que deverá ficar aguardando a realização dos ensaios, tomar cuidado para que: p) a amostra permaneça em câmara úmida saturada, em local seguro e que não seja movimentada sem necessidade; q) a etiqueta esteja visível e legível. Durante a retirada de corpos de prova, para a realização dos ensaios, tomar cuidado para que: r) a retirada da parafina e do tecido não provoquem uma alteração na estrutura do solo. Use uma tesoura para cortar o tecido se necessário; s) a amostra não fique exposta ao ar, por um período longo, após a retirada de uma parte dela. Coloque um pano úmido sobre essa região da amostra se for continuar a usá-la, em seguida; t) antes de retornar o bloco à câmara úmida coloque parafina, nas partes onde ela foi retirada, fazendo uma boa ligação entre a parafina existente e a recolocada; u) um plano de utilização do bloco deve ser feito, antes de se iniciar o corte, indicando os locais de onde serão retirados os corpos de prova para a realização de cada ensaio. Lembre-se que este poderá ser o único bloco disponível para a caracterização do solo amostrado. 2.5.4 Dimensionamento da amostra O dimensionamento da amostra a ser retirada é função do tipo e do número de ensaios que serão realizados, bem como, da condição atual e futura do local da amostragem. Para o dimensionamento de uma amostra deformada deve-se partir da massa de sólidos estimada para cada ensaio e calcular o total necessário. Para se chegar na massa de solo que deverá ser retirada, será preciso conhecer o teor de umidade da jazida, o que poderá ser feito por uma estimativa visual e táctil ou através de um processo rápido. Para uma amostra indeformada deve-se partir das dimensões dos corpos de prova e assim chegar-se ao número e às dimensões necessárias de cada bloco. Será preciso levar em consideração que durante a realização dos ensaios poderá ocorrer uma perda de material e que alguns ensaios deverão ser repetidos. Além disso, a condição do local após a amostragem poderá não permitir a retirada de novas amostras, bem como, a sua distância até o laboratório e a movimentação do pessoal e equipamento para a amostragem trarão custos adicionais a obra. Assim uma sobra de material no laboratório, desde que, não excessiva é sempre preferível a uma falta de material. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 17 Amostra deformada A NBR 6457/86 – “Preparação de amostras para ensaios de compactação e ensaios de caracterização”, indica as quantidades apresentadas na Tabela 2.4, para preparação de amostras para os ensaios de compactação e de caracterização, para solos que tenham partículas menores que 4,8mm (# 4). Tabela 2.4 – Quantidade de solo para os ensaios de compactação e caracterização Limites de consistência 200 g Granulometria 1 Kg Ensaios de classificação (2 Kg) Massa específica dos solos 500g cilindro pequeno 3 Com reuso do solo cilindro grande 7 cilindro pequeno 15 Ensaios de compactação (EC = 585 kJ/m³) Sem reuso do solo cilindro grande 35 CP (ø = 5 cm e h = 12,5 cm) 1 kg / CP Compactação de corpos de prova CP (ø = 6,5 cm e h = 12,0 cm) 0,7 kg / CP Amostra indeformada Para amostras indeformadas o dimensionamento está diretamente relacionado ao tipo e a dimensão do amostrador a ser usado no momento da coleta de amostra. Na amostragem de bloco, este deve ter forma cúbica com lados variando entre 20 e 30cm, o que permitirá a retirada de 9 a 18 C. P. (corpos de prova), com 5,0 cm de diâmetro e 12,5 cm de altura, desde que o solo esteja em boas condições. O bloco não deverá ter lado menor do que 20,0 cm, pois isso diminuirá e muito o número de corpos de prova com as dimensões já citadas, nem deverá ter dimensão maior do que 30,0 cm, pois isso aumentará o seu peso, dificultando o manuseio em campo e no laboratório, com um risco maior de alteração estrutural. O solo que é retirado do bloco durante a moldagem dos corpos de prova é suficiente para se realizar os ensaios de classificação do solo. A seguir têm-se dois exemplos de determinação de índices físicos. No primeiro exemplo apresentam-se os cálculos dos índices físicos de uma amostra de argila saturada retirada com cilindro de cravação. No segundo exemplo estão dispostos em uma planilha os resultados e cálculos do ensaio de peso específico do solo residual das minas de calcáreo de Caçapava do Sul. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 18 Exemplo 1: Uma amostra de argila saturada tem um volume de 17,4 cm3 e peso de 29,8 g. Após a secagem em estufa, o volume passou a 10,5 cm3 e o peso a 19,6 g. Pede-se para determinar os seguintes índices físicos: w, γs, ei, ef, γdi, γdf, ηi, ηf Amostra inicialmente saturada Vv=Vw Ww = W - Ws = 29,8 - 19,6 = 10,2g γw = Ww/Vw ⇒ 1,0 g/cm3 = 10,2g/Vw ⇒ Vw = Vv = 10,2 cm3 Vs = V - Vw = 17,4 - 10,2 = 7,2 cm3 (não apresenta ∆V com o secamento) w = Ww/Ws = 10,2/19,6 = 52% γs = Ws/Vs = 19,6/7,2 = 2,72 g/cm3 ei = Vvi/Vs = 10,2/7,2 = 1,42 Vvf = Vf - Vs = 10,5 - 7,2 = 3,3 cm3 ef = Vvf/Vs = 3,3/7,2 = 0,46 γdi = Ws/V = 19,6/17,4 = 1,13 g/cm3 γdf = Ws/Vf = 19,6/10,5 = 1,87 g/cm3 ηi = Vvi/Vi = 10,2/17,4 = 58,6% ηf = Vvf/Vf = 3,3/10,5 = 31,4% ÁGUA SÓLIDOS V=17,4 cm3 W=29,0 g SÓLIDOS AR Vf =10,5 cm3 Ws=19,6 g ∆V Notas de Aula - Mecânica dos Solos 19 Exemplo 2: Uma amostra com peso úmido de 100,0g de solo passante na peneira 4,8mm (# 4) foi preparada para o ensaio de peso específico. Desta amostra foi determinado o teor de umidade e a seguir foram realizadas três determinações para diferentes temperaturas, para determinação do peso específico real dos grãos, conforme pode ser observado na planilha a seguir. Interessado: Amostra: Data: Peso úmido + cáp (g): 62,14 80,95 Peso seco + cáp (g): 61,82 80,52 Peso cápsula (g) : 10,83 10,57 Umidade (%): 0,6280,615 Umidade média (%): 1 2 3 4 5 100,00 100,00 100,00 735,00 736,60 737,10 38,50 26,50 22,00 671,008 672,748 673,400 99,383 99,383 99,383 0,9926 0,9966 0,9978 2,788 2,788 2,779 Peso específico dos sólidos médio (g/cm³): 2,785 Peso Específico dos Sólidos (NBR 6508/84) 3 Determinação do peso específico dos solos Picnômetro + água (g): Peso solo seco (g): Peso esp. dos sólidos (g/cm³): 09 de setembro 2001 Determinação: Peso solo úmido (g): Temperatura (ºC): Picnômetro+solo+água (g): UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL 0,621 Certificado Nº: 1A7 - Minas de cálcáreo - Caçapava do Sul Cerâmica Desconsi Umidade higroscópica Picnômetro: Peso esp. água á T ºC (g/cm³): Cálculo do teor de umidade: - Peso da cápsula + solo úmido: (Wc + W)1 = 62,14g e (Wc + W)2 = 80,95g - Peso da cáspula + solo seco: (Wc + Ws)1 = 61,82g e (Wc + Ws)2 = 80,52g - Peso da cápsula: (Wc)1 = 10,83g e (Wc)1 = 10,57g - teor de umidade - w (%): ( ) ( )( ) ( )%.100×−+ +−+= WcWsWc WsWcWWcw ( ) ( ) ( ) %628,083,1082,61 82,6114,62 1 =− −=w ( ) ( ) %615,0 57,10)52,80( 52,8095,80 2 =− −=w ( ) %621,02/615,0628,0 =+=w Notas de Aula - Mecânica dos Solos 20 Cálculo do peso específico real dos grãos: - Peso de solo úmido: Wh = 100,0g - Peso da água + picnômetro: W1 = Ww + Wp ⇒ Wp = 676,59 - 0,145 T (Equação determinada através da calibração do picnômetro em laboratório). Cada picnômetro possui uma equação em função da temperatura. Neste caso foi usado o picnômetro nº 3. W1 = 676,59 – 0,145 (38,5) = 671,008g W2 = 676,59 – 0,145 (26,5) = 672,748g W3 = 676,59 – 0,145 (22,0) = 673,400g - Peso da água + picnômetro + solo: W2 = Ww + Wp + Ws = 735,00g; 736,60g; 737,10g - Peso de solo seco: g w WhWs 383,99 100 621,01 100 100 (%)1 = + = + = - Peso específico da água (p/ T ºC): γw = 0,00000004 T3 - 0,000008 T2 + 0,00006 T + 0,9999 (Equação utilizada para determinar o peso específico da água em função da temperatura) γw1 = 0,00000004 (38,5)3 - 0,000008 (38,5)2 + 0,00006 (38,5) + 0,9999 = 0,9926g/cm3 γw2 = 0,00000004 (26,5)3 - 0,000008 (26,5)2 + 0,00006 (26,5) + 0,9999 = 0,9966g/cm3 γw3 = 0,00000004 (22,0)3 - 0,000008 (22,0)2 + 0,00006 (22,0) + 0,9999 = 0,9978g/cm3 - Peso específico real dos grãos: w WsWW Ws Vs Wss γγ ×+−== 21 9926,0 383,9900,735008,671 383,99 1 ×+−=sγ = 2,788 g/cm 3 9966,0 383,9960,736748,672 383,99 2 ×+−=sγ = 2,788 g/cm 3 9978,0 383,9910,737400,673 383,99 3 ×+−=sγ = 2,779 g/cm 3 Observar para que cada valor de peso específico determinado não difira da média em mais que 0,02 g/cm3. Caso isso ocorra desprezar esta leitura e fazer à média das demais. (2,788 – 2,785) = 0,003 < 0,02 Ok e (2,779 – 2,785) = - 0,006 < 0,02 Ok γs = (γs1 + γs2 + γs1) / 3 = (2,788 + 2,788 + 2,779) / 3 = 2,785 g/cm3 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 21 2.6 Exercícios 1) Uma amostra de solo seco tem índice de vazios e = 0,65 e peso específico real dos grãos γS = 25 kN/m3. (a) Determine seu peso específico natural (γ). (b) em seguida foi adicionada água a amostra até atingir o grau de saturação S = 60%. O valor do índice de vazios não mudou. Determinar o teor de umidade (w) e o peso específico natural (γ). 2) Uma amostra de argila saturada, da cidade do México, tem o teor de umidade inicial de 300%. Depois de adensada seu teor de umidade passa a ser 100%. Sabendo-se que peso específico real dos grãos é de 26,5 kN/m3, determinar seu peso específico aparente seco (γd) antes e depois do adensamento, e a variação de volume total da amostra de 28,137 cm3. 3) Uma amostra de areia seca tendo um peso específico natural de 18,8 kN/m3 e uma densidade real dos grãos G = 2,7, é colocada na chuva. Durante a chuva o volume permaneceu constante, mas o grau de saturação cresceu 40%. Calcule o peso específico aparente úmido e o teor de umidade do solo após ter estado na chuva. 4) Um solo saturado tem peso específico aparente natural igual a 19,2 kN/m3, e um teor de umidade de 32,5%. Determine o índice de vazios e a densidade real dos grãos. 5) Uma jazida a ser empregada em uma barragem tem solo com peso específico seco γd médio de 17 KN/m3. Um aterro com 200.000 m3 deverá ser construído com um peso específico seco médio de 19 KN/m3. Foram determinadas as seguintes características do solo: teor de umidade igual a 10% e peso específico real dos grãos igual a 26,5 kN/m3. Determinar: (a) O volume do solo a ser escavado na jazida para se obter os 200.000 m3 para o aterro; (b) O peso do solo úmido a ser escavado, em toneladas; (c) O peso do solo seco a ser escavado, em toneladas. 6) Deseja-se construir um aterro com material argiloso com uma seção de 21m2 e 10 Km de comprimento, com índice de vazios igual a 0,70. Para tanto será explorada uma jazida localizada a 8,6 Km de distância do eixo do aterro, cujos ensaios indicaram: índice de vazios (amostra indeformada) = 0,398, índice de vazios (amostra amolgada) = 0,802, teor de umidade = 30% e densidade real dos grãos = 2,6. Determinar: (a). Quantos metros cúbicos de material deverão ser escavados na jazida para construir o aterro; (b) Quantas viagens de caminhões caçamba de 6m3 de capacidade serão necessárias para executar o aterro. 7) Serão removidos 220.000 m3 de solo de uma jazida. O solo seco tem “in situ”, ídice de vazios igual a 1,2. Solicita-se determinar: (a) Quantos m3 de aterro com índice de vazios = 0,72 poderão ser construídos; (b) Qual o peso total do solo transportado, sabendo-se que a densidade dos grãos é de 2.7. 8) Uma amostra de argila colhida em um amostrador de parede fina apresentou peso de 158,3g, depois de seca em estufa a 105ºC durante 24 horas, seu peso passou de 108,3g. O volume da amostra era de 95,3 cm3 e o peso específico real dos grãos de 27,5 kN/m3. Determinar o teor de umidade, o volume da fase sólida, o volume da água, o grau de saturação e o peso específico aparente seco e submerso dessa argila. 9) Uma amostra de areia no estado natural apresenta um teor de umidade igual a 12%, tem um índice de vazios de 0,29, pesa 900 g e o seu volume é igual a 450 cm3. Determinar o peso específico aparente seco e a densidade das partículas sólidas. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 22 10) De uma quantidade de solo W = 22 Kg e volume respectivo V = 12,2 litros, extrai-se uma pequena amostra, para qual determina-se: peso úmido de 70g, peso seco de 58g e peso específico real dos grãos de 2,67 g/cm3. Calcule: teor de umidade, peso dos sólidos, peso de água, volume dos sólidos, volume de vazios, índice de vazios, porosidade, grau de saturação, peso específico aparente natural, e agora admitindo-se que o solo esteja saturado, determine o teor de umidade e o peso específico saturado. 11) Uma amostra de areia com volume de 2,9 litros, pesou 5,2 kg, Os ensaios de laboratório para a determinação da umidade natural, do peso específico real dos grãos forneceram os seguintes resultados: Umidade: - peso úmido = 7,79 g - peso seco = 6,68 g Peso específico real dos grãos: - peso do picnômetro com água = 434,12 - peso do picnômetro com 35 g de solo e água até o mesmo nível = 456,21 g. Calcule para esta amostra: teor de umidade, peso específico real dos grãos, peso dos sólidos, peso de água, volume dos sólidos, volume de vazios, índice de vazios, porosidade e grau de saturação. 12) O peso específico aparente natural de um solo é 1,75 g/cm3 e seu teor de umidade 6%. Qual a quantidade de água a adicionar, por metro cúbico de solo para que o teor de umidade passe a 13% (admitirconstância do índice de vazios)? 13) De um corte são removidos 180.000 m3 de solo, com um índice de vazios e = 1,22. Quantos metros cúbicos de aterro com 0,76 de índice de vazios poderão ser construídos? Respostas: 1) γ = γd = 15,15 kN/m3; w = 15,6%; γ = 17,51 kN 2) γdi = 2,96 kN/m3; γdf = 7,26 kN/m3; ∆V = -16,665 cm3 3) γSAT = 18,5 kN/m3; w = 14,8% 4) e = 0,89; G = 2,74 5) VJazida = 223.530 m3; W = 428.001 t; Ws = 380.001 t 6) VJazida = 172.694 m3; VAmolgada = 222.600 m3; NViagens = 18.550 7) VAterro = 172.000 m3; W = 270.000 t 8) w = 45,36%; Vs = 39,6 cm3; Vw = 49,4 cm3; S = 88,68%; γd = 11,427 kN/m3; γSUB = 7,27 kN/m3 9) γd = 17,857 kN/m3; Gs = 2,3036 10) 11) 12) 13) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 23 UNIDADE 3 – GRANULOMETRIA DOS SOLOS 3.1 Introdução Todos os solos, em sua fase sólida, contêm partículas de diferentes tamanhos em proporções as mais variadas. A determinação do tamanho das partículas e suas respectivas porcentagens de ocorrência permitem obter a função distribuição de partículas do solo e que é denominada distribuição granulométrica. A distribuição granulométrica dos materiais granulares, areias e pedregulhos, será obtida através do processo de peneiramento de uma amostra seca em estufa, enquanto que, para siltes e argilas se utiliza à sedimentação dos sólidos no meio líquido. Para solos, que tem partículas tanto na fração grossa (areia e pedregulho) quanto na fração fina (silte e argila) se torna necessária a análise granulométrica conjunta. As partículas de um solo, grosso ou fino, não são esféricas, mas se usará sempre a expressão diâmetro equivalente da partícula ou apenas diâmetro equivalente, quando se faz referência ao seu tamanho. Para os materiais granulares ou fração grossa do solo, o diâmetro equivalente será igual ao diâmetro da menor esfera que circunscreve a partícula, enquanto que para a fração fina este diâmetro é o calculado através da lei de Stokes. A colocação de pontos, representativos dos pares de valores diâmetro equivalente - porcentagem de ocorrência, em papel semilogaritmo permite traçar a curva de distribuição granulométrica, conforme mostrada na Figura 3.1, onde em abscissas estão representados os diâmetros equivalentes e em ordenadas as porcentagens acumuladas retidas, à esquerda e as porcentagens que passam, à direita. Curva Granulométrica - ABNT - NBR NM248 Silte Areia Fina Areia Média Areia Grossa PedregulhoArgila 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,001 0,01 0,1 1 10 100 Diâmetro dos Grãos (mm) Po rc en ta ge m R et id a 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Po rc en ta ge m P as sa nt e Figura 3.1 - Curva granulométrica por peneiramento e sedimentação de uma amostra de solo residual (Minas de calcáreo – Caçapava do Sul) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 24 3.2 Classificação dos solos baseados em critérios granulométricos Os solos recebem designações segundo as dimensões das partículas compreendidas entre determinados limites convencionais, conforme Tabela 3.1. Nesta tabela estão representadas as classificações adotadas pela A.S.T.M (American Society for Testing Materials), A.A.S.H.T.O. (American Association for State Highway and Transportation Officials), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e M.I.T (Massachusetts Institute of Technology). No Brasil a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/NBR 6502/95) – Terminologia - Rochas e Solos define como: Bloco de rocha – Fragmentos de rocha transportados ou não, com diâmetro superior a 1,0 m. Matacão – fragmento de rocha transportado ou não, comumente arredondado por intemperismo ou abrasão, com uma dimensão compreendida entre 200 mm e 1,0 m. Pedregulho – solos formados por minerais ou partículas de rocha, com diâmetro compreendido entre 2,0 e 60,0 mm. Quando arredondados ou semi-arredondados, são denominados cascalhos ou seixos. Divide-se quanto ao diâmetro em: pedregulho fino – (2 a 6 mm), pedregulho médio (6 a 20 mm) e pedregulho grosso (20 a 60 mm). Areia – solo não coesivo e não plástico formado por minerais ou partículas de rochas com diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm. As areias de acordo com o diâmetro classificam-se em: areia fina (0,06 mm a 0,2 mm), areia média (0,2 mm a 0,6 mm) e areia grossa (0,6 mm a 2,0 mm). Silte – solo que apresenta baixo ou nenhuma plasticidade, baixa resistência quando seco ao ar. Suas propriedades dominantes são devidas à parte constituída pela fração silte. É formado por partículas com diâmetros compreendidos entre 0,002 mm e 0,06 mm. Argila – solo de graduação fina constituída por partículas com dimensões menores que 0,002 mm. Apresentam características marcantes de plasticidade; quando suficientemente úmido, molda-se facilmente em diferentes formas, quando seco, apresenta coesão suficiente para construir torrões dificilmente desagregáveis por pressão dos dedos. Caracteriza-se pela sua plasticidade, textura e consistência em seu estado e umidade naturais. Estas características serão vistas na Unidade 4 (plasticidade e consistência dos solos). Tabela 3.1 - Escalas granulométricas adotadas pela A.S.T.M., A.A.S.H.T.O, M.I.T. e ABNT. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 25 3.3 Determinação granulométrica do solo O ensaio de análise granulométrica do solo está normalizado pela ABNT/NBR 7181/82. A distribuição granulométrica dos materiais granulares, areias e pedregulhos, será obtida pelo processo de peneiramento de uma amostra de solo, enquanto que, para siltes e argilas se utiliza o processo de sedimentação. Para solos, que tem partículas tanto na fração grossa quanto na fração fina se torna necessário à análise granulométrica conjunta. 3.3.1 Processo de peneiramento A separação dos sólidos, de um solo, em diversas frações é o objetivo do peneiramento. Este processo é adotado para partículas (sólidos) com diâmetros maiores que 0,075mm (#200). Para tal, utiliza-se uma série de peneiras de abertura de malhas conhecidas (Figura 3.2), determinando-se a percentagem em peso retida ou passante em cada peneira. Este processo divide-se em peneiramento grosso, partículas maiores que 2 mm (#10) e peneiramento fino, partículas menores que 2mm. Para o peneiramento de um material granular, a amostra é, inicialmente, secada em estufa e seu peso determinado. Esta amostra será colocada na peneira de maior abertura da série previamente escolhida e levada a um vibrador de peneiras onde permanecerá pelo tempo necessário à separação das frações. Quanto o solo possui uma porcentagem grande de finos, porém não interessa a sua distribuição granulométrica, faz-se, primeiramente, uma lavagem do solo na peneira nº 200, seguido da secagem em estufa do material retido e posterior peneiramento. Este procedimento leva a resultados mais corretos do que fazer o peneiramento direto, da amostra seca. Figura 3.2 - Série de peneiras de abertura de malhas conhecidas (ABNT/NBR 5734/80). Notas de Aula - Mecânica dos Solos 26 Exemplo 1: A planilha abaixo apresenta o resultado do processo de peneiramento de um ensaio de granulometria de uma areia média do rio Verde – Santa Maria. 03/09/03 Peso Retido Peso Retido (g) (g) Média Acumulada 3/8" 9,5 1/4" 6,3 4 4,8 1,30 0,13 0,90 0,08 0,11 0,11 8 2,4 5,00 0,49 4,40 0,41 0,45 0,55 16 1,2 20,50 2,00 21,10 1,95 1,98 2,53 30 0,60 130,30 12,74 134,30 12,44 12,59 15,12 50 0,30 415,90 40,65 477,30 44,19 42,42 57,54 100 0,15 340,90 33,32 321,00 29,72 31,52 89,06 Fundo 0,01 109,20 10,67 121,00 11,20 10,94 100,00 1023,10 100,00 1080,00 100,00 100,00 164,91 1,2 1,65 A B C D E F G H Leitura MEA (g/cm3) Peso Bruto Peso Massa Unit. Média 500/(L- 200) (kg) Médio - Kg Média Kg/cm3 34,86 390,75 2,62 35,15 30,77 1,548 Tara: Volume: Interessado: Amostra: Prontomix Areia média do Rio Verde 391,00 Final - cm3 390,50 4,24 19,88 Leitura TOTAL Diâmetro Máximo: Módulo de Finura: MASSA ESPECÍFICA ABSOLUTA (E/H) (g/cm3): MÉDIA: (F - G) (g) MASSA ESPECÍFICA ABSOLUTA - ASTM - C 128 2ª DETERMINAÇÃO nº mm Massa Específica - Chapman % Retida Ensaios Físicos de Agregados Miúdos Certificado Nº: Data: % Retida COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR 7217 - AREIA % Retida % RetidaPENEIRAS 1ª DETERMINAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Massa Unitária Solta - NBR 7251 Massa picnômetro vazio (g) Massa picnômetro + areia seca (g) Massa picnômetro + areia + água (g) Massa picnômetro + água (g) Massa areia seca (B - A) (g) (D - A) (g) (C - B) (g) Para o ensaio foram realizadas duas determinações. Uma com peso total de sólidos, Ws1ª = 1023,10g e outra com Ws2ª = 1080,00g, usando-se a série de peneiras indicada na planilha. As aberturas dessa série de peneiras estão também apresentadas, onde: - peso retido = peso de sólidos retido em cada peneira, Wsi - % retida = porcentagem retida em cada peneira em relação ao peso seco, Pri = Wsi/Ws - % retida média = média de porcentagens retidas das duas determinações, Prm = (Pri 1ª + Pri 2ª)/2 - Ws retido acumulado = porcentagem acumulada retida, Σ Pri Notas de Aula - Mecânica dos Solos 27 A curva granulométrica obtida para essa amostra está apresentada, a seguir: Curva Granulométrica - ABNT - NBR NM248 Silte Areia Fina Areia Média Areia Grossa Pedregulho 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,01 0,1 1 10 100 Diâmetro dos Grãos (mm) Po rc en ta ge m R et id a 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Po rc en ta ge m P as sa nt e 3.3.2 Processo de sedimentação Para os solos finos, siltes e argilas, com partículas menores que 0,075mm (#200), o cálculo dos diâmetros equivalentes será feito a partir dos resultados obtidos durante a sedimentação de certa quantidade de sólidos em um meio líquido. A base teórica para o cálculo do diâmetro equivalente vem da lei de Stokes, que afirma que a velocidade de queda de uma partícula esférica, de peso específico conhecido, em um meio líquido rapidamente atinge um valor constante que é proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula. O estabelecimento da função, velocidade de queda - diâmetro de partícula, se faz a partir do equilíbrio das forças atuantes (força peso) e resistentes (resistência viscosa) sobre a esfera, resultando: 2 .1800 Dv ws ×−= µ γγ onde: v = velocidade de queda γs = peso específico real dos grãos - g/cm3 γw = peso específico do fluído - g/cm3 µ = viscosidade da água - g . s/ cm2 D = diâmetro equivalente (mm) A equação anterior foi obtida para o caso de uma esfera de peso específico bem definido caindo em um meio liquido indefinido, e certamente estas não são as condições existentes no ensaio de sedimentação. As partículas não são esféricas e o número delas é grande, o peso específico dos sólidos não é único e o espaço utilizado é limitado, podendo ocorrer influência das paredes do recipiente, bem como de uma partícula sobre as outras. A fim de minimizar os erros devido às diferenças entre teoria e prática, alguns cuidados devem ser tomados durante o ensaio. Primeiro não se deve ter uma suspensão com uma concentração de sólidos, (peso de sólidos/volume da Notas de Aula - Mecânica dos Solos 28 suspensão) muito alta; segundo, para que não ocorra floculação e permita a descida individual das partículas, deve-se adicionar um defloculante à suspensão. Terceiro, a realização do ensaio fica restrito às partículas com diâmetro entre 0,2 e 0,0002mm, para se evitar o problema da turbulência gerada pela queda de partículas grandes e o movimento Browniano que afeta partículas muito pequenas. A velocidade de queda de uma partícula, com diâmetro “D”, é obtida de forma indireta, como descrito a seguir. Na Figura 3.3, estão ilustrados dois instantes da suspensão, à esquerda para o tempo t = 0, quando uma partícula “B”, com diâmetro “D”, se situa no topo da suspensão e à direita depois de decorrido um tempo “t” e tendo a partícula percorrido uma distância “z” a uma velocidade uniforme “v = z/t”. Partículas com diâmetros maiores ou menores do que “D” terão percorrido, nesse tempo “t”, distâncias maiores ou menores do que “z”, com velocidades diferentes, independentemente de suas posições iniciais. Pode-se assim afirmar que acima do ponto “B”, todas as partículas terão diâmetros menores do que “D”, que será calculado pela equação: t zD ws ×−= γγ µ.1800 A suspensão, inicialmente homogênea, com o passar do tempo vai se tornando heterogênea, com densidades diferentes, devido à sedimentação das partículas. A medida da densidade da suspensão, em intervalos de tempo com a utilização de um densímetro permite determinar as distâncias “z”. Na Figura 3.4, está mostrado um corte longitudinal de um densímetro com a escala marcada em sua haste, a suspensão com o densímetro imerso e a posição de leitura e a curva de calibração do densímetro, com as leituras em abscissas e as distâncias “z”, entre o centro de volume do bulbo e cada uma das marcas na haste, em ordenadas. Figura 3.3 - Esquema de ensaio. Da equação anterior tem-se duas grandezas, viscosidade e peso específico do fluído, variáveis com a temperatura, será necessário manter-se esta constante durante o ensaio ou efetuar as correções devidas. Figura 3.4 - Determinação da distância “z”. A equação que permite calcular a porcentagem de partículas com diâmetros menores do que o diâmetro “D”, calculado pela equação anterior, será obtida a seguir. Na Figura 3.5 estão indicadas Z(t) < D > D B B t = 0 t Z 1,00 1,01 1,02 1,03 1,04 Curva calibração 1,01 1,02 1,03 1,04 Z Leitura (L) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 29 duas situações de ensaio, onde em sua parte superior os valores mostrados refletem a situação inicial (t = 0), quando imposta à condição homogeneidade de concentração de sólidos na suspensão e, portanto, o peso específico em qualquer ponto será o mesmo e igual a: V Ws s ws w ×−+= γ γγγγ onde Ws é o peso dos sólidos utilizado no ensaio e V é o volume da suspensão. Com o passar do tempo, as partículas vão se sedimentando, as maiores mais rapidamente e com isto, alterando o peso específico da suspensão ao longo da proveta. Assim, uma partícula “B” de diâmetro “D”, que no instante t = 0 se encontrava no topo da suspensão, como mostrado na figura 3.5, após um tempo “t” percorreu uma distância “z”, e acima desta posição nenhuma partícula terá diâmetro maior ou igual a “D”. Enquanto abaixo existirão partículas com diâmetros menores do que “D”. Para se determinar o peso de sólidos que tem diâmetros menores do que “D” imaginemos a situação mostrada na parte inferior da Figura 3.5, que é uma suspensão preparada com estas partículas com peso “Wsn” e que terá um peso específico igual a: V W tz sn s ws wSusp ×−+= γ γγγγ ),( v Ws s ws w ×−+= γ γγγγ Figura 3.5 – Fases da sedimentação A porcentagem de partículas com diâmetros menores do que “D” é igual a: s snt Z W tzW D ),( % =< , e portanto ( ) N W vD wL sws st Z ×−××−=< γγγγ γ % onde γsusp (γL) será obtido, em cada instante, com o uso de um densímetroe N é a porcentagem de partículas que passam na peneira nº 10. Calculados os pares de valores D, (%<D) tem-se a condição de traçar a curva do solo. Em qualquer posição para t = 0, solução homogênea Sólidos s sWV γ− s sW γ Vw Vs Ws w s sWV γγ ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ − ωγγ ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −+ s s s WVW B t = 0 V Ww Água t > 0 Água Sólidos s snWV γ− s snW γ Vw Vs Ws w s snWV γγ ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ − ωγγ ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −+ s sn sn WVW B V Ww Z d2 Petronio PC Rectangle Petronio PC Highlight Notas de Aula - Mecânica dos Solos 30 Exemplo 2: a planilha abaixo mostra os resultados do ensaio de granulometria do solo residual das Minas de calcáreo - Caçapava do Sul, cuja distribuição das frações foi apresentada como exemplo na Figura 3.1. Ps+cáp.+água (g): 62,14 80,95 Ps + cápsula (g): 61,82 80,52 Cápsula (g): 10,83 10,57 Data: 10 de Setembro de 2001 w (%): 0,63 0,61 w média (%): 2,785 80,00 Peso seco (g): 79,51 Temperatura Viscosidade Densidade Correção Altura Queda Diâmetro (%) Amost. T (ºC) m (g.s\cm2) L Ld h (cm) D (mm) Total < Diâm. 30 seg 14,0 1,1946E-05 1,0320 1,00505 13,88 0,0747 51,30 1 min 14,0 1,1946E-05 1,0260 1,00505 14,99 0,0549 39,88 2 min 14,0 1,1946E-05 1,0230 1,00505 15,55 0,0395 34,17 4 min 14,0 1,1946E-05 1,0210 1,00505 14,82 0,0273 30,36 8 min 14,0 1,1946E-05 1,0190 1,00505 15,19 0,0195 26,55 15 min 14,0 1,1946E-05 1,0180 1,00505 15,37 0,0143 24,65 30 min 14,0 1,1946E-05 1,0170 1,00505 15,56 0,0102 22,75 60 min 14,0 1,1946E-05 1,0150 1,00505 15,93 0,0073 18,94 120 min 14,0 1,1946E-05 1,0120 1,00505 16,48 0,0053 13,23 270 min 14,0 1,1946E-05 1,0080 1,00505 17,22 0,0036 5,61 450 min 16,0 1,1342E-05 1,0065 1,00479 17,50 0,0027 3,26 1440 min 13,5 1,2105E-05 1,0060 1,00511 17,59 0,0016 1,69 Diâm. (mm) % < Diâm. 80,00 Ph #4 (g): 1500,00 0,002 2 79,51 Ps #4 (g): 1490,74 0,06 42 Mat. Retido Material que passa (g) (%) 0,20 88 Nº mm (g) Parcial Total Passante 0,60 94 1" 25 1490,74 100,00 2,00 97 3/4" 19 1490,74 100,00 1/2" 12,5 4,73 1486,01 99,68 3/8" 9,5 8,24 1477,78 99,13 Argila: 2 4 4,8 28,90 1448,87 97,19 Silte: 40 10 2,00 2,73 1446,14 97,01 Areia Fina: 46 16 1,20 1,19 78,32 95,56 Areia Média: 6 30 0,60 1,22 77,10 94,07 Areia Grossa: 3 40 0,42 0,92 76,18 92,95 Pedregulho: 3 60 0,25 1,75 74,43 90,81 100 0,15 5,40 69,03 84,22 200 0,075 10,60 58,43 71,29 Ph #10 (g): Ps #10 (g): Peneiramento Sedimentação Teor de Umidade (w) Peso Esp.sólidos (g/cm³): Peso úmido (g): 0,621 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Análise Granulométrica de Solos - NBR 7181/82 Porcentagens Peneiras Certificado nº: Interessado: Cerâmica Desconsi 1A7 - Minas de cálcáreo - Caçapava do SulAmostra: Tempo Decorrido Notas de Aula - Mecânica dos Solos 31 3.4 Cálculos do ensaio de granulometria A seguir apresentamos o exemplo do cálculo de um par de valores da curva de distribuição granulométrica. Determinação da amostra total seca: - amostra total úmida (W) = 1500g - umidade higroscópica (w) = 0,621% (visto na Unidade 2) - peso total da amostra seca (Ws) = 1500/(1+0,621/100)= 1490,74g Peneiramento: só se obteve material retido a partir da peneira de 12,5 mm, logo, as porcen- tagens acumuladas de material passando nas peneiras de abertura maior que ela são iguais a 100%. - peso de material retido na peneira de 12,5 mm (# 1/2”) = 4,73g - peso do material retido na peneira de 9,5 mm (# 3/8”) = 8,24g - peso do material retido na peneira de 4,8 mm (# 4) = 28,90g - peso do material retido na peneira de 2,0 mm (# 10) = 2,73g - porcentagem total acumulada passando na peneira de 12,5mm: Wsacum..pas.= (1490,74 – 4,73)/ 1490,74 = 1486,01/1490,74 = 0,9968 = 99,68% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 9,5mm: Wsacum..pas.= [1490,74 – (4,73 + 8,24)]/1490,74 = 0,9913 = 99,13% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 4,8mm: Wsacum..pas.= [1490,74 – (4,73 + 8,24 + 28,90)]/1490,74 = 0,9719 = 97,19% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 2,0mm: Wsacum..pas.= [1490,74 – (4,73 + 8,24 + 28,90 + 2,73)]/1490,74 = 0,9701 = 97,01% Sedimentação: - peso úmido usado na sedimentação = 80g - teor de umidade = 0,621% - peso seco usado na sedimentação = [80/(1+0,621/100)] = 79,51g Cálculo da porcentagem total acumulada passando entre as peneiras de 1,2mm (#16) e 0,0747mm (%<D): - porcentagem total acumulada passando na peneira de 1,20mm: Wsacum..pas.= [79,51 – 1,19]/79,51 x 97,01 = 78,32/79,51 x 97,01% = 95,56% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 0,60mm: Wsacum..pas.= [79,51 – (1,19 + 1,22)]/79,51 x 97,01 = 77,10/79,51 x 97,01% = 94,07% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 0,42mm: Wsacum..pas.= [79,51 – (1,19 + 1,22 + 0,92)]/79,51 x 97,01 = 76,18/79,51 x 97,01% = 92,95% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 0,25mm: Wsacum..pas.= [79,51 – (1,19 + 1,22 + 0,92 + 1,75)]/79,51 = 74,43/79,51 x 97,01% = 90,81% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 0,15mm: Wsacum..pas.= [79,51 – (1,19+1,22+0,92+1,75+5,4)]/79,51 = 69,03/79,51 x 97,01% = 84,22% - porcentagem total acumulada passando na peneira de 0,075mm: Wsa.p.= [79,51 – (1,19+1,22+0,92+1,75+5,4+10,6)]/79,51 = 58,43/79,51 x 97,01% = 71,29% Determinação da viscosidade: - temperatura do ensaio = 14°C - viscosidade (µ) do meio dispersor (água) p/ 14°C = 11,98 x 10-6 g.s/cm2 (Tabela 2 - NBR 7181) ou determinada pela equação 20,000221Τ0,0337Τ1 0,0000181 ++=µ , onde T = temperatura em ºC Notas de Aula - Mecânica dos Solos 32 214)0,000221.()0,0337.(141 0,0000181 ++=µ = 11,946 x 10 -6 g.s/cm2 - peso específico do meio dispersor (água) p /14°C, γw = 0,9993 g./cm3 = 1,0 g./cm3 (Anexo – Tabela – NBR 6458 – Adota-se γw = 1,0 g./cm3, para efeito de cálculo) - peso específico real dos grãos (γs) = 2,785 g/cm3 (Ensaio de peso específico - NBR 6508). Cálculo do diâmetro dos grãos para a leitura correspondente ao tempo de 30s: - leitura do densímetro no ensaio = 1,0320 o que corresponde a um valor de altura de queda (z) de 13,88cm (Gráfico de calibração do densímetro). Para esse densímetro a curva de calibração fornece as seguintes equações para o cálculo da altura de queda (z): - Para as três primeiras leituras: z = h = 204,8 – 185 L - Para as demais leituras: z = h = 203,7 – 185 L, onde L = leitura realizada no densímetro z = 204,8 – 185 . 1,0320 = 13,88 cm - diâmetro equivalente dos grãos (D) para a primeira leitura t zD ws ×−= γγ µ.1800 ⇒ 30 88,13 0,1785,2 610946,11.1800 ×− −×=D = 0,0747 mm Cálculo da porcentagem de material com diâmetro menor que 0,0747mm (%<D): - peso específico real dos grãos (γs) = 2,785 g/cm3 - peso do material usado na sedimentação (Ws) = 79,51g - correção da leitura do densímetro em função da temperatura (T=14°C), Ld = 1,00505 (retirado da curva de calibração do densímetro utilizado). Para esse densímetro dado pela equação: 7731,00587579+095T0,00000490 +258347T-0,0000045=Ld 7731,00587579+095.(14)0,00000490 +258347.(14)-0,0000045=Ld = 1,00505 - leitura no densímetro no ensaio (γsusp), L = γL = 1,0320 - porcentagem em relação à amostra total seca, passando na peneira de 2,0mm (#10) = 97,01% Portanto, a porcentagem do material, referida à amostra total seca com diâmetro menor que 0,0747mm (%<D) ( ) N W vD wL sws st Z ×−××−=< γγγγ γ % , onde (γL = L e γW = Ld) ( ) 01,9700505,10320,1 51,79 1000 0,1785,2 785,2% ×−××−=< t ZD ⇒ (%<D) = 51,30% As coordenadas de um ponto da curva granulométricasão: D = 0,0074mm e (%<D=0,074) = 51,30 % Para os tempos subseqüentes, procede-se da mesma forma, determinando para cada leitura do densímetro a altura de queda. Utiliza-se o material passante na peneira de 2,0 mm (# 10) do ensaio de sedimentação para o peneiramento fino. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 33 3.5 Propriedades que auxiliam na identificação dos solos Os solos são identificados por sua textura, composição granulométrica, plasticidade, consistência ou compacidade, citando-se outras propriedades que auxiliam sua identificação, como estrutura, forma dos grãos, cor, cheiro, friabilidade, presença de outros materiais. 3.5.1 Textura Quanto à textura (distribuição granulométrica) os solos são classificados em grossos e finos. Os solos grossos são aqueles nos quais mais do que 50% dos grãos são visíveis a olho nu; são as areias e os pedregulhos. Os solos finos são aqueles nos quais mais do que 50 % das partículas são de tal dimensão, que não são visíveis a olho nu; são as argilas e os siltes. A experiência indica que a textura, ou seja, a distribuição granulométrica é muito importante nos solos grossos (granulares). Nestes solos a distribuição granulométrica pode revelar o comportamento referente às propriedades físicas do material. Para solos com grãos menores que a abertura da peneira de nº 200 (0,075mm), a granulometria é de pouca importância para a solução dos problemas de engenharia geotécnica. Em função da distribuição granulométrica os solos podem ser bem ou mal graduados. Os solos que tem seus grãos variando, preponderantemente, dentro de pequenos intervalos, são, portanto, solos mal graduados. Os solos que tem várias frações de diâmetro diferentes misturadas; são, portanto, solos bem graduados. Três parâmetros são utilizados para dar uma informação sobre a curva granulométrica: - Diâmetro efetivo (D10): É o ponto característico da curva granulométrica para medir a finura do solo, que corresponde ao ponto de 10%, tal que 10% das partículas do solo possuem diâmetro inferiores a ele. - Coeficiente de uniformidade (Cu): Dá uma idéia da distribuição do tamanho das partículas do solo; valores próximos de um indicam curva granulométrica quase vertical, com os diâmetros variando em um intervalo pequeno, enquanto que, para valores maiores a curva granulométrica irá se abatendo e aumentando o intervalo de variação dos diâmetros. Da mesma foram que foi definido D10 , define-se D30 e D60 . Cu = D60 / D10 A representação da curva granulométrica em papel semilogaritmo apresenta vantagens, pois os solos com Cu, aproximadamente iguais, serão representados por curvas paralelas. Os solos que apresentam Cu < 5 são denominados uniformes; e com Cu > 15 desuniformes. Para valores de Cu entre 5 e 15 são denominados de medianamente uniformes. - Coeficiente de curvatura (Cc): Dá uma medida da forma e da simetria da curva granulométrica e é igual a: ( ) 1060 2 30 DD D Cc ×= Para um solo bem graduado, o valor do coeficiente de curvatura, deverá estar entre 1 e 3. Portanto, a distribuição do tamanho de partículas é proporcional, de forma que os espaços deixados pelas partículas maiores sejam ocupados pelas menores. Para solos granulares há maior interesse no conhecimento do tamanho das partículas, visto que, algumas de suas propriedades estão relacionadas com os mesmos, o que não ocorre com os solos finos. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 34 Logo, segundo a forma da curva podemos distinguir os diferentes tipos de granulometria conforme pode ser observado na Figura 3.6. Figura 3.6 - Diferentes tipos de granulometria Exemplo 3: Na figura abaixo, estão mostradas curvas granulométricas de solos e materiais granulares, de alguns locais do município de Santa Maria e Região. Curva Granulométrica - ABNT - NBR NM248 1 2 3 6 7 8 9 4 5 Silte Areia Fina Areia Média Areia Grossa PedregulhoArgila 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,001 0,01 0,1 1 10 100 Diâmetro dos Grãos (mm) Po rc en ta ge m R et id a 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Po rc en ta ge m P as sa nt e (1) argila siltosa de alta plasticidade, leito do Arroio Cadena - Vila Oliveira - Santa Maria. (2) argila siltosa de alta plasticidade, Distrito de Pains – Santa Maria. (3) argila siltosa medianamente plástica, várzea do Rio Vacacaí-Mirim – Santa Maria. (4) argila siltosa com areia, Aterro Sanitário – Restinga Seca. (5) solo residual “Chumbinho” – Restinga seca. (6) areia fina a média, margem do Arroio Cadena – Vila Lídia – Santa Maria. (7) areia média, margem do Arroio Cadena – Vila Oliveira – Santa Maria. (8) areia média a grossa, Rio Verde – Santa Maria. (9) areia grossa, Rio Verde – Santa Maria. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 35 As curvas granulométricas do exemplo anterior apresentam valores para os diâmetros específicos e coeficientes mostrados na tabela Curva nº D10 (mm) D30 (mm) D60 (mm) Cu Cc 5 0,0035 0,17 1,30 371,43 6,35 6 0,094 0,17 0,24 2,55 1,28 7 0,13 0,23 0,40 3,08 1,02 8 0,15 0,24 0,35 2,33 1,10 9 0,25 0,38 0,61 2,45 0,95 De acordo com os valores indicados, a curva 5 é de solo desuniforme; enquanto que as demais curvas são de solos uniformes. Os solos das curvas 5 e 6 são bem graduados, os demais são mal graduados. 3.5.2 Compacidade Compacidade é a característica da maior ou menor densidade (compactação) dos solos granulares (não coesivos). Os solos não coesivos são as areias e pedregulhos, e quantitativamente a compacidade ou densidade relativa é determinada pelo grau de compacidade através da expressão: e - e e - e GC mínmáx natmáx= Determina-se o índice de vazios máximo vertendo-se simplesmente o material seco em um recepiente de volume conhecido e pesando-se (ABNT/NBR 12004/90) emáx = Vv/Vs = (V - Vs)/Vs ⇒ emáx = (V - Ws/γs) / (Ws/γs) onde: V = volume do recipiente Ws = peso do solo seco γs = peso específico real dos grãos Obtém-se o índice de vazios mínimo, compactando-se o material por vibração ou por socamento dentro de um recipiente de volume V (ABNT/NBR 12051/91). emín = (V - Wsc/γs) / (Wsc/γs), onde: Wsc = peso do solo compactado Em função do grau de compacidade classificam-se as areias em: Fofa (solta) 0 < GC < 1/3 Medianamente compacta 1/3 < GC < 2/3 Compacta 2/3 < GC < 1 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 36 Qualitativamente correlaciona-se a compacidade de areias e siltes arenosos com a resistência a penetração obtida no ensaio de penetração estática (SPT). Segundo ABNT/NBR 7250/82, temos: Designação Índice de resistência à penetração – N (SPT) Fofo ≤ 4 Pouco compacto 5 a 8 Medianamente compacto 9 a 18 Compacto 18 a 40 Muito compacto > 40 3.5.3 Forma dos grãos Quanto à forma, as partículas dos materiais granulares, pedregulhos e areias, se aproximam de uma esfera. A caracterização do seu tamanho através de uma medida linear é, suficientemente, correta. Existem tabelas que distribuem as partículas esferoidais em classes, de acordo com a forma de sua superfície: angular, subangular, subarredondado, arredondado e bem arredondado. A forma mais comum, das partículas dos argilo-minerais formadores dos solos argilosos é a laminar onde predominam duas dimensões, largura e comprimento, sobre a espessura. A Figura 3.6 apresenta as classes de arredondamento, e a Figura 3.7 apresenta partículas de argila. Figura 3.7 – Grau de arredondamento das partículas Figura 3.7 – Grãos de areia (a) bem arredondada, (b) subangular. Notas de Aula - Mecânica dos Solos37 Figura 3.8 – Partículas de argila (a) caulinita (b) ilita 3.6 Uso da granulometria Nos solos com grãos maiores do que a peneira de nº 200 (areias e pedregulhos) a granulometria tem vários usos importantes. Por exemplo, os solos bem graduados, ou seja, com uma ampla gama de tamanho de partículas, apresentam melhor comportamento em termos de resistência e compressibilidade que os solos com granulometria uniforme (todas as partículas têm o mesmo tamanho). Outra finalidade da curva granulométrica é na estimativa do coeficiente de permeabilidade (Unidade 6) de solos de granulação grossa, especialmente no dimensionamento de filtros. O material fino atua como ligante dos solos. O conhecimento da curva granulométrica permite a escolha do material para utilização em bases de rodovias e aeroportos. Porém existem várias razões tanto práticas como teórica pelas quais, a curva granulométrica de solos finos é mais discutível que as correspondentes a solos granulares. Os tratamentos químicos e mecânicos que os solos naturais recebem antes de realizar uma análise granulométrica resultam em tamanhos efetivos que podem ser muito diferentes dos existentes no solo natural. Para execução de concreto de cimento, agregados bem graduados requerem menos cimento para encher os vazios e, havendo menos água por unidade de volume de concreto, ele será mais denso, menos permeável e apresentará maior resistência à alteração do que se fosse executado com agregado uniforme. Para o caso de concreto asfáltico usando agregado bem graduado a quantidade de asfalto a ser empregado é menor. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 38 UNIDADE 4 - PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA DOS SOLOS 4.1 Introdução Os solos que apresentam certa porcentagem da fração fina (silte e argila), não podem ser adequadamente caracterizados pelo ensaio de granulometria. São necessários outros parâmetros tais como: forma das partículas, a composição mineralógica e química e as propriedades plásticas, que estão intimamente relacionados com o teor de umidade. Define-se plasticidade como sendo a propriedade dos solos finos que consiste na maior ou menor capacidade de serem moldados sob certas condições de umidade. Segundo a ABNT/NBR 7250/82, a plasticidade é a propriedade de solos finos, entre largos limites de umidade, de se submeterem a grandes deformações permanentes, sem sofrer ruptura, fissuramento ou variação de volume apreciável. As partículas que apresentam plasticidade são, principalmente, os argilo-minerais. Os minerais como o quartzo e o feldspato não desenvolvem misturas plásticas, mesmo que suas partículas tenham diâmetros menores do que 0,002mm. A influência do teor de umidade nos solos finos pode ser facilmente avaliada pela análise da estrutura destes tipos de solos. As ligações entre as partículas ou grupo de partículas são fortemente dependentes da distância. Portanto, as propriedades de resistência e compressibilidade são influenciadas por variações no arranjo geométrico das partículas. Quanto maior o teor de umidade implica em menor resistência. 4.2 Composição mineralógica das argilas A argila é a fração do solo, cujas partículas apresentam um diâmetro inferior a 0,002mm (NBR 7250) e que, em contato com a água, adquire plasticidade. A fração argila, no entanto, não é constituída só de partículas que apresentam plasticidade. É constituída de diversos tipos de partículas, que podem ser classificadas de acordo com a Tabela 4.1. Tabela 4.1 – Classificação em função do tipo de partícula (Lambe e Whittman, 1972). Argilo minerais Substâncias inorgânicas Minerais não argílicos Hidróxidos de Fe e Al Quartzo Micas Feldspatos Calcita e dolomita Substâncias orgânicas Vegetal (húmus) Animal (microorganismos) A plasticidade de um solo é devida aos argilo-minerais, às micas e ao húmus existentes. O teor de argilo-minerais na fração argila dos solos é, quase sempre, muito superior aos de mica e de húmus e, portanto, o estudo dos argilo-minerais deve merecer destaque. 4.2.1 Argilo-minerais Os argilo-minerais são, fundamentalmente, silicatos hidratados de alumínio, que apresentam plasticidade, permuta catiônica, dimensões geralmente inferiores a 2 mícron e forma lamelar e alongada. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 39 Os argilo-minerais compreendem uma grande família de minerais, que podem ser classificados em diversos grupos, conforme a estrutura cristalina e as propriedades semelhantes. Os principais grupos de argilo-minerais são os das caulinitas, ilitas e montmorilonitas. 4.2.2 Estrutura dos argilo-minerais A estrutura dos argilo-minerais é constituída, em sua essência, de camadas de sílica e camadas de gibsita (hidróxido de alumínio). A unidade cristalina da sílica é um tetraedro, cujos vértices são ocupados por oxigênio e em cujo centro há um silício. A camada de sílica é formada pelos tetraedros de sílica, ligados de modo a constituírem uma rede de malha hexagonal. Os nós desta rede são ocupados pelo silício dos tetraedros de sílica. As bases dos tetraedros estão num plano e os vértices, apontados para a mesma direção. A camada de tetraedros de sílica pode ser assim esquematizada, Figura 4.1. Oxigênio Silício Tetraedros de Sílica (SiO4) Folha em arranjo hexagonal de tetraedros Figura 4.1 – Unidade cristalina dos tetraedros de sílica A unidade cristalina da gibsita é um octaedro. Os vértices são ocupados por hidroxilas e o centro pelo alumínio. Convém lembrar, que o alumínio possui número de coordenação 6, isto é, cada átomo de alumínio pode ligar-se a 6 hidroxilas (Figura 4.2). Hidróxidos Alumínio Octaedros de Gibsita Al2 (OH)6 Folha em arranjo hexagonal de octaedros Figura 4.2 - Unidade cristalina dos octaedros de gibsita. A unidade estrutural básica das caulinitas é constituída de uma camada de tetraedros de sílica e de uma camada de octaedros de gibsita, onde as hidroxilas desta são parcialmente substituídas pelos oxigênios dos vértices dos tetraedros da camada de sílica. Logo, o plano comum das duas camadas é constituído por átomos de oxigênio e hidroxilas, sendo a ligação entre elas iônica. A unidade estrutural das caulinitas, sob o ponto de vista iônico, é neutra e esta representada na Figura 4.3.a. A estrutura das caulinitas é formada pelo empilhamento destas unidades, sendo a união entre o plano de hidroxilas de uma unidade com o plano de oxigênio de outra unidade feita por ligações Notas de Aula - Mecânica dos Solos 40 de hidrogênio. Freqüentemente, as caulinitas são constituídas de 6 unidades estruturais, que podem ser vistas na Figura 4.3.b. (a) (b) Figura 4.3 - Unidade estrutural das caulinitas. As ligações de hidrogênio são fracas, mas suficientemente fortes para evitarem a penetração da água entre as unidades estruturais. Por esta razão, as caulinitas apresentam pequena expansão, difícil dispersão na água e baixa plasticidade. Como as valências livres estão apenas nas extremidades, às capacidades de adsorção de água e de permuta catiônica é pequena. As caulinitas são as argilas de maiores dimensões. O comprimento varia entre 0,3 e 4 mícrons e a espessura, entre 0,05 e 2 mícrons. A unidade estrutural básica das montmorilonitas é formada de uma camada de octaedros de gibsita entre duas camadas de tetraedros de sílica, conforme Figura 4.4.a. As montmorilonitas caracterizam-se por apresentarem, sempre, o alumínio das camadas de octaedros substituído parcialmente ou totalmente por magnésio e ferro, principalmente. Esta substituição origina um excesso de valências negativas na camada interna, que não podem sersatisfeitas por cátions, devido às camadas de tetraedros limítrofes. A estrutura das montmorilonitas caracteriza-se por apresentar moléculas de água entre as unidades estruturais, conforme esquema da Figura 4.4.b. (a) (b) Figura 4.4 - Unidade estrutural da montmorilonita. Oxigênio Silício Hidroxila Alumínio → Al (OH)3 7,2 Å → SiO2 Argilas 1 : 1 Oxigênio Silício Hidroxila Alumínio n H2O n H2O → SiO2 Al+++ por → Mg++ ou Fe++ 9,6 a 21,4 Å Argilas 2 : 1 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 41 Como a água penetra com grande facilidade entre as camadas estruturais, as montmorilonitas são de fácil dispersão na água, grande expansão e alta plasticidade. Possuem grande capacidade de adsorção de água e de permuta catiônica, porque, além de apresentarem ligações quebradas nas extremidades, possuem cargas negativas nas superfícies das unidades estruturais. As montmorilonitas são as argilas de menores dimensões. A unidade estrutural básica das ilitas é a mesma das montmorilonitas (Figura 4.5). Apenas, nas ilitas, os átomos de silício das camadas de sílica são substituídos parcialmente por alumínio. Há, portanto, valências livres nas camadas limítrofes das unidades estruturais, que são neutralizadas por cátions de K, dispostos entre as unidades superpostas. O esquema estrutural das ilitas esta representado na Figura 4.5.b. O cátion K é o que melhor se adapta às malhas hexagonais dos planos de oxigênio das camadas de tetraedros de sílica e não é deslocado por outros cátions. (a) (b) Figura 4.5 - Unidade estrutural da ilita. A capacidade de adsorção de água e de permuta catiônica é devida, apenas, às ligações quebradas das extremidades das camadas e, portanto, é pequena. O diâmetro médio das ilitas varia entre 0,1 e 0,3 mícron. Quando, nas ilitas, a substituição do silício das camadas de tetraedros por alumínio for pequena, as ligações entre as unidades estruturais proporcionadas pelos cátions K podem ser deficientes e permitirão a entrada de água. Quando isso ocorre, as propriedades das ilitas se aproximam das propriedades das montmorilonitas. 4.3 Estados de consistência No inicio do século XX, um químico sueco Albert Atterberg, realizou pesquisas sobre as propriedades dos solos finos (consistência). Segundo ele, os solos finos apresentam variações de estado de consistência em função do teor de umidade. Isto é, os solos apresentam características de consistência diferentes conforme os teores de umidade que possuem. Há teores de umidade limite que foram definidos como limites de consistência ou limites de Atterberg. O termo consistência refere-se primariamente ao grau de resistência e plasticidade do solo que dependem das ligações internas entre as partículas do solo. Os solos ditos coesivos possuem uma consistência plástica entre certos teores limites de umidade. Abaixo destes teores eles apresentam uma consistência sólida e acima uma consistência liquida. Pode-se ainda distinguir entre os estados de consistência plástica e sólida, uma consistência semi-sólida. Oxigênio Silício Hidroxila Alumínio K+ K+ K+ → Si+++ por Al+++ K+ K+ K+ 10 Å _ _ _ _ _ _ Argilas 2 : 1 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 42 Uma massa de solo argiloso no estado líquido (por exemplo, lama) não possui forma própria e tem resistência ao cisalhamento nula. Retirando-se água aos poucos, por secamento da amostra, a partir de um teor de umidade esta massa de solo torna-se plástica, quando para um teor de umidade constante poderá ter sua forma alterada, sem apresentar uma variação sensível do volume, ruptura ou fissuramento. Continuando o secamento da amostra, atinge-se um teor de umidade no qual o solo deixa de ser plástico e adquire a aparência de sólido, mas ainda apresentando uma variação de volume para teores de umidade decrescentes, porém mantendo-se saturado, se encontrando no estado semi-sólido. Finalmente, a partir de um teor de umidade, amostra começará a secar, mas a volume constante, até o secamento total, tendo atingido o estado sólido. A Figura 4.6 mostra o descrito anteriormente, lembrando que ∆V = Vo – Vf é igual ao volume de água da amostra, perdido por secamento, para se passar do estado líquido ao sólido. Os teores de umidade correspondentes aos limites de consistência entre sólido e semi-sólido; semi-sólido e plástico; e plástico e líquido são definidos como limite de contração, limite de plasticidade e limite de liquidez. Figura 4.6 - Estados e limites de consistência. A plasticidade de um solo argiloso está relacionada à forma de suas partículas, e que é característica do argilo-mineral existente no solo. Diversos autores vêm procurando correlacionar os limites de consistência com os aspectos mineralógicos das argilas. A Tabela 4.2 mostra os valores dos limites de consistência de alguns argilo-minerais. Tabela 4.2 - Limites de consistência (Mitchell, 1976). Argilo-minerais Limite de Liquidez LL (%) Limite de Plasticidade LP (%) Limite de Contração LC (%) Montmorilonita 100 - 900 50 - 100 8,5 - 15 Ilita 60 - 120 35 - 60 15 - 17 Caulinita 30 - 110 25 - 40 25 - 29 V ar ia çã o de v ol um e (∆V ) Estado líquido Estado plástico Estado semi-sólido Estado sólido Vf V0 LC LP LL Teor de umidade (w%) 0 Vi Sr < 100% Sr = 100% Notas de Aula - Mecânica dos Solos 43 4.4 Determinação experimental dos limites de consistência Ainda que, os limites de liquidez e de plasticidade possam ser obtidos através de ensaios bastante simples, a interpretação física e o relacionamento quantitativo dos seus valores, com os fatores de composição do solo, tipo e quantidade dos minerais, tipo de cátion adsorvido, forma e tamanho das partículas, composição da água é difícil e complexo. 4.4.1 Limite de liquidez (LL) No ensaio de limite de liquidez mede-se, indiretamente, a resistência ao cisalhamento do solo para um dado teor de umidade, através do número de golpes necessários ao deslizamento dos taludes da amostra; para um teor de umidade igual ao limite de liquidez foram encontrados valores iguais a 2,5 kPa, valores estes muito baixos, indicando a proximidade do estado líquido e sendo a maior parte desta resistência devida às forças atrativas entre as partículas que por sua vez estão relacionadas a atividade superficial dos argilo-minerais. O limite de liquidez de um solo é o teor de umidade que separa o estado de consistência líquido do plástico e para o qual o solo apresenta uma pequena resistência ao cisalhamento. O ensaio utiliza o aparelho de Casagrande, onde tanto o equipamento quanto o procedimento são normalizados (ABNT/NBR 6459/82). O aparelho de Casagrande, mostrado na Figura 4.7 é formado por uma base dura (ebonite), uma concha de latão, um sistema de fixação da concha à base e um parafuso excêntrico ligado a uma manivela que movimentada a uma velocidade constante, de duas rotações por segundo, elevará a concha a uma altura padronizada para a seguir deixá-la cair sobre a base. Um cinzel (gabarito), com as dimensões mostradas na mesma figura completa o aparelho. O solo utilizado no ensaio é a fração que passa na peneira de 0,42mm (# 40) de abertura e uma pasta homogênea deverá ser preparada e colocada na concha; utilizando o cinzel, deverá ser aberta uma ranhura, conforme mostrado na Figura 4.8. Conforme a concha vai batendo na base, os taludes tendem a escorregar e a abertura na base da ranhura começa a se fechar. O ensaio continua até queos dois lados se juntem, longitudinalmente, por um comprimento igual a 10,0 mm, interrompendo-se o ensaio nesse instante e anotando-se o número de golpes necessários para o fechamento da ranhura. Figura 4.7 - Aparelho de Casagrande. Retirando-se uma amostra do local onde o solo se uniu determina-se o teor de umidade, obtendo-se assim um par de valores, “teor de umidade x número de golpes”, que definirá um ponto Notas de Aula - Mecânica dos Solos 44 no gráfico de fluência. A repetição deste procedimento para teores de umidade diversos, permitirá construir o gráfico apresentado na Figura 4.9. Convencionou-se, que no ensaio de Casagrande, o teor de umidade correspondente a 25 golpes, necessários para fechar a ranhura, é o limite de liquidez. Figura 4.8 - Ensaio de limite de liquidez. Gráfico - Limite de Liquidez 10 100 25 26 27 28 29 30 31 Umidade (%) N úm er o de G ol pe s 25 Figura 4.9 – Gráfico de limite de liquidez 4.4.2 Limite de plasticidade (LP) Uma explicação para o limite de plasticidade não é tão simples, como a do limite de liquidez, podendo-se citar, entre outras, a que sugere que o limite de plasticidade corresponde a um teor de umidade do solo que para valores menores do que ele, as propriedades físicas da água não mais se igualam às da água livre ou de que o limite de plasticidade é o teor de umidade mínimo, no qual a coesão é pequena para permitir deformação, porém, suficientemente alta para garantir a manutenção da forma adquirida. Independentemente, das explicações sugeridas, o limite de plasticidade é o extremo inferior do intervalo de variação do teor de umidade no qual o solo apresenta comportamento plástico. O equipamento necessário à realização do ensaio é muito simples tendo-se, apenas, uma placa de vidro com uma face esmerilhada e um cilindro padrão com 3mm de diâmetro, conforme esta Notas de Aula - Mecânica dos Solos 45 representado na Figura 4.10. O ensaio inicia-se rolando, sobre a face esmerilhada da placa, uma amostra de solo com um teor de umidade inicial próximo do limite de liquidez, até que, duas condições sejam, simultaneamente, alcançadas: o rolinho tenha um diâmetro igual ao do cilindro padrão e o aparecimento de fissuras (inicio da fragmentação). O teor de umidade do rolinho, nesta condição, representa o limite de plasticidade do solo. O ensaio é normalizado pela NBR 7180/82. Figura 4.10 - Determinação do limite de plasticidade. 4.4.3 Limite de contração (LC) O limite de contração é o teor de umidade que separa o estado semi-sólido do sólido. Uma argila, inicialmente saturada e com um teor de umidade próximo do limite de liquidez, ao perder água sofrerá uma diminuição do seu volume igual ao volume de água evaporada, até atingir um teor de umidade igual ao limite de contração. A partir deste valor a amostra secará a volume constante. A Figura 4.11 mostra o descrito, onde no esquema central estão indicados os valores das fases líquida e sólida que possibilita calcular o limite de contração. O esquema à esquerda indica as condições iniciais da amostra e à direita as condições, após a secagem. (a) (b) (c) Figura 4.11 - Limite de contração O limite de contração é igual a: LC = Ww/Ws quando se conhece o peso específico dos sólidos, o peso de água, poderá ser calculada por: Ww = (Vf - Ws/γs) . γw que são grandezas facilmente determináveis em laboratório, resultando: LC = γw . (Vf/Ws - 1/γs) Sólidos V0 Água W0 Sólidos Vw Água Ww VS WS Sólidos Vf Ar WS Notas de Aula - Mecânica dos Solos 46 Se o peso específico dos sólidos não é conhecido, o limite de contração pode ser determinado pela expressão: LC = w0 - γw . (V0 - Vf)/Ws onde w0 é o teor de umidade de moldagem do corpo de prova. A determinação do limite de contração, em laboratório, segue os esquemas da Figura 4.11 utilizando-se do equipamento mostrado na Figura 4.12. Inicialmente deverá ser preparada uma pasta, com teor de umidade próximo do limite de liquidez e que será colocada em recipiente próprio e extraído o ar contido na amostra. A seguir esta é deixada secar, no inicio ao ar e depois em estufa. O volume da pastilha seca é obtido imergindo-a em mercúrio e determinando o peso do mercúrio extravasado, Vf = Whg/γhg Figura 4.12 - Ensaio de contração (ABNT/NBR 7183/82) No final desta unidade são apresentados dois exemplos de determinações dos limites físicos. 4.5 Índice de plasticidade (IP) Dos diversos índices, relacionando os limites de liquidez, de plasticidade e às vezes o teor de umidade do solo, o mais utilizado atualmente é o índice de plasticidade. Fisicamente representaria a quantidade de água que seria necessário a acrescentar a um solo, para que ele passasse do estado plástico ao líquido. Sendo definido como a diferença entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade, portanto, temos: IP = LL – LP Notas de Aula - Mecânica dos Solos 47 Este índice determina o caráter de plasticidade de um solo, assim, quando maior o “IP”, tanto mais plástico será o solo. Sabe-se, ainda, que as argilas são tanto mais compressíveis quando maior for o “IP”. Segundo Jenkins, os solos poderão ser classificados em: - fracamente plásticos 1 < IP ≤ 7 - medianamente plásticos 7 < IP ≤ 15 - altamente plásticos IP > 15 4.6 Índice de consistência (IC) Segundo a norma ABNT/NBR 6502/80 quanto à consistência os solos finos podem ser subdivididos em muito moles (vazas), moles, médias, rijas e duras. Busca situar o teor de umidade do solo no intervalo de interesse para a utilização na prática, ou seja, entre o limite de liquidez e o de plasticidade. As argilas moles, médias e rijas situam-se no estado plástico; as muito moles no estado líquido e as duras no estado semi-sólido. Quantitativamente, cada um dos tipos pode ser identificado quando se tratar de argilas saturadas, pelo seu índice de consistência, IC = (LL - w)/IP, do seguinte modo: - muito moles IC < 0 - moles 0 < IC < 0,50 - médias 0,50 < IC < 0,75 - rijas 0,75 < IC < 1,00 - duras IC > 1,00 O índice de consistência é a relação entre a diferença do limite de liquidez para umidade natural e o índice de plasticidade. Qualitativamente, cada um dos tipos pode ser identificado do seguinte modo: - muito moles: as argilas que escorrem com facilidade entre os dedos, se apertadas nas mãos; - moles: as que são facilmente moldadas pelos dedos; - médias: as que podem ser moldadas pelos dedos; - rijas: as que requerem grande esforço para serem moldadas pelos dedos; - duras: as que não podem ser moldadas pelos dedos e que, ao serem submetidas o grande esforço, desagregam-se ou perdem sua estrutura original. Segundo a ABNT/NBR 7250/82, a consistência das argilas e siltes argilosos é correlacionada com o índice de resistência à penetração obtido no ensaio de SPT, como mostra a Tabela 4.3. Tabela 4.3 – Correlação entre SPT e a consistência das argilas e siltes argilosos Índice de resistência à penetração N (SPT) Designação ≤ 2 muito mole → R< 0,5 Kg/cm2 3 a 5 mole 6 a 10 média (o) 11 a 19 rija (o) > 19 dura (o) → R > 4,0 Kg/cm2 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 48 4.7 Índice de liquidez (IL) Esse índice é unitário para solos com teor de umidade natural igual ao limite de liquidez, e zero para solos que tem umidade natural igual ao limite de plasticidade. O índice de liquidez é indicativo das tensões vividas pelo solo ao longo de sua históriageológica. Argilas normalmente adensadas (ver Unidade 8) têm índices de liquidez próximos da unidade ao passo que argilas pré-adensadas têm índices próximos de zero. Valores intermediários para o índice de liquidez são freqüentemente encontrados. Excepcionalmente pode exceder a unidade, como no caso das argilas extra-sensíveis ou pode ser negativo, como no caso das argilas excessivamente pré-adensadas. O índice de liquidez de um solo, IL, é expresso por: LPLL LPwI L − −= onde, w = umidade natural LL = limite de liquidez LP = limite de plasticidade 4.8 Atividade coloidal (Ac) É a relação entre o índice de plasticidade e a porcentagem da fração argilosa menor que 2 microns (0,002mm). Ac = IP / (% fração de partículas < 2µ) A atividade coloidal serve como indicação da maior ou menor influência das propriedades mineralógicas e químico-coloidal, da fração argila, nas propriedades geotécnicas de um solo argiloso. Segundo Skempton, os solos finos poderão ser classificados em: - argilas de atividade baixa Ac < 0,75 - argilas de atividade normal 0,75 < Ac < 1,25 - argilas de atividade alta Ac > 1,25 4.9 Grau de contração (C) É a razão da diferença entre os volumes inicial (Vo) e final (Vf) após a secagem da amostra, para o volume inicial (Vo), expressa em porcentagem: C = (Vo - Vf)/ Vo Segundo Scheidig, a compressibilidade de um solo cresce com o grau de contração, tem-se: - solos bons C < 5% - solos regulares 5% < C < 10% - solos sofríveis 10% < C < 15% - solos péssimos C > 15% Notas de Aula - Mecânica dos Solos 49 4.10 Gráfico de plasticidade Resultados de pesquisas realizados por Arthur Casagrande permitiram a elaboração de um gráfico (Figura 4.13), que serve para a classificação de um solo segundo as suas propriedades plásticas. 0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 LIMITE DE LIQUIDEZ - LL % ÍN D IC E D E P L A ST IC ID A D E - IP % LINHA “A” IP = 0,73 (LL – 20) Argilas inorgânicas de alta plasticidade Argilas inorgânicas de mediana plasticidade Argilas inorgânicas de baixa plasticidade Solos sem coesão Siltes inorgânicos de baixa compressibilidade Siltes inorgânicos de mediana compressibilidade e siltes orgânicos Siltes inorgânicos de alta compressibilidade e argilas orgânicas L L = 3 0 L L = 5 0 Figura 4.13 - Gráfico de plasticidade. A partir do gráfico de plasticidade, obtém-se indicações de algumas características dos solos conforme a Tabela 4.4 e a Figura 4.14. Tabela 4.4 - Características dos solos em função da razão de variação dos limites de Atterberg. Características LL = constante IP = crescente LL = crescente IP = constante Compressibilidade praticamente nula cresce Permeabilidade decresce cresce Plasticidade cresce decresce Resistência no estado seco cresce decresce Os limites de Atterberg e os índices associados são empregados na identificação e classificação dos solos. Freqüentemente os limites são utilizados para controlar os solos e em métodos semi-empíricos de projeto. Os limites não fornecem características referentes a estrutura do solo, pois esta é destruída no preparo da amostra para a determinação destes valores. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 50 O gráfico de plasticidade de Casagrande foi proposto a partir de um grande número de ensaios em solos pertencentes, na sua maioria, a regiões não tropicais. Portanto para solos residuais e tropicais o gráfico é muitas vezes inadequado. 0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 LL (%) IP (%) LINHA “A” IP = 0,73 (LL – 20) COMPRESSIBILIDADE LINHA B RESISTÊNCIA EM ESTADO SECO PERMEABILIDADE TENACIDADE Figura 4.14 - Direção da variação de permeabilidade, compressibilidade, tenacidade (plasticidade) e resistência no estado seco dos solos no gráfico de plasticidade. 4.11 Estrutura dos solos Estrutura de um solo é o termo que designa a situação do arranjo das partículas no interior da massa de solo. Variando-se o arranjo, varia a estrutura do solo, a qual depende fundamentalmente do tamanho e da forma dos grãos, bem como dos minerais constituintes dos grãos. Segundo Terzaghi, os principais tipos de estrutura são: granular simples, alveolar ou em favo e floculenta; posteriormente, agregou-se a elas uma estrutura denominada esqueleto (Figura 4.15). (a) granular simples (b) alveolar (c) floculenta Figura 4.15 - Tipos de estruturas, segundo Terzaghi. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 51 4.11.1 Estrutura granular simples Quando os grãos de areia com diâmetro maior que 0,02mm, em suspensão em água, entram em processo de deposição, a sedimentação avança lentamente. Suponhamos que já se tinha processado parte da sedimentação e que, sobre uma superfície muito irregular do sedimento de fundo assente uma partícula recém chegada. Seu movimento, até então vertical, é perturbado, ao tocar no grão já sedimentado, por duas novas forças: a resistência do sedimento à penetração e o atrito inicial que age no ponto de contato entre as partículas e o sedimento. Se os grãos são de areia, o atrito inicial é desprezível, comparado com o peso do grão. O peso e a reação formam um binário que rola a partícula até ela encontrar, numa depressão adjacente, o seu equilíbrio, o seu repouso. Forma-se, então, um sedimento com estrutura granular simples (Figura 4.15.a) na qual cada grão toca em diversos grãos vizinhos. Nas condições indicadas, forma-se uma estrutura fofa; por um processo posterior, de vibração, por exemplo, estas estruturas podem tornar-se compactas. A estrutura granular fofa ou compacta é própria das areias e pedregulhos. 4.11.2 Estrutura alveolar ou em favo de abelha Se as partículas que sedimentam são suficientemente pequenas, com diâmetros menores que 0,02 mm, o atrito inicial é da mesma ordem de grandeza ou menor que o peso próprio, o que pode impedir as partículas de rolarem; assim, elas permanecerão na posição do primeiro contato e o sedimento tornar-se-á esponjoso, como mostrado na Figura 4.15.b. Esta estrutura em que cada lamela toca em poucas lamelas dos grãos vizinhos é denominada de alveolar ou em favo de abelha. Trata-se de estrutura estável, característica das argilas. 4.11.3 Estrutura floculenta Suponhamos que as partículas sejam de tamanho coloidal. Sabe-se que essas partículas são carregadas de eletricidade, quase sempre negativa, o que impede a aglutinação das mesmas no seio da suspensão, devido à repulsão mútua. Em virtude do seu reduzido tamanho estas partículas tenderiam a permanecer indefinidamente em suspensão, como é característico dos colóides, sendo dotadas de um estado de agitação permanente denominado de movimento browniano. Se esta suspensão entra em contato com um eletrólito, o que pode acontecer quando as águas de um rio atingem as águas salgadas do mar os cátions de eletrólito neutralizam as cargas negativas das partículas. Como o movimento browniano das partículas continua, não havendo mais repulsão, as partículas passam a colidir; entra em ação o atrito inicial e elas passam a depositar-se juntas. Começam a depositarem-se, não mais partículas isoladas, mas flóculos esponjosos que se agregam durante o processo de sedimentação. Formam-se, assim, sedimentos esponjosos semelhantes aos da estrutura alveolar, porém com flóculos em lugar das lamelas ou grãos; portanto, uma estrutura ainda mais porosa que a alveolar. Esta estrutura é denominada estrutura floculenta (Figura 4.15.c). 4.11.4 Estrutura esqueleto Aestrutura floculenta é raramente encontrada nos solos naturais, pois sendo gradualmente carregada pelo material que se deposita em cima dela, tende a desagregar, transformando-se numa estrutura alveolar. Esta estrutura, por sua vez, devido aos mesmos fatores de carregamento, tenderia a se transformar em estrutura simplesmente granular. Entretanto, como as frações mais finas dos solos estão sempre associadas com porções de partículas mais grossas, estas últimas formam o arcabouço ou esqueleto que suporta a maior parte das cargas, provocando, então maior Notas de Aula - Mecânica dos Solos 52 concentração de pressões em determinados pontos. Isto torna possível que as porções mais finas retenham permanentemente sua estrutura alveolar. O conjunto forma, então, o que se denomina estrutura esqueleto (Figura 4.16). Figura 4.16 - Estrutura esqueleto. 4.12 Amolgamento Amolgamento é a operação de destruição da estrutura original do solo, com a conseqüente perda de sua resistência, mantido seu teor de umidade original. A influência da estrutura do solo em suas propriedades é pesquisada através de ensaios realizados com amostras indeformadas. As estruturas, quando mais complexas, menos estáveis são e, uma vez destruídas, não poderão mais ser recompostas. Por exemplo, a argila da cidade do México, que é formada a partir de uma fina cinza vulcânica que lentamente se depositou em um lago de água doce, apesar de sua complicada estrutura que lhe permite ter 400% de umidade (cerca de 90% do volume total é ocupado por água), mesmo assim, no seu estado natural apresenta uma relativa resistência; amassada, no entanto, na mão, perde ela toda a sua resistência e transforma-se em nada mais do que num pouco de água suja. A maior ou menor perda de resistência das argilas com estrutura chama-se sensitividade e é medida pela relação entre o resultado de um ensaio de compressão simples (Unidade 9) que apresentou resistência Rs para a amostra ensaiada antes da remoldagem e R’s após a remoldagem. O efeito do amolgamento é o de destruir qualquer aglutinação nos pontos de contato dos grãos e, portanto, a estrutura, de forma a transformar o solo numa massa de grãos dispersos. Uma série de efeitos eletroquímicos, envolvendo a atração entre os grãos, dá lugar, então, a uma redução da coesão aparente. A Figura 4.17 mostra as curvas, tensão-deformação, obtidas no ensaio de compressão simples numa mesma amostra de solo antes e depois de remoldado. O índice de sensitividade, como definido por Skempton, é o seguinte: St = Is = Rs/R’s Para Is = 1, as argilas são ditas insensitivas, para Is entre 2 e 4, são de pequena a média sensibilidade, para Is entre 4 e 8, são consideradas extra-sensíveis. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 53 Quando maior o índice de sensibilidade mais sofrem as argilas o efeito da remoldagem, pois resulta disso uma redução da coesão e aumento da compressibilidade e diminuição da permeabilidade. Figura 4.17 - Curvas tensão-deformação obtidas no ensaio de compressão simples. Figura 4.18 – Esquema do ensaio de compressão simples 4.13 Tixotropia O termo tixotropia é usado, na prática da Mecânica dos Solos, para descrever o restabelecimento da resistência num solo remoldado, embora em físico-química coloidal ele tenha um sentido pouco diferente. Essa recuperação só muito raramente atinge 100% do valor primitivo. A explicação do fenômeno seria possível admitindo-se que a remoldagem, diminui as distâncias entre as partículas, desequilibra o campo atrativo entre elas, levando-o a um estado que não é estável; quando o solo é deixado em repouso, ou sobre ele atuam pressões de adensamento ou trocam-se as condições coloidais do meio, à distância entre as partículas tende a um nível de energia de repouso que será maior que o anterior. Essa propriedade é muito importante nas lamas de perfuração que devem ser as mais líquidas possíveis durante a perfuração e o mais consistente possível quando não se está perfurando, a fim de evitar “blow-up”. Rs R’s Efeito da estrutura - ε Indeformado Amolgado Notas de Aula - Mecânica dos Solos 54 4.14 Exemplos de limites de consistência Exemplo 1: Uma amostra de 200,0 g de solos, passante na peneira de 0,42 mm (# 40) foi preparada para os ensaios de limites de consistência. A planilha a seguir mostra os resultados obtidos: Interessado: Certificado Nº: Amostra: Data: 09 de setembro de 2001 Cápsula Nº 6 7 8 9 10 Cáp + S + A (g): 16,40 18,04 19,51 19,19 20,63 Cáp + Solo (g): 14,05 15,27 16,30 15,90 17,06 Cápsula (g): 5,10 4,97 4,97 4,49 5,03 Umidade (%): 26,26 26,89 28,33 28,83 29,68 Nº de Golpes: 47 36 29 24 19 Cápsula Nº 11 12 13 14 15 Contração: 17 Cáp + S + A (g): 6,57 7,22 6,66 6,89 6,90 Plasticidade: 16 Cáp + Solo (g): 6,33 6,96 6,39 6,65 6,59 Liquidez: 29 Cápsula (g): 4,75 5,21 4,72 5,02 4,80 Índ. de Plast.: 13 Umidade (%): 15,19 14,86 16,17 14,72 17,32 Limite de Contração UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Limites de Consistência Cerâmica Pallotti 13 A7 - Várzea do Arroio Cadena Peso final (g): Volume final (ml): 2,733 27,63 14,9 Peso Espec. (g/cm³): Limite de liquidez Limite de Plasticidade Limites Físicos Gráfico - Limite de Liquidez 10 100 25 26 27 28 29 30 31 Umidade (%) N úm er o de G ol pe s 25 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 55 Cálculo do teor de umidade para cada cápsula: Idem ao procedimento do item 2.4.3 – Unidade 2 Cápsula Nº 6: - Peso da cápsula + solo úmido: (Wc + W) = 16,40g - Peso da cáspula + solo seco: (Wc + Ws) = 14,05g - Peso da cápsula: (Wc) = 5,10g - teor de umidade - w (%): ( ) ( )( ) ( )%.100×−+ +−+= WcWsWc WsWcWWcw ( )%.100 10,505,14 05,1440,16 ×− −=w ⇒ w = 26,26 % Determinação do limite de liquidez: Uma vez calculado todos os teores de umidades, traça-se o gráfico “Teor de umidade x nº de golpes”, e a seguir determina-se o teor de umidade para 25 golpes. ⇒ LL = 29,0 %. Determinação do limite de plasticidade: Faz-se a média aritmética dos teores de umidade encontrados para cada “rolinho” moldado. LP = ∑ wi / n (n = número de rolinhos moldados) LP = (15,19 + 14,86 + 16,17 + 14,72 + 17,32) / 5 = 15,65 % ⇒ LP = 16 % Determinação do limite de contração: - peso específico da água γw = 1 g/cm3 - o volume final (seco) da pastilha moldada Vf = 14,9 - peso da pastilha (peso de solo seco) Ws = 27,63 g LC = γw . (Vf/Ws - 1/γs) . 100 % LC = 1,0 . (14,9 / 27,63 – 1 / 2,733) . 100 % = 17,33 % ⇒ LC = 16 % Determinação do índice de plasticidade: Faz-se a diferença entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade IP = LL – LP = 29 – 16 = 13 % (solo medianamente plástico) A seguir apresentam-se os resultados dos ensaios de limites físicos do solo residual das Minas de calcáreo – Caçapava do Sul, apresentado como exemplo na Unidade 3. Este solo com teores na fração areia de 52 % e silte de 46 %, apresenta-se como um material “não plástico”, como pode ser observado na planilha. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 56 Exemplo 2: Resultado dos ensaios de limites de consistência do solo residual das minas de calcáreo de Caçapava do Sul. Interessado: Certificado Nº: Amostra: Data: Cápsula Nº 21 22 23 24 25 Cáp + S + A (g): 18,86 18,35 19,30 20,45 20,45 Cáp + Solo (g): 15,00 14,66 15,56 16,65 16,65 Cápsula (g): 5,06 4,79 4,87 4,90 4,90 Umidade (%): 38,83 37,39 34,99 32,34 32,34 Nº de Golpes: 20 27 35 55 55 Cápsula Nº 26 27 28 29 30 Contração: 30 Cáp + S + A (g): Plasticidade: NP Cáp + Solo (g):Liquidez: 38 Cápsula (g): Índ. de Plast.: NP Umidade (%): Limite de liquidez Limite de Plasticidade Limites Físicos NÃO PLÁSTICO Peso final (g): Volume final (ml): 2,785 24,63 16,3 Peso Espec. (g/cm³): Limite de Contração UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Limites de Consistência Cerâmica Desconsi 1 A7 - Minas de Calcáreo - Caçapava do Sul Gráfico - Limite de Liquidez 10 100 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 Umidade (%) N úm er o de G ol pe s 25 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 57 UNIDADE 5 - CLASSIFICACÃO E IDENTIFICACÃO DOS SOLOS 5.1 Introdução Dada a infinidade de solos que existem na natureza é necessário um sistema de classificação que indique características geotécnicas comuns de um determinado grupo de solos a partir de ensaios simples de identificação. Portanto, a elaboração de um sistema de classificação deve partir dos conhecimentos qualitativos e quantitativos existentes, ao longo do tempo ir acumulando informações e corrigindo distorções, até que em um mesmo grupo possam estar colocados solos com características semelhantes. No desenvolvimento de um sistema, se deve ter o cuidado para que o volume de informações requeridas ao usuário seja de fácil memorização, para que se torne prático. Estas informações poderão ser obtidas, tanto através da identificação visual e táctil como através de ensaios simples de laboratório. A identificação fornecerá dados para um conhecimento qualitativo, enquanto os ensaios de laboratório resultarão dados quantitativos sobre o solo. Conclui-se que a classificação dos solos permite resolver alguns problemas simples e serve de apoio na seleção de um dado solo quando se podem escolher vários materiais a serem utilizados. Apesar das inúmeras limitações a que estão sujeitas as diferentes classificações, estas constituem um meio prático para a caracterização e identificação dos solos. Existem diversos sistemas de classificação, podendo ser estes específicos ou não. Assim, tem-se um sistema com base na origem dos solos (solos residuais, solos transportados/sedimentares, solos orgânicos), um sistema de classificação pedológica (solos zonais, intrazonais e azonais), um sistema com base na textura (tamanho das partículas), um sistema de classificação visual e táctil, e sistemas que levam em consideração parâmetros do solo (Geotécnicos - SUCS, HRB/AASHO, MCT). A seguir, serão descritos o Sistema de Classificação Textural, o Sistema Unificado de Classificação dos Solos, o Sistema H.R.B., o Sistema de Classificação dos Solos Tropicais (MCT) e Classificação Táctil e Visual. 5.2 Classificação textural O sistema de classificação dos solos, quanto à textura, utiliza-se da curva granulométrica do solo e uma escala de classificação proposta por uma associação. A curva granulométrica obtida como mostrado na Unidade 3, define a função distribuição do tamanho das partículas do solo enquanto a escala define a posição dos quatro grupos: pedregulhos, areias, siltes e argilas. Não há uma escala única, em face das divergências existentes, mas as diferenças entre elas não alteram, sensivelmente, o nome dado ao solo. Para a classificação do solo, segundo a textura, a partir da sua curva granulométrica, obtida em laboratório, serão determinadas as porcentagens de cada fração do solo, que será adjetivado pela fração imediatamente abaixo, em termos percentuais. Exemplo: Dado o solo residual das Minas de calcáreo – Caçapava do Sul, apresentado como exemplo na Unidade 3, o qual apresentou as seguintes percentagens correspondentes a cada fração, segundo a escala da ABNT. Fração Porcentagem (%) Pedregulho 3,0 Grossa 3,0 Média 6,0 Areia Fina 55,0 46,0 Silte 40,0 Argila 2,0 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 58 A fração predominante é a areia, vindo a seguir a fração silte. Da observação dos valores, nota-se que o solo possui ainda pequena quantidades de argila, e pedregulhos. A subdivisão da fração arenosa mostrou uma predominância da parte fina sobre as demais. Em face dos valores obtidos e da escala adotada o solo será classificado como: areia fina siltosa. Se duas frações, não predominantes, se equivalerem em termos percentuais, o nome do solo continua ser o da fração predominante adjetivado pelas duas outras, conforme exemplo. Se as frações silte e argila, do exemplo anterior, se equivalessem, com leve predominância da fração silte, o solo passaria a receber o seguinte nome: areia fina silto-argilosa. A cor do solo quando seco (Munsell Soil Color Charts), e a compacidade das areias ou a consistência das argilas, são duas informações que normalmente acompanham a classificação textural. 5.3 Classificação H.R.B (Highway Research Board) ou A.A.S.H.O. (American Association State Highway Officials) Esta classificação fundamenta-se na granulometria, limite de liquidez e índice de plasticidade dos solos, sendo proposta para ser utilizada na área de estradas. A Tabela 5.1 apresenta esta classificação, onde os solos estão reunidos por grupos e subgrupos. Um parâmetro adicionado nesta classificação é o índice de grupo (IG), que é um número inteiro variando de 0 a 20. O índice de grupo define a capacidade de suporte do terreno de fundação de um pavimento. Os valores extremos do “IG” representam solos ótimos para IG = 0 e solos péssimos para IG = 20. Portanto, este índice estabelece uma ordenação dos solos dentro de um grupo, conforme suas aptidões, sendo pior o solo que apresentar maior “IG”. A determinação do índice de grupo baseia-se nos limites de Atterberg (LL e IP) do solo e na porcentagem de material fino que passa na peneira número 200 (0,075mm). Seu valor é obtido utilizando a seguinte expressão: IG = 0,2 . a + 0,005 . a . c + 0,01 . b . d onde: a = porcentagem do solo que passa na peneira nº 200 menos 35%. Se o valor de “a” for negativo adota-se zero, e se for superior 40, adota-se este valor como limite máximo. a = Pp,200 - 35% (0 - 40). b = porcentagem do solo que passa na peneira nº 200 menos 15%. %. Se o valor de “b” for negativo adota-se zero, e se for superior 40, adota-se este valor como limite máximo. b = Pp,200 - 15% (0 - 40) c = valor do limite de liquidez menos 40%. Se o valor de “c” for negativo adota-se zero, e se for superior a 20, adota-se este valor como limite máximo. c = LL - 40% (0 - 20) d = valor do índice de plasticidade menos 10%. Se o valor de “d” for negativo adota-se zero, e se for superior a 20, adota-se este valor como limite máximo. d = IP - 10% (0 - 20) Os solos são classificados em sete grupos, de acordo com a granulometria (peneiras de nº 10, 40, 200) e de conformidade com os intervalos de variação dos limites de consistência e índice de grupo. De acordo com a Tabela 5.1 os solos se dividem em dois grupos: solos grossos (quando a % passante na peneira nº 200 é inferior a 35%) e solos finos (quando a % passante na peneira nº 200 é superior a 35%). A classificação é feita da esquerda para a direita do quadro apresentado. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 59 A 7 - 6 36 m ín . 41 m ín . (L L - 3 0) m ín . C on tê m m at er ia is co m a lto va lo r d e IP em re la çã o ao L L, es ta nd o su je ito s a gr an de s va ria çõ es d e vo lu m e. A 7 A 7 - 5 36 m ín . 41 m ín . (L L - 3 0) m áx . 20 m áx . O s s ol os d es te g ru po c on tê m m at er ia l s em el ha nt e ao de sc rit ono g ru po A 6, te nd o, po ré m a lto L L, q ue é ca ra ct er ís tic o do g ru po A 5, se nd o pl ás tic o e so fr en do gr an de m ud an ça d e vo lu m e. C on tê m to do s m at er ia is co m IP m od er ad o em re la çã o ao L L, po de nd o se r al ta m en te el ás tic os e so fr em gr an de s va ria çõ es d e vo lu m e. A 6 36 m ín . 40 m áx . 11 m ín . 16 m áx . O so lo típ ic o de st e gr up o é a ar gi la , te nd o 75 % ou m ai s qu e pa ss a na p en ei ra 20 0. C on tê m ta m bé m m is tu ra d e so lo a rg i- lo so e 6 1% de a re ia e pe dr eg ul ho Te m a lta va ria çã o de vo lu m e en tre o es ta do úm id o e se co . A 5 36 m ín . 41 m ín . 10 m áx . 12 m áx . S O LO S SI LT E - A R G IL A % Q U E PA SS A M N A P EN EI R A N º 2 00 > 3 5% A 4 36 m ín . 40 m áx . 10 m áx . 8 m áx . O s s ol os d o gr up o A 4 tê m c om o m at er ia l t íp ic o si lte nã o pl ás tic o ou m od er ad am en te pl ás tic o, te nd o em ge ra l 7 5 % q ue pa ss am n a pe ne ira 20 0; p od em c on te r ta m bé m u m a m is tu ra d e si lte e 64 % d e ar ei a e pe dr eg ul ho . O s so lo s d o gr up o A 5 co nt êm m at er ia is se m el ha nt es a o do gr up o A 4, se nd o po ré m d ia to m ác eo s ou m ic ác eo s, te m el ev ad o LL , s en do po rta nt o, a lta m en te el ás tic os . Fr ac o a po br e A 2 - 7 35 m áx . 41 m ín . 11 m ín . 4 m áx . A 2 - 6 35 m áx . 40 m áx . 11 m ín . 4 m áx . Sã o se m el ha nt es a os so lo s d o gr up o A 2 - 4 e A 2 - 5 , a p ar te q ue pa ss a na p en ei ra 4 0 co nt êm a rg ila pl ás tic a, te nd o as m es m as ca ra ct er ís tic as d os so lo s d o gr up o A 6 no ca so d o A 2 - 6 o u A 7 no c as o de A 2 - 7 . A 2 - 5 35 m áx . 41 m ín . 10 m áx . A 2 A 2 - 4 35 m áx . 40 m áx . 10 m áx . 0 Sã o so lo s q ue c on té m g ra nd e va rie da de d e m at er ia is g ra nu la re s, os q ua is e st ão n o lim ite en tre o s s ol os d o gr up o A 1 e A 3 e m at er ia is si lte -a rg ilo so s d o gr up o A 4, A 5, A 6 e A 7. C on tê m m at er ia is gr an ul ar es c om 3 5% o u m en os , q ue p as sa m n a # 20 0 e co m u m a pa rte m ín im a qu e pa ss a na # 40 , q ue tê m a s m es m as ca ra te rís tic as d os m at er ia is d o gr up o A 4 e A 5. C on tê m ta m bé m pe dr eg ul ho c om po rc en ta ge m d e si lte ou IP > q ue d os so lo s do g ru po A 1, e a re ia fin a co m si lte n ão pl ás tic o co m % a ci m a do so lo d o gr up o A 3. A 3 51 m ín . 10 m áx . N P 0 A re ia fi na de p ra ia o u en tã o de de se rto se m lig an te (a rg ila o u si lte ) o u en tã o pe qu en a qu an tid ad e de si lte se m pl as tic id ad e A 1b 50 m áx . 25 m áx . Pr ed om in a ar ei a m éd ia co m o u se m lig an te , b em gr ad ua do . A 1 A 1a 50 m áx . 30 m áx . 15 m áx . 6 m áx . 0 So lo c on st itu íd o de u m a m is tu ra b em g ra du ad a de pe dr a, p ed re gu lh o, a re ia gr os sa , m éd ia e fi na e u m m at er ia l l ig an te n ão p lá st ic o ou d e pe qu en a pl as tic id ad e. Pr ed om in a pe dr a e pe dr eg ul ho co m li ga nt e se m a re ia fin a. Ex ce le nt e a bo m SO LO S G R A N U LA R ES % Q U E PA SS A M N A P EN EI R A N º 2 00 < 3 5% G R U PO % Q U E PA SS A M N A S PE N EI R A S N º 1 0 N º 4 0 N º 2 00 A F R A Ç Ã O Q U E PA SS A N A P EN EI R A N º 4 0 D EV E TE R : LL IP IG C O M PO SI Ç Ã O D O S O LO Fu nc io na m en to co m o su b- ba se Ta be la 5 .1 - Si st em a de C la ss ifi ca çã o H .R .B . Notas de Aula - Mecânica dos Solos 60 Verifica-se nesta tabela que: a) Os solos grossos foram divididos em três grupos, A1, A2 e A3. Grupo A1 - Solos granulares sem finos (pedregulho e areia grossa bem graduada, com pouca ou nenhuma plasticidade). Grupo A2 - Solos granulares com finos (pedregulho e areia grossa bem graduados, com material cimentante de natureza friável ou plástico). A-2-4 - finos siltosos de baixa compressibilidade A-2-5 - finos siltosos de alta compressibilidade A-2-6 - finos argilosos de média plasticidade A-2-7 - finos argilosos de alta plasticidade Grupo A3 - Areias finas b) Os solos finos foram divididos em quatro grupos, A4, A5, A6 e A7 Grupo A4 - Solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e de argila (baixa compressibilidade LL < 40%) Grupo A5 - Solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e argila, rico em mica e diatomita (alta compressibilidade LL > 40%) Grupo A6 - Argilas siltosas medianamente plásticas com pouco ou nenhum material grosso (baixa compressibilidade) Grupo A7 - Argilas plásticas com presença de matéria orgânica (alta compressibilidade). A7-5, IP ≤ LL - 30% A7-6, IP > LL - 30% Em geral os solos granulares tem índice de grupocompreendidos entre 0 e 4, os siltosos entre 1 e 12 e os argilosos entre 1 e 20. 5.4 Sistema Unificado de Classificação dos Solos (S.U.C.S.) Este sistema é oriundo do Airfield Classification System idealizado por Arthur Casagrande, e inicialmente utilizado para classificação de solos para construção de aeroportos, e depois expandido para outras aplicações, e normalizado pela American Society for Testing and Materials (ASTM). Os solos neste sistema são classificados em solos grossos, solos finos e altamente orgânicos. Para a fração grossa, foram mantidas as características granulométricas como parâmetros mais representativos para a sua classificação, enquanto que para fração fina, Casagrande optou por usar os limites de consistência, por serem parâmetros mais importantes do que o tamanho das partículas. Cada tipo de solo terá um símbolo e um nome. Os nomes dos grupos serão simbolizados por um par de letras. Onde o prefixo é uma das subdivisões ligada ao tipo de solo, e o sufixo, às características granulométricas e à plasticidade. Na Tabela 5.2, nas duas últimas colunas, estão indicados os símbolos de cada grupo e seus respectivos nomes, bem como uma série de observações necessárias a classificação do solo. Solos grossos Os solos grossos ou granulares são os que possuem partículas menores que 75mm e que tenham mais do que 50% de partículas com tamanhos maiores do que 0,075mm (# 200). Uma subdivisão separa os solos grossos em pedregulhos, quando mais do que 50% da fração grossa tem partículas com tamanho maior do que 4,8mm (retido na # 4), e areias, quando uma porcentagem maior ou igual, destas partículas, tem tamanho menor que 4,8mm (passa na # 4). Sempre que as porcentagens de finos estiver entre 5 e 12%, o solo deverá ser representado por um símbolo duplo, sendo o primeiro o do solo grosso (GW, GP, SW, SP), enquanto que o segundo símbolo dependerá da região onde se localizar o ponto representativo dos finos desse solo. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 61 Para porcentagens de finos, maior do que 12%, e classificados como CL-ML resultará em um símbolo duplo para o solo grosso, GC-GM se for pedregulho ou SC-SM se for areia. As Tabelas 5.3 e 5.4, mostram os fluxogramas necessários à classificação dos solos grossos. Solos finos Nesta divisão, foram colocados os solos que tem uma porcentagem maior ou igual a 50%, de partículas com tamanho menor do que 0,075mm (passando na # 200). Estes solos, siltes e argilas, foram inicialmente separados em função do limite de liquidez: menor que 50% e maior ou igual a 50%. Cada uma destas subdivisões leva em conta a origem inorgânica ou orgânica do solo. Para a definição de origem orgânica deverão ser realizados dois ensaios de limite de liquidez: um com o solo secado em estufa, (LL)s, e o outro nas condições naturais, (LL)n. Se a relação (LL)s/(LL)n < 0,75 o solo deverá ser considerado orgânico. Quando da proposição inicial do sistema de classificação por Casagrande, foi introduzido o gráfico de plasticidade, montado a partir dos limites de consistência dos solos finos. Com a revisão do sistema foram introduzidas algumas modificações, resultando o gráfico mostrado na Figura 5.1. Nele, os grupos estão distribuídos em cinco regiões, sendo a linha “A” separadora dos solos argilosos inorgânicos (CL, CH) dos siltosos inorgânicos (ML, MH). A linha vertical LL = 50% separa os solos de alta plasticidade (MH, CH) dos de baixa plasticidade (ML, CL). Os solos orgânicos podem se situar, tanto acima quanto abaixo da linha “A”; as argilas orgânicas serão representadas por pontos situados sobre ou acima dessa linha, enquanto, os siltes orgânicos estarão abaixo. A quinta região é a hachurada, onde o solo deverá ter o símbolo duplo, CL-ML, representando solos LL < 50% e 4 ≤ IP ≤ 7. O gráfico de plasticidade deverá ser usado na classificação, tanto dos solos finos quanto da fração fina dos solos grossos. Na última revisão do SUCS foi introduzida, a linha “U” para ajudar na avaliação dos resultados dos ensaios de limites de consistência, visto que ela deve representar um limite superior empírico para os solos naturais. Qualquer ponto que venha se situar acima dessa linha deve ter os resultados dos ensaios verificados. A linha “U”, tanto quanto a linha “A”, é quebrada, iniciando-se na vertical para LL = 16% até IP = 7% e a partir desse ponto tem a equação: IP = 0,9 . (LL - 8). 0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 LIMITE DE LIQUIDEZ - LL % ÍN D IC E D E PL A ST IC ID A D E - I P % LINHA “A” HORIZONTAL PARA IP = 4 ATÉ LL = 25,5 IP = 0,73 (LL – 20) PARA CLASSIFICAR O SOLOS FINOS E A FRAÇÃO FINA DOS SOLOS GROSSOS CL CL - ML L L = 5 0 LINHA “U” VERTICAL PARA LL = 16 ATÉ IP = 7 IP = 0,9 (LL – 8) ou OL ML ou OL MH ou OH CH ou OH Figura 5.1 - Gráfico de plasticidade As Tabelas 5.5 e 5.6, mostram os fluxogramas necessários a classificação dos solos finos. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 62 CRITÉRIOS DO SISTEMA UNIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS (ASTM, 1983) CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DOS SUBGRUPOS E NOMES DOS GRUPOS USANDO ENSAIOS DE LABORATÓRIO SÍMBOLO GRUPO NOME DO GRUPO Cu ≥ 4 e 1 ≤ Cc ≤ 3 GW Pedregulho bem graduado 5 Pedregulhos limpos Pp,200 < 5% Cu < 4 e/ou 1 > Cc > 3 GP Pedregulho mal graduado 5 ML MH GM Pedregulho siltoso 5, 6, 7 Pedregulhos mais que 50% da fração grossa retida na peneira 4,8mm (# 4) Pedregulhos com finos Pp,200 > 12% Finos classificados como CL CH GC Pedregulho argiloso 5, 6, 7 Cu ≥ 6 e 1 ≤ Cc ≤ 3 SW Areia bem graduada 8 Areias limpas Pp,200 < 5% Cu < 6 e/ou 1 > Cc > 3 SP Areia mal graduada 8 ML MH SM Areia siltosa 6, 7, 8 Solos Grossos Pr,200 > 50% Areias mais que 50% da fração grossa passa na peneira 4,8mm (#4) Areias com finos Pp,200 > 12% Finos classificados como CL CH SC Areia argilosa 6, 7, 8 IP > 7, pontos sobre ou acima da linha A CL Argila pouco plástica 10, 11, 12Inorgânicos IP < 4, pontos abaixo da linha A ML Silte 10, 11, 12 Siltes e argilas LL < 50% Orgânicos LLseco < 0,75 LLnatural OL Argila orgânica 10, 11, 12, 13 Silte orgânico 10, 11, 12, 14 Pontos sobre ou acima da linha A CH Argila muito plástica 10, 11, 12 Inorgânicos Pontos abaixo da linha A MH Silte elástico 10, 11, 12 Solos Finos Pp,200 ≥ 50% Siltes e argilas LL ≥ 50% Orgânicos LLseco < 0,75 LLnatural OH Argila orgânica 10, 11, 12, 15 Silte orgânico 10, 11, 12, 16 Solos altamente orgânicos Principalmente matéria orgânica, cor escura e cheiro PT Turfa 1: Válido para material passando na peneira de 75mm abertura 2: Se a amostra contém seixos e matacões acrescentar “com seixos e matacões”, ao nome do grupo para Pp,200 entre 5 - 12% exigem símbolo duplo. 3: Pedregulhos GW – CH: Pedregulho bem graduado com silte GW – GC: Pedregulho bem graduado com argila GP – GH: Pedregulho mal graduado com silte GP – GC: Pedregulho mal graduado com argila 4: Areias SW – SH: Areia bem graduada com silte SW – SC: Areia bem graduada com argila SP – SH: Areia mal graduada com silte SP – SC: Areia mal graduada com argila 5: Se % Areia ≥ 15, acrescentar “com areia” 6: Se finos: CL – ML, usar símbolo duplo: GC – GH; SC – SH 7: Se finos são orgânicos, acrescentar, “com finos orgânicos” 8: Se % Pedregulho ≥ 15%, acrescentar “com pedregulhos” 9: Se pontos estão na área hachurada, é CL – ML (argila-siltosa) 10: Se Pr,200: 15-29%, por “com areia” ou “com pedregulho”, Se Pr,200 ≥ 30%: 11: % pedregulho < 15%, acrescentar arenoso 12: % areia < 15%, acrescentarpedregulho 13: Para IP > 4%, e pontos sobre ou acima da linha A 14: Para IP < 4% ou pontos abaixo da linha A 15: Para pontos sobre ou acima da linha A 16: Para pontos abaixo da linha A Tabela 5.2 - Sistema de Classificação Unificada dos Solos (S.U.C.S) Observação Cu = D60 / D10 ( ) 1060 2 30 DD D Cc ×= G gravel Cascalho (pedregulho) S sand areia C clay argila W well graded bem graduado P poor graded mal graduado F fines finos (pás. # 200) M mo mó ou limo (areia fina) O organic matéria orgânica L low liquid limit LL baixo H high liquid limit LL alto Pt peat turfa 3 3 4 4 9 9 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 63 % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o be m g ra du ad o % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o be m g ra du ad o co m a re ia % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o m al g ra du ad o % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o m al g ra du ad a co m a re ia % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o be m g ra du ad o co m si lte % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o be m g ra du ad o co m si lte e a re ia % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o be m g ra du ad o co m a rg ila (o u ar gi la si lto sa ) % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o be m g ra du ad o co m a rg ila e a re ia (o u ar gi la si lto sa ) % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o m al g ra du ad o co m si lte % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o m al g ra du ad o co m si lte e a re ia % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o m al g ra du ad o co m a rg ila (o u ar gi la si lto sa ) % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o m al g ra du ad o co m a rg ila e a re ia (o u ar gi la si lto sa ) e a re ia % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o si lto so % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o si lto so c om a re ia % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o ar gi lo so % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o ar gi lo so c om a re ia % A re ia < 1 5% → P ed re gu lh o ar gi lo -s ilt os o % A re ia ≥ 1 5% → P ed re gu lh o ar gi lo -s ilt os o co m a re ia G W G P G W – G H G W – G C G P – G H G P – G C G H G C G C – G H Fi no s M L ou M H Fi no s C L, C H ou (C L – M L) Fi no s M L ou M H Fi no s C L, C H ou (C L – M L) Fi no s M L ou M H Fi no s C L ou C H Fi no s C L – M L C u ≥ 4 ; 1 ≤ C c ≤ 3 C u < 4 , e /o u 1 > C c > 3 C u ≥ 4 ; 1 ≤ C c ≤ 3 C u < 4 , e /o u 1 > C c > 3 Pp , 20 0 < 5 5 < Pp , 20 0 < 1 2 Pp , 20 0 > 1 2 Pe dr eg ul ho % P ed . > % A re ia Ta be la 5 .3 - Fl ux og ra m a pa ra c la ss ifi ca çã o do s p ed re gu lh os . Notas de Aula - Mecânica dos Solos 64 % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia b em g ra du ad a % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia b em g ra du ad a co m P ed re gu lh o % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia m al g ra du ad a % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia m al g ra du ad a co m P ed re gu lh o % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia b em g ra du ad a co m S ilt e % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia b em g ra du ad a co m S ilt e e Pe dr eg ul ho % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia b em g ra du ad a co m a rg ila (o u ar gi lo -s ilt os a) % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia b em g ra du ad a co m a rg ila e P ed re gu lh o (o u ar gi lo -s ilt os a) % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia m al g ra du ad a co m S ilt e % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia m al g ra du ad a co m S ilt e e Pe dr eg ul ho % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia m al g ra du ad a co m a rg ila (o u ar gi la si lto sa ) % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia m al g ra du ad a co m a rg ila e P ed re gu lh o (o u ar gi lo -s ilt os a) % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia si lto sa % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia si lto sa c om P ed re gu lh o % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia a rg ilo sa % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia a rg ilo sa c om P ed re gu lh o % P ed re gu lh o < 15 % → A re ia a rg ilo -s ilt os a % P ed re gu lh o ≥ 15 % → A re ia a rg ilo -s ilt os a co m P ed re gu lh o SW SP SW – S H SW – S C SP – S H SP – S C SH SC SC – S H Fi no s M L ou M H Fi no s C L, C H ou (C L – M L) Fi no s M L ou M H Fi no s C L, C H ou (C L – M L) Fi no s M L ou M H Fi no s C L ou C H Fi no s C L – M L C u ≥ 6 ; 1 ≤ C c ≤ 3 C u < 6 , e /o u 1 > C c > 3 C u ≥ 6 ; 1 ≤ C c ≤ 3 C u < 6 , e /o u 1 >C c > 3 Pp , 20 0 < 5 5 < Pp , 20 0 < 1 2 Pp , 20 0 > 1 2 A re ia % A re ia > % P ed T ab el a 5. 4 - F lu xo gr am a pa ra c la ss ifi ca çã o da s a re ia s. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 65 → A rg ila p ou co p lá st ic a → A rg ila p ou co p lá st ic a co m a re ia → A rg ila p ou co p lá st ic a co m p ed re gu lh o → A rg ila p ou co p lá st ic a ar en os a → A rg ila p ou co p lá st ic a ar en os a co m p ed re gu lh o → A rg ila p ou co p lá st ic a pe dr eg ul ho sa → A rg ila p ou co p lá st ic a pe dr eg ul ho sa c om a re ia → A rg ila si lto sa → A rg ila si lto sa c om a re ia → A rg ila si lto sa c om p ed re gu lh o → A rg ila si lto -a re no sa → A rg ila si lto -a re no sa c om p ed re gu lh o → A rg ila si lto -p ed re gu lh os a → A rg ila si lto -p ed re gu lh os a co m a re ia → S ilt e → S ilt e co m a re ia → S ilt e co m p ed re gu lh o → S ilt e ar en os o → S ilt e ar en os o co m p ed re gu lh o → S ilt e pe dr eg ul ho so → S ilt e pe dr eg ul ho so c om a re ia → A rg ila o rg ân ic a → A rg ila o rg ân ic a co m a re ia → A rg ila o rg ân ic a co m p ed re gu lh o → A rg ila o rg ân ic a ar en os a → A rg ila o rg ân ic a ar en os a co m p ed re gu lh o → A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa → A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa c om a re ia → S ilt e or gâ ni co → S ilt e or gâ ni co c om a re ia → S ilt e or gâ ni co c om p ed re gu lh o → S ilt e or gâ ni co a re no so → S ilt e or gâ ni co a re no so c om p ed re gu lh o → S ilt e or gâ ni co p ed re gu lh os o → S ilt e or gâ ni co p ed re gu lh os o co m a re ia % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 C L C L – M L M L IP ≥ 4 ac im a ou so br e a lin ha A IP < 4 ab ai xo d a lin ha A IP > 7 so br e ou ac im a da lin ha A 4 < IP < 7 so br e ou ac im a da lin ha A IP < 4 ab ai xo d a lin ha A C L Ta be la 5 .5 - Fl ux og ra m a pa ra c la ss ifi ca çã o do s s ol os fi no s d e ba ix a pl as tic id ad e. In or gâ ni co s O rg ân ic os (L L) S/( LL ) N < 0 ,7 5 L L ≥ 50 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 66 → A rg ila m ui to p lá st ic a → A rg ila m ui to p lá st ic a co m a re ia → A rg ila m ui to p lá st ic a co m p ed re gu lh o → A rg ila m ui to p lá st ic a ar en os a → A rg ila m ui to p lá st ic a ar en os a co m p ed re gu lh o → A rg ila m ui to p lá st ic a pe dr eg ul ho sa → A rg ila m ui to p lá st ic a pe dr eg ul ho sa c om a re ia → S ilt e el ás tic o → S ilt e el ás tic o co m a re ia → S ilt e el ás tic o co m p ed re gu lh o → S ilt e el ás tic o ar en os o → S ilt e el ás tic o ar en os o co m p ed re gu lh o → S ilt e el ás tic o pe dr eg ul ho so→ S ilt e el ás tic o pe dr eg ul ho so c om a re ia → A rg ila o rg ân ic a → A rg ila o rg ân ic a co m a re ia → A rg ila o rg ân ic a co m p ed re gu lh o → A rg ila o rg ân ic a ar en os a → A rg ila o rg ân ic a ar en os a co m p ed re gu lh o → A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa → A rg ila o rg ân ic a pe dr eg ul ho sa c om a re ia → S ilt e or gâ ni co → S ilt e or gâ ni co c om a re ia → S ilt e or gâ ni co c om p ed re gu lh o → S ilt e or gâ ni co a re no so → S ilt e or gâ ni co a re no so c om p ed re gu lh o → S ilt e or gâ ni co p ed re gu lh os o → S ilt e or gâ ni co p ed re gu lh os o co m a re ia % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % % A re ia > % P ed . % A re ia < % P ed . % P ed . < 1 5 % % P ed . ≥ 1 5 % % A re ia < 1 5 % % A re ia ≥ 1 5 % Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 1 5 15 ≤ P r, 20 0 ≤ 2 9 % A re ia > % P ed % A re ia < % P ed . Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 Pr , 2 00 < 3 0 Pr , 2 00 ≥ 3 0 C H M H A ci m a ou so br e a lin ha A A ba ix o da lin ha A A ci m a da lin ha A A ba ix o da lin ha A O H In or gâ ni co s O rg ân ic os (L L) S/( LL ) N < 0 ,7 5 LL ≥ 5 0 Ta be la 5 .6 - Fl ux og ra m a pa ra c la ss ifi ca çã o do s s ol os fi no s d e al ta p la st ic id ad e. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 67 Solos altamente orgânicos São solos que apresentam características muito diferentes dos solos inorgânicos; são compostos de matéria vegetal em vários estágios de decomposição, geralmente com odor orgânico, cor marrom escura a preta, textura variando de fibrosa a amorfa, aparência esponjosa e saturada. São solos com alto índice de vazios, muito compressíveis e baixa resistência ao cisalhamento. Em condições normais, não são utilizados como fundação nem como material de empréstimo. Os solos altamente orgânicos são, normalmente, designados por turfosos e simbolizados por Pt. A Tabela 5.7 apresenta algumas características dos solos a partir do Sistema de Classificação relativa às fundações de pavimentos. 5.5 Classificação Geotécnica M.C.T. para solos Tropicais O Sistema Unificado de Classificação dos Solos não se tem mostrado satisfatório, quando usado em projeto de pavimentos para solos tropicais, em face do seu comportamento diferenciado, conforme tem mostrado diversos autores. Uma classificação mais apropriada aos solos tropicais, com ênfase em projetos de estradas, foi proposta por Nogami e Villilbor (1981), separando-se os solos em dois grupos, um de comportamento laterítico e outro não laterítico. O resultado desse trabalho foi reunido no gráfico, mostrado na Figura 5.2, subdividido em sete regiões, onde os solos de comportamento não laterítico ocupam a parte superior e os de comportamento laterítico estão situados na parte inferior do gráfico. A cada uma das regiões foi associado um símbolo, duas letras, onde a primeira letra “N” ou “L” indica o comportamento não laterítico ou laterítico do solo e a segunda A, A’, G’, S’ completam a classificação conforme mostrado na figura. Há também referência ao tipo de mineral encontrado no solo. Neste gráfico os solos coesivos estão localizados à direita e os não coesivos à esquerda. O gráfico foi montado utilizando-se de variáveis extraídas dos resultados do ensaio de Mini- MCV (Mini - Moisture Condition Value) de forma que todas as regiões tivessem a mesma área. A primeira variável usada como abscissa e simbolizada por C’ representa a inclinação do trecho reto da curva Mini - MCV para 10 golpes e em ordenadas estão colocadas os valores e’, calculados pela equação: e’= (20/d’ + Pi/100) 1/3 onde d’ é a inclinação do ramo seco da curva de compactação para uma energia correspondente a 12 golpes (aproximadamente igual à do Proctor Normal - 6 kg/cm3 ) e Pi é a porcentagem de perda de material por imersão. A equação anterior é empírica, tendo-se chegado a ela através da imposição de áreas iguais para as diversas regiões do gráfico. O procedimento utilizado, com a descrição dos ensaios necessários a classificação dos solos tropicais está descrito em Nogami e Villibor (1985). 5.6 Classificação Táctil-Visual (A.S.T.M. - D2488-69) Esta classificação é feita de tal forma que a maioria dos solos possam se enquadrar em três grupos (granulação grossa, granulação fina e altamente orgânica), através de um exame visual e alguns ensaios simples de campo. Para a fração grossa, pedregulhos e areias, informações quanto à composição granulométrica, forma das partículas, existência ou não de finos são sempre necessárias; estas partículas são ásperas ao tato, visíveis ao olho nú e se separam quando secas. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 68 M Ó D U LO D O S U B - LE IT O (1 3) 50 0 ou m ai s 30 0 ou m ai s 30 0 ou m ai s 30 0 ou m ai s 20 0 - 3 00 20 0 - 3 0020 0 - 3 00 20 0 - 2 00 20 0 - 3 00 20 0 - 3 00 10 0 - 2 00 10 0 - 2 00 10 0 - 2 00 10 0 - 2 00 50 - 10 0 50 - 10 0 - C B R D E C A M -P O (1 2) 60 - 80 35 - 60 25 - 50 40 - 80 20 - 40 20 - 40 15 - 25 10 - 20 20 - 40 10 - 20 5 - 1 5 5 - 1 5 4 - 8 4 - 8 3 - 5 3 - 5 - PE SO ES PE C Í- FI C O SE C O (γ s) (1 1) 12 5 - 1 40 12 0 - 1 30 11 5 - 1 25 13 0 -1 45 12 0 - 1 40 11 0 - 1 30 10 5 -1 20 10 0 - 1 15 12 0 - 1 35 10 5 - 1 30 10 0 - 1 25 10 0 - 1 25 90 - 10 5 80 - 10 0 90 - 11 0 80 - 10 5 - EQ U IP A M EN TO D E C O M PA C TA Ç Ã O (1 0) Tr at or d e es te ira , e qu ip am en to d e ro da d e bo rr ac ha , r ol o co m ro da d e aç o - Tr at or d e es te ira , e qu ip am en to d e ro da d e bo rr ac ha Eq ui pa m en to c om ro da d e bo rr ac ha Eq ui pa m en to d e ro da d e bo rr ac ha , r ol o de pé d e ca rn ei ro Tr at or d e es te ira , e qu ip am en to d e ro da d e bo rr ac ha - - Eq ui pa m en to c om ro da d e bo rr ac ha , r ol o pé d e ca rn ei ro , c on tro le rí gi do d a um id ad e Eq ui pa m en to d e ro da d e bo rr ac ha , r ol o de pé d e ca rn ei ro Eq ui pa m en to d e ro da d e bo rr ac ha , r ol o pé de c ar ne iro , c on tro le rí gi do d a um id ad e Eq ui pa m en to d e ro da d e bo rr ac ha , r ol o de pé d e ca rn ei ro - Eq ui pa m en to c om ro da d e bo rr ac ha , r ol o pé d e ca rn ei ro - - C om pa ct aç ão n ão é p rá tic a C A R A C TE - R ÍS TI C A S D E D R EN A G EM Ex ce le nt e - - M od er ad o a in sa tis fa tó rio In sa tis fa tó rio a pr at ic am en te im pe rm eá ve l Ex ce le nt e - - M od er ad o a in sa tis fa tó rio In sa tis fa tó rio a pr at ic am en te im pe rm eá ve l M od er ad o a in sa tis fa tó rio Pr at ic am en te im pe rm eá ve l In sa tis fa tó rio M od er ad o a in sa tis fa tó rio Pr at ic am en te im pe rm eá ve l - M od er ad o a in sa tis fa tó rio C O M PR ES - SI B IL ID A D E E EX PA N Sà O (8 ) Q ua se in ex is te nt e - - M ui to e sc as sa Es ca ss a Q ua se in ex is te nt e - - M ui to e sc as sa Es ca ss a a m éd ia Es ca ss a a m éd ia M éd ia M éd ia a a lta A lta A lta A lta M ui to a lta A Ç Ã O PO TE N C IA L D O G EL O (7 ) N en hu m a a m ui to e sc as sa - - Es ca ss a a m éd ia Es ca ss a a m éd ia N en hu m a a m ui to e sc as sa - - Es ca ss a a al ta - M éd ia a m ui to al ta M éd ia a a lta - M éd ia a m ui to al ta M éd ia - Es ca ss a V A LO R C O M O B A SE D IR ET A - M EN TE S O B A SU PE R FÍ C IE EM U SO (6 ) B om In sa tis fa tó rio a m od er ad o In sa tis fa tó rio M od er ad o a bo m In sa tis fa tó rio In sa tis fa tó rio In sa tis fa tó rio a in ad eq ua do In ad eq ua do In sa tis fa tó rio In ad eq ua do In ad eq ua do - - In ad eq ua do In ad eq ua do - In ad eq ua do V A LO R C O M O FU N D A Ç Ã O Q U A N D O N à O S U JE IT O A A Ç Ã O D O G EL O (5 ) Ex ce le nt e B om a e xc el en te B om B om a e xc el en te B om B om M od er ad o a bo m M od er ad o a bo m B om M od er ad o a bo m M od er ad o a in sa tis fa tó rio - In sa tis fa tó rio In sa tis fa tó rio In sa tis fa tó rio a m ui to in sa tis fa tó rio - In ad eq ua do N O M E (4 ) Pe dr eg ul ho o u pe dr eg ul ho ar en os o be m g ra du ad o Pe dr eg ul ho o u pe dr eg ul ho ar en os o m al g ra du ad o Pe dr eg ul ho o u pe dr eg ul ho a re - no so , u ni fo rm em en te g ra du ad o Pe dr eg ul ho si lto so o u pe dr eg ul ho a re no so si lto so Pe dr eg ul ho a rg ilo so o u pe dr eg ul ho a re no so a rg ilo so A re ia o u ar ei a pe dr eg ul ho sa , be m g ra du ad a A re ia o u ar ei a pe dr eg ul ho sa , m al g ra du ad a A re ia o u ar ei a pe dr eg ul ho sa un ifo rm em en te g ra du ad a A re ia si lto sa o u ar ei a pe dr eg ul ho sa si lto sa A re ia a rg ilo sa o u ar ei a pe dr eg ul ho sa a rg ilo sa Si lte s, si lte s a re no so s e p ed re - gu lh os os o u so lo s d ia to m ác eo s A rg ila s m ag ra s, ar gi la s ar en os as o u pe dr eg ul ho sa s Si lte s o rg ân ic os o u ar gi la s or gâ ni ca s m ag ra s A rg ila s m ic âc ea s o u so lo s di at om ác eo s A rg ila s g or da s A rg ila s o rg ân ic as g or da s Tu rf a, h úm use o ut ro s L E T R A (3 ) G W G P G U G M G C SW SP SU SM SC M L C L O L M H C H O H Pt (2 ) Pe dr eg u- lh os e so lo s pe dr eg u- lh os os A re ia s e so lo s ar en os os B ai xa co m pr es - si bi lid ad e LL < 5 0 A lta co m pr es - si bi lid ad e LL > 5 0 D IV IS Õ ES PR IN C IP A IS (1 ) SO LO S D E G R A N U - LA Ç Ã O G R O SS A SO LO S D E G R A N U - LA Ç Ã O FI N A Tu rf a e ou tro s s ol os or gâ ni co s f ib ro so s Ta be la 5 .7 - C ar ac te rís tic as re la tiv as à s f un da çõ es d e pa vi m en to s. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 69 1,15 0,70 1,40 1,75 0,450,27 1,70 0,5 1,0 1,5 2,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 COEFICIENTE C' ÍN D IC E e ' A = AREIA A' = ARENOSO G' = ARGILOSO S' = SILTOSO NS' NG' LG' LA' LA NA NA' GRANULOMETRIAS TÍPICAS DESIGNAÇÕES DO MISSISSIPI RIVER COMISSION, USA q = QUARTZOSO m = MICÁCEO s = SERSÍTICO k = CAULINÍTICO AR EI A S SI LT ES (q , s ) A R EI A S SI LT O SA S SI LT ES (k , m ) SI LT ES A R EN O SO S A R G IL A S A R G IL A S A R EN O SA S A R G IL A S SI LT O SA S SI LT ES A R G IL O SO S A R EI A S SI LT O SA S A R EI A S A R G IL O SA S A R G IL A S A R G IL A S A R EN O SA S A R G IL A S SI LT O SA S SI LT ES A R G IL O SO S COMPORTAMENTO N = NÃO LATERÍTICO L = LATERÍTICO GRUPO MCT N A N A’ N S’ N G’ L A L A’ L G’ MINI CBR ( % ) SEM IMERSÃO PERDA POR IMERSÃO M , E B , M E B M , E E E E E B E , EE B E B EXPANSÃO B B E M , E B B B CONTRAÇÃO B B , M M M , E B B , M M , E COEF. PERMEABILIDADE (K) M , E B B , M B , M B , M B B COEF. SORÇÃO (S) E B , M E M , E B B B PR O PR IE D A D ES CORPOS DE PROVA COMPACTADOS NA MASSA ESPECÍFICA APARENTE SECA MÁXIMA DA ENERGIA NORMAL EE = MUITO ELEVADO E = ELEVADO M = MÉDIO (A) B = BAIXO (A) VIDE QUADRO ABAIXO PARA EQUIVALÊNCIANUMÉRICA MINI-CBR (%) EE – Muito elevado > 30 E – Elevado 12 a 30 M – Médio 4 a 12 B – Baixo < 4 PERDA DE SUPORTE MINI-CBR – POR IMERSÃO (%) E – Elevada > 70 M – Média 40 a 70 B – Baixa < 40 EXPANSÃO (%) E – Elevada > 3 M – Média 0,5 a 3 B – Baixa < 0,5 CONTRAÇÃO (%) E – Elevada > 3 M – Média 0,5 a 3 B – Baixa < 0,5 COEFICIENTE DE SORÇÃO – S log (cm/Vmín) E – Elevada > (- 1) M – Média ( -1) a ( -2) B – Baixa < ( -2) COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE K log (cm/s) E – Elevada > ( - 3) M – Média ( - 3) a ( - 6) B – Baixa < ( - 6) CORRESPONDÊNCIA APROXIMADA COM U S C E SP SM SM SC ML SM, CL ML, MH MH CH SP SC SC MH ML CH Figura 5.2 - Gráfico de classificação MCT e principais propriedades dos grupos dessa classificação. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 70 Para os solos finos, siltes e argilas, os principais ensaios de identificação no campo são: a) ensaio de dilatância; b) ensaio de plasticidade; c) determinação da resistência seca do solo; d) observações quanto à cor e cheiro (solos orgânicos). Os itens a, b e c são feitos com material que passa na peneira nº 40 (0,42mm). No campo, muitas vezes, separa-se o material retido na peneira nº 40 fazendo-se o possível para retirar o material entre a peneira nº 10 e nº 40. O ensaio de dilatância consiste em adicionar água no material, tornando-o pegajoso. A massa formada deve ter um volume de 8 cm3 e é colocada na palma de uma das mãos em posição horizontal. Bate-se vigorosamente uma mão de encontro com a outra, várias vezes e espreme-se a massa entre os dedos. Segundo as reações ocorridas durante o ensaio de dilatância, os solos podem classificar-se em: - solos não plásticos (siltes e areias) apresentam uma reação rápida (presença de água livre quando sacudido); - solos altamente plásticos resultam em reação nula. Portanto, dependendo da velocidade que a massa muda de consistência, definimos que a reação do teste é rápida, lenta ou nula. Ensaio de plasticidade consiste em obter um cilindro de 3mm de diâmetro sobre uma superfície lisa ou entre as palmas da mão. À medida que o processo vai se desenvolvendo, o solo vem se tornando mais duro (perda de umidade). Os solos situados abaixo da linha “A” do gráfico de plasticidade formam cilindros frágeis e com exceção dos solos orgânicos. Estes solos resultam em cilindros muito moles e pegajosos quando estão próximos do limite de plasticidade. Quanto mais alta a posição do solo em relação à linha “A”, mais resistentes são os cilindros ao se aproximarem ao limite de plasticidade. O ensaio de resistência seca consiste em moldar uma amostra de solo úmido e deixar secar em estufa ou no ar livre. Após a secagem tenta-se desagregar a amostra com pressão dos dedos. De acordo com o esforço aplicado na amostra podemos definir como: - os solos de pouca resistência seca (desagregam-se imediatamente com pequeno esforço - solos siltosos); - os solos de resistência seca razoável (desagregam-se com certo esforço - solos argilosos e orgânicos). A cor serve para separar os horizontes de um perfil de solo e pode indicar a existência do nível do lençol freático. Utiliza-se em amostras de solos úmidos porque pode haver uma mudança razoável com a secagem. Adota-se a carta de cores de MUNSEEL preparado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Os solos de cor vermelha indicam a presença de óxidos de ferro e ausência do lençol freático próximo. Os solos de cor cinza ou manchados indicam que a variação do nível d’água. Quanto ao cheiro, os solos orgânicos apresentam, em geral, odores característico, que pode ajudar na identificação. Os métodos para estimar a porcentagem passante na peneira nº 200 são muitos e a escolha depende do tempo, habilidade do técnico e equipamento disponível. Entre eles podemos citar: - decantação - consiste em misturar solo com água num recipiente e derramar a mistura turva de água e solo. Repete-se a operação várias vezes, até conseguir remover praticamente todos os finos. Por comparação do resíduo com o material primitivo tem-se idéia da quantidade de finos. - sedimentação - consiste em misturar água com o solo em uma proveta e agitar bastante. As partículas maiores irão depositar logo (areia deposita em 20 ou 30 segundos). Notas de Aula - Mecânica dos Solos 71 5.7 Exercícios 1) Com os dados obtidos no laboratório em ensaios de granulometria e plasticidade para três amostras de solo(solo A, B e C), apresentados abaixo, determine: a) diâmetro efetivo, b) coeficiente de curvatura, c) coeficiente de uniformidade, d) índice de plasticidade, e) atividade coloidal, f) classifique estas amostras de acordo com os sistemas textural, HRB/AASHO e SUCS. Solo A Solo B Solo C LL (%) 15 35 65 LP (%) - 20 35 Curva Granulométrica - ABNT - NBR 6502 C B A Silte Areia Fina Areia Média Areia Grossa PedregulhoArgila 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,001 0,01 0,1 1 10 100 Diâmetro dos Grãos (mm) Po rc en ta ge m R et id a 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Po rc en ta ge m P as sa nt e 2) Os dados obtidos no laboratório para determinação de umidade natural, do limite de liquidez e do limite de plasticidade de uma amostra de argila foram os seguintes: Umidade natural W (g): 7,782 5,041 Ws (g): 6,682 4,312 w (%): Limite de liquidez W (g): 2,803 2,215 2,296 2,663 Ws (g): 2,210 1,752 1,825 2,123 w (%): Nº Golp: 13 20 29 36 Limite de Plasticidade W (g): 0,647 0,645 0,388 Ws (g): 0,557 0,566 0,337 w (%): Notas de Aula - Mecânica dos Solos 72 Pede-se: a) qual a consistência dessa argila 3) O solo de uma jazida para uso de uma obra de terra tem as seguintes características: LL = 60% e LP = 27%. O teor de umidade natural do solo é de 32%. Determine: a) o índice de plasticidade, b) o índice de consistência, c) classifique o solo em função do valor obtido em (b). 4) As seguintes indicações são fornecidas para os solos A e B: LL (%) LP (%) W (%) G S Solo A 30 12 15 2,70 100 Solo B 9 6 6 2,68 100 Pede-se: a) qual o solo de maior teor de argila? b) qual o solo de maior índice de vazios? 5) Um solo argiloso apresenta as seguintes características: LL = 59%, LP = 23,1% e IC = 0,44. Pede-se, calcular a quantidade de água necessária a adicionar a 2Kg deste solo para reduzir o IC a 0,20. Respostas: 1) a) D10 A = 0,07; D10 B = 0,007 e D10 C = 0,0 (zero) b) D60 A = 0,38; D60 B = 0,10 e D60 C = 0,011 Cu A = 5,5; Cu B = 14,3 e Cu C = ∞ c) D30 A = 0,18; D30 B = 0,044 e D30 C = 0,0 (zero) Cc A = 1,2; Cc B = 2,8 e Cc C = 0 d) IP A = NP; IP B =15 e IP C = 30 e) Ac A = não possui finos; Ac B = 3,75 (Ac alta >1,25) e Ac C = 0,63 (Ac baixa < 0,75) f) 2) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 73 UNIDADE 6 - PERMEABILIDADE DOS SOLOS 6.1 Introdução A permeabilidade é a propriedade que o solo apresenta de permitir o escoamento de água através dele. Todos os solos são mais ou menos permeáveis. O conhecimento do valor da permeabilidade é muito importante em algumas obras de engenharia, principalmente, na estimativa da vazão que percolará através do maciço e da fundação de barragens de terra, em obras de drenagem, rebaixamento do nível d’água, adensamento, etc. Portanto, os mais graves problemas de construção estão relacionados com a presença da água. O conhecimento da permeabilidade e de sua variação é necessário para a resolução desses problemas. O coeficiente de permeabilidade pode ser determinado através de ensaios de laboratório em amostras indeformadas ou de ensaios “in situ”. Como já foi visto, o solo é um material natural complexo, constituído por grãos minerais e matéria orgânica, constituindo uma fase sólida, envolvidos por uma fase líquida: água. Há uma terceira fase, eventualmente presente; o ar, o qual preenche parte dos poros dos solos não inteiramente saturados de água. No caso das areias o solo poderia ser visto como um material constituído por canalículos, interconectados uns aos outros, nos quais ou há água armazenada, em equilíbrio hidrostático, ou água flui através desses canalículos, sob a ação da gravidade. Nas argilas esse modelo simples do solo perde sua validade, uma vez que devido ao pequeníssimo diâmetro que teriam tais canalículos e as formas exóticas dos grãos, intervêm forças de natureza capilar e molecular de interação entre a fase sólida e a líquida. Portanto, o modelo de um meio poroso, pelo qual percola à água, é algo tanto precário para as argilas, embora possa ser perfeitamente eficiente para as areias. Infelizmente a quase totalidade das teorias para percolação de água nos solos é baseada nesse modelo. 6.2 Regime de escoamento nos solos As bases teóricas sobre o regime de escoamento em condutos forçados foram estabelecidas por Reynolds, em 1883. Reynolds comprovou que o regime de escoamento é laminar, sob certas condições, ou turbulento. Esta experiência, mostrada esquematicamente na Figura 6.1.a , consistiu em permitir o fluxo de água através de uma tubulação transparente e, por meio de um pequeno funil instalado no tanque superior, introduzir um corante no fluxo: se o corante escoasse com uma trajetória retilínea, o regime de escoamento seria laminar, pois as partículas têm trajetórias paralelas; caso contrário, o regime seria turbulento. Reynolds variou o diâmetro “D” e o comprimento “L” do conduto e a diferença de nível “h” entre os reservatórios, medindo a velocidade de escoamento “v”. Os resultados constam na Figura 6.1.b, onde estão plotados, o gradiente hidráulico “i = h/l” versus a velocidade de escoamento “v”. Verifica-se que há uma velocidade crítica “vc” abaixo da qual o regime é laminar, havendo proporcionalidade entre o gradiente hidráulico e a velocidade de fluxo. Para velocidades acima de “vc” a relação não é linear e o regime de escoamento é turbulento. Ainda segundo Reynolds, o valor de “vc” é relacionado teoricamente com as demais grandezas intervenientes através da equação: g Dvc ⋅ ⋅⋅= µ γRe onde: Re = número de Reynolds, adimensional e igual a 200; vc = velocidade crítica; D = diâmetro do conduto; Notas de Aula - Mecânica dos Solos 74 γ = peso específico do fluído; µ = viscosidade do fluído; g = aceleração da gravidade. (a) (b) Figura 6.1 - Experiência de Reynolds: (a) montagem; (b) resultados. Substituindo na equação anterior os valores correspondentes à água a 20°C, obtém-se o valor de “vc” (em m/s) em função do diâmetro do conduto “D” (em metros): D vc 41028 −×= Nos solos, o diâmetro dos poros pode ser tomado como inferior a 5mm. Levando este valor à equação anterior, obtém-se vc = 0,56m/s, que é uma velocidade muito elevada. De fato, a percolação da água nos solos se dá a velocidades muito inferiores à crítica, concluindo-se daí que a percolação ocorre em regime laminar. Como conseqüência imediata haverá, segundo estudos de Reynolds, proporcionalidade entre velocidade de escoamento e gradiente hidráulico (Figura 6.1.b). Denominado o coeficiente de proporcionalidade entre “v” e “i” de permeabilidade ou condutibilidade hidráulica “k”, vem: v = k . i 6.3 Ley de Darcy Na realidade, a equação v = k . i, deduzida no item anterior segundo a teoria de Reynolds, foi obtida experimentalmente cerca de 30 anos antes pelo engenheiro francês H. Darcy, e por isto é conhecida como lei de Darcy. Por motivos didáticos é que o assunto é apresentado de forma não cronológica. A experiência de Darcy (Figura 6.2) consistiu em percolar água através de uma amostra de solo de comprimento “L” e área “A”, a partir de dois reservatórios de nível constante, sendo “h” a diferença de cota entre ambos. Os resultados indicaram que a velocidade de percolação v = Q/A é proporcional ao gradiente hidráulico i = h/L. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 75 Figura 6.2 - Experiência de Darcy 6.4 Fatores que influenciam a permeabilidade Os principais fatores que influenciam no coeficiente de permeabilidade são:granulometria, índice de vazios, composição mineralógica, estrutura, fluído, macro-estrutura e a temperatura. Granulometria - O tamanho das partículas que constituem os solos influencia no valor de “k”. Nos solos pedregulhosos sem finos (partículas com diâmetro superior a 2mm), por exemplo, o valor de “k” é superior a 0,01cm/s; já nos solos finos (partícula com diâmetro inferior a 0,074mm) os valores de “k” são bem inferiores a este valor. Índice de vazios - A permeabilidade dos solos esta relacionada com o índice de vazios, logo, com a sua porosidade. Quanto mais poroso for um solo (maior a dimensão dos poros), maior será o índice de vazios, por conseguinte, mais permeável (para argilas moles, isto não se verifica). Composição mineralógica - A predominância de alguns tipos de minerais na constituição dos solos tem grande influência na permeabilidade. Por exemplo, argilas moles que são constituídas, predominantemente, de argilo-minerais (caulinitas, ilitas e montmorilonitas) possuem um valor de “k” muito baixo, que varia de 10-7 a 10-8 cm/s. Já nos solos arenosos, cascalhentos sem finos, que são constituídos, principalmente, de minerais silicosos (quartzo) o valor de “k” é da ordem de 1,0 a 0,01cm/s. Estrutura - É o arranjo das partículas. Nas argilas existem as estruturas isoladas e em grupo que atuam forças de natureza capilar e molecular, que dependem da forma das partículas. Nas areias o arranjo estrutural é mais simplificado, constituindo-se por canalículos, interconectados onde a água flui mais facilmente (ver item 4.10, Unidade 4). Fluído - O tipo de fluído que se encontra nos poros. Nos solos, em geral, o fluído é a água com ou sem gases (ar) dissolvidos. Macro-estrutura - Principalmente em solos que guardam as características do material de origem (rocha mãe) como diaclases, fraturas, juntas, estratificações. Estes solos constituem o horizonte C dos perfis de solo, também denominados de solos saprolíticos. Temperatura - Quanto maior a temperatura, menor a viscosidade d’água, portanto, maior a permeabilidade, isto significa que a água mais facilmente escoará pelos poros do solo. Por isso, os Notas de Aula - Mecânica dos Solos 76 valores de “k” obtidos nos ensaios são geralmente referidos à temperatura de 20°C, o que se faz pela seguinte relação: kTTT Ck kk ⋅=⋅= 20 20 µ µ Onde: k20 = coeficiente de permeabilidade a 20°C kT = coeficiente de permeabilidade a T°C µ T = viscosidade da água a T°C µ 20 = viscosidade da água a 20°C Ck = µ T / µ 20 = fator de correção em função da temperatura (Tabela 6.1) As Figuras 6.3 e 6.4 apresentam alguns resultados de ensaios de permeabilidade em solos residuais brasileiros (Vargas, 1977). Vargas verificou também a influência dos diferentes estados do solo (estrutura) no valor do coeficiente de permeabilidade. Tabela 6.1 - Fator de correção - Ck - em função da temperatura. T°C Ck T°C Ck T°C Ck T°C Ck 7 1,416 13 1,195 19 1,025 25 0,887 8 1,375 14 1,165 20 1,000 26 0,867 9 1,336 15 1,135 21 0,975 27 0,847 10 1,298 16 1,106 22 0,952 28 0,829 11 1,263 17 1,078 23 0,930 29 0,811 12 1,228 18 1,051 24 0,908 30 0,793 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,0E-11 1,0E-10 1,0E-09 1,0E-08 1,0E-07 1,0E-06 1,0E-05 PERMEABILIDADE - m/s ÍN D IC E D E V A Z IO S - e BASALTO; LL = 60 , IP = 40 GNAISSE; LL = 80 , IP = 39 ARENITO; LL = 25 , IP = 13 GNAISSE; LL = 53 , IP = 23 ARENITO; LL =28 , IP = 12 ARENITO; LL =28 , IP = 12 COLÚVIO (BASALTO); LL = 50 , IP = 16 Figura 6.3 - Resultados de ensaios de permeabilidade em solos residuais. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 77 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 1,0E-11 1,0E-10 1,0E-09 1,0E-08 PERMEABILIDADE - m/s ÍN D IC E D E V A Z IO S - e ESTADO NATURAL AMOLGADO (w = LL) SOLO RESIDUAL DE GNAISSE LL = 80 , IP = 39 COMPACTADO (NA UMIDADE ÓTIMA) Figura 6.4 - Correlações k x e para o mesmo solo em estados diferentes. 6.5 Ordem de grandeza do coeficiente de permeabilidade A Tabela 6.2 apresenta valores típicos do coeficiente de permeabilidade (médios) em função dos materiais (solos arenosos e argilosos). Consideram-se solos permeáveis, ou que apresentam drenagem livre, são aqueles que têm permeabilidade superior a 10-7 m/s. Os demais são solos impermeáveis ou com drenagem impedida. Tabela 6.2 - Valores típicos do coeficiente de permeabilidade. Permeabilidade Tipo de solo k (cm/s) Alta Pedregulhos > 10-3 Alta Areias 10-3 a 10-5 Solos permeáveis Baixa Siltes e argilas 10-5 a 10-7 Muito baixa Argila 10-7 a 10-9 Solos impermeáveis Baixíssima Argila < 10-9 6.6 Determinação da permeabilidade 6.6.1 Ensaios de laboratório (Permeâmetros) Existem diversos tipos de equipamentos para investigação da condutividade hidráulica de solos em laboratório. Esses equipamentos são denominados de permeâmetros, e são classificados em permeâmetros de parede rígida e parede flexível. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 78 Os ensaios de condutividade hidráulica realizados em laboratório são mais utilizados na avaliação de solos compactados durante a fase de projeto, devido os baixos custos comparados com ensaios de campo. Os resultados destes ensaios ajudam na seleção de materiais, normalmente mais indicados como camada impermeabilizante de fundações e aterros sanitários. Os ensaios de laboratório são realizados em células chamadas de permeâmetros, sendo que no seu interior é colocado o corpo de prova para execução do ensaio. Existem duas categorias de permeâmetros usados em laboratório, os permeâmetros de parede flexível e os permeâmetros de parede rígida. Em função do método de execução os ensaios podem ser denominados; ensaio de carga constante, ensaio de carga variável e ensaio com vazão constante. 6.6.1.1 Permeâmetro de parede rígida O permeâmetro de parede rígida é constituído por tubo metálico, plástico ou vidro (quando o chorume for o líquido percolante), onde é colocado o corpo de prova para o ensaio. Esse tipo de permeâmetro não se utiliza em ensaios com solos de baixa permeabilidade, pois há a possibilidade de fluxo lateral entre o corpo de prova e molde, neste caso podem ser ensaiados de acordo com a NBR 13292/95. Os permeâmetros de parede rígida mais utilizados são do tipo: molde de compactação, tubo amostrador e célula de adensamento. a) Permeâmetro do tipo molde de compactação O ensaio com permeâmetro do tipo molde de compactação é realizado em corpos de prova compactados. O corpo de prova contido por um cilindro é fixo entre duas placas (tampas) em suas extremidades e vedadas com anéis de borracha. No topo e base são colocados materiais drenantes. Daniel (1994) apresentou uma extensa revisão sobre os principais permeãmetros de parede rígida utilizados para determinação da k em solos. Em geral estes permeâmetros utilizam corpos de prova compactados, porém a NBR 14545/00 descreve um tipo de ensaio onde são executadas uma vedação com argila plástica (bentonita) nas laterais do corpo de prova. Neste caso o corpo de prova pode ser compacto ou natural. A bentonita terá como função o selamento anelar evitando o fluxo de água pelas lateriais. Daniel (1994) também apresenta este tipo de equipamento. A figura 6.4 (a), (b) e (c) apresenta 3 tipos de permeâmetros de parede rígida mais utilizados. (a) Molde de compactação (b) Permeâmetro com selamento anelar c) Permeâmetro para solo granular Figura 6.5 – Permeâmetros de parede rígida mais utilizados Notas de Aula - Mecânica dos Solos 79 b) Permeâmetro do tipo tubo amostrador O permeâmetro do tipo tuboamostrador consiste de um tubo que coleta amostras indeformadas em campo. Várias vezes o tubo é cortado no laboratório e fixo entre as placas, sendo o corpo de prova percolado com líquidos diretamente no interior do tubo. Daniel (1994), afirma há grandes possibilidades de ocorrer fluxo lateral se o ensaio for realizado com amostras de solos muito rígidos ou que tenham material granular. Além disto, podem ocorrer danos na amostra quando na coleta, devido à perturbação do solo na cravação do tubo amostrador e também na retirada do mesmo. c) Permeâmetro do tipo célula de adensamento O permeâmetro do tipo célula de adensamento é formado por uma célula, pela qual o fluxo d’água do corpo de prova é conectado ao ensaio figura 6.6, Tavenas et al (1983), afirma que uma das vantagens na utilização deste ensaio é a possibilidade de medir além da condutividade hidráulica a tensão vertical efetiva inicial (σ’v0), índice de vazios (e0), mas também a lei da variação de k em função do índice de vazios com o aumento da tensão vertical efetiva. Figura 6.6 – Permeâmetro de parede rígida tipo célula de adensamento. Em geral os permeâmetros de parede rígida apresentam como vantagens: (a) Simplicidade de construção, operação e baixo custo da célula; (b) amostras com dimensões maiores podem ser ensaiadas; (c) podem ser aplicadas as tensões verticais nulas se desejado. As principais desvantagens que estes permeâmetro apresentam são: (a) Problemas de fluxo lateral nas amostras; (b) não há controle da tensão horizontal; (c) não é possível confirmar o grau de saturação pelo parâmetro B; (d) não é possível obter a saturação por contrapressão; (e) necessita-se de um grande tempo para ensaiar o material de baixa permeabilidade. 6.6.1.2 Permeâmetro de parede flexível Consiste de uma câmara triaxial simplificada adaptada ao ensaio de permeabilidade. Na figura 6.7 aparece o desenho esquemático de um permeâmetro de parede flexível. Este sistema pode ser usado com água, chorume ou com outro líquido. Quando usado com líquido de origem química, necessita-se verificar a possibilidade de alteração da membrana que reveste o corpo de prova e os componentes do permeâmetro. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 80 Figura 6.7 – Permeâmetro de parede flexível (modificado de Daniel et. al 1994) O corpo de prova de solo é colocado no interior da célula triaxial envolvido por uma membrana, e disposto entre a base e o pedestal, sendo confiando entre pedras porosas, na parte superior e inferior do corpo de prova. A célula triaxial é preenchida com água, aplicam-se tensões de confinamento, que comprimem a membrana flexível ao corpo de prova. Desta forma o fluxo lateral (entre a membrana e o corpo de prova) é minimizado. Uma linha de drenagem é conectada na parte inferior do corpo de prova (onde entrará o fluxo d’água), e outra na parte superior (onde sairá o fluxo). As principais vantagens do permeâmetro de parede flexível são: (a) saturação da amostra por contrapressão e tem-se a possibilidade de verificar o parâmetro B = ∆u / ∆σ; (b) possibilidade de controle das tensões principais; (c) realizar ensaios com materiais de baixa condutividade hidráulica; (d) ensaios mais rápidos; (e) a membrana que envolve a amostra reduz o risco de percolação lateral devido à tensão de confinamento aplicada; (f) as mudanças volumétricas e deformações podem ser medidas. Citam-se como principais desvantagens: (a) os custos da célula e dos equipamentos envolvidos para realização dos ensaios são elevados; (b) problemas de compatibilidade química da membrana com líquidos utilizados na percolação; (c) dificuldades de execução do ensaio com tensões de compressão muito baixas; (d) problemas de difusão através da membrana. 6.6.2 Métodos de Ensaio (sistemas de controle) Os métodos de ensaio de condutividade hidráulica são nomeados em função do sistema de aplicação de carga hidráulica, que podem ser do tipo: carga constante, carga variável e vazão constante (Daniel, 1994). Ensaio de carga constante: Corpo de prova Conexão da Base Conexã Tubo de acrílico (câmara) Pedras Porosas Conexão do Tampa Pedesta Base Membrana Notas de Aula - Mecânica dos Solos 81 Neste ensaio a amostra é submetida a uma carga hidráulica constante durante o ensaio (permeâmetro de nível constante). O coeficiente de permeabilidade é determinado pela quantidade de água que percola a amostra para um dado intervalo de tempo. A quantidade de água é medida por uma proveta graduada, determinando-se a vazão (Q), conforme mostra a Figura 6.8. Este permeâmetro é muito utilizado para solos de granulação grossa (solos arenosos). Q = v . A v = k . i Q = k . i . A Q = k . h/L . A tAh LV Ah LQk ⋅⋅ ⋅=⋅ ⋅= k = permeabilidade v = velocidade i = gradiente hidráulico Q = vazão L = comprimento A = área da amostra h = diferença de nível V = volume t = tempo Figura 6.8 - Permeâmetro de carga constante Ensaio de carga variável: Em se tratando de solos finos (solos argilosos e siltosos), o ensaio com carga constante torna- se inviável, devido à baixa permeabilidade destes materiais há pouca percolação de água pela amostra, dificultando a determinação do coeficiente de permeabilidade. Para tais solos é mais vantajoso a utilização de permeâmetros com carga variável, conforme mostra a Figura 6.9. h = f (t) Q = V/t = k . i . A V = K . i . A . t dV = k . i . A . dt (na amostra) dV = - a . dh (na bureta) k . i . A . dt = - a . dh k . h/L . A. dt = - a . dh h dhdt aL Ak −=⋅⋅ ⋅ Realizando-se a integração entre h1 e h2 e t1 e t2 ∫∫ −=⋅⋅⋅ 2 1 2 1 h h t t h dhdt AL Ak 1212 lnln)( hhttaL Ak ee +−=−⋅⋅ ⋅ Notas de Aula - Mecânica dos Solos 82 )/(ln )( 2112 hh ttA Lak e⋅−⋅ ⋅= )/log(3,2 )( 2112 hh ttA Lak ⋅⋅−⋅ ⋅= k = permeabilidade a = área da bureta A = área da amostra L = comprimento da amostra dV = volume elementar dh = altura elementar h = leituras na bureta t = tempo correspondente às leituras h Figura 6.9 - Permeâmetro de carga variável. 6.6.4 Ensaios de campo (in situ) Por mais cuidadosos que sejam os ensaios de permeabilidade em laboratório, representam somente pequenos volumes de solo em pontos individuais de uma grande massa. Portanto, a validade da aplicação dos valores neles obtidos aos problemas de percolação e drenagem dependerá de como possam ser considerados representativos da massa de solo. Em projetos importantes justifica-se a realização de determinações “in situ” da permeabilidade as quais envolvem grandes volumes de solo fornecendo valores médios de permeabilidade que levam em conta variações locais no solo. Por outro lado, eliminam o problema do amolgamento das amostras indeformadas e a dificuldade de amostragem oferecida por algumas formações especialmente de solos arenosos. Ensaio de bombeamento: Trata-se de um ensaio de grande uso para a determinação da permeabilidade in situ de camadas de areia e pedregulho. O método consiste em esgotar-se água do terreno estabelecendo-se um escoamento uniforme, medir a descarga do poço (q) e observar a variação do nível d’água em piezômetros (h1 e h2 ) colocados nas proximidades, conforme figura 6.10. O poço para bombeamento deve penetrar em toda a profundidade da camada ensaiada e com diâmetro suficiente para permitir a inserção de uma bomba com tipo e capacidade necessária ao bombeamento. As hipóteses básicas são: 1) o poço de bombeamento penetra em toda a espessura da camada permeável;2) existe escoamento uniforme; 3) formação é homogênea e isotrópica; 4) validade da lei de Darcy; 5) validade da hipótese de Dupuit, i = dh/dr = constante. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 83 dr dhKhrq ⋅⋅⋅⋅⋅= π2 ( )2122 1 2ln hhK r rq −⋅⋅=⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛⋅ π ∫∫ ⋅=⋅ 2 1 2 1 h h r r dhh r drq ( )( )2122 12log32 hh rrqk −⋅ ⋅⋅⋅= π Figura 6.10 - (a) disposição dos poços; (b) seção através do poço de bombeamento. O custo do ensaio de bombeamento é relativamente alto e, portanto, deve sempre ser precedido por investigações que estabeleçam a natureza geral das formações. Ensaio de permeabilidade em furos de sondagem: É um ensaio de custo baixo quando comparado com o ensaio de bombeamento. Determina-se a permeabilidade de solos e rochas injetando-se água ou bombeando-se através de perfurações executadas durante a fase de investigação (furos de SPT). Este método está sujeito a uma série de erros, tais como a falta de precisão nas medidas dos elementos geométricos, o amolgamento do solo devido à perfuração, etc. Além disso, as fórmulas deduzidas para o cálculo da permeabilidade são aplicáveis somente em casos específicos e, por isso, é necessário muito cuidado para não aplicar fórmulas a ensaios cujas condições não se enquadram nos limites estipulados para as mesmas. Os ensaios podem ser de carga variável ou de carga constante. 1º - Ensaio de permeabilidade - carga variável: No ensaio de carga variável deixa-se descer ou subir água no furo, medindo-se o tempo necessário para uma determinada variação de carga (altura), é o mais rápido e fácil, só que somente é realizado abaixo no nível de água. O furo é cheio de água até o zero da bureta. A velocidade de descida da água é medida através das alturas (H2) a intervalos de tempo que são função do tipo de material, em geral temos: - solos arenosos - 1 a 10 min - solos siltosos - 30 a 60 min - solos argilosos - 1 a 24 horas Notas de Aula - Mecânica dos Solos 84 Figura 6.11 - Permeabilidade de carga variável: caso A e caso B. O coeficiente de permeabilidade é determinado pelas seguintes expressões: CASO A ( ) 2 1 12 2 ln1 11 H H ttD dk ⋅−⋅⋅ ⋅= π Para o caso B, levanta-se o tubo de revestimento de 25 cm a 1,0m, determinando-se a permeabilidade horizontal; CASO B ( )12 21 2 )/ln(2ln 8 tt HH D L L dk −⋅⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛⋅⋅= OBS: F = fator de forma, onde: q = F . K . h 2º - Ensaio de permeabilidade - carga constante: No ensaio de carga constante a água é acrescentada no interior do revestimento, numa quantidade suficiente para manter um nível d’água constante, geralmente na boca do revestimento. A água pode ser adicionada derramando-se de recipientes calibrados ou por bombeamento através de hidrômetro. Determina-se a quantidade de água acrescentada no revestimento a 1, 2 e 5 minutos após o inicio do ensaio e daí por diante a cada 5 minutos de intervalo. CASO A chD Qk ⋅⋅= 75,2 CASO B ( )DL hL Qk c /2ln 2 ⋅⋅⋅⋅= π hc = depende do ensaio ser realizado acima ou abaixo do nível de água. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 85 Figura 6.12 - Ensaio de permeabilidade de carga constante. Ensaio com piezômetro: Na engenharia geotécnica, piezômetros são instrumentos amplamente utilizados para monitoramento de poro pressões em encostas naturais, taludes, obras de terra, etc. Os ensaios com piezômetro são empregados para a determinação do k em solos naturais e camadas compactadas. Tendo como principal vantagem a sua simplicidade e rápida execução. Segundo Tavenas et. al (1986) existem dois tipos de piezômetros (figura 6.13) amplamente empregados: piezômetro cravado e piezômetro escavado. a) Piezômetro do tipo cravado Este piezômetro é formado de uma ponteira metálica e um elemento poroso ligado a um tubo de água. Este tipo de ensaio não deve ser utilizado para solos argilosos, pois no momento da cravação ocorre uma pertubação e colmatação na estrutura do solo (Tavenas et al; 1986). A alteração destas características do solo natural diminui os valores do coeficiente k encontrados no campo. A figura 6.13 b demonstra o esquema de um piezômetro cravado. Figura 6.13 – Piezômetro escavado (a) e piezômetro cravado (b) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 86 b) Piezômetro do tipo escavado Herzog (1994) apresenta detalhes construtivos de piezômetros escavados, que foram utilizados para determinação da condutividade hidráulica em depósitos naturais geológicos dos Estados Unidos. Os ensaios realizados por este autor são do tipo slug test similar aos ensaios realizados por Cunha et al. (1997), Bortoli (1999) e Pinheiro (2000). A execução de um ensaio de condutividade hidráulica com piezômetro escavado (figura 6.13a) requer basicamente: (a) tubos de PVC com diâmetro de 32 a 40mm, visando permitir o aumento do comprimento do tubo de suporte, até atingir-se a profundidade de ensaio (cada extensão é realizada por meio de conexões rosqueadas e vedadas), (b) bentonita para a execução do selo, (c) areia para execução do filtro (este é construído com areia de granulometria grossa; recomenda-se que seja usada uma camada adicional de alguns centímetros de areia fina sobre a camada de areia grossa, para evitar que a bentonita provoque colmatação do filtro), (d) bureta graduada para a medição do volume de água infiltrado, (e) trados e hastes para a execução do furo de sondagem. A equação básica para a determinação do coeficiente de condutividade hidráulica a partir de resultados de ensaios com piezômetros, foi apresentada por Hvorslev (1951). Esta equação requer o conhecimento da relação entre a carga hidráulica aplicada no interior do furo e a vazão medida durante o ensaio, além do fator de forma da ponteira. Esse fator de forma F é uma função da geometria do piezômetro e do tipo de ensaio (com aplicação de carga hidráulica constante ou variável). A utilização desta equação também pressupõe que o solo seja homogêneo e isotrópico. Para uma vazão Q (vazão estabilizada) no piezômetro, sob uma carga hidráulica constante h, Hvorslev (1951) apud Bortoli (1999) propõe a utilização das equações: F.h Qk fs = (carga constante) )tt(F )] h h ([lnd k 12 2 12 fs −= (carga variável) onde: d = diâmetro do tubo h1 e h2 as cargas hidráulicas anotadas nos tempos t1 e t2 respectivamente F = fator de forma; O fator de forma F tem sido objeto de consideráveis discussões na literatura geotécnica, sendo que vários autores (Hvorslev, 1951, Wilkinson, 1968, Brandt e Premchitt, 1980) segundo Bortoli (1999) propuseram formulações para a sua obtenção. Na figura 2.13 são apresentadas curvas da normalização do fator F pelo diâmetro do furo de sondagem levando em consideração a geometria do ensaio. A equação 11 introduz um parâmetro "m" que quantifica as diferenças entre as diversas modificações propostas para o fator F. ]) D Lm (1 D Lm ln[ Lm2 F 2 f f f f f ++ π= (11) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 87 As equações originalmente desenvolvidas por Hvorslev (1951) para a interpretação de ensaios com piezômetros correspondiam à condição de solo abaixo do nível de água. Nesta pesquisa foi utilizado o parâmetro m = 1 proposto por Hvorslev (1951), nos cálculos dos ensaios com piezômetros escavados. Ensaio de perda d’água sob pressão (ensaio Lugeon): É prática corrente observar-se no decorrer da execução de sondagens rotativas perdas de água parciais ou totais dependendo da importância e densidade de fissuração da rocha. O ensaio de Lugeonou de perda d’água nada mais é do que um aperfeiçoamento desta observação. O ensaio de perda d’água permite obter informações quantitativas sobre a circulação da água em rochas fissuradas, com o objetivo de julgar as possibilidades de consolidação por injeções. O ensaio consiste em injetar, em um trecho de comprimento L, isolado num furo de sondagem por obturadores, água sob pressão constante conforme o esquema apresentado na Figura 6.14. A pressão de injeção (Pm) é controlada por um manômetro e a descarga (vazão) através de um hidrômetro, obtendo-se o volume injetado num certo intervalo de tempo. Figura 6.14 – Ensaio de Lugeon Os resultados dos ensaios de perda d’água podem ser interpretados através de um gráfico (Figura 6.15) que se obtém marcando no eixo das ordenadas as pressões efetivas e no eixo das abscissas as vazões em litro por minuto por metro. Estudos efetuados por Lugeon mostraram que existe certo número de diagramas característicos do regime de escoamento (laminar ou turbulento) do fechamento (colmatagem) ou abertura das fissuras sob pressão. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 88 SEM ALTERAÇÃO COM FECHAMENTO COM ABERTURA L1 L2 L3 Figura 6.15 - Casos típicos de comportamento do trecho ensaiado. 6.7 Fórmulas empíricas - Hazen: fornece valores de permeabilidade em função do diâmetro e forma dos grãos. Válida somente para solos arenosos (areias fofas e uniformes) k (cm/s) = C . (D10 )2 Onde, k = coeficiente de permeabilidade D10 = diâmetro efetivo das partículas C = coeficiente que para solos arenosos é igual a 100. - Nishida: correlaciona o índice de vazios com a permeabilidade em argilas saturadas e = α + β . log k α = 10 . β β = 0,01 . IP + δ Onde, k = coeficiente de permeabilidade e = índice de vazios IP = índice de plasticidade δ = constante que depende do tipo de solo e de valor médio 0,05 1 5 2 4 3 3 15 24 3 5 1 42 Vazão Pr es sã o Notas de Aula - Mecânica dos Solos 89 Exemplo 1: A seguir apresenta-se o resultado de um ensaio de permeabilidade com carga variável, realizado em um solo argiloso (permeabilidade muito baixa). Interessado: Amostra: Data: Permeâmetro: 21 Dens. apar. seca máx: 1596 kg/m³ Peso umid.higros.: 6000 g Umidade ótima: 20,5 % Peso amos.seca: 5571 g Peso umid.ótima: 6713,1 g Peso úm+cáp (g): 89,91 90,73 Água teórica: 713,1 g Peso seco+cáp (g): 84,23 85,03 Porcent.Evapor.: 21 % Peso cápsula (g) : 10,79 11,46 Água evaporada: 149,8 g Umidade (%): 7,7 7,7 Total de água: 863 g Umidade média (%): Volume amostra: 2084 cm³ Peso úmido+cáp (g): 60,84 55,47 Molde+solo+água 8325 g Peso seco+cáp (g): 52,33 47,62 Peso do molde: 4325 g Peso da cápsula (g): 11,62 10,63 Peso (solo+água): 4000 g Umidade (%): 20,9 21,2 Densid. solo úmid 1919,4 kg/m³ Umidade média (%): Densid. solo seco: 1585 kg/m³ 1 Determinação do Coeficiente de Permeabilidade 1 2 3 03/09/98 04/09/98 04/09/98 12:53:00 08:34:00 16:10:00 04/09/98 04/09/98 05/09/98 08:34:00 16:10:00 14:00:00 4,753 4,753 4,753 11,48 11,48 11,48 181,46 181,46 181,46 78 77 76,8 77 76,8 75,9 1 0,2 0,9 16 18 17 70860 27360 78600 1,120 1,051 1,078 5,469E-08 2,855E-08 4,505E-08 6,126E-08 3,001E-08 4,856E-08Coeficiente de permeabilidade à 20 o.C (cm/s): Coeficiente de permeabilidade médio à 20 o.C (cm/s): 4,661E-08 Temperatura do ensaio (o.C): Tempo do ensaio (s) Coeficiente de correlação (nT/n20): Coeficiente de permeabilidade à temperatura ambiente (cm/s): Área do corpo de prova (cm²): Altura inicial da água (cm): Altura final da água (cm): Volume de água percolado (cm³): Dia/Mês (final): Hora/Minuto/Segundo (final): Área do tubo de carga (cm²): Altura do corpo de prova (cm): 21,1 Dia/Mês (inicial): Umidade higroscópica Hora/Minuto/Segundo (inicial): 7,7 Carga Constante - 2Carga Váriável -1 Escolha da Carga Qual é a opção (?): Ensaio de Compactação Umidade de moldagem Densidade Aparente Seca Moldagem Ensaio de Permeabilidade AM 01 Certificado Nº: 11/9/1998 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Notas de Aula - Mecânica dos Solos 90 Exemplo 2: A seguir apresenta-se o resultado de um ensaio de permeabilidade com carga variável, realizado em um solo silto-argiloso (permeabilidade baixa). Interessado: Amostra: Data: Permeâmetro: Dens. apar. seca máx: 1510 kg/m³ Peso umid.higros.: 5000 g Umidade ótima: 25,5 % Peso amos.seca: 4587,2 g Peso umid.ótima: 5756,9 g Peso úm+cáp (g): 66,06 65,85 Água teórica: 756,9 g Peso seco+cáp (g): 61,58 61,33 Porcent.Evapor.: 3 % Peso cápsula (g) : 11,86 10,75 Água evaporada: 22,7 g Umidade (%): 9 8,9 Total de água: 780 g Umidade média (%): Volume amostra: 2085 cm³ Peso úmido+cáp (g): 79,36 79,75 Molde+solo+água 8286 g Peso seco+cáp (g): 65,86 65,95 Peso do molde: 4342 g Peso da cápsula (g): 11,86 10,75 Peso (solo+água): 3944 g Umidade (%): 25 25 Densid. solo úmid 1891,6 kg/m³ Umidade média (%): Densid. solo seco: 1513,3 kg/m³ 1 Determinação do Coeficiente de Permeabilidade 1 2 3 12/04/03 12/04/03 12/04/03 08:53:00 11:16:00 14:33:00 12/04/03 12/04/03 12/04/03 11:16:00 14:33:00 14:57:00 4,753 4,753 4,753 11,49 11,49 11,49 181,46 181,46 181,46 75,8 74,8 73,8 74,8 73,8 73,2 1 1 0,6 24 26 26 8580 11820 1440 0,908 0,867 0,867 4,653E-07 3,423E-07 1,704E-06 4,225E-07 2,968E-07 1,478E-06 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA LABORATÓRIO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Ensaio de Permeabilidade AM 02 Certificado Nº: Ensaio de Compactação Umidade de moldagem Densidade Aparente Seca Moldagem 25 Dia/Mês (inicial): Umidade higroscópica Hora/Minuto/Segundo (inicial): 9 Carga Constante - 2Carga Váriável -1 Escolha da Carga Qual é a opção (?): Dia/Mês (final): Hora/Minuto/Segundo (final): Área do tubo de carga (cm²): Altura do corpo de prova (cm): Área do corpo de prova (cm²): Altura inicial da água (cm): Altura final da água (cm): Volume de água percolado (cm³): Coeficiente de permeabilidade à 20 o.C (cm/s): Coeficiente de permeabilidade médio à 20 o.C (cm/s): 7,323E-07 Temperatura do ensaio (o.C): Tempo do ensaio (s) Coeficiente de correlação (nT/n20): Coeficiente de permeabilidade à temperatura ambiente (cm/s): Notas de Aula - Mecânica dos Solos 91 6.8 Exercícios 1) Calcular o valor do coeficiente de permeabilidade de uma argila compactada, medido no aparato indicado abaixo, sabendo que A = 100 cm2, a = 1 cm2 e t = 6 horas e 30 minutos. Resp.: K = 1,76 x 10-6 cm/s 2) A quantidade de água que percola através da camada de areia abaixo esquematizada foi estimada em 12 m3/dia por metro linear; instalados piezômetros foram medidos as pressões indicadas. Calcular o coeficiente de permeabilidade dessa areia, em cm/s. Resp.: K = 17,36 cm/s Notas de Aula - Mecânica dos Solos 92 3) Calcular o valor do coeficiente de permeabilidade de uma areia, medido num sistema como o abaixo indicado, sabendo que: a) diâmetro da amostra: D = 6 cm; b) tempo decorrido: t = 135 s; c) volume: Q = 364 cm3; Resp.: K = 4,3 x 10-2 cm/s 4) A situação abaixo esquematiza um lago sem alimentação água. Verificar quanto tempo levará para que o lago seque, levando em conta somente a permeabilidade do solo, ou seja desprezando-se a perda por evaporação. Resp.: t = 231 dias Notas de Aula - Mecânica dos Solos 93 UNIDADE 7 – PRESSÕES E TENSÕES NO SOLO 7.1 Introdução Em grandeparte dos problemas de engenharia de solos, é necessário o conhecimento do estado de tensões em pontos do subsolo, antes e depois da construção de uma estrutura qualquer. As tensões na massa de solo são causadas por cargas externas ou pelo próprio peso do solo. As considerações acerca dos esforços introduzidos por um carregamento externo são bastante complexas e seu tratamento, normalmente se dá, a partir das hipóteses formuladas pela teoria da elasticidade. 7.2 Tensões geostáticas (tensões iniciais no terreno) Dado o perfil geotécnico da Figura 7.1, no qual o nível do terreno (N.T.) é horizontal, a natureza do solo não varia horizontalmente e não há carregamento externo (cargas aplicadas e distribuídas) próxima a região considerada, caracteriza uma situação de tensões geostáticas. Quando a superfície do terreno for horizontal, em um elemento de solo situado a uma profundidade “z” da superfície não existirá tensões cisalhantes em planos verticais e horizontais, portanto, estes são planos principais de tensões. Figura 7.1 - Perfil geotécnico Em uma situação de tensões geostáticas, portanto, a tensão normal vertical inicial (σvo) no ponto “A” pode ser obtida considerando o peso do solo acima do ponto “A” dividido pela área. ( ) z b zb A Wv ⋅=⋅⋅== γγσ 2 2 0 onde: W = γ . V (peso do prisma) V = b2 . z (volume do prisma) A = b2 (área do prisma) γ = peso específico natural do solo σh σv σh σ = tensão normal (perpendicular ao plano) τ = tensão cisalhante (no plano) N.T. Prisma A (elemento de solo)b b Z γ Solo seco S = 0 % Notas de Aula - Mecânica dos Solos 94 Se o solo acima do ponto “A” for estratificado, isto é, composto de “n” camadas, o valor de σv0 é dado pelo somatório de γi . zi, onde “i” varia de 1 a n. ∑ = ⋅= n i iziv 1 0 )()(γσ Quando o peso específico da camada não for constante e se conhecer a sua lei de variação com a profundidade, a tensão poderá ser calculada: dzzv z ⋅= ∫00 )(γσ 7.1.1 Água no solo O ingresso de água no solo, através de infiltração no terreno e a ocorrência de um perfil estratificado, com uma sucessão de camadas permeáveis e impermeáveis, permitem a formação de lençóis freáticos ou artesianos. Para entender estes fenômenos, pode-se imaginar que no local foram instalados três tubos, A, B e C (Figura 7.2 - Ortigão, 1993), o primeiro atravessando a camada inicial permeável, seguindo por uma camada de solo impermeável e atingindo a camada inferior, onde ocorre lençol confinado, artesiano ou sob pressão. Estes nomes se aplicam porque o nível de água (N.A.) do tubo A está acima do nível do terreno (N.T.). O tubo B encontra um lençol livre, situação que é verificada pelo operador no campo, pois a profundidade do nível d’água no tubo permanece estacionária. Já a perfuração feita para instalar o tubo C atinge inicialmente o lençol livre. Avançando-a, pode-se observar que a água subirá no tubo, indicando que se atingiu também o lençol artesiano inferior. A Figura 7.2 apresenta também um caso de lençol pendurado ou cativo, ou seja, preso sobre uma fina camada de material impermeável. Se uma perfuração for aí realizada, ocorrerá perda d’água repentina no furo assim que a perfuração atingir a camada permeável inferior. Considerando um maciço saturado com água em condições hidrostáticas (isto é, sem fluxo) a profundidade na qual a pressão na água é atmosférica é o chamado nível d’água natural (N.A.) ou lençol freático. Portanto, abaixo do nível d’água, a pressão na água, ou poro-pressão ou pressão neutra (u0) é positiva. Sendo definida pela expressão: u0 = γw . zw onde: u0 = pressão neutra ou poro-pressão γw = peso específico da água, tomado igual a 10 kN/m3 = 1g/cm3 zw = profundidade em relação ao nível da água. A água exerce pressão de igual valor, mesma direção e sentido contrário, portanto, a resultante é nula. A pressão na água se transmite de um ponto para outro do solo, através do contato entre o líquido contido nos vazios do solo. No perfil geotécnico da Figura 7.3, a tensão normal vertical inicial (σvo) no ponto “A” pode ser obtido considerando o peso do solo saturado acima do ponto “A”, dividido pela área. Portanto, temos: σv0 = γ sat . z Notas de Aula - Mecânica dos Solos 95 Figura 7.2 - Perfil de solo estratificado com diversos níveis de água. Figura 7.3 - Perfil geotécnico. Solo saturado 7.1.2 Tensão vertical total A tensão vertical total inicial no ponto “A”, do perfil de solo da Figura 7.4, é: σv0 = γ . z1 + γ sat . z2 e a poro-pressão ou pressão neutra no mesmo ponto é: u0 = γw . zw Figura 7.4 - Perfil de solo. N.T. Prisma A (elemento de solo)b b Z γsatSolo saturado S = 100% N.A. N.T. A Z1 γsat N.A. γ Z2 Zw Notas de Aula - Mecânica dos Solos 96 7.1.3 Princípio das tensões efetivas Em 1925, Karl Terzaghi definiu que o comportamento dos solos saturados quando à compressibilidade e à resistência ao cisalhamento depende fundamentalmente da pressão média intergranular denominado de tensão efetiva (tensão grão a grão), foi uma das maiores contribuições à engenharia e é considerado o marco fundamental do estabelecimento da Mecânica dos Solos com bases científicas independentes. A comprovação desse princípio foi feita por Terzaghi de maneira muito simples, utilizando um tanque com solo saturado e água. Aumentando o nível da água no tanque, a pressão total (σv0) também aumenta no solo. Entretanto, não se observa qualquer diminuição de volume no solo, o que vem comprovar que seu comportamento é totalmente independente das tensões totais. Nos solos saturados (S = 100%) parte das tensões normais é suportada pelo esqueleto sólido (grãos) e parte pela fase líquida (água), portanto, tem-se que: σ = σ’ + u onde: σ = tensão total σ’ = tensão efetiva u = pressão neutra Exemplo 1: Calcule as tensões total, neutra e efetiva para os pontos assinalados (tensões verticais). Faça um gráfico da variação da tensão por profundidade. 47,0 135,2 177,7 42,0 67,0 47,0 93,2 110,7 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 TENSÕES - (kN/m2) PR O FU N D ID A D E - (m ) Tensão total Pressão neutra Tensão efetiva Profundidade Tensão total (kN/m2) Pressão neutra (kN/m2) Tensão efetiva (kN/m2) Pontos (m) σv0 = γ . z1 + γ sat . z2 u0 = γw . zw σ‘v0 = σv0 – u0 A 0 0 0 0 B 2,8 16,8 . 2,8 = 47,0 0 47 - 0 = 47,0 C 7,0 47 + 21 . 4,2 = 135,2 4,2 . 10 = 42,0 135 - 42 = 93,2 D 9,5 135 + 17 . 2,5 = 177,7 42 + 10 . 2,5 = 67,0 177,5 - 67,5 = 110,7 N.T. A 0,0 m γ = 16,8 kN/m3 N.A. - 2,8 m - 7,0 m - 9,5 m B C D γ = 21,0 kN/m3 γ = 17,0 kN/m3 argila areia silte Notas de Aula - Mecânica dos Solos 97 7.1.4 Solos submersos Em solos submersos (portanto saturados) define-se o peso específico submerso (γsub ou γ‘) que permite calcular a tensão vertical efetiva (σ‘v0), em qualquer plano do solo submerso (Figura 7.5). A tensão total (σv0) é: σv0 = γw . z1 + γsat . z u0 = γw . zw = γw (z1 + z) Desta forma a tensão efetiva será: σ‘v0 = σv0 - u0 σ‘v0 = γw . z1 + γsat . z - γw (z1 + z) σ‘v0 = γw . z1 + γsat . z - γw . z1 - γw . z σ‘v0 = γsat . z - γw . z = (γsat - γw) . z como, γsub = γsat - γw, temos: σ‘v0 = γsub . z Esta equação é independente de zw, portanto a pressão efetiva não varia com a espessura da lâmina de água. Figura 7.5 - Perfil de solo submerso7.1.5 Solos não saturados (solos parcialmente saturados) Para solos com 0 < S (grau de saturação) < 100 e que terá em seus vazios, dois fluídos, geralmente ar e água, está situação difere da anterior, em face das seguintes alterações: - não há uma continuidade da coluna d’água - a pressão neutra total é a soma da pressão na fase gasosa mais a pressão na fase líquida e a equação σ‘ = σ - u poderá ser colocada na forma proposta por Bishop (1959). σ‘ = σ - uar + χ (uar - uw) onde: uar = pressão na fase gasosa uw = pressão na fase líquida χ = coeficiente que varia de 0 (solos secos) a 1 (solos saturados). O valor de χ, além de ser muito influenciado pelo grau de saturação do solo, sofre influência também da estrutura, do ciclo de inundação-secamento e de alterações havidas no estado de tensões. N.T. A Z1 γsat N.A. γw (lâmina de água) Z Zw Notas de Aula - Mecânica dos Solos 98 7.1.6 Pressões efetivas em condições hidrodinâmicas As tensões efetivas verticais em condições hidrodinâmicas são calculadas pela equação: σ‘ = σ - u Nesta equação o valor da poro-pressão (u) é estimado ou medido (in situ) através de piezômetros. Um desses instrumentos, conhecido como o piezômetro Casagrande ou tubo aberto está esquematizado na Figura 7.6. O equipamento consta de uma ponta porosa (vela de filtro ou tubo perfurado, revestido com manta ou geossintético permeável), que é instalado no terreno através de uma perfuração, ao redor da qual executa-se um bulbo de areia. Este dispositivo permite que a água flua para o interior do tubo. A ponta porosa se comunica com a superfície por um tubo plástico, através do qual o nível d’água é medido. A diferença de cota entre o nível d’água medido e a ponta porosa corresponde à pressão neutra, em metros de coluna d’água. Figura 7.6 - Piezômetro de Casagrande (Lambe & Whitman, 1969) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 99 Exemplo 2: O perfil geotécnico abaixo apresenta um terreno onde os piezômetros de Casagrande instalados indicam artesianismo do lençol inferior. Calcular as tensões totais e efetivas iniciais e a pressão neutra nos pontos assinalados. 20 71 106106 142 50 115 0 21 31 27 95 75 11 0 20 40 60 80 100 120 140 160 TENSÕES - (kN/m2) PR O FU N D ID A D E - (m ) Tensão total Pressão neutra Tensão efetiva Profundidade Tensão total (kN/m2) Pressão neutra (kN/m2) Tensão efetiva (kN/m2) Pontos (m) σv0 = γw . z1 + γsat . z u0 = γw . zw σ‘v0 = σv0 – u0 A 2,0 10 . 2 = 20 10 . 2 = 20 20 - 20 = 0 B 5,0 20 + 17 . 3 = 71 10 . 5 = 50 71 - 50 = 21 10 . (5,5 + 2) = 75 (Argila) 106 - 75 = 31 C 7,5 71 + 14 . 2,5 = 106 10 . (5,5 + 4) = 95 (Areia) 106 – 95 = 11 D 9,5 106 + 18 . 2 = 142 10 . (7,5 + 4) = 115 142 - 115 = 27 7.1.7 Tensões horizontais Até agora foram vistas as tensões verticais iniciais, totais e efetivas, entretanto não é suficiente para se conhecer o estado de tensão inicial, pois considerando uma situação bidimensional, é necessário determinar as tensões que atuam em dois planos ortogonais. Devido ao peso próprio ocorrem também tensões horizontais, que são uma parcela da tensão vertical atuante: v hk ' ' σ σ= onde o coeficiente “k” é denominado de coeficiente de tensão lateral, que é função do tipo de solo, da história de tensões, etc. N.T. 0,0 m γ = 10,0 kN/m3 N.A. - 2,0 m - 5,0 m - 7,5 m A B C γ = 17,0 kN/m3 γ = 14,0 kN/m3 areia água argila - 11,5 m D γ = 18,0 kN/m3areia 2,0 m - 9,5 m Notas de Aula - Mecânica dos Solos 100 Existe uma situação em que a tensão horizontal efetiva e a tensão vertical efetiva se relacionam de maneira simples: quando não há deformação lateral do depósito (por exemplo, extensos depósitos sedimentares). Neste caso define-se o coeficiente de tensão lateral no repouso (ko), que é a relação entre tensões efetivas iniciais: 0 0 0 ' ' v h k σ σ= O valor de “K0” pode ser obtido através de ensaios de laboratório em que simulam condições iniciais, ou seja, sem deformações laterais. In situ, pode-se determinar o valor de “K0” introduzindo no terreno uma célula-espada (Figura 7.7), ou seja, um medidor de pressão semelhante a uma almofada, porém de pequena espessura, que é cravado verticalmente no terreno, como uma espada, e após a estabilização permite deduzir a tensão lateral total (σh0). Conhecendo o valor da pressão neutra inicial (u0) e da tensão efetiva vertical (σ‘v0) obtém-se o valor de “K0” pela equação anterior. Valores típicos de “K0”, em função do tipo de solo: - areia fofa 0,55 - areia densa 0,40 - argila de baixa plasticidade 0,50 - argila de alta plasticidade 0,65 Há algumas relações empíricas para a determinação de “K0”, como as apresentadas na Tabela abaixo: Tabela 7.1 – Relações empíricas para determinação de “K0” Relações Tipo de solo Autor / Ano K0 = 1 - sen φ solos granulares Jaky, 1944 K0 = 0,95 - sen φ argilas normalmente adensadas Brooker e Ireland, 1965 K0 = (1 - sen φ) . OCR argilas pré-adensadas Meyerhof, 1976 K0 = (1 - sen φ) . OCRsenφ argilas pré-adensadas Mayne e Kulhawy, 1981 Onde: φ = ângulo de atrito interno do solo (Unidade 9) OCR = razão de pré-adensamento (Unidade 8) 0V VmOCR σ σ ′ ′= , (σ‘vm = tensão de pré-adensamento e σ‘v0 = tensão efetiva atual) Figura 7.7 - Célula espada para a determinação da tensão horizontal total. PETRONIO Highlight Notas de Aula - Mecânica dos Solos 101 Exemplo 3: Calcular tensão efetiva vertical inicial e a tensão efetiva horizontal inicial nos pontos A, B, C e D no perfil geotécnico da figura abaixo e traçar o diagrama de variação das tensões com a profundidade. 34,034,0 61,061,0 81,081,0 131,078,6 64,8 48,8 48,6 30,5 17,0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 TENSÕES - (kPa) PR O FU N D ID A D E - (m ) Tensão efetiva vertical Tensão efetiva horizontal Tensão efetiva vertical (kPa) Tensão efetiva horizontal (kPa) Pontos σ‘vo = γsub . z = (γsat - γw) . z σ’h0 = k0 . σ’v0 A 17 . 2 = 34,0 34 . 0,5 = 17,0 61 . 0,5 = 30,5 B 34 + (19 - 10) . 3 = 61,0 61 . 0,8 = 48,8 81 . 0,8 = 64,8 C 61 + (15 - 10) . 4 = 81,0 81 . 0,6 = 48,6 D 81 + (20 - 10) . 5 = 131,0 131 . 0,6 = 78,6 7.1.8 Superfície de terreno inclinado Superfícies inclinadas geram tensões tangenciais (τ) nas faces horizontal e vertical de um elemento de solo (Figura 7.8). Figura 7.8 – Superfície do terreno inclinado N.T. A 0 m γ = 17 e K0 = 0,5 N.A. - 2 m - 5 m - 14 m B C D argila areia areia - 9 m γ = 19 e K0 = 0,5 γ = 15 e K0 = 0,8 γ = 20 e K0 = 0,6 N.T. γ W b0 B z N T i i γ = peso específico natural i = inclinação do terreno Notas de Aula - Mecânica dos Solos 102 Onde: W = peso do solo W = γ . B . z N = W . cos i (tensão normal) B = b0 . cos i W = γ . bo . cos i . z T = W . sen i (tensão tangencial) Tensão total vertical inicial (plano paralelo a superfície) σv0 = W / A = W / (b0 . 1 m) = γ . b0 . cos i . z / (b0 . 1 m) Ö σv0 = γ . z . cos i Tensão total normal σn0 = N / A = W. cos i / (b0 . 1 m) = γ . b0 . cos i . z . cos i / (b0 . 1 m) Ö σn0 = γ . z . cos2 i Tensão cisalhante τ = T/A = W. sen i / (b0 . 1 m) = γ . b0 . cos i . z . sen i / (b0 . 1 m) Ö τ = γ . z . sen i . cos i 7.1.9 Capilaridade É um processo de movimentação d’água contrária à ação gravitacional (ascensão capilar).A água se eleva por entre os interstícios de pequenas dimensões deixados pelas partículas sólidas (vazios ou poros), acima do nível d’água. O nível d’água ou freático é a superfície em que atua a pressão atmosférica e, na Mecânica dos Solos, é tomada como origem do referencial, para as poro- pressões, e no nível freático a poro-pressão é igual a zero. Os fenômenos de capilaridade estão associados diretamente à tensão superficial, sendo a que atua em toda a superfície de um líquido, como decorrência da ação da energia superficial livre. O perfil geotécnico da Figura 7.9, mostra-nos a distribuição típica da umidade do solo e da poro-pressão (u0). Figura 7.9 - Distribuição do teor de umidade e poro-pressão em um perfil de solo. N.T. zw N.A. água de contato saturação capilar parcial saturação capilar S = 100% N capilar N de saturação S < 100% altura de ascenção capilar u0 = γw . zw - u0 ( - ) ( + ) Poro-Pressão γSAT γSUB franja capilar S = 100% Notas de Aula - Mecânica dos Solos 103 Na Figura 7.9, tem-se o diagrama de poro-pressões, verifica-se que graças à ascensão capilar a poro-pressão acima do nível d’água é negativa (u < 0). O solo apresenta às vezes seus poros interligados e formando canalículos, que funcionam como tubos capilares. Assim pode-se explicar, dentro da massa, a ocorrência de zonas saturadas de solos, que estão situadas acima do nível d’água. Para melhor compreensão do fenômeno da capilaridade é possível partir da idéia de que poros, entre os grãos dos solos, formam canalículos capilares verticais. Um modelo físico disso é emergir a ponta de um tubo capilar em água (Figura 7.10). A água subirá até uma “altura de ascensão capilar”, tanto maior esta altura quanto menor o diâmetro do tubo, tal que a componente vertical da força capilar (Fc = 2.π.r.Ts) seja igual ao peso da coluna d’água suspensa. Figura 7.10 - Modelo físico do fenômeno da capilaridade. Onde: Ts = tensão superficial da água (0,0764 g/cm) α = ângulo de contato que dependem do fluído e do sólido de contato. Portanto, para que ocorra o equilíbrio, temos que: 2π r Ts cos α = π r2 γw hc cos2 hc wr Ts γ α ⋅ ⋅= ou cos4 hc wd Ts γ α ⋅ ⋅= verifica-se que a altura de ascensão capilar é inversamente proporcional ao diâmetro. Nos solos como estimativa da ascensão capilar máxima (α = 0°) 306,0 hc d = , com “d” em cm. Onde “d” é o diâmetro dos poros. Portanto nos solos arenosos e pedregulhosos onde os poros são maiores, a altura de ascensão capilar na prática está entre 30cm e 1m. Já nos solos siltosos e argilosos, onde os poros são menores, a altura de ascensão capilar chega a dezenas de metros. A água em contato com o solo também tenderá a formar meniscos. Nos pontos de contato dos meniscos com os grãos (Figura 7.11) evidentemente agirão pressões de contato, tendendo a comprimir os grãos. Estas pressões de contato (pressões neutras negativas) somam-se as tensões totais: σ‘ = σ - (-u) = σ + u α TUBO CAPILAR φ = d MENISCO Patm h0 N.A. Ts . cos α Ts Ts u = γw . hc P0 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 104 fazendo com que a tensão efetiva realmente atuante seja maior que a total. Esse acréscimo de tensão proporciona um acréscimo de resistência conhecido como coesão aparente (ver Unidade 9), responsável, por exemplo, pela estabilidade de taludes em areia úmida. Uma vez eliminada a ação das forças capilares (saturação do solo) desaparece este ganho de resistência (coesão aparente tende a zero). Figura 7.11 - Pressões de contato em uma amostra de solo. Exemplo 4: Dado o perfil geotécnico abaixo, admitindo que na zona da franja capilar o solo esteja completamente saturado, qual o valor da pressão neutra e efetiva nos pontos A e B. 20 -5 71 41 -15 -5 5 15 25 35 45 55 65 75 TENSÕES - (kPa) PR O FU N D ID A D E - (m ) Pressão neutra Tensão efetiva Tensão total (kN/m2) Pressão neutra (kN/m2) Tensão efetiva (kN/m2) Pontos σv0 = γ . z1 + γsat . z u0 = γw . zw σ’v0 = σ’v0 - u0 A 18 . 2 = 36 10 . (- 0,5) = - 5 36 - (-5) = 41 B 36 + 22 . 2,5 = 91 10 . 2 = 20 91 - 20 = 71 7.2 Propagação de tensões no solo devido a carregamentos externos São as tensões decorrentes das cargas estruturais aplicadas (tensões induzidas), resultantes de fundações, aterros, pavimentos, escavações, etc. A lei de variação das modificações de tensões, em função da posição dos elementos do terreno, chama-se distribuição de pressões. Existem várias teorias sobre a distribuição de pressões, mas vamos estudar a teoria simples ou antiga e a teoria da elasticidade. MENISCOS GRÃOS DE SOLO N.T. N.A. areia fina franja capilar A - 2,0 m - 2,5 m - 4,5 m γ = 18 kN/m2 γ = 22 kN/m2 A B Notas de Aula - Mecânica dos Solos 105 A distribuição de tensões comporta duas análises: 1ª) as tensões induzidas no interior do maciço; 2ª) as tensões de contato. 7.2.1 Tensões induzidas no interior do maciço São usualmente calculadas pela teoria da elasticidade. 7.2.2 Efeito de sobrecarga Quando se aplica uma sobrecarga ao terreno (no caso da Figura 7.12, a sobrecarga vertical Q foi aplicada à superfície), o elemento A (x, z) tem seu estado de tensões original modificado, ou seja: Figura 7.12 - Efeito de uma sobrecarga em um perfil de solo. a) tensão vertical - inicial (efeito do peso próprio) ...........................................σv0 - final (após aplicação da sobrecarga) ..................................σv0 + ∆σv b) tensão horizontal - inicial ..................................................................................σh0 - final ....................................................................................σh0 + ∆σh c) tensão cisalhante - inicial ..................................................................................zero - final ....................................................................................τ x Q ∆σh+σh0 σh0+∆σh ∆σv + σv0 τ τ ∆σv + σv0 z N.T. ∆σv0 = σz ∆σh0 = σx Notas de Aula - Mecânica dos Solos 106 7.2.3 Teoria de distribuição de pressões no solo por efeito de sobrecarga Quando se aplica uma sobrecarga ao terreno, ela produz modificações nas tensões até então existentes. Teoricamente, tais modificações (acarretando aumento ou diminuição das tensões existentes) ocorrem em todos os pontos do maciço solicitado. Dependendo da posição do ponto (elemento do terreno) em relação ao ponto ou lugar de aplicação da sobrecarga, as modificações serão de acréscimo ou decréscimo, maiores ou menores. 7.2.4 Hipótese simples ou antiga A distribuição de pressões ou tensões pela hipótese simples ou antiga admite-se que a carga “Q” aplicada à superfície se distribui, em profundidade segundo um ângulo (ϕ0), chamado ângulo de espraiamento ou de propagação. A Figura 7.13 apresenta a distribuição de tensões no interior do maciço segundo a hipótese simples. A propagação das pressões restringe-se à zona delimitada pelas linhas de espraiamento MN. Figura 7.13 - Distribuição de pressões pela hipótese simples. Kogler e Scheidig (1948) sugerem valores para o ângulo de espraiamento segundo a tabela abaixo: Tipo de solo ϕ 0 Solos muito moles < 40° Areias puras (coesão nula) 40° a 45° Argilas de coesão elevada (rijas e duras) 70° Rochas > 70° Para fins práticos,a propagação de pressões, devido à sobrecarga, restringe à zona delimitada pelas linhas de espraiamento. A hipótese simples contraria todas as observações experimentais (feitas através de medições no interior do subsolo), pelas quais se verificou que a pressão distribuída em profundidade não é uniforme, mas sim variável, em forma de sino. A propagação das pressões restringe-se à zona delimitada pelas linhas de espraiamento MN. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 107 A faixa de validade para esta teoria restringe-se a: a) sobrecargas provenientes de fundações muito rígidas e/ou estruturas rígidas (chaminés, torres, obeliscos, blocos de máquinas) com tendência de recalques uniformes, as pressões tendem à uniformidade; b) profundidades muito grandes - achatamento do diagrama de pressões; c) valor de ϕ0 a adotar - quanto mais resistente for o solo, tanto maior será o valor de ϕ0. 7.2.5 Teoria da elasticidade A teoria matemática da elasticidade fundamenta-se nos estudos, entre outros, de Cauchy, Navier, Lamé e Poisson, tendo suas equações fundamentais sido estabelecidas na década de 1820. O estudo sobre a possível distribuição das tensões no solo, resultado da aplicação da teoria de Boussinesq, baseia-se na teoria da elasticidade. A teoria de elasticidade linear é baseada no comportamento elástico dos materiais, ou seja, na proporcionalidade entre as tensões (σ) e deformações (ε), segundo a lei de Hooke. A razão σ / ε = E denomina-se módulo de elasticidade ou módulo de Young. A correspondente expansão lateral do material terá valor ε = - µ . σ / E, onde “µ” é o coeficiente de Poisson (para solos e rochas varia entre 0,2 e 0,4). Em resumo a teoria da elasticidade admite: a) material seja homogêneo (propriedades constantes na massa do solo); b) material seja isotrópico (em qualquer ponto as propriedades são as mesmas independente da direção considerada); c) material seja linear-elástico (tensão e deformação são proporcionais) Existem soluções para uma grande variedade de carregamentos. 7.2.5.1 Carga concentrada - Solução de Boussinesq O estudo do efeito de cargas sobre o terreno foi estudado inicialmente por Boussinesq (1885), através da teoria da elasticidade. Estudou o efeito da aplicação de uma carga concentrada sobre à superfície de um semi-espaço infinito. (Figura 7.14) Expressões: 3 52 3' z R Pv ⋅⋅⋅ ⋅=∆ πσ ( ) ( )⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ +⋅ −−⋅⋅=∆ zRRR zrPh µπσ 213 2 ' 5 2 2 52 3 zr R P ⋅⋅⋅⋅ ⋅=∆ πτ onde: z r 22 +=R µ = coeficiente de Poisson Figura 7.14 - Carga concentrada. x = r P = Q ∆σ’h ∆σ’v τ R z N.T. z x ∆σ’v = σz ∆σ’h = σx A Notas de Aula - Mecânica dos Solos 108 Exemplo 5: Foi aplicado no perfil abaixo uma sobrecarga de 1500 kN na superfície do terreno. Determine as tensões iniciais, os acréscimos de tensões devido à sobrecarga e as tensões finais no ponto A. Tensões iniciais: σ‘v0 = γ . z = 19 . 3 = 57,0 kPa σ‘h0 = k0 . σ‘v0 = 0,5 . 57 = 28,5 kPa τ0 = 0 Acréscimo de tensão devido à sobrecarga 3 5 324,42 15003' ⋅⋅⋅ ⋅=∆ πσ v = 14,1 kPa ( ) ( )⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ + −−⋅⋅=∆ 324,4.24,4 5,0.21 24,4 333 2 1500' 5 2 πσ h = 14,1 kPa 2 5 3324,42 15003 ⋅⋅⋅⋅ ⋅=∆ πτ = 14,1 kPa Tensões finais σ‘vf = σ‘v0 + ∆σ‘v = 57 + 14,1 = 71,1 kPa σ‘hf = σ‘h0 + ∆σ‘h = 28,5 + 14,1 = 42,6 kPa τf = τ0 + ∆τ = 0 + 14,1 = 14,1 kPa É importante observar que os solos, de modo geral, afastam-se das condições ideais de validade da teoria de Boussinesq. Não são materiais elásticos, nem homogêneos, nem isotrópicos. Entretanto, as diferenças entre os solos reais e o material ideal de Boussinesq não são de molde a impedir a aplicação da teoria da elasticidade aos solos, desde que observados certos requisitos. Requisitos para aplicabilidade da solução de Boussinesq (BARATA, 1993): a) Deve-se haver compatibilidade nas deformações do solo. Portanto, as cargas aplicadas e distribuídas não se aproximem da máxima resistência ao cisalhamento do solo. Fator de segurança, no mínimo igual a 3, para haver proporcionalidade entre as tensões e deformações; b) A resistência do solo deve ser constante, ao longo da profundidade (E = módulo de elasticidade). Nas argilas (solos coesivos) esse aspecto é mais viável. Nas areias (solos incoerentes), menos viável; c) Solos muito heterogêneos (com presença de camadas de origem, constituição e resistência muito diferentes) em contatos afastam-se muito do material de Boussinesq. Usar a solução de Westergaard, item 7.2.6; d) Somente cargas na superfície. Cargas abaixo da superfície - teoria de Mindlin; r = 3 m P = 1500 kN R N.T. z γ = 19 kN/m3 µ = 0,5 K0 = 0,5 R = 4,24 m 3 m A Notas de Aula - Mecânica dos Solos 109 e) Teoria admite que o material solicitado tenha resistência à tração e ao cisalhamento (ϕo = 90o) Nos solos argilosos o erro é menor; f) A solução de Boussinesq é para carga concentrada, que na prática não ocorre nas fundações reais. A teoria só se aplica sem erros grosseiros, quando: - Carga sobre área circular, z > 3 d (d = diâmetro); - Carga sobre área retangular, z > 2,5 lado menor; 7.2.5.2 Carga linear - Solução de Melan A partir das expressões de Boussinesq para carga concentrada, usando o princípio da superposição (o efeito do conjunto considerado como a soma dos efeitos de cada um dos componentes) e por meio de integração matemática, foi possível que vários pesquisadores chegassem a expressões para o cálculo da distribuição causada por cargas lineares e áreas carregadas. As seguintes expressões foram propostas por Melan (Figura 7.15) ( )222 3 2' xz zqv + ⋅⋅=∆σ ( )222 2 2' xz zxqh + ⋅⋅⋅=∆σ ( )222 2 2 xz xzq xy + ⋅⋅⋅=τ Figura 7.15 - Solução de Melan. 7.2.5.3 Área carregada - Carga uniforme sobre uma placa retangular de comprimento infinito Em placas retangulares em que uma das dimensões é muito maior que a outra, os esforços induzidos na massa de solo podem ser determinados através das expressões propostas por Carothers e Terzaghi, conforme o esquema da Figura 7.16. ∆σ‘v = P (α + sen α . cos (α + 2δ))/π ∆σ‘h = P (α - sen α . cos (α + 2δ))/π ∆τ = P (sen α . sen (α + 2δ))/π P = carga distribuída por unidade de área Figura 7.16 - Solução de Carothers q z ∆σ‘v A x ∆σ‘h τ • δ α P = ∆qs x z A (x, z) B = 2b ∆σ‘h ∆σ‘v Notas de Aula - Mecânica dos Solos 110 O bulbo de pressões correspondentes a esse tipo de carregamento é apresentado na Figura 7.17, onde: b = semi-largura z = profundidade vertical x = distância horizontal do centro ∆qs = P = carregamento ∆σ1 = ∆σ‘v = tensão vertical efetiva ∆σ3 = ∆σ‘h = tensão horizontal efetiva Para determinar as tensões induzidas obtém-se do ábaco o fator de influência (I). Valor este que multiplicado pelo carregamento na superfície, nos dará o acréscimo de tensão no ponto desejado, conforme as expressões: ∆σ‘v = P . I1 e ∆σ‘h = P . I3 Figura 7.17 - Carregamento uniformemente distribuído sob uma área retangular de comprimento infinito. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 111 Exemplo 6: Determine os acréscimos de tensão vertical e horizontal nos pontos assinalados da figura abaixo Pontos x/b z/b I1 ∆σ‘v I3 ∆σ‘h A 0 1 0,82 164 0,18 36 B 1 1 0,64 128 0,08 16 C 2 1 0,28 56 D 0 2 0,55 110 E 1 2 0,47 94 F 2 2 0,33 66 G 0 3 0,39 78 H 1 3 0,37 74 I 2 3 0,28 56 7.2.5.4 Área carregada - Carregamentouniformemente distribuído sobre uma placa retangular Para o caso de uma área retangular de lados a e b uniformemente carregada, as tensões em um ponto situado a uma profundidade z, na mesma vertical do vértice. Na Figura 7.18 são dados, segundo Holl (1940), as expressões para a determinação das tensões induzidas. ( )⎥⎦⎤⎢⎣⎡ +⋅⋅⋅+⋅⋅=∆ −− 2221332' RRR zbaRz baarctgPv πσ ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ ⋅ ⋅⋅+⋅ ⋅=∆ 3 2 232 ' RR zba Rz baarctgPh πσ ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ ⋅ ⋅−=∆ 3 2 2 2 12 RR az R aP πτ Figura 7.18 - Placa retangular. Pode-se utilizar o ábaco da Figura 7.19, a fim de determinar o acréscimo de tensão vertical (∆σ‘v = σz) no vértice de uma placa retangular carregada uniformemente. Onde: m = b/z n = a/z temos, σz = ∆σ‘v = P . I ∆qs = P = 200kPa x A B C D E F G H I 1 m 1 m 1 m 1 m 1 m 1 m P z ∆σ‘v = σz A x ∆σ‘h = σx b a 222 3 22 2 22 1 zbaR zbR zaR ++= += += Notas de Aula - Mecânica dos Solos 112 m = 0,1 m = 0,2 m = 0,3 m = 0,4 m = 0,5 m = 0,6 m = 0,7 m = 0,8 m = 0,9 m = 1,0 m = 1,2 m = 1,4 m = 1,6 m = 1,8 m = 2,0 m = 2,5m = 3,0 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0,10 0,11 0,12 0,13 0,14 0,15 0,16 0,17 0,18 0,19 0,20 0,21 0,22 0,23 0,24 0,25 0,1 1,0 10,0 n C oe fic ie nt e de in flu ên ci a - I P σ‘v = σzb a z A σ‘h = x m=b/z n = a/z σz = P.I Figura 7.19 - Carregamento uniformemente distribuído sob uma área retangular. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 113 Exemplo 7: Calcular o acréscimo de carga, na vertical do ponto A, a profundidade de 5,0 m. A placa superficial tem 4,0 m x 10,0 m, e esta submetida a uma pressão uniforme de 340 kPa. a = 10m z = 5 m b = 4m ábaco: m = 4/5 = 0,8 I = 0,181 n = 10/5 = 2 ∆σ‘v = P x I = 340 x 0,181 = 61,5 kPa Utilizando a expressão para o acréscimo de tensão vertical, temos: R1 = (102 +52 )0,5 = 11,18 R2 = (42 + 52 )0,5 = 6,40 R3 = (102 + 42 +52)0,5 = 11,87 ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ +⋅⋅⋅+⋅ ⋅=∆ −− )4,618,11( 87,11 5410 87,115 410 2 340' 22arctgv πσ = [ ]546,0674,02 340 +arctgπ [ ]radradv 546,0593,0 2 340' +=∆ πσ = kPav 5,61340181,0' =×=∆σ 7.2.5.5 Área carregada - Carregamento uniformemente distribuído sobre uma área circular (tanques e depósitos cilíndricos, fundações de chaminés e torres) As tensões induzidas por uma placa uniformemente carregada, na vertical que passa pelo centro da placa, podem ser calculadas por meio da integração da equação de Boussinesq, para toda área circular. Esta integração foi realizada por Love, e na Figura 7.19 têm-se as características geométricas da área carregada. O acréscimo de tensão efetiva vertical induzida no ponto A, situado a uma profundidade z é dada pela expressão: ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ + −⋅==∆ 2/3 2 1 11' z R Pzv σσ Onde: R = raio da área carregada z = distância vertical x = distância horizontal a partir do centro da área carregada P = ∆qs = carregamento Figura 7.20 - Área circular. z ∆σ‘v = σz A x ∆σ‘h = σx 10 m 4 m 340 KPa P =∆qs x z ∆σ’v R z A Notas de Aula - Mecânica dos Solos 114 Para pontos situados fora da vertical que passa pelo centro da placa, o acréscimo de tensão efetiva vertical poderá ser calculado pelo ábaco da Figura 7.21, que fornece isóbaras de ∆σ‘v/P, em função do afastamento e da profundidade relativa x/R e z/R, respectivamente. Figura 7.21 - Carregamento uniformemente distribuído sob uma área circular. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 115 Exemplo 8: Calcular o acréscimo de tensão vertical nos pontos A e B transmitido ao terreno por um tanque circular de 6,0 m de diâmetro, cuja pressão transmitido ao nível do terreno é igual a 240 kPa. Utilizando o ábaco, temos: Ponto X/R Z/R I ∆σ‘v (kPa) A 0 1 0,64 153,5 B 1 1 0,33 79,2 A tensão final no ponto A será: σ‘vfA = 16,5 . 3 + 153,5 = 203,0 kPa 7.2.5.6 Área carregada - Carregamento Triangular Possui grande aplicação na estimativa de tensões induzidas no interior de massa de solo por aterros, barragens, etc. Existem soluções para diversos tipos de carregamento (triângulos retângulos, escaleno, trapézios, etc.). Gráfico de Osterberg - determina a tensão vertical (∆σ‘v) devido a uma carga em forma de trapézio de comprimento infinito (Figura 7.22). 1' Iv ⋅∆=∆ σσ a / z I1 → Coeficiente de Influência b / z Gráfico de Carothers - determina a tensão vertical e horizontal (∆σ1 = ∆σ‘v, ∆σ3 = ∆σ‘h) devido a uma carga em forma de triângulo isósceles de comprimento infinito. (Figura 7.23). x / a v'1 σσ ∆=∆ z / a h'3 σσ ∆=∆ P =∆qs x z ∆σ’v b z a P =∆qs x z ∆σ’v a z a P = 240 x z ∆σ’vfA R = 3 m 3 m ∆σ’vfB A B γ = 16,5 kPa Notas de Aula - Mecânica dos Solos 116 Gráfico de Fadum - determina a tensão vertical (∆σ‘v) sob um carregamento trinagular de comprimento finito. (Figura 7.24) m = b1 / z Iz → Coeficiente de Influência n = a1 / z Figura 7.22 - Carregamento trapezoidal de comprimento infinito - Gráfico de Osterberg. x ∆σ’v a1 z ∆σ b1 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 117 Figura 7.23 - Carregamento triangular de comprimento infinito - Gráfico de Carothers. Figura 7.24 - Carregamento triangular de comprimento finito - Gráfico de Fadun Notas de Aula - Mecânica dos Solos 118 7.2.5.7 Área carregada - Carregamento uniformemente distribuído sobre uma superfície de forma irregular. (gráfico circular de Newmark) O gráfico circular de Newmark é baseado na equação de Love ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ + −⋅==∆ 2/3 2 1 11' z R Pzv σσ ⇒ IPz ⋅=σ ⇒ P zI σ= A Figura 7.25 apresenta a construção gráfica de Newmark que atribui valores para I e calcula- se o raio da placa necessário para produzir o acréscimo de pressões à profundidade z. I = σz/P R/z 0,0 0,000 0,1 0,270 0,2 0,400 0,3 0,518 0,4 0,637 0,5 0,766 0,6 0,918 0,7 1,110 0,8 1,387 0,9 1,908 1,0 ∞ Figura 7.25 - Ábaco circular de Newmark. - Dividindo cada círculo em 20 partes iguais, têm-se: σz = 0,1 P z = 0,1 . P / 20 = 0,005 P - Desenha-se a planta da superfície carregada na escala do gráfico (AB = z) - O ponto onde se quer determinar o acréscimo de pressão deve coincidir com o centro do gráfico. O acréscimo de tensão vertical na profundidade z será: INPzv ⋅⋅==∆ σσ ' onde: P = carregamento externo N = número de fatores de influência (quadradinhos) I = unidade de influência R = 0,400 z R = 0,270 z INFLUÊNCIA = 0,005p Notas de Aula - Mecânica dos Solos 119 Exemplo 9: Com os dados da figura abaixo calcule, pelo gráfico de Newmark, a pressão vertical a 3 m de profundidade, abaixo do ponto M, para a placa (a) e a 2 m de profundidade para a placa (b). =∆ Av'σ 3 . 30 . 0,005 = 0,45 kg/cm2 = 45 kN/m2=∆ Bv'σ 1 . 83 . 0,005 = 0,42 kg/cm2 = 42 kN/m2 7.2.6 Solução de Westergaard Alguns terrenos, devido a condições especiais de sua origem (por exemplo, o caso de certas argilas sedimentares), apresentam dispersas, em sua massa, intrusões ou lentes de material diverso, de granulometria mais grossa (siltes, areias, pedregulhos etc.) que acarretam aumento de resistência a deformações laterais. Soluções desse tipo tornam inaplicáveis as expressões de Boussinesq em seu aspecto original, pois esses terrenos se afastam ponderavelmente das hipóteses que servem de base ao desenvolvimento teórico. Westergaard (1938) resolveu este problema específico, aplicando a teoria da elasticidade, mas imaginando que o solo estudado se constituísse de numerosas N ≅ 30 p = 3 kg/cm3 300 300 M (a) 15 0 30 0 z = 3 m Escala 1:50 Valor da unidade de influência = 0,005 A B AB = z = 3m 300 30 0 200 100 M p = 1 kg/cm3 (b) z = 2 m 20 0 10 0 Escala 1:100 Valor da unidade de influência = 0,005 A B AB = z = 2m N ≅ 83 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 120 membranas horizontais, finas, muito juntas uma das outras e de grande resistência a deformações horizontais, sem inferir, todavia, na deformabilidade vertical do solo ensanduichado. Em outras palavras, supôs, em sua análise, um material anisótropo, mas homogêneo e com um coeficiente de Poisson muito baixo, chegando à seguinte expressão para a tensão vertical num ponto qualquer da massa de solo, devido à ação de uma carga pontual Q: ( ) 2/3 222 1 2 ' ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ +⋅⋅ ⋅==∆ z xCz QCzv πσσ , onde µ µ 22 21 − −=C Para µ = 0 (solo indeformável no sentido horizontal), obtém-se: C = ½ e os valores de σz, de pontos diretamente sob a carga, são os maiores possíveis. Compara-se com a expressão de Boussinesq, temos: N z Qzv ⋅==∆ 2' σσ Esta expresão e a de Westergaard estão representadas na Figura 7.26. A expressão de Westergaard integrada e fazendo-se µ = 0, permite obter as tensões causadas no solo, abaixo de uma área carregada uniformemente. A Figura 7.27 apresenta o ábaco para o cálculo dessas tensões. Para condições do terreno semelhantes às supostas no desenvolvimento téorico de Westergaard, dar-se-á preferência à sua expressão. Note-se que para cargas pontuais, sendo x/z menor que 0,8 e para áreas uniformementes carregadas com (a/z) e (b/z) menores que a unidade, considerando µ = 0, as expressões de Westergaard dão resultados 2/3 das de Boussinesq. 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 R / z N N z Q Z ⋅= 2σ 2 3 2 1 2 3 ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛+ ⋅= z R NB π 2 3 2 21 1 ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛⋅+ = z R NW π N B N W Figura 7.26 - Ábaco de Boussinesq (curva NB ) e Ábaco de Westergaard (curva NW ). Notas de Aula - Mecânica dos Solos 121 Figura 7.27 - Ábaco de Westergaard. 7.3 Bulbo de Pressões Um aspecto interessante da distribuição de tensões pode ser observado com a noção do chamado bulbo de pressões. A distribuição ao longo de planos horizontais em diversas profundidades tem a forma de sino. O lugar geométrico de pontos de igual pressão em qualquer profundidade é uma superfície de revolução, cuja seção vertical (pelo eixo da carga tem o aspecto mostrado na Figura 7.28). É possível traçar-se um número infinito de isóbaras desse tipo, cada qual correspondendo a uma pressão (∆σ‘v = σz = constante). A tensão, em qualquer ponto no interior da massa limitada pela isóbara é maior que σz; qualquer ponto fora da isóbara tem tensão menor que σz. Para efeitos práticos, considera-se que valores menores que (0,1 p0) não têm efeito na deformabilidade do solo de fundação. E, portanto, a isóbara (∆σ‘v = σz = 0,1 p0) como que limitaria a zona do solo sujeita às deformações. A figura formada por essa isóbara denomina-se bulbo de pressões. Figura 7.28 - Bulbo de pressões. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 122 7.3.1 Aplicações práticas do conceito de bulbo de pressões (BARATA, 1993) Pelos resultados experimentais e pelas expressões de ∆σ‘v = σz para o caso de áreas carregadas, pode-se depreender que, quanto maiores às dimensões da fundação, maiores serão as tensões a uma dada profundidade, ou, em outras palavras, quanto maiores às dimensões da placa carregada, maior a massa de terra afetada pelo bulbo de pressões. Inicialmente, convém que se saiba que o bulbo de pressões atinge uma profundidade Zo = α . B, conforme esta representado na figura 7.29, sendo B a largura (menor dimensão) da área carregada e α um fator que depende da forma desta área. Valores de α são fornecidos na tabela na mesma figura, calculados pela teoria da elasticidade, para o caso de base à superfície do terreno (no caso de base abaixo da superfície, os valores de α serão menores que os da tabela, deles não diferindo substancialmente, todavia). Em solos arenosos os valores da tabela deverão ser acrescidos de aproximadamente 20%. Figura 7.29 - Aplicação do bulbo de pressões. Exemplo 10: Num terreno como visto na figura abaixo, típico dos existentes no centro da cidade do Rio de Janeiro, é interessante observar a diferença entre os efeitos de uma pequena construção (área quadrada, de 4,5 m x 4,5 m) e os de uma construção maior (área quadrada, de 10 m x 10 m). O bulbo de pressões da pequena construção fica restrito à camada de areia, ou seja, praticamente não provocaria recalques sensíveis; o bulbo da grande construção, por outro lado, influenciaria a camada de argila mole (pressão no topo seria 30% de Po), acarretando adensamento e recalques consequentes. Forma de área carregada α Circular ou quadrada (L/B=1) ~ 2,0 1,5 ~ 2,5 2 ~ 3,0 3 ~ 3,54 Retangular 4 ~ 4,0 L . B 5 ~ 4,25 10 ~ 5,25 20 ~ 5,50 Infinitamente longa ∞ ~ 6,50 Planta D ou B D ou B L/2 S S L/2 L N.T. Seção SS P0 0,10 . P0 z0 = α . B B Notas de Aula - Mecânica dos Solos 123 7.4 Pressão de Contato São as pressões sob a fundação e sobre o solo. Portanto, são muito complexas a sua distribuição e interferem a natureza do solo (argiloso ou arenoso), a rigidez da fundação (expressa pelo produto E . I, do módulo de elasticidade pelo momento de inércia), a profundidade. Sob fundações flexíveis - Devido à flexibilidade das fundações, as pressões de contato são uniformes e idênticas às que são transmitidas pelas fundações (a fundação acomoda-se perfeitamente às deformações do solo). Se as pressões são uniformes, os recalques, ao contrário, não são uniformes. Verifica-se na Figura 7.30, que os solos coesivos (argilas) recalcam mais no centro da área carregada e menos nas bordas, o que se justifica, tendo-se em vista os valores dos recalques dados pelas expressões da teoria da elasticidade (onde as tensões são maiores no centro da área carregada). Os solos coesivos são os que mais se aproximam dos materiais ideais da teoria da elasticidade (homogêneo, isotrópico e elástico). Para os solos não coesivos (areias), o módulo de elasticidade aumenta com o confinamento e, portanto, cresce da zona das bordas para a zona central da área carregada; daí os recalques serem menores mo centro e maiores na bordas. Para fundações flexíveis é usual admitir que a distribuição de pressões se faça proporcionalmente às deformações. Figura 7.30 - Distribuição das pressões de contato sob fundações flexíveis. (a) solos coesivos; (b). solos não coesivos. Sob fundações rigídas - São indeformáveis em relação ao solo, impondo uma deformação contante ao solo soba superfície de carga. As pressões de contato, nesta situação, não poderão ser uniformes. Ao comparar-se com o que ocorre sob fundações flexíveis, verifica-se que, para se obter um recalque uniforme, terá que haver uma redistribuição das pressões, como esta representado na Figura 7.31, com diminuição no centro e aumento nas bordas para solos coesivos e, ao contrário, aumento no centro e diminuição na periferia para solos não coesivos.. Figura 7.31 - Distribuição das pressões de contato sob fundações rigídas. (a) solos coesivos; (b). solos não coesivos. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 124 7.5 Exercícios 1) Dado o perfil geotécnico abaixo, calcule: a) as tensões devidas ao peso próprio do solo (σv e σ’v) e as pressões neutras; b) adotando o valor de k0 igual a 0,5 para todas as camadas, determine as tensões horizontais efetivas e totais; c) faça um diagrama da variação das tensões calculadas nos itens a e b, com a profundidade. 2) Para o perfil geotécnico abaixo, determine: a) o acréscimo de tensão vertical para um depósito circular nas profundidades indicadas; b) a tensão efetiva final final aos 7,5m e aos 90,0 m de profundidade. 3) Calcular a tensão induzida por uma carga pontual de 1500 t a um ponto situado a 5 m de profundidade afastado 5,3 m da aplicação da carga. 4) Calcular a tensão induzida (pressão transmitida) por uma carga circular (raio de 5 m) com 100 kN/m2 a pontos situados a 5 m de profundidade, sob o centro da placa e afastado a 6m do centro da placa. N.T. A 0,0 m γ = 15,0 kN/m3 N.A. - 2,0 m - 3,0 m - 4,5 m B C D γ = 17,0 kN/m3 γ = 15,0 kN/m3 - 6,0 m E γ = 17,5 kN/m3 P = ∆qs = 25 ton/m2 ∅ = 45 m 7,5 m 15,0 m 22,5 m 30,0 m 45,0 m 60,0 m 75,0 m 90,0 m N.T. γ = 2 ton/m2 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 125 5) Calcular o acréscimo de tensão produzida pela placa da figura abaixo, carregada com 78 kN/m2, a um ponto situado a 5 m de profundidade abaixo do ponto O, indicado na figura, sabendo-se que a1 = 3 m; a2 = 4 m; b1 = 1 m; b2 = 2 m; 6) Dada a situação da planta abaixo, calcule o acréscimo de tensão devido a sapata carregada com 480 kN/m2 a 5 m de profundidade no ponto A. 7) Dado o perfil geotécnico abaixo, traçar o diagrama das pressões totais, efetivas e neutras A 1 m 3 m 9 m 4 m y x a1 a2 b1 b2 z II I III IV N.T. A + 5,0 m N.A. + 2,0 m - 2,0 m - 7,0 m B C D - 6,0 m E Argila mole γSAT = 17,4 kN/m3 Areia grossa γ SAT = 23,8 kN/m3 Argila dura γ SAT = 20,5 kN/m3 Rocha Areia fina γ = 19,4 kN/m3 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 126 8) Traçar o diagrama das pressões totais, efetivas e neutras relativo ao perfil geotécnico abaixo 9) Determinar, no perfil abaixo, a cota ou profundidade em que teremos σ’v = 7,77 t/m2 = 77,7 kN/m2. 10) Calcular o acréscimo de pressão causado por uma placa crcular, com 5 m de diâmetro, carregada com 20 t/m2, em pontos situados sob o seu eixo, a 2,5; 5,0 e 10,0 m de profundidade e traçar o respectivo diagrama. N.T. A + 2,0 m N.A. - 1,0 m - 6,0 m B C D - 12,0 m Argila saturada γs = 25,0 kN/m3 e = 0,8 Areia média saturada γ s = 26,6 kN/m3 w = 11% Rocha Areia fina argilosa γd = 13,2 kN/m3 Sr = 100% γs = 26,4 kN/m3 N.T. A + 0,0 m N.A. - 1,0 m - 3,0 m B C D - 10,0 m Areia fina γs = 26,0 kN/m3 e = 0,8 Argila preta γ s = 26,6 kN/m3 Sr = 100% e = 1,08 Rocha Argila cinza arenosa γd = 15,2 kN/m3 - 6,0 m C Areia grossa saturada γ SAT = 19,8 kN/m3 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 127 11) Dada a placa circular em forma de anel, abaixo representada, calcular o acréscimo de pressão nos pontos A, B, C e D indicados, situados a 2,5m de profundidade. 12) Determinar a variação de pressão à profundidade de 4,0 m provocada por uma placa circular com 8,0 m de diâmetro, carregada com 724 toneladas, conforme indica esquema abaixo e traçar o respectivo diagrama. 13) Calcular a pressão transmitida ao ponto A pelo atero dado no esquema abaixo. A B C D 2m 3m 4m EM PLANTA A B C D Prof. (m) - 2,5 EM PERFIL 2m 2m 4m 4m A B C D E Q = 724 t x 0 m - 4 m • δ α hat z A γ = 22 kN/m3 - 9 m 0 m + 3 m α = 28,5º β = 56,0º δ = 42,0º β Notas de Aula - Mecânica dos Solos 128 14) Dada a situação em planta de um ponto A, calcular a influência da sapata carregada com 480 kN/m2 a 5 metros de profundidade. 15) Calcular o acréscimo de pressão sob os pontos A, B, C e D, abaixo indicados, devido à construção do aterro dado e traçar o respectivo diagrama. 16) Três pilares afastados 6,0 m de eixo a eixo, transmitem as cargas indicadas no perfil abaixo. Considerando as ditas cargas como puntiformes, calcular as pressões transmitidas ao meio da camada de argila, sob cada pilar. A 9 m 4m 1m 3m 3m 12m 3m A B C D 0 m - 6 m γ = 22 kN/m3 3m 3m + 3 m 6m 6m - 1,5 m Areia grossa compacta 0 m P1 = 48 t P1 = 64 t P3 = 80 t - 3,5 m - 7,5 m Areia fina, medianamente compacta Argila cinza média Notas de Aula - Mecânica dos Solos 129 17) Calcular a pressão vertical nos pontos A, B e C, abaixo indicados devido a uma estaca carregada com 500 kN, sendo que 350 kN são transmitidos pela ponta da estaca e 150 kN pelo seu atrito lateral. A B C 15 m x 5m 5m c z C = 15 m z = 20 m x = 5 m Notas de Aula - Mecânica dos Solos 130 UNIDADE 8 - COMPRESSIBILIDADE, ADENSAMENTO E RECALQUES NO SOLO 8.1 Introdução Compressibilidade é uma característica de todos os materiais de quando submetidos a forças externas (carregamentos) se deformarem. O que difere o solo dos outros materiais é que ele é um material natural, com uma estrutura interna o qual pode ser alterada, pelo carregamento, com deslocamento e/ou ruptura de partículas. Portanto, devido a estrutura própria do solo (multi-fásica), possuindo uma fase sólida (grãos), uma fase fluída (água) e uma fase gasosa (ar) confere-lhe um comportamento próprio, tensão-deformação, o qual pode depender do tempo. A Figura 8.1, apresenta um elemento de solo saturado submetido a um acréscimo de tensão. O acréscimo de carga ocasionará uma variação de volume, o qual pode ser devido a compressão da fase sólida, a compressão da fase fluída ou a uma drenagem dos fluídos dos vazios do solo. Admites-se que os esforços aplicados na prática da engenharia (solo saturado) são insuficientes para comprimir a fase sólida (grãos) e a fase fluída (compressibilidadedesprezível). Portanto, o único motivo para que ocorra variação de volume, será devido à redução dos vazios com a conseqüente expulsão da água dos poros. Define-se compressibilidade dos solos como sendo a diminuição do seu volume sob a ação de cargas aplicadas. A compressibilidade depende do tipo de solo, por exemplo: a compressibilidade em areias (solos não-coesivos) devido a sua alta permeabilidade ocorrerá rapidamente, pois a água poderá drenar facilmente. Em contrapartida, nas argilas (solos coesivos) a saída de água é lenta devido à baixa permeabilidade, portanto, as variações volumétricas (deformações/recalques) dependem do tempo, até que se conduza o solo a um novo estado de equilíbrio, sob as cargas aplicadas. Essas variações volumétricas que ocorrem em solos finos saturados, ao longo do tempo, constituem o processo de adensamento. Figura 8.1 - Perfil de solo saturado submetido a um acréscimo de tensões. σ3 σ1 σ2 u0 = γw . z b) σ3 + ∆σ3 σ1 + ∆σ1 σ2 + ∆σ2 u0 + ∆u c) t = t0 V = V0 σ3 + ∆σ3 σ1 + ∆σ1 σ2 + ∆σ2 u0 ; ∆u = 0 d) t = ∞ V < V0 CARREGAMENTO ∆σ’V N.T. N.A. z a) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 131 8.2 Elemento de solo submetido a tensões A figura anterior apresenta um perfil geotécnico constituído de um solo argiloso saturado, homogêneo e com uma superfície do terreno horizontal, portanto não há tensões tangenciais nas faces do prisma. Existindo três planos ortogonais onde as tensões que atuam são as tensões principais (σ1, σ2 e σ3). Em 8.1(b), o elemento de solo saturado está inicialmente sob as tensões (σ1, σ2 e σ3 (com uma pressão neutra - u0) sem variação de volume (V = V0). No mesmo perfil, agora estando sujeito a um carregamento (∆σ) na superfície do terreno. Devido a este acréscimo de carga surgirá no elemento “A”, um acréscimo de tensões normais e tangenciais determinadas pela teoria da elasticidade (Unidade 7). Em 8.1(c) o elemento sofre um acréscimo triaxial de tensões (∆σ1, ∆σ2 e ∆σ3) ocorrendo simultaneamente um aumento da poro-pressão (u0) devido a baixa permeabilidade do solo. Em 8.1(d) a medida que a pressão neutra (excesso - ∆u) se dissipa, pela saída de água, as deformações vão aparecendo (recalques), portanto o volume do elemento será menor que o volume inicial (V < V0). 8.3 Processo de adensamento - solos finos saturados A compressibilidade dos solos advém da grande porcentagem de vazios (e = Vv/Vs) em seu interior, pois para os níveis de tensão encontrados usualmente nos trabalhos de engenharia não são capazes de causar variação de volume significativa nas partículas sólidas. Sem erro considerável, pode-se dizer que a variação de volume do solo é inteiramente resultante da variação de volume dos vazios. Reduções de volume ocorrem com a alteração da estrutura à medida que esta suporta maiores cargas: quebram-se ligações interpartículas e há distorções. Disto resulta um menor índice de vazios e uma estrutura mais densa. Uma forma conveniente de estudar o fenômeno é através da analogia mecânica sugerida por TERZAGHI (1943). 8.4 Modelo mecânico de Terzaghi O modelo compõe-se basicamente de um pistão com uma mola provido de uma saída (Figura 8.2). Inicialmente (antes de t = 0), o sistema encontra-se em equilíbrio. No tempo inicial, há um incremento de pressão externa instantânea (∆P) que provoca um aumento idêntico de pressão na água. Como não houve tempo para o escoamento da água (variação de volume), a mola não sofre compressão e, portanto, não suporta carga. Há, a partir daí, processo de variação de volume com o tempo, pela saída da água, e, simultaneamente, ocorre à dissipação da pressão do líquido. Gradativamente, aumenta a tensão na mola e diminui a pressão da água até atingir-se a condição final da Figura 8.2(e). Uma vez que a pressão externa está equilibrada pela pressão da mola, não há mais compressão e o adensamento está completo. Este modelo guarda a seguinte analogia com os solos reais: a mola representa o esqueleto mineral e a tensão que ela suporta é denominada de tensão efetiva; a água representa o líquido no interior dos poros ou vazios do solo e sua pressão é dita poro-pressão ou pressão neutra; a pressão externa será sempre equilibrada pela poro-pressão e/ou pela tensão efetiva. A diferença fundamental de comportamento é que os solos continuam apresentando alguma variação de volume, mesmo após o final do que se denomina adensamento primário (e que corresponde à analogia de Terzaghi). Há saída de água mesmo com poro-pressão praticamente nula (compressão secundária, item 8.16) Algumas observações, obtidas a partir do modelo, que são importantes: a) a diferença de altura entre o inicio e o final do fenômeno (h0 - hf) depende da rigidez da mola e seu comprimento e do incremento de tensão vertical (∆P); b) o tempo para atingir-se a condição final, isto é, de (∆u = 0), varia com a abertura da válvula de saída de água. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 132 (b) (c) (d) (e) u = u0 t = 0 t > 0 t = ∞ σ‘= p’0 u = u0 + ∆P u0 < u < u0 + ∆P u = u0 p’0 = P/A σ‘= p’0 p’0 < σ‘ < p‘0 + ∆P σ‘ = p‘0 + ∆P ∆V = 0 ∆V > 0 ∆V > 0 Figura 8.2 - Analogia hidromecânica para ilustrar a distribuição de cargas no adensamento. (a) exemplo físico; (b) analogia hidromecânica; estado inicial; (c) carga aplicada com a válvula fechada; (d) o pistão desce e a água começa a escapar; (e) equilíbrio sem mais saída de água; (f) transferência gradual de carga. Nos solos, o fenômeno comporta-se de modo similar: a) o recalque total depende da rigidez da estrutura do solo, da espessura da camada e do incremento de carga vertical; b) o tempo de dissipação da pressão neutra depende da permeabilidade do solo e das condições de drenagem que há nos contornos da camada (ver item 8.7) Pistão Poroso Nível inicial da água N.A. SOLO (a) Pistão (b) P Válvula Mola Câmara cheia de água P + ∆P A água escapa lentamente O pistão desce A mola se comprime Diminui a pressão da água (d) Pistão (c) P + ∆P Válvula fechada Água sob pressão h0 P + ∆P Nível de equilíbrio da água A mola resiste à carga Não se transmite pressão a água (e) N.A. hf ∆h A mola A água Fo rç a Tempo ( f ) Força aplicada Notas de Aula - Mecânica dos Solos 133 É a intervenção do homem nestes fatores, com seu conhecimento prévio, que conduz às diversas soluções construtivas. A Figura 8.3 representa, qualitativamente, as variações de tensões e de volume que se processam ao longo do fenômeno de adensamento. Portanto, o processo de adensamento corresponde a uma transferência gradual do acréscimo de pressão neutra (provocado por um carregamento efetivo) para tensão efetiva. Tal transferência se dá ao longo do tempo, e envolve um fluxo de água com correspondente redução de volume do solo. Figura 8.3 - Variações de tensões e de volume durante o adensamento. 8.5 Teoria de adensamento de Terzaghi O estudo teórico do adensamento permite obter uma avaliação da dissipação das sobrepressões hidrostáticas (excesso de pressão neutra gerada pelo carregamento) e, consequentemente, da variação de volume ao longo do tempo, a que um elemento, de solo estará sujeito, dentro de uma camada compressível. Tal estudo foi inicialmente realizado por Terzaghi, para o caso de compressão unidirecional, e constituia base pioneira, para afirmação da Mecânica dos Solos como ciência. A partir dos princípios da Hidráulica, Terzaghi elaborou a sua teoria, tendo, entretanto, que fazer algumas simplificações, para o modelo de solo utilizado. As hipóteses básicas de Terzaghi são: a) solo homogêneo e saturado; b) partículas sólidas e a água contida nos vazios do solo são incompressíveis; c) compressão (deformação) e drenagem unidimensionais (vertical); d) propriedades do solo permanecem constante ( k, mv, Cv); e) validade da lei de Darcy ( v = k . i ); f) há linearidade entre a variação do índice de vazios e as tensões aplicadas. Ao admitir escoamento unidirecional de água, algumas imprecisões aparecem, quando se tem o caso real de compressão tridimensional, entretanto, a hipótese condicionante de toda a teoria é a que prescreve a relação linear entre o índice de vazios e a variação de pressões. Admitir tal hipótese σ∆P = ∆σ σ t = 0 Tempo Tensão total σu0 + ∆P u t = 0 Tempo Pressão neutra σ’ t = 0 Tempo Tensão efetiva ∆V t = 0 Tempo Variação de volume Notas de Aula - Mecânica dos Solos 134 significa admitir que toda variação volumétrica se deva, à expulsão de água dos vazios, e que se afasta em muitos casos da realidade, pois ocorrem juntamente com o adensamento, deformações elásticas e outras, sob tensões constantes, porém crescentes com o tempo (Creep). As demais hipóteses podem facilmente ser reproduzidas em laboratório ou se aproximam da realidade. A Figura 8.4 a seguir mostra um perfil de solo muito comum: uma camada de solo saturado compressível intercalada entre outras camadas pouco compressíveis. O carregamento que foi imposto é do tipo unidimensional, isto é, não há distorção lateral do solo. Esta forma de solicitação ocorre quando a largura do carregamento é muito maior do que a espessura da camada, por exemplo, em aterros de aeroportos, alguns aterros rodoviários, tanques de combustível, aterros industriais, etc. Na mesma figura (item b) mostra um elemento de solo da camada na qual o incremento de carga aplicada foi ∆P. Analisando a pressão neutra (u) dentro da camada, observa-se que ela será zero (ou igual a um valor hidrostático inicial constante, dependente do lençol freático na areia) no contato superior. A areia possui uma permeabilidade muito alta em relação à argila e fornece uma condição de drenagem livre, portanto. Figura 8.4 - (a) camada de solo compressível submetida a um incremento de tensão; (b) elemento de solo da camada. A água é expulsa dos vazios do solo com uma velocidade: v = k . i onde o gradiente hidráulico é expresso por: i = dh/dz Para o caso em estudo, o gradiente é variável em função da profundidade (z) e do tempo (t), portanto temos: i = - ∂h/∂z Como a carga hidráulica pode ser substituída pela poro-pressão dividida pelo peso específico da água (h = u/ γw), temos: z ukikv W ∂ ∂⋅−=⋅−= γ ∆u > 0 ∆u = 0 ∆u > 0 permeável permeável solo compressívelH = 2 Hd z A ∆P (a) (b) FLUXO dh FLUXO z y x dz Notas de Aula - Mecânica dos Solos 135 A velocidade também varia com a profundidade (z), portanto, temos: 2 2 z uk z v W ∂ ∂⋅−=∂ ∂ γ (1) Por outro lado, a variação de velocidade ao longo de (z) depende da variação de volume que ocorre nos elementos de solo. Portanto, a variação de volume depende do tempo, dado pela expressão: t umv t mv dt dv ∂ ∂−=∂ ∂⋅= 'σ uma vez que a variação de volume unitária (∆V/V) é função da variação da tensão efetiva, e a variação da tensão efetiva é proporcional à dissipação da poro-pressão, temos: ( ) t u t u tt u t ∂ ∂−=∂ ∂−∂ ∂=∂ −∂=∂ ∂ σσσ ' ⇒ 'σ∂⋅=∆ mv V V ∆σ‘ = - ∆u O coeficiente (mv) definido nas expressões anteriores é determinado experimentalmente e denomina-se coeficiente de variação volumétrica (ou deformação volumétrica). Quanto maior esse coeficiente, maior será a variação de volume unitário do solo para certo incremento de tensão efetiva. O coeficiente de variação volumétrica é o inverso do módulo de elasticidade (mv = 1/E). Como o fluxo no elemento de solo é unidimensional (por definição do carregamento), toda a variação de volume se dará na dimensão de “z”. Haverá uma variação da velocidade originada pelo aumento de vazão, isto é, há uma diferença entre o volume que sai e o que entra no elemento de solo, devido à própria variação de volume do elemento (solo saturado). Com isso poderemos escrever: dz t umvdz dt dVdz z v ∂ ∂−==∂ ∂ ⇒ t umv z v ∂ ∂−=∂ ∂ (2) Igualando-se as expressões (1) e (2), obtemos: 2 2 z u mv k t v W ∂ ∂⋅⋅=∂ ∂ γ Esta última expressão é conhecida como equação diferencial do adensamento. Sendo esta uma equação diferencial de derivadas parciais de 2° ordem que rege o fenômeno do adensamento unidimensional. Desta equação define-se o coeficiente de consolidação (ou de adensamento), pela seguinte expressão: mv kCv W ⋅ = γ Quanto maior o valor do Cv, tanto mais rápido se processa o adensamento do solo. Assim como mv e k, o Cv é uma propriedade dos solos. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 136 Pode ser conveniente ao iniciante raciocinar sobre o processo de adensamento dos solos pela analogia com o processo de dissipação de calor, conhecido na Física, já que ambos obedecem à mesma equação diferencial. Isto significa que a forma de variação da poro-pressão ou pressão neutra com o tempo, em uma camada argilosa saturada, é semelhante à variação da temperatura com o tempo num corpo aquecido que tenha condições de contorno análogas. 8.6 Solução da equação diferencial do adensamento Para achar-se a solução da equação diferencial do adensamento, faz-se as seguintes hipóteses: a) a compressão do solo é pequena comparada com a espessura da camada (não se altera a altura de drenagem); b) considera-se que o coeficiente de consolidação (Cv) é constante para o acréscimo de carga e que não é afetado pela compressão; c) considera-se o carregamento (∆P) aplicado instantaneamente. Baseando-se na situação da Figura 8.5, as condições de contorno podem ser escritas como: ⇒ t = 0 e 0 < z < H (2Hd) , u = ∆P (trabalhamos apenas com o excesso de poro- pressão, isto é, considerando u0 = 0). Na Figura 8.5(b), para melhor interpretação esta representado o acréscimo da poro-pressão. Figura 8.5 - Adensamento de uma camada compressível submetida a um incremento de carga uniforme instantâneo (a) perfil geotécnico do sub-solo; (b) gráfico da variação da pressão neutra. Observe-se que a camada de solo tem a espessura real “H”. Para facilitar os cálculos, como se verá a seguir utilizamos a altura de drenagem (veja item 8.7) definida, neste caso, como Hd = H/2. As demais condições contorno: ⇒ 0 < t < ∞, z = 0 u = 0 z = H u = 0 ⇒ t = ∞, 0 < z < H u = 0 (definição de final do processo) pr of un di da de (z ) t = 2 t = ∞ pressão neutra (u) t = 0 instantânea t = 1 0 u0 ∆P u0 = γW.(h0 + H) (b) N.A. Hd permeável permeável argila H z ∆P = ∆σ (a) FLUXO Hd h0 Hd = H / 2 (altura de drenagem) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 137 Com base nestas condições, pode-se resolver a equação diferencial por meio de séries de Fourier. A resolução completa pode ser encontrada em Taylor (1948) e fornece: Tn n n H e Hd znsendzHd znsenP hd u ⋅⋅⋅− =∝ = ⋅⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ⋅ ⋅⋅⋅⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ⋅ ⋅⋅⋅∆⋅= ∑ ∫ 22412211 2 0 πππ onde, 22 Hd t mv k Hd tCvT W ⋅⋅= ⋅= γ ( Tyexu ⋅−⋅= ) é chamado fator tempo (T) e representa uma variável independente, sendo um número adimensional. Este parâmetro exclui da solução todas as características do solo que interferem no processo de adensamento. O progresso do processo de adensamento em um ponto pode ser expresso pela porcentagem de adensamento definida como: 0uu uu ut ut Vt VtUz e e − −==∝∆ ∆==∝∆ ∆= Nesta expressão, ∆Vt representa a variação de volume após um tempo “t”; ∆Vt = ∞ representa a variação de volume, após completado o adensamento e Uz é a porcentagem de adensamento ou grau de adensamento de um elemento de solo, situado a uma profundidade “z”, num tempo “t”. Em termos de pressões neutras, temos: ∆ut e ∆ut = ∞, são as pressões neutras, após um tempo “t”e após um “t = ∞“; eu é a sobrepressão hidrostática, logo após a aplicação da carga ; e u é a sobrepressão num tempo “t” e u0 é pressão neutra existente na água. Portanto, quando Uz = 0%, a pressão neutra no ponto é igual ao excesso inicial e quando Uz = 100% toda a pressão neutra terá se dissipado e o adensamento está completo. A definição das grandezas adimensionais, T e Uz, simplifica a construção de gráficos para uso prático. Transforma-se a equação da solução exata da equação diferencial de adensamento ( Tyexu ⋅−⋅= ) em uma do tipo: Uz = f ( z, T) A solução pode então ser apresentada sob a forma gráfica. Utilizando-se coeficientes adimensionais, tais gráficos podem ser utilizados na solução de uma ampla gama de problemas. 8.7 Altura de drenagem (Hd) Na Figura 8.6 estão representados dois perfis geotécnicos semelhantes, os quais possuem características de fornecer condições de drenagem diferentes. No item (a) a camada compressível está entre duas camadas de elevada permeabilidade, isto é, ela será drenada por ambas as faces. Definindo-se a altura de drenagem (ou distância) - Hd, como a máxima distância que uma partícula de água terá que percorrer, até sair da camada compressível, teríamos neste caso, Hd = H/2. No caso da Figura 8.6(b), a Hd = H, pois uma partícula de água situada imediatamente sobre a camada impermeável teria que percorrer toda a espessura da camada compressível até atingir uma face drenante. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 138 Figura 8.6 - Altura ou distância de drenagem. (a) duas faces drenante; (b) uma face drenante. 8.8 Solução gráfica da equação de adensamento - Grau de adensamento localizado A Figura 8.7 representa a solução da equação: Tn n n H e Hd znsendz Hd znsenP hd u ⋅⋅⋅− =∝ = ⋅⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ⋅ ⋅⋅⋅⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ⋅ ⋅⋅⋅∆⋅= ∑ ∫ πππ 2412211 2 0 Utiliza-se parâmetros adimensionais como antes definidos (z/Hd e T). A figura apresenta o caso de camada com dupla drenagem (H = 2Hd). Se for necessário utilizarmos o gráfico para drenagem simples (H = Hd) devemos utilizar a metade correspondente. Figura 8.7 – Grau de adensamento de camada de solo saturado – incremento de pressão neutra uniforme em função da profundidade e do fator tempo. Hd permeável permeável solo compressível H (a) FLUXO Hd Hd = H / 2 (altura de drenagem) N.T. N.A. permeável impermeável solo compressível (b) FLUXO Hd = H (altura de drenagem) N.T. N.A. H = Hd Notas de Aula - Mecânica dos Solos 139 As curvas de igual fator tempo (T), denominadas isócranas, representam o quanto o solo já adensou efetivamente. Assim, para um mesmo tempo (ou adimesional T), o grau de adensamento é maior próximo às camadas drenantes do que no meio da camada compressível. Por exemplo, para T = 0,20, no meio da camada, terá ocorrido 23 % do recalque, enquanto que em ¼ da espessura total terá ocorrido 44%. O conhecimento da distribuição de Uz tem interesse no projeto de aterros sobre solos moles. Exemplo 1: Um depósito de argila da Baixada Fluminense tem drenagem através de uma camada de areia embaixo e livre por cima. Sua espessura é de 12m. O coeficiente de adensamento obtido em laboratório é Cv = 1,0 x 10-8 m2/s. Obtenha o grau de adensamento e a poro-pressão residual, cinco anos após o carregamento unidimensional de 100 kN/m2 , nas profundidades de z = 0, 3, 6, 9 e 12m. Solução: para t = 0 a pressão neutra aumentou de 100 kN/m2 em todos os pontos. 044,0 6 3600243655/101 2 28 2 =××××⋅=⋅= − shorasdiasanossm Hd tCvT Como há dupla drenagem, Hd = 6m. Calculando agora Prof. Altura de drenagem Profundidade pela altura de drenagem Pressão neutra inicial e ao final do adensamento Pressão neutra logo após o carregamento Grau de adensamento Pressão neutra residual Pressão neutra após 5 anos z (m) Hd (m) Z / Hd u0 (kN/m2) ui (kN/m2) Uz (%) uz (kN/m2) u (kN/m2) 0,0 6,0 0,0 0,0 100,0 100,0 0,0 0,0 3,0 6,0 0,5 30,0 130,0 10,0 90,0 120,0 6,0 6,0 1,0 60,0 160,0 0,5 99,5 159,5 9,0 6,0 1,5 90,0 190,0 10,0 90,0 180,0 12,0 6,0 2,0 120,0 220,0 100,0 0,0 120,0 permeável Camada de argila mole FLUXO Hd = 6 m Hd = 6 m H = 12 m Notas de Aula - Mecânica dos Solos 140 0 3 6 9 12 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 PRESSÃO NEUTRA (kN/m2) PR O FU N D ID A D E - ( m ) Pressão neutra logo após o carregamento Pressão neutra após 5 anos Pressão neutra inicial e ao final do adensamento 8.9 Solução gráfica da equação de adensamento - Grau de adensamento médio Em muitos casos há maior interesse prático em saber o grau de adensamento médio da camada inteira. Este valor, simbolizado por U, mede quanto houve de dissipação em toda a camada e, então, pode ser relacionado ao recalque total. Graficamente, podemos pensar como um cálculo de áreas. Observe na Figura 8.7 as isócronas de T = 0 e T = 1,0. A primeira marca um total preenchimento da área e a última zero. As isócronas marcam o crescimento da tensão efetiva com a diminuição da poro-pressão. A Figura 8.8(a) representa a forma gráfica do cálculo de U: totalárea hachuradaáreaU ⋅ ⋅−= 1 8.10 Soluções Aproximadas da Equação de Adensamento A equação teórica U = f (T) é expressa com bastante aproximação, pelas seguintes relações empíricas: ( ) 24 UT ⋅= π , para U < 60% ( ) 0851,01log9332,0 −−⋅−= UT , para U > 60% Estas relações nos fornecem valores para o fator tempo (T), em função da porcentagem de recalque para adensamento pela Teoria de Terzaghi, conforme pode ser visto na Tabela 8.1 e no gráfico da Figura 8.8 (b). Notas de Aula - Mecânica dos Solos 141 Tabela 8.1 – Fator tempo em função da porcentagem de recalque para adensamento pela Teoria de Terzaghi U (%) T U (%) T U (%) T U (%) T U (%) T 1 0,0001 21 0,035 41 0,132 61 0,297 81 0,588 2 0,0003 22 0,038 42 0,139 62 0,307 82 0,610 3 0,0007 23 0,042 43 0,145 63 0,318 83 0,633 4 0,0013 24 0,045 44 0,152 64 0,329 84 0,658 5 0,0020 25 0,049 45 0,159 65 0,340 85 0,684 6 0,0028 26 0,053 46 0,166 66 0,352 86 0,712 7 0,0038 27 0,057 47 0,173 67 0,364 87 0,742 8 0,0050 28 0,062 48 0,181 68 0,377 88 0,774 9 0,0064 29 0,066 49 0,189 69 0,390 89 0,809 10 0,0079 30 0,071 50 0,196 70 0,403 90 0,848 11 0,0095 31 0,075 51 0,204 71 0,417 91 0,891 12 0,0113 32 0,080 52 0,212 72 0,431 92 0,939 13 0,0133 33 0,086 53 0,221 73 0,446 93 0,993 14 0,0154 34 0,091 54 0,229 74 0,461 94 1,055 15 0,0177 35 0,096 55 0,238 75 0,477 951,129 16 0,0201 36 0,102 56 0,246 76 0,493 96 1,219 17 0,0227 37 0,108 57 0,255 77 0,511 97 1,336 18 0,0254 38 0,113 58 0,264 78 0,529 98 1,500 19 0,0284 39 0,119 59 0,273 79 0,547 99 1,781 20 0,0314 40 0,126 60 0,283 80 0,567 100 ∞ 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 Fator tempo - (T) Po rc en ta ge m d e re ca lq ue - U (% ) Figura 8.8 – Grau de adensamento médio de uma camada de solo saturado: (a) incremento de pressão neutra inicial uniforme; (b) U versus T Z Uz Dado T totalárea hachuradaáreaU ⋅ ⋅−= 1 (a) (b) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 142 8.11 Ensaio de adensamento ou compressão confinada O ensaio de adensamento unidimensional (ABNT-NBR 12007/90) prescreve o método de determinação das propriedades de adensamento do solo, caracterizadas pela velocidade e magnitude das deformações, quando o mesmo é lateralmente confinado e axialmente carregado e drenado. O método requer que um elemento de solo, mantido lateralmente confinado, seja axialmente carregado em incrementos, com pressão mantida constante em cada incremento, até que todo o excesso de pressão na água dos poros tenha sido dissipado. Durante o processo de compressão, medidas de variação da altura da amostra são feitas e estes dados são usados no cálculo dos parâmetros que descrevem a relação entre a pressão efetiva e o índice de vazios, e a evolução das deformações em função do tempo. Os dados do ensaio de adensamento podem ser utilizados na estimativa tanto da magnitude dos recalques totais e diferenciais de uma estrutura ou de um aterro, com da velocidade desses recalques. A aparelhagem é constituída de um sistema de aplicação de carga (prensa de adensamento ou oedômetro) e da célula de adensamento. A prensa permite a aplicação e manutenção das cargas verticais especificadas, ao longo do período necessário de tempo. A célula de adensamento é um dispositivo apropriado para conter o corpo de prova que deve proporcionar meio para aplicação de cargas verticais, medida da variação da altura do corpo de prova e sua eventual submersão. Consiste de uma base rígida, um anel para conter o corpo de prova (anel fixo ou flutuante), pedras porosas e um cabeçote rígido de carregamento. A Figura 8.9 apresenta de forma esquemática a prensa de adensamento e a célula de adensamento. O procedimento para execução do ensaio é iniciado com a colocação da célula de adensamento no sistema de carga. Transmite-se cargas a célula de adensamento, em estágios, para obter pressões totais sobre o solo de aproximadamente 10, 20, 40, 80, 160, ... Kpa, mantendo-se cada pressão pelo período de tempo de 24 horas (dependendo do solo). Para cada um dos estágios de pressão, faz-se leituras no extensômetro da altura ou variação de altura do corpo de prova, imediatamente antes do carregamento (tempo zero) e, a seguir, nos intervalos de tempo 1/8, 1/4, 1/2, 1, 2, 4, 8, 15, 30 min; 1, 2, 4, 8, e 24h. Completadas as leituras correspondentes ao máximo carregamento empregado, efetua-se o descarregamento do corpo de prova em estágio, fazendo leituras no extensômetro. Figura 8.9 (a) - Prensa de adensamento Notas de Aula - Mecânica dos Solos 143 Figura 8.9 - Células de adensamento: (b) de anel fixo; (c) de anel flutuante. 8.12 Apresentação dos resultados do ensaio de adensamento Os resultados do ensaio, normalmente, são apresentados num gráfico semi-logarítmico (Figura 8.10) em que nas ordenadas se têm as variações de volume (representados pelos índices de vazios finais em cada estágio de carregamento) e nas abscissas, em escala logarítmica, as tensões aplicadas. Recompressão do solo Reta virgem Descarregamento 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1 10 100 1000 10000 Pressão (kPa) Ín di ce d e va zi os (e ) P1 P2 e1 e2 ei Cr Cc Figura 8.10 - Curva índice de vazios por logaritmo da tensão efetiva. Podem-se se distinguir nesse gráfico, três partes distintas: a primeira, quase horizontal; a segunda, reta e inclinada e a terceira parte ligeiramente curva. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 144 O primeiro trecho representa uma recompressão do solo, até um valor característico de tensão, correspondente à máxima tensão que o solo já sofreu na natureza; de fato, ao retirar a amostra indeformada do solo, para ensaiar em laboratório, estão sendo eliminadas as tensões graças ao solo sobrejacente, o que permite à amostra um alívio de tensões e, conseqüentemente, uma ligeira expansão. Tal reta apresenta um coeficiente angular denominado índice de recompressão (Cr). Ultrapassando o valor característico de tensão, o corpo de prova principia a comprimir-se, sob tensões superiores às tensões máximas por ele já suportadas na natureza. Assim, as deformações são bem pronunciadas e o trecho reto do gráfico que as representa é chamado de reta virgem de adensamento. Tal reta apresenta um coeficiente angular denominado índice de compressão (Cc) 1 212 21 logloglog σσσσ eeeCc ∆=− −= O índice de compressão ou compressibilidade é utilizado para o cálculo de recalque, em solos que se estejam comprimindo, ao longo da reta virgem de adensamento. Por último, o terceiro trecho corresponde à parte final do ensaio, quando o corpo de prova é descarregado gradativamente, e pode experimentar ligeiras expansões. 8.12.1 Tensão de Pré-Adensamento Como os solos possuem um comportamento não-elástico, eles apresentam uma espécie de memória de carga. Quando um solo sofre um processo de carga-descarga, seu comportamento posterior fica marcado até este nível. A utilização da escala logarítmica para a tensão vertical efetiva prende-se ao fato de que, desta forma, a curva tensão x índice de vazios típica dos solos apresenta dois trechos os aproximadamente retos e uma curva suave que os une. A tensão na qual se dá a mudança de comportamento é uma indicação da máxima tensão vertical efetiva que aquela amostra já sofreu no passado. Esta tensão tem um papel muito importante em Mecânica dos Solos, pois divide dois comportamentos tensão-deformação bem distintos, sendo denominada de tensão ou pressão de pré- adensamento do solo (σ’vm = σ’a). Sua determinação é muito importante para o cálculo de recalques. O recalque de uma estrutura é geralmente tolerável, se o acréscimo de tensão devido à estrutura, mais a tensão efetiva inicial, não a ultrapassar. A determinação da tensão de pré-adensamento pode ser feita por um dos processos a seguir descritos: Processo de Casagrande e Processo de Pacheco Silva. Processo de Casagrande (Figura 8.11) Para a determinação de σ’vm, segue-se os seguintes passos: a) Obter na curva índice de vazios x logaritmo da tensão efetiva o ponto de maior curvatura ou menor raio (R); b) Traçar uma tangente (t) e uma horizontal (h) por R; c) Determine e trace a bissetriz do ângulo formado entre (h) e (t); d) A abscissa do ponto de intersecção, da bissetriz com o prolongamento da reta virgem corresponde à pressão de pré-adensamento. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 145 Figura 8.11 - Determinação da pressão de pré-adensamento pelo processo de Casagrande. Processo de Pacheco Silva (Figura 8.12) Para a determinação de σ’vm, segue-se os seguintes passos: a) Traçar uma horizontal passando pela ordenada correspondente ao índice de vazios inicial; b) Prolongar a reta virgem e determinar seu ponto de intersecção (p) com a reta definidano item anterior; c) Traçar uma reta vertical por (P) até interceptar a curva índice de vazios x logaritmo da tensão efetiva (ponto Q); d) Traçar uma horizontal por (Q) até interceptar o prolongamento da reta virgem (R). A abscissa correspondente ao ponto (R) define a pressão de pré-adensamento. Figura 8.12 - Determinação da pressão de pré-adensamento pelo processo de Pacheco Silva. 10 100 1000 Ín di ce d e va zi os (e ) Ponto de mínimo raio de curvatura Pressão de pré-adensamento Pressão (kPa) 10 100 1000 Ín di ce d e va zi os (e ) Pressão de pré-adensamento Pressão (kPa) e 0 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 146 Uma vez estabelecida a pressão de pré-adensamento é possível definir o índice de pré- adensamento ou “over consolidation ratio” (OCR): 0' ' v v OCR mσ σ= ou 0' ' v v ISA mσ σ= onde σ’v0 é a tensão efetiva que age na atualidade sobre o ponto do qual foi retirada a amostra, podem-se ter três situações distintas (Figura 8.13) Solos Normalmente Adensados A primeira das situações ocorre, quando a tensão ocasionada pelo solo sobrejacente (σ’v0) ao local onde foi retirada a amostra é igual à tensão de pré-adensamento (σ’vm). Neste caso, diz-se que o solo é normalmente adensado (NA), isto é, a máxima tensão que o solo já suportou no passado corresponde ao peso atual do solo sobrejacente (Figura 8.13 (a)). Portanto o valor do índice de pré- adensamento (OCR) é aproximadamente igual a 1,0. Solos Pré-Adensados A segunda situação corresponde ao caso em que a tensão efetiva atual é menor que a tensão de pré-adensamento, isto é, o peso atual de solo sobrejacente é menor que o máximo já suportado (Figura 8.13 (b)). Neste caso, diz-se que a argila é pré-adensada (PA) e o OCR > 1,0. Qualquer acréscimo de carga, sobre este solo, de modo que σ’v0 + ∆σ’v < σ’vm implica recalques insignificantes, pois estamos no trecho quase horizontal da curva índice de vazios x logaritmo da tensão efetiva. Muitos fatores podem tornar um solo pré-adensado, destacando-se a erosão, que com a retirada de solo, diminui a tensão que age atualmente, bem como escavações artificiais ou o degelo. A variação do nível d’água é uma das causas freqüentes do pré-adensamento, pois, se o nível d’água sofrer uma elevação no interior do terreno, as tensões efetivas serão aliviadas, ocasionando o pré- adensamento. Outra causa importante é o ressecamento devido a variações de nível d’água próximo a superfície de um depósito de argila normalmente adensada, que provoca o aparecimento de uma crosta pré-adensada. A lixiviação que é o fenômeno de precipitação de elementos químicos solúveis, como compostos de sílica, alumina e carbonatos pode ocorrer nos solos, nas camadas superiores devido a chuva. Tais elementos, se precipitados nas camadas inferiores, podem provocar a cimentação entre os grãos, fenômeno este utilizado por Vargas (1977) para interpretar a formação e as tensões de pré-adensamento em argilas porosas de São Paulo e da região centro-sul do Brasil. Segundo o mesmo autor, o fenômeno do pré-adensamento não se restringe aos solos sedimentares. Os solos residuais também podem apresentar um pré-adensamento virtual, relacionado com ligações intergranulares provenientes do intemperismo da rocha. Solos em Adensamento Por último, temos o caso em que σ’v0 > σ’vm, isto é, a argila ainda não terminou de adensar, sob efeito de seu próprio peso (Figura 8.13 (c)). Notas de Aula - Mecânica dos Solos 147 Figura 8.13 - Condições de adensamento das argilas. 8.12.2 Determinação do Coeficiente de Consolidação ou Adensamento O valor do coeficiente de adensamento está relacionado à permeabilidade do solo e, portanto, ao tempo de recalque. Quando, em cada estágio de carregamento, registram-se as deformações do corpo de prova, ao longo do tempo, busca-se determinar, por meio de analogia com as curvas teóricas U = f (T), apresentadas na Figura 8.8, o coeficiente de adensamento. Há dois processos de determinação de Cv através do ensaio de adensamento: o processo da raiz quadrada dos tempos (Taylor) e o que utiliza o logaritmo dos tempos (Casagrande). Processo de Casagrande (Figura 8.14) a) Para cada incremento de carga escolhido, desenhar a curva de adensamento, marcando-se no eixo das ordenadas a altura do corpo de prova e no eixo das abscissas o logaritmo do tempo; b) Determinar o ponto correspondente a 100% do adensamento primário pela intersecção das retas tangentes aos ramos da curva que definem as compressões primária e secundária. Transportar o ponto encontrado para o eixo das abscissas, obtendo-se a altura H100; c) Para determinar o ponto correspondente a 0% do adensamento primário, selecionar duas alturas do corpo de prova (H1 e H2) correspondentes respectivamente aos tempos (t1 e t2), cuja relação t2 /t1 seja igual a 4. A altura do corpo de prova correspondente a 0% de adensamento primário, é calculada por: H0 = H1 + (H1 - H2); d) A altura do corpo de prova, correspondente a 50% do adensamento primário, é obtida pela expressão: H50 = (H0 - H100)/2; e) Calcular o coeficiente de adensamento pela expressão: Cv = (T50 . Hd2)/ t50 = (0,197 . (0,5 . H50)2 )/ t50 Onde: Cv = coeficiente de adensamento, em cm2 /s. H50 = altura do corpo de prova correspondente a 50% do adensamento primário, em cm. t50 = tempo correspondente à ocorrência de 50% do adensamento primário, em s. σ’ (log) e (a) σ’vm σ’v0 σ’ (log) e (b) σ’vm σ’v0 σ’ (log) e (c) σ’vm σ’v0 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 148 Figura 8.14 - Curva de altura do corpo de prova, em função do logaritmo do tempo, para cálculo do coeficiente de adensamento pelo processo de Casagrande. Processo de Taylor (Figura 8.15) a) Para cada incremento de carga escolhido, desenhar a curva de adensamento, marcando-se no eixo das ordenadas a altura do corpo de prova e no eixo das abscissas a raiz quadrada do tempo; b) Determinar o ponto correspondente a 0% do adensamento primário, prolongando-se a reta definida pelos pontos iniciais da curva de adensamento até o eixo das ordenadas; c) Traçar por esse ponto uma linha reta com coeficiente angular igual a 1,15 vezes o coeficiente angular da reta obtida no item anterior. A intersecção desta reta com a curva de adensamento primário, cujas coordenadas são respectivamente t90 e H90; d) A altura do corpo de prova, correspondente a 50% do adensamento primário, é obtida pela expressão: H50 = H0 - 5/9 (H0 - H90); e) Calcular o coeficiente de adensamento pela expressão: Cv = (T90 . Hd2 )/ t90 = (0,848 . (0,5 . H50)2 )/ t90 Os valores obtidos para o coeficiente de consolidação (Cv) por métodos correntes de ensaios de laboratório, muitas vezes, são imprecisos e ocorre uma grande dispersão. Devido a isto, os engenheiros geotécnicos têm procurado soluções mais confiáveis, como os ensaios in situ, que evitam a perturbação da amostragem, do transporte e da preparação do corpo de prova, o que é impossível no caso de amostras destinadas a ensaios de laboratório. Entretanto, perde-se o controle das condições de tensão, deformação e drenagem, bem conhecida nos ensaios de laboratório mas impossíveis de serem controladas integralmente no campo. Entre os métodos in situ, podem ser 1 10 1001000 A ltu ra d o co rp o de p ro va (m m ) Tempo (min) H 0 H 1 H 2 H 50 H 100 28 27 25 26 t 1 t 2 = 4 t 1 t 50 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 149 citados o do piezocône, o de Asaoka e o método combinado através de permeabilidade in situ e compressibilidade de laboratório (maiores detalhes, ver ORTIGÃO, 1993, p.186-198). Pelo gráfico da Figura 8.13 (a), pode-se notar que qualquer acréscimo de tensões fará que a argila normalmente adensada recalque, ao longo da reta virgem. Figura 8.15 - Curva altura do corpo de prova, em função da raiz quadrada do tempo, para o cálculo do coeficiente de adensamento pelo processo de Taylor. 8.13 Recalques por Adensamento O cálculo de recalques é de muita importância em obras como aterros rodoviários, fundações diretas, pistas de aeroportos, barragens, etc. Embora o problema maior esteja nos recalques diferenciais, pois são estes que provocam o aparecimento de fissuras e falhas, não há meios de avaliá-los previamente. Entretanto, a experiência geotécnica tem demonstrado que os danos às estruturas, devido a tais recalques, estão associados à magnitude do recalque total. Na realidade, o recalque final que uma estrutura sofrerá será composto de outras parcelas, como, por exemplo, o recalque imediato ou elástico, estudado na Teoria da Elasticidade. Como não existe uma relação tensão-deformação capaz de englobar todas as particularidades e complexidades do comportamento real do solo, as parcelas de recalque de um solo são estudadas separadamente. Nesta seção, se estudará o cálculo do recalque total que um solo sofrerá no campo, que se processam no decorrer do tempo, e que se deve a uma expulsão de água dos vazios do solo a partir de dados obtidos do ensaio de adensamento. 0 100 400 900 1600 A ltu ra d o co rp o de p ro va (m m ) Tempo (min) H 90 28 27 25 26 t 90 d 0,15 d H 50 H 0 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 150 Para o cálculo do recalque total (∆H) que uma camada de solo compressível de espessura “H” passou por uma variação do índice de vazios (∆e) considerando o esquema da figura 8.16. Figura 8.16 - Elemento de solo submetido à adensamento Admitindo que a compressão seja unidirecional e que os sólidos sejam incompressíveis, tem- se: ∆V = V0 - Vf = Vv0 - Vvf porém, e0 = Vv0 / Vs e ef = Vvf / Vs ∆V = e0 . Vs - ef . Vs = (e0 - ef ) . Vs = ∆e . Vs como a compressão só se dá na direção vertical, a área (A) da amostra de solo permanece constante: A . ∆H = ∆e . A . Hs ⇒ ∆H = ∆e . Hs contudo, e0 = Vv0 /Vs = (V - Vs)/Vs = (A . H - A . Hs)/(A . Hs) = (H - Hs)/Hs Hs = H / (1 + e0 ) Assim, H e eH ⋅+ ∆=∆ 01 ∆H = deformação ou recalque H = espessura da camada compressível ∆e = variação do índice de vazios e0 = índice de vazios inicial Utilizando os dados obtidos no ensaio de adensamento (Figura 8.10), o recalque total devido a uma variação do índice de vazios, numa camada compressível é dado por: Solos Normalmente Adensados (NA): σ’vm = σ’v0 m m v vv Cce ' )''( log σ σσ ∆+⋅=∆ Sólidos Vazios A HV HS V0 = volume inicial Sólidos Vazios A HV HS Vf = volume final ∆H Notas de Aula - Mecânica dos Solos 151 m m v vv Cc e HH ' )''( log 1 0 σ σσ ∆+⋅+=∆ Onde: ∆H = recalque por adensamento para argilas normalmente adensadas Cc = índice de compressão eo = índice de vazios inicial σ’vm = tensão de pré-adensamento ∆σ’v = acréscimo de tensão efetiva no centro da camada (Teoria da Elasticidade) Solos Pré-Adensados (PA): σ’vo + ∆σ’v > σ’vm Para argilas PA o cálculo do ∆e do índice de vazios depende da magnitude do incremento de tensão. Se o acréscimo de tensão efetiva gerado por um carregamento externo mais a tensão efetiva atual for superior à tensão de pré-adensamento o solo sofrerá recompressão e compressão virgem, então teremos: 0 1 ' ' log v v Cre mσ σ⋅=∆ m m v vv Cce ' )''( log2 σ σσ ∆+⋅=∆ O recalque total será: ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆+⋅+⋅⋅+=∆ m mm v vv Cc v v Cr e HH ' )''( log ' ' log 1 00 σ σσ σ σ Onde: Cr = índice de recompressão Para argilas Pré-adensadas quando o acréscimo de carga somado com a tensão efetiva atual não ultrapassar a tensão de pré-adensamento σ´v0 + ∆σ´v < σ´vm , o solo somente sofrerá recompressão, portanto teremos: 0 1 ' ' log v v Cre mσ σ⋅=∆ ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ⋅⋅+=∆ 00 ' ' log 1 v v Cr e HH mσ σ Notas de Aula - Mecânica dos Solos 152 Exemplo 2: Dado o perfil geotécnico abaixo, calcule: a) o recalque total da camada de argila provocado pela sobrecarga (depósito circular- 20m de diâmetro); b) o tempo para atingir 50% deste recalque; c) o tempo para atingir 47cm de recalque; d) o tempo para atingir 47cm de recalque, se houvesse uma camada inferior impermeável. a) Para o cálculo do recalque precisamos comparar a tensão atual com a tensão de pré- adensamento de laboratório, e determinar se o solo é normalmente adensado ou pré-adensado. Cálculo da tensão efetiva atual: σ´v0 = 0,5m . 16kN/m3 + 0,5m . (18kN/m3 - 10kN/m3 ) + 4m . (14,2kN/ m3 - 10kN/m3 ) σ´v0 = 28,8 kN/m2 OCR = σ´vm/σ´v0 = 30/28,8 = 1,0 (solo normalmente adensado) Para a determinação do acréscimo de carga no centro da camada de argila, utilizamos a Teoria da Elasticidade (Unidade 7). ÁBACO: x/R = 0 y/R = 0,5 Fator de Influência (I) = 0,90 ∆σ´v = 0,90 . 50 kN/m2 = 45 kN/m2 Utilizamos a seguinte expressão para estimar o recalque total: ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆+⋅⋅+=∆ m m v vv Cc e HH ' '' log 1 0 σ σσ , σ’vf = σ’2 = σ’vm + ∆σ’v = 30 + 45 = 75 kN/m2 σ’v0 = σ’1 = 28,8 kN/m2 ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ +⋅⋅+=∆ 8,28 4530log55,0 627,11 800cmH ⇒ ∆H = 69,62 cm P = 50 KN/m2 A - 0,5 m γ = 16 kN/m3 N.A. - 9,0 m argila areia γ = 18 kN/m3 γ = 14,2 kN/m3 e0 = 1,627 σ’vm = 30 kN/m2 Cc = 0,55 Cv = 8,4 . 10-8 m2/s areia - 5,0 m - 1,0 m 0,0 m N.T. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 153 b) Para atingir 90% de recalque, teremos: U = 90%, ( ) 0851,01log9332,0 −−⋅−= UT = 0,848 (ver Ábaco da Figura 8.7 ou Tabela 8.1) Como, 2Hd tCvT ⋅= ⇒ 8 22 104,8 4848,0 −⋅ ⋅=⋅= Cv HdTt = 161523809 s = 5,1 anos c) O tempo para atingir 47 cm de recalque ( )( ) ( ) 675,062,69 47)( ==∞=∆ ∆== cm cm tH tH totalrecalque trecalqueU = 67,5% T = 0,375 (Tabela 8.1 ou Ábaco da Figura 8.7) 8 22 104,8 43705,0 −⋅ ⋅=⋅= Cv HdTt = 70571428,6 s = 2,24 anos d) idem, considerando somente uma face drenante Hd = 8m 8 22 104,8 83705,0 −⋅ ⋅=⋅= Cv HdTt = 282285714,3 s = 8,95 anos 8.14 Recalques devido ao Rebaixamento do Lençol Freático Um caso interessante de recalques ocorre em algumas áreas urbanas onde há bombeamento da água subterrânea (cidade do México, Veneza e outras). Grandes áreas são afetadas e recalques consideráveis ocorrem. Estes recalques são provocados pelo rebaixamento do nível d’água, no solo, em conseqüência do aumento do seu peso específico aparente - não mais sujeito ao empuxohidrostático - um acréscimo de pressão entre as partículas constituintes do terreno. A Figura 8.17 ilustra esta situação. solo submerso - γsub = γsat - γw , solo seco - γd = γs . (1 - n) γsat = (1 -n ) . γs + n . γw - γw γsub = (1 - n) . γs + (n -1)γw γsub = (γs - γw) (1 - n) γd = γs (1 - n) = ws s γγ γ − > 1,0 γsub (γs - γw) (1 - n) γs - γw Adotando γs = 26,7 kN/m3 , temos γd = 1,6 γsub Notas de Aula - Mecânica dos Solos 154 Figura 8.17 - Esquema do rebaixamento do nível d’água. Este aumento do peso específico gera um acréscimo de pressão, e em conseqüência, o aparecimento de recalques. Se o solo for constituído por camadas de areia e pedregulho (materiais permeáveis), o recalque se produz simultaneamente com o rebaixamento do nível d’água e é, em geral, de pouca importância. O mesmo já não acontece quando no terreno encontram-se camadas de argila compressível. A sobrecarga decorrente do rebaixamento provocará o adensamento desta camada, podendo assim dar lugar a recalques, e surgindo em estacas e tubulões atrito negativo. Exemplo 3: Verifique o efeito de um rebaixamento do lençol freático para a profundidade de 1,0m no exemplo anterior. Verifica-se que houve variação da tensão efetiva σ´v0 = 28,8 kN/m2 Após o rebaixamento, temos: σ´v = 1,0m . 16 kN/m3 + 4m . (14,2kN/m3 - 10kN/m3) = 32,8 kN/m2 ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ +⋅⋅+=∆ 8,28 458,32log55,0 627,11 800cmH ⇒ ∆H = 72,3 cm 8.15 Correções do Recalque por Adensamento Em função das limitações próprias da teoria do adensamento, os valores de recalques obtidos devem ser corrigidos para determinadas situações não previstas na teoria. Recalques ocasionados por um carregamento lento Esta correção refere-se ao fato de que, na prática, nenhum carregamento é aplicado instantaneamente, como se prescreve na teoria ou como se faz no ensaio de adensamento. A rigor, qualquer construção vai carregando o terreno gradativamente. Para levar em conta tal efeito, existe uma construção gráfica - Gilboy - que permite obter a curva tempo x recalque para o carregamento lento, a partir da curva do carregamento instantâneo. A construção é baseada na hipótese de que o recalque, no final da construção (tempo - tc) é igual ao recalque, no tempo tc/2, quando se considera o carregamento aplicado instantaneamente. γd N.A1. γsub ⇒ γd N.T. γsub N.A2. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 155 A variação do carregamento é linear com o tempo, e é dada por: σ = (t / tc) . σ0, em que σ0 é a tensão final originada pelo carregamento. Nessa circunstância, a relação entre os recalques instantâneos e lentos será proporcional a t/tc. A Figura 8.18 esquematiza a construção gráfica. Para se obter o recalque, num tempo “t”, basta determinar o recalque instantâneo no tempo “t/2”, traçar uma horizontal que interceptará a vertical por “tc” no ponto “A”. Unindo-se “A” à origem “O”, esse segmento “AO” intercepta a vertical em “t”, no ponto “B”, que será o recalque ocasionado pelo carregamento lento. Pelas hipóteses formuladas: MN = PQ σ = (t / tc) .σ0 ⇒ P’Q’ = (t / tc) M’N’ após o tempo t = tc, os demais pontos são obtidos, deslocando a curva carregamento lento de tc/2. Figura 8.18 - Recalques provenientes de pressões aplicadas linearmente crescentes. C ar re ga m en to Tempo tctc/2 t/2 t Curva corrigida Curva teórica R ec al qu e σ σ0 M e M’P’ P B e Q’ O Q N A e N’ ? ? QN = ?? Notas de Aula - Mecânica dos Solos 156 Interferência de Efeitos Tridimensionais As soluções apresentadas referem-se ao caso de compressão unidirecionais. Há casos em que a espessura da camada é muito maior que área carregada, quando os efeitos tridimensionais podem afetar a velocidade e a magnitude do recalque. Uma consideração semi-empírica, para levar em conta tais efeitos, foi proposta por Skempton e Bjerrum (1957) e admite que a despeito dos efeitos tridimensionais o recalque é ainda unidimensional. Essa correção utiliza os parâmetros de pressão neutra A e B de Skempton: ∆u = B . ∆σ3 + A (∆σ1 - ∆σ3) A Figura 8.19 apresenta os valores do fator de correção (Ψ) a serem multiplicados pelos recalques obtidos, quando se considera compressão unidirecional: ∆H corrigido = Ψ . ∆H 0,74 0,67 0,54 0,50 0,38 0,26 0,14 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 Coeficiente de pressão neutra A Fa to r de c or re çã o Figura 8.19 - Correção do recalque de adensamento. Fundação circular Fundação corrida Argila D H Normalmente adensada Argila Pré-Adensada Argilas muito sensíveis 0,25 H/B = 0 (ambos) 0,23 0,5 0,50 H/B = 1 H/B = 10 H/B = 10 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 157 8.16 Compressão Secundária (ou secular) A compressão secundária corresponde à variação adicional de volume, que se processa após total dissipação da sobre-pressão hidrostática (excesso de pressão efetiva gerado por um carregamento), isto é, a variação de volume que ocorre a um valor constante de tensão efetiva (seria o “creep” no solo). É uma variação de volume que começa durante o adensamento primário (Adensamento de Terzaghi) e usualmente ocorre a uma velocidade muito mais lenta. Esta componente de deformação parece ser devida ao deslizamento lento das ligações interpartículas e alguns outros fenômenos de escala microscópica. Tais fenômenos são comandados por forças eletroquímicas que ainda não são bem conhecidas. Nas estruturas reais, é difícil separar os adensamentos primário e secundário, pois ambos podem ocorrer simultaneamente, e isto é mais acentuado quanto maior for a espessura da camada. O solo mais próximo das camadas drenantes estará sofrendo compressão secundária enquanto que, no meio, o solo estará ainda com baixos graus de adensamento (Ver Figura 8.7). A Figura 8.14 apresenta um trecho de recalque claramente devido a compressão secundária (a partir de H100). A magnitude da compressão secundária pode ser expressa pela inclinação do trecho referido acima (no gráfico). Define-se normalmente a inclinação como: Cα = ∆e / ∆ log t Quanto mais plástico o solo, maior será sua compressão secundária. Isto é acentuado ainda mais com solos orgânicos e turfas, nas quais o fenômeno pode ser quase tão importante quanto o adensamento primário. A Tabela 8.2 apresenta alguns valores típicos de Cα. Tabela 8.2 – Valores típicos de Cα Tipo de solo Valores típicos de Cα Argilas com OCR > 2 < 0,001 argilas com OCR = 1,0 0,005 a 0,02 solos muito plásticos ou orgânicos > 0,03 Há também um método empírico para determinar o recalque devido a compressão secundária. Este método deve-se a Buisman que propõe a seguinte expressão: ∆H = H0 . (αp + αs . log t ) ∆σ’ onde: ∆H = recalque devido a compressão secundária Ho = espessura inicial da camada de argila αp e αs = valores obtidos em ensaios de laboratório t = tempo ∆σ’ = acréscimo de tensão efetiva média na camada in situ ' 1 0 1 σα ∆⋅ ∆= h h p e ( ) ' 1 0 110 σα ∆⋅ ∆−∆= h hh s onde : h1 = recalque após 1 dia com carga constante h10 = recalque após 10 dias com carga constante Notas de Aula - Mecânica dos Solos 158 8.17 Recalques por Colapso (colapsividade) Certos tipos de solos não saturados, constituídos por um esqueleto sólido, cujos poros são muito grandes,denominados macroporos, às vezes visíveis a olho nu, por isso são chamados de porosos, quando sob uma pressão qualquer maior que o peso de terra que está atuando nele, for saturado por inundação, ocorre uma súbita compressão com o surgimento de recalques imediatos. O processo que leva a ocorrência do colapso, em solos parcialmente saturados, é um mecanismo complexo envolvendo características estruturais do solo, histórico de tensões, propriedades físico- químicas do fluído percolante, bem como a forma (velocidade) de migração desse fluído no solo. O fenômeno ocorre porque os grãos são simplesmente ligados pelo contato entre si, ou fracamente cimentados ou mantidos unidos pelas forças capilares que devido a inundação provoca o colapso da estrutura do solo e conseqüentemente os recalques imediatos. A inundação, ou seja, a saturação destes solos pode se dar por vários motivos, como chuvas, lançamento de água servida, vazamentos de redes de água pluviais e esgotos, elevação do lençol freático, etc. VARGAS (1973) definiu um coeficiente de colapso (i) estrutural obtido no ensaio de adensamento: 01 e ei + ∆= quando i > 0,02 (2%) o solo seria colapsível (Figura 8.20) Recentemente em projetos de irrigação na Bahia, no metrô do Distrito Federal, e em obras civis e rodoviárias da Região Central e Oeste do Estado de São Paulo, como enchimento de lagos e reservatórios de usinas hidrelétricas, etc. têm-se verificado a influência do estado do solo (porosidade, teor de umidade e estrutura) nos recalques diferenciais devido ao colapso. Em geral estes solos são permeáveis (k = 10-3 cm/s) e possuem baixa compacidade (Nspt < 4). Figura 8.20 - Curvas de adensamento de solos porosos (Vargas, 1977). 0 P1 P2 Pressão Ín di ce d e va zi os (e ) ∆e – colapso na pressão P1 e i saturada a uma pressão genérica P1 não saturada previamente saturada Notas de Aula - Mecânica dos Solos 159 8.18 Recalques Recalques são deslocamentos verticais que todas as fundações apresentam. Em geral, deve-se classificar os recalques de fundações diretas em recalque imediato (elástico), recalque por adensamento, e compressão secundária (creep). ∆H = ∆Hi + ∆Ha + ∆Hcs onde: ∆Hi = recalque imediato ou recalque elástico resultante da distorção do solo a volume constante, presente em todos os materiais; ∆Ha = recalque por adensamento resultante da dissipação do excesso de pressão neutra, típico de solos argilosos saturados (recalques ocorrem ao longo do tempo); ∆Hcs = recalque secundário evolui com o tempo, porém a tensões efetivas constantes (após a dissipação das pressões neutras); A magnitude dos recalques depende da magnitude das tensões não geostáticas (tensões resultantes de carregamento externo) desenvolvidas no solo e das propriedades dos solos atingidos pelo acréscimo (∆σ’) destas tensões. Para o cálculo das tensões não geostáticas e dos recalques imediatos utiliza-se à teoria da elasticidade. O cálculo dos recalques por adensamento é feito com base na teoria do adensamento. O cálculo dos recalques secundários é feito com base em métodos empíricos. Recalques em solos granulares são predominantemente imediatos. Como para a utilização da teoria da elasticidade é necessário o conhecimento das propriedades elásticas dos materiais e estes solos são difíceis de serem amostrados e ensaiados em laboratório, emprega-se na prática uma série de métodos empíricos e semi-empíricos. O método mais utilizado para a previsão de recalques em solos granulares é a extrapolação de resultados de ensaios SPT. Os métodos mais conhecidos são o de Terzaghi e Peck (1945), Meyerhof (1965), SPT-Estatístico de Burland, Broms e de Mello (1977), SPT-Estatístico de Schultze e Sherif (1973) e extrapolação de provas de cargas - Bazarra (1967). O recalque total em solos argilosos será a soma do recalque imediato, recalque por adensamento e recalque secundário ou secular. Quando ocorrem carregamentos do tipo rápido (não drenado) em solos argilosos saturados, utiliza-se a teoria da elasticidade para a previsão de recalques imediatos da camada. O recalque vertical imediato de uma camada submetida a um carregamento superficial Q (tensão) pode ser obtido através da expressão: ( ) E BQCdHi 21 µ−⋅⋅⋅=∆ onde: ∆Hi = recalque vertical imediato Cd = fator de forma e rigidez B = diâmetro ou largura da área carregada µ = coeficiente de Poisson E = módulo de elasticidade do solo O recalque por adensamento e secundário já foi visto nos itens 8.13 e 8.16. ∑=∝ = ⋅−⋅⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ⋅⋅−= n n TMe Hd zMsen M Uz 0 221 )12( 2 +⋅= nM π Notas de Aula - Mecânica dos Solos 160 8.18 Exercícios 1) Estime o recalque total da camada argilosa da Figura 1. Considere que foi construído, no nível do terreno, um reservatório circular de 7 m de diâmetro, submetendo ao solo uma pressão de 100 kN/m2 (1 kg/cm2). Coletou-se com um amostrador “shelby” no meio da camada compressível uma amostra representativa. Foi realizado um ensaio de adensamento, cuja curva e x log σ’ está representado na Figura 2. Resp: ∆H = 0,29 cm 2) Para o problema anterior, e os resultados do ensaio de adensamento da Figura 3 (curva recalque x tempo). Determine os recalques em 5 meses, 1 ano e 2 anos. (Faça um gráfico). Resp: ∆H 5 meses = 0,077 cm; ∆H 1 ano = 0,118 cm; ∆H 2 anos = 1,67 cm 3) A altura inicial de uma amostra é hi = 1,9 cm e o seu índice de vazios é 1,5. Ao realizar-se um ensaio de adensamento, a altura da amostra se reduz para 1,3 cm. Qual será seu índice de vazios final? Resp: e = 0,711 ∆P =∆σ = 100 kN/m2 A γ = 14 kN/m3 N.A. - 7,0 m Argila mole Areia compacta γsat = 18 kN/m3 - 4,0 m - 3,0 m 0,0 m N.T. γsat = 20 kN/m3 e0 = 1,2 Argilito (impermeável) σ’vm Figura 2 Índice de vazios (e) Tensão vertical (log) kN/m2 Cr Cc Cr = 0,01 Cc = 0,8 σ’vm = 220 kN/m2 d0 = 0 % Figura 3 Altura da amostra (cm) Tempo (min) (log) “Casagrande” d100 = 100 % t50 = 4 min. Hd50 = 1,6 cm 50 2196,0 t HdCv ⋅= Notas de Aula - Mecânica dos Solos 161 4) Em um ensaio de adensamento uma amostra com 4 cm de altura exigiu 24 horas para atingir um determinado grau de adensamento. Calcule o tempo que uma camada do mesmo material, com 8m de espessura, sob as mesmas condições de carregamento, atinja o mesmo grau de adensamento. Resp: t2 = 109,59 anos 5) Uma camada com 3m de espessura, de uma argila NA, tem um índice de vazios igual a 1,5 e um índice de compressão de 0,5. Se a tensão vertical efetiva existente sobre esta camada de argila é duplicada, qual será a variação de espessura da camada de argila? Resp: ∆H = 18,062 cm 6) Estima-se que o recalque total de uma estrutura (estrutura 1) será de 30 cm. Já outra estrutura (estrutura 2), construída sobre a mesma camada de argila, mas 20% mais espessa que aquela sobre a qual foi construída a estrutura “1”, provoca o mesmo acréscimo médio de tensão (∆σ) que o provocado pela estrutura ”2”. Estime o recalque total da estrutura “2”. (Figura 4). Resp: ∆H2 = 36 cm 7) Sobre o perfil da figura 5, foi lançado um aterro de 2,5 m de espessura e peso específico de 20 kN/m2. a) estimar o recalque total da camada de argila compressível. b) na superfície deste aterro será executado um piso industrial que admite no máximo recalques de 15 cm. Qual o tempo mínimo necessário deespera para a construção deste piso, para que não ocorram problemas. Resp: a) ∆H = 23,25 cm; b) t = 122 dias Estrutura 1 H2 = 1,2 H1 N.T. e0 Figura 4 Estrutura 2 e0 H1 ∆σ’1 ∆σ’2 A γ = 18 kN/m3 N.A. - 11,5 m Argila Compressível Areia Fina γsat = 21 kN/m3 - 5,50 m - 2,75 m 0,0 m N.T. γsat = 20 kN/m3 e0 = 1,2 Cv = 8,4 .10-8 m2/s Cr = 0,02 Cc = 0,6 σ’vm = 95 kN/m2 Figura 5 Aterro γ = 20 kN/m3 + 2,50 m Areia Grossa Notas de Aula - Mecânica dos Solos 162 8) O período de execução de uma estrutura se estendeu de janeiro de 1999 a janeiro de 2001. Em janeiro de 2004 o recalque médio atingido foi de 12,7 cm. Sabendo-se que o recalque total da estrutura será superior a 38 cm, estimar o recalque que ocorrerá até janeiro de 2009. Como a origem dos tempos para efeito do computo dos recalques é tomado no meio do período construtivo, temos que em quatro anos o recalque da estrutura atingiu 12,7cm. Resp: ∆H2 = 19,05 cm 9) A análise dos recalques de uma estrutura indicou um recalque de 7,6 cm. Depois de 4 anos e um recalque total de 25,4 cm. A análise foi baseada na hipótese de que a camada de argila era drenada em ambas as faces (superior e inferior); entretanto há algumas indicações de que talvez não haja drenagem na face inferior da camada de argila. Baseado nesta nova hipótese calcular o recalque total da estrutura e o tempo necessário para que 7,6 cm de recalque seja atingido. Resp: t1 = 16 anos 10) Uma ponte cujos pilares terão fundação rasa será construída num terreno cujo perfil geológico é apresentado abaixo. O aumento de pressão causado pela carga dos pilares no centro da camada de argila será de 1,6 kg/cm2. Sendo dados os resultados de um ensaio de compressão confinada sobre uma amostra indeformada retirada do centro da camada de argila calcular: a) O recalque total dos pilares; b) O tempo para atingir 95 % do recalque total a ser atingido; c) O tempo para que os pilares recalquem 10 cm; Tabela de leitura do extensômetro versus tempo para a pressão de 2,1 kg/cm2. Leitura do extesômetro para e0 = 0,000 Altura inicial da amostra = 2,539 cm Área da amostra = 31,66 cm2. Notas de Aula - Mecânica dos Solos 163 Tempo Leitura extensômetro min seg cm x 10-4 0 0 345 0 6 436 0 15 450 0 30 470 1 0 495 2 15 535 4 0 565 6 15 585 9 0 600 16 0 611 25 0 620 42 15 624 70 0 630 140 0 631 255 0 649 Resp: a) ∆H = 32,6 cm; t = anos N.A. - 8,0 m Argila Areia fina compacta - 6,0 m - 4,0 m 0,0 m N.T. S = 10 %; e0 = 1,2 LL = 9 %; γm = 2,15 t/m3 γm = 2,15 t/m3 Perfil geológico do terreno Amostra Areia fina compacta Notas de Aula - Mecânica dos Solos 164 UNIDADE 9 – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS 9.1 Introdução Qualquer obra de engenharia que envolve conhecimentos geotécnicos deve necessariamente responder a pergunta, pode ocorrer a ruptura? Para respondê-la, deve-se equacionar diversas solicitações envolvidas na obra e verificar se o solo resiste a estas solicitaçãos, determinando-se a resistência ao cisalhamento mobilizada pelo solo. Portanto, qualquer ponto no interior de uma massa de solo é solicitado por forças devido ao peso proprio do solo e as forças externas aplicadas. Os esforços resistentes do solo são chamados de tensões, cuja intensidade é medida pela força por unidade de área. A ruptura de um solo, representada de maneira ideal, se produz por cisalhamento ao longo de uma superfície de ruptura, ocorre o deslizamento de uma parte do maciço sobre uma zona de apoio que permanece fixa. A lei de cisalhamento é a relação que une, no momento da ruptura e ao longo da superfícies de ruptura a tensão normal ou tensão de compressão (σ) e a tensão tangencial ou tensão de cisalhamento (τ), conforme esta representado na Figura 9.1. Estabilidade de taludes em encostas naturais Estabilidade de taludes em barragens Aterro sobre solos moles Muros de arrimo, cortinas atirantadas e estruturas de contenção Capacidade de carga de fundações Figura 9.1 - Exemplos típicos da influência da resistência ao cisalhamento dos solos. Pi Ti Ni N.A. N.A. ATERRO Camada de solo compressível Su Pi Ti Ni N.T. N.T. E τ RESISTENTE τ ATUANTE N.T. Ti N.T. Ti Ni Ni Q Notas de Aula - Mecânica dos Solos 165 Qualquer problema de ruptura em Mecânica dos Solos envolve, portanto, uma superfície de ruptura, a qual poderá ser definida a priori como aquela onde, em todos os seus pontos, a tensão de cisalhamento atinge o valor limite da resistência ao cisalhamento do solo. A resistência ao cisalhamento de um solo em qualquer direção é a tensão de cisalhamento máxima que pode ser aplicada à estrutura do solo naquela direção. Quando este máximo é atingido, diz-se que o solo rompeu, tendo sido totalmente mobilizada a resistência do solo. Os problemas de resistência dos solos são usualmente analisados empregando-se os conceitos do "equilíbrio limite", o que implica considerar o instante de ruptura, quando as tensões atuantes igualam a resistência do solo, sem atentar para as deformações. Exemplos típicos onde a determinação da resistência ao cisalhamento do solo é que condiciona o projeto, são as análises de estabilidade de taludes (aterros e cortes), empuxos sobre muros de arrimo ou qualquer estrutura de contenção, capacidade de carga de sapatas e estacas. Na Figura 9.1, estão representados de forma esquematica estas solicitações citadas acima. O fator de segurança (F) contra a ruptura é calculado como a razão entre as forças estabilizadoras e as forças instabilizadoras: forças estabilizadoras F = forças instabilizadoras As forças estabilizadoras são função dos parâmetros de resistência do solo (coesão e ângulo de atrito interno). As forças que atuam ao longo da superfície de ruptura arbitrada devem resistir à força aplicada no elemento de fundação. Estas aplicações, e outras, serão vistas em detalhes nas disciplinas de Obras de Terra e Fundações. 9.1.1 Tensões no solo Os problemas de resistência dos solos são usualmente analisados empregando-se os conceitos do “equilíbrio limite”, o que implica considerar o instante de ruptura, quando as tensões atuantes igualam a resistência do solo, sem atentar para as deformações. Em qualquer ponto da massa do solo existem três planos ortogonais onde as tensões cisalhantes são nulas. Estes planos são chamados “planos principais de tensões”. Portanto, as tensões normais recebem o nome de tensões principais, onde a maior das tensões atuantes é chamada tensão principal maior (σ1), a menor é chamada tensão principal menor (σ3), e a terceira é chamada tensão principal intermediária (σ2). Em Mecânica dos Solos, normalmente, despreza-se a tensão principal intermediária (σ2). Embora “σ2” influencie na resistência ao cisalhamento dos solos, seus efeitos não são perfeitamente compreendidos. No perfil geotécnico da Figura 9.2, supondo k0 < 1, temos: - σv’0 = γ . z = σ1 (tensão principal maior) - σh’0 = k0 . σ’v0 = σ3 (tensão principal menor) Figura 9.2 - Tensões em um ponto da massa de solo. σz σy σx τxy τyz τyx τxz τxz τxy ∆σ σ = tensões normais (positiva – compressão) τ = tensões cisalhantes (positiva – sentido horário) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 166 A maior parte dos problemas de Mecânica dos Solos permitem soluções considerando um estado de tensões no plano, istoé, trabalha-se com um estado plano de tensões ou estado duplo de tensões. Admitindo-se esta simplificação, trabalha-se somente com as tensões atuantes em duas dimensões. Mais especificamente procura-se o estado de tensões no plano que contêm as tensões principais σ1 e σ3. Conhecida a magnitude e direção de σ1 e σ3 é possível encontrar as tensões normal e cisalhante em qualquer outra direção, conforme as equações desenvolvidas a seguir, como mostra a Figura 9.3. Figura 9.3 – Determinação das tensões atuantes no plano. ∑ Forças na direção de “τα” (tangencial ao plano bb) τα . A = σ1 . A . cos α . sen α - σ3 . A . sen α . cos α τα = (σ1 - σ3 ) . cos α . sen α I.T. → cos α . sen α = sen 2 α ασστ α 22 )( 31 sen⋅−= → τα máx. (α = 90º ou 180º) ∑ Forças na direção de “σα” (normal ao plano bb) σα . A = σ1 . A . cos α . cos α + σ3 . A . sen α . sen α σα = σ1 . cos2 α + σ3 . sen2 α I.T. → 2 ).2cos1(cos2 αα += e 2 ).2cos1(sen 2 αα −= ασσσσσ α .22 )( 2 )( 3131 cos⋅−++= → σα máx. (α = 0º) b σ1 α σ1 σ3 σ3 b σα τα τα σα σ3.A.sen α α (σ3.A.sen α).cos α(σ3.A.sen α).sen α σ1.A.cos α (σ1.A.cos α).cos α (σ1.A.cos α).sen α α α σ3 σ1 σ σ1.A.cos α σ.A σ3.A.sen α A A.cos α A .se n α α α τ τ Notas de Aula - Mecânica dos Solos 167 9.1.2 Círculo de Mohr O estado de tensões em todos os planos passando por um ponto podem ser representados graficamente em um sistema de coordenadas em que as abcissas são as tensões normais (σ) e as ordenadas são as tensões de cisalhamento (τ), conforme a Figura 9.4. O círculo de Mohr tem seu centro no eixo das abcissas. Desta forma, ele pode ser construído quando se conhecerem as duas tensões principais, ou as tensões normais e de cisalhamento em dois planos quaisquer. Conhecendo-se σ1 e σ3 traça-se o círculo de Mohr. A inclinação (α) do plano principal maior (PPM), permite determinar o ponto P (pólo), traçando-se por σ1 uma reta com esta inclinação. Procedimento idêntico pode ser utilizado traçando-se por σ3 uma paralela ao plano principal menor (ppm). A Figura 9.5 mostra como determinar o pólo e as tensões na ruptura. Qualquer linha reta traçado através do pólo ou origem dos planos (ponto P) intersecionará o circulo em um ponto que representa as tensões sobre um plano inclinado de mesma direção desta linha. Figura 9.4 - Representação do estado de tensões através do diagrama de Mohr. A resultante de “τ” e “σ” no plano bb é: OA = R = 22 στ + ; e tem uma obli- quicidade “θ” igual a tg θ = τ / σ. Figura 9.5 - Determinação do pólo e das tensões na ruptura através do círculo de Mohr. σ α τ σ1 σ3 b b PPM ppm σ1 σ τ O α A τ σ PPM ppm P b b b σ1 α σ1 σ3σ3 b σα τα τα σ α τ σ1 σ3 b b PPM ppm P σ1 σ τ σ3 O 2α α τα σα R P Notas de Aula - Mecânica dos Solos 168 Alguns exemplos de aplicação do circulo de Mohr estão apresentados a seguir: Exemplo 1: Dado o estado de tensões apresentado abaixo, determine as tensões que atuam no plano BB. Solução: traçe o circulo de Mohr e determine o pólo P (lembre-se que as tensões normais de compressão são positivas, bem como as tensões cisalhantes com direção no sentido anti-horário). Traçe uma linha paralela ao plano “bb” passando pelo pólo. O ponto (A) em que esta linha intercepta o circulo de Mohr corresponde às tensões atuantes no plano “bb”. OBS: o ângulo α = 60º, é aquele formado entre o plano de cisalhamento (BB) e o plano PPM; Usando as equações: º120 2 )2040(2 2 )( 31 sensen ⋅−=⋅−= ασστ α = 10 . 0,87 = - 8,7 kN/m2 (Giro horário) º120 2 )2040( 2 )2040(.2 2 )( 2 )( 3131 coscos ⋅−++=⋅−++= ασσσσσα = 30 + 10.(-0,5) = 25,0 kN/m2 Exemplo 2: Dado o estado de tensões da figura abaixo, determine as tensões no plano horizontal “dd”. b b 40 kN/m2 20 kN/m2 20 kN/m2 40 kN/m2 30º 20 kN/m2 40 kN/m2 25 kN/m2 8,7 30º α = 60º d d 40 kN/m2 20 kN/m2 20 kN/m2 40 kN/m2 60º 20 kN/m2 40 kN/m2 8,7 α = 30º 35 kN/m2 10 0 - 10 10 20 30 40 b b P A ppm 25 - 8,7 A (σα , τ α ) PP M τ (kN/m2) σ (kN/m2) 10 0 - 10 10 20 30 40 B P A ppm 35 8,7 d d A (σα , τ α ) PPMτ (kN/m2) σ (kN/m2) Notas de Aula - Mecânica dos Solos 169 Usando as equações: º60 2 )2040(2 2 )( 31 sensen ⋅−=⋅−= ασστ α = 10 . 0,87 = 8,7 kN/m2 (Giro anti-horário) º60 2 )2040( 2 )2040(.2 2 )( 2 )( 3131 coscos ⋅−++=⋅−++= ασσσσσα = 30 + 10.0,5 = 35,0 kN/m2 9.1.3 Tensões totais, efetivas e neutras O principio básico introduzido por Terzaghi que em solos saturados a tensão efetiva é igual a diferença entre a tensão total e a tensão neutra : σ' = σ - u . As tensões de cisalhamento em qualquer plano são independentes da poro-pressão, pois a água não transmite esforços de cisalhamento. As tensões de cisalhamento são devidas somente à diferença entre as tensões normais principais e esta diferença é a mesma, tanto quanto se consideram as tensões efetivas como as tensões totais, como se verifica pela fórmula proposta por Terzaghi. Os círculos de Mohr para os dois tipos de tensão tem, portanto, o mesmo diâmetro. Na Figura 9.6 esta representado o efeito da poro-pressão no círculo de Mohr. Figura 9.6 - Efeito da tensão neutra ou poro-pressão no círculo de Mohr. O círculo de tensões efetivas se situa deslocado para a esquerda em relação ao círculo de tensões totais de um valor igual à tensão neutra (u). Tal fato é decorrente da tensão neutra atuar hidrostaticamente (igual em todas as direções), reduzindo as tensões normais totais em todos os planos de igual valor. No caso de tensões neutras negativas, o deslocamento do círculo é para a direita. 9.2 Resistência ao cisalhamento dos solos Define-se como resistência ao cisalhamento do solo como a máxima pressão de cisalhamento que o solo pode suportar sem sofrer ruptura, ou a tensão de cisalhamento do solo no plano em que a ruptura ocorre no momento da ruptura. Em Mecânica dos Solos, a resistência ao cisalhamento envolve duas componentes: atrito e coesão. σ’3 σ τ σ3 σ’1 σ1 u u Tensão efetiva Tensão total σ’1 = σ1 – u σ’3 = σ3 – u 2 31 σστ −=máx 2 '' ' 31 σστ −=máx τ’máx = τmáx Notas de Aula - Mecânica dos Solos 170 9.2.1 Atrito O atrito é função da interação entre duas superfícies na região de contato. A parcela da resistência devido ao atrito pode ser simplificadamente demonstrada pela analogia com o problema de deslizamento de um corpo sobre uma superfície plana horizontal (Figura 9.7). Figura 9.7 - Atrito entre dois corpos no instante do deslizamento. A resistência ao deslizamento (τ) é proporcional à força normal aplicada (N), segundo a relação: T = N . f onde “f” é o coeficiente de atrito entre os dois materiais. Para solos, esta relação é escrita na forma: τ = σ . tg φ onde “φ” é o ângulo de atrito interno do solo, “σ” é a tensão normal e “τ” a tensão de cisalhamento. Nos materiais granulares (areias), constituídasde grãos isolados e independentes, o atrito é um misto de escorregamento (deslizamento) e de rolamento, afetado fundamentalmente pela entrosagem ou embricamento dos grãos. Tal fato não invalida a aplicação da equação anterior a materiais granulares. A Figura 9.8 mostra os tipos de movimentos de materiais granulares quanto submetidos a esforços cortantes. Enquanto no atrito simples de escorregamento entre os sólidos o ângulo de atrito “φ” é praticamente constante, o mesmo não ocorre com os materiais granulares, em que as forças atuantes, modificando sua compacidade e portanto, acarretam variação do ângulo de atrito “φ”, num mesmo solo. Portanto, o ângulo de atrito interno do solo depende do tipo de material, e para um mesmo material, depende de diversos fatores (densidade, rugosidade, forma, etc.). Por exemplo, para uma mesma areia o ângulo de atrito desta areia no estado compacto é maior do que no estado fofo (φ densa > φ fofa). Figura 9.8 - Atrito entre materiais granulares. N T T R N φ Notas de Aula - Mecânica dos Solos 171 9.2.2 Coesão A resistência ao cisalhamento do solos é essencialmente devido ao atrito. Entretanto, a atração química entre partículas (potencial atrativo de natureza molecular e coloidal), principalmente, no caso de estruturas floculadas, e a cimentação de partículas (cimento natural, óxidos, hidróxidos e argilas) podem provocar a existência de uma coesão real. Segundo Vargas (1977), de uma forma intuitiva, a coesão é aquela resistência que a fração argilosa empresta ao solo, pelo qual ele se torna capaz de se manter coeso em forma de torrões ou blocos, ou pode ser cortado em formas diversas e manter esta forma. Os solos que têm essa propriedade chamam-se coesivos. Os solos não-coesivos, que são areias puras e pedregulhos, esborroam-se facilmente ao serem cortados ou escavados. Utilizando a mesma analogia empregada no item anterior, suponha que a superfície de contato entre os corpos esteja colada, conforme esquema da Figura 9.9. Nesta situação quando N = 0, existe uma parcela da resistência ao cisalhamento entre as partículas que é indepente da força normal aplicada. Esta parcela é definida como coesão verdadeira. N → 0 (Nula) T = c (coesão) Figura 9.9 - Resistência ao cisalhmanento devido à coesão. A coesão é uma característica típica de solos muito finos (siltes plásticos e argilas) e tem-se constatado que ela aumenta com: a quantidade de argila e atividade coloidal (Ac); relação de pré- adensamento; diminuição da umidade. A coesão verdadeira ou real definida anteriormente deve ser distinguida de coesão aparente. Esta última é a parcela da resistência ao cisalhamento de solos úmidos (parcialmente saturados), devido à tensão capilar da água (pressão neutra negativa, ver item 7.19 capilaridade), que atrai as partículas. No caso da saturação do solo a coesão tende a zero. 9.3 Resistência dos solos Nos solos estão presentes os fenômenos de atrito e coesão, portanto, determina-se a resistência ao cisalhamento dos solos (τ), segundo a expressso: τ = c + σ . tg φ ou S = c + σ . tg φ onde “τ” é a resistência ao cisalhamento do solo, "c" a coesão ou intercepto de coesão, "σ" a tensão normal vertical e "φ" o ângulo de atrito interno do solo. A Figura 9.10 apresenta graficamente está expresssão. Figura 9.10 - Representação gráfica da resistência ao cisalhamento dos solos c T σ τ = c + σ . tg φ τ c φ Notas de Aula - Mecânica dos Solos 172 Como princípio geral, deve ser fixado que o fenômeno de cisalhamento é basicamente um fenômeno de atrito e que, portanto, a resistência ao cisalhamento dos solos depende, predominantemente, da tensão normal ao plano de cisalhamento. 9.4 Critérios de ruptura de Mohr-Coulomb O diagrama de Mohr, como definido anteriormente, apresenta o estado de tensões em torno de um ponto da massa de solo. Para determinar-se a resistência ao cisalhamento do solo (τ), são realizados ensaios com diferentes valores de σ3, elevando-se σ1 até a ruptura, conforme está representado na Figura 9.11. Cada círculo de Mohr representa o estado de tensões na ruptura de cada ensaio. A linha que tangência estes círculos é definida como envoltória de ruptura de Mohr. A envoltória de Mohr é geralmente curva, embora com freqüência ela seja associada a uma reta. Esta simplificação deve-se a Coulomb, e permite o cálculo da resistência ao cisalhamento do solo conforme a expressão já definida anteriormente: τ = c + σ . tg φ . Figura 9.11 - Envoltória de ruptura de Mohr. Para melhor compreensão do conceito de envoltória de ruptura, apresenta-se quatro estados de tensões associados a um ponto. Estado 1 - A amostra de solo está submetida a uma pressão hidrostática (igual em todos as direções). O estado de tensão deste solo é representado pelo ponto σ3 e a tensão cisalhante é nula. Envoltória de Mohr 15 10 5 0 5 10 15 20 σ (kg/cm2) τ ( kg /c m 2 ) Envoltória de Mohr αr 2αr τ ταr .σ αr σ σ1 σ3 Plano de falha σ3 σ1 αr σ3 σ1 τ = c + σ . tg φ τ c φ σ3 = σ1 σ3 σ3 σ3 σ3 Notas de Aula - Mecânica dos Solos 173 Estado 2 - O circulo de Mohr está inteiramente abaixo da envoltória. A tensão cisalhante (τα) no plano de ruptura é menor que a resistência ao cisalhamento do solo (τ) para a mesma tensão normal. Não ocorre ruptura. Estado 3 - O círculo de Mohr tangência a envoltória de ruptura. Neste caso atingiu-se, em algum plano, a resistência ao cisalhamento do solo e ocorre a ruptura. Esta condição ocorre em um plano inclinado a um ângulo "α critico" com o plano onde atua a tensão principal maior. Estado 4 - Este círculo de Mohr é impossível de ser obtido, pois antes de atingir-se este estado de tensões já estaria ocorrendo ruptura em vários planos, isto é, existiria planos onde as tensões cisalhantes seriam superiores à resistência ao cisalhamento do solo. 9.5 Ensaios para determinação da resistência ao cisalhamento do solos 9.5.1 Ensaio de cisalhamento direto O ensaio de cisalhamento direto é executado em uma caixa metálica bipartida (Figura 9.12.a), deslizando-se a metade superior do corpo de prova em relação à inferior. O corpo de prova é inicialmente comprimido pela forca normal “N”, seguindo-se a aplicação da forca cisalhante “T”. σ1 σ τ = c + σ . tg φ τ c φ σ3 α = 45º + φ/2 Plano de maior fraquesa para solos σ1 σ1 σ3 σ3 α σ1 σ1 σ3 σ3 α σ τ = c + σ . tg φ τ φ σ3 τα < τr 2α NÃO OCORRE RUPTURA σ1 σ τ = c + σ . tg φ τ c φ σ3 τα = Sα 2α r αr LIMITE DE RUPTURA Notas de Aula - Mecânica dos Solos 174 Esta força impõe um deslocamento horizontal (∆l) à amostra até a ruptura do corpo de prova (que ocorre ao longo do plano XX). Para cada tensão normal aplicada (σ = N/A), obtém-se um valor de tensão cisalhante de ruptura (τ = Tcis/A), permitindo o traçado da envoltória de resistência. A Figura 9.12.b apresenta a prensa de cisalhamento direto com suas principais partes. As curvas tensão cisalhante por deformação, variação de volume por deformação e a envoltória de resistência estão representadas na Figura 9.13, itens a, b e c, respectivamente. O ensaio de cisalhamento direto é sempre drenado, devendo ser executado lentamente para impedir o estabelecimento de pressões neutras nos poros da amostra. A relação entre altura e o diâmetro do corpo de