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Prof. Dr. Walter Oliveira REFERÊNCIA: MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais – Investigações em Psicologia Social. Petrópolis: Vozes, 2003. Discussão do Texto: I – O FENÔMENO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 1 - O pensamento considerado ambiente 1.1 – Pensamento primitivo, ciência e senso comum Pensamento primitivo – o pensamento é visto como se agisse sobre a realidade Pensamento científico – o pensamento é uma reação à realidade Psicologia Social (Pensamento Científico) Pressupostos: a) Os indivíduos normais reagem a fenômenos, pessoas ou acontecimentos do mesmo modo que os cientistas ou estatísticos b) Compreender consiste em processar informações Nós que fazemos a Psicologia Social, percebemos o mundo como todos os outros, mas temos a necessidade de compreender a realidade corretamente. 1) Nós não estamos conscientes de algumas coisas bastante óbvias que estão diante dos nossos olhos; Ex: “invisibilidade” de determinadas pessoas por conta de idade ou etnia. 2) Nós muitas vezes percebemos que alguns fatos que aceitamos sem discussão, que são básicos a nosso entendimento, repentinamente transformam-se em mera ilusão; Ex: durante anos tivemos a “percepção” de que o sol girava em torno da Terra. 3) Nossas reações aos acontecimentos, nossas respostas aos estímulos, estão relacionadas a determinada definição comum a todos os membros de uma comunidade à qual nós pertencemos. Ex: um carro tombado na estrada que logo é interpretado como um acidente, mas que em outro contexto pode ter outra interpretação. Em cada um desses casos, notamos a intervenção de representações que tanto nos orientam em direção ao que é visível como àquilo a que nós temos de responder; ou que relacionam a aparência à realidade; ou de novo àquilo que define essa realidade. Sem o uso de instrumentos e técnicas científicas, nós nunca conseguimos nenhuma informação que não tenha sido distorcida por representações “superimpostas” aos objetos e às pessoas que lhes dão certa vaguidade e as fazem parcialmente inacessíveis. As representações possuem basicamente duas funções: a) Convencionalizam objetos, pessoas ou acontecimentos que encontram. Ex: associar a terra a redonda, comunismo a vermelho, inflação a decréscimo de dinheiro. - Podemos, através de um esforço, tornar-se consciente do aspecto convencional da realidade e então escapar de algumas exigências que ela impõe em nossas percepções e pensamentos. Mas nós não podemos imaginar que podemos libertar-nos sempre de todas as convenções, ou que possamos eliminar todos os preconceitos. - Ao invés de tentar refutar, melhor descobrir e explicitar a representação. b) As representações são prescritivas - Elas se impõem sobre nós com uma força irresistível; - Essa força é uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que nós comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o que deve ser pensado. Ex: elementos da psicanálise ou de alguma outra abordagem da Psicologia que aparecem em filmes, histórias, meio social. - As representações são impostas, transmitidas e são um produto de uma sequência completa de elaborações e mudanças ocorridas no decurso do tempo e são o resultado de sucessivas gerações. Todos os sistemas de classificação, todas as imagens e todas as descrições que circulam dentro de uma sociedade, mesmo as descrições científicas, implicam um elo de prévios sistemas e imagens, uma estratificação na memória coletiva e uma reprodução na linguagem que, invariavelmente, reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informação presente. Todas as interações humanas, surjam elas entre duas pessoas ou entre dois grupos, pressupõem representações. Na realidade é isso que as caracteriza. O que é importante é a natureza da mudança, através da qual as representações sociais se tornam capazes de influenciar o comportamento do indivíduo participante de uma coletividade. É dessa maneira que elas são criadas, internamente, mentalmente, pois é dessa maneira que o próprio processo coletivo penetra, como fator determinante, dentro do pensamento individual. Pessoas e grupos criam representações no decurso da comunicação e da cooperação. Representações não são criadas por um indivíduo isoladamente. Uma vez criadas, as representações adquirem uma vida própria circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem. Quanto mais sua origem é esquecida e sua natureza convencional é ignorada, mais fossilizada ela se torna. O que é ideal, gradualmente torna-se materializado. Cessa de ser efêmero, mutável e mortal e torna-se, em vez disso, duradouro, permanente, quase imortal. Na opinião do autor, a tarefa principal da psicologia social é estudar tais representações, suas propriedades, suas origens e seu impacto. Nenhuma outra disciplina dedica-se a essa tarefa e nenhuma está melhor equipada para isso. 2.1 Behaviorismo como o estudo das representações sociais O autor acredita que vivemos em um mundo behaviorista, praticando uma ciência behaviorista e usando metáforas behavioristas. O estudo das representações deve ir além disso. Quando estudamos representações sociais, nós estudamos o ser humano, enquanto ele faz perguntas e procura respostas ou pensa e não enquanto ele processa informação, ou se comporta. Ao fazermos a pergunta: o que é uma sociedade pensante?, nós rejeitamos ao mesmo tempo a concepção que, acredita o autor, é predominante nas ciências humanas, de que uma sociedade não pensa, ou se pensa, esse não é um atributo especial seu. O negar que uma sociedade “pense” pode assumir formas diferentes: a) Afirmar que nossas mentes são pequenas caixas-pretas, dentro de uma caixa-preta maior, que simplesmente recebe informação, palavras e pensamentos que são condicionados de fora, a fim de transformá-los em gestos, juízos, opiniões, etc. b) Assegurar que grupos e pessoas estão sempre e completamente sob controle de uma ideologia dominante, que é produzida e imposta por sua classe social, pelo estado, igreja ou escola e que o que eles pensam e dizem apenas reflete tal ideologia. O que o autor sugere é que pessoas e grupos, longe de serem receptores passivos, pensam por si mesmos, produzem e comunicam incessantemente suas próprias e específicas representações e soluções às questões que eles mesmo colocam. Nas ruas, bares, escritórios, hospitais, laboratórios, etc. as pessoas analisam, comentam, formulam “filosofias” espontâneas, não oficiais, que têm um impacto decisivo em suas relações sociais, em suas escolhas, na maneira como eles educam seus filhos, como planejam seu futuro, etc. Os acontecimentos, as ciências e as ideologias apenas lhes fornecem o “alimento para o pensamento”. 2.2 Representações Sociais As representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos. A representação iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem. As representações “corporificam ideias” em experiências coletivas e interações em comportamento. “Nós não sabemos quase nada dessa alquimia que transforma a base metálica de nossas ideias em ouro de nossa realidade. Como transformar conceitos em objetos ou em pessoas é o enigma que nos pré-ocupou por séculos e que é o verdadeiro objetivo de nossa ciência, como distinto de outras ciências que, na realidade, investem no inverso”(p. 48). “ Para sintetizar: se, no sentido clássico, as representações coletivas se constituem em um instrumento explanatório e se referem a uma classe geral de ideias e crenças (ciências, mito, religião, etc.), para nós, são fenômenos específicos que estão relacionados com um modo particularde compreender e de se comunicar – um modo que cria tanto a realidade como o senso comum.”(p.49)
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