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CURSO: DIREITO DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL II PROFESSOR: ADAILTON FEITOSA FILHO TÓPICO 1 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 1. A organização do Estado refere-se à forma de Estado. FORMA DE ESTADO: distribuição do poder no território do Estado. o Classificação Tradicional: Estados Simples ou Unitários Centralizados ou Puros Descentralizados Estados Compostos Confederação Federação1 o Classificação Atual: Estados Unitários Simples, Centralizados ou Puros Desconcentrados Descentralizados Estados Regionais Estados Autonômicos Estados Federais Estados Unitários: neles há somente um centro de poder político, pois o governo nacional tem a direção de todos os negócios públicos (centralização política)2, podendo existir uma mera descentralização 1 Existem, ainda, os modelos arcaicos denominados: a) União Pessoal – constitui a união precária de Estados soberanos que, mantendo seu próprio ordenamento, são governados por um só Chefe de Estado (ocorreu, comumente, nas monarquias, quando da transmissão de dinastias); e b) União Real – representa a associação de Estados em torno de um objeto comum que, conservando uma organização interna própria (autonomia e existência individual), apresentam-se sob uma mesma unidade externa, ou seja, uma única pessoa jurídica de direito internacional (Ex: Império Austro-Húngaro sob o reinado de Francisco José). 2 Cf. LIMA, Euzébio de Queiroz. Teoria do Estado. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1943, p. 225: “O Estado Unitário é a expressão típica da organização política; uma única autoridade de Governo, uma única legislação, uma única organização administrativa, 2 administrativa e, em alguns casos, relativa autonomia política, ou seja, departamentos, municípios, distritos executando as decisões políticas já tomadas ou decidindo concretamente sobre o comando emanado do governo central. Tais autarquias territoriais criadas pelo poder central não possuem a faculdade de legislar3 (não são entidades políticas).4 o Estados Unitários Simples, Centralizados ou Puros – É um modelo de Estado nacional teórico, concebível apenas em micro-Estados não divididos em regiões administrativas desconcentradas ou descentralizadas. 5 o Estados Unitários Desconcentrados – Neste modelo, o Estado nacional é dividido, conforme a dimensão territorial, geralmente, em até quatro níveis administrativos: regiões, departamentos ou províncias, comunas ou municipalidades, regionais ou distritos. Esses órgãos territoriais desconcentrados não constituem esferas de poder autônomas, apresentando-se tão-somente como representantes do poder central (as decisões dependem do poder central). o Estados Unitários Descentralizados – Nesses Estados Unitários, os entes descentralizados territoriais autônomos (regiões, departamentos ou províncias, comunas ou municipalidades, regionais ou distritos) elegem seus órgãos dirigentes, têm personalidade jurídica própria e recebem por lei nacional competências administrativas (não precisam se reportar ao poder central nem podem sofrer ingerência no exercício de suas competências). Ex: França. Estado Regional: É o modelo italiano de Estado, cujas regiões autônomas recebem do poder central, através de lei nacional, competências administrativas e legislativas ordinárias, elaborando seu próprio estatuto – nos limites da lei nacional – sob controle direto do Estado nacional. Na Itália existem quatro níveis de competências estendem-se uniformemente sobre todo o território, sobre toda a comunidade nacional. O Estado unitário é o Estado padrão.” 3 Nos Estados Unitários, existem apenas uma fonte de Direito (nacional), que se estende uniformemente sobre todo o território. 4 Nos Estados Unitários, existem apenas um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Judiciário, todos centralizados. 5 Cf. MOTA, Leda Pereira; SPITZCOVSKY, Celso. Curso de direito constitucional. 4. ed. atual. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999, p. 72: “[o Estado unitário puro], que se caracteriza por uma absoluta centralização do exercício do Poder, tendo em conta o território do Estado, não encontra exemplo histórico, evidentemente, por não ter condições de garantir que o Poder seja exercido de maneira eficiente.” 3 administrativas (o Estado nacional, a região, a província e a comuna), dois níveis de competências legislativas ordinárias (o legislativo nacional e o legislativo regional) e um judiciário nacional (embora desconcentrado). Estado Autonômico: É o modelo espanhol de descentralização (administrativa e legislativa ordinária) do Estado, no qual as províncias se reúnem, formando regiões autônomas, que elaboram seu estatuto de autonomia (incorporando, ou não, todas as competências destinadas às regiões pela Constituição de 1978), através de uma assembléia, submetendo-o à aprovação das Cortes Gerais (parlamento). O estatuto é uma lei especial que não pode ser modificada por lei ordinária oriunda do parlamento espanhol, mas pode ser revista de cinco em cinco anos, quando a região autonômica poderá, inclusive, reivindicar competências que a Constituição espanhola tenha reservado ao Estado nacional. Estados Compostos: formados por dois ou mais Estados que se unem por diversos motivos. o Confederação – é a união contratual de Estados soberanos (fundada em tratado internacional), com o objetivo de defender o território, assegurar a paz interior ou outra razão estratégica (militar ou não) a ser pactuada.6 Os Estados confederados mantêm sua personalidade jurídica, não estão submetidos a um poder central, e possuem o direito de secessão7 (podem denunciar o tratado e retirar-se, a qualquer momento, da Confederação). Ex: Confederação norte- americana, Confederação Suíça ou Helvética.8 o Federação9 - é a união de várias unidades territoriais interiores dotadas de autonomia política10 (estados, províncias, 6 Cf. JELLINEK. Teoría general del Estado. México: Continental, 1956. Apud Accioli, Wilson. Teoria geral do Estado. Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 272: “A Confederação é a união permanente de Estados independentes, união que assenta-se num pacto, pelo qual se unem os Estados com o objetivo de proteger o território da Confederação exteriormente e assegurar entre eles a paz interior.” 7 Cf. LIMA, Euzébio de Queiroz. Teoria do Estado. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1943, p. 236: “A Confederação é uma forma instável de união política; a união só pode existir enquanto aos Estados componentes convier; os Estados guardam como corolário natural de sua soberania política a possibilidade de, a todo tempo, se desligarem da União; os Estados não foram feitos para o acordo, mas o acordo para os Estados.” 8 Tais confederações evoluíram para a forma federativa de Estado. 9 Nasceu da experiência norte-americana (Constituição de 1787). 10 Cf. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 248: “Autonomia é a margem de descrição de que uma pessoa goza para decidir sobre os seus negócios, mas sempre delimitada essa margem pelo próprio direito. Daí 4 cantões, länder). A soberania11 pertence apenas ao Estado Federal (entidade de direito internacional). O Estado Federal pode resultar: 1) da união de Estados que anteriormente eram soberanos (movimento centrípeto, agregação); ou 2) da divisão de um Estado Unitário(movimento centrífugo, segregação)12. Ex: EUA, Brasil, Suíça, Argentina. IMPORTANTE: A União exerce atribuições de soberania em nome do Estado Federal, mas não é soberana. 2. Princípios gerais de uma organização federalista: Constituição é a base jurídica, onde os entes federativos vão haurir seu poder; Rigidez constitucional, com o estabelecimento de cláusulas pétreas protetivas dos princípios federalistas; Atenção! A Federação é cláusula pétrea (art. 60, § 4º, I, CF). Não serão admitidas emendas constitucionais (poder constituinte derivado) tendentes a abolir o Estado Federal. Nacionalidade única para os cidadãos nascidos nas entidades federativas; Repartição constitucional de competências entre as entidades federativas, “de modo que os governos central e regionais sejam, cada um dentro de sua esfera, coordenados e independentes”13; porque se falar que os Estados-membros são autônomos, ou que os municípios são autônomos: ambos atuam dentro de um quadro ou de uma moldura jurídica definida pela Constituição Federal. Autonomia, pois, não é uma amplitude incondicionada ou ilimitada de atuação na ordem jurídica, mas, tão-somente, a disponibilidade sobre certas matérias, respeitados, sempre, os princípios fixados na Constituição.” 11 Cf. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 248: “Soberania é o atributo que se confere ao poder do Estado em virtude de ser ele juridicamente ilimitado. Um Estado não deve obediência jurídica a nenhum outro Estado. Isso o coloca, pois, numa posição de coordenação com os demais integrantes da cena internacional e de superioridade dentro do seu próprio território, daí ser possível dizer da soberania que é um poder que não encontra nenhum outro, acima dela, na arena internacional, e nenhum outro que lhe esteja nem mesmo em igual nível na ordem interna.” 12 Cf. PINTO FERREIRA. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 264: “[a Federação pode ser] provocada por movimento nacional, pacífico ou revolucionário, quando as antigas províncias conseguem autonomia constitucional e participação na criação da vontade federal.” 13 BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria geral do federalismo. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 24. 5 Distribuição constitucional de rendas entre as entidades federativas (esfera própria de competência tributária); Possibilidade de intervenção nas unidades regionais para manutenção do equilíbrio federativo; Participação das entidades parciais na formação da vontade central;14 Indissolubilidade do vínculo federativo; Atenção! Não é admissível o direito de secessão, em face do princípio da indissolubilidade do vínculo federativo (art. 1º c/c art. 18, CF), cuja tentativa de separação permitirá a decretação de intervenção federal (art. 34, I, CF). Existência de órgão de cúpula do Poder Judiciário guardião da Constituição (controle de constitucionalidade); Autonomia política das entidades federativas caracterizada pelas seguintes capacidades: o Capacidade de auto-organização: “poder constituinte decorrente” (edição de Constituição Estadual e Lei Orgânica do DF/Municípios)15; o Capacidade normativa (autolegislação ou normatização própria): ter suas próprias leis; o Capacidade de auto-administração: administração própria dos seus interesses, por meio do exercício de suas competências administrativas, legislativas e tributárias; o Capacidade de autogoverno: o próprio povo escolhe diretamente seus representantes nos Poderes Legislativo e Executivo locais, existindo ainda o Poder Judiciário Estadual – todos organizados pela entidade federativa nos moldes descritos pela Constituição Federal (vide arts. 27, 28 e 125, CF). 3. A União é a ordem central, que se forma pela reunião de partes, através de um pacto federativo, assumindo um papel interno (execução das atividades gerais de regulamentação de toda a sociedade) e outro externo (representação do país) – o que alguns autores, equivocadamente, chamam de “dupla personalidade”: 14 No Brasil, os municípios não participam da formação da ordem jurídica nacional. 15 Antes da Constituição Federal de 1988, a competência de organização dos Municípios era dos Estados-membros, que produziam uma única Lei Orgânica para todos os entes locais que se encontrassem circunscritos ao seu território. 6 Internamente: a União é pessoa jurídica de direito público interno, entidade autônoma que compõe a Federação brasileira, agindo em nome de toda a Federação – ao intervir em um Estado-membro, ao editar uma lei nacional (o Código Penal) – ou em seu próprio nome – ao realizar uma obra pública, ao editar uma lei federal (o Estatuto dos Servidores Públicos da União); Externamente: representa, através de seus órgãos (art. 21, I, CF), a República Federativa do Brasil, que é pessoa jurídica de direito internacional. Ex: participar de organizações internacionais, declarar a guerra ou celebrar a paz. 3.1. Os Territórios não são dotados de autonomia política, porquanto se tratam de mera descentralização administrativo-territorial da União (autarquia territorial federal), não integrando a Federação brasileira. Atenção! Atualmente não existem territórios federais no Brasil16, mas é possível a criação de novos territórios, nos termos do art. 18, § 2º, CF (desmembramento de Estado, mediante aprovação da população diretamente interessada – plebiscito – e do Congresso Nacional, por lei complementar). IMPORTANTE: 1) Os territórios podem ser divididos em municípios (art. 33, § 1º, CF); 2) Os territórios terão – além do Governador nomeado pelo Presidente da República, após aprovação pelo Senado Federal (art. 84, XIV, CF) –, conforme a sua população (mais de 100.000 habitantes), uma estrutura mais complexa: órgãos judiciários de primeira e segunda instâncias17, membros do Ministério Público e defensores públicos federais, organizados e mantidos pela União (art. 33, § 3º, c/c art. 21, XIII, CF). 4. O Distrito Federal nasceu, inicialmente, da transformação do chamado município neutro (sede da Corte e capital do Império) em Capital da República Federativa (Constituição de 1891), dada à necessidade de uma área geográfica para o governo da União.18 Na Constituição de 1988, é ele 16 O primeiro território federal foi o do Acre (criado em 1904). Com o advento da Carta de 1988, os territórios de Roraima e Amapá foram transformados em Estados autônomos (art. 14, caput, do ADCT) e o território de Fernando de Noronha, reincorporado ao Estado de Pernambuco, na condição de distrito ou entidade autárquica estadual (art. 15 do ADCT c/c art. 96, Constituição Estadual). 17 A jurisdição e as atribuições cometidas aos juízes federais (Justiça Federal Comum) caberão aos juízes da justiça local, na forma da lei (art. 33, caput, c/c art. 110, parágrafo único, CF). 18 A Constituição de 1891, em seu art. 3º, já determinava: “fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 kilometros quadrados, que será 7 reconhecido como entidade federativa híbrida – reúne características de Estado e Município, ao incorporar as competências legislativas e tributárias estaduais e municipais (arts. 32, 147 e 155, CF) – e parcialmente tutelada – as polícias civil, militar e corpo de bombeiros militar19, como também o Poder Judiciário e o MinistérioPúblico do DF (arts. 21, XIII e XIV, e 22, XVII, CF, com a redação dada pela EC nº 69/2012) são organizados e mantidos diretamente pela União. IMPORTANTE: O Distrito Federal (entidade federativa) é a circunscrição territorial na qual está localizada Brasília, a Capital Federal (art. 18, § 1º, CF). Atenção! O Distrito Federal não pode ser dividido em municípios (art. 32, caput, CF). 5. Os Estados Federados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, as quais deverão observar: os princípios constitucionais sensíveis – são as normas constitucionais claramente perceptíveis, cuja inobservância poderá acarretar a sanção política mais grave num Estado Federal, qual seja, a intervenção nos Estados federados (art. 34, VII, CF); os princípios federais extensíveis – são as normas centrais que representam paradigmas para todas as entidades federativas, ou melhor, são as regras previstas para a organização da União, que por serem comuns aos demais entes da Federação, são de aplicação obrigatória na organização dos Estados federados. 20 (Ex: art. 2º, CF)21; e os princípios constitucionais estabelecidos – são as normas constitucionais que dirigem a capacidade de auto-organização do Estado, limitando-a, por meio da regulação prévia da matéria ou do estabelecimento de regras vedatórias (art. 19, CF). Podem ser subdivididas em: opportunamente demarcada, para nella estabelecer-se a futura Capital Federal. Effectuada a mudança da capital, o actual Distrito Federal passará a constituir um Estado.” 19 São subordinadas ao Governador do Distrito Federal e sua utilização é regulada por lei federal, conforme art. 32, § 4º, c/c art. 144, § 6º, CF (Súmula 647 do STF). 20 Cf. HORTA, Raul Machado. Estudos de direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 391-392: arts. 1º, I a V; 2º; 3º, I a IV; 4º, I a X; 5º, I, II, III, VI, VIII, IX, XI, XII, XX, XXII, XXIII, XXXVI, LIV e LVII; 6º a 11; 93, I a XI; 95, I, II e III. 21 Os Municípios não apresentam Poder Judiciário próprio. 8 o normas de competência22 (Ex: 25; § 2º, CF); e o normas de preordenação23 (ex: arts. 27, caput, § 1º, CF). 6. A Constituição de 1988 inovou no modelo da Federação brasileira quando previu os Municípios, expressamente, como unidades autônomas politicamente, indispensáveis ao sistema federativo brasileiro24 (arts. 1º, 18, 29, 30 e 34, VII, c, CF).25 6.1. A Lei Orgânica tem seu conteúdo básico mandamentalmente descrito na Carta Federal (art. 29, CF), que ainda determina a observância de certos parâmetros dentro dos quais se encontram os princípios da própria Constituição Federal, os princípios da Carta Estadual, as regras constitucionais destinadas especificamente à organização dos Municípios, dentre outras regras de condicionamento e observação obrigatórias, quais sejam: eleição do Prefeito, do Vice-prefeito – em dois turnos para os Municípios com mais de duzentos mil eleitores, com direito à reeleição por um único período subseqüente e posse no dia 1º de janeiro – e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o país no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder; composição da Câmara de Vereadores, conforme a população26 do Município, observados os limites constitucionais máximos27; 22 Cf. HORTA, Raul Machado. Estudos de direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 392-393: arts. 23; 24; 25; 27, § 3º; 75; 96, I, a-f, II, a-d, III; 98, I e II, 125, § 4º; 144, §§ 4º, 5º e 6º; 145, I, II e III; 155, I, a-c, II.. 23 Cf. HORTA, Raul Machado. Estudos de direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 393: arts. 27; 28; 37, I a XXI, §§ 1º a 6º; 39 a 41; 42, §§ 1º a 11; 75; 95, I, II e III, parágrafo único; 235, I a XI. 24 Cf. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 39: “[o Município é] entidade de terceiro grau, integrante e necessária ao nosso sistema federativo.” 25 Em sentido contrário, SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25 ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 475: “Não é porque uma entidade territorial tenha autonomia político-constitucional que necessariamente integre o conceito de entidade federativa. Nem o Município é essencial ao conceito de federação brasileira. Não existe federação de Municípios. Existe federação de Estados. Estes é que são essenciais ao conceito de qualquer federação.” 26 A composição da Câmara Municipal, na redação original do art. 29, IV, da Constituição Federal, deveria ser proporcional à população do Município, observando-se os limites mínimos e máximos do número de Vereadores previstos no texto constitucional, porquanto “(...) deixar a critério do legislador municipal o estabelecimento da composição das Câmaras Municipais, com observância apenas dos limites máximos e mínimos do preceito, é tornar 9 fixação dos subsídios do Prefeito, Vice-Prefeito e Secretários Municipais, por lei de iniciativa da Câmara, obedecido o subsídio sem sentido a previsão constitucional expressa da proporcionalidade.” (STF – Pleno – Rextr. nº 282.606/SP – Rel. Min. Maurício Corrêa, Diário da Justiça, Seção I, 21 maio 2004). Vide Resolução nº 21.702/04 do Tribunal Superior Eleitoral. 27 Art. 29, IV, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 57, de 23.9.2009: “a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze mil) habitantes; b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes; c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes; d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes; e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habitantes; f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil) habitantes; g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezentos mil) habitantes; h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes; i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes; j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos cinquenta mil) habitantes; k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000 (novecentos mil) habitantes; l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes; m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes; n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquentamil) habitantes; o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes; p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de até 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes; r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes; t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes; u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis milhões) de habitantes; v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete milhões) de habitantes; w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes.” 10 mensal pago, em espécie, aos Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 37, XI, CF) e as seguintes regras: o não podem ter tratamento tributário privilegiado (art. 150, II, CF); o vedada a sua exclusão da incidência do IR (art. 153, III, CF); o obrigatória a observância aos critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade (art. 153, § 2º, I, CF); fixação dos subsídios dos Vereadores pelas próprias Câmaras Municipais em cada legislatura para a subseqüente (regra da legislatura ou da anterioridade), observados os critérios estabelecidos na Lei Orgânica e os limites máximos definidos pela Constituição: o percentual variável (entre 20% e 75%) do subsídio do Deputado Estadual, com base na população do Município (limite individual direto – art. 29, VI, CF); o subsídio do Prefeito (teto remuneratório em âmbito municipal e limite individual direto – art. 37, XI, CF); o percentual (5%) da receita do município (limite total da despesa com “remuneração” [subsídios] dos Vereadores – art. 29, VII, CF); o percentual (70%) da “receita” [duodécimos28] da Câmara com folha de pagamento, incluídos os subsídios dos Vereadores (limite geral indireto – art. 29-A, § 1º, CF); o percentual (6%) da receita corrente líquida29 do município com as despesas com pessoal da Câmara, inclusive os subsídios dos Vereadores30 (limite geral indireto – art. 20, III, a, Lei Complementar nº 101 – LRF). imunidade material dos Vereadores (inviolabilidade pelas opiniões, palavras e votos que emitirem no exercício do mandato, na circunscrição do Município); proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares às estabelecidas constitucionalmente para os membros do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas, no que couber: o Desde a expedição do diploma (art. 54, I, CF): 28 Os duodécimos estão limitados ao valor total da despesa do Poder Legislativo Municipal (excluídos os gastos com inativos) definido pelo percentual variável (entre 5% e 8%) da receita tributária e transferências constitucionais (arts. 153, § 5º; 158 e 159, CF) efetivamente arrecadada no exercício anterior, com base na população do Município (art. 29-A, I, II, III e IV, § 2º, I, CF), bem como à proporção fixada na Lei Orçamentária (art. 29-A, § 2º, III, CF). 29 Art. 2º, IV, §§ 1º a 3º, Lei Complementar nº 101 – LRF. 30 Art. 18, caput, §§ 1º e 2º, Lei Complementar nº 101 – LRF. 11 Firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; Aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado (vide art. 38, III, CF), inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, em pessoas jurídicas de direito público, autarquia, empresas públicas, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público; o Desde a posse (art. 54, II, CF): Ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; Ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum, em pessoas jurídicas de direito público, autarquia, empresas públicas, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, ressalvado o de Ministro, de Governador de Território, de Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária (art. 56, CF); Patrocinar causa em que seja interessada pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público; Ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo. perrogativa de foro do Prefeito (julgamento perante o Tribunal de Justiça); organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara Municipal; cooperação das associações representativas no planejamento municipal; iniciativa popular de projetos de lei de interesse local (município, cidade ou bairros), mediante manifestação mínima de 5% do eleitorado; perda do mandato do Prefeito, pela assunção de outro cargo ou função na Administração Pública (29, XIV c/c art. 28, § 1º, CF). 12 6.2. A Lei Orgânica é o documento disciplinador no âmbito municipal das competências exclusivas do Município, observadas as peculiaridades locais, das competências comuns e das concorrentes-suplementares. 7. O território da República Federativa do Brasil não pode ser desfalcado de qualquer das entidades federativas (art. 1º, caput, c/c art. 34, I, CF), mas a sua divisão político-administrativa interna é mutável. A Constituição Federal, pois, prevê a possibilidade de transformação dos Estados e Municípios (art. 18, §§ 3º e 4º, CF). Quais as hipóteses de transformação? o fusão (incorporação entre si) – todos os entes existentes perdem a personalidade primitiva, surgindo um novo Estado; o subdivisão (cisão) – o todo originário é separado em várias partes, formando cada qual uma unidade independente das demais, com perda da personalidade primitiva; o desmembramento/formação – uma ou mais partes de um todo são separadas, criando unidades autônomas, sem perda da identidade do ente primitivo (é desfalcado apenas de um pedaço do território e de parcela da população); o desmembramento/anexação (incorporação) - uma ou mais partes de um todo são separadas, anexando-se a outro ou outros entes, sem perda da personalidade primitiva ou criação de nova entidade. Como são transformados os Estados? o Plebiscito, ou seja, ouvir previamente a população diretamente interessada (manifestação negativa vinculante); o Audiência das Assembléias Legislativas dos Estados interessados (manifestação meramente opinativa31); o Lei complementar federal específica. Como são transformados os Municípios? 32 o Lei complementarfederal genérica definindo os períodos em que podem ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados Municípios;33 31 As Assembléias Legislativas opinarão, sem caráter vinculativo, sobre a matéria, e fornecerão ao Congresso Nacional os detalhamentos técnicos concernentes aos aspectos administrativos, financeiros, sociais e econômicos da área geopolítica afetada (art. 4º, § 3º, Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998). 32 Emenda Constitucional nº 15/96. 33 Em 04/07/2003, o Projeto de Lei Complementar nº 41/03 (PLC nº 184/02 no Senado Federal) foi vetado, integralmente, pelo Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, por 13 o Lei ordinária federal genérica definindo os requisitos para a elaboração e divulgação dos estudos de viabilidade econômica; o Plebiscito, ou seja, consultar previamente a população de todos os municípios envolvidos e não apenas das áreas a serem desmembradas (manifestação negativa inviabiliza a apreciação do projeto de lei estadual); o Lei ordinária estadual específica.34 inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público, com base nos pareceres do Ministério da Justiça ["não disciplina a matéria com clareza, uma vez que, em face da redação que lhe foi conferida (...) deixa para o aplicador da lei pressupor, de forma vaga, que o período de tramitação do procedimento em análise vai da posse dos Prefeitos até dez meses antes da data prevista para a realização das eleições municipais, fato que, a nosso ver, não oferece a necessária segurança jurídica ao intérprete da norma proposta.”] e do Ministério das Cidades: ["A Constituição Federal de 1988 elevou os municípios à condição de componentes da estrutura federativa (...) E as linhas básicas de instituição dos Municípios, como proclamado pela nossa Corte Constitucional, seu regime jurídico e as normas regentes de sua criação interessam não apenas ao Estado-membro, mas à estrutura do Estado Federal. Tais normas regentes, por conseguinte, não podem se limitar à definição do período próprio para o processamento. (...) Assim o que se deseja é que a Lei Complementar Federal, no interesse da Federação, defina o período e os critérios mínimos reclamados pelo dispositivo constitucional conforme o magistério da nossa Corte Suprema. (...) A criação de municípios diz respeito à dimensão populacional e territorial e à sustentabilidade financeira das novas unidades, entre outros critérios. Se não é adequado que se mantenha congelado o processo de criação de municípios, também não é salutar que se prive a Federação de regramentos mínimos que devem orientar tal processo de criação."]. Em 15/11/2013, a Presidente Dilma Rousseff, atendendo à recomendação do Ministério da Fazenda, vetou totalmente o substitutivo da Câmara dos Deputados ao Projeto de Lei Complementar do Senado (PLS) nº 98/2002, porquanto a sanção permitiria “a expansão expressiva do número de municípios do país, resultando em aumento de despesas com a manutenção de sua estrutura administrativa e representativa. Esse crescimento de despesas não será acompanhado por receitas equivalentes, o que impactará negativamente a sustentabilidade fiscal e a estabilidade macroeconômica.”, segundo as razões do veto. Por último, em 27/08/2014, a Presidente Dilma Rousseff, ouvindo novamente o Ministério da Fazenda, vetou o substitutivo da Câmara dos Deputados ao Projeto de Lei Complementar do Senado (PLS) nº 104/2014, considerando a seguinte justificativa: “Embora se reconheça o esforço de construção de um texto mais criterioso, a proposta não afasta da responsabilidade fiscal na federação. Depreende-se que haverá aumento de despesas com as novas estruturas municipais sem que haja a correspondente geração de novas receitas.” 34 O Congresso Nacional, procurando evitar que 56 municípios brasileiros – criados pelos Estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, Piauí, Alagoas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Bahia, após a promulgação da Emenda Constitucional nº 15/96 – fossem simplesmente reintegrados ao município-mãe, editou a Lei nº 10.521, de 18.7.2002: “É assegurada a instalação dos Municípios cujo processo de criação teve início antes da promulgação da Emenda Constitucional nº 15, desde que o resultado do plebiscito 14 IMPORTANTE: Nas consultas plebiscitárias, entende-se por população diretamente interessada tanto a do território que se pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento; em caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer anexar quanto a da que receberá o acréscimo; e a vontade popular se aferirá pelo percentual que se manifestar em relação ao total da população consultada. (art. 7º, Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998). 8. Vedações constitucionais de natureza federativa estabelecidas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (art. 19, CF): Estabelecer cultos religiosos ou igreja, subvencioná-los, ou manter relação de dependência ou aliança, admitindo-se a colaboração em matéria de interesse público, em áreas como, por exemplo, a educação, a assistência social e a saúde (subvenção à escola, creche ou hospital mantidos por entidade religiosa). Atenção! Não existe religião oficial, o Estado brasileiro é laico35 (separação e independência entre o Estado e a igreja), mas não ateu (vide preâmbulo constitucional). Recusar fé aos documentos públicos, em face do princípio de veracidade dos documentos expedidos pelas diversas esferas governamentais, os quais gozam de presunção relativa de legitimidade ou juris tantum. Não esquecer! A polícia não pode simplesmente não acreditar na carteira de identidade de um suspeito (o documento é válido até prova em contrário). Criar distinções entre brasileiros, dado o princípio da igualdade (art. 5º, caput e inciso I, CF). tenha sido favorável e que as leis de criação tenham obedecido à legislação anterior”. Ulteriormente, diante da declaração de inconstitucionalidade de diversas leis estaduais, associada ao reconhecimento da mora legislativa na regulamentação do art. 18, § 4º, pelo STF, o Congresso Nacional tratou de alterar a Constituição Federal, inserindo o art. 96 ao ADCT: “Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação” (EC nº 57, de 18.12.2008). 35 O laicismo estatal não pode importar em qualquer forma de discriminação religiosa, consoante os arts. 3º, IV, e 5º, VI, VII e VIII, da Constituição Federal. 15 Atenção! Somente a Constituição Federal pode criar distinções entre brasileiros natos e naturalizados (arts. 12, §§ 2º e 3º, CF).36 Criar preferências entre si, visto que os entes federados se encontram num mesmo plano (vide arts. 151, I, e 152, CF). IMPORTANTE: A imunidade tributária recíproca é corolário também desse princípio (art. 150, VI, a, CF). 36 A Constituição Federal não proíbe que o estrangeiro receba tratamento diferenciado dos nacionais, resguardados os seus direitos fundamentais (art. 5º, caput, CF).
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