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PROJETO DE PESQUISA O REGISTRO DA MULTIPARENTALIDADE NA SERVENTIA DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS LUAN MARTINS LEMOS

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12
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI – CÂMPUS DE SANTIAGO
 
PROJETO DE PESQUISA
O REGISTRO DA MULTIPARENTALIDADE NA SERVENTIA DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
LUAN MARTINS LEMOS
Santiago
2016
LUAN MARTINS LEMOS
O REGISTRO DA MULTIPARENTALIDADE NA SERVENTIA DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Projeto de Pesquisa apresentado a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Câmpus de Santiago, Departamento de Ciências Sociais Aplicadas, Curso de Graduação em Direito, como requisito para elaboração da monografia de conclusão de curso.
ORIENTADOR: Professor Mestre Thiago Marchionatti Uggeri.
Santiago
2016
LUAN MARTINS LEMOS
O REGISTRO DA MULTIPARENTALIDADE NA SERVENTIA DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Projeto de Pesquisa submetido à Comissão Julgadora do Curso de Graduação em Direito – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Câmpus de Santiago como parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Bacharel em Direito.
Comissão Julgadora:
_________________________
Professor Thiago Marchionatti Uggeri, Mestre em Direito
Orientador
__________________________
Profª.
Examinadora
__________________________
Profª.
Examinadora
Santiago, ____ de novembro de 2016.
SUMÁRIO
1 TEMA	5
2 DELIMITAÇÃO DO TEMA	5
3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA	5
4 OBJETIVOS	5
4.1 OBJETIVO GERAL	5
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS	6
5 JUSTIFICATIVA	6
6 EMBASAMENTO TEÓRICO	7
7 METODOLOGIA	15
8 SUMÁRIO PRÉVIO	15
9 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES	15
10 REFERÊNCIAS	17
1 TEMA
O registro da multiparentalidade na Serventia de Registro Civil das Pessoas Naturais.
2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
O presente tema será delimitado da seguinte forma: primeiro, aborda-se a doutrina e a jurisprudência a respeito dos fatores determinantes para reconhecimento da multiparentalidade. Depois, será estudada a disciplina registral, relativamente ao Registro Civil das Pessoas Naturais, fazendo uma abordagem legal, doutrinária e pragmática. Por fim, serão analisadas as decisões e interpretações jurisprudenciais, bem como a legislação existente sobre o registro da multiparentalidade no Registro Civil das Pessoas Naturais do Estado do Rio Grande do Sul. A presente pesquisa pretende analisar de que forma se procede o registro civil da pessoa natural que possui o vínculo familiar mencionado.
3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Recentemente, houve o reconhecimento jurídico da existência de diversas formas de composição da família e a valorização da filiação socioafetiva, com a sua equiparação com a filiação biológica. Além disso, tende-se a possibilitar o registro da multiparentalidade no Registro Civil das Pessoas Naturais, viabilizando-se que o filho faça constar no seu registro civil o nome de dois pais ou duas mães, por exemplo. Nesse sentido, indaga-se: como será efetuado o registro da multiparentalidade na Serventia de Registro Civil das Pessoas Naturais?
4 OBJETIVOS
4.1 OBJETIVO GERAL
	
Analisar o reconhecimento jurídico da multiparentalidade e os procedimentos a serem realizados pelo Registrador Civil quando da elaboração de registro com reconhecimento de vínculo multiparental.
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS	
a) Abordar o posicionamento de doutrinadores a respeito dos fatores determinantes para a solidificação de uma entidade familiar contemporânea e o reconhecimento da multiparentalidade;
b) Estudar o Registro Civil das Pessoas Naturais na legislação e na prática registral;
c) Pesquisar as decisões, interpretações jurisprudenciais e legislação existentes acerca do registro da multiparentalidade no Registro Civil das Pessoas Naturais do Estado do Rio Grande do Sul;
5 JUSTIFICATIVA
A multiparentalidade nada mais é do que o reconhecimento da existência comum da filiação socioafetiva com a filiação biológica. O Direito de Família contemporâneo procura projetar ao Ordenamento Jurídico tudo aquilo que vem de encontro aos interesses pessoais dos integrantes do grupo social formador da base da sociedade, ou seja, a família.
Ao me deparar com o tema proposto, percebi que não muito rara era a possibilidade de encontrar no mundo fático a existência de pessoas possuindo o vínculo parental afetivo e o biológico (ou consanguíneo) concomitantemente.
Seja pela separação dos genitores, pela morte de algum deles, ou até mesmo pelo motivo de nunca terem coabitado, o fato que proporciona a existência da multiparentalidade é a relação que o filho possui com uma pessoa diferente da do genitor ou genitora, a qual considera como pai ou mãe, e que exerce a posse do estado de filho por tempo determinante e perante a sociedade.
Além disso, tive a oportunidade de realizar estágio em uma Serventia do Registro Civil das Pessoas Naturais e pude me deparar com adversidades diárias estabelecidas naquele local, desde a elaboração de um registro de nascimento, passando pelos procedimentos do casamento até a realização de um registro de óbito. 
Com a existência de modelos preexistentes constantes na legislação percebe-se que o Registrador deve se deter somente àquilo moldado na Lei, não podendo dispor de método diverso, mesmo sabendo que a realidade fática é outra e que a inobservância dessa realidade fática poderá acarretar vários problemas às pessoas envolvidas.
Nesse sentido é que considero de relevância ímpar o estudo deste recente assunto jurídico, tendo em vista que por ser juridicamente novo, a legislação pátria ainda não é unânime quanto às decisões proferidas, aos posicionamentos doutrinários e até mesmo quanto a própria existência e possibilidade legal da multiparentalidade.
A multiparentalidade vem causando grande tumulto porque veio a facilitar a solidificação de diversas formas de entidades familiares, distintas daquelas estabelecidas com base no vínculo matrimonial e que visavam somente à proteção do patrimônio. Com isso, o Direito de Família passou a tutelar a proteção das pessoas e as relações interpessoais existentes entre elas. As famílias contemporâneas são baseadas no respeito, na afetividade, na solidariedade e carinho existente entre as pessoas.
Acredito que o Direito deva dar relevância para tudo aquilo que constitui o motivo da sua própria existência, isto é, a organização da vida em sociedade, não podendo ignorar aquilo que ainda não existe juridicamente, tendo em vista a constante mudança da vida no seio social.
6 EMBASAMENTO TEÓRICO
	
Com o objetivo de compreender o tema proposto é imprescindível analisar a complexidade do conceito de entidade familiar e como isso possibilita a consumação da multiparentalidade.
Desde a Constituição Federal (1988), as estruturas familiares adquiriram novos contornos. Nas codificações anteriores, somente o casamento merecia reconhecimento e proteção. Os demais vínculos familiares eram condenados à invisibilidade. A partir do momento em que as uniões matrimonializadas deixaram de ser reconhecidas como a única base da sociedade, aumentou o espectro da família. As entidade familiares compostas a partir de um elo de afetividade eram excluídas do âmbito da juridicidade (DIAS, 2015, p. 49).
Flávio Tartuce (2016, p. 1.383) aduz que “os vínculos familiares são complexos, não cabendo um modelo fechado para resolver os numerosos problemas que surgem na realidade contemporânea”. Em razão disso, levando-se em conta que a sociedade contemporânea é pluralista, a família também o deve ser para todos os fins. Assim surge um novo fato determinante para as relações familiares, que é o fenômeno da afetividade, como formador de relações familiares e objeto de proteção estatal, não sendo o caráter biológico o critério exclusivo na formação do vinculo familiar.
	Nesse sentido Maria Berenice Dias (2015, p. 43) preleciona que é no direito das famílias onde mais se sente o reflexo dos princípios que a Constituição Federal consagra como valoressociais fundamentais, e que não podem se distanciar da atual concepção da família, com sua feição desdobrada em múltiplas facetas, havendo princípios especiais que são próprios das relações familiares e devem servir de norte na hora de apreciar qualquer relação que envolva questões de família, despontando entre eles os princípios da solidariedade e da afetividade.
	A Constituição Federal, por exemplo, trouxe de forma expressa em seu art. 226 a previsão de que a família é base da sociedade, tendo o Estado o dever de provê-la especial proteção:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010)
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
	Com relação a isso, prevalece tanto na doutrina quanto na jurisprudência o entendimento de que o rol constitucional familiar inserido no art. 226 da Constituição Federal é exemplificativo e não taxativo. Soma-se a isso, no sentido da inclusão e alargamento de proteção das diversas formas de entidade familiar, o fato de que leis específicas contribuem com conceitos ampliados de família, como no caso da Lei Maria da Penha e na Lei de Adoção (TARTUCE, 2016, P. 1203). Vejamos:
ALei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) dispõe em seu artigo 5º, inciso II:
Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I – [...];
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. [1: BRASIL. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006. Presidência da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 07 Out. 2016.]
Nesse sentido, a Lei de Adoção (Lei 12.010/2009), também consagrou o conceito de família extensa ou ampliada, com vista à desbiologização da entidade familiar.
Conforme Flávio Tartuce:
Consagra o conceito de família extensa ou ampliada, que vem a ser aquela que se estende para além da unidade de pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (TARTUCE, 2016, p. 1.205).
Assim, considerando que essas leis mais recentes já ostentam o conceito de família com vista à valorização do afeto e interação existente entre as pessoas, qualquer projeto de lei que procure restringir o conceito de família é visto como inconstitucional, como é o caso do Estatuto da Família, de autoria do deputado Anderson Ferreira (PR-PE), em trâmite no Congresso Nacional (TARTUCE, 2016, p. 1.204).
	O texto do PL 6583/2013, que não trata o assunto da melhor forma, reconhece como família apenas “a entidade familiar formada a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou de união estável, e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus filhos”. [2: BRASIL. PL 6583/2013. Dispõe sobre o Estatuto da Família e da outras providências. Disponível em: <http://www.camara.gov.br /proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=597005>. Acesso em: 03 Out. 2016.]
A Constituição Federal, ao garantir especial proteção à família, estabeleceu as diretrizes do direito das famílias em grandes eixos, a saber: (a) a igualdade entre homens e mulheres na convivência familiar; (b) o pluralismo das entidades familiares merecedoras de proteção; e (c) o tratamento igualitário entre todos os filhos. Essas normas, por serem direito subjetivo com garantia constitucional, servem de obstáculo a que se operem retrocessos sociais, o que configuraria verdadeiro desrespeito às regras constitucionais. Assim, quando é alcançado determinado grau de concretização de uma norma constitucional definidora de direito social, fica o legislador proibido de suprimir ou reduzir os direitos definidos por ela (DIAS, 2015, p. 51).
Todas as alterações que ocorreram na família se refletem nos vínculos de parentesco. Com a evolução da engenharia genética e o surgimento das mais diversas formas de reprodução assistida, os vínculos de parentesco não podem ficar limitados à verdade biológica. A própria Constituição Federal (227 § 6.º) encarregou-se de alargar o conceito de entidade familiar ao não permitir distinções entre filhos. Ocorreu verdadeira desbiologização da paternidade-maternidade-filiação e, consequentemente, do parentesco em geral. Nesse mesmo sentido é o que ocorre com a parentalidade socioafetiva, onde a afetividade tem o mais relevante papel jurídico. Assim, deve-se buscar um conceito plural de paternidade, de maternidade e de parentesco (GAMA apud DIAS, 2015, p. 377).
Além disso, o parentesco pode ser conceituado através do vínculo biológico, do vínculo da afinidade e, ainda, do vínculo civil. No presente estudo, abordaremos de forma mais clara a relação existente através do parentesco civil. Para Flávio Tartuce (2016, p. 1.366):
[...] O parentesco civil é aquele decorrente de outra origem, que não seja a consanguinidade ou a afinidade, conforme consta do art. 1.593 do CC. Tradicionalmente, tem origem na adoção. Todavia, a doutrina e a jurisprudência admitem duas outras formas de parentesco civil. A primeira é decorrente da técnica de reprodução heteróloga, aquela efetivada com material genético de terceiro. A segunda tem fundamento na parentalidade socioafetiva, na posse do estado de filhos e no vínculo social do afeto. Nesse sentido, o Enunciado n° 103 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil: “O Código Civil reconhece, no art. 1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo, assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental proveniente quer das técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu com seu material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado de filho”. Em complemento, o Enunciado n° 256 do CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil: “A posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil” [...].
	O afeto ganhou grande relevância jurídica quando o legislador conseguiu se desfazer dos paradigmas patrimonialistas do Direito de Família e passou a valorizar os princípios da dignidade humana, solidariedade e do maior interesse da criança e do adolescente, vindo, atualmente, a afetividade ser considerada como princípio do Direito de Família contemporâneo, mesmo não constando expressamente no texto da Carta Maior.
	Corroborando com esse entendimento merecem destaque as palavras da juspsicanalista Giselle Câmara Groeninga, para quem:
O papel dado à subjetividade e à afetividade tem sido crescente no Direito de Família, que não mais pode excluir de suas considerações a qualidade dos vínculos existentes entre os membros de uma família, de forma que possa buscar a necessáriaobjetividade na subjetividade inerente às relações. Cada vez mais se dá importância ao afeto nas considerações das relações familiares; aliás, um outro princípio do Direito de Família é o da afetividade” (GROENINGA, apud, TARTUCE, 2016, p. 1.193).
	Nesse sentido é que foi aprovado o Enunciado nº 519 da V Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, com a seguinte redação: “O reconhecimento judicial do vínculo de parentesco em virtude de socioafetividade deve ocorrer a partir da relação entre pai(s) e filho(s), com base na posse do estado de filho, para que produza efeitos pessoais e patrimoniais”. [3: BRASIL. Conselho da Justiça Federal (STJ). Enunciados das Jornadas de Direito Civil. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/588>. Acesso em 07 Out. 2016.]
	Em outra Jornada, ocorrida no ano de 2002, já previam a aplicação da parentalidade socioafetiva. O Enunciado n° 108 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil ensina: “No fato jurídico do nascimento, mencionado no Art. 1.603, compreende-se à luz do disposto no Art. 1.593, a filiação consanguínea e também a socioafetiva”.[4: BRASIL. Conselho da Justiça Federal (STJ). Enunciados das Jornadas de Direito Civil. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/588>. Acesso em 07 Out. 2016.]
	Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2015, p. 300):
A parentalidade socioafetiva nada mais é do que o reconhecimento de vínculo parental de acordo com a realidade vivida entre as pessoas, ou seja, a realidade segundo a qual uma pessoa é recepcionada no âmbito familiar, sendo neste criada e educada, tal como se da família fosse.
O legislador busca, através dos princípios do Direito, dar a aplicação da norma de maneira mais favorável à pessoa, tanto é que muitas vezes prefere o princípio a norma positivada. Esse fato ocorre pela certeza de que o princípio antecede a elaboração da norma, servindo como alicerce para a criação e orientação do ordenamento jurídico. 
Com relação à parentalidade socioafeiva, verifica-se que o legislador optou dar relevância ao caso concreto e à realidade social em vista dos preceitos jurídicos preexistentes, trazendo ao primeiro patamar a importância do afeto existente entre duas pessoas que exercem a situação fática de pai(s) e filho(s), sem deixar de lado, é claro, a existência e a responsabilidade da filiação biológica.
Como bem pontua Maurício Bunazar, “a partir do momento em que a sociedade passa a encarar como pais e/ou mães aqueles perante os quais se exerce a posse do estado de filho, juridiciza-se tal situação [...]” (BUNAZAR, apud, TARTUCE, 2016, p. 1.383).
Flávio Tartuce menciona ainda que para a caracterização da posse de estado de filhos são utilizados os clássicos critérios relativos à posse de estado de casados, conceito que constava do art. 203 do Código Civil de 1916 e que está no art. 1.545 do Código Civil de 2002, sendo:
O primeiro deles é o tratamento, relativo ao fato de que, entre si e perante a sociedade, as partes se relacionam como se fossem unidas pelo vínculo de filiação, ou seja, como pais e filhos.
A fama ou reputatio, segundo critério, constitui uma repercussão desse tratamento, constituindo o reconhecimento geral da situação que se concretiza socialmente. A entidade familiar é analisada de acordo com o meio social, como projeção natural da expressão “base da sociedade”, conforme consta do art. 226, caput, da Constituição Federal de 1988.
Por fim, com tom complementar e acessório, há o nome (nomen), presente quando a situação fática revela que o declarado filho utiliza o sobrenome do suposto pai. Alerte-se que é levado em conta não somente o nome registral civil, mas também o nome social, especialmente nos casos em que o filho é conhecido pelo pai perante a comunidade onde vive, ou vice-versa. De toda sorte, frise-se que esse último elemento não é primordial para que a posse de estado de filhos e a consequente parentalidade socioafetiva estejam reconhecidas (TARTUCE, 2016, 1195).
Ademais, embora a doutrina e jurisprudência brasileiras já reconheçam a existência jurídica do vínculo da multiparentalidade, a legislação registral ainda carece de elaboração. Assim, a pessoa que busca o reconhecimento da multiparentalidade ainda é obrigada a buscar amparo perante o Poder Judiciário.
De outra banda, considerando o fato de que a ausência de legislação não é pretexto para impossibilidade jurídica do pedido, a jurisprudência vem sendo a maior aliada das decisões que reconhecem a existência do vínculo da multiparentalidade.
Ao corroborar o exposto acima, no ano de 2012 o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo proferiu decisão inédita, determinando o registro da madrasta como mãe civil de enteado, mantendo-se a mãe biológica:
MATERNIDADE SOCIOAFETIVA Preservação da Maternidade Biológica Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua família - Enteado criado como filho desde dois anos de idade Filiação socioafetiva que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de parentes - A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade Recurso provido. [5: SÃO PAULO. TJSP. Relator(a): Alcides Leopoldo e Silva Júnior; Comarca: Itu; Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 14/08/2012; Data de registro: 14/08/2012. Disponível em: www.tjsp.jus.br. Acesso em: 10 Out. 2016.]
No mesmo sentido insta transcrever o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, do ano de 2015, no sentido de que:
APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE MULTIPARENTALIDADE. REGISTRO CIVIL. DUPLA MATERNIDADE E PATERNIDADE. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. INOCORRÊNCIA. JULGAMENTO DESDE LOGO DO MÉRITO. APLICAÇÃO ARTIGO 515, § 3º DO CPC. A ausência de lei para regência de novos - e cada vez mais ocorrentes - fatos sociais decorrentes das instituições familiares, não é indicador necessário de impossibilidade jurídica do pedido. É que "quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito (artigo 4º da Lei de Introdução ao Código Civil). Caso em que se desconstitui a sentença que indeferiu a petição inicial por impossibilidade jurídica do pedido e desde logo se enfrenta o mérito, fulcro no artigo 515, § 3º do CPC. Dito isso, a aplicação dos princípios da "legalidade", "tipicidade" e "especialidade", que norteiam os "Registros Públicos", com legislação originária pré-constitucional, deve ser relativizada, naquilo que não se compatibiliza com os princípios constitucionais vigentes, notadamente a promoção do bem de todos, sem preconceitos de sexo ou qualquer outra forma de discriminação (artigo 3, IV da CF/88), bem como a proibição de designações discriminatórias relativas à filiação (artigo 227, § 6º, CF), "objetivos e princípios fundamentais" decorrentes do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. Da mesma forma, há que se julgar a pretensão da parte, a partir da interpretação sistemática conjunta com demais princípios infra-constitucionais, tal como a doutrina da proteção integral o do princípio do melhor interesse do menor, informadores do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), bem como, e especialmente, em atenção do fenômeno da afetividade, como formador de relações familiares e objeto de proteção Estatal, não sendo o caráter biológico o critério exclusivo na formação de vínculo familiar. Caso em que no plano fático, é flagrante o ânimo de paternidade e maternidade, em conjunto, entre o casal formado pelas mães e do pai, em relação à menor, sendo de rigor o reconhecimento judicial da "multiparentalidade", com a publicidade decorrente do registro público de nascimento. DERAM PROVIMENTO. (SEGREDO DE JUSTIÇA).[6:RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do RS. Apelação Cível Nº 70062692876. Oitava Câmara Cível. Relator Des. José Pedro de Oliveira Eckert; Julgado em: 12/02/2015. Disponível em: <>. Acesso em: 10 Out. 2016. O grifo na ementa foi introduzido pelo autor do projeto.]
	Levando em conta o exposto, constata-se que a multiparentalidade (ou dupla parentalidade; pluriparentalidade) se caracteriza pela admissão da pessoa ter dois pais ou duas mães em seu registro civil, afastando-se a obrigação de escolher entre o vínculo afetivo ou biológico.
Outrossim, em recente sessão, na data de 21/09/2016, o Supremo Tribunal Federal aprovou relevante tema de Direito de Família em relação às categorias de filiação e parentesco. O leading case trata do reconhecimento jurídico da multiparentalidade.
	O tema de Repercussão Geral 622, de relatoria do Ministro Luiz Fux, foi aprovado com o seguinte teor: “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”. [7: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Repercussão Geral. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciarepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente= 4252676&numeroProcesso=692186&classeProcesso=ARE&numeroTema=622>. Acesso em: 03 Out. 2016.]
	A tese é explícita em afirmar a possibilidade de cumulação de uma paternidade socioafetiva concomitantemente com uma paternidade biológica, mantendo-se ambas em determinado caso concreto [...]. Através disso, a equiparação das paternidades em mesmo patamar social faz com que inexista qualquer hierarquia entre ambas as modalidades.[8: CALDERÓN, Ricardo. Reflexos da decisão do STF de acolher socioafetividade e multiparentalidade. 2016. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-set-25/processo-familiar-reflexos-decisao-stf-acolher-socioafetividade-multiparentalidade#_ftn2>. Acesso em: 03 Out. 2016.]
	Verifica-se que a multiparentalidade surgiu para efetivar as relações existentes no mundo fático. Partindo do princípio do livre planejamento familiar, e tendo em vista que atualmente é o princípio da afetividade que rege a família, nada mais justo que possibilitar o registro dessas relações. O vínculo afetivo entre um adulto e uma criança muitas vezes se sobressai em relação ao vínculo biológico. Não é o DNA que torna alguém pai ou mãe; apenas comprova as origens biológicas da criança.[9: SILVA, Giana de Marco da; CATALAN, Marcos Jorge. O Registro de Biparentalidade Homoafetiva: um Estudo de Caso. Revista Síntese Direito de Família. v. 16, n. 92, p. 22, out/nov. 2015.]
	A partir dessas considerações, surge a presente proposta de pesquisa, pretendendo analisar de que forma se procede o registro da multiparentalidade na Serventia do Registro Civil das Pessoas Naturais.
7 METODOLOGIA
	Quanto à metodologia, utilizar-se-á o método de abordagem dedutivo. O método de procedimento é o monográfico e o hermenêutico. Por fim, a técnica de pesquisa será a bibliográfica e a documental.
8 SUMÁRIO PRÉVIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS	
1 A ENTIDADE FAMILIAR CONTEMPORÂNEA E O RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE
1.1 A DOUTRINA SOBRE O RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE
1.2 A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA QUANTO AO RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE
2 O REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
2.1 A SERVENTIA DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS 
2.2 E A COMPETÊNCIA DO OFICIAL DE REGISTRO CIVIL
3 O REGISTRO DA MULTIPARENTALIDADE NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
3.1 A LEGISLAÇÃO PARA REGISTRO DA MULTIPARENTALIDADE NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
3.2 A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E AS ORIENTAÇÕES PARA REGISTRO DA MULTIPARENTALIDADE NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
9 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
	2016
	2017
	
	JUL
	AGO
	SET
	OUT
	NOV
	DEZ
	JAN
	FEV
	MAR
	ABR
	MAI
	JUN
	JUL
	AGO
	SET
	OUT
	NOV
	DEZ
	Tema e Orientador
	
	
X
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Elaboração do Projeto
	
	
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	Entrega do Projeto
	
	
	
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	Defesa do Projeto
	
	
	
	
	
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	Encontros com o Orientador
	
	
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	Leitura e fichamento de livros
	
	
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	Entrega do 1º cap.
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
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	Revisão ortográfica
	
	
	
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	Entrega de Monografia
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
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	Defesa de monografia
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
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10 REFERÊNCIAS
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BRASIL. PL 6583/2013. Dispõe sobre o Estatuto da Família e dá outras providências. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ fichadetramitacao?idProposicao=597005>. Acesso em 03 Out. 2016.
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CALDERÓN, Ricardo. Reflexos da decisão do STF de acolher socioafetividade e multiparentalidade. Disponível em http://www.conjur.com.br/2016-set-25/processo-familiar-reflexos-decisao-stf-acolher-socioafetividade-multiparentalidade#_ftn2. Acesso em 07/10/2016.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias / Maria Berenice Dias. -- 10. ecl. rev., atual. eampl. -- Sào Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6 : direito de família / Carlos Roberto Gonçalves. – 13. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2016.
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do RS. Apelação Cível N° 70062692876. Oitava Câmara Cível. Relator Des. José Pedro de Oliveira Eckert; Julgado em: 12/02/2015. Disponível em: <>. Acesso em: 10 Out. 2016. O grifo na ementa foi introduzido pelo autor do projeto.
SÃO PAULO. TJSP. Relator(a): Alcides Leopoldo e Silva Júnior; Comarca: Itu; Órgão Julgador: 1 Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 14/08/2012; Data de registro: 14/08/2012. Disponível em: <www.tjsp.jus.br. Acesso em: 10 Out. 2016.
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TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. 6. Ed. Ver., atual. eampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.

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