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Ética Moderna: Kant e Nietzsche

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Módulo
www.metodista.br/ead
Ética moderna: 
moral e 
extra-moral
Objetivos:
Perceber a moral como parte da 
racionalidade moderna, sobretudo em Kant, 
bem como identificar em Nietzsche elementos 
de crítica à moral moderna.
Palavras-chave:
Razão; moral; extra-moral; Kant; Nietzsche
Prof. Ms. Daniel Pansarelli
Fundamentos da ética 
e da filosofia política
Universidade Metodista de São Paulo
94
Racionalidade moderna
Se é comum referir-se à Idade Média como a Idade das Trevas, a similar referência à Modernidade 
seria como Idade da Razão. A racionalidade é, como é notório, a grande característica do paradigma 
moderno, cuja elaboração possivelmente tenha começado de forma mais impactante com o pensamento 
de René Descartes, e venha se desenvolvendo ainda em nossos dias. Símbolo dessa exaltação da razão 
é a tentativa de representação do mundo em números (racionais, precisos), naquilo que na matemática 
chama-se plano cartesiano. Muitas vezes a excessiva valorização da razão, em prejuízo de outras 
faculdades, tem sido criticada. Enrique Dussel, por exemplo, fala de um “processo de simplificação por 
‘racionalização’ do mundo da vida” (2000, p. 61), isto é, que a tentativa de racionalizar o mundo implica 
em desconsiderar inúmeros aspectos não-racionais existentes, inclusive, no próprio ser humano.
Não é objetivo deste estudo aprofundar leituras sobre a racionalidade moderna, suas conseqüências 
e sua crítica. Mas é preciso considerar aqui uma questão em particular: como parte desta racionalidade 
moderna, deparamo-nos com a ruptura entre a Ética e a Política. Nas palavras de Lima Vaz, a Política 
moderna tem “sua constituição autônoma com relação à Ética, notadamente pela concepção do 
agir político independentemente do critério da bondade ou malícia intrínseca das ações” (2003, p. 
265). Estamos, portanto, em uma era em que, diferentemente do modelo aristotélico, a ética não é 
o princípio norteador das decisões políticas.
Kant e a razão prática como determinante moral
Para ilustrarmos a idéia de uma ética pautada na razão exaltada da modernidade, recorreremos a 
Immanuel Kant, seja por sua representatividade como um dos principais expoentes do pensamento 
moderno, seja pela influência de suas obras éticas1 sobre os demais estudiosos desta área.
Em sua História da Filosofia, Reale e Antiseri iniciam o texto sobre a moral kantiana apontando 
que, para o autor, “a razão humana não é somente ‘razão teórica’, ou seja, capaz de conhecer, mas 
também é ‘razão prática’, ou seja, razão capaz de determinar também a vontade e a ação moral” (1990, 
p. 906). Esta razão prática trata das razões (motivadores) determinantes da vontade humana, estando, 
portanto, no campo de estudos da moral. O autor busca princípios morais universais, fundados em 
uma razão prática independente da experiência humana.
Kant indica dois tipos de princípios desta razão prática. São eles as máximas e os imperativos. As 
máximas, de caráter subjetivo (válidos apenas em função da vontade dos sujeitos que as propõem) 
não poderiam ser universais (válidas para todos os sujeitos). Já os imperativos têm como característica 
a objetividade, cumprindo assim um dos requisitos para que possam ser tomados como universais 
ou “válidos para todo ser natural” (KANT, 1961, p. 23).
Os imperativos são princípios práticos que “valem objetivamente e são completamente distintos 
das máximas como princípios subjetivos” (KANT, 1961, p. 24). Dividem-se em imperativos hipotéticos 
(quando relacionados a um determinado objetivo) e em imperativos categóricos (quando se colocam 
independentemente de objetivos ou efeitos desejados). É exemplo de um imperativo hipotético: 
“estuda para ser bem avaliado” – a ordem imperativa “estuda” é dada com o objetivo específico de se 
alcançar o bom resultado na avaliação. Neste caso, embora seja universalmente válido – sempre que 
alguém quiser alcançar bom resultado na avaliação deverá estudar –, o imperativo só faria sentido 
às pessoas que estivessem em busca deste objetivo. Por isso é um imperativo hipotético.
O imperativo categórico, por sua vez, se caracteriza por ser uma ordem válida por 
si só, independente de determinado objetivo ou de qualquer outra variação. Trata-se, 
de fato, de uma lei universal. O imperativo categórico anunciado na Crítica da razão 
 
1 São três as obras consideradas maduras de Kant acerca da ética: Fundamentação da metafísica dos 
costumes (1785), Crítica da razão prática (1788) e Metafísica dos costumes (1797). Neste texto, pautamo-nos, 
sobretudo, nas duas primeiras.
amo-nos,
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www.metodista.br/ead
prática, de Kant, é: “ age de tal forma que a máxima de tua vontade possa valer ao mesmo tempo 
como princípio de uma lei universal” (1961, p. 37). Este mesmo imperativo havia sido anunciado na 
Fundamentação da metafísica dos costumes, assim traduzido: “age segundo uma máxima tal que 
possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (1973, p. 223). Segundo este imperativo, 
para considerarmos como moral uma determinada ação, teríamos de poder aplicá-la em qualquer 
circunstância, a qualquer tempo, e ainda assim ela seria adequada.
Ainda conforme Kant, esta lei moral, universal, deve reger a vontade humana como condição para 
a própria liberdade. Para poder ser livre, o ser precisa agir de forma determinada por uma lei moral – 
imperativo categórico – de tal modo que há uma identificação entre a lei moral e a própria liberdade. 
Como conceito fundamental no pensamento kantiano, a liberdade não pode ser sacrificada a nada, 
mas pode a tudo sacrificar: “é o que ninguém pode nem deve determinar, precisamente porque se 
trata de liberdade e esta pode exceder todo o limite que se queira atribuir” (KANT, 1997, p. 311). 
Assim, a liberdade coloca-se como imperativa, regente da própria vontade do ser humano; a moral 
constitui-se como lei universal, racionalmente estabelecida; e ao ser humano, para manter a própria 
liberdade, caberá ter sua vontade a esta lei submetida.
Nietzsche: para além da moral
Um outro padrão de filosofar é encontrado nos textos de Friedrich Nietzsche. Não se trata de 
simples discordância com alguma concepção da tradição filosófica moderna, aqui representada 
por Kant. Mais do que isso: é um outro modelo de filosofia, e de tão distinto do primeiro, quase 
incomunicável com ele.
O autor vem apontar que os valores morais a que se submetem o homem são sinais de sua 
fraqueza. Conforme Nietzsche, “o homem, ao mesmo tempo por necessidade e tédio, quer existir 
socialmente e em rebanho”(1999, p. 54). O humano é fraco, e em função de sua fraqueza estabelece 
regras racionais de convívio, mas estas regras o impedem de expressar-se autenticamente. Ele, o 
humano, fica “exilado e trancado em uma consciência orgulhosa, charlatã!” (1999, p. 54), vivendo sob 
regras que o impedem de ser. Aquilo que é tradicionalmente tido como grande diferencial positivo 
do ser humano em relação aos outros animais – a capacidade intelectual – é tomado por Nietzsche 
como fonte da possibilidade da servidão humana. Veja-se que:
O intelecto, como um meio para a conservação do indivíduo, desdobra suas forças mestras 
no disfarce; pois este é o meio pelo qual os indivíduos mais fracos, menos robustos, se 
conservam, aqueles aos quais está vedado travar uma luta pela existência com chifres ou 
presas aguçadas. No homem essa arte do disfarce chega a seu ápice; aqui o engano, o lisonjear, 
mentir e ludibriar, o falar-por-trás-das-costas, o representar, o viver em glória de empréstimo, o 
mascarar-se, a convenção dissimulante, o jogo teatral diante de outros e diante de si mesmo, 
em suma, o constante bater de asas em torno dessa única chama que é a vaidade, é a tal 
ponto a regra e a lei que quase nada é mais inconcebível do que como pôde aparecer entre 
os homens um honesto e puro impulso à verdade (NIETZSCHE,1999, p. 54).
Neste caso, a honestidade e a verdade são representadas justamente pela vontade autêntica do 
ser humano, e não por sua postura correta perante a moral estabelecida. Em outras palavras, para 
ser verdadeiro, o sujeito precisa romper com a moral!
E de onde vem essa necessidade? Há, em Nietzsche, inúmeras formas de justificar essa postura. 
Escolheremos algumas, apenas a título de exemplificação. Comecemos constatando que a idéia 
moral daquilo que é considerado bom foi (racionalmente) definida pelos “nobres, poderosos, mais 
altamente situados e de altos sentimentos, que sentiram e puseram a si mesmos e a seu próprio 
fazer como bons” (1995, p. 341). Estes nobres “tomaram para si o direito de criar valores” (1995, p. 
341-2) e foi desse “duradouro e dominante sentimento global e fundamental de uma espécie superior 
de senhores, posta em proporção com uma espécie inferior, com um ‘abaixo’ – essa é a origem da 
oposição ‘bom’ e ‘mau’” (1995, p.342).
Universidade Metodista de São Paulo
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Ora, se moral é aquilo que é verdadeiramente bom, não é só a definição do bem que a definirá, 
mas também o entendimento daquilo que possa ser verdadeiro. Cabe a Nietzsche perguntar:
O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, 
enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, 
transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e 
obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são (1995, p. 57).
A moral, então, só pode ser entendida como uma convenção social que em nada mantém relação 
com aquilo que é certo e com aquilo que é errado, inclusive porque não há no mundo verdade 
suficiente para se estabelecer tais padrões de certo e errado.
Este senso extra-moral apresentado por Nietzsche é distinto, 
em fundamento, do pensamento kantiano. Se Kant buscou 
fundamentar sua moral numa racionalidade anterior ao próprio 
ser humano (o ser humano teria sua vontade determinada pelo 
imperativo), Nietzsche nos coloca diante da impossibilidade de 
submissão do ser humano a qualquer coisa, sob pena de perder-
se em meio ao rebanho de homens e mulheres. De forma incisiva, 
diz Nietzsche, “o imperativo categórico cheira a crueldade” (1967, 
p. 65). E explica:
Como? Admiras o imperativo categórico em ti? Essa “firmeza’” 
de teu assim chamado juízo moral? Essa “incondicionalidade do 
sentimento: Assim como eu, todos têm de julgar aqui”? Admira 
antes teu egoísmo nisso! E a cegueira, mesquinhez e despretensão 
de teu egoísmo! Pois é egoísmo sentir seu juízo como universal. 
[...] Quem julga: “Assim teria de agir cada um neste caso”, ainda 
não avançou cinco passos no autoconhecimento: senão saberia 
que não pode haver ações iguais – que cada ação foi feita de um 
modo totalmente único e irrecuperável, e que assim será com todas 
as ações futuras (1995, p. 191-2).
Referências
DUSSEL, E. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2000.
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1997.
_______. Crítica de la razón práctica. Buenos Aires: Losada, 1961.
_______. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril, 1973.
LIMA VAZ, H. C. Escritos filosóficos IV: introdução à ética filosófica 1. 3.ed. São Paulo: Loyola, 2003.
NIETZSCHE, F. Obras incompletas. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
_____________. On the genealory of morals. New York: Vintage, 1967.
REALE G.; ANTISERI, D. História da filosofia: do humanismo a Kant. 3.ed. São Paulo: Paulus, 1990.
Im
a
g
em
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Friedrich Wilhelm Nietzsche
 
Imagem 10
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/2/23/Nietzsche1882. jpg. 
Disponível em 14’Jan’2008.

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