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Como Conquistar e Manter Um Emprego VLADIMIR CRIVELINI 2 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a todos que contribuíram para a formação de minha experiência profissional e aos que me inspiraram, de alguma forma, na síntese e estruturação desse singelo guia prático. Agradeço especialmente a minha esposa e filhas, que me permitiram dedicar uma parcela do nosso tempo de convívio na elaboração do presente texto, ainda a meus pais, irmãos, familiares, amigos, colegas de trabalho e de estudos pela bagagem proporcionada. Gostaria também de registrar minha consideração aos companheiros do Lar Espírita Vinha de Luz, na cidade de Jundiaí (SP), com quem pude aprender boa parte daquilo que tento retransmitir nas próximas páginas. Obrigado! 3 SUMÁRIO I. Introdução II. Os Verdadeiros Tesouros III. Panorama do Mercado de Trabalho IV. Identificação de Habilidades e Vocação V. Definição de Metas e Autorrealização VI. Como Surge Uma Vaga e Seus Pré-Requisitos VII. Processo Seletivo: a) Currículo b) Entrevistas c) Dinâmicas de Grupo d) Testes Psicotécnicos e) Redação f) Provas de Conhecimento Teórico e Prático g) Concursos Públicos e Vestibulares VIII. Controle do Orçamento Familiar IX. Períodos de Vacas Magras e Automotivação X. Períodos de Mudança e Transição XI. O Que se Espera no Dia a Dia do Trabalho XII. A Relevância de Como Se Executar Uma Tarefa XIII. Mensagem Ao Empregado Macaco Velho XIV. A Era da Comunicação XV. A Inteligência Emocional XVI. A Importância do Fator Humano e Valores Morais XVII. Considerações Finais XVIII. Apêndice - Comparativo de Oportunidades de Trabalho XIX. Bibliografia 4 Capítulo I INTRODUÇÃO Nos momentos mais difíceis e angustiantes de minha vida profissional, eu gostaria de ter recebido pelo menos algumas das dicas e orientações abordadas a seguir. Infelizmente, só pude contar com essas informações muitos anos mais tarde da data oportuna, pois só foram adquiridas ao longo da minha vivência, da experiência prática tanto na condição de Candidato a Emprego quanto na de Selecionador/Empregador e do trabalho voluntário no encaminhamento de pessoas ao mercado profissional. Questões intrigantes e desconcertantes aparecem durante a vida toda: Qual carreira devo seguir? O que é importante mencionar no meu currículo? Como me comportar numa entrevista? E agora, o que eles realmente esperam de mim? Por que meu chefe não me recompensa com um aumento salarial? Depois de tanta dedicação meu emprego está ameaçado? O que falta para minha realização profissional? Será que devo rever tudo e começar de novo? Na hora de dormir, quando coloco a cabeça no travesseiro e faço um rápido exame de consciência, pesando os bons e maus atos praticados no dia, sinto a obrigação moral de compartilhar com os menos favorecidos o (pouco) conhecimento que pude acumular até o momento. Dentro dessa linha de pensamento, meu sentimento de dever fica mais forte quando lembro uma mensagem de Fénelon (Argel, 1860): “O trabalho desenvolve a inteligência e exalta a dignidade do homem, facultando-lhe dizer, altivo, que ganha o pão que come, enquanto a esmola humilha e degrada. (...) Devemos dar esmola quando for preciso; mas, tanto quanto possível, devemos transformar a esmola em salário”. Complementa ainda o autor Geziel Andrade na obra Capital e Trabalho: “Se a esmola é uma forma de se distribuir benefícios sociais e de se praticar a caridade cristã, a contratação de pessoas para a execução de serviços produtivos, tornando-as aptas a receber o correspondente pagamento de salários como recompensa pelo emprego dos talentos e habilidades pessoais, deve ser prioritária”. Temos ainda o sábio ditado popular: “Ao invés de darmos o peixe, é melhor ensinarmos a pescar”, cuja essência está em se garantir ao assistido a oportunidade do mérito, do merecimento por atingir a meta desejada através do esforço próprio, bastando para isso apenas um “empurrãozinho”. Assim, guardadas as devidas proporções e restrito às minhas limitações, esse livro procura ajudar o interessado a identificar suas capacidades e habilidades, ter uma 5 visão geral dos diversos setores de atividade e respectivas oportunidades, focalizar seus objetivos pessoais, compreender o que se passa na cabeça do recrutador na fase de seleção e do superior direto no dia a dia, reduzir dúvidas e inseguranças nas tomadas de decisão, além de aumentar a autoestima e motivação do candidato, mesmo diante de seguidos reveses. Devo avisar de antemão que o presente livrete não tem nenhuma fundamentação acadêmica, pretensão doutrinária, embasamento psicológico, precisão jurídica quanto à legislação vigente ou qualquer outro compromisso técnico formal, sendo tão somente um guia prático baseado em experiências pessoais que talvez possa ser de alguma utilidade ao leitor esforçado. Aliás, quando eu me referir ao leitor daqui em diante, minha intenção é abranger indistintamente tanto homens quanto mulheres, sendo adotada a forma masculina apenas para atender as regras usuais da Gramática. O texto é prioritariamente direcionado às pessoas menos favorecidas, que normalmente sofrem maiores restrições de acesso à Educação e regalias correlacionadas, ou seja, justamente àquelas que encontram mais dificuldades de ingresso no mercado de trabalho formal. Mesmo assim, considerando a quantidade de páginas escritas e as probabilidades da Estatística, eu gostaria de dizer às demais pessoas, inclusive às de grande qualificação técnica e que almejam cargos mais gabaritados, que há boa chance de encontrarem ao menos uma coisa verdadeiramente útil ao longo desse guia, desde que tenham paciência e perseverança na leitura. Desde já agradeço sua atenção e o voto de confiança manifestado. Se esse livro realmente ajudar um só leitor que seja a melhorar sua situação profissional, ele já terá valido a pena, ainda que eu deseje o sucesso de todos! 6 Capítulo II OS VERDADEIROS TESOUROS Um conceito importante que merece ser abordado logo de início é o relacionado à SORTE. Apesar de querermos nos enganar em muitas ocasiões, o fato é que não existe a sorte pura e isoladamente: Sorte = Preparação + Oportunidade Traduzindo a equação matemática acima, temos que sorte é uma combinação de preparação mais oportunidade, ou seja, é o conjunto de todos os esforços e ações que fizemos em prol da meta que desejamos alcançar aliado ao surgimento na linha do tempo da situação que nos possibilita colocar o plano em prática. Assim, logo de cara, podemos ter a convicção de que a oportunidade é meramente uma questão de tempo e que apenas é necessário termos a paciência de esperar seu dia aparecer: pode demorar um pouco mais ou um pouco menos, mas é certo que a oportunidade sempre bate à nossa porta! Aliás, se observarmos com atenção (e sinceridade), concluiremos que isso ocorre muito mais do que uma vez e de forma cíclica. O grande problema está na outra parcela da equação: o motivo da sempre reclamada falta de sorte é que nós não cuidamos devidamente da nossa preparação, isto é, nós negligenciamos justamente a única parte que nos cabe na referida equação. Não adianta nada o cavalo aparecer selado na nossa frente se nós não formos capazes de montar nele e sair cavalgando! E olha que isso acontece várias vezes ao longo das nossas vidas! Temos sempre que ter a humildade de reconhecer que nosso sucesso e felicidade dependem exclusivamente de nossas próprias obras, ou melhor, do conjunto de nossos esforços para fazer o que é certo, digno e honesto. Temos liberdade de escolha para plantarmos o que quisermos, porém devemos estar cientes de que só conseguiremoscolher exatamente o que tivermos plantado. Apesar de todos nós estarmos sujeitos à Lei Natural do Progresso, que é universal, progredir é uma responsabilidade individual e intransferível; cada um deve fazer a sua parte e ninguém pode crescer e evoluir no lugar de outro. Ainda que já esteja evidente a necessidade do mérito, ou seja, de nos dedicarmos para fazermos por merecer aquilo que desejamos, quero voltar o foco para um ponto anterior (e essencial) na discussão da sorte: a meta! Mais uma vez, não adianta reclamarmos da (má) sorte se não soubermos claramente o que realmente queremos. O 7 estrategista Henry Alfred Kissinger marcou uma frase célebre sobre o assunto: "Se você não sabe para onde vai, todos os caminhos o levarão a lugar nenhum". Portanto, devemos sempre nos perguntar o que esperamos dessa vida, definir objetivos com base nas respostas obtidas, estabelecer prioridades, analisar os requisitos de cada etapa da meta e – principalmente – canalizar todos os nossos esforços necessários a sua concretização. É fundamental fazermos um planejamento estratégico da nossa vida, pois é isso que vai nortear nossos passos. Vamos imaginar um exemplo para ilustrar a coisa: se durante minha adolescência eu definir como objetivo profissional que eu quero me tornar um Médico, devo reconhecer de antemão que isso requer diploma Superior. Logo, já devo estar consciente de que estarei obrigado a concluir o Ensino Médio, uma vez que o 2º Grau completo é pré-requisito para os exames vestibulares de nível Superior. Como viabilizar meus estudos até lá deve estar considerado no planejamento: se meus pais poderão bancá-lo, se terei que trabalhar durante o dia (em que tipo de serviço) e estudar à noite, etc. Mais do que isso, devo ter claro na cabeça que terei que estudar seriamente e por longo período de tempo, não só para passar de ano, mas para aprender mesmo, tendo em vista o alto grau de competitividade dos vestibulares pretendidos. Se o “bicho” já começar a pegar nesse ponto, isto é, se eu tiver certeza que meu nível intelectual é baixo em relação à média geral a ponto de ser muito difícil reverter esse quadro através de muita dedicação, ou simplesmente se eu reconhecer que não sou “chegado” aos estudos e que não estou disposto a mudar isso, então é melhor reavaliar a meta traçada. Vestibulares (que seriam as oportunidades) aparecerão todos os anos, agora se eu não praticar o estudo dedicado (que seria a preparação que me cabe) eu nunca serei aprovado para uma faculdade de medicina, apesar de ficar sempre tentado a terceirizar a culpa pelo insucesso (azar, olho gordo de alguém, restrições dos pais e tantas outras ladainhas, pois nesse campo nossa criatividade é sempre muito fértil!). Dito isso, posso finalmente falar dos verdadeiros tesouros das nossas vidas. Se pararmos para uma reflexão séria, vamos concluir que só existem 3 coisas que podemos conquistar de modo permanente e irreversível, que ninguém pode nos tirar, e que nossa alma pode carregar mesmo após a morte do corpo físico: nosso conhecimento, nossa inteligência e nossa condição moral. Perdemos tempo durante a vida inteira na busca de poder (fama, prestígio, badalação, etc.) e da posse de bens materiais (casa, carros, joias, utensílios, etc.), porém isso tudo não ultrapassa a barreira do túmulo, se é que dura até lá! 8 Nessa linha de pensamento, peço licença autoral para citar 2 mensagens que julgo muito pertinentes, a primeira atribuída ao monge tibetano Dalai-Lama, quando perguntado sobre o que mais o surpreendia na humanidade: "O que mais me surpreende são os homens. Perdem a saúde para juntar dinheiro. Depois, perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido". O segundo texto é atribuído ao publicitário brasileiro Nizan Guanaes, discorrendo sobre sua definição de sucesso para uma turma de formandos numa faculdade paulista: "Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, estou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos. Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo o coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. A propósito disso, lembro-me de uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho". Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna. Meu segundo conselho: Pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal, é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega a viver como Homem. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: "seja quente, ou seja frio, não seja morno que eu te vomito". É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia: seja quente, ou seja frio, não seja morno que eu te vomito: É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. 9 Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse! Eu sabia! Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios. Brasil, este país de malandros e espertos,da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta, enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho. Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas. Mas o tempo, que é mesmo senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso". Voltando aos 3 verdadeiros tesouros, devemos pensar com carinho se efetivamente poderemos desenvolver algum deles através das metas traçadas no planejamento pessoal discutido anteriormente. Como referência para reflexão, destaco novamente cada um deles e alguns modos de desenvolvimento: • Nossa inteligência, que é estimulada pelo trabalho de qualquer espécie, ou seja, por tudo aquilo que desafia nossa capacidade de raciocínio, tanto na fase de planejamento quanto na de execução, na busca de superação de adversidades e solução de problemas de toda natureza (nesse contexto não falamos apenas do trabalho remunerado, apesar de ser este o objetivo do presente livrete, segundo as razões mencionadas na Introdução); • Nosso conhecimento, que adquirimos com a vivência e estudo. O simples transcorrer da nossa idade, em suas várias 10 fases, já nos possibilita uma razoável bagagem de aprendizado. Além disso, a pesquisa e leitura nos abreviam a acumulação de conhecimento, visto que, por exemplo, os livros nos disponibilizam de imediato a síntese de informações que seus escritores podem ter levado longos anos para obter; • Nossa condição moral, que podemos desenvolver com a prática do bem, na busca do convívio harmonioso com aqueles que nos rodeiam, demonstrando afetividade, respeitando a autoestima alheia, tendo a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro para entendermos seu ponto de vista e tendo um comportamento ético. Em suma, o melhor parâmetro para sabermos se estamos agindo da forma correta é tratarmos o outro do mesmo modo como nós mesmos gostaríamos de ser tratados. Assim como não existe a sorte pura e simples, também não devemos acreditar em acaso, destino, casualidade, aleatoriedade, ou determinismo. Na criação divina, tudo se encadeia de maneira perfeita segundo os princípios da justiça, do amor e da igualdade. Todos somos criados na mesma condição inicial, tal como fichas em branco, sobre as quais cada um deve preencher seu “currículo” perante Deus através de suas escolhas e ações praticadas, que constituem o conjunto de nossas obras. Nós nascemos, literalmente, para aprender e colocar em prática aquilo que aprendemos. Os tesouros de que dispomos no presente momento são, portanto, o fruto de nossos próprios esforços atuais ou anteriores, já que nada cai do céu de graça nem há privilegiados ou renegados. Para concluir com uma mensagem de esperança e evidenciando como tudo sempre se correlaciona com precisão e justiça, lembro que tanto a quantidade e frequência das oportunidades abordadas inicialmente, quanto à qualidade de nossa preparação aumentam na proporção do desenvolvimento do nosso conhecimento, inteligência e condição moral, e que tudo isso depende única e exclusivamente de nós mesmos! 11 Capítulo III PANORAMA DO MERCADO DE TRABALHO Logo no início dos trabalhos voluntários que tenho desenvolvido junto a pessoas carentes numa casa beneficente de minha cidade, pude perceber que a grande maioria das pessoas não tem uma noção abrangente das diversas opções disponíveis no mercado de trabalho, ou então desconhecem as vantagens e dificuldades inerentes a cada ramo de atividade. Como isso é crucial para montarmos nosso plano de vida profissional e estabelecermos nossas metas, conforme discutido no capítulo anterior, tentarei agora clarear o assunto sob aqueles aspectos, começando pelo Comparativo de Oportunidades de Trabalho constante do Apêndice (Capítulo XVIII). Por razão de seu tamanho, a planilha só pode ser apresentada ao final desse livro, porém recomendo fortemente que o leitor não deixe de analisá-la com bastante atenção, pois ela sintetiza, de forma bastante simplista, um panorama de oportunidades de trabalho segmentado por ramo de atividade. Lembro-me dos meus tempos de escola, quando se dividia, para fins didáticos, o conjunto das atividades econômicas em 3 grandes setores: • Primário, abrangendo Agricultura, Pecuária, Extrativismo Vegetal, Caça, Pesca e Mineração; • Secundário, representado pela Industrialização e Construção Civil; • Terciário, envolvendo a Comercialização de Produtos em geral e a Prestação de Serviços. Isso ainda continua bastante válido para fins de apuração do Produto Interno Bruto – PIB, mas para os propósitos desse manual, vamos deixar de lado as oportunidades de emprego no Setor Primário, já que o trabalho no campo, em minas e no mar apresenta características muito peculiares (que fogem do meu conhecimento), além de não representar a atual aspiração da maioria dos candidatos a emprego. Vamos então nos restringir aos Setores de Atividade Secundário (Indústria) e Terciário (Comércio e Serviços), destacando dentro desses últimos as opções de vagas no Funcionalismo Público e Serviço Militar, que apresentam características bastante interessantes, mas que normalmente são esquecidas na hora de analisarmos todas as alternativas disponíveis no mercado de trabalho. Vale anotar logo de início que o quadro apresentado não corresponde a nenhum estudo oficial, nem representa parâmetros absolutos ou definitivos, sendo tão somente uma síntese ilustrativa baseada na experiência do autor. Os Exemplos não constituem uma lista exaustiva, isto é, não esgotam todas as possibilidades. A Faixa de Salários só serve para podermos comparar o universo de salários 12 de uma modalidade com o de outra. Os Benefícios Obrigatórios são os normalmente previstos para os trabalhadores com registro em carteira para contratos por prazo indeterminado nos respectivos segmentos. As Vantagens mais Frequentes não constituem uma regra, mas sim benefícios complementares mais comumente oferecidos pelos empregadores como atrativos extras. O Grau de Escolaridade Exigido bem como os demais critérios de seleção elencados também não são condição rígida ou imutável. Feitas as considerações iniciais, vou me valer da técnica de análise vertical e horizontal (tradicionalmente aplicada a balanços patrimoniais e demonstrações financeiras) a fim de esmiuçarmos o quadro comparativo. Começando pelo enfoque das colunas, visualizamos claramente que o Setor Terciário, isto é, do Comércio e principalmente dos Serviços, apresenta o maior campo de empregos a ser explorado. A terceirização da economia é uma tendência internacional do mundo globalizado. A mecanização na Agricultura e Pecuária bem como a automação e reengenharia na Indústria causaram desemprego nesses setores, com a consequente migração dessa mão de obra majoritariamente para o Setor de Serviços. Obviamente, essa acomodação não foi voluntária nem planejada na maioria dos casos, obrigando muitos trabalhadores a partirem para os serviços autônomos, trabalho doméstico, abertura de microempresas ou pequenos comércios, além do famigerado trabalho informal, sem registro em carteira, na mais variada e criativa forma de “bicos”, com intuito de se obter alguma fonte de renda até que algo melhor aparecesse. Se por um lado o Setor de Comércio e Serviços apresenta essa flexibilidadede absorver mão de obra, inclusive com baixa qualificação, dando oportunidades de renda a muita gente, por outro ele pode apresentar riscos em longo prazo, quando não cobrir os benefícios legais (dentre eles eu destaco o FGTS e as coberturas previdenciárias de auxílio doença e acidente, aposentadoria normal e por invalidez, pensão por morte), nem oferecer vantagens como alimentação e convênio médico particular. O maior objetivo desse livrete é o de possibilitar meios ao leitor de evitar o trabalho informal (sem carteira assinada), pois esse não dá nenhuma garantia ao trabalhador, o expõe a condições insalubres e até perigosas cotidianamente para conseguir seu sustento no presente, sem lhe reservar nenhuma segurança em momentos de doença, invalidez e velhice. Tratando dos Exemplos do quadro, iniciando pela Indústria, cabe destacar que não mencionamos o nome dos cargos (o que exigiria uma listagem enorme), mas sim os departamentos de trabalho, que já são diversos e permitem enxergar a natureza dos serviços. De maneira análoga, citamos apenas alguns tipos de estabelecimentos do Comércio, das Empresas de Serviços e Lazer / Entretenimento. Quanto ao Funcionalismo Público e Serviço Militar, 13 nos limitamos ao âmbito das repartições, lembrando que eles via de regra têm tantos departamentos quanto às empresas em geral, e muitas vezes, até alguns outros típicos de Estado. A Faixa de Salários, que aqui é abordada apenas qualitativamente, sempre nos desperta uma atenção especial, já que ainda somos extremamente ligados às questões materiais. Nesse ponto, quero abrir um parêntese, e frisar um conceito que considero extremamente importante: quando pensamos em remuneração, não podemos nos limitar tão somente ao valor do salário, temos que levar conta todos os outros benefícios e demais vantagens possibilitadas pelo emprego em questão, pois isso traz uma enorme diferença no nosso bolso ao final das contas. Assim, recomendo sempre que as colunas Faixa de Salários, Benefícios Obrigatórios e Vantagens mais Frequentes sejam analisadas conjuntamente. Ao longo dos anos, vi muitas pessoas penando para conseguir um emprego e, após consegui-lo, largarem tudo por outro que (teoricamente) rendia mais. Para ilustrar, comento o caso de uma jovem com filho recém-nascido que arranjou um emprego (após inúmeras tentativas) numa loja de um shopping center e o abandonou após algumas semanas. Fui conversar com moça para saber o que tinha acontecido e ela me explicou que estava ganhando (apenas) um salário mínimo e ainda a patroa ficava o tempo todo pegando no seu pé. Agora ela podia ganhar até 50% a mais mensalmente. Eu questionei como “até” mais e ela esclareceu que tinha optado por ser tornar revendedora autônoma e, assim, a nova renda dependeria de quantos produtos ela conseguisse vender. Como ela estaria trabalhando na rua de porta em porta, perguntei então como ela iria conseguir manter um bom volume de vendas nos dias de frio e chuva: ela não havia pensado nisso. Continuando, eu a lembrei de que, como autônoma, ela não teria 13º salário nem direito a FGTS, também não poderia tirar férias remuneradas, pois quando ela quisesse descansar estaria deixando de vender. Recordei ainda a ela que, na condição de autônoma, ela só teria as coberturas previdenciárias de auxílio doença, aposentadoria e salário maternidade, entre outros, caso passasse a contribuir individualmente ao INSS no montante de 20% de sua renda auferida a cada mês. Indaguei finalmente se ela tinha algum benefício extra no antigo serviço da loja: sim, vale-transporte, cesta básica e convênio médico. Bem, quanto às duas primeiras vantagens, ela mesma já sentiu na pele como sua falta reduz a renda líquida; quanto a um bom convênio médico para quem tem família numerosa e filhos pequenos, ah, isso não tem preço! Outra conclusão óbvia, a partir do quadro apresentado, é que não existem milagres nem mágicas: quanto maior a remuneração oferecida, maior é a Relação de Candidatos por Vaga e consequentemente maior o Risco de Desemprego, além de a qualificação exigida também ser bem maior. 14 Ainda quanto às Faixas de Salário, em geral a Indústria paga bons salários, frequentemente bem superiores ao mínimo vigente, em razão de abarcar profissões regulamentadas com salário normativo considerável, além de ter de respeitar os pisos salariais definidos em Convenções ou Acordos Coletivos firmados com fortes sindicatos representativos das respectivas categorias. O Comércio, Empresas de Serviços e Lazer / Entretenimento também chegam a oferecer altos salários, mas numa menor proporção em relação à Indústria. Os Profissionais Liberais também ganham bem, mas obrigatoriamente necessitam de diploma Superior, estão sujeitos à renda variável e às mesmas considerações já mencionadas quanto ao trabalho autônomo. Finalmente, o Funcionalismo Público e o Serviço Militar também oferecem salários bastante atrativos, só que o ingresso nessas carreiras depende de concorridíssimos concursos públicos, o que significa muito estudo e disciplina. Quanto aos Benefícios Obrigatórios e Vantagens mais Frequentes, já falei que devem ser analisados como salários complementares. Novamente, a Indústria costuma apresentar o melhor pacote de regalias ao trabalhador. O que também é digno de destaque é que o Funcionalismo Público e o Serviço Militar oferecem o que parece ser a coisa mais cobiçada no mercado conturbado de hoje: a estabilidade (relativa) de emprego, isto é, a garantia de que o servidor não poderá ser dispensado por simples mau humor do chefe ou ainda por qualquer tipo de retração do mercado. Isso não significa que o servidor público concursado nunca poderá ser demitido, mas é bastante tranquilizador saber que a perda do emprego só acontecerá se o trabalhador motivar uma justa causa, ou seja, apenas se ele tiver cometido uma grande besteira. O Grau de Escolaridade Exigido é algo que tem aumentado sistematicamente nos últimos anos e constitui um reflexo da lei de oferta e demanda: como tem havido muito mais candidatos a emprego do que vagas para absorvê-los, os selecionadores podem se dar ao luxo de exigir mais do que seria o essencial para a função, sempre na busca de pegar a melhor mão de obra disponível no momento. Assim, ter diploma de 2º Grau completo é requisito indispensável para a grande maioria dos cargos atuais, tanto para um Ajudante Geral numa fábrica, quanto para uma Auxiliar de Limpeza numa prestadora de serviços ou para uma atendente de balcão no comércio. É claro que ainda existem oportunidades para as pessoas de baixa escolaridade, mas são sempre as de baixos salários e piores condições de trabalho, o que nos obriga a uma constante reciclagem e complementação dos estudos. Currículo e Entrevistas são métodos universais de seleção de candidatos e dificilmente nos safamos deles, motivo pelo qual serão abordados mais detidamente no capítulo que trata do Processo Seletivo. Cabe aqui destacarmos 2 coisas. Primeiro, eu recomendo que todo profissional mantenha seu currículo devidamente atualizado (mesmo que algumas carreiras não o exijam), porque é na confecção 15 dele que nos damos conta de quais são nossas efetivas qualificações e experiências que podem nos tornar atrativos ao mercado de trabalho (e normalmente é aí que começamos a perceber que não somos tão bons quanto julgávamos ser). O segundo ponto de destaque é que o Funcionalismo Público em geral e os principais Cargos Militares não exigem entrevista para seleção dos candidatos, o que é bastante interessante para as pessoas que se sentem vítimas de preconceito ou discriminação de qualquer natureza. Ao leitor que se assustou com esse último comentário, devo falar abertamente que em pleno século XXI ainda existem muitos entrevistadores que rejeitamcandidatos em razão de critérios subjetivos não diretamente relacionados às atividades requeridas pelo cargo a ser exercido, tais como: • Sexo: mulheres são evitadas em determinados cargos ou, quando aceitas, muitas vezes recebem salários inferiores aos colegas; homossexuais por sua vez são bastante discriminados; • Aparência: tipo de cabelo, uso de roupas exóticas ou provocantes, exibir tatuagens, ou piercings; • Origem étnica: ser descendente de negros, hispânicos, orientais, árabes ou índios; • Aspectos físicos: apresentar estatura ou peso fora dos padrões convencionais, ser portador de alguma deficiência; • Preferência religiosa: ser crente, umbandista, testemunha de Jeová ou ser seguidor de qualquer outra seita diferente da adotada pelo entrevistador; • Aspectos sociais: muitas empresas não contratam fumantes e, em geral, candidatos que apresentem indícios de alcoolismo, uso de drogas, ou antecedentes criminais são sumariamente descartados. Falando de casos práticos de preconceito, observo que poucas vezes se veem negros ou mulheres assumindo elevados cargos de comando nas organizações e me lembro até de um antigo administrador que limitava a ascensão de suas funcionárias, alegando que cargo de chefia para mulher ele não daria nem mesmo para sua própria mãe. Finalizando, confesso que eu mesmo já fiz pré-julgamentos discriminatórios ao entrevistar candidatos, como num processo seletivo para a vaga de Ajudante de Produção: o rapaz apresentava qualificações suficientes para o trabalho, porém eu estava tentado a descartá-lo só porque ele era gordo (por conta disso, eu arbitrariamente supunha que ele não aguentaria o tranco dos pesados trabalhos braçais requeridos). Mesmo na dúvida, eu resolvi dar uma chance ao fulano pela boa vontade demonstrada na entrevista (ele era um pai de família desempregado há algum tempo, com bom currículo, que parecia estar muito empenhado a agarrar com dedicação qualquer nova oportunidade de trabalho que lhe fosse 16 oferecida). A moral da história é que em menos de 6 meses ele mereceu ser promovido a Operador Auxiliar e pouco tempo depois já exercia satisfatoriamente as funções técnicas e também de liderança de equipe como Operador de Máquina. Dinâmicas de Grupo, Testes Psicotécnicos e Provas de Conhecimentos são critérios de seleção menos usuais, geralmente adotados para cargos mais gabaritados envolvendo capacidade de liderança e/ou qualificação técnica mais aprofundada. Esses tópicos também serão abordados no capítulo do Processo Seletivo, mas já vale o alerta de que os selecionadores ultimamente têm pegado gosto por essas coisas, incluindo essas fases eliminatórias até para alguns cargos menos complexos: como exemplo, tenho visto aplicarem cumulativamente dinâmicas de grupo, testes psicotécnicos, provas de matemática e redação para a contratação de operadores de telemarketing, uma profissão com remuneração pouco superior ao salário mínimo, bastante em moda hoje em dia (são aqueles trabalhadores que passam a jornada inteira ao telefone, ligando na casa das pessoas para tentar vender produtos e serviços, ou então recebendo reclamações em centrais de Serviço de Atendimento ao Consumidor – SAC). Risco de Desemprego e Relação de Candidatos por Vaga Como regra natural, quanto maiores os atrativos para um determinado cargo, maior será a procura por ele e, por consequência, maior será também a facilidade de o empregador substituir o trabalhador que não esteja atingindo o resultado esperado. Assim, o número de candidatos por vaga está diretamente relacionado ao risco de desemprego, demandando o contínuo esforço e aprimoramento do trabalhador para se manter empregado. É claro que há algumas profissões que exigem conhecimento ou treinamento tão específicos a ponto de garantir uma tolerância um pouco maior por parte do empregador, mas não tenha dúvidas de que este sempre conseguirá encontrar um bom candidato disponível no mercado para substituir alguém com desempenho insuficiente. Convém mais uma vez salientar a peculiaridade prevista em lei para o Funcionalismo Público e Serviço Militar, com provimento via concurso, nos quais a demissão só pode ocorrer por justa causa mediante processo administrativo interno, com respeito ao contraditório e ampla defesa. Características Mais Exigidas Obviamente, as características indicadas no quadro de oportunidades não são as únicas requeridas, são simplesmente as mais significativas para o perfil das respectivas áreas de atuação, segundo o ponto de vista do autor. Existe uma gama enorme de qualidades que são demandadas para qualquer cargo, tais como responsabilidade, zelo, perseverança, etc. Por outro lado, trabalhos em empresas exigem ainda a 17 capacidade de o indivíduo saber se entrosar em equipes de trabalho, atividades de comércio demandam sempre uma boa lábia por parte do vendedor, carreiras com provimento por concurso público atraem candidatos inteligentes e estudiosos, e assim por diante. 18 Capítulo IV IDENTIFICAÇÃO DE HABILIDADES E VOCAÇÃO Um dos fatores determinantes do sucesso é enfatizarmos nossos pontos fortes e tentarmos minimizar nossos pontos fracos. Primeiramente, então, é interessante puxarmos a “brasa para nossa sardinha”, procurando direcionar nosso campo de atuação para nossa zona de conforto, isto é, para atividades compatíveis com nossas melhores capacidades e habilidades. Por outro lado, devemos incessantemente cuidar das nossas fraquezas, buscando o nosso desenvolvimento como um todo, diminuindo nossas vulnerabilidades para nos tornarmos mais competitivos no mercado. É incontestável que sempre teremos maior probabilidade de êxito quando estivermos exercendo tarefas relacionadas às nossas melhores potencialidades. Nessa linha ainda, quando conseguimos fazer algo direito, bem feito, ficamos animados, satisfeitos e confiantes, aumentando nossa motivação em continuar a fazê-lo, entrando assim num ciclo virtuoso de sucesso. Na outra ponta, quando nos afastamos da nossa zona de conforto, vamos ficando cada vez mais temerosos na execução de tarefas: qualquer pequeno erro vai minando nossa autoconfiança, com efeitos progressivos e desastrosos como bola de neve. Lembre- se sempre que “errar é humano, mas persistir no erro é burrice” (se não for coisa pior). Portanto, a melhor coisa a fazer é realizarmos uma minuciosa autoanálise, buscando identificar as áreas em que somos bons, que conseguimos atuar de forma eficiente e que sentimos prazer em fazê- lo. Aqui cabe um gancho, para falarmos sobre vocação. Todos nós temos tendências e aptidões inatas, que nada mais são do que o fruto das experiências acumuladas anteriormente pela nossa alma. Os próprios dicionários definem vocação como sendo uma “disposição natural do espírito, inclinação, propensão ou talento para qualquer estado, ofício, profissão, etc”. Assim, nós já trouxemos para essa vida algumas habilidades razoavelmente desenvolvidas, tais como inclinação para a música, para a culinária, para as artes, para as ciências, para a oratória, para a pintura, para cálculos matemáticos, para trabalhos manuais, para esportes, para a política, para atividades intelectuais, para a medicina, etc. Se olharmos com atenção à nossa volta, invariavelmente perceberemos pessoas manifestando um determinado dom desde a mais tenra idade. É comum nos depararmos com crianças precoces que tocam instrumentos musicais como adultos, outras que sabem mexer sozinhas em computadores e equipamentos eletrônicos sofisticados, que têm facilidade para escrever textos elaborados, que manifestam raciocínio lógico aguçado, que demonstram grande criatividade para inventos, que denotam notável senso de organização e limpeza, etc. Essas tendências inconscientessão um 19 bom indicativo daquilo que já fomos e para onde podemos prosseguir de forma natural. Caso você ainda tenha dúvidas sobre quais são suas reais aptidões e potencialidades, hoje existem inúmeros testes vocacionais disponíveis na Internet, jornais e revistas, além da possibilidade de consulta a profissionais do ramo, que poderão nortear a escolha da profissão mais alinhada a seus dotes e características pessoais. É lógico que você sempre será o senhor de suas decisões, tendo livre arbítrio para escolher um novo caminho a qualquer momento, fazer uma redefinição de rota e buscar novos conhecimentos e desafios, visando a uma formação cultural eclética, diversificada. Desbravar o novo sempre demanda maior energia, maiores sacrifícios, mas o mérito é também redobrado. Eu gostaria apenas de alertá-lo para não confundir sonhos com vocações, muito menos impor para si sonhos e projetos que não são os genuinamente seus, mas sim de seus pais, familiares ou outras pessoas próximas. Sonhos são valiosos enquanto planificação de um objetivo maior, na busca de aprimoramento contínuo, enquanto meta que nos esforçamos por alcançar, impulsionando-nos à frente. Sonhos podem se tornar prejudiciais quando abandonamos o pragmatismo, o senso de realidade e os pés no chão, principalmente quando passamos a ambicionar algo muito distante sem que canalizemos nossos esforços para atingi-lo passo a passo. Se você não estiver efetivamente disposto a correr atrás dos seus sonhos, é melhor reavaliar a meta! Do contrário, quem você estará enganando? 20 Capítulo V DEFINIÇÃO DE METAS E AUTORREALIZAÇÃO De início, é interessante avaliarmos o ponto de vista de Charles Chaplin sobre o tema: “Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão. Perder com classe e vencer com ousadia, pois o triunfo pertence a quem mais se atreve e a vida é muito para ser insignificante. Eu faço e abuso da felicidade e não desisto dos meus sonhos. O mundo está nas mãos daqueles que tem coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos.” Nesse ponto, então, espero que você esteja consciente para discernir e escolher a melhor profissão a seguir, aquela que mais se encaixa com seu perfil, que você teria maior facilidade ou naturalidade para lidar no dia a dia, que o deixaria mais à vontade e feliz. Agora que você está definindo a sua meta, o alvo a ser atingido, você deve montar cuidadosamente as estratégias para chegar até lá: analise atentamente os requisitos exigidos pelo mercado para tal carreira e compare (honestamente) com suas qualificações pessoais; veja se será necessário complementar a sua escolaridade, se você terá que fazer algum novo curso técnico ou profissionalizante, se terá que desenvolver ou mesmo mudar seus padrões de comportamento, se será preciso fazer uma verdadeira reforma íntima, etc. Mãos à obra! Se você já está empregado, porém planeja mudar seus rumos, haja com prudência, sem tomar decisões precipitadas. Agora se você ainda está procurando emprego, não cometa o erro de esperar pela vaga perfeita, nem de querer começar por cima. O que importa, de fato, é iniciar sua vida profissional, primeiro passo para sua autossuficiência e independência financeira. Além disso, currículo com o campo Experiência Profissional em branco não traz vantagem competitiva para ninguém e pode até significar sinal de apatia, inércia ou comodismo por parte do candidato. Nesse sentido, durante meus trabalhos voluntários de orientação profissional, vi muitos casos de pessoas carentes, que estavam em busca de emprego, mas que se recusavam a aceitar determinadas oportunidades que surgiam por acharem que o salário era baixo, ou serviço era muito pesado, ou era abaixo de suas qualificações, ou que o patrão era muito exigente, ou que o local era distante, ou que os colegas eram invejosos, etc. Um pouco é sempre melhor do que nada e mais vale um passarinho na mão, do que dois voando. Não querer trocar seis por meia dúzia é compreensível, mas deixar de pegar um emprego que garanta um pouco para ficar parado em casa, sem renda e com contas para pagar, é um contrassenso! Uma vez iniciada a sua vida profissional, você pode a qualquer momento trilhar novos caminhos, conforme discutido anteriormente. Além disso, é errônea a ideia de que a passagem por empregos 21 menos nobres pode manchar seu currículo, pois isso só evidencia sua responsabilidade, retidão de caráter e fibra, qualidades sempre meritórias de quem se esforça para se sustentar por meio das próprias pernas. Vale frisar que a nossa trajetória profissional é bastante dinâmica e que estamos constantemente tentando conciliar nossos sonhos, com nossas habilidades e tendências naturais, com as oportunidades tangíveis do mercado e com o nosso sentimento de realização pessoal. A fim de ilustrar como nossos parâmetros vão se modificando e amoldando ao longo do tempo, vou exemplificar com meu caso pessoal, destacando as várias guinadas ocorridas: quando criança, eu era fascinado por naves e robôs e, como diziam que o Engenheiro Eletrônico é quem criava tais coisas, era isso que eu pretendia ser quando crescesse; na pré-adolescência, comecei a virar fã de esportes e cheguei a acreditar que eu poderia ser Jogador de Basquete tal qual os astros que eu acompanha nas quadras e na televisão; durante o colegial, percebi que minha estatura mediana e habilidades triviais não me permitiriam um diferencial favorável no Basquete Profissional, sendo melhor eu me dedicar aos estudos, em que eu costumava ter um desempenho relativamente destacado; como todo rapaz, fui pegando gosto por automóveis e, como eu me identificava com as disciplinas da área de Exatas (Física, Matemática e Química), resolvi prestar vestibular para a carreira de Engenheiro Mecânico; ao final do curso de Engenharia, comecei a estagiar numa indústria de autopeças e já senti a dificuldade de me sobressair naquele ambiente populoso e disputado do ramo automobilístico; meu primeiro grande emprego foi então numa multinacional do setor de embalagens; trabalhei por vários anos num setor corporativo de investimentos e apoio técnico às unidades fabris do grupo; durante esse período, fiz pós-graduação em Administração de Empresas como preparativo para cargos mais elevados na estrutura organizacional; nesse sentido, mudei daquela atividade eminentemente técnica para um cargo de comando na gerência operacional do chão de fábrica, vivenciando agitados anos, principalmente no tocante à gestão de centenas de funcionários de diversos setores produtivos; concluí então que precisaria dar novos rumos à minha vida profissional, já que vinha me desgastando muito ao executar atividades com demandas não condizentes com minhas melhores qualidades e aptidões naturais; analisando minuciosamente minhas características pessoais frente as diversas oportunidades do mercado de trabalho, resolvi finalmente aprender Contabilidade, Direito e demais matérias correlatas para poder me tornar Auditor-Fiscal, trabalho cuja natureza técnica e investigativa se encaixa perfeitamente com meu perfil e tem me proporcionado a tão desejada segurança e realização pessoal. 22 Falando de autorrealização, é oportuno comentarmos a hierarquia de necessidades definida pelo psicólogo Abraham Maslow, que dizia que “o ser humano deve ser tudo aquilo que puder ser; deve ser verdadeiro com sua própria natureza”. Segundo sua teoria, as necessidades humanas podem ser agrupadas em cinco níveis: primeiro vêm as necessidades fisiológicas (ar, água, comida, excreções, sono, sexo), que constituem a base da pirâmide de necessidades idealizada por Maslow; logo acima, vêm as necessidades de segurança (proteção, moradia, saúde, família, emprego, religião); subindo na escala,aparecem as necessidades sociais (amizade, afeto, amor, sentimento de grupo, integração na comunidade); o penúltimo nível é o das necessidades de estima (reconhecimento, aprovação, respeito, status, poder, prestígio); finalmente, no cume da pirâmide, surge a necessidade de autorrealização, em que o indivíduo procura desenvolver todos os seus potenciais e tornar-se tudo aquilo que pode ser segundo seu senso de moralidade. Ao terminar esse capítulo, transcrevo uma receita de bem viver definida por Lair Ribeiro: “Sucesso é conseguir o que você quer. Felicidade é querer o que você conseguiu”. 23 Capítulo VI COMO SURGE UMA VAGA E SEUS PRÉ-REQUISITOS Agora que você já está formando convicção de qual caminho seguir, é interessante abordarmos como as vagas pretendidas podem surgir e ter uma ideia de como os empregadores definem o perfil ideal do candidato a ser contratado. As vagas aparecem basicamente de 3 formas: • Abertura de novas vagas, geradas quando se cria uma empresa, um setor, ou cargo, ou ainda se amplia o quantitativo do efetivo frente a maior demanda de trabalho; • Vacância de cargo pré-existente, por promoção do último ocupante, aposentadoria, afastamento por doença ou invalidez, ou falecimento; • Demissão ou exoneração do último ocupante do cargo. Obviamente, dentre as situações acima, a última é a que mais causa apreensão para os futuros candidatos, pois induz a pensar que existia uma premente demanda que não vinha sendo atendida satisfatoriamente. Isso é sinal de que poderá haver grandes expectativas e fortes cobranças. É lógico que a vaga pode ter surgido por mero pedido de demissão por parte do antigo funcionário, porém, por precaução, é melhor estarmos preparados para tudo. O caso da vacância é aparentemente o mais tranquilo, principalmente quando sabemos que nosso antecessor saiu por promoção, o que indica que a empresa tem reais perspectivas de carreira para seus colaboradores. Um único cuidado que eu gostaria de recomendar aqui é o seguinte: quando você está vindo de fora para assumir um cargo mais graduado (e cobiçado) na nova organização, tenha muito jogo de cintura para lidar com os ciúmes e maus olhos de antigos funcionários que ambicionavam ocupar o cargo em questão e foram preteridos pela atual administração, pois poderão tentar “puxar o seu tapete”. Por último, as vagas recém-criadas apresentam a vantagem de poderem ser moldadas à cara do novo ocupante, que terá boa flexibilidade para impor uma linha de atuação mais próxima de suas preferências e inclinações naturais. A desvantagem é que nem o seu chefe saberá direito o que esperar de você e sua avaliação de desempenho poderá se tornar muito subjetiva, caso suas atribuições estejam vagas ou abstratas. Eu mesmo experimentei essa situação durante meu primeiro contato na indústria: ainda muito inexperiente, assumi a primeira vaga de estagiário criada no setor de Engenharia da Qualidade, porém não fui suficientemente hábil para demarcar meus espaços e me tornar um membro imprescindível para o departamento, acabando por não conseguir ser efetivado como Engenheiro ao final da faculdade. Hoje avalio que situações daquele 24 tipo podem ser plenamente resolvidas com base na postura comportamental, mostrando-se iniciativa e personalidade. Vamos agora simular a abertura de uma vaga e a definição de seus requisitos através de um caso hipotético. Para que você sinta na pele alguns problemas e complicações que são enfrentados pelos patrões, chefes ou demais cargos de comando e entender o que passa na cabeça deles na hora de contratar alguém, vamos pensar numa empresa comercial bastante comum e conhecida por todos: um supermercado. A fim de nos situar, vamos primeiramente tentar identificar os departamentos e tipos de emprego que podem existir num supermercado: na Entrada e Estacionamento, normalmente há o pessoal de segurança e às vezes até manobristas para os automóveis; na Padaria, temos os padeiros especializados, confeiteiros e auxiliares; no Açougue há os mestres de corte das carnes e também seus auxiliares; no Recebimento ou Almoxarifado temos os conferentes das mercadorias que chegam e os funcionários que fazem a descarga dos caminhões; no Controle de Estoque, há os repositores de produtos nas prateleiras e os remarcadores de preços nas etiquetas ou gôndolas; nas Lanchonetes, temos cozinheiros e ajudantes; nos Caixas, há os operadores de caixa e os empacotadores de produtos; em Suprimentos, temos os compradores técnicos e negociadores com fornecedores em geral; em Custos, temos contadores e analistas; na Manutenção, encontram-se os especialistas em Mecânica, Elétrica e Civil; na Conservação e Limpeza, sempre existem faxineiras e ajudantes gerais; na Administração, temos ainda os encarregados de setor, supervisores e gerentes. Lembre agora que todas essas funções devem ser harmonicamente distribuídas em turnos de trabalho que cubram as 24 horas diárias. Bem, é muito provável que ainda tenhamos esquecido alguma atividade essencial ao cotidiano de um supermercado (eu particularmente só conheço o ramo dos supermercados como consumidor), mas acredito que você já possa estar surpreso quanto à quantidade e diversidade dos empregos existentes: a maior parte dos funcionários a gente nem vê quando vai às compras! Com o contexto geral um pouco mais claro na nossa mente, vamos imaginar agora que você, leitor, é o Encarregado dos setores de Caixas, Açougue e Padaria, e comanda um grupo de 38 funcionários, somando-se os turnos da manhã, tarde e noite. As atribuições e competências de cada cargo variam bastante e, por conta disso, os respectivos salários também são diferentes (inventamos salários na unidade de moedas por mês, só para fins de referência e comparação). Sua equipe está assim distribuída: 25 Salário do Cargo (em moedas/mês) 1º Turno 2º Turno 3º Turno Total Caixas Operador de Caixa 1.000,00 6 6 4 16 Empacotador 400,00 3 3 2 8 Subtotal 9 9 6 24 Açougue Açougueiro Mestre 800,00 1 1 1 3 Auxiliar de Açougueiro 600,00 1 1 2 Ajudante Geral 400,00 1 1 1 3 Subtotal 3 3 2 8 Padaria Padeiro-Confeiteiro 700,00 1 1 1 3 Ajudante Geral 400,00 2 1 3 Subtotal 3 2 1 6 TOTAL 15 14 9 38 Quantidade de Funcionários A premissa que sempre acontece é que o número de funcionários de que você dispõe é até um pouco inferior à demanda de serviços a serem realizados, porém, por racionamento de custos, é com isso que sua equipe tem que se virar no momento. Agora vamos começar a tratar dos problemas do dia a dia: 1º) Francisco, seu auxiliar de açougueiro no turno da manhã, que você vinha treinando para substituir o açougueiro mestre que vai se aposentar em breve, recebeu uma tentadora proposta para trabalhar num açougue de seu próprio bairro com salário mensal de 900 moedas. Ele vem avisar você que deixará o supermercado, caso não seja promovido agora para açougueiro titular, logicamente com aquele de 900 moedas por mês. O que você faz? Vai perder o substituto virtual para o titular que está prestes a se aposentar? Você então tenta argumentar com Francisco, explica que no momento as 3 vagas de açougueiro (1 por turno) estão ocupadas, mas que sua vez deverá surgir num futuro muito próximo. O rapaz retruca, lembra que hoje está ganhando apenas 600 moedas, tem chance de ganhar 900 em outro lugar e você está tentando convencê-lo a esperar por mais tempo, para atingir no máximo as 800 moedas no supermercado. Ele então lhe pergunta que “vantagem Maria leva”? Você destaca as perspectivas de crescimento em outros departamentos da loja e diz ainda que vai ver o que pode ser feito coma Gerência. O Gerente (seu chefe) frisa que não pode mudar a política salarial da empresa para agradar um determinado funcionário com expectativas acima das usuais de mercado; alerta-o ainda que, caso Francisco esteja irredutível, a demissão deve acontecer a pedido dele e não por iniciativa da empresa (para não ensejar multa sobre o saldo de seu FGTS). Bem, a novela ainda poderia ir longe, mas vamos assumir que o desfecho foi que o rapaz realmente pediu demissão e você ficou com um auxiliar a menos no turno da manhã do açougue. Como 26 paliativo, você pôs o ajudante geral do setor para fazer às vezes do auxiliar de açougueiro que saiu, pagando o devido salário substituição (num resumo simplório, a Consolidação das Leis Trabalhistas- CLT preconiza que o substituto tem direito a receber o mesmo salário do empregado substituído). No quadro geral, surgiu então uma vaga de ajudante a ser reposta, conforme abaixo: 1º Turno 2º Turno 3º Turno Total Açougue Açougueiro Mestre 1 1 1 3 Auxiliar de Açougueiro X 1 1 Ajudante Geral 1 1 1 3 Subtotal 2 3 2 7 Quantidade de Funcionários 2º) Malaquias, o padeiro que trabalha sozinho no terceiro turno, voltou a tomar suas cachaças e, consequentemente, a apresentar problemas. Dessa vez, ele deixou queimar uma fornada inteira de pão de centeio e ainda xingou um cliente que havia reclamado a falta do referido produto. O que você faz com o cara? Aquela ideia de transferi-lo para um turno diurno – para ficar sob seus olhos – ele continua relutando a aceitar, pois alega que perderia o adicional noturno na sua remuneração já “insuficiente”. Parece que ele nunca se emenda, mesmo após suas broncas. Você vai passar mais uma vez a mão na cabeça dele, tendo que se justificar pessoalmente com o gerente geral quanto às perdas e reclamações causadas por funcionários da sua equipe? Você resolve dar um basta e demite Malaquias. Vai ficar sem pães à noite? Não, tem de haver alguém no terceiro turno. Assim, você decide transferir o experiente padeiro da manhã para o turno da noite. Quem vai fazer os pães de manhã? Um dos dois ajudantes do 1º turno será elevado à condição de padeiro, sendo auxiliado pelo outro colega. Será que os novatos darão conta do recado, justamente no horário de maior demanda na Padaria? Bem, você percebe que vai precisar acompanhar bem de perto o cotidiano desse remanejamento, que estará sujeito a reajustes. Surge mais uma vaga de ajudante, conforme o novo quadro do setor: 1º 2º 3º Total Padaria Padeiro-Confeiteiro 1 1 X 2 Ajudante Geral 2 1 3 Subtotal 3 2 0 5 Funcionários por Turno 3º) Isabel, sua melhor operadora de caixa no turno da manhã está no final de gravidez e vai se afastar por 4 meses em licença- maternidade. Você não consegue vislumbrar nenhum substituto imediato para a moça dentro da sua equipe, muito menos no setor de Caixas, onde existe grande discrepância entre as funções de operador 27 de caixa (cargo de confiança com razoável nível intelectual) e empacotador (piso da categoria). Você pensa então em emprestar temporariamente a auxiliar de contabilidade do setor de Custos, porém, ao saber que ela ganha 30% a mais do que suas operadoras de caixa, você é levado a abandonar essa alternativa para não abrir precedentes para eventual pedido de equiparação salarial entre os citados cargos. Diante desse contexto, você leva o caso à apreciação de seu superior, recomendando a contratação temporária de uma nova operadora de caixa. Resultado: o gerente nega seu pedido e ainda lhe dá um “puxão de orelhas”, dizendo que você deve planejar e administrar melhor seu pessoal, que ele não iria autorizar a entrada de gente de fora para um cargo essencial e de confiança dentro da estrutura da empresa só porque você não havia sido capaz de treinar e desenvolver seus funcionários para serem polivalentes, ou seja, versáteis e eficientes em diferentes posições. Depois dessa, você “enfia a viola no saco” e vai expor às demais operadoras do 1º turno a necessidade de maior dedicação enquanto durar o afastamento de Isabel. Uma delas lhe pergunta por que não dar uma oportunidade para Marieta (uma empacotadora que havia sido contratada segundo a recente exigência de possuir 2º Grau completo), que vinha se sobressaindo no trabalho por ser muito atenciosa e educada no trato com os clientes, além de ter fama de ser ótima em Matemática. Assim, você acata a sugestão de seu grupo, coloca Marieta temporariamente como operadora de caixa, ao mesmo tempo em que se abre uma nova vaga de empacotadora. 1º Turno 2º Turno 3º Turno Total Caixas Operador de Caixa 5 6 4 15 Empacotador 3 3 2 8 Subtotal 8 9 6 23 Quantidade de Funcionários 4º) Pedro e Paulo, empacotadores do turno da tarde que já haviam sido advertidos anteriormente por se ausentarem do local de trabalho para bater papo com colegas de outros setores durante o expediente de serviço, agora brigaram em frente aos fregueses do supermercado porque um falou mal da namorada do outro. Você, já bastante irritado com tais desvios de comportamento, demite os rapazes sumariamente, abrindo-se mais 2 vagas para empacotador no 2º turno dos Caixas: 1º Turno 2º Turno 3º Turno Total Caixas Operador de Caixa 5 6 4 15 Empacotador 3 1 2 6 Subtotal 8 7 6 21 Quantidade de Funcionários 28 E então, você gostou de ser chefe por alguns instantes? Realmente a vida nos cargos de comando não é tão agradável e glamorosa como costumamos imaginar. A toda hora surge um abacaxi na sua mão que deve ser descascado sem demora, sob pena das coisas se agravarem. Após as simulações de experiências acima, você já deve ter notado que as questões administrativas são bastante dinâmicas e não possuem uma solução única, de tal modo que a tomada de decisão por parte do administrador acaba se baseando na análise das circunstâncias atuais, perspectivas futuras e bom senso. Outra conclusão muito importante é que o sonho de qualquer empregador é ter funcionários-coringa, que não só tenham as qualificações para exercer o cargo para o qual inicialmente foram contratados, mas que também possam assumir outras atribuições tão logo isso seja necessário. Assim, quando o bom administrador vai definir o perfil ideal e exigências para preenchimento de uma determinada vaga, ele está pensando à frente, nos prováveis remanejamentos, acumulações de cargo e promoções que acontecerão no futuro. É pelas razões acima e pelo fato de normalmente haver muito mais oferta de mão de obra qualificada do que demanda (muita gente boa desempregada) que as empresas “carregam” nos pré-requisitos para cada vaga aberta: a escolaridade exigida é cada vez maior, experiência na função passa a ser fator decisivo, cursos de Informática, de tecnologia e de línguas são mais do que desejáveis, características pessoais de flexibilidade, iniciativa, espírito de equipe e polivalência são extremamente valorizadas, etc. É por isso tudo também que o trabalhador deve estar constantemente aprendendo e se reciclando ante as novas práticas do mercado a fim de manter sua empregabilidade. Quem estaciona é atropelado pelo turbilhão de inovações, uma vez que o mundo atual da competição globalizada vive no ritmo das comunicações instantâneas e exige melhorias contínuas. 29 Capítulo VII PROCESSO SELETIVO A) Currículo O curriculum vitae consiste no resumo das qualificações, habilidades e experiências profissionais de um aspirante a emprego, isto é, seu instrumento de apresentação ou “cartão de visita”. Ainda que sua estrutura de informações seja costumeiramente padronizada, seu conteúdo, as ênfases dadas e o estilo de linguagem permitem conhecer alguns traços da personalidade de seu dono, mesmo que suas características pessoais não estejam ostensivamenteapresentadas. A elaboração do currículo pelo candidato até sua efetiva entrega ao contratante ou selecionador constitui a primeira fase da esmagadora maioria dos processos seletivos, conforme já abordado no quadro de oportunidades de trabalho. Assim, algumas implicações desse fato merecem ser exaustivamente comentadas. A primeira e mais óbvia é que você simplesmente não existe para nenhum selecionador ou empregador (e por isso nunca será contratado) até que você consiga fazer seu currículo efetivamente chegar às mãos dele. Cabe um esclarecimento quanto ao enfoque dado às palavras utilizadas no presente contexto: quando nos referimos ao empregador, estamos simbolizando a pessoa ou empresa que detém uma vaga a ser preenchida e que vai conduzir por si mesma todas as etapas do processo seletivo; o termo selecionador representa o recrutador terceirizado ou agência de emprego normalmente contratada pelo empregador para conduzir as primeiras peneiras da seleção. Em ambos os casos, sua missão é fazer seus dados chegarem até a pessoa certa, quer seja através de envio do currículo pelo correio, via Internet, entrega em mãos ou por meio de algum amigo que já esteja trabalhando lá. Se o empregador for uma empresa que não esteja aceitando currículos no momento, você pode ainda ir até o local e se oferecer para o simples preenchimento de uma ficha cadastral, ou ao menos preencher a tal ficha no site da empresa na Internet. O importante nessas horas é demonstrar interesse e empenho para tentar cativar o potencial patrão. Hoje os currículos enviados por meio de arquivo digital são muito mais fáceis de serem armazenados e mantidos pelos empregadores para posterior consulta; por isso, convém enviar o currículo tanto impresso em meio papel quanto em formato digital (CD ou anexo a uma mensagem eletrônica). Aliás, antes de remetê- lo, é prudente pedir a alguém de sua confiança que revise o texto, não só para corrigir eventuais erros de Português, mas também para avaliar se as frases estão claras e refletem o sentido que você quis dar. Nesse ponto, seja humilde aceitando críticas e sugestões. 30 O segundo ponto de destaque é que precisamos estar sempre muito bem informados quanto às oportunidades do mercado de trabalho que vão surgindo, a fim de conseguirmos enviar nosso currículo dentro do prazo estipulado. Precisamos estar bastante atentos quanto às empresas que estão com vagas abertas, os principais requisitos exigidos, os ramos de atividade que mais têm contratado nos últimos tempos, onde se pagam os melhores salários e benefícios, quais as principais firmas na composição do faturamento da região, em que setores os sindicatos são mais atuantes, quais as novas tendências do mercado, etc. O despreparo dos candidatos em relação a informações estratégicas da vida profissional é muito mais comum do que se imagina. Como testemunho, eu mesmo reconheço hoje que desconhecia a maior parte das excelentes oportunidades de trabalho existentes na minha região à época da minha formatura em Engenharia Mecânica (quando cheguei a ficar desempregado por longos 7 meses): eu não tinha noção do poderio econômico do parque industrial local em relação ao contexto estadual e simplesmente nunca tinha ouvido falar de inúmeras empresas tradicionais de médio e grande porte situadas na minha cidade e adjacências dentro do meu campo de atuação. Considerando os recursos de mídia atuais, com uma imensa variedade de jornais, revistas especializadas, TVs regionais e com o advento da Internet, sem falar no balcão de empregos disponível no Posto de Atendimento ao Trabalhador - PAT existente em muitas cidades, hoje mais do que nunca é inadmissível que um candidato permaneça alienado ou alheio ao que acontece a sua volta. Nesse sentido, infelizmente ainda encontro candidatos que nunca abriram ou mesmo nem sabem o que é um Caderno de Classificados de Empregos e outros que não têm ânimo (ou boa vontade) para sair distribuindo seu currículo pelos quatro cantos. Desse jeito fica muito difícil a efetivação num emprego, a não ser que alguma alma caridosa venha oferecê-lo à sua porta! Outra questão que talvez já lhe tenha saltado à mente é que seu currículo deve estar previamente pronto, devidamente atualizado e com um número razoável de cópias à sua disposição, porque geralmente não existe muito tempo hábil entre a notícia da abertura de uma vaga e o prazo final para envio de seus dados. Deixar tudo para a última hora é um grande passo na direção da perda da oportunidade, ou ainda de envio de dados desatualizados ou até inconsistentes (o que tem vida curta). O ideal é manter seu currículo em arquivo de computador para que possa ser alterado, anexado a e- mails ou impresso a qualquer necessidade. Conforme eu já havia comentado anteriormente, o exercício de se elaborar ou atualizar um curriculum vitae é um momento muito importante na sua vida profissional, pois é aí que você enxerga se tem mesmo “bala na agulha”, isto é, competências, habilidades, talentos, conhecimentos, enfim, as qualificações necessárias e 31 suficientes para torná-lo atrativo ao mercado. Dito de outra forma, esse é o momento da constatação prática de sua empregabilidade. A essa altura, se você estiver procedendo a sua autoanálise de maneira criteriosa e honesta, muito provavelmente suas reflexões o levarão à conclusão da necessidade de retomar os estudos, concluindo os anos escolares eventualmente faltantes, de fazer uma (nova) faculdade, pós-graduação, mestrado, doutorado ou MBA (sigla, em Inglês, para Master in Business Administration, ou, em Português, Mestre em Administração de Negócios), de se inscrever num curso de idiomas (Inglês, Espanhol, Alemão, Japonês, etc), em treinamentos técnicos/profissionalizantes dentro da área de atuação pretendida, em cursos de Informática (indispensáveis atualmente), de rever alguns pontos de vista e posturas até então adotadas. Em última análise, você perceberá que nunca poderá ficar parado no tempo, porque no mundo competitivo de hoje só sobrevivem aqueles que estão continuamente se reciclando e atualizando. Aos demais, sobram os baixos salários ou o desemprego. A confrontação do nosso currículo, ante o perfil exigido nas vagas que vão surgindo nos classificados de emprego, leva-nos ainda à constatação de que uma formação profissional mais generalista, eclética, diversificada, é normalmente mais eficaz do que a alta especialização num determinado assunto. É a eterna problemática de se depositar todos os ovos na mesma cesta, pois o risco de se perder tudo acaba ficando muito alto. Em outras palavras, você pode descobrir um nicho de mercado, virar um grande especialista no assunto e ganhar bastante dinheiro com isso por vários anos; o ruim é que, quando a maré piora e você perde aquele tipo de emprego de âmbito restrito, você enfrenta muitas dificuldades em se recolocar nos mesmos patamares anteriores, acabando obrigado a mudar de ramo e muitas vezes tendo que partir do zero (tudo de novo). Outro complicador a ser debatido é que não basta seu currículo chegar às mãos certas: ele tem, acima de tudo, que ser interessante e atraente a ponto de colocá-lo positivamente em evidência aos olhos do empregador frente os demais aspirantes ao cargo. É que, primeiramente, seu currículo tem que vencer o cotejamento no esquema Passa x Não Passa entre suas qualidades apresentadas e os Requisitos Obrigatórios estabelecidos para a vaga (exemplos: idade mínima e/ou máxima, formação escolar até determinado grau, ser casado, morar na região tal, possuir conhecimentos avançados em Informática, etc). Se você não possui uma das exigências obrigatórias, seu currículo já é imediatamente descartado. Embora alguns selecionadores gentilmente prometam que ele vai ficar mantido em arquivo para futurasconsultas, isso na prática só acontece para dados digitais: os papéis vão impiedosamente para o lixo. Só que nem todos os currículos que satisfazem a primeira peneira serão chamados para entrevista ou novos testes, porque aí o número de participantes já deve ser bem mais limitado (3, 5, ou um 32 pouco mais, dependendo do total de pessoas a serem contratadas). Ilustrando com um processo seletivo hipotético, digamos então que, de um universo de 300 currículos recebidos, 54 candidatos satisfazem as exigências essenciais; porém apenas 6 poderão ser chamados para entrevistas, até finalmente se chegar aos escolhidos para as 2 vagas existentes. Como ficar entre os 6 melhores dentre os 54 pré- aprovados? É hora então de se destacar, diferenciar dos demais através do preenchimento dos Requisitos Desejáveis (por exemplo: experiência de tantos anos no ramo, Inglês fluente, pós-graduação ou especialização em determinado assunto, disponibilidade para viagens, boa aparência, facilidade de comunicação verbal, etc). Perceba que pequenas qualidades passam a ser decisivas nessa etapa para tirá-lo do lugar comum e colocá-lo em evidência para sua continuação no processo de seleção. É por isso que seu currículo deve explicitar claramente tudo de bom que você pode oferecer para o trabalho pretendido. Qualquer informação relevante a seu favor deve ser incluída, porém não perca a noção do bom senso: evite fazer o selecionador perder tempo com dados de pouca importância nessa fase, nem “encha linguiça”. O currículo deve ser objetivo, refletindo as melhores características do candidato de maneira clara e enxuta. Seu conteúdo não deve ocupar mais do que duas páginas, mesmo para profissionais com vasta experiência e qualificações profissionais. Neste caso, deve-se resumir as informações em termos de relevância, sintetizando aquelas de maior impacto. Podemos então falar da estrutura básica de um currículo, que é muito parecida com a de uma ficha cadastral: a diferença básica entre eles é que a ficha cadastral tem formato pré-definido e direcionado às informações específicas de interesse da empresa, sendo normalmente mais resumida do que um currículo, onde se tem mais liberdade no desenvolvimento do conteúdo (dá para se aprofundar mais um determinado item e citar outros pontos interessantes não perguntados ou sem campo para citação numa ficha). A estrutura universalmente utilizada contempla os seguintes campos principais: 1. IDENTIFIFICAÇÃO: seu nome inteiro e sem abreviações, data de nascimento com o destaque da idade atual (para que o selecionador não tenha que fazer contas), estado civil (casado, solteiro, viúvo, número de filhos, etc), endereço completo (incluindo o CEP), números de telefone fixo e/ou celular e endereços eletrônicos (e-mails) atualizados, onde positivamente se consiga fazer contato com você; muita atenção nesse ponto porque, do contrário, você pode ter a sorte de ser procurado, mas o azar de não ser localizado e, portanto, descartado. Antigamente se informavam também os números de RG, CPF, carteira profissional e outras banalidades que hoje só são solicitados no caso de efetiva contratação, pois não constituem diferencial durante o processo seletivo (além das 33 formalidades burocráticas, acho que só servem para pesquisa de eventuais antecedentes criminais, restrições de crédito e processos trabalhistas). 2. OBJETIVO: é o alvo que você está buscando alcançar, podendo se referir ao cargo propriamente dito (ex: Técnico de Segurança do Trabalho, Gerente de Loja, Operador de Telemarketing), ou à área de atuação pretendida (ex: setor de Vendas, Administrativo, Comércio Varejista, etc). Tenho visto que os profissionais que atuam na área de Recursos Humanos (hoje também chamada de Gestão de Pessoas) costumam recomendar a inclusão desse item num currículo, pois facilita a vida do selecionador em termos de triagem e direcionamento dos incontáveis dados recebidos. Entretanto, é bom que se diga, esse tópico requer alguns cuidados por parte do candidato: o primeiro e mais óbvio é que você terá que revisar seu currículo original (matriz) a cada vez que quiser enviá-lo, adaptando-o ao caso particular da nova vaga anunciada; o segundo é a conscientização de que, toda vez que você especifica o cargo ou área de interesse, você automaticamente está se excluindo de outras oportunidades eventualmente existentes. Considerando esse caráter restritivo, para quem está começando sua vida profissional sem carreira definida e topando qualquer trabalho, acredito que o campo Objetivo deva ser omitido ou, quando muito, colocado de maneira genérica e mais abrangente possível. 3. FORMAÇÃO ESCOLAR E ACADÊMICA: indicação de todos os estudos em andamento ou já concluídos nos bancos escolares, nas faculdades ou universidades, as pós-graduações, os cursos de especialização, mestrado, doutorado e MBA. É evidente que esse campo do currículo já começa possibilitar ao selecionador a separação do joio e do trigo em termos qualitativos, pois até a Identificação só dava para filtrar por idade, sexo, estado civil e local de moradia. Por isso, nesse ponto você deve não só preencher os requisitos mínimos da vaga, mas também demonstrar algo a mais. Se a sua formação é fraca e você ainda está parado com os estudos, sua bola está murchando! Para quem só tem o Ensino Fundamental ou Médio, convém identificar claramente a última série concluída, ou que atualmente está sendo cursada com o respectivo horário de aulas (exemplos: cursando a 3ª. série do Segundo Grau no período noturno, concluída até a 7ª. série do Ensino Fundamental). Aqueles que já alcançaram o nível Superior não precisam mencionar os dados escolares (pois estão subentendidos), mas devem certamente explicitar cada curso de graduação ou posterior (ex: graduação em Engenharia Mecânica, pós-graduação em Administração de Empresas, especialização em Enfermagem, etc), o nome da instituição de ensino (ex: Universidade Estadual de São Paulo – USP) e mês/ano de conclusão ou colação de grau (se o curso 34 está em andamento, indique o ano, semestre ou módulo em que se encontra no momento). 4. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: é o resumo de todas as atividades de trabalho já desenvolvidas pelo candidato, com detalhamento de cada empresa empregadora, período de atuação, cargos ocupados, as respectivas tarefas exercidas e principais resultados obtidos. Em regra, essa listagem deve ser feita em ordem cronológica decrescente: começa com o emprego mais recente e vai voltando no tempo até o mais antigo (essa prioridade pressupõe que você foi se desenvolvendo ao longo dos anos, passando a desempenhar atividades cada vez mais complexas, e que sua situação atual é a que melhor reflete suas capacidades). Exemplo: • Indústria Alfa S/A (de set/20XX até hoje) – empresa multinacional de origem alemã no ramo de eletroeletrônicos, com cerca de XXX colaboradores, situada em Três Coquinhos da Serra (SP). Cargos Ocupados: Gerente de Manutenção (jul/20XX até hoje) e Engenheiro Eletricista (de set/20XX a jul/20XX). Principais Atividades: gerenciamento das equipes de Elétrica, Mecânica e Civil, estabelecimento e coordenação do programa de manutenções preventivas, controle da requisição de peças em geral, pesquisa e implantação de novas tecnologias, fortalecimento da relação entre clientes e fornecedores internos. Resultados Obtidos: redução de XX% nos custos de manutenção, diminuição em XX% das paradas de máquinas para intervenções corretivas, redução de horas extras. Dentro desse contexto, pode parecer que o período trabalhado em cada cargo ou empresa é pouco importante diante das atividades exercidas e resultados obtidos, porém os selecionadores adoram analisar essa informação, pois ela reflete o
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