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GABARITO AP2 2017.1

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Fundação CECIERJ/ UFF 
Graduação em Letras 
 
Disciplina: Teoria da Literatura II 
Coordenadora: Profa. Diana Klinger 
GABARITO DA AP2 – 01.2017 
1- Aponte as principais diferenças entre o modo de representação 
judaico-cristão (na Bíblia) e grego (na Odisseia) a partir da leitura do 
primeiro capítulo de Mimesis, de Erick Auerbach. 
 Segundo Auerbach, no estilo homérico, não há segundo plano, tudo fica no 
primeiro plano: tudo fica explicitado, os personagens não em interioridade, eles têm 
motivações para suas ações e as expressam. As personagens põem de manifesto idéias e 
sentimentos, e as histórias estão localizadas temporal e espacialmente. Tudo está em 
presente e quando o narrador retrocede é para explicar algum fato de importância para 
os acontecimentos presentes. Pelo contrário, no modelo de representação judaico 
cristão, não há detalhes sobre a localização e o tempo das histórias, não se descrevem 
minuciosamente os lugares e Deus aparece representado como uma voz, sem figura, que 
não se sabe de onde fala. Há algo que sempre fica sem expressar, desconhecemos a 
interioridade dos personagens e as motivações de Deus. 
 Por isso, os poemas homéricos não podem ser interpretados, eles não têm nenhum 
sentido oculto. Já o relato bíblico exige ser interpretado, pois alberga um sentido oculto. 
Seus relatos são muito mais contraditórios e confusos, a diferença dos lendários relatos 
homéricos, mais simples e unitários. Ao mesmo tempo, a tentativa do relato bíblico é de 
construir uma narrativa histórica universalmente válida. Por outro lado, ainda que em 
Homero o sublime se conjugue com o cotidiano–realista, na Biblia isso acontece de 
maneira muito mais forte, uma vez que o elevado, o trágico e problemático se plasmam 
no cotidiano. A intervenção sublime de Deus se realiza no cotidiano, na vida diária. 
 Resumindo: temos por um lado uma descrição minuciosa, uma ligação direta e 
sem lacunas entre os acontecimentos, univocidade e exteriorização da interioridade dos 
personagens; por outro lado, escurecimento de algumas partes da história, assim como 
das motivações e das conexões, que exige interpretação e pretende uma universalidade 
histórica da narrativa. 
 Ambos os textos acabam refletindo a sociedade da qual fazem parte. No poema 
grego, há uma clara relação dos personagens homéricos com a aristocracia feudal e a 
inserção do cotidiano no sublime e no trágico; diferente dos relatos bíblicos, onde o 
sublime, o trágico e o problemático estão imbricados no espaço caseiro e cotidiano. 
Além disso, “o Velho Testamento, enquanto se ocupa do acontecer humano, domina 
todos os três âmbitos: lenda, relato histórico e teologia histórica exegética” (p. 18). 
Porém, as narrativas distanciam-se pelo percurso feito: temos, de um lado, a 
permanência no lendário dos poemas homéricos, e do outro, a proximidade dos relatos 
bíblicos cada vez mais do histórico à medida que a narrativa avança. Esses dois estilos 
de narrar exerceram influência sobre a cultura europeia, uma vez que encarnam, 
segundo o autor, como tipos básicos, o ponto de partida para novos ensaios sobre a 
representação literária da realidade. 
2- Destaque, na leitura do texto de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua 
reprodutibilidade técnica”, a importância da questão da reprodutibilidade da arte 
e explique o que significa o “declínio da aura”. 
 Segundo Benjamin, a reprodutibilidade da arte produziu o “declino da aura”. Por 
“aura” Benjamin entende o “aqui e agora da obra”, sua autenticidade, sua unicidade, 
isto é, aquilo que faz da obra uma peça única, que foi produzida num momento histórico 
e num local específico. A aura estava relacionada também com o que ligava a arte a um 
momento de culto, um culto mágico (Benjamin da o exemplo das pinturas nas 
cavernas), depois um culto religioso, e mais adiante um culto laico, na modernidade. A 
era da reprodutibilidade técnica, em que a imagem pode ser reproduzida mecanicamente 
e não apenas manualmente (como era o caso da litografia e a xilogravura), leva ao fim 
da aura e da sacralização do original, pois temos contato permanente com as imagens 
das obras, mesmo sem nunca ter acesso ao original. Isso implica uma relação diferente 
das massas com a arte, muito mais próxima, muito mais cotidiana. O cinema, que é uma 
arte que parte justamente do princípio da reprodução, pois ela é feita para ser exibida 
em muitas ocasiões e lugares diferentes, permite uma recepção coletiva da obra, que não 
era possível no caso da pintura. Essa nova relação do público com a obra leva a uma 
atitude diferente, já não de recolhimento, contemplativa, mas o que Benjamin chama de 
“recepção tátil”, isto é, uma “recepção através da distração”. Ao mesmo tempo, a massa 
participa muito mais e o cinema participa de um “sonho coletivo”. Ademais, a 
destruição da aura permite um aniquilamento da distância entre autor e receptor, como 
ocorre no caso do Dadaísmo. Este movimento procura uma forma de arte que não possa 
ser simplesmente contemplada, mas que cause um efeito de escândalo ou de “choque”, 
que Benjamin compara com o choque na percepção provocado pela montagem no 
cinema.

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