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Teoria da literatura

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TEORIA DA 
LITERATURA 
PROFESSOR
Me. João Carlos Dias Furtado
ACESSE AQUI 
O SEU LIVRO 
NA VERSÃO 
DIGITAL!
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001
EXPEDIENTE
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. FURTADO, João Carlos Dias.
Teoria da Literatura.
João Carlos Dias Furtado.
 
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. 
176 p.
“Graduação - EaD”. 
1. Teoria 2. Literatura 3. Arte. EaD. I. Título. 
FICHA CATALOGRÁFICA
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
Coordenador(a) de Conteúdo 
Fabiane Carniel
Projeto Gráfico e Capa
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho
e Thayla Guimarães
Editoração
Andreza Diniz
Design Educacional
Bárbara Neves e
Ivana Cunha Martins
Revisão Textual
Silvia Caroline Gonçalves
Ilustração
André Azevedo
Fotos
Shutterstock
CDD - 22 ed. 869.907 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-85-459-2050-2
Impresso por: 
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de 
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de 
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
DIREÇÃO UNICESUMAR
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional 
Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo 
Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos 
Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de Contra-
tos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de 
Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel
BOAS-VINDAS
Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra-
balhamos com princípios éticos e profissiona-
lismo, não somente para oferecer educação de 
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con-
versão integral das pessoas ao conhecimento. 
Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis-
sional, emocional e espiritual.
Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com 
dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, 
temos mais de 100 mil estudantes espalhados 
em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais 
(Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e 
em mais de 500 polos de educação a distância 
espalhados por todos os estados do Brasil e, 
também, no exterior, com dezenas de cursos 
de graduação e pós-graduação. Por ano, pro-
duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos 
mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe-
cidos pelo MEC como uma instituição de exce-
lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos 
e estamos entre os 10 maiores grupos educa-
cionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos edu-
cadores soluções inteligentes para as neces-
sidades de todos. Para continuar relevante, a 
instituição de educação precisa ter, pelo menos, 
três virtudes: inovação, coragem e compromis-
so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, 
para os cursos de Engenharia, metodologias ati-
vas, as quais visam reunir o melhor do ensino 
presencial e a distância.
Reitor 
Wilson de Matos Silva
Tudo isso para honrarmos a nossa mis-
são, que é promover a educação de qua-
lidade nas diferentes áreas do conheci-
mento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A
Dr. João Carlos Dias Furtado
Doutor em Letras pela Universidade Estadual de Maringá, possui mestrado e gra-
duação em Letras Português/Inglês pela mesma instituição. Atualmente, trabalha no 
Centro Universitário Unicesumar, nos cursos de Letras, ministrando as disciplinas de 
Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa e Países Lusófonos, e Pedagogia, minis-
trando a disciplina de Língua Portuguesa, Leitura, Produção de Textos e Literatura e a 
disciplina de Arte e Musicalização aplicadas à Educação; e no Cursos e Colégio Integral 
de Maringá, como professor de Literatura do Ensino Médio e Curso Pré-Vestibular.
http://lattes.cnpq.br/8086963414003127
A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A
TEORIA DA LITERATURA
Caro(a) Aluno(a),
Adentramos nesse livro no fantástico universo que é os estudos literários! A literatura – uni-
verso encantador que nos leva a tantas experiências marcantes – tem um campo especial da 
ciência que estuda a sua estrutura, suas funções, seus elementos composicionais e o contexto 
que a rodeia; a esse estudo damos o nome de Teoria da Literatura.
O livro é composto de cinco unidades, as quais trazem os principais conceitos e discussões para 
oportunizarem uma formação consistente e que nos dê um panorama sobre maneiras que po-
demos analisar uma obra, os conceitos teóricos que suportam as investigações sobre essa arte.
Na Unidade 1, discutiremos a concepção da literatura, o que faz dela algo singular e atemporal, 
percorrendo uma reflexão sobre o conceito do cânone literário, sobre os gêneros literários 
e a importância da literatura em nossa vida.
Na Unidade 2, compreenderemos as especificidades do gênero Narrativo, para, assim, esmiu-
çarmos conceitos fundamentais em uma análise de uma obra narrativa, destacando aspectos 
estruturais e semânticos da obra literária. 
Na Unidade 3, estudaremos outro gênero literário, que é o Lírico, comumente identificado 
como poesia. Analisaremos os operadores líricos, os versos, rimas, ritmo e formas poemáticas 
fixas, construindo, assim, uma compreensão global sobre esse gênero.
Na Unidade 4, o estudo será sobre o gênero Dramático, comumente identificado como o 
teatro. Nele, verificaremos os operadores dramáticos, os elementos da tragédia e comédia 
grega, e também as modalidades da auto e farsa, abrangendo, assim, os elementos funda-
mentais desse gênero literário.
Na Unidade 5, investigaremos as correntes teóricas oriundas do século XX e que possibilitaram 
outros escopos para a análise de uma obra literária. Apresentaremos um olhar sistemático 
sobre o Formalismo Russo, New Criticism, Estruturalismo, Pós-estruturalismo, Pós-colonia-
lismo e Teorias Feministas.
Diante desse panorama, querido(a) aluno(a), chegaremos ao final deste livro com uma com-
preensão global sobre a Teoria Literária, que naturalmente pode ser aprofundada em estudos 
futuros que você fará em outros importantes momentos de sua formação.
Bons estudos! 
ÍCONES
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conceituando
No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida 
para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. 
quadro-resumo
Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco 
mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. 
explorando Ideias
Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e 
transformar. Aproveite este momento! 
pensando juntos
Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes 
online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno-
logia a seu favor. 
conecte-se
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar 
Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo 
está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
UNIDADE 03
UNIDADE 05
UNIDADE 04
FECHAMENTO
ARTE
LITERÁRIA
8
GÊNERO
NARRATIVO
40
72
GÊNERO
LÍRICO
106
GÊNERO
DRAMÁTICO
128
TEORIAS
CRÍTICAS
166 
CONCLUSÃO
GERAL
1ARTE LITERÁRIA
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O que é literatura? • Literariedade
• Cânone e anticânone • Gêneros literários • Necessidade de literatura.OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
• Estudar o conceito de literatura • Compreender a literariedade • Compreender os conceitos de cânone
e anticânone • Conceituar os gêneros literários • Assimilar a importância da literatura.
PROFESSORES 
Dr. João Carlos Dias Furtado
INTRODUÇÃO
Olá, Aluno(a)!
É com muito prazer que iniciamos uma trajetória importante para a 
nossa formação como professores na área de Literatura. Tendo isso em 
vista, adentramos em um grande e prazeroso universo artístico.
Nesta unidade, estudaremos elementos importantes da Literatura, con-
ceitos e teorias que embasam os Estudos Literários, configurando-se, assim, 
como uma importante etapa no entendimento da arte literária e em suas 
futuras pesquisas nesse campo científico.
Iniciaremos com uma delimitação sobre o que é Literatura, uma tarefa 
que não é simples e que não nos levará a uma só resposta, mas sim a uma 
discussão interessante e vital para o nosso olhar analítico sobre essa arte. 
Isso servirá como suporte para discutirmos o conceito de literariedade 
e sua função dentro do espaço de produção e estudo das obras e autores 
clássicos e contemporâneos.
Na sequência, iniciaremos um olhar atento para a definição de cânone 
e anticânone, refletindo a importância de um olhar crítico sobre as famo-
sas listas dos melhores e piores livros, qual a importância desse tipo de 
seleção, quem a faz, com que interesse – será que existe realmente uma 
lista completa e perfeita? É diante desses e de outros questionamentos que 
seguiremos esse debate.
Observaremos a construção e o entendimento dos gêneros literários 
(Lírico, Épico e Dramático), sua concepção teórica, sua aplicação e situa-
ções em que essa teoria não comporta as produções artísticas modernas, 
que extrapolam os limites desses gêneros.
Fecharemos esta unidade observando a importância da literatura em 
nossa vida e a necessidade artística que temos em nosso cotidiano, mes-
mo sem perceber; discutiremos a importância da arte nas situações mais 
ordinárias que nos circundam.
Esse é nosso primeiro passo. Por isso, ânimo, determinação e muita 
sapiência para as nossas reflexões. Aceita esse desafio? 
Bons estudos! 
 
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O QUE É 
LITERATURA?
Você sabe o que é Etimologia? Não, não se preocupe. Ao procurarmos o significado dessa 
palavra no dicionário Michaelis, encontramos três acepções:
1. Pesquisa e estudo da origem, da formação e da evolução de uma palavra de de-
terminada língua.
2. Disciplina que tem como função explicar as evoluções sucessivas das palavras re-
montando o mais longe possível no passado até chegar ao seu étimo.
explorando Ideias
Nós sabemos que a literatura está inserida dentro de um campo maior, que é o 
universo da Arte, o qual engloba diversas manifestações, como pintura, escultura, 
fotografia, desenho, filme, mosaico etc. Nesse sentido, é nítido que a literatura usa 
como matéria-prima básica a palavra e, por isso, estrutura-se em um universo de 
composição comunicativa e dialógica, pois tende a apresentar algo ao seu leitor. 
Uma questão que sempre nos intriga, todavia, é a definição da Literatura; surge daí 
a crucial pergunta: O que é Literatura? Apesar de parecer uma resposta rápida 
e fácil, não encontramos uma proposição única que dê conta da amplitude que 
a literatura abarca. Por isso, iniciamos com essa discussão.
Diante da pergunta feita, podemos tomar alguns caminhos importantes que 
nos direcionam para traçar a nossa trajetória. O primeiro passo é recorrer ao 
sentido etimológico da palavra. 
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Sabe quem foi Aristóteles? 
Foi um dos grandes pensadores da Grécia Antiga. Segundo o Portal Educação:
“O Filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) foi considerado o fundador da Lógica, 
sua obra tem grande influência na Teologia cristã na Idade Média. Nasceu em Estagira, 
antiga Macedônia, atual província da Grécia. 
[...]
O pensamento aristotélico foi preservado por seus discípulos e atinge várias áreas do 
conhecimento, como Lógica, Ética, Política, Teologia, Metafísica, Poética, Retórica, An-
tropologia, Psicologia, Física e Biologia”. 
Como ficou claro, Aristóteles fez contribuições para diversas áreas do conhecimento, 
uma delas foi o campo dos estudos literários.
Fonte: Portal Educação (on-line, 2019)2.
explorando Ideias
3. Origem de uma palavra, seja na sua forma mais antiga, seja em alguma fase de 
sua evolução; étimo: a etimologia de ‘embora’ é a contração da locução ‘em boa 
hora´ (MICHAELIS, 2019, on-line)1.
Agora ficou claro que a Etimologia é a origem da palavra, o seu sentido de formação e 
a sua evolução natural.
Fonte: adaptado de Michaelis ([2019], on-line)1.
A origem etimológica do vocábulo Literatura vem do latim Littera, que significa 
letra, constituindo a ideia de que a literatura é aquilo ligado à tradição escrita, à 
erudição, à arte de usar as palavras. 
Nesse contexto, podemos entender literatura como qualquer texto escrito, não ne-
cessariamente àquilo que é artístico, ou seja, um texto informativo, uma receita de bolo, 
um livro de história ou uma carta de amantes, por exemplo, podem ser considerados 
literatura se usarmos a etimologia como conceito para defini-la. Sabemos, porém, 
que a Literatura da qual tratamos não é um texto ordinário, apenas informativo ou 
uma simples composição de uma receita, mas sim de um texto que tenha algo mais.
Quando chegamos nesse ponto, entendemos que precisamos ir além, pois 
esse significado não responde completamente à nossa proposição inicial; natu-
ralmente, liga-se no sentido da composição do uso da palavra, mas só isso não é 
suficiente para abarcar as múltiplas possibilidades que a literatura propõe. 
Outro caminho possível é observar as afirmações de Aristóteles que, em suas 
obras, tentou afirmar a literatura com uma distinção simples entre aquilo que era 
literário e aquilo que não era e, posteriormente, apresenta uma série de descrições 
sobre os textos literários que existiam na época 
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Segundo Antônio Soares Amora (2010),
 “ [...] o sentido das especulações literárias dos gregos, poderíamos dizer que elas se voltaram, primeiro, para o problema da caracteri-zação da obra literária, com o que se procurou, então, distinguir a 
literatura da não-literatura; em segundo lugar, para a formulação de 
um conjunto de preceitos que deviam ser seguidos pelos escritores 
[...] (AMORA, 2010, p. 24).
Dessa forma, entendemos que essas descrições identificariam o que é literatura, 
pois ele estipulou os gêneros literários (lírico, épico e dramático) e suas caracte-
rísticas, delimitando de uma forma as nuances do que era literário. Importante 
avisá-lo, querido(a) aluno(a), que veremos as especificidades de cada gênero nas 
próximas unidades. Todavia surge aí um problema: os textos posteriores a Aris-
tóteles, que não seguiam as mesmas características dos textos que serviram de 
base para ele criar esse conceito de gênero literário, não podem ser chamados de 
literatura? Sim, podemos chamar de literatura! Novamente, o grande estudo do 
filósofo grego não dá conta da magnitude que é a literatura.
Importante ressaltar que os estudos de Aristóteles são fundamentais até os 
dias atuais para o campo da teoria literária, porém é preciso deixar claro que ele 
não consegue, em sua época, descrever todas as características que a literatura 
pode assumir em sua forma artística. 
Terry Eagleton (2006), um teórico do século XX, apresenta a literatura como 
uma “escrita imaginativa”, isto é, aquilo que não é real – assim, é sempre ficção. 
Um conceito também interessante, mas que esbarra em uma condição muito 
especial, é que muitos textos tidos como literários são originários de fatos reais. 
Um bom exemplo é a epopeia de Camões “Os Lusíadas”, que narra uma viagem 
que realmente ocorreu, ou os sermões de Pe. Antônio Vieira, que apresentam 
fatos vividos e discutidos por ele em sua época, ou de forma mais próxima a nós, 
as biografias autorizadas ou não autorizadas que partem de fatosreais. Sendo 
assim, se consideramos esses textos literários, a definição de Eagleton não atende 
às particularidades da arte literária. 
No mesmo século XX, em sua primeira metade, surgem correntes teóricas que 
se apegam à composição material da literatura para tentar defini-la, isto é, encon-
tram na materialidade do texto aspectos que iriam identificar como literatura ou 
não. Segundo Silva (2007, p. 15), “os textos literários possuem características estrutu-
rais peculiares que os diferenciam inequivocadamente dos textos não-literários[...]”.
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Nessa perspectiva, o texto literário utiliza uma linguagem, uma organização 
temporal, estrutural, um ritmo, rimas, técnicas que o diferenciam do texto cotidia-
no. Um dos estudiosos, Roman Jakobson (1975), cria uma modelo de comunica-
ção para demonstrar essa experiência linguística. Esse modelo tem seis elementos: 
emissor, mensagem, código, contexto, canal e receptor; assim, o autor afirma que 
o texto que está centrado na mensagem é aquele que utiliza uma função poética 
e, por isso, são textos literários. 
Refletindo sobre esse sentido, notamos que esses teóricos entendiam que a lin-
guagem literária era algo especial e que fugia da normalidade. Esse conceito divide 
a linguagem entre algo normal, um código utilizado no dia a dia, e uma linguagem 
especial, algo voltado para a literatura. Definição essa que também não está presente 
no universo da linguagem, já que é uma ilusão imaginarmos que há essa distinção 
clara, objetiva e direta entre a linguagem do dia a dia e a da literatura. 
Pensemos nos diferentes falares de cada região brasileira, nas transformações 
que a língua sofreu ao longo dos anos, nas gírias criadas por grupos de pessoas 
– será que é possível definir uma linguagem normal e outra especial? A resposta 
nos parece nítida, não? Até porque a literatura representa, em muitas obras, a 
linguagem de determinada região; vale lembrar romances como Os sertões, de 
Graciliano Ramos, ou Incidentes em Antares, de Érico Veríssimo, obras de cenário 
e linguagem regionais.
Novamente entendemos que esse conceito não abarca a complexidade que a 
literatura é, pois restringe suas possibilidades de criação e entendimento somente 
ao espaço da linguagem e sua estrutura composicional, impondo à literatura o 
princípio de “desautomatizar” o que a linguagem cotidiana havia “automatizado” 
em respostas, perguntas e falas sem grandes intensidades.
Aqui, surge o ponto de considerar o leitor nesse processo de entendimento do 
que é literatura, pois ele é parte fundamental em sua existência. Não existiria obra se 
não houvesse leitor. Assim, Eagleton (2006, p. 12) afirma que a “definição de literatu-
ra fica dependendo mais da maneira pela qual alguém resolve ler, e não da natureza 
daquilo que é lido”. Nesse sentido, a literatura é definida por um conjunto de práticas 
que se ligam ao modo com o que o leitor entende e usufrui do texto literário. Fica 
claro porque tantas culturas e sociedades relacionaram a literatura a textos religio-
sos ou morais, instituindo práticas e comportamentos nessa perspectiva.
Nosso percurso demonstra que não é simples a definição direta do que é li-
teratura, mas, observando o que desenvolvemos, é possível notar que a literatura 
está ligada à palavra escrita, à comunicação, a um senso estético de como dizer 
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algo e intrinsecamente subordinada aos leitores e como eles leem ao longo da 
história, de seus hábitos e culturas. Diante disso, uma boa reflexão sobre a questão 
é proposta por Yvette Centeno (1986, p. 55 - 58):
 “ O texto literário resulta de uma vontade de comunicação. Mas aqui-lo que o define é, mais do que a vontade de comunicação, a sua capa-cidade de significar. É esta característica que o distingue de qualquer 
texto normal, puramente utilitário. No texto literário não se trata só 
de comunicar, trata-se acima de tudo de significar (e quanto maior a 
sua capacidade de significação mais literário ele será). Texto literário 
é aquele em que a comunicação não se opera e não actua ao nível 
só consciente, mas a outro nível, que podemos chamar simbólico, 
proveniente de e dirigindo-se ao inconsciente. Ao outro eu, não ra-
cional, de sombra, ao Eu universal, que se contrapõe (e o abarca, 
por ser mais vasto do que ele) ao eu individual. O eu individual, o 
ego, abarca apenas a consciência. O Eu universal abarca o todo da 
personalidade, que inclui tanto o inconsciente como a consciência. 
Ora o texto será tanto mais literário quanto mais do inconsciente, 
ou do todo da personalidade, provier, e quanto mais ao inconscien-
te, ao todo da personalidade, se dirigir, com ele se encontrando e 
sobre ele actuando. [...] O texto literário é o local de projecção dos 
conteúdos do inconsciente, individual ou colectivo, de uma psyche. 
[...] Podemos aproveitar para a definição do texto literário a ideia de 
que é ’o texto que vive do que a mensagem contém, e não do que ela 
simplesmente diz’. O texto é o pretexto de significações mais fundas.
Observando a perspectiva da autora, entendemos que a essência da literatura é a 
exploração dos sentidos conotativos que comunicam-se com o leitor e se tornam, 
em certa medida, “mágicos”, uma experiência linguística, pessoal e social que 
constroem e apresentam um pouco de todos nós. Conotativo, no sentido que Ro-
land Barthes (1977) afirma que não há uma pureza na conotação, mas uma junção 
ou distanciamento dos sentidos que se formam dentro da obra junto ao leitor.
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Diante disso, e aproveitando os estudos de Carlos Reis (2001), podemos materializar 
a definição de literatura em sua forma institucional em três aspectos fundamentais:
1. A sua função social, a interação/intervenção na cultural, moral, religião 
e hábitos que a literatura retrata, transforma, questiona e ressignifica em 
seus textos. 
2. A sua função histórica, a compreensão do homem, da sua identidade, 
do uso da realidade e da ficção como instrumentos de comunicação e da 
estruturação da linguagem e de seus gêneros de forma a interagir mais 
significativamente com o público.
3. A função estética, a linguagem literária não é efêmera e sim a busca de 
uma compreensão maior de sua construção social, histórica e artística de 
forma a se tornar atemporal.
Nessa reflexão, é possível notar a complexidade que o texto literário impõe sobre 
os grandes críticos, teóricos e sobre nós, estudiosos da teoria literária, pois não há 
um único caminho teórico que ofereça todo substrato para embasar a literatura. 
Por isso o entendimento de sua complexidade nos faz analisarmos com cautela 
e parcimônia o fenômeno que a literatura produz.
“A mensagem literária centra-se sobre si mesma: o esforço do autor incide sobre a estru-
tura e forma dessa mensagem; isto é, nela a função poética é predominante”. 
(Francis Vanoye)
pensando juntos
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Você já ouviu falar em Formalismo Russo? Não? Então não se preocupe, pois iremos apro-
fundar um pouco mais sobre essa corrente crítica na Unidade 5. Todavia, para nos si-
tuarmos um pouco em seu significado, podemos afirmar que foi a corrente teórica que 
estudou o discurso literário em seus diversos níveis semântico, sintático e fonológico.
Fonte: o autor.
explorando Ideias
Para Roman Jakobson, um dos membros do Formalismo Russo, a poesia é lin-
guagem em sua função estética. Deste modo, o objeto do estudo literário não é 
a literatura, mas a literariedade, isto é, aquilo que torna determinada obra uma 
obra literária (SCHNAIDERMAN, 1970).
No ensaio A arte como procedimento, Victor Chklovski (1978), também um dos 
formalistas, procura explicar o que é a literariedade (elemento que confere a um 
texto o estatuto de literatura, ou seja, o que faz a letra de uma música de Tom Jobim 
arte enquanto um rótulo de maionese não passa de um rótulo de maionese). Para 
tanto, Chklovski faz uma distinção entre a natureza da linguagem poética, chamada 
por ele de língua poética, e a naturezada linguagem cotidiana, nominada língua 
prosaica. O que distingue uma da outra é justamente a construção – o procedimen-
to – utilizada pelo autor para a elaboração da linguagem. No cotidiano utilizamos 
vocábulos simples, cujo objetivo é o de comunicar algo a nosso interlocutor. 
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LITERARIEDADE
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Chklovski (1978) considera que essa língua prosaica é utilitária, econômica, 
reducionista, automatizada, ao contrário do que ocorre na língua poética, tra-
balhada de modo rico ao ponto de oferecer ao interlocutor procedimentos de 
singularização, desautomatizando a linguagem cotidiana, isto é, uma forma 
de redimensionar a linguagem. Para Chklovski, linguagem poética e linguagem 
prosaica se distinguem por meio desses procedimentos, que opõem automatismo 
e percepção desautomatizada:
 “ E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reco-
nhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singula-
rização dos objetos e o procedimento que consiste em obscurecer 
a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção; a arte 
é um meio de experimentar o devir do objeto, o que já é “passado” 
não importa para a arte (CHKLOVSKI, 1978, p. 45).
Para que isso ocorra, o artista/escritor se utiliza de inúmeros recursos de lingua-
gem – os procedimentos de singularização – de modo a oferecer novas ideias e 
informações a temas cotidianos, que se encontram “pasteurizados”, neutralizados 
pelo uso recorrente. Para Franco Júnior (2003b), esses procedimentos levam a 
uma crise nos hábitos que se regem pelas informações automatizadas, provocan-
do no leitor uma revisão de suas expectativas e até mesmo de sua própria per-
cepção de mundo. São, assim, os procedimentos de singularização que definem 
a linguagem única, específica – singular – da arte. 
Como isso ocorre em um texto, como percebo essa singularização proposta 
pela Literatura? Leia os dois textos e veja as particularidades de cada um.
Texto 1
Noticiado pelo portal T5, um jovem é morto ao ser imobilizado e estrangu-
lando pelo segurança do supermercado Extra no Rio de Janeiro, localizado 
na Barra da Tijuca.
No dia 14 de fevereiro de 2019, quinta-feira, à tarde, Pedro Henrique Gonza-
ga (25 anos) morreu após ser imobilizado e consequentemente estrangulado 
pelo vigilante Davi Ricardo Moreira. Ele ainda foi levado ao hospital pelos 
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Bombeiros, mas não resistiu. Segundo o investigador do caso, a empresa 
afirma que a reação do segurança foi uma reação a uma tentativa de furto, 
por isso essa ação enérgica que acabou sufocando e matando.
Fonte: Portal T5 (2019, on-line)3.
Texto 2
Poema tirado de uma notícia de jornal
(Manuel Bandeira)
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia 
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Fonte: UFPEL (2016, on-line)4. 
A história contada nos dois textos é parecida, pois retrata a situação de descaso 
social em que os jovens se encontram, em especial na cidade do Rio de Janeiro, 
local em que as cenas são retratadas.
A história contada é a mesma, mas os procedimentos são os mesmos? Por que 
motivos o Texto 1 é classificado como uma notícia de jornal, portanto não lite-
rário, ao passo que o Texto 2 é considerado literatura e, consequentemente, arte? 
No Texto 1, há o predomínio de informações que seriam consideradas re-
levantes por um leitor do jornal, no qual este fato se apresentasse: em primei-
ro lugar, o leitor se perguntaria sobre o que aconteceu e obteria como resposta 
um assassinato. Na sequência, o jornalista, de modo a compor o lead da notícia, 
responderia a outros questionamentos relevantes, tais como: quem foi morto, 
quando foi morto, como e o porquê da morte ter acontecido. Ao expor essas res-
postas, o jornalista estaria tão somente levando a conhecimento do leitor fatos, 
sem julgá-los, de modo que o importante seria informar e não relatar a história. 
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O Lead, em inglês, ou Lide, em português, corresponde ao primeiro parágrafo da transmis-
são radiofônica e tem a função de destacar o caráter principal da notícia, sem lhe ocultar ne-
nhum dos elementos clássicos, como o sujeito o verbo e o predicado. (LAGE, 1999, p. 26-29). 
Responde às seguintes perguntas: o quê, quando, onde, por quê, quem, como. O termo tem 
origem na síntese acadêmica de Laswell e no verbo to lead, que significa conduzir, guiar.
Fonte: Fernandes (2006, p. 6).
explorando Ideias
No Texto 2, em contrapartida, notamos um processo um tanto diverso do que 
ocorreu no Texto 1. Em vez de meramente informar sobre o suicídio ou acidente 
de João Gostoso, o eu lírico preocupa-se com detalhes da ação de João, uma vez 
que o importante é a construção do conflito dramático envolvendo a situação 
apresentada. Nas minúcias do texto, percebemos informações subjetivas – irrele-
vantes para uma notícia, porém relevantes para um texto literário –, tais como a 
descrição de João Gostoso, suas características físicas, seu trabalho, sua moradia 
e, principalmente, as ações destacadas em versos distintos. 
Na literatura, esses detalhes ganham importância, pois garantem a drama-
ticidade do texto e possibilitam ao leitor horizontes de interpretação variados, 
conferindo a ambiguidade textual. Para Chklosvki (1978), são estas minúcias 
trabalhadas pela linguagem empregada pelo autor que conferem ao Texto 2 o 
estatuto de literatura, porque possui literariedade; além disso, a linguagem uti-
lizada, apesar de simples, foi articulada de tal modo que pode ser considerada 
desautomatizada, diferentemente do processo ocorrido no Texto 1. 
Chklovski (1978), entretanto, revela que o objeto estético [artístico] é cria-
do através de procedimentos, cujo objetivo para estes mesmos objetos é de ter 
uma percepção estética. Ademais, para o crítico russo, a singularização, isto é, a 
propriedade em criar uma percepção particular do objeto diferenciando-o dos 
demais, é um elemento importante no fazer ‘arte’.
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Nos Estudos Literários, um conceito que você terá contato frequentemente é o 
do cânone. Ao ler o termo, você com certeza deve ter se recordado do ato da 
canonização, que consiste em tornar “sagrado” determinado objeto religioso ou 
pessoa a partir do julgamento de seus atos. O mesmo processo pode ser verificado 
na literatura, especificamente na crítica literária. Alguns críticos – notadamente 
professores universitários – defendem determinadas obras como relevantes e 
de leitura praticamente obrigatória para o estudioso da literatura. Geralmente, 
chamamos estas obras de “clássicos da literatura”. 
Ao fazê-lo, esses críticos estão elaborando sua “lista de leitura”, que passa a 
ser estabelecida como parâmetro da chamada boa literatura e, portanto, deve 
ou deveria ser seguida por quem pretende ser conhecedor dos denominados 
clássicos. É justamente essa seleção do que é considerado uma boa leitura que 
chamamos de cânone.
A palavra deriva do grego kanon, que hoje seria conhecido como uma ‘régua’. 
O kanon era um objeto parecido com uma vara, utilizado como instrumento de 
medida. Esta é a relação importante que você deve entender: o kanon servia para 
mensurar, medir, determinar um tamanho, isto é, um modelo. 
Logo, tudo que é canônico pertence ao cânone e, por consequência, está inse-
rido em um conjunto de modelo, tido como ideal. No caso da Literatura, temos 
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o Cânone Literário, ou seja, uma lista de textos clássicos considerados “de valor” 
estético. Ginzburg, em seu artigo “Cânone e valor estético em uma teoria autori-
tária da literatura” (2004), revela:
 “ Entre os elementos que podem ser examinados em cursos universi-tários de Teoria da Literatura, está o valor. Os estudantes devem saberdistinguir uma boa obra literária de uma obra sem interesse, um autor 
relevante de um nome sem importância. Devem fazê-lo não aleatoria-
mente ou por impulso emocional, mas com base em argumentos fun-
damentados em um conhecimento seguro (GINZBURG, 2004, p. 98).
O autor citado entende que o conceito de valor pode ser examinado em articu-
lação com a noção de cânone, mas não necessariamente análogos, isto é, depen-
dentes. O que gostaria de salientar é que não é porque um livro não pertença ao 
cânone que ele não tem valor, já que 
 “ [...] a reprodução passiva do cânone na formação de estudantes constitui uma limitação na expectativa de desenvolvimento de pensamento crítico. Para evitar isso, é preciso levar aos estudantes 
textos de variados níveis de qualidade (GINZBURG, 2004, p. 99).
Um dos maiores estudiosos sobre o Cânone Literário é o crítico americano 
Harold Bloom, que é explicitamente contrário a movimentos de renovação ou 
reforma do cânone, afinal, para o estadunidense, os departamentos de estudos 
literários ter-se-iam convertido em espaços dedicados a estudos de etnia, raça e 
gênero, uma consequência do abandono de critérios estético (BLOOM, 1995). 
Tal posicionamento de Bloom é alvo de críticas por parte de diversas teorias e 
estudos pertencentes ao multiculturalismo. 
A posição de Harold Bloom, o grande defensor de Shakespeare, pode até ser 
coerente com sua postura de crítico ocidental em relação ao cânone literário, mas 
que, entretanto, não apagam a base histórica em que o cânone foi construído. 
Bloom deixa explícita sua parcialidade ao defender um “cânone anglo-cêntrico 
e egocêntrico”, na definição da professora Leyla Perrone-Moisés, em “Altas Lite-
raturas” (PERRONE-MOISÉS, 2003, p. 200-201).
Se voltarmos aos primórdios da Literatura, veremos que esta ficava restrita a 
apenas um pequeno grupo, levando em consideração a autoria (masculina, de classe 
com alto poder aquisitivo, etnia predominante etc.). Alguns exemplos são os gregos 
e romanos, os primeiros a sistematizar o que era ‘bom’ e ‘ruim’ na literatura.
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Enquanto os romanos davam privilégios apenas aos textos romanos, e os gregos 
consideravam bárbaros todos aqueles que não falavam grego, iniciou-se um processo 
de hierarquização do texto: alta e baixa literatura. Logo, toda produção literária que 
não se enquadrava no kanon deveria ser considerada marginal e inferior. Os tempos 
foram passando, mas o cânone continuava (e continua) nas mãos da elite intelectual, 
que, quase sempre, pertence a um grupo determinante (homens, brancos e ricos).
Todavia, com o avanço dos Estudos Culturais, desde a década de 60, a chama-
da “baixa literatura” começou a ser estudada, já que também é arte/cultura de um 
grupo. Iniciam-se, assim, estudos da produção estética e cultural de autores(as) 
considerados(as) “menores”, enfatizando as formações discursivas, trânsitos e 
trocas intersemióticas, e estabelecendo diálogos e filiações com os(as) grandes 
autores(as) do cânone como do anticânone, perpassando no texto literário as 
demandas minoritárias, além dos questionamentos às instituições literárias.
Hoje, a literatura não tem mais apenas o dever estético de produzir emoção. 
Além disso, a literatura tem o dever social, como podemos observar em obras 
como “Textos de intervenção”, de Antonio Candido (2002), “Literatura, História 
e Política” (2007), de Benjamin Abdala Jr., e “Literatura e resistência”, de Alfredo 
Bosi (2002), todos críticos literários, tais como Harold Bloom.
Desta forma, o valor determinado para ‘medir’ a literatura é subjetivo ou proces-
so de um olhar teórico determinado, já que tão subjetivo e arbitrário é o que faz um 
livro/obra entrar em uma lista e não em outro, pois ser ou ou não considerado literá-
rio é uma opção teórica e pessoal, assim como se constrói ou justifica a literariedade.
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Muitos autores de renome consideram que a primeira referência aos gêneros 
literários surge com Platão, no livro III de A República, momento em que divide 
a poesia em três segmentos: a tragédia e a comédia (arte puramente imitativa); 
os ditirambos, um canto em louvor a Baco (não imitativa), o que denominamos 
atualmente de produção lírica; e a epopeia que reunia as características das duas 
primeiras. Evidenciando, para Platão, a arte como imitação, por isso ela estava 
diretamente ligada à relação poeta-obra e à mimese. 
Para Aristóteles, em sua Poética, obra incompleta, os gêneros literários assu-
mem um caráter mais normativo, pois são estudados de acordo com a seguintes 
modalidades: os meios, os objetos e os modos, o que gera futuramente a estru-
turação dos gêneros literários que conhecemos hoje. Eles foram divididos em: 
Tragédia, o gênero culminante, pois sendo ‘sério’ eleva o ser; Comédia (o avesso 
da Tragédia), a qual consiste na imitação do feio, de uma falha e que não produz 
efeito catártico; Epopeia, que se aproxima muito da tragédia, diferenciando-se 
desta apenas pela métrica e pela extensão; e o Ditirambo. 
Depois de Aristóteles, muitos conceitos surgiram, na maioria das vezes, de 
interpretações equivocadas da Poética, pois, como Aristóteles leva em conta o 
receptor na questão dos gêneros, mas não define claramente certos aspectos, a 
possibilidade de interpretações variadas acaba por ser natural.
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GÊNEROS 
LITERÁRIOS
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Ao estudarmos, entretanto, a Alegoria da Caverna, no livro VII, de A República, 
observaremos que Platão acreditava que toda a criação humana já era uma imita-
ção, mas uma imitação de algo já pensando no plano imaterial: o mundo das ideias. 
Para ele, se tudo no mundo já era imitação, as imitações dessas imitações, ou seja, 
as manifestações artísticas (escultura, pintura, poesia, fotografia etc.) seriam uma 
imitação de segunda mão, absolutamente imperfeitas. Desta maneira, a arte para 
Platão é imperfeita, já que é cópia de segunda mão, um simulacro, a cópia da cópia.
Aristóteles, por sua vez, via o texto dramático, por exemplo, como uma “imi-
tação de uma ação”, que na tragédia teria o efeito catártico. Diferentemente de 
Platão, Aristóteles rejeita o mundo das ideias, valorizando a arte como a real 
representação da natureza e mundo. 
Já no século XX, com o italiano Benedetto Croce (1997), permanece a ideia 
de que a obra de arte não é mimesis, mas sim um todo individual que nasce da 
intuição do autor. Logo, Croce concorda com os românticos na ideia de que em 
uma grande obra de arte não cabe apenas um gênero literário. De um modo geral, 
para os teóricos do século XX, a questão dos gêneros assumirá então esta postura: 
os gêneros estão ligados a processos históricos, são variáveis e, portanto, é difícil 
fazer uma separação total deles na prática. 
No século XXI, foi o crítico literário canadense, Northrop Frye, em Anatomia da 
Crítica (1957), que deu contribuição marcante para o estudo dos gêneros literários.
Ainda assim, para efeitos didáticos, veremos a seguir as características mar-
cantes de cada gênero.
Gênero Narrativo
Originalmente, este gênero era chamado de Épico, a partir do século XX, con-
vencionou-se chamar de gênero narrativo aquele que abrigava histórias das mais 
diversas extensões, mas que mantinham entre si uma identidade estrutural. A 
Você sabe o que é Mimese e Catarse? Confira o significado apropriado desses vocábulos, 
segundo o dicionário Michaelis:
Mimese: na arte literária, a imitação ou a representação da realidade (sentido literário).
Catarse: de modo geral, na filosofia grega da Antiguidade, corresponde a um processo de 
libertação ou purgação, da alma e do corpo, de tudo aquilo que é estranho à essência ou 
à natureza de um indivíduo e que, por isso, o perturba ou corrompe. 
Fonte: Dicionário Michaeles ([2019], on-line)5.
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identidade estrutural de toda narrativa edifica-se sobre cinco elementos, sem os 
quais ela não existe: o enredo, os personagens, o tempo, o espaço e o narrador. 
Por semelhançaestrutural, nesse gênero encontramos produções de roman-
ces, novelas, contos, crônicas, fábulas, apólogos e a própria epopeia. As carac-
terísticas mais específicas do gênero e dos subgêneros serão aprofundadas nas 
unidades seguintes.
Gênero Dramático
O gênero dramático é aquele que envolve as produções tea-
trais. Como tal, tem como característica mais marcante a 
ausência da figura do narrador e a utilização maciça do dis-
curso direto, partindo-se do pressuposto de que as obras des-
se gênero foram feitas para serem encenadas e não apenas lidas, 
até porque a significação em grego para o termo “drama” é ação.
Assim, os textos pertencentes a esse gênero, além das características anterior-
mente apontadas, possuem personagens, descrição de cenário, espaço e tempo 
configurados de acordo com o interesse da ação descrita e a presença da rubrica, 
que nada mais é do que alguns comentários feitos pelo autor da obra e que facili-
tarão a montagem da peça, já que dão indicações ao diretor sobre o que pensou 
o autor a respeito do cenário, do figurino, da luz, dentre outros componentes 
presentes na montagem do espetáculo. 
Figura 1 - Grécia Antiga. Vista parcial de Athenas 
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O nascimento desse gênero se dá na Grécia Clássica, no século V, inicialmente 
com as famosas tragédias, depois com as comédias. Depois o gênero produz no-
vas formas de representação, como o auto e a farsa. Particularidades desse gênero 
também serão aprofundadas nas unidades seguintes.
Gênero Lírico
O lírico está associado ao instrumento musical “Lira”, 
uma espécie de harpa muito utilizada pelos gregos para 
acompanhar cantos, e desse contexto que surge a expres-
são poema lírico ou gênero lírico. Do seu conhecimento 
até o fim da Idade Média, os textos líricos eram cantados, 
uma mistura de poesia com música, mas, a partir do século 
XV, ocorre uma separação em duas modalidades distintas: a poesia e a música.
O gênero lírico expresso pela poesia é considerado uma forma de arte literária 
anterior à escrita, realizada a fim de memorizar e ser transmitida oralmente. Esta 
estratégia mnemônica foi utilizada pelas sociedades ágrafas, antes da chegada da 
“poesia” europeia, pelo menos em sua forma estrutural. 
A palavra poesia advém do termo grego poiesis, que significa criar, no sentido 
de imaginar. Sua definição sempre teve controvérsias e foi tema de debates de 
grandes filósofos e pensadores da Antiguidade, como Platão, Aristóteles, Cícero, 
Dionísio de Halicarnasso, Petrônio, Lucano etc. De acordo com Massaud Moi-
sés, em seu livro A Criação Literária – Poesia (1984), estes pensadores, no geral, 
distinguiam a poesia (o gênero lírico) da prosa (o gênero narrativo), pelo fato 
de a primeira exprimir-se em verso. Ela sempre esteve associada à expressão dos 
sentimentos, do “conteúdo da alma”, das experiências pessoais, porém ela não é 
só composta desse universo subjetivo – na transição do século XIX para o XX, 
essa posição foi reiteradamente questionada.
Na Unidade 3, as particularidades desse gênero serão aprofundadas com a 
discussão de conceitos e composições.
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Ao pensarmos em nossa vida, muitas vezes, imaginamos a necessidade que temos de 
arte – será que realmente precisamos dela? Essa parece uma pergunta genérica e com 
pouco sentido prático, mas, na verdade, ela se encaixa direitinho em nossa realidade.
Pode ser que na leitura desse primeiro parágrafo você tenha respondido que 
não, que não precisa e não gosta, que pode passar uma vida sem ir ao teatro, a 
um show ou ler um livro.
Todavia pense bem: será que não fantasiamos o nosso dia a dia para torná-lo 
um pouco mais agradável, será que não ouvimos uma música para relaxar um 
pouco, será que não sentamos em frente da televisão para ver uma novela ou um 
filme para espairecer um pouco, será que não lemos uma frase em um outdoor 
ou num muro qualquer e paramos para pensar na vida?
Pense bem!
Tenho certeza de que você respondeu positivamente a algumas dessas per-
guntas, mesmo entendendo, em muitos casos, que o fundamental é alimentação 
e saúde, como, à luz de Antonio Candido:
 “ São incompreensíveis certamente a alimentação, a moradia, o vestuário, a instrução, a saúde, a liberdade individual, o amparo da justiça pública, a resistência à opressão, etc.; e também o direito à crença, à opinião, 
ao lazer e, por que não, à arte e à literatura (CANDIDO, 1995, p. 241).
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NECESSIDADE DE
LITERATURA
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Se eu tenho necessidade de me alimentar, mas também de ver um filme, se tenho 
necessidade de saúde, mas também de imaginar a minha vida no futuro, se tenho 
necessidade de ter uma casa, mas também adoro ouvir música ou ir a um show, é 
fácil entender que eu tenho direito à Literatura porque eu tenho necessidade da 
fantasia, da ficção, do devaneio que a arte/Literatura me proporcionam.
 “ A gente não quer só comida/ A gente quer comida, diversão e arte.A gente não quer só comida/ A gente quer saída para qualquer parte.A gente não quer só comida/ A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida/ A gente quer a vida como a vida quer 
(TITÃS, 1987).
A letra da música da banda Titãs já demonstra essa necessidade que temos, ne-
cessidade do lúdico, da brincadeira, do sonho, de “diversão”, de “arte”. Nota-se que 
a literatura é uma necessidade que temos e que precisamos cultivar em nosso 
dia a dia, pois ela nos ajuda a formar nossa personalidade, nossas experiências, 
nossas vivências. Segundo Candido, “as camadas profundas da nossa personali-
dade podem sofrer um bombardeio poderoso das obras que lemos e que atuam 
de maneira que não podemos avaliar” (1972, p. 805),
Diante dessa constatação feita por Antonio Candido, é importante evidenciar-
mos o quanto o ato da leitura se torna importante, pois ele molda, em nossa cons-
tituição, quem somos e seremos. A partir desse ponto, é relevante entendermos 
o quanto a literatura pode contribuir para a formação do aluno, da pessoa e do 
cidadão, isto é, como ela contribui para uma formação integral e humanizadora.
Você pode se perguntar: “humanizadora? Como assim? Como podemos nos 
tornar mais humanos, isso é possível?” 
Segundo o mesmo autor, é por meio da literatura que encontramos outros pon-
tos de vistas, outras realidades, outras construções psíquicas, que nos fazem refletir 
sobre a nossa existência, configurando-se como “um fator indispensável de humani-
zação e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade, inclusive porque atua 
em grande parte no subconsciente e no inconsciente” (CANDIDO, 1995, p. 243).
É nesse contexto que enxergamos a importância de uma formação cultural, 
artística e literária em nossa vida, pois necessitamos de uma essência criativa, 
ficcional e lúdica que encontramos nas diversas manifestações artísticas, ou 
seja, na literatura. 
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Ficou curioso com o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente? Acesse a versão digi-
tal desse documento na íntegra:
https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2017/06/LivroE-
CA_2017_v05_INTERNET.pdf. 
Fonte: o autor.
explorando Ideias
Outro ponto que temos que entender é que a Constituição Federal do Brasil 
de 1988 garante igualdade de direitos a todos os cidadãos brasileiros, conforme 
o artigo 5º (BRASIL, 1988). Nesse contrato social, temos o reconhecimento de 
acesso à educação, à residência, a uma vida digna e com qualidade. Se entendemos 
que temos a necessidade de qualidade de vida, torna-se nosso direito o acesso a 
bens culturais como a literatura.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, outro documento importante em 
nossa sociedade, apresenta a valorização do acesso à cultura: 
 “ [...] é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos di-reitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, 
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liber-
dade e à convivênciafamiliar e comunitária (BRASIL, 1990, Art. 4º).
Esse direito garantido por dois documentos tão importantes para a sociedade 
brasileira corroboram as ideias apresentadas por Antonio Candido, que entende 
que a dignidade do ser humano, seu desenvolvimento e sua formação também 
dependem do acesso à cultura, à literatura, à música, ao teatro, a um museu, à 
diversidade artística existente.
A literatura é capaz de ampliar os horizontes de expectativa, de repertório 
e da capacidade de se tornar um leitor, um cidadão crítico e consciente de seus 
deveres e direitos.
Após essa leitura, é possível identificar a importância de uma formação consis-
tente nos conceitos literários e tomar consciência da necessidade que temos de 
literatura e como ela é um direito tão importante, o qual está assegurado pela 
constituição e pelo ECA.
https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2017/06/LivroECA_2017_v05_INTERNET.pdf
https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2017/06/LivroECA_2017_v05_INTERNET.pdf
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim dessa primeira unidade e entendemos um pouco mais sobre 
conceitos fundamentais para a nossa formação como profissionais da educação 
e estudiosos da literatura.
Estudamos, no primeiro momento, a definição do que é literatura e notamos a 
dificuldade de encontrar uma teoria, um conceito que abarque todas as potenciali-
dades que a literatura nos apresenta. Por isso, é sempre necessário o entendimento 
da melhor concepção teórica que se encaixa para determinada análise literária.
Na sequência, estudamos o conceito de literariedade e como isso é constituído 
na matéria do livro literário, isto é, como aquelas linhas, páginas e histórias se 
compõem como literatura. Refletimos também sobre conceitos importantíssi-
mos, como o cânone, as listas que apresentavam e apresentam visões distorcidas 
ou pouco representativas da literatura universal ou regional, constituindo novos 
questionamentos sobre a sua validade e introduzindo a ideia de anticânone e a 
marginalização de tantos autores e obras.
Outro ponto importante que discutimos foi a concepção dos gêneros literá-
rios propostos por Aristóteles, quais as especificidades de cada um deles (Lírico, 
Épico e Dramático) e as limitações que eles apresentam diante de tantas outras 
produções que trazem inovações temáticas e estruturais.
Finalizamos nosso estudo, nessa primeira unidade, observando a importância 
que a literatura tem em nossa vida, em nossa formação pessoal e profissional. 
Entendemos a necessidade que temos de arte e o direito ao acesso a um bom 
livro, um bom filme, uma boa peça de teatro.
Encerramos, assim, o nosso primeiro passo dentro do universo da Teoria 
da Literatura, entendendo conceitos básicos, mas fundamentais para os nossos 
próximos passos nos estudos e aprofundamentos. Por isso não desanime e siga 
adiante, pois nossa jornada será vitoriosa. 
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na prática
1. A Literatura é uma manifestação artística que acompanha a humanidade durante 
a sua existência e passou por diversas mudanças e transformações ao longo dos 
séculos. A partir disso, é possível afirmar que a definição do conceito de literatura é: 
a) Uma definição simples que abarca todas as suas potencialidades.
b) Uma definição genérica para todas as formas artísticas.
c) Uma orientação teórica única e singular.
d) Uma reflexão complexa e que não se restringe a uma só teoria. 
e) Uma reflexão difusa e arbitrária sobre a poesia.
2. Os gregos organizaram a expressão artística das letras em alguns gêneros. Por isso 
é possível afirmar que os gêneros literários são constituídos por:
I - Lírico.
II - Informativo.
III - Dramático.
IV - Épico.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas IV está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
3. Sobre o conceito de cânone e anticânone, assinale (V) para as assertivas verdadeiras 
ou (F) para as falsas.
( ) Há somente uma lista das melhores obras literárias.
( ) A lista canônica é sempre determinada por um viés ideológico. 
( ) O anticânone vem para questionar as ditas obras canônicas.
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na prática
Assinale a alternativa correta:
a) V; V; F.
b) F; V; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V.
4. Um dos gêneros literários é o Épico, o qual, no século XIX, desdobrou-se em narrati-
va. Pensando nesse contexto, dentro do gênero Épico/Narrativo, estão as seguintes 
estruturas composicionais:
I - Conto.
II - Teatro.
III - Crônica.
IV - Poesia.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e III estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas IV está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
5. A literatura é parte da cultura, da sociedade, da existência humana, por isso tão sig-
nificativa para nossa existência. Ao tratarmos da necessidade de literatura, é correto 
afirmar que:
a) O ser humano não tem necessidade de arte em seu dia a dia.
b) Apenas a poesia serve para sanar as necessidades humanas.
c) O teatro é a única manifestação possível de criar fantasias no ser humano.
d) A literatura não se constitui uma forma de arte ficcional, por isso não é necessária.
e) A literatura, junto a outras modalidades artísticas, são essenciais para a formação 
humana. 
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aprimore-se
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Muitos de nós nos tornamos bons leitores ainda na infância. Nem sempre, porém, 
damos valor à produção literária destinada a essa faixa etária, pois acreditamos que 
qualquer coisa está boa para crianças; mas isso não é verdade. A literatura infanto-
juvenil deve ter qualidade estética, linguística, bom conteúdo, como os demais seg-
mentos da literatura. Para adentrarmos um pouco mais nesse universo leia um tre-
cho do artigo “A importância da literatura na educação infantil”, de Pinati et al. (2017).
A definição de literatura não necessariamente precisa ser uma palavra sem com-
plemento. Nesse contexto, não depende do adjetivo que receba; assim, a expressão in-
fantil que vem junto da palavra literatura não tem o significado dela ser somente para 
crianças. A literatura infantil tem por finalidade ser aquela que satisfaz, de certo modo, 
aos desejos de quem está lendo e que se iguale com ele (LOPES; NAVARRO, 2014). 
A expressão é destacada como sendo um conjunto de publicações relacionadas 
às crianças com teor divertido e didático. Porém, diversos estudos em relação ao 
assunto prelecionam que essas definições são limitadas, porque destacam que bem 
antes da produção de algum material escrito, a literatura para criança fazia parte da 
tradição falada em exposições que relatavam e explicavam sua maneira de explicar 
a realidade (TORTELLA et al., 2016). 
Sempre tem sido uma necessidade do homem ter histórias e memórias narradas 
com o propósito de marcar, passar preceitos e tornar mais forte as histórias. Desta-
cando que, com tais objetivos, as histórias eram narradas em programas de família, 
diversas vezes perto da fogueira junto com cantos e danças, numa condição que 
tinha importância social e cultural (TORTELLA et al., 2016). 
O surgimento da Literatura Infantil tem especificações próprias, porque provêm 
do destaque da família de classe média, da nova condição concedida à infância na 
sociedade e da nova organização da escola. Seu aparecimento se deu pela associa-
ção com a Pedagogia, com o intuito da literatura se utilizar para se melhorar o con-
teúdo e estudo desta. Portanto, no século XVIII, a criança passa a ser considerada 
como indivíduo e tendo diferença do adulto, com características e vontades próprias 
34
aprimore-se
(LOPES; NAVARRO, 2014). Nos tempos antigos, a literatura – permeada por mitos e 
fantasias – teve início no Oriente e se expandiu pela Europa, porém, foi somente na 
Idade Média que ela teve um marco decisivo, revelando nas narrativas uma repre-
sentação de mundo próprio,cheia de imagens opostas, com o bem se contrapondo 
ao mal. Essa disposição se materializou na literatura tradicional refletindo até os 
dias de hoje (TORTELLA et al., 2016). Desse modo, a Literatura precisa ser usada para 
instigar a vontade pela leitura, porque ela tem o poder de favorecer gozo, entusias-
mo e magia, quando estudada de maneira expressiva pelo aluno. Ela tem o poder de 
desenvolver a imaginação, os sentimentos, a emoção, a expressão e o movimento 
por meio de uma aprendizagem prazerosa (LOPES; NAVARRO, 2014).
[...]
A Literatura Infantil tem papel importante para o aprendizado da criança, pois re-
laciona essa com suas experiências pessoais. Nesse sentido, a criança amplia o sen-
so crítico, quando, no momento de uma leitura, ela fala, pergunta e aceita ou não a 
opinião do autor. Também amplia a arte por meio da fantasia, alcançando espaço 
sem fim na sua imaginação, com resultado de novos textos, pinturas, desenhos, co-
lagens etc. A literatura é essencial por evidenciar uma visão de mundo e cria o pró-
prio mundo interagindo com ambos (BARROS, 2013). Segundo Mallmann (2011, p. 
14), “a literatura infantil é um recurso fundamental e significativo, para a formação 
do sujeito, de um leitor crítico e ainda pode desenvolver os valores morais”. 
Considerada uma grande auxiliadora durante o processo de alfabetização, a lite-
ratura infantil auxilia e facilita o aprendizado, e também desenvolve a imaginação, 
35
aprimore-se
a criatividade e o prazer por ler. Colocar a literatura infantil no processo de alfabeti-
zação e aprendizado das letras tem por significado incluir a criança em um mundo 
de aprendizado lúdico e com prazer, onde há um maior estímulo ao aprender a 
ler e escrever; ela permite que a criança vivencie situações, que no cotidiano não 
é possível (MATHEUS, 2014). A criança precisa habituar com a variedade de textos 
e estilos desde o começo da vida na escola. Isso acontece porque, nessa fase da 
escola, a criança se encontra em processo de aprendizado e de desenvolvimento 
de suas capacidades. Mesmo que não tenha domínio da língua, ela necessita dessa 
relação com a literatura para, no futuro, serem leitores críticos. Este é o instante de 
incentivar a habilidade de compreender e de pensar da criança (MALLMANN, 2011). 
A literatura infantil tem a capacidade de trazer um emaranhado de emoções, 
sentimentos, sentidos e significados, a partir da sua interação com o meio em que 
a criança vive, através dos livros adaptados para o perfil dessa criança. Nesse ins-
tante, inicia o encantamento da criança pela literatura, porque estão num período 
de mesclar fantasia e realidade. Nesse sentido, a literatura infantil propicia o desen-
volvimento da imaginação, pensamentos e valores morais de maneira prazerosa. A 
literatura transmite valores positivos como o respeito ao próximo, a solidariedade, 
o respeito à natureza e a autonomia, tendo uma contribuição importante para a 
criação de cidadãos mais solidários (MALLMANN, 2011).
Fonte: Pinati et al. (2017, p. 50 - 51).
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eu recomendo!
Literatura: ontem, hoje, amanhã
Autor: Marisa Lajolo
Editora: Unesp
Sinopse: este livro se dirige a todos que têm interesse por litera-
tura e já devem ter se perguntado o que é e quantos sentidos e 
mundos podem caber nessa palavra. Essas questões, que povoam 
cabeças de leitores e leitoras mundo afora, também instigaram a 
premiada professora Marisa Lajolo, que desenvolveu algumas respostas neste livro.
livro
O Cânone Ocidental
Autor: Harold Bloom
Editora: Ponto de Leitura
Sinopse: uma viagem fascinante pelos grandes poetas e escritores 
do mundo ocidental. O respeitado ensaísta norte-americano Ha-
rold Bloom desafia o multiculturalismo, o marxismo e o feminismo 
com o seu livro O Cânone Ocidental, da editora Objetiva. Conside-
rado uma obra-prima pela crítica especializada, o livro investiga alguns expoentes 
da literatura ocidental - como Shakespeare, Joyce, Beckett, Proust, Neruda, Borges 
e o contemporâneo Tony Kushner, entre outros. Sofisticado e polêmico, O Cânone 
Ocidental causou furor nos meios intelectuais norte-americanos. Quando foi lan-
çado nos EUA, alcançou o expressivo número de 50 mil exemplares vendidos. No 
Brasil, o caminho também foi de sucesso.
livro
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eu recomendo!
Notas de Teoria Literária
Autor: Afrânio Coutinho
Editora: Vozes
Sinopse: este manual, preparado pelo autor como uma obra de 
iniciação ao estudo da Teoria Literária, oferece aos estudantes 
uma metodologia clara, que abre perspectivas e possibilita, de 
modo simples, sintético e didático, a mais ampla visão dos temas 
que configuram esse tipo de estudo. Ele fornece os elementos necessários para a 
compreensão dos mais diversos fenômenos literários. Não se pode fazer o estu-
do do romance brasileiro, da tragédia francesa ou da epopeia camoniana sem o 
conhecimento geral do romance, da tragédia, da epopeia como gêneros em si. Há 
certos dados fundamentais que alicerçam o bom conhecimento das obras de arte 
literária. Esses dados devem ser fornecidos pelo estudo geral, introdutório da Lite-
ratura, através da Teoria Literária.
livro
Neruda
Ano: 2016
Sinopse: de todos os momentos amplamente documentados 
da vida de Pablo Neruda, este filme se dedica ao período mais 
misterioso de sua trajetória: o exílio. Perseguido pelo governo 
totalitário chileno, o poeta comunista se refugiou no sul do país, 
embora biógrafos discordem sobre os passos exatos de Neruda 
pelo continente. É nesta brecha da História que entra o diretor 
Pablo Larraín, transformando a biografia num exercício de imaginação.
filme
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eu recomendo!
Poesia sem fim
Ano: 2016
Sinopse: aos 87 anos de idade, o diretor chileno Alejandro Jo-
dorowsky decidiu contar no cinema a história da sua juventude. 
Nos anos 1940 e 1950, enfrentou a pressão do pai conservador 
e da família hipócrita para se tornar poeta e viver entre círculos 
de artistas, desenvolvendo o seu estilo e aprimorando uma visão 
de mundo baseada na existência presente e na recusa às regras 
do sistema. Contrariando o preconceito segundo o qual todo jovem libertário se 
torna um adulto burguês, o cineasta confirma que a formação marginal ainda 
determina seu modo de vida.
filme
#MATERIAL COMPLEMENTAR - WEB#
Você já ouviu falar em Martins Pena? Veja esse vídeo do Canal Ciência e Letras e 
descubra um pouco sobre esse dramaturgo. O apresentador Renato Farias con-
versa sobre o autor com Elza de Andrade, professora universitária de teatro da 
CAL, UNIRIO e Estácio de Sá; e Ângela Reis, pesquisadora de Teatro Brasileiro e 
professora da UNIRIO.
https://www.youtube.com/watch?v=tqTtwU6mbmE
conecte-se
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
anotações
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PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Operadores de narrativa 
• A personagem e suas principais classificações • Narrador e focalização • Operadores temáticos • Espaço 
e ambiente • Tempo narrativo.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
• Entender o gênero narrativo • Conhecer os principais operadores do gênero narrativo • Conhecer os 
elementos estruturais das narrativas • Estudar como os elementos narrativos se articulam • Estudar os 
conceitos de uma narrativa • Observar o desenvolvimento do tempo narrativo.
GÊNERO
NARRATIVO
PROFESSOR 
Dr. João Carlos Dias Furtado
INTRODUÇÃO
Na Unidade 2, estudaremos o Gênero Narrativo. Adentraremos em par-
ticularidades que fazem dele uma experiência de leitura tão prazerosa e 
intensa que, ao longo dos séculos, seja em verso ou em prosa, encantou 
tantos leitores de diferentes épocas, regiões e culturas.
É importante entendermos que usaremos como suporte teórico as 
perspectivas do Formalismo Russo e do New Criticism, por entendermos 
que são bases teóricas sólidas, as quais se voltaram ao estudo da materia-
lidade do texto, sendo um olhar muito significativo para essa intenção. É 
relevante ressaltar, todavia, que há outras possibilidades teóricas de serem 
usadasem uma análise de textos desse gênero, tendo como base essas cor-
rentes teóricas, por oportunizarem um substrato significativo no estudo 
da materialidade textual.
Iniciamos estudando alguns elementos característicos do gênero nar-
rar, que se constituem parte íntima da ação de contar histórias. Imaginando 
esse percurso, atravessaremos a discussão entre o que é fábula, trama, intri-
ga, estória e enredo. Veremos a sutil diferença que esses conceitos indicam 
e como isso pode ser verificado em textos narrativos.
Em um segundo momento, voltaremos nosso olhar para o estudo do 
conceito de personagem, suas classificações e como isso é identificado den-
tro do texto, entendendo, assim, as particularidades daqueles que vivem as 
histórias dentro do plano ficcional.
Estudaremos também os conceitos de narração e focalização, o que se 
pode entender como tema, motivo e motivação, verificando as sutilezas 
que o texto narrativo é capaz de apresentar.
Outra estrutura significativa para que possamos compreender a narra-
ção é a noção de nó, clímax e desfecho, partes fundamentais para formação 
de uma narrativa cativante.
Faremos, ainda, a discussão de espaço e ambiente na narração e, por 
fim, estudaremos o conceito de tempo narrativo, a fim de refletir sobre os 
principais pontos do gênero proposto.
Bons estudos! 
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GÊNERO 
NARRATIVO
O ato de contar histórias é algo que acompanha a humanidade desde de seus 
primórdios. Muito antes do ser humano inventar a escrita, ele já cultivava as 
narrativas orais como forma de transmitir conhecimentos, cultura, hábitos, tra-
dições e, especialmente, histórias que entretinham, animavam e criavam lendas. 
Naturalmente, essa força da narrativa ganha outras perspectivas com a invenção 
da escrita, juntamente com novas possibilidades desbravadas pelo homem na 
forma de contar suas histórias. Por isso, não perca tempo e vamos mergulhar 
nessa aventura que é a narração.
Operadores da Narrativa
As tratativas apresentadas sobre a narrativa nesta unidade estão baseadas nas 
teorias do Formalismo Russo e o New Criticism (Nova Crítica), entendendo 
que essas teorias se atentam com mais ênfase à materialidade do texto literário.
Segundo Tomachevski (1976), a narrativa está ligada à ideia de conflito/
intriga, dividida em três grandes blocos genéricos, os quais são designados: In-
trodução, Desenvolvimento e Conclusão.
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Isso não quer dizer que esses três grandes blocos são estanques e não apre-
sentem nenhuma variação, pois é muito comum entender que muitos romances 
brincam com esses conceitos. Um exemplo claro é a obra Memórias Póstumas 
de Brás Cubas, de Machado de Assis, em que o final é revelado logo no início 
da obra – sabemos, logo no início, que Brás Cubas é um defunto-autor. Outro 
exemplo importante é a obra Os Lusíadas, de Luís de Camões, em que a narrati-
va começa já no meio da viagem técnica, denominada in media res, isto é, uma 
narração que não começa pela introdução.
Embora haja diversas situações de discussão sobre esses três blocos e que este 
não é um bom conceito para definir categoricamente a narrativa, possivelmente 
a ideia de conflito dê uma noção melhor sobre a importância da narrativa: a 
manifestação de um momento de intensidade – de relevância para o problema 
da personagem, para a caracterização de uma situação – é o elemento dramático 
que configura o estado do texto como uma narração literária. 
Quando estudamos o gênero narrativo, é comum lembrarmos de nossas 
experiências de leitor para situarmos os conceitos, as explicações. Isso é mui-
to relevante ao observarmos as formas que o discurso literário foi utilizado ao 
longo de tantos anos e por tantas obras. Assim, ao nos depararmos com termos 
pertencentes à estrutura da “contação de histórias”, como enredo, fábula, trama 
e intriga, temos mais facilidade de assimilá-los por meio do nosso repertório de 
leitura. Adentremos nesse universo estrutural da narração.
Enredo, Fábula, Trama e Intriga 
Plot, no inglês, também pode ser chamado de trama ou intriga. O enredo nada 
mais é do que o conjunto de fatos narrados em uma história, que seguem uma 
determinada estrutura, qual seja: equilíbrio inicial ou exposição; desenvolvimen-
to ou complicação; clímax e desfecho. É importante ressaltar, antes de vermos em 
detalhes o que cabe em cada uma dessas partes, que as narrativas ditas tradicio-
nais respeitam a sequência destes elementos, mas, quanto mais contemporâneos 
são os autores mais eles tendem a romper com os moldes clássicos e, por exemplo, 
construir narrativas que comecem diretamente no desenvolvimento ou que não 
contenham clímax ou em que o desfecho não seja claro.
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 “ Vimos que o reagrupamento de proposições narrativas sem tría-des imbricadas constituem grupos de funções. São estes grupos de proposições organizadas em ciclos que formam as seqüências 
narrativas. Para que um grupo de proposições narrativas forme 
uma sequência, é preciso não somente que um mesmo ator as uni-
fique atravessando-as, mas também que haja uma transformação 
(ADAM, 1985, p. 54).
Jean-Michel Adams (1985) entende que a combinação de uma ou mais funções 
dentro da narrativa cria proposições que identificam funções básicas dentro de 
uma narrativa para personagens e ações. Segundo ele, o texto se articula em Si-
tuação Inicial, Transformação e Situação Final.
Partes do enredo
Equilíbrio inicial ou exposição: corresponde à introdução do texto, em 
que são apresentadas as personagens, o tempo, o espaço e as linhas básicas da 
história que comporão o desenvolvimento. Serve para situar o leitor acerca do 
que virá adiante.
Desenvolvimento ou complicação: a partir de um fato que romperá com 
o equilíbrio inicial da trama, inicia-se o desenvolvimento, em que todos os de-
mais elementos da narrativa vão surgindo aos poucos, criando os laços entre as 
personagens, apresentando os conflitos vividos por elas até que estes cresçam em 
tensão e levem o leitor ao clímax da obra.
Clímax: ponto máximo de tensão do texto; é o momento em que o leitor, já 
tendo acompanhado o desenrolar da trama, pergunta a si mesmo como terminará 
a história e qual será o desfecho dos personagens. Nas narrativas tradicionais, 
todos os demais elementos são pensados para se conduzir o leitor ao clímax, pois 
isso é o que garante o interesse dele na história.
Desfecho: é o final da narrativa, em que os fatos são resolvidos e, no caso das 
narrativas tradicionais, o equilíbrio inicial é retomado. Embora, no Brasil, haja 
um especial apreço por desfechos felizes, na prática, o desfecho pode ser feliz, 
trágico, cômico, surpreendente e até aberto, o que é muito comum em narrativas 
a partir de meados do século XX.
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 “ A intriga mínima consiste na passagem de um equilíbrio a outro. Uma narrativa ideal começa por uma situação estável que uma força qualquer vem perturbar. Daí resulta um estado de desequilíbrio; 
por ação de uma força dirigida em sentido inverso, o equilíbrio é 
restabelecido; o segundo equilíbrio é semelhante ao primeiro, mas 
os dois nunca são idênticos. Há, por conseguinte, dois tipos de epi-
sódios na narrativa: os que descrevem um estado (de equilíbrio ou 
de desequilíbrio) e os que descrevem a passagem de um estado a 
outro (TODOROV, 1971, p. 124).
Naturalmente, algumas narrativas mais complexas podem criar mais sequências 
narrativas do que as descritas aqui; assim, há microestruturas que se articulam 
dentro de macroestruturas. 
Figura 2 - Operadores da narrativa / Fonte: o autor.
A fábula é uma quantidade de acontecimentos e fatos, os quais são expressos 
pela narrativa e se encontram ordenados cronologicamente, sempre dentro da 
lógica do texto. 
São os eventos/episódios 
que aparecem na 
narrativa ordenados
de forma cronológica, 
seguindo a prática dos 
fatos.
É a sequência em que a 
narrativa é apresentada, 
ou seja, como a história é 
contada.
São os diferentes 
interesses apresentados na
narrativaque formam os 
con�itos, o contraditório.
FÁBULA TRAMA INTRIGA
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 “ Fábula é o conjunto dos acontecimentos ligados entre si e trans-mitidos ao leitor no decurso da obra: pode ser exposta de maneira prática, segundo a ordem cronológica e causal dos acontecimentos 
(CARONI, 1974, p. 157).
Podemos entender esse conceito como os eventos acontecidos na realidade, o(s) 
evento(s) bruto(s) – não querendo dizer que eles realmente aconteceram, pois 
fazem parte da ficção, porém como construção linguística, fábula e trama são 
conceitos de natureza enunciativa e presente no ato narrativo.
Ainda nesse raciocínio, segundo Tomachevski (1976, p. 173), “chama-se fá-
bula o conjunto de acontecimentos ligados entre si que nos são comunicados 
no decorrer da obra”. A ressalva que deve ser feita é que nem sempre a história é 
apresentada ao leitor dessa forma, precisando, assim, de um esforço para estabe-
lecer esses vínculos de causalidade e ordenação temporal. Tal condição possibilita 
adentrar no conceito de Trama
A trama é a forma como a história é contada, a organização da história de 
forma a construir uma sequência que nem sempre bate com a ordem cronológica 
dos fatos apresentados. Segundo Ítalo Caroni (1974, p. 157), “a trama constitui 
o conjunto destes mesmos acontecimentos (apresentados na Fábula), porém, 
segundo a ordem em que aparecem na obra”.
São as inúmeras possibilidades que o autor do texto tem para apresentar aque-
les fatos ao leitor, sendo que pode coincidir fábula e trama ou serem elementos 
distanciados. Diante disso, é mais fácil entendermos que é pela Trama que nós, 
leitores, tomamos conhecimento dos eventos narrados, dependendo sempre da 
elaboração, criatividade, intenção que o escritor quer dar àquela história.
A intriga está vinculada à fábula e à trama, todavia, é um conceito diferente 
por se caracterizar como os interesses conflituosos entre personagens e situações 
em uma narrativa. Consoante Tomachevski (1976, p. 177), “o desenvolvimento 
da ação, o conjunto de motivos que a caracterizam chama-se de intriga”. Isto é, a 
intriga vincula-se ao conflito existente na narrativa. Por isso, ela compreende a 
essência do jogo de interesses da obra, pois a luta entre esses interesses contradi-
tórios é que causam a intriga. 
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Personagens são os seres que viverão os fatos narrados no enredo e, quanto à 
sua participação, ou seja, à sua importância no conflito, nas ações dramáticas do 
texto. Por isso, podem ser classificados como Principal (normalmente aparecem 
como protagonistas e/ou antagonistas) e Secundário. Vejamos agora algumas 
especificidades de cada um deles: 
Principal
a) Protagonistas: são os personagens principais, em torno dos quais gira o 
enredo. Uma obra pode ter um ou mais protagonistas, dependendo de sua 
extensão. Este protagonista pode comportar-se como herói, quando apre-
senta características superiores às do grupo em que está inserido, tais como 
Peri, da obra O Guarani, ou Ulisses, de A Odisseia, de Homero. Entretanto 
o protagonista também pode comportar-se como anti-herói, quando apre-
senta características comuns ao seu grupo ou inferiores a ele, ou seja, ele está 
ocupando o posto de herói sem realmente ter as características necessárias 
para isso. Alguns anti-heróis são famosíssimos nas literaturas brasileira e 
universal, tais como: Leonardinho, de Memórias de um Sargento de Milí-
cias, Macunaíma, Dom Quixote ou Jean Valjean, de Os Miseráveis.
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A PERSONAGEM E
SUAS PRINCIPAIS
classificações
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Há também o conceito de herói-trágico, um personagem de tragédias que, carac-
terizado com virtudes, acaba caindo em desgraça, culminando com o final trágico. 
Édipo, Macbeth, Okonkwo (de Things Fall Apart) são exemplos de heróis-trágicos.
b) Antagonista: é o personagem que se opõe ao protagonista, criando os 
problemas que ajudarão no desenvolvimento do conflito, dificultando a 
vida do protagonista. Nas histórias mais clássicas, em que suas caracte-
rísticas são bem marcadas, é conhecido como vilão. É o caso do Major 
Vidigal em Memórias de um Sargento de Milícias, do policial Javert, em 
Os Miseráveis. É preciso lembrar também que, em várias obras, a função 
de antagonista pode ser desempenhada não por uma personagem huma-
na, como é o caso do mar na obra O velho e o Mar, de Ernest Hemingway, 
ou até por outro elemento da narrativa, como é o caso do espaço que 
figura como antagonista das personagens em Vidas Secas, de Graciliano 
Ramos. Além disso, nem sempre o antagonista é vilão, como é o caso de 
Macduff em Macbeth, ou o polêmico Shylock, de O Mercador de Veneza.
Secundário
Secundários: ocupam o segundo plano da história e desempenham papéis me-
nores, que dão suporte às ações dos personagens principais. Alguns, apesar de 
aparecerem pouco durante a obra, acabam se tornando peças-chave para justificar 
ações e comportamentos dos protagonistas e antagonistas – esse é o caso, por 
exemplo, de José Dias, em Dom Casmurro.
Caracterização dos personagens
Quando pensamos na complexidade das personagens, sua densidade psicológica, 
sua imprevisibilidade ou previsibilidade das ações, é possível adotar a delimitação 
do crítico inglês E. M. Forster, que publicou no livro Aspectos do Romance (1974) 
um sistema de análise em que as personagens são chamadas de Homo fictus, isto 
é, seres/pessoas criados por meio da linguagem.
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Para Forster (1974), as personagens podem ser divididas por sua complexi-
dade em dois grupos: Personagens Esféricas ou Redondas e Personagens Planas.
a) Redondo: também conhecidas como personagens complexas, são re-
tratadas o mais próximo aos seres humanos de verdade, já que possuem 
densidade psicológica, sofrem alterações de comportamento durante a 
trama, não são totalmente bons ou maus, apresentam dilemas morais e, 
via de regra, são imprevisíveis. Alguns foram eternizados, tais como: Ca-
pitu e Bentinho, de Dom Casmurro; Paulo Honório, de São Bernardo; O 
Monstro, de Frankenstein; Otelo, da obra de Shakespeare.
 “ O teste para uma personagem ser redonda está nela ser capaz de surpreender de modo convincente. Se ela nunca surpreende, é pla-na. Se não convence, é plana pretendendo ser redonda. Possui a 
incalculabilidade da vida – a vida dentro das páginas de um livro. 
E usando essa personagem, às vezes só e, mais frequentemente, em 
combinação com a outra espécie, o romancista realiza sua tarefa de 
aclimatação e harmoniza a raça humana com os outros aspectos de 
sua obra (FORSTER, 1974, p. 61-62). 
b) Plano: também conhecidas como personagens lineares, tendem a man-
ter-se da mesma maneira durante todo o desenrolar da trama, ou seja, 
as características que lhes forem atribuídas no início da obra serão as 
que veremos durante toda a narrativa. Têm baixa densidade psicológica 
e costumam ter caráter mais marcado do que os personagens redondos. 
Segundo Forster (1974, p. 54), “em sua forma mais pura são construídas 
ao redor de uma única ideia ou qualidade: quando há mais de um fator, 
atingimos o início da curva em direção às redondas”. 
“Conhece-te a ti mesmo”.
(Templo de Delfos)
pensando juntos
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Você já ouviu falar do mais importante centro religioso da Grécia Antiga? Leia a reporta-
gem que conta um pouco o que foi o Oráculo de Delfos. 
Para saber mais, acesse: khttps://www.terra.com.br/noticias/educacao/historia/oraculo-
-de-delfos-o-umbigo-do-mundo,20080231a76da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. 
Fonte: o autor.
explorando Ideias
Ainda no conceito de Personagens Planas, há a delimitação de personagens que 
apresentam características invariáveis de ordem moral, econômica e social, indepen-
dentemente da classe social – são as personagens Tipo; e as que apresentam peculia-
ridades fixas que as deixam ridículas, estereotipadas – são as personagens Caricatas. 
I - Tipo: é o personagem que possui um traço de caráter muito característico, 
seja ele moral, social, econômico, o que o identifica

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