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Curso de Parasitologia Clínica MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores SUMÁRIO II.1 – Introdução à Entomologia II.2 – Os ácaros II.2.1 – Escabiose (sarna) II.2.1.1 – Biologia de Sarcoptes scabiei II.2.1.2 – Formas clínicas II.2.1.3 – Diagnóstico II.2.2 – Carrapatos II.3 – Moscas e mosquitos II.3.1 – Moscas II.3.1.1 – Moscas como veiculadoras de parasitoses II.3.1.2 – Berne II.3.1.3 – Miíase II.3.2 – Mosquitos II.3.2.1 – Mosquitos como vetores de parasitoses II.4 – Pulgas e piolhos 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores II.1. INTRODUÇÃO A ENTOMOLOGIA Entomologia é a ciência que estuda os insetos sob todos seus aspectos e relações com o homem, as plantas, os animais e o ambiente. A palavra Entomologia é proveniente da união de dois radicais gregos, entomon (inseto) e logos (estudo) e vem sendo empregada desde Aristóteles (384-322 a.C.) para designar “Estudo dos insetos”. Entretanto, neste módulo estudaremos apenas os insetos de importância médica, e, neste caso, estudaremos não só os insetos como também os ácaros. A principal característica encontrada em insetos e ácaros é a presença de esqueleto externo (exoesqueleto) formado pelo tegumento. O ciclo biológico dos insetos é, na maioria das vezes, ovípara. O formato dos ovos e o local escolhido são tremendamente variáveis. Desde o ovo até adulto, o inseto sofre várias modificações complexas, reguladas por hormônios. Os tipos de evolução são: a) ametabolia: quando os insetos não apresentam mudanças distintas nas formas entre os estádios de ovo até adultos. Isto é: as formas jovens são semelhantes aos adultos. Ex: as traças; b) paurometabolia ou metamorfose gradual: quando os insetos passam pelas formas de ovo, ninfa e adulto, porém as ninfas têm um desenvolvimento gradual, vivem no mesmo ambiente e têm o mesmo hábito alimentar do adulto. Ex: os Hemipteras (barbeiros); c) hemimetabolia: quando os insetos passam pelas formas de ovo, ninfa e adulto, mas as ninfas diferem dos adultos pelo ambiente e alimentação. Ex: as libélulas; d) holometabolia ou metamorfose completa: quando os insetos passam pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto. Ex: os mosquitos e moscas. II.2. OS ÁCAROS Os ácaros são artrópodes com o corpo fundido em cefalotórax e abdome, com quatro pares de patas e sem antenas. Na parte anterior, chamada gnatossoma, localizam-se as peças bucais: quelíceras e palpos ou pedipalpos. As quelíceras possuem pinças em suas extremidades que são utilizadas para cortar ou perfurar os tecidos. Os palpos ou 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores pedipalpos são órgãos que auxiliam na alimentação. Nos carrapatos existe um órgão relacionado aos palpos e quelíceras: o hipóstomo. Este auxilia na fixação do carrapato aos tecidos do hospedeiro. A parte posterior, chamada idiossoma, corresponde ao resto do corpo, e, nele, estão inseridas as patas e podem ser vistos os orifícios genitais, anal, estigmas respiratórios, placas, sulcos e etc. II.2.1. ESCABIOSE (SARNA) Na sub-ordem Sarcoptiformes encontramos algumas espécies de Acari que se caracterizam por possuírem cutícula delgada, sem estigmas respiratórios e palpos simples. A espécie Sarcoptes scabiei é uma das mais importantes. A escabiose ou sarna sarcóptica foi uma das primeiras doenças humanas que teve sua causa conhecida. Antigamente essa sarna era muito comum entre a população; posteriormente, com o advento de medicamentos eficazes e higiene aprimorada, ela tornou-se rara. Entretanto, a partir da década de 70, elevou-se o número de pessoas apresentando esse parasito. As principais razões foram o aumento da população, facilitando o maior contato em ambientes coletivos (ônibus, por exemplo), promiscuidade sexual e mudança no comportamento humano em geral. O Sarcoptes scabiei possui corpo globoso, pernas curtas, sem garras. A cutícula é marcada por estrias finas, freqüentemente interrompidas por áreas com cerdas finas e flexíveis, espinhos curtos e robustos e escamas de forma triangular que são características do gênero (Figura 01). II.2.1.1. Biologia de Sarcoptes scabiei Os adultos perfuram túneis ou galerias na epiderme, principalmente nas regiões interdigitais, mãos, punhos, cotovelos, axilas e virilhas. Podem localizar-se também nas nádegas, genitais externos, seios, costas e pernas. As fêmeas que já copularam penetram na epiderme e começam a fazer túneis ou galerias e vão deixando para trás um 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores rastro de ovos. Ovipõem três a quatro ovos por dia, num total de 40 a 50 durante toda a sua vida. O período de incubação dura de três a cinco dias, quando eclodem larvas hexápodas. Estas permanecem nas galerias ou saem para a superfície da pele, onde ficam nas crostas que recobrem as galerias. Em um desses pontos, elas se alimentam, sofrem mudas e transformam-se em ninfas octópodas; oito a dez dias após transformam-se em machos e fêmeas. Ocorre a cópula e as fêmeas iniciam novas galerias ou túneis. O ciclo, do ovo até fêmeas grávidas, demora cerca de 20 dias (Figura 02). www.fukuto.com/para1/sarcoptes/sarcoptes www.fukuto.com/para1/sarcoptes/sarcoptes Figura 01 - Sarcoptes scabiei adultos. (A) Visão dorsal e lateral (B) Visão ventral A B Figura 02 - Ciclo de vida de S. scabiei (Fonte: Rey, 2005) 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores II.2.1.2. Formas clínicas A perfuração da epiderme, junto com produtos do metabolismo do parasito e a ação de sua saliva, gera um prurido intenso (Figura 03). Este prurido é mais evidente e irritante à noite, quando o hospedeiro está aquecido pelas cobertas. Freqüentemente, o hospedeiro se coça fortemente, abrindo porta de entrada para infecções microbianas secundárias. Pode ocorrer a formação de crostas salientes. / II.2.1.3. Diagnóstico A anamnese do paciente, o prurido, a localização e o aspecto das crostas são muito sugestivos para o diagnóstico clínico. O diagnóstico parasitológico pode ser feito de duas maneiras: a) aderindo uma fita gomada sobre as crostas, coloca-se depois a fita sobre uma lâmina e observa-se seu conteúdo ao microscópio; b) raspar profundamente a epiderme nos limitescom a pele sã, colher o raspado em lâmina o observar ao microscópio. Pode-se acrescentar algumas gotas de NaOH para clarificar o material antes de ser observado no microscópio (Figura 04). http://www.med.nagoya- u.ac.jp/ped/super/data/IMAGE/SCABIES2.JPG http://pathmicro.med.sc.edu/parasitology/mite.jpg A B Figura 03 - (A) Lesões causadas por S. scabiei no antebraço de uma criança (B) Escabiose na região interdigital de um adulto. 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores II.2.2. CARRAPATOS Os carrapatos, ou ixodídeos, são ácaros de grande porte, ectoparasitos sugadores de sangue de vertebrados. Têm grande resistência ao jejum e podem transmitir vários patógenos. Alguns desses patógenos podem ser transmitidos à progênie, o que os torna vetores (que transmitem o parasito entre dois hospedeiros, podendo, o patógeno, ter alguma fase de desenvolvimento dentro do vetor) e reservatórios (onde vive e se multiplica um agente infeccioso, sendo possível a transmissão para outros hospedeiros). Os carrapatos são, depois dos mosquitos, os mais importantes vetores de doenças humanas, transmitindo doenças. Carrapatos transmitem diversas formas de tifo, além de outras doenças. Nas zonas temperadas, carrapatos são os agentes transmissores da potencialmente debilitante doença de Lyme — a doença mais comum transmitida por vetor nos Estados Unidos e na Europa. Um estudo sueco revelou que aves migratórias às vezes transportam carrapatos por milhares de quilômetros, podendo introduzir as doenças que carregam a novos lugares. De fato, um único carrapato pode abrigar até três diferentes organismos patogênicos e transmitir todos eles em uma única picada! http://www.vetcutis.freeserve.co.uk/vetcutis/sarcoptes_s cabiei_cow.jpg www.fukuto.com/para1/sarcoptes/sarcoptes A B Figura 04 - (A) Raspado de pele de cão. (B) Raspado de pele mostrando os parasitos adultos, formas larvares e ovos. As setas indicam os ectoparasitos. 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Além da espoliação sanguínea e da transmissão de doenças, algumas espécies de carrapatos injetam, juntamente com a saliva, toxinas debilitantes e paralisantes, às vezes fatais ao hospedeiro, incluindo o homem. Os carrapatos possuem dimorfismo sexual acentuado: os machos, menores em tamanho, apresentam um escudo recobrindo toda a área dorsal. Nas fêmeas, o escudo é limitado ao terço anterior do corpo (chamado noto) (Figura 05 A). Além dos ovos, os ixodidae passam por três estágios durante seu ciclo biológico: larvas, ninfas e adultos (Figura 05 B). Cada um destes estágios suga sangue durante alguns dias, antes da muda (chamada ecdise) ou do início da postura de milhares de ovos; após a oviposição, as fêmeas morrem. Os machos não sugam sangue ou sugam muito pouco. http://www.cdphe.state.co.us/dc/zoonosis/tick/images/male_female_da_tick.jpg Macho Fêmea A 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Para fixação, após a penetração das peças bucais no tecido do hospedeiro, as glândulas salivares do carrapato secretam uma substância leitosa, chamada cemento, que endurece em volta das peças bucais e favorece a fixação do carrapato (Figura 06). http://www.ent.iastate.edu/images/ticks/all4small.gif www.lymediseaseaction.org.uk/.../frame1072.jpg B Figura 05 - (A) Macho e fêmea de Amblyomma, o carrapato-estrela. (B) Formas evolutivas do carrapato: adulto (macho e fêmea), ninfa e larva. Figura 06 - Desenho ilustrativo de um carrapato fixado à pele do hospedeiro. 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As glândulas salivares secretam ainda agentes farmacológicos com funções anticoagulantes e citolíticas que promovem um aumento da permeabilidade vascular, dilatação dos vasos sanguíneos e hemorragias, favorecendo a alimentação do carrapato e causando no hospedeiro uma reação de prurido intenso e formação de edema. O controle dos carrapatos no ambiente é feito através de manejo da vegetação (limpeza e poda) e aplicação de acaricidas. No entanto, o impacto de resíduos acaricidas no ambiente, faz com que o controle individual nas pessoas e animais seja o mais viável. O uso de carrapaticidas sobre o corpo dos animais, através de banhos, aspersões, polvilhamento e etc. é a forma mais ampla e disponível no combate aos ixodídeos. Para remover um carrapato da pele, limpe bem o local e puxe-o o mais rente da pele possível (Figura 07), minimizando a dor e evitando que as peças bucais se quebrem dentro da pele, causando um foco inflamatório. II. 3. MOSCAS E MOSQUITOS Moscas e mosquitos são exemplares da ordem Diptera. A evolução é do tipo holometabólica, isto é, obrigatoriamente passam pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto. http://hem.bredband.net/tbepatientforeningen/Bilder/Remove_small_tick.jpg Figura 07 - Desenho ilustrativo de como remover um carrapato 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores O meio escolhido por cada espécie para fazer a postura e para a larva se desenvolver é variadíssimo. Pode ser folhas, paus podres, fezes animais ou humanas, cadáveres, lama, água limpa, água parada, água suja...enfim, diversos! Mas, afinal, qual é a diferença entre moscas e mosquitos? Esta pergunta é fácil de ser respondida! A figura 08 mostra que as moscas possuem antena formada por apenas três segmentos, sendo que sobre o último assenta-se a arista. Os mosquitos apresentam antenas formadas por mais de seis segmentos. Um exemplo: o pernilongo é um mosquito. Já o que chamamos de “mosquito”, que voa sobre carnes, frutas e é encontrado com facilidade em qualquer residência, é uma mosca, a mosca doméstica (Musca domestica). II.3.1. MOSCAS II.3.1.1 Moscas como veiculadoras de doenças As moscas possuem grande importância para o homem sob o ponto de vista biológico e médico-veterinário. Do ponto de vista biológico, muitas moscas são extremamente úteis como polinizadoras, como decompositoras de matéria orgânica, fonte de alimentos para vários animais e como predadoras de larvas de borboletas e besouros e, por isso, são http://www.geocities.com/mmmb1280/images1/18.jpg http://www.radionetherlands.nl/assets/images/fly3.jpg Figura 08 - (A) A seta mostra a antena de um mosquito, observe a numerosa segmentação. (B) A seta indica as antenas de uma mosca, observe que as antenas são curtas com apenas três segmentos. A B B 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores utilizadas no controle biológico. Do ponto de vista médico-veterinário, sua importância está relacionada com: a) sinantropia: é a capacidade que algumas moscas têm de freqüentar ambiente rural, silvestre e urbano e, após visitarem dejetos e carcaças, veicular patógenos; b) importunação de homens e animais pela hematofagia, às vezes, intensa e dolorosa; c) agentes de miíases. As moscas podem atuar como vetores— ou seja, agentes transmissores de doenças — de duas formas principais. Uma delas é a transmissão mecânica. Assim como as pessoas podem trazer para dentro de casa sujeira impregnada no sapato, a mosca doméstica, por exemplo, pode carregar nas patas milhões de microorganismos que, dependendo da quantidade, causam doenças. Moscas que pousaram em fezes, por exemplo, contaminam alimentos e bebidas. Essa é uma forma de o homem contrair doenças debilitantes e mortíferas como a febre tifóide, a disenteria e até mesmo a cólera. A outra forma de transmissão ocorre quando insetos hospedeiros de vírus, bactérias ou parasitas infectam as vítimas pela picada ou por outros meios. A mosca tsé-tsé transmite o protozoário causador da doença do sono, que aflige centenas de milhares de pessoas, obrigando comunidades inteiras a abandonar seus campos férteis. A mosca-negra, transmissora do parasita que provoca a cegueira do rio, privou da visão cerca de 400 mil africanos. Trata-se de um grupo de doenças incapacitantes, que hoje afligem milhões de pessoas de todas as idades ao redor do mundo, desfiguram a vítima e muitas vezes causam a morte. II.3.1.2. Berne Os adultos da mosca Dermatobia hominis são pouco vistos, pois possuem uma vida curta (entre 5-20 dias) e vivem em ambientes florestais. A larva, denominada berne, é bem conhecida (Figura 09). 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Os adultos da D. hominis não se alimentam. Logo após o nascimento ocorre a cópula. A fêmea fecundada fica em locais protegidos. Em vôos rápidos, a mosca berneira captura um inseto hematófago e deposita sobre o abdome deste cerca de 15-20 ovos. Estes ovos ficam aderidos ao abdome do inseto (Figura 10) e apresentam um opérculo virado para trás. http://www.icb.usp.br/~marcelcp/Imagens/zen22.jpg http://www.afpmb.org/pubs/Field_Guide/Images/originals/Fig.%20167.jpg http://www.icb.usp.br/~marcelcp/Imagens/f-zen24.jpg A B Figura 09 - (A) Dermatobia hominis adulta (B) Larva de D. hominis, o berne. Figura 10 - Mosca carregando os ovos de D. hominis (seta) no abdome. 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Cerca de seis dias depois, os ovos já estão maduros e, quando o inseto veiculador vai alimentar-se, estimulada pelo calor do hospedeiro (homem ou animal), a larva sai rapidamente do ovo e alcança a pele. Em dez minutos ela penetra na pele sã ou lesada. Após a penetração, começa a formar-se uma lesão nodular, avermelhada, com um orifício central, por onde é eliminada secreção aquosa (exsudato), levemente amarelada ou sanguinolenta. Podem ser uma ou mais lesões e atingir qualquer área da pele, inclusive o couro cabeludo. A larva (berne) permanece com os espiráculos respiratórios voltados para fora e a extremidade anterior (boca) voltada para dentro. Sessenta dias depois a larva já passou pela ecdise e está madura. Então ela abandona o hospedeiro e cai no chão. Enterra-se em terra fofa e transforma-se em pupa. Esta fase dura 30 dias. Vinte e quatro horas após abandonar o pupário, as moscas copulam e iniciam a postura dos ovos. O berne provoca um prurido intenso e depois dor. O orifício aberto possibilita a entrada de larvas de outras moscas e várias bactérias que podem complicar o quadro. Por isso, recomenda-se tirar o berne logo que seja percebido. A melhor maneira de se retirar o berne é matando-o por asfixia. Estando vivo, ele manterá seus espinhos firmemente aderidos ao tecido do hospedeiro, dificultando sua retirada (Figura 11). Para retirar o berne: a) raspar os pêlos e limpar bem a região; b) colar um pedaço de esparadrapo firmemente sobre o berne; c) deixar por uma hora; http://www.ambergriscaye.com/pages/town/botfly _files/botflyho.jpg Figura 11 - Detalhe dos espinhos da larva de D. hominis, o berne. 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores d) retirar o esparadrapo; e) se o berne não sair junto com o esparadrapo, com ligeira compressão sairá; f) tratar a ferida com um bacteriostático. II.3.1.3. Miíases Miíase é o nome dado à infestação de vertebrados vivos por larvas de dípteros que se alimentam dos tecidos vivos ou mortos do hospedeiro ou de suas substâncias corporais (Figura 12). No meio rural é conhecido como ”bicheira”. Quando a pessoa ou animal sofre um ferimento ou corte mais profundo, devemos tratar a ferida com antissépticos e, algumas vezes, antibióticos tópicos. Mas é imprescindível proteger o local contra as moscas. Ao pousarem sobre a ferida, as moscas depositam dezenas de ovos que irão eclodir, transformando-se em inúmeras larvas que se alimentarão de tecido vivo (miíase cutânea). As larvas cavam verdadeiras galerias sob a pele, causando lesões e um incômodo muito grande ao animal. As lesões podem ser tão profundas que conseguem atravessar a musculatura do animal, indo atingir órgãos vizinhos (miíase cavitária). http://www.sel.barc.usda.gov/Diptera/oestrid/images/myiasis2.gif Figura 12 - Miíase no calcanhar de um paciente 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As larvas de moscas podem se proliferar também em tecidos não lesados. Quando a pele apresenta dermatites exsudativas (produzem líquido) que mantenham o local sempre úmido, ou naquelas pessoas sem condições de higiene, a bicheira também pode aparecer. O local acometido deve ser lavado com soluções antissépticas e o médico deve examinar o local à procura de larvas em tecidos mais profundos. Em regiões onde é freqüente a ocorrência de moscas devem ser aplicados produtos repelentes em todos os ferimentos abertos. II.3.2. MOSQUITOS Os mosquitos apresentam grande interesse na parasitologia, em vista de serem os de maior número e os mais importantes insetos hematófagos entre todos os Arthropoda, sendo que apenas as fêmeas exercem a hematofagia. Popularmente são conhecidos como mosquitos, pernilongos, muriçocas e etc.. II.3.2.1. Mosquitos como vetores de parasitoses Os principais gêneros transmissores de parasitoses são: a) Anopheles: transmissor da malária no Brasil. Conhecido como mosquito prego. Tem como criadouro coleções de água limpa. http://www.cals.ncsu.edu/course/ent425/t ext18/myiasis.gif http://www.napamosquito.org/Images/Anopheles%20Freeb orni.jpg http://www.health.nsw.gov.au/areas/arbovirus/mosquit/ph otos/anopheles_farauti_egg.jpg 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores b) Culex: transmissor das filarioses. Faz a postura de ovos em coleções de água suja. Faz a postura de ovos em “jangada”. c) Aedes: transmissor da dengue e da febre amarela, que, sabidamente não são parasitoses! Mas é importante reconhecê-lo para diferenciação dos mosquitos do gênero Culex. O Aedes faz a postura de ovos isolados em água limpa. II.4. PULGAS E PIOLHOS II.4.1. As pulgas As pulgas ocupam um lugar de destaque em Parasitologia pela sua forma de interação com outros organismos, atuandocomo parasitos, vetores ou hospedeiros intermediários. Em altas infestações, alguns animais de pequeno porte podem http://agnews.tamu.edu/westnile/graphics/Image2.jpg http://www.cdc.gov/ncidod/dvbid/westnile/images/culex- laying-eggs-small.jpg ge1.jpg http://www.sciencemaster.com/monkeytime/sciencemaster/ galleries/vector_one/images/05.jpg http://agnews.tamu.edu/westnile/graphics/Image1.jpg 38 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores apresentar-se anêmicos devido a espoliação sanguínea de machos e fêmeas. Podem causar lesões cutâneas nos locais de parasitismo por Tunga penetrans (bicho de pé), com a possível veiculação mecânica do tétano, gangrenas gasosas e esporos de fungos. As pulgas são insetos pequenos - 1 a 3 mm - de corpo achatado lateralmente. Não possuem asas e o último par de pernas é adaptado para saltar, o que lhes permite dar grandes pulos! Apresentam aparelho bucal picador-sugador. Pulgas adultas são hematófagas obrigatórias. As larvas que vivem no solo alimentam-se de dejeções ressecadas das pulgas adultas. O bicho-de-pé é, na verdade, uma pulga! Tunga penetrans. Macho e fêmea são hematófagos, mas, no entanto, apenas a fêmea penetra no tecido, alimentando-se de líquido tissular e sangue (Figura 13). Ela vai enchendo-se de ovos e tomando uma forma hipertrofiada. No homem, prefere penetrar principalmente na sola plantar, calcanhar, cantos dos dedos (pés e mãos). Machos e fêmeas ficam em locais secos, próximos a matéria orgânica. A fêmea, após a cópula, permanece com a cabeça e o corpo mergulhados no tecido, deixando para fora apenas a extremidade posterior, que contém a abertura genital e os espiráculos respiratórios. Pela abertura genital a fêmea expulsa os ovos maduros como “bolas de canhão” (Figura 14). Cerca de quinze dias depois da cópula a fêmea já fez a postura de todos os ovos e morre ou é combatida pelo organismo do hospedeiro. Figura 13 - Penetração da pulga T. penetrans no tecido do hospedeiro (Fonte: Rey, 2005) 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As fêmeas ao penetrarem provocam um prurido intenso. Depois de grávidas, continua o prurido e, às vezes, dor. Para retirar a pulga, desinfectar o local e, com uma agulha esterilizada, fazer pequenas dilacerações na pele, circundando a tumoração. Após a incisão completa da pele, retirar o bicho-de-pé, puxando-o. Tratar o local. II.4.2. Piolhos Chama-se pediculose a infestação por piolhos sugadores. Ela é caracterizada por prurido, irritação da pele ou do couro cabeludo e infecções secundárias. Além disso, podem veicular doenças, como tifo exantemático, febre das trincheiras e febre recorrente. A picada dos piolhos provoca uma dermatite, causada pela reação do hospedeiro à saliva injetada no início da hematofagia. Os piolhos são insetos pequenos com cerca de 3mm, sem asas e aparelho bucal do tipo picador-sugador (Figura 15A). As pernas são fortes e formam uma pinça com a qual os insetos ficam agarrados ao pêlo. Os ovos são colocados aderidos ao pêlo e são denominadas lêndeas (Figura 15B). http://www.itg.be/itg/DistanceLearning/LectureNotesVandenEndenE/imageht ml/images/prevs/CD_1011_045c.jpg BA Figura 15 - (A) Piolho adulto, observe a garra na extremidade das patas (B) Ovos dos piolhos (lêndeas), fixados a um fio de cabelo. A B Figura 14 - (A) Paciente com bicho-de-pé. O “olho” preto representa a parte posterior da pulga, por onde ela elimina os ovos (B). 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Os piolhos são transmitidos principalmente por contato. Os estímulos para que os piolhos mudem de hospedeiro são: temperatura, umidade e odor. Os métodos de controle para piolhos são: catação manual, penteação ou escovação freqüentes, ar quente, raspação de cabeça ou corte curto dos cabelos, uso de cremes e óleos, uso de solução salina (água + sal) nos cabelos ou utilização de inseticidas próprios. ------------ FIM MÓDULO II -------------
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