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1 1.Introdução. Quartzo nome originário da palavra alemão “quarz,” que significa origem incerta. Sob condições ambientais, o α-quartzo é o polimorfo termodinamicamente mais estável do SiO2. Em 573°C, o α-quartzo é transformado no β-quartzo, geralmente similar na estrutura mas com menor distorção. Esta transformação térmica preserva a atividade ótica do quartzo. O quartzo aquecido à 867°C conduz à transformação do β-quartzo em β-tridimita, envolvendo a quebra de ligações Si−O para permitir que o tetraedros do oxigênio rearranje-se em uma estrutura hexagonal mais simples, mais aberta e de mais baixa densidade. A transformação do quartzo-tridimita envolve um processo com elevada energia ativação e isso conduz à perda da atividade ótica do quartzo. O aquecimento do β-tridimita a 1470°C dá origem à β-cristobalita que se assemelha à estrutura do diamante com átomos do silício nas posições do carbono do diamante e um do átomo de oxigênio entre cada par de átomos de silicio. Com aquecimento adicional a cristobalita funde em 1723°C. A silica fundida é facilmente transformado em silica vítrea por resfriamento lento, resultando na perda de ordem de longo alcance mas retendo uma ordem em curto alcance na rede de tetraedros de sílica. No resfriamento a seqüencia da transformação é diferente; a tridimita e a cristobalita não são reconvertidas em quartzo sob as condições normais; entretanto estão sujeitas a uma rápida transformação para tridimita γ e cristobalita β respectivamente. Sílica Vítrea. A sílica cristalina apresenta ordem em seu arranjo tetraédrico, entretanto a sílica vítrea tem um alto grau de aleatoriedade. As comparações destas redes indicam que ambas têm a unidade tetraédrica básica, o mesmo ângulo de ligação O−Si−O (109.5°), uma relação de O/Si igual a dois. Uma ordem de curto alcance é encontrada tanto na sílica vítrea como na silica cristalina, como mostrado esquematicamente no fig. 1. Três parâmetros caracterizam a estrutura da sílica vitrea em escala atômica- o primeiro é o ângulo de ligação entre os tetraedros adjacentes, o ângulo de rotação entre os tetraedros adjacente, e os anéis dos oxigênios. Cada um destes parâmetros tem um valor constante na sílica cristalina, mas varia em escala larga na sílica vitrea. O ângulo predominante de Si−O−Si no quartzo e na cristobalita é 143.61° e 148°, respectivamente, e para o tridimita é 180° Na 2 silica vitrea, entretanto, ele varia entre 120° e um 180°. O ângulo de rotação entre os tetraedros é 0° ou 60° para a sílica cristalina; na sílica vítrea ou simplesmente vidro, este ângulo de rotação é aleatório. Figura 2- Difração de raio-X da sílica vítrea, da sílica cristalina(cristobalita) e de um gel de sílica. 2- Definição de vidro. Segundo o senso atual o termo vidro é usado para designar um produto inorgânico resultante da fusão e posterior resfriamento de forma a atingir um estado rígido sem cristalizar. Outras maneiras de definir vidro: • Vidro é um liquido super resfriado. • Vidro é um material sólido que não apresenta em sua estrutura a longa distancia. • Vidro é um líquido que perdeu sua capacidade de fluir. A fusão não é a única maneira de produzir vidro. Existem outras técnicas, por exemplo, condensação de vapores, conversão de cristais ao estado amorfo por meios mecânicos ou por irradiação de nêutrons, desidratação e sinterização de géis, etc. Alguns autores designam os produtos destas técnicas como amorfos, usam o termo vidro apenas para os produtos obtidos pelo resfriamento de um fundido. Ambos são sólidos não cristalinos. Existe uma relação estreita entre o estado vítreo, o estado sólido e o estado líquido. O gráfico da figura 3 mostra a variação do volume com a temperatura para uma substancia que pode existir nos três estados 3 Examinando o gráfico (V X T) da figura 3 verificamos que: • Quando o líquido é resfriado, ele contrai rápido e continuamente, com os átomos desenvolvendo arranjos de empacotamento. • Ao alcançar a temperatura Tf o líquido estável tanto pode sofrer uma cristalização ou se transformar em um líquido super-resfriado. No caso de cristalização o gráfico mostra a ocorrência de uma contração abrupta, na temperatura Tf, que continua em uma menor taxa até que os arranjos se completem. • No sentido contrário, ou seja, partindo do sólido, com o aumento da temperatura, até Tf, o volume aumenta com o aumento de temperatura e que enquanto o cristal funde a temperatura permanece constante (todo calor fornecido é consumido na fusão) e mais, após a fusão total, o volume continua a aumentar com a temperatura. • No caso do líquido super resfriado, sua ocorrência é possível se não houver núcleos de cristalização. Note que com a diminuição da temperatura, a curva muda de inclinação e fica igual à curva do cristal. A faixa de temperatura que isso ocorre é chamada Tg ( temperatura de transformação ou temperatura de transição vítrea). Abaixo desta faixa, não há mais liquido e sim vidro. • O gráfico mostra também que o volume do vidro é maior que o do cristal que o originou nesta mesma temperatura, indicando que no vidro a estrutura é mais aberta. 4 3. Característica do vidro. Vidro é um sólido amorfo, geralmente formado pela solidificação de um material fundido sem cristalização. O vidro pertence a um estado particular da matéria conhecido como estado vítreo que é caracterizado por: - ausência de estrutura cristalinas, as substancias neste estado são amorfas. -ponto de fusão não definido. - não desvia a luz polarizada quando é por ela atravessado. - não é estável em altas temperaturas; se for mantido por longo tempo em temperaturas acima do seu ponto de amolecimento, pode cristalizar, este fenômeno é chamado devitrificação. - mau condutor de calor e de eletricidade. É o forte aumento na viscosidade que diminui o crescimento dos cristais ou impede a formação de unidades cristalinas definidas. Na temperatura ambiente a viscosidade de um vidro comercial com Tg de 500°C é de 1020 dPas e fluxo viscoso indetectável de forma que pode ser considerado como um sólido elástico. Composição dos vidros Existem inúmeras substanciam orgânicas e inorgânicas que podem formar vidro quando resfriadas a partir do estado líquido em condições que não permitam a formação de uma estrutura regular. Alguns dos formadores de vidro inorgânicos são listados a seguir: Elementos: S, Se, Te, P Óxidos: B2O3, SiO2, GeO2, P2O5, As2O5,etc. Boratos e Silicatos: Na2B4O7, Na2Si2O5,etc. Outros compostos: BeF2, AlF3, ZnCl2, KHSO4, sulfetos, selenetos, e teluretos de alguns elementos, misturas de alguns nitratos, carbonatos. Em 1932 Zachariasen propôs um conjunto de regras para que composto formasse vidro: • Conter uma alta proporção de cátions com tamanho suficiente para serem rodeados por quatro átomos de oxigênio. Ou seja, os cátions devem ser capazes de formar uma rede. • Os poliedros assim formados são unidos apenas por seus vértices. Isto significa dizer que a rede apresenta uma estrutura aberta. 5 • O oxigênio deve estar ligado a apenas dois cátions e não formar ligações adicionais com outros cátions. A rede formada deve ser contínua. Sua análise foi baseada nas seguintes considerações: • A força das ligações interatomicas nos vidros e cristais devem ser similares dado a similaridade entre os módulos de elasticidade destes dois tipos de sólidos; • Como os cristais o vidro consiste de uma extensa rede tridimensional. Os óxidos cujos elementos atendem a condição 1 são chamados formadores de rede ou vidro- formadores. Estes tipos de cátionsformam com o oxigênio ligações de caráter 50% iônica. São formadores: B2O3, P2O5, As2O3, GeO2 e outros. Há formadores não óxidos: As2S3, BeF2, ZnCl2. O segundo grupo de óxidos é aquele cujos cátions apresentam tamanho maior (maior número de coordenação) e podem ser rodeados por mais de quatro átomos de oxigênio, não podem formar vidro sozinhos, mas seus cátions podem substituir parcialmente os cátions formadores. Estes óxidos são conhecidos como modificadores. Óxidos de sódio, potássio, lítio, cálcio, magnésio, bários e outros, são óxidos modificadores. Sozinhos estes óxidos formam cadeias regularmente repetidas, formando cristais. Finalmente, os cátions que não podem formar vidros sozinhos, mas quando fundidos com os vidro-formadores adquirem o número de coordenação destes e atuam como formadores de rede são os intermediários. O Al2O3 é um exemplo. A teoria acima citada é considerada apenas quanto à facilidade de formar vidro. Qualquer composto ou mistura que forma vidro durante o resfriamento do líquido em velocidade moderada é considerado um bom formador de vidro. Líquidos que necessitem serem resfriados usando taxas de resfriamento extremas para formar vidros são considerados não formadores de vidro. Mais tarde por volta da década 50 do século passado, Stanworth sugeriu que os critérios primários para a formação de vidro a partir de óxidos metálicos seriam: • O cátion apresentar valência maior ou igual a 3. • A tendência para formar vidro aumenta com a diminuição do tamanho do cátion. • A eletronegatividade do cátion deve estar entre 1,5 e 2,1. Os dois elementos formadores mais conhecidos, o Si e o B, obedecem estes critérios: 2,04 e 1,9 são as suas eletronegatividades respectivamente. Suas valências, +4 e +3, estão de acordo com o primeiro critério. E seus cátions são relativamente pequenos, 0,2 e 0,39 Å. Enquanto o sódio, possui eletronegatividade fora dos limites destes critérios e de acordo com os princípios de Zachariasen não é um formador, assim como Co e Fe ( 0,65 e 0,67 Å). Basicamente, Zachariasen notou que os cristais de silicato que formam vidros facilmente em vez de recristalizar, após fusão e resfriamento, formam uma rede ao invés de estruturas fechadas. Estas redes consistem em tetraedros ligados em todos os quatro cantos, tal como nos cristais correspondentes, mas as redes não são periódicas e simétricas como cristais. Estas 6 redes estendem em todas as três dimensões, de tal modo que o comportamento médio em todas as direções é o mesmo, isto é, as propriedades dos vidros são isotrópicas. Zachariasen sustenta que a habilidade para formar tais redes fornece assim a condição final para a formação de vidro. Ele então generalizou esta observação ao afirmar que o número de átomos de oxigênio circundantes os cátions da rede deve ser pequena, especificamente 3 ou 4. Zachariasen afirma claramente que esta exigência é empírica e é baseada unicamente sobre a falta de conhecimento de qualquer vidro em que o número de coordenação do cátion na rede não é nem três, nem quatro. A formação de uma rede em que os cátions estão localizados tão distantes quanto possível requer ainda que os poliedros de oxigênio sejam ligados apenas nos vértices e não compartilhem qualquer aresta ou face. Finalmente, ele afirma que a rede só pode ser tridimensional se, pelo menos, três vértices de cada um dos poliedros de oxigênio for compartilhada. Os pensamentos de Zachariasen podem ser mais bem resumidos pela afirmação que a formação do vidro de óxidos pode ocorrer se (1) o material contiver uma elevada proporção de cátions rodeados por triângulos ou tetraedros de oxigênio, (2), se estes poliedros de oxigênio estiverem ligados apenas pelos seus vértices, e (3) se estes átomos de oxigénio estiverem ligados a apenas dois desses cátions e sem formar ligações adicionais com outros cátions. Segundo o item 1 a elevada quantidade de cátions garante a formação de uma estrutura contínua, o item 2 garante a estrutura aberta e o item 3 é a garantia da existência de ligações suficientes para unir os poliedros de oxigênio em uma estrutura de rede contínua. Várias outras teorias de formação de vidro estão baseadas na natureza das ligações no material. Smekal, por exemplo, propõe que os vidros são formados apenas a partir de fundidos que contêm ligações intermediárias entre o caráter puramente covalente e o puramente iônico. Uma vez que ligações puramente iônicas não possuem quaisquer características direcionais, materiais altamente iônicos não formam estruturas de rede. Por outro lado, as ligações altamente covalentes costumam forçar ângulos das ligações definidas com nitidez, evitando a formação de uma rede não-periódica. Substâncias formadoras de vidro, assim, podem pertencer às duas categorias, tanto de compostos inorgânicos, contendo ligações que são parcialmente iônicas e parcialmente covalentes, ou de compostos orgânicos que formam estruturas de cadeias, com as ligações covalentes dentro das cadeias e ligações de van der Waals entre as cadeias. Stanworth tentou quantificar o conceito de ligação mista com o uso do modelo de caráter parcialmente iônico de Pauling. Ele classificou os óxidos em três grupos com base na eletronegatividade do cation. Uma vez que o ânion é o oxigênio em todos os casos, esta abordagem é efetivamente idêntico ao agrupamento de carácter iónico fracionário do vínculo cátion- ânion. Cátions que formam ligações com o oxigênio com um caráter iônico fracionário perto de 50% devem atuar como formadores de rede (grupo I), e produzir bons vidros. Os cations com eletronegatividades ligeiramente inferiores (grupo II), que formam ligações iônicas com um pouco mais de oxigênio, não podem formar vidros por si só, mas podem substituir parcialmente os cations do primeiro grupo. Uma vez que estes íons se comportam de um modo intermediário entre os cátions que formam vidros e aqueles que não formam vidros, são conhecidos como intermediários. Finalmente, cátions que têm eletronegatividades muito 7 baixa (grupo III) e, portanto, formam ligações iônicas com muitos átomos de oxigênio, nunca agem como formadores de rede. Uma vez que estes ions só servem para modificar a estrutura da rede criada pela rede de formação de óxidos, são denominados modificadores. A força da ligação, também tem sido utilizada como um critério para a previsão de facilidade de formação de vidro. Sun argumentou que ligações fortes evitam a reorganização da estrutura fundida em estrutura cristalina durante o resfriamento e, assim, promovem a formação de vidro. Neste caso particular, uma força de ligação foi definida como a energia necessária para dissociar um óxido em seus átomos componentes no estado gasoso. Uma vez que os valores experimentais para essa energia incluem contribuições de todas as ligações cátion-ânion, a força de uma única ligação é determinada dividindo-se a energia de dissociação pelo número de ligações cátion-ânion na unidade de coordenação, por exemplo, quatro para um íon de silício tetraedricamente coordenado. A utilização deste critério produz resultados semelhantes aos de Stanworth, com grupos de rede formadores, intermediária, e modificadores. Embora este modelo produza resultados que são compatíveis com as observações empíricas, ele não acrescenta qualquer conhecimento específico para o processo de formação de vidro. Finalmente, Rawson sugere que Sun descarte a importância da temperatura no seu modelo. Ele sugere que as altas temperaturas de fusão significa que uma energia considerável está disponível para rompimento das ligações, enquanto baixas temperaturas de fusão significa que menos energia está disponível. Daí decorre queum material com fortes ligações, e baixa temperatura de fusão será muito melhor que um formador de vidro, com uma força de ligação semelhante, mas com uma temperatura de fusão muito mais elevada. As teorias acima discutidas consideram apenas a relativa facilidade de formação de vidro. Qualquer composto ou uma mistura que forma um vidro no resfriamento do fundido a uma taxa de resfriamento moderada é considerado um "bom" formador, enquanto os materiais que necessitam de uma velocidade de resfriamento mais rápida, a fim de formar um vidro são considerados formadores "pobres". Fundidos que não podem ser resfriados de modo a formar vidro sem usar taxas de resfriamento extremas são considerados não formadores. As teorias mais recentes sobre a formação de vidro têm reconsiderado os critérios para a definição de uma substância como formadora. Reconhece-se agora que praticamente qualquer material irá formar um vidro, se resfriado tão rapidamente que o tempo proporcionado é insuficiente para permitir a reorganização da estrutura para o arranjo periódico exigido pela cristalização. Daí resulta que a questão não é se um material irá formar um vidro, mas sim o quão rápido ele deve ser resfriado para evitar a cristalização. Em geral, os formadores de rede ou vidro-formadores são óxidos ácidos, os modificadores são básicos e os intermediários são anfóteros. Os óxidos mais comumente encontrados na composição dos vidros estão na tabela 1. 8 Tabela 1- Classificação dos óxidos comumente encontrados na composição dos vidros. Os óxidos também participam como estabilizadores, fluxos ou fundentes e como acessórios. Os fundentes são usados para rebaixar a temperatura de fusão da mistura das matérias- primas. Os estabilizadores são adicionados para garantir a resistência química dos vidros formados com os óxidos fundentes. Os óxidos acessórios são usados em funções específicas tal como as de dar cor. A tabela 2 mostra exemplos de alguns óxidos usados na coloração dos vidros. Tabela2-Óxidos e suas cores. Ou, como os óxidos de arsênio e o óxido de antimônio usado para facilitar a eliminação de bolhas. Selenetos, sulfetos, fluoretos são também usados para colorir vidros. Com algumas exceções, os vidros inorgânicos não são compostos estequiométricos, mas sistemas complexos com proporções variáveis dos componentes suplementados por substancias que sozinhas não formariam vidro. 4. Principais tipos de vidro. Os principais sistemas inorgânicos formadores de vidro são: 9 Vidro de sílica vítrea ( Vitreous sílica) (SiO2). Vidro de silicatos alcalinos(nSiO2. mR2O) Vidros silicatos sódicos (SiO2. CaO. Na2O) Vidros de Silicatos diversos ( SiO2. MgO. BaO. PbO. ZnO etc..) V. Boratos ( B2O3) V.Borosilicatos (SiO2. B2O3) V. Aluminosilicatos (SiO2..Al2O3) V. Fosfatados(P2 O5). Etc... A tabela 3 e 4 mostram composições de alguns tipos de vidro Tabela 3- Composição de alguns vidros comerciais 10 Tabela 4 – Composição de vidros que não contém SiO2 A tabela 5 lista as composições típicas de alguns dos tipos de vidro comerciais mais comuns e seus pontos de amolecimento (softening points). Na maioria deles predomina o Si e o O. A alumina aparece algumas vezes como formador (network formers) e outras vezes como modificador (network modifiers); o aluminio pode substituir o Si e assim se tornar parte da rede ou pode se tornar um separador de oxigenio (nonbrinding oxygens) e assim agir como modificador. 11 E glass – tipo de fibra de vidro que difere pelo teor de álcalis e utilização. As fibras usadas como isolantes elétricos não devem apresentar teor de óxidos alcalinos (de Na e de K) muito acima de 1%. Enquanto as fibras de vidro utilizadas para reforço, apresentam até 20% de álcalis. 4.1-Cálculo da massa. O cálculo da massa de uma composição pode ser muito simples ou muito complexa, dependendo da complexidade da composição e da matéria prima usada para preparar a mistura. Para fazer o cálculo seguimos o mesmo procedimento: a) Multiplicar a fração molar de cada componente por seu peso molecular b) Somar a contribuição de cada componente, obtida no passo anterior, para determinar o peso molecular do vidro. c) Calcule a fração em peso de cada componente dividindo a contribuição de cada componente pelo peso molecular do vidro. d) Multiplicar a fração em peso de cada componente pela massa de vidro a ser produzida Exemplo1 : Determinar a massa de cada componente a ser usada para produzir 100g de um vidro com a seguinte composição: 65CaO-35Al2O3 Peso molecular dos componentes: CaO = 56,08 g/mol Al2O3= 101,96 g/mol a) 0,65 X 56,08 = 36,45 0,35 X 101,96 = 35,68 b) Peso molecular do vidro = 36,45 + 35,68 = 72,14 g/mol c) Fração em peso de cada componente: CaO : 36,45/72,14 =0,505 Al2O3: 35,68/72,14 = 0,495 12 d) Para 100 gramas de vidro : CaO = 0,505 x 100 = 50,5 g Al2O3= 0,495 x 100 = 49,5 g. Calcule o peso da matéria prima usada sabendo-se que foram utilizadas aragonita (CaCO3) e alumina (Al2O3). Consulte a tabela com os fatores gravimétricos. Exemplo 2: Composição do vidro: 20Na20-80Si02, Peso Molecular dos componentes ( g /mol): Na2O = 61.98 Si02 = 60.09 Peso Molecular do vidro: (0.20 x 61.98) + (0.80 x 60.09) = 60.47 g /mol Fração em peso de cada componente: Na2O = (0.20 x 61.98) / 60.47 = 0.205 SiO2 = (0.80 x 60.09)/ 60.47 = 0.795 Para 100 gramas de vidro: Na2O = 0.205 x 100 = 20.5 g SiO2 = 0.795 x 100 = 79.5 g O oxido de sódio não é estável, por isso devemos adicioná-lo na forma de Na2CO3 que por decomposição produz Na2O. Para calcular a quantidade de Na2CO3 é necessário multiplicar a quantidade determinada de Na2O (20.5) g pelo fator gravimétrico de Na2CO3(1.71), ou seja, para cada grama de Na2O são necessária s 1,71g de Na2CO3. Assim: Na2CO3 = 20,5 X 1,71 = 35,05 g Exemplo 3 Composição do vidro 20Na20-5Al203-75Si02 Peso Molecular dos componentes (em g /mol): Na2O = 61.98 Si02 = 60.09 Al2O3 = 101,96 Peso Molecular do vidro: (0.20 x 61.98) + (0.05 x 101.96) + (0.75 x 60.09) = 62.5 Fração em peso de cada componente Na2O = (0.20 x 61.98) - 62.56 = 0.198 Al2O3 = (0.05 x 101.96) - 62.56 = 0.0815 Si02= (0.75 x 60.09) - 62.56 = 0.720 Para cada 100 gramas de vidro: Na2O = 0.198 x 100 = 19.8 g Al2O3 = 0.0815 x 100 = 8.15 g Si02 = 0.720 x 100 = 72.0 g Se a matéria prima fonte de alumina for o feldspato albita (Na2O-Al2O3-6SiO2)deveremos obter também soda e sílica. Estas quantidades geradas devem ser subtraídas da massa de Na2O e SiO2. Usando o fator gravimétrico da albita contido na tabela 1: Albita = 8,15 x 5,14 = 41,89 g. Essa quantidade de albita fornece : 41,89/8,46 de Na2O = 4,95 g de soda e 13 41.89/1,45 de SiO2 = 28,89 g de sílica Subtraindo estas quantidades das quantidades requeridas, constatamos que será necessário adicionar : Si02= 72 – 28,89 = 43,11g Na2O = 19,8 -4,95 = 14,85g o que equivale a (1,71 x 14,85) g de Na2CO3 . As massas finais serão: 25.39 g de Na2C03. 41.89 g de albita. 43.1 1 g de areia. 5-Estrutura do vidro. Há várias regras sobre as estruturas dos vidros, algumas foram estabelecidas antes do surgimento da técnicade difração de raios-X. 1ª regra: a unidade estrutural dos silicatos é o tetraedro regular de SiO4, no qual um átomo de silício é coordenado por quatro átomos de oxigênio, veja figura 4. 2ª regra: os óxidos dos elementos eletropositivos, tais como sódio, potássio e cálcio, entram na estrutura dos silicatos como íons e se instalam no espaço entre os tetraedros, veja figura 5 14 3ª Regra: Cada oxigênio deve se ligar a dois tetraedros, formando uma estrutura rígida e o modo pelo qual essas estruturas tetraédricas se juntam, depende do número relativo de silícios e oxigênios. No SiO2 só existem dois oxigênios para cada silício e por isso cada oxigênio deve se ligar a dois tetraedros e assim formar uma estrutura rígida. Com a presença de mais oxigênios (de outros óxidos) alguns destes átomos farão parte de um só tetraedro – são os oxigênios não ligados- resultando em uma estrutura menos rígida. 4ª Regra: Dois tetraedros jamais compartilham mais de que um átomo de oxigênio, ou seja, os tetraedros sempre serão ligados pelos vértices, nunca por uma face ou por uma aresta. 6- Principais propriedades. A natureza não cristalina dos vidros proporciona-lhe certas características únicas quando comparado com os materiais cristalinos. Uma vez conformados, depois do resfriamento ocorrem mudanças súbitas e diferentes daquelas ocorrem nas outras fases de transição tais como solidificação ou cristalização. A mudança não é da desordem para ordem, mas da desordem para desordem com menos espaço vazios. 6.1-Temperatura de transição vítrea. 15 Um sólido cristalino típico cristaliza em um ponto de fusão com mudança significativa na entropia e no volume específico. As mudanças dessas propriedades no vidro são mais graduais e não há mudanças abruptas no ponto de fusão. O ponto no qual ocorre uma mudança na inclinação é conhecido como temperatura de transição vítrea e representa a temperatura na qual o líquido formador do vidro passa do estado borrachoso (plástico) à rígido (frágil, vítreo). Em outras palavras, é a temperatura na qual o líquido super resfriado se torna vidro ou seja, se torna rígido e amorfo. A Tg é uma medida da rigidez da rede vítrea, em geral a adição de um modificador tende a reduzir Tg, enquanto a adição de formadores aumenta-a. Experimentalmente uma das técnicas para determinar se um óxido é formador ou modificador é medir seu efeito sobre a Tg. Para medir a Tg, uma das técnicas usadas é a análise térmica diferencial. Aquecendo o vidro acima de Tg, acontece um processo endotérmico e se manifesta como um alargamento anômalo na linha base da curva do ATD, como mostra a figura. Se o vidro não cristalizar esta é a única anomalia. Mas se o vidro cristalizar em alguma temperatura entre Tg e o ponto de fusão, surgem então dois picos extras; o primeiro devido a cristalização ou devitrificação do líquido super resfriado e o segundo devido à fusão destes mesmos cristais. 6.2-Viscosidade A viscosidade (η) é o inverso da fluidez e é a medida da resistência à deformação por cisalhamento com o tempo. É expressa em Pa.s (pascal. segundo) ou em poise (P). 1Pa.s=10 poise. A viscosidade do vidro é um importante parametro, ela define o regime de temperatura sobre a qual o vidro pode ser trabalhado.Por exemplo, a faixa de trabalho do vidro normalmente acontece em uma faixa de viscosidade entre 103Pa e 106Pa A viscosidade depende fortemente da temperatura e da composição, ela controla por exemplo, a eliminação de bolhas durante a fusão e é a causa das tensões que ocorrem durante o resfriamento. A possibilidade de resfriar o vidro fundido a temperatura ambiente sem cristalização é o resultado de sua elevada viscosidade, pois o aumento fortíssimo de viscosidade freia o crescimento dos cristais. 16 6.2.1-Efeito da temperatura sobre a viscosidade. A mudança da viscosidade vítrea com a temperatura é muito importante do ponto de vista do processamento e permite que os vidros possam ser processados rapidamente e de forma relativamente fácil em formatos complexos e sem poros. A figura abaixo mostra um esquema do efeito da temperatura sobre a viscosidade do liquido formador do vidro. Nele observamos que quatro outras temperaturas têm importância prática. O ponto de deformação (strain point) é definido como a temperatura na qual as tensões do vidro são substancialmente relaxadas em 4 horas. Corresponde a uma viscosidade, η= 1015.5Pa.s . Nesta temperatura qualquer tensão é reduzida a níveis aceitáveis em 4h. Abaixo da temperatura do ponto de deformação, o resfriamento pode ser acelerado, uma vez que nenhuma tensão residual pode mais ser introduzida. O ponto de recozimento (annealing point) é a temperatura na qual qualquer tensão interna é substancialmente reduzida em 15min. Corresponde a uma viscosidade é 10 13,4Pa.s. Este ponto permite a relaxação de tensões sem deformações. O ponto de amolecimento (softening point) é a temperatura na qual a viscosidade atinge o valor de 108,6Pa.s. Nesta temperatura a peça de vidro alonga aproximadamente 3% em uma velocidade de 1mm/min sob ação de seu próprio peso quando aquecida em um forno na velocidade de 5°C/min. Faixa de trabalho (working point) é o intervalo de temperatura na qual o vidro pode ser prontamente moldado, perfilado, etc.. No ponto superior sua viscosidade atinge 103Pa.s = 104 poise. No ponto inferior o vidro está suficientemente viscoso para manter a sua forma e corresponde a uma viscosidade de 105Pa.s. 17 A temperatura de transição vítrea, Tg, corresponde a uma viscosidade média de 1011.3Pa.s O gráfico abaixo mostra a relação η-T de um vidro soda-cal. Por volta de 1450°C, o vidro está “líquido”, a viscosidade é em torno de 10Pa.s(A título de comparação, a viscosidade da água na temperatura ambiente é 0,001Pa.s e da glicerina, 1Pa.s.). O vidro fundido pode fluir mas, não prontamente. Como a temperatura diminui, a viscosidade aumenta em várias ordens de magnitude. A 750°C a viscosidade é 106.5Pa.s e neste ponto a massa flui sob a ação do próprio peso. Em 450°C a viscosidade é maior que 1015Pa.s e é difícil distinguir o vidro de uma forma sólida. 6.2.1.1 Classificação dos vidros quanto à faixa de trabalho As massas fundidas que possuem uma grande faixa de trabalho são conhecidas como vidros longos, enquanto aqueles com pequena faixa de trabalho são chamados vidros curtos. Se a faixa de trabalho ocorre em temperaturas relativamente altas com relação às temperaturas de um vidro soda-cal-sílica, a composição é designada vidro duro. Por outro lado se for abaixo daquela do vidro de soda-cal-sílica, a composição é chamada vidro macio. 18 6.2.2-Efeito da composição sobre a viscosidade. a) Sistemas silicatados A viscosidade do SiO2 líquido puro a 1940°C é 1,5 x104Pa.s, a qual é consideravelmente alta com relação a temperatura; requer para seu processamento uma temperatura de 2200°C. A sílica vítrea é o mais viscoso dos vidros comuns. Para o SiO2 puro fluir a ligação Si-O-Si, altamente direcional, deve ser quebrada. A energia de ativação para esse processo é um tanto alta (565 kJ/mol). Com a adição crescente de óxidos básicos a rede tridimensional é quebrada em íons menores. O resultado é que o número de ligações Si-O a serem quebradas durante o fluxo viscoso é menor e o esforço cisalhante também. Este efeito é mostrado na figura a seguir. 19 Com a adição de 10% em mol do modificador a queda da viscosidade é de magnitude 5 aproximadamente. A diminuição na viscosidade é acompanhada por um aumento na fragilidade. Estudos feitos em sistemasvítreos silicatados mostram que as mais altas viscosidades são encontradas em composições sem os óxidos modificadores e em composições contendo grandes concentrações de Nb2O5 ou Ta2O5. Baixas viscosidades são, geralmente, encontradas em massas fundidas contendo PbO, ou com quantidade limitada de fluoretos ou outros haletos. b) Boratos A viscosidade dos boratos vítreos está entre as mais baixas registradas nos vidros comuns. Isto é decorrente da baixa conectividade da rede formada pelo óxido de boro que apresenta uma rede de triângulos BO3, conectados pelas pontas sem nenhuma ligação forte tridimensionalmente. Quando aquecidos os anéis de B e O se dissociam e apresentam um grande coeficiente de expansão térmica, o que provavelmente justifica a fragilidade deste tipo de vidro. A adição de óxidos alcalinos ao oxido de boro aumenta a conectividade do fundido através da conversão dos triângulos em tetraedros. Em uma segunda etapa, esta adição provoca uma diminuição na viscosidade. É importante também ressaltar que a viscosidade diminui na seguinte ordem de elementos adicionados: Li ˃ Na ˃K ˃Rb ˃ Cs, em ordem inversa ao dos vidros de sílica. Veja a figura 11 20 c) Germanatos vítreos A viscosidade dos germanatos fundidos fica situada entre a da sílica e do óxido de boro. Com a adição de pequenas quantidades de óxidos alcalinos há uma clara diminuição na viscosidade, com valor mínimo para uma adição de 1 a 2% de R2O. Aumentando o conteúdo de óxido a viscosidade cresce atingindo um valor máximo para uma concentração de 17% de R2O. A partir desta concentração, a viscosidade desta massa fundida diminui com o aumento da concentração. *temperatura isokom é a temperatura de viscosidade constante; ex: T12 é a temperatura na qual a viscosidade é igual à 1012Pa.s. As viscosidade desta massa fundida são praticamente independente do tipo de álcali presente para composição menor que 17% em mol de R2O, mas diminui com a adição dos seguintes tipos: Na ˃K ˃Rb ˃ Cs para massas contendo menos que 20% de R2O. A 21 fragilidade destes vidros aumenta rapidamente com o aumento no conteúdo de oxido alcalino. Substituindo o oxigênio pelo flúor também há diminuição acentuada na viscosidade. 6.2.3- Viscosidade e trabalhabilidade. A viscosidade também influi no processo de trabalho do vidro. Por exemplo o vidro com alto teor de CaO é chamado vidro seco, isto é, endurece rapidamente e é próprio para operações rápidas, como sopragem de garrafas. Substituindo o CaO pelo PbO o vidro torna-se macio, isto é sua viscosidade não aumenta tão rapidamente com a diminuição da temperatura e sua faixa de trabalho aumenta, tornando-se adequada para operações demoradas da fabricação manual de peças de vidro. O vidro mole é trabalhável nas mais baixas temperaturas (aprox. 350 a 500°C), porém ele atravessa rapidamente o intervalo de temperatura que permite a formação de peças de vidro, daí ser também denominado vidro curto. O vidro 2 tem um intervalo (ou palier, no jargão do meio) de 320°C. E no vidro 1 é só 230°C. Sendo o vidro 1 menos trabalhável ou mais curto, porém mais mole. O que significa também que a viscosidade do 1 aumenta mais rapidamente com a diminuição da temperatura No vidro duro a faixa de trabalho está acima de 1000°C, entretanto ele é considerado de maior trabalhabilidade uma vez que sua viscosidade cai ao longo de uma faixa maior de temperatura 22 6.3- Permeabilidade gasosa e difusão A permeabilidade dos gases dentro e através do vidro é controlada pela mobilidade dos átomos ou de moléculas através da rede vítrea. Teoricamente, podemos medir o coeficiente de difusão de qualquer íon. Na prática, a maioria dos estudos de difusão iônica têm-se restringido aos íons de alta mobilidade, os quais possuem isótopos radioativos para serem usados como traçador. O resultado é que a maioria destes dados está relacionada ao sódio e em menor quantidade ao K, Rb e Cs. Estudos para o Li são muito poucos devido à ausência de isótopos radioativos de Li, enquanto para os divalentes e outros com maiores cargas a baixa mobilidade é o que restringe os dados. O coeficiente de difusão do sódio nos vidros sódio-silicatados aumenta com o aumento da concentração de óxido de sódio. Comparando a difusividade do Na+, K+, Rb+ e Cs+ em um vidro R2O-3SiO2 contendo o próprio óxido alcalino, encontramos uma pequena diminuição de difusividade íon alcalino na seguinte ordem: Na+˃ K+ ˃Rb+ ˃ Cs+ . Essa diferença, entretanto é menor que poderíamos esperar levando em conta a grande diferença nos raios deste íons. A adição de íons modificadores divalentes em vidros sódio-silicatado diminui a difusividade dos íons sódio. Com menor mobilidade os ions divalentes, tal como o Ca+ ocuparão os interstícios da rede e bloquearão a mobilidade dos íons monovalentes. Este efeito é parcialmente responsável pelo aumento na resistência química de vidro de silicatos alcalinos quando a estes é adicionado óxidos de alcalinos terrosos. A permeabilidade de inúmeros gases nos vidros pode, dependendo da taxa, causar sérios problemas em muitas aplicações práticas. O hélio pode atravessar facilmente muitos vidros usados em tubos de vácuo. A permeabilidade do hidrogênio pode resultar na coloração do vidro pela redução de íons a um estado mais baixo de valência ou até mesmo ao estado metálico. O oxigênio atravessando as paredes finas de uma lâmpada elétrica pode reagir com o material do filamento e causar seu rompimento. Inúmeras propriedades dos vidros são controladas pela difusão ou transporte de átomos ou íons através da rede vítrea. A condutividade elétrica de quase todos os vidros inorgânicos contendo íons é controlada pela difusão destes íons sob a influência de um campo elétrico externo. A dissolução química muitas vezes começa com a interdifusão dos íons alcalinos do vidro e os prótons dos fluidos vizinhos. A troca iônica entre o vidro e sua vizinhança pode ser usada para aumentar a resistência do vidro pela produção de uma região compressiva na sua superfície. Perda mecânica ou dielétrica muitas vezes é devida ao movimento de íons sob a influência da reversão do campo elétrico ou do campo de tensão. 6.4-Propriedade elétrica. Os vidros de sílica possuem alta resistência dielétrica, porém não tão alta quanto às de alguns polímeros dielétricos como os de resina fenólica. 23 No caso em que são condutores, a carga é produzida pelos íons. E esta condutividade aumenta significativamente com o aumento da temperatura e é diferente para os diferentes tipos de vidro. 6.4.1-Condutividade iônica. Uma vez que os transportadores de corrente nos vidros iônico condutores são os íons, a condutividade está intimamente ligada com a mobilidade destes íons. Assim, vidros com concentração significativa de íons monovalentes são pouco isolantes, enquanto os vidros sem íons monovalentes são excelentes isolantes. Os vidros de óxidos, incluindo silicatos, boratos, germanatos e a maioria dos fosfatos são condutores iônicos, enquanto os de calcogenios e alguns fosfatos são condutores eletrônicos. 6.4.1.1-Efeito da composição. A condutividade elétrica do vidro depende não apenas dos transportadores de corrente, mas também da concentração destes condutores. Desta feita, a condutividade do vidro de silicato de sódio aumenta mais rapidamente com o aumento da concentração de soda. A condutividade dos outros vidros de óxidos alcalinos também aumenta com o conteúdo do álcali. Vidros contendo dois ou mais óxidos alcalinos apresentam o efeito da mistura de óxidos, como pode ser visto na figura 13 para o vidro sódio-potássio.6.5-Durabilidade Química Denomina-se resistência química ou durabilidade, a propriedades dos vidros resistirem mais ou menos a ação dos agentes naturais ou artificiais. 24 A sílica é praticamente insolúvel em água e nas soluções neutras, exceto à altas temperaturas. Dentre os ácidos, ela é atacada pelo ácido fluorídrico. Em altas temperaturas não resiste ao ácido fosfórico. Em contato com álcalis, sua solubilidade aumenta com a alcalinidade das soluções. Embora os vidros comerciais de silicato sejam usados para recipientes para líquidos, nem todos os vidros são insolúveis em soluções aquosas. A maioria dos vidros não silicatados são muito susceptíveis a se dissolverem em água, o que limita sua utilização para aplicações que envolvam líquido aquoso ou vapor d’água. Mesmo aqueles vidros que exibem excelente durabilidade em água podem ser dissolvidos se expostos a soluções de pH muito alto ou muito baixo, ou a reagentes tais como o ácido fluorídrico, o qual ataca específicamente a rede de ligações. O ataque do vidro pela água é chamado ataque hidrolítico durante o qual os íons alcalinos são substituídos pelo H+. O ataque dos ácidos se dá de modo semelhante ao hidrolítico: O ataque alcalino se dá muito mais rapidamente porque os íons OH- atacam as ligações Si-O- Si destruindo os tetraedros. Este ataque aumenta exponencialmente com o pH da solução e da temperatura e proporcionalmente ao tempo de ataque. No caso do HF, o íon F- substitui progressivamente os íons OH- que estão unidos tetraedricamente ao silicio, destruindo o retículo até formar o tetrafluoreto de silício, SiF4 ou os fluosilicatos alcalinos como o Na2SiF6. O ataque pelo intemperismo acontece com a atuação do ácido carbonico sobre o vidro: os íons sódio são substituídos pelo H+ produzindo uma solução de hidróxido de sódio e pela evaporação a concentração de hidróxido vai aumentando e o resultado são manchas na superfície pelo ataque do NaOH. Este álcali tambem pode reagir com o gás carbonico do ar e formar bicarbonato de sódio e síica. 6.6- Propriedades Mecânicas 6.6.1-Tenacidade à fratura. Vidros são materiais frágeis, mas de grande resistência mecânica. Sua resistência teórica pode ser avaliada pelas forças de ligação, para o vidro cal-soda, ela pode atingir 70 ton/cm2 ( na prática é muito menor). Isto pode ser justificado pelas inúmeras falhas na estrutura atômica que contribuem para ocorrência de trincas. As falhas também podem ser devidas: • Ao choque térmico, assim como o • Contato com peças do mesmo vidro ou com objetos usados no manuseio podem ser suficientes para gerar falhas. 25 • O ataque químico também gera falhas. O próprio sal da pele de nossos dedos é suficiente para geração de falhas. • Aquecimento do vidro por tempo prolongado suficiente para a formação de pequenos cristais na superfície ou pela introdução de partículas de poeira na rede vítrea de superfície. • A tensão térmica gerada pelo resfriamento rápido que como no aquecimento, a expansão térmica gera uma má combinação que produz falha local durante o resfriamento. Proteger o vidro contra a formação de falhas é difícil. Ela pode ser reduzida pela remoção da camada mais externa do material por ataque químico ou por polimento mecânico. A resistência dos vidros pode ser aumentada considerando que as falhas sempre estarão presentes e que por isso o esforço deve ser para prevenir o crescimento da fratura. Nenhum crescimento acontecerá até que a tensão aplicada no ponto de falha seja suficientemente grande para vencer a tensão compressiva residual e produzir uma tensão de tração neste ponto. Superfícies compressivas podem ser produzidas por troca iônica, tempera ou pela aplicação ou formação de coberturas compressivas. • Tempera térmica. A têmpera térmica envolve a formação de uma camada compressiva através de resfriamento rápido do vidro no limite ou acima do limite superior da faixa de transformação vítrea. A tempera envolve o aquecimento do vidro em temperatura próxima à seu ponto de amolecimento de modo que as tensões não uniformes no vidro sejam substituídas por tensões controladas, uniformes e pouco intensas, através de movimentos atômicos, em seguida, é resfriado rapidamente pelo mergulho em óleo ou sopro de ar. Assim, a superfície do vidro resfria primeiro, se contrai e mantêm-se rígida enquanto o centro ainda está suficientemente quente para ajustar-se às contrações da superfície para logo em seguida resfriar-se e contrair- se, também. O interior puxa a superfície externa, comprimindo-a, enquanto o centro fica tracionado. Desta forma há uma compensação entre o esforço de tração do interior e a tensão compressiva com conseqüente diminuição na ocorrência de fraturas pela propagação de trincas. Esta é a têmpera física. Esta camada compressiva equilibra a região de tensão no interior da massa vítrea. A camada compressiva pode ser obtida também se uma fina camada de um material com menor coeficiente de expansão puder ser criado como, por exemplo, a aplicação de um vidrado pela fusão de uma fina camada de vidro com temperatura de formação mais baixa. 26 • Tempera química. A substituição de um íon inicialmente presente no vidro por outro menor também pode produzir na superfície uma região com menor coeficiente de expansão térmica e de maior compressão. Como por exemplo, mergulhando um vidro de sódio em banho de sal de lítio fundido, obtêm um vidro de lítio na superfície e um vidro de sódio no interior. Entre as aplicações estão: portas grandes, pára-brisas de automóveis e lentes de óculos. A composição do vidro influencia na resistência mecânica até certo ponto. Vidros com ligações fortes e com alto ponto de amolecimento como os de SiO2 tem a maior resistência, que decresce quando as ligações são mais fracas. Os vidros temperados são até de vezes mais resistentes ao impacto a à altas temperaturas que o vidro comum. É mais rígido, e tem maior resistência térmica, quando é quebrado se subdivide em pequenos pedaços. Figura 15 – Vidros após quebra: (a) vidro temperado e (b) vidro comum 6.6.2-Módulo de elasticidade O módulo de elasticidade, E, é determinado pelas ligações e pela estrutura da rede. Por isso não é de se estranhar que vidros com alta temperatura de transição em geral possuam alto módulo de elasticidade. São responsáveis pela diminuição do módulo: • Falhas nas ligações da rede. • Oxigênio não ligados O que pode aumentar o valor do módulo de elasticidade: • Substituição dos íons modificadores por Al3+. O vidro temperado é feito a partir do aquecimento controlado do vidro comum (não temperado) tendo chances de poder quebrar durante o processo. 27 • Nitretação dos vidros que fornece íons nitrogênio de coordenação 3 às ligações entre os tetraedros. Valores mais altos de modulo de elasticidade são encontrados em vidros de óxidos alcalinos terrosos ou de aluminosilicatos-Y, os quais além das ligações fortes apresentam alta densidade de empacotamento. Os valores para o módulo de elasticidade de vidros inorgânicos variam de 10 a 200GPa. 6.6.3- Dureza. A dureza é uma função da resistência da ligação de cada vidro e da densidade de empacotamento dos átomos na estrutura. Em geral é definida do risco, usando a escala de Mohs ou pelo indentador. Nos vidros de óxidos ela varia entre 5 e 7 na escala de Mohs. Ou seja, eles devem riscar a apatita (de dureza 5) mas não riscam o quartzo (de dureza 7). A dureza Vickers destes vidros varia de 2 a 8GPa, com valores acima de 11GPa para vidros nitretados. Ainda muito mais baixo que a dureza do diamante que é 100GPa. Vidrosde boratos, germanatos e fosfatos são mais macios que os vidros silicatados. 6.7- Propriedades óticas Os vidros estão entre os poucos sólidos que transmitem luz na região visível do espectro, além de proporcionar a luz através das janelas e das lâmpadas elétricas eles também são os elementos básicos dos instrumentos óticos. Podemos afirmar que o desenvolvimento da astronomia, biologia e ciências médicas também foram beneficiadas pelo desenvolvimento de vidros com melhores propriedades óticas. As propriedades mais importantes de um vidro que vai ser usado em sistemas ópticos são: Ƞ = senα/senβ Equação do Índice de refração (Ƞ) onde α e β são os ângulos de incidência e de refração respectivamente O valor de Ƞ não é constante, depende da composição do vidro e do comprimento de onda da luz incidente. O índice de refração de um vidro é determinado pela interação da luz com os elétrons dos átomos constituintes. Ele aumenta com a densidade eletrônica ou com a polarização dos íons. Vidro contendo apenas íons de número atômico baixo que também possuem baixa densidade eletrônica e baixa polarização apresenta baixo índice de refração. Um vidro de BeF2 possui índice de refração igual a 1,27, enquanto outro de sílica vítrea e óxido de boro apresenta um índice de 1,458. Vidros com altas concentrações de Pb, Bi, Ga ou Tl apresentam índice acima de 2,0. Índices de refração e de dispersão 28 Um alto índice de refração melhora o brilho do vidro que aumenta com o conteúdo de PbO e BaO na composição do vidro. A mudança do anion também contribui para aumentar a refração, por exemplo, substituir o F- por O--. Inversamente, substituir parcialmente o oxigênio em vidros de óxidos por fluoreto para formar vidros de fluorboratos. Reduz o índice de refração. Mudanças na composição que reduzem a concentração de oxigênio não ligado também reduzem o índice de refração. A figura 15 mostra a influência da concentração dos óxidos alcalinos sobre o índice de refração de um vidro alcalisilicatado. Quando a luz passa através de um vidro plano, uma parte é refletida, outra parte entra no corpo e é parcialmente absorvida. A habilidade de um corpo vítreo transmitir luz é descrito quantitativamente pela transmitância (T): T e são respectivamente, o fluxo de luz incidente e o fluxo transmitido. A porção absorvida é caracterizada pela absorbância (A): Que é diretamente proporcional à espessura da camada de absorção (l): onde α é o coeficiente de absorção; ε é o coeficiente de absorção molar; 29 c é a concentração do componente ativo na solução (agente colorante). A absorção no visível é percebida como cor. 6.7.1- Cor Uma das características mais interessantes do vidro é a cor. Os vidros podem se apresentar desde o mais puro incolor até em infinitas cores, que também podem variar desde uma leve tonalidade até a total opacidade. Em questões de marketing a cor também é muito importante, pois ajuda muito na escolha do produto. Além da função estética, a cor do vidro tem também uma função utilitária. Dependendo dos elementos que introduzimos na composição do vidro, este filtra a luz, deixando passar alguns raios e retendo outros. Por isso se utilizam garrafas âmbar para cerveja ou verde para o vinho, pois estes vidros impedem a passagem de certas radiações (ultravioleta), que estragariam os produtos. O vidro é o único material que possibilita a visualização do produto que ele contém, ao mesmo tempo em que o protege contra radiações que o deteriorariam. Colore-se o vidro de maneira que ele impeça a passagem da radiação responsável pelo aquecimento (infravermelha), mas permita a passagem da luz visível, possibilitando a visão através de janelas das casas, edifícios e de carros. Pelo mesmo princípio, os vidros reflexivos, que parecem um espelho, refletem uma boa parte da radiação solar que aqueceriam o ambiente. À noite, quando não há radiação solar incidindo e ofuscando a luz visível que sai, é possível ver o interior dos prédios. De forma oposta o vidro anti-reflexo é coberto com um fina camada de substância com um menor índice de refração para que aumente a quantidade de luz passando através de um sistema ótico Há vários mecanismos para dar cor ao vidro. A cor se deve à presença de íons de elementos de transição que se caracterizam por ter os orbitais 3d ou 3f incompletos a exemplo de Fe, Co, Ni, V, Mn, Cu, Nd, Ce, La, Lu e Pr. As cores dependem ainda do estado redox, do número de coordenação do íon e dos anions presentes. Ex: o Co+2 dá cor azul em vidros de sílica e a cor rosa em vidros a base de borosilicatos. As substancias capazes de colorir o vidro são divididas em dois grupos: No Grupo 1 estão as substancias que produzem cor quando dissolvidas no vidro sob forma de óxidos ou combinadas sob a forma de silicatos. Vejamos. • Vanádio: forma dois óxidos, o V2O3 que é um óxido básico e produz cor verde amarelada; o outro é um óxido ácido, o V2O5 que é responsável pela cor verde. • Cromo: seus óxidos conferem a cor verde esmeralda, mais forte quanto mais oxidado estiver • Manganês: na forma de sesquióxido Mn2O3 colorem os vidros em tons púrpura ou violeta. A presença de potássio transmuta a cor violeta se transforma em vermelho violeta. 30 • Ferro: é o elemento que mais influi na cor dos vidros; a escolha da matéria prima para fabricar o vidro começa pela determinação de seu teor em ferro como impureza. O FeO produz no vidro uma cor azul esverdeada e o Fe2O3 produz cor verde amarelada. A cor âmbar é formada pela combinação dos íons Fe3+ e S2- juntos com íons Na+ em equilíbrio redox para não formar manchas escuras devido ao ferro metálico ou de bolhas pelo alto nível de enxofre dissolvido na massa vítrea. Quando um vidro âmbar têm alto nível de manchas escuras e de bolhas diz-se que é um vidro super reduzido. • Cobalto: produz nos vidros cor azul –violeta conhecida como “azul de cobalto”. • Niquel: nos vidros potássicos produz cor violeta e nos sódicos produz cor castanha. • Cobre: a cor produzida pelo cobre pode variar de verde azulada até o vermelho, dependendo do oxido. Grupo 2. • Corantes Coloidais. Alguns elementos podem permanecer em suspensão coloidal no vidro, entre eles o ouro, prata, cobre, arsênio, antimônio, estanho e sulfeto de cádmio e selênio. • A cor é desenvolvida não pelo espalhamento da luz e sim pela absorção de partículas. A cor vermelha produzida em muitos vidros contendo ouro é devido à presença de finas partículas coloidais de Au. A cor vermelha também pode ser produzida pelo cobre. A cor amarela é devida à prata. • A formação dos coloides pode ser resultante de uma reação redox com algum componente do vidro ou pela reação redução com um agente externo tal como o H2. O estanho em vidros contendo ouro pode servir como agente redutor. Nas altas temperaturas do processo de fusão a oxidação favorece a produção de ions Au+ e Sn2+. Se a temperatura diminui o equilíbrio se desloca no sentido da redução do ouro e oxidação do estanho: 2Au+ + Sn2+ = 2Au0 + Sn4+ 6.7.2- Fotosensibilidade a Fotocromia. Fotosensibilidade a Fotocromia nos vidros são fenômenos intimamente relacionados. A fotossensibilidade apresenta uma variedade de fenômenos fotoinduzidos como fotoexpansão, fotocristalização, fotodissolução, etc. Estes fenômenos têm sido estudados extensivamente, levando a inúmeras aplicações como, por exemplo, mídia para armazenamento de informaçõesópticas, grades holográficas eficientes, microlentes, células solares, entre outras Vidros contendo, por exemplo, haleto de Ag adicionados de pequena quantidade de Cu+ tornam-se sensíveis à luz: escuressem ao serem expostos à luz ou a um tratamento térmico. Quando expostos à radiação ultravioleta, a prata é reduzida à prata metálica, que se aglomeram para formar colóides de prata, que absorvem luz, escurecendo as lentes. Quando a exposição cessa, o processo reverte e as lentes ficam claras novamente. As lentes de cristal 31 sofrem também alguma ativação pela luz visível, de baixo comprimento de onda. Com a remoção da radiação a prata volta se combinar com o ion haleto e a transmissão da luz se restabelece. Esta reversibilidade do escurecimento permite que estes vidros sejam usados em óculos e janelas. Se o vidro contiver pequena quantidade de óxido de cério a redução será mais eficiente. Em algumas composições a dissociação requer grande exposição á UV. Como os átomos (coloides) só se formam nas regiões expostas à radiação UV, imagens podem ser formadas se uma máscara for usada durante a exposição da radiação e se o colóide não redissolve, a imagem é permanente. Vidros opacos. A opacidade neste tipo de vidro é devido à dispersão da luz pela separação de fases líquido- líquido ou líquido-solido, como acontece borosilicato-lítio. Outra maneira de formar vidros opacos é pela adição de uma pequena percentagem de NaF ou CaF. Este tipo de vidro é usado em produtos decorativos e em louças. Métodos de Análise Térmica de vidros. A análise é baseada na diferença de comportamento térmico entre a amostra estudada e um material de referência. Quando ocorre um evento térmico, por exemplo, calor libertado durante a cristalização, a alteração no calor específico da transformação do vidro, a absorção de calor durante as transformações de fase, ou o calor da reação de uma grande variedade de processos químicos, as temperaturas da amostra e da referência serão diferentes, indicando que alguns mudança ocorre na amostra (a referência é assumido como sendo totalmente inerte e livre de quaisquer eventos térmicos). Uma vez que a temperatura se eleva para além a região de mudança de entalpia, a diferença entre a amostra e referência irá retornar a zero, obtendo-se uma curva de AT versus temperatura que tem picos em eventos exotérmicos ou endotérmicos, ou um deslocamento em a linha de base, devido a uma alteração na capacidade calorífica. A DTA é muito útil para a determinação de pontos de fusão de cristais, transformação de vidro e temperaturas cristalização de vidros. Uma curva de DSC típicas de um vidro em que os cristais se formam durante o aquecimento e depois fundem a uma temperatura superior é mostrada na figura 16. Curva DSC exibindo mudança no calor específico em uma transformação vítrea, um pico exotérmico devido à cristalização e um endotérmico devido à fusão dos cristais formados na transformação exotérmica. O evento indicado em Tg é uma mudança no calor específico do material que ocorre quando o vidro passa de sólido para líquido. O aumento do calor específico causa um aumento na diferença térmica entre a amostra e o material inerte de 32 referência, resultando em uma mudança na linha base. O calor específico pode ser determinado por essa diferença. Prosseguindo o aquecimento surge um pico exotérmico devido à entalpia de fusão liberada pela amostra durante a cristalização do vidro. A complexidade das curvas e a quantidade de picos podem ser maior em vidros que formam várias fases cristalinas. A DTA ou DSC é usada para determinar o valor da Tg como pode ser visto na figura 17. 33 CERÂMICAS VÍTREAS. São materiais policristalinos produzidos pela cristalização controlada de vidro e compostos de cristais orientados aleatoriamente com teor de vidro residual entre 2 e 5 por cento, sem espaços vazios ou porosidade. Devido à estrutura mista (amorfa + cristalina), eles adquirem uma resistência mecânica melhor e um baixo coeficiente de dilatação: por isso eles não quebram, mesmos se aquecidos bruscamente ou desigualmente (choque térmico). Em alguns casos podem ser transparentes (como a panela da figura acima): a fase cristalizada é formada por grãos tão finos que não provocam espalhamento da luz. Processamento da cerâmica vítrea. Na produção de um vidro cerâmico é preciso assegurar que a cristalização não ocorra durante o resfriamento a partir da temperatura de formação. O processamento é semelhante ao dos vidros e em seguido de um tratamento térmico de nucleação e crescimento da fase cristalina de tal forma que a microestrutura final é composta de cristais em uma matriz vítrea. A figura 18 mostra as etapas deste processamento. Mistura e fusão. Nesta etapa as matérias primas tais como o quartzo, o feldspato, a dolomita e o espodumenio são misturadas aos agentes nucleantes ( TiO2 ou ZrO2) e fundidas. 34 Formação. Aqui pode ser usada qualquer uma das técnicas de formação do corpo vítreo, o que é uma das vantagens da cerâmica vítrea que também pode ser assim obtida em formatos complexos, diferentemente da cerâmica cristalina. Durante o processo, a taxa de resfriamento deve ser bastante rápida de forma a evitar a formação e crescimento de cristais. Ceramização (ou nucleação e crescimento dos cristais). Depois de formado, o vidro é aquecido em temperatura que possibilite a nucleação e crescimento dos cristais. A formação dos cristais ocorre sobre os cristais dos agentes nucleantes adicionados com esta finalidade. Com cristais formados a temperatura é aumentada para que estes cresçam. Sendo alcançada a microestrutura desejada, a temperatura é rebaixada. A nucleação ocorre em temperatura correspondente a uma faixa de viscosidade entre 1011 a 1012 dPa.s e com a formação de 1012 a 1015 núcleos/cm3. Na fase de crescimento a temperatura deve ser suficiente para permitir o crescimento dos cristais sem a deformação viscosa do objeto. A estrutura particular de cerâmicas vítreas podem proporcionar alta resistência química, alta resistência mecânica, tenacidade e resistência à flexão, muitas vezes com um baixo coeficiente de expansão térmica e alta temperatura, resistência à corrosão, assim como alta resistência à abrasão quando comparada com as cerâmicas cristalinas. Outro comportamento relevante é relativo à resistência ao choque térmico deste material, decorrente de seu elevado coeficiente de expansão térmica. A obtenção de tais características depende basicamente da natureza, tamanho e distribuição dos cristais formados assim como da fase vítrea residual. Um das estruturas mais importante de vidro-cerâmica é baseada no sistema Li2O-Al2O3-SiO2, o sistema LAS. O outro sistema é o MAS (MgO–Al2O3–SiO2) além dos fluorsilicatos. As cerâmicas de vidro mais importantes nos sistemas LAS e MAS são composições com base na cordierite, beta espodumênio, e os derivados estruturais de quartzo beta. Estes materiais são utilizados para utensílios de cozinha e tampas de cerâmica para fogões, janelas, computador, telefones celulares e na arquitetura. Como já foi dito, a vantagem mais importante de vitrocerâmicas é a facilidade de processamento. A sinterização no estado viscoso é muito mais fácil e mais rápido do que sinterização no estado sólido. A outra vantagem é a facilidade, inerente ao processamento do vidro, de poder ser moldada em formas complexas. Ao contrário dos corpos cerâmicos feitos por prensagem e sinterização convencional, ascerâmicas vítreas tendem a ser livre de poros. Isto é porque durante a cristalização o vidro pode fluir e se acomodar segundo as variações no volume. Normalmente, a presença da fase cristalina resulta em temperaturas de deformação muito maior do que às dos vidros de composição correspondente. Por exemplo, muitos óxidos têm valores de Tg de 400 a 450 ° C e amolecem facilmente a temperaturas acima de 600 ° C. A vitrocerâmica da mesma composição, no entanto, pode manter a sua integridade mecânica e rigidez a temperaturas tão elevadas como 1000 a 1200 ° C. A resistência e a tenacidade de vitrocerâmicas são normalmente mais elevadas do que os de vidros. Por exemplo, a resistência de uma placa de vidro típico é da ordem de 100 MPa, enquanto que a de cerâmicas vítreas podem ser várias vezes mais elevados. A razão é de que 35 os cristais presentes nas cerâmicas vítreas tendem a limitar o tamanho das falhas presentes no material, aumentando a sua resistência, o que também melhora a tenacidade. Ecoglas ou vidro líquido Recomendação para aprofundamento deste assunto: Shelby, James E. Introduction to glass Science and Technology, 2ed. Doremus, Robert H. Glass Science, 2ed. John Wiley & Sons. Hlavác, J. The Technology of Glass and Ceramic, Elsevier Scientific, 1983. Barsoum, Michel W. Fundamentals of Ceramics, Institute of Physics Publishing, Philadelphia 2003. Varshneya, Arun K. Fundamentals of Inorganic Glasses, Academic Press, INC.Oxford,UK 1994
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