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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES PROF. VICTOR EDUARDO S. LUCENA E-MAIL: VICTORLUCENA84@GMAIL.COM 2016.2 AULA - I 1. Conceito; 2. Fontes das obrigações; 3. Estrutura da relação obrigacional; 3.1. Sujeitos; 3.2. Objeto e patrimonialidade da prestação; 3.3. Vínculo jurídico e causa; 4. A visão moderna das obrigações 1. CONCEITO O direito das obrigações é o mais exato dos ramos do direito civil. De acordo com a visão clássica, as soluções apontadas pelo direito das obrigações são absolutas e derivam diretamente de normas imperativas (lei), cuja margem de interpretação é bastante pequena. Exemplo: Obrigação de dar coisa certa Perecimento ou deterioração da coisa CULPA Indenização + perdas e danos SEM CULPA Isenção de responsabilidade Nos últimos 20 (vinte) anos, o Direito das Obrigações vem passando por mudanças. As visões imperativas e dogmáticas da visão clássica tem sido gradativamente alteradas, principalmente pela influência da função social e pela boa-fé objetiva. Teorias surgidas da mudança de paradigmas no Direito das Obrigações: Adimplemento substancial; Inadimplemento antecipado; Adimplemento imperfeito; Venire conta factum proprium; Supressio ou surrectio; Tu quoque; Duty to mitigate the losses; inadimplemento positivo. Assim, a obrigação deixou de ser uma instituição estática para ser “obrigação como um processo”. Conceito clássico: A obrigação é o vínculo que une o credor ao devedor em torno de uma prestação patrimonialmente apreciável de dar, fazer ou não fazer. Esse conceito trata da obrigação como sendo um vínculo jurídico. Há vezes nas quais a obrigação assume outro sentido. Isso ocorre quando, por exemplo, o legislador classifica as obrigações como de obrigação de dar, de fazer, de não fazer, alternativa, facultativa e de indenizar. Nesses casos, a obrigação assume o sentido de “prestação”, associada a um “dever jurídico” ao qual corresponde um “direito alheio”. 2. FONTE DAS OBRIGAÇÕES Há 4 (quatro) fontes geradoras de obrigações: Contratos Atos unilaterais de vontade Atos ilícitos Lei O contrato, ato jurídico bilateral ou plurilateral, estabelece um vínculo jurídico (obrigação) entre as partes contratantes. Exemplo: contrato de compra e venda, que gera a obrigação de dar coisa certa para ambas as partes. Para o comprador, gera a obrigação de entregar o dinheiro e, para o devedor, a obrigação de entregar a coisa vendida. A lei é fonte criadora de obrigações na medida em que cria um vínculo obrigacional de maneira imediata. Exemplo: a obrigação de alimentar que o pai tem para com o filho, ou a obrigação tributária. A declaração unilateral de vontade criam, para o manifestante, vínculo jurídico (obrigação) com o credor (terceiro). Exemplo: promessa de recompensa, oferta, proposta etc.. O ato ilícito - extracontratual, aquiliano, violação de dever geral de conduta em não causar dano a outrem - neninem laedre (dever de não lesar) - cria vínculo obrigacional daquele que pratica o ato com quem experimenta o resultado injustamente causado. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 3. ESTRUTURA DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL 3.1. SUJEITOS DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL Características da relação obrigacional: Inter partes: necessário preenchimento dos dois polos (ativo e passivo) da relação. Pessoal De conteúdo patrimonial Com efeitos limitados às partes Exceção: Relações pautadas nos direitos reais. Elas têm oponibilidade erga omnes, ou seja, para todos, indefinidamente. Todos têm um dever geral de abstenção para com o titular do direito, que figura no polo ativo da relação obrigacional. O sujeito da relação obrigacional é aquele de que pode exigir ou aquele de quem se pode exigir o cumprimento de determinada obrigação. Exemplo: Caio é proprietário de uma coisa móvel. Caio tem um direito real de propriedade sobre a coisa. Existe um direito de Caio, oponível a toda a coletividade, sobre a coisa (usar, gozar e dispor da coisa). Há um dever de abstenção de toda a coletividade para com Caio. Caio pactua a compra e venda desta coisa móvel com Tício. O contrato se aperfeiçoa com as manifestações das vontades. Surgem, então, as obrigações pessoais - inter partes - de entrega da coisa e de realização do pagamento. Tício realiza o pagamento de imediato. Remanesce a obrigação, para o devedor, de entrega do bem (tradição). Note: Até a tradição, o adquirente (Tício) não é titular de direito real de propriedade sobre a coisa móvel. Ele é credor, titular de direito pessoal de crédito contra o devedor, alienante. Há, contudo, casos que fogem à regra de determinação dos sujeitos ativo e passivo nas obrigações. Nesses casos, tanto o sujeito ativo como o passivo podem ser indeterminados num primeiro momento. Há relações obrigacionais que nascem com sujeito ativo ou passivo determinável. São as relações que envolvem as obrigações ambulatoriais. Obrigações ambulatoriais: São aquelas nas quais ou o credor, ou o devedor, são alterados sem que haja qualquer ato de transmissão formal. No momento do surgimento da obrigação, um dos seus sujeitos é, ainda, indeterminado. Exemplo: Cheque ao portador (ambulatoriedade ativa) Obrigações propter rem (ambulatoriedade passiva) Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios. 3.2. OBJETO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL O objeto imediato da relação obrigacional é a conduta pessoal do devedor em prol do credor, quer seja por ação – dar ou fazer –, quer seja por inação, abstenção – não fazer –, que pode ser uma tolerância do devedor. A obrigação pode ser positiva ou negativa. Nas obrigações positivas, existe a obrigatoriedade de dar ou de fazer algo. Nas obrigações positivas, caso haja atraso no cumprimento, pode-se falar em mora. Nas obrigações negativas, há a obrigatoriedade de não se fazer algo. As obrigações negativas não comportam mora. Caso o devedor realize a ação a que se obrigou não fazer, há inadimplemento. Vejamos o Código Civil: Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. O objeto imediato da obrigação é o comportamento esperado do devedor. Assim, nas obrigações de dar coisa certa, a obrigação será o comportamento de dar coisa, por exemplo. O efeito patrimonial - a coisa, serviço ou abstenção - é o objeto mediato da obrigação. É o bem da vida. Importante: Não há direito sobre o bem, mas sim o direito do credor de exigir que o devedor cumpra a obrigação. As obrigações pessoas devem sempre ser mensuráveis em valores pecuniários, devem sempre ser passíveis de medição econômica. A isto se identifica como patrimonialidade das obrigações civis. Se não puder ser economicamente mensurável o bem mediato, não se configura a obrigação civil. 3.3. DÉBITO E RESPONSABILIDADE Naobrigação há, de um lado, um direito de crédito para o polo ativo e, do outro, um dever jurídico do polo passivo. Caso o direito do credor seja violado, surge para ele a pretensão de exigir o crédito do devedor. Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. A pretensão é a possibilidade de se reconhecer que determinado crédito é exigível, de forma que se possa provocar Estado-juiz para ver solucionada a crise de inadimplemento. Assim, se o devedor deixar de prestar aquilo a que está obrigado, a pretensão do credor se tornará resistida e, sendo exigível, o Estado-juíz, quando provocado, substituir-se-á na vontade do devedor, força do que este cumpra aquilo a que se obrigou, por meio de uma condenação e da sua respectiva execução. Caso descumprido o dever jurídico originário (débito que se imputa ao devedor), surge um dever jurídico sucessivo (a responsabilidade pelo adimplemento do dever jurídico originário). Teoria dualista de Brinz. Pode, entretanto, haver obrigações com débito, mas sem responsabilidade e vice versa. Vejamos o caso das obrigações naturais: As dívidas por jogo ou aposta são obrigações naturais, ou seja, não obriga aquele que as descumprir. Nesse caso, o credor não pode sujeitar o devedor ao cumprimento. Nesse caso, contudo, o débito subsiste, mesmo que não exigível. Assim, se o devedor pagar a dívida ao credor, não poderá exigir a repetição desta, uma vez que adimpliu débito real. Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito. Pode também haver responsabilidade sem débito próprio: O fiador, por exemplo, é responsabilizado por débito que não é seu, assim como o pai em relação ao débito do filho, o tutor em relação ao débito do pupilo, e o empregador em relação ao débito do empregado. Art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. Devedor (Débito) Prestação Cumprimento Não cumprimento Responsabilidade 4. A VISÃO MODERNA DAS OBRIGAÇÕES De acordo com a visão liberal do contrato, a obrigação era estática. A exigibilidade da obrigação era calculada de acordo com o que se havia delineado no momento do surgimento da obrigação. Assim, mesmo que alteradas nas condutas pactuadas, a análise era restrita à "fotografia" do momento em que a obrigação surgiu. Com a complexidade das relações jurídicas, não há mais espaço para essa visão estática das relações obrigacionais. A obrigação deve ser vista como um processo. Assim, segundo a visão liberal do contrato, era bastante valorizado o princípio "pacta sunt servanda". Hoje, porém, caso surja situação tal que altere as condições pactuadas, de maneira a aumentar incontável e inesperadamente o débito do devedor, o "pacta sunt servanda" poderá ser mitigado por força da onerosidade excessiva. Adimplemento substancial das obrigações: Caso exista uma relação obrigacional cujo adimplemento tenha sido pactuado em parcelas e caso o devedor tenha pago ao credor grande parte das parcelas, o credor não poderá rescindir o contrato, extinguindo a relação obrigacional, tal qual poderia fazê-lo quando do pagamento de poucas parcelas. Ao devedor será proporcionada outra forma de cumprir a obrigação. Esse instituto favorece tanto o credor quando o devedor. Nem um, nem outro podem extinguir a resolução do contrato quando paga a maior parte das parcelas. Duty to mitigate the losses: Trata-se do dever de mitigar seus prejuízos. O credor tem o dever de adotar todas as medidas para minimizar ou evitar a majoração de prejuízos causados pelo devedor. Exemplo: Reparo de encanamento em imóvel recebido pelo locador do locatário, às custas desse.
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