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1 O movimento sofista Jessé* No sec. V a.C., no período Clássico da Grécia Antiga, a qual vivenciava a democracia e um crescimento econômico e cultural expressivo, surge um movimento filosófico que se coloca contra as ideias defendidas pelos pré-socráticos; tal corrente defendia que a filosofia deveria se voltar para as questões que abordassem os ideais dos cidadãos da pólis. Esses pensadores, que não formaram uma escola, mas apresentaram características semelhantes, principiaram as reflexões sobre o homem que marcaram o período socrático, pois se debruçaram sobre a moral, ética entre outros assuntos. O arranjo democrático, porém seletivo porque apenas homens acima de vinte e um anos não estrangeiros tinham o status de cidadão e direito de ser ativo na política, concedia ao indivíduo o poder do voto e da palavra. Esse fato fomenta a busca pelo desenvolvimento da exposição oral das opiniões já que, uma boa oratória, habilidade em retórica, persuasão, eloquência e sagacidade na argumentação, compunham as habilidades úteis para os cidadãos que desejassem expor, sustentar e defender seus interesses nas assembleias e nos debates em praça pública. Alguns filósofos “anti-cosmologístas” passam a viajar de cidade em cidade ensinando as habilidades e os conhecimentos necessários para um bom desempenho na vida pública e privada; alguns chegam a dizer que são capazes de ensinar artesanato, arte, música, geometria, moral, virtudes, qualquer coisa, desde que se pague pelas aulas. Isso é visto com maus olhos pelos intelectuais da época. Sabemos, por intermédio de Platão, que Sócrates chega a chamar esse exercício de prostituição do saber. Esses estrangeiros eram chamados de sofistas, pois a palavra grega sophisté, na época significava sábio – alguns assim os chamavam com admiração e outros com deboche. Os sofistas tinham como objetivo utilizar o raciocínio em um jogo de palavras para driblar os adversários e convencer as pessoas. Seus opositores, verificamos isso na literatura, os acusavam de terem discursos superficiais e fracos. Uma característica que reforça essa crítica é o fato deles terem defendido o relativismo nas questões humanas e de compreensão do real; para os sofistas não há verdade absoluta. Esse tipo de argumentação, sustentada pelos sofistas, faz sentido já que hoje reconhecemos que nos vários estágios da história e nas diversas culturas, os valores e os conceitos dados como incontestáveis se modificaram. Mas Platão vê essa articulação de ideias com olhos de reprovação e passa a utilizar, em tom irônico, a palavra sofítica para se referir à prática de articulação de supostas verdades com o intuito de convencer, a qual era usada pelos sofistas. A partir daí nasce as duas faces do movimento dos sofistas, uma “feia”, e outra interessante. A imagem do movimento sofista atualmente tem uma roupagem desagradável para a pessoa que não estuda sobre o que ele foi realmente, pois através de uma pesquisa mais profunda e sem preconceitos, constata-se sua importância. Na época, o conjunto de atributos que demarcavam o bom político era a força física, a descendência e a beleza, porém os sofistas valorizavam, além da palavra e do convencimento, a postura moral e ética do cidadão. Além de defenderem esses atributos como importantes para a formação de um político exemplar, e com isso transformarem o cenário político da Grécia, o fato de andarem de cidades em cidades, contribuiu para a dilatação da cultura helênica para além dos limites das províncias gregas. Tendo como principais representantes Protágoras de Abdera (409 a.C.– 420 a.C.) e Gógias de Leontinos (485 a.C. – 375 a.C.) o movimento sofista, o qual desperta críticas e elogios, sem dúvida é um marco na história do pensamento filosófico por conta do exercício mental mais desembaraçado, desprendido. E assim sendo, sem ele, a humanidade provavelmente pensaria de outra forma, e não temos indícios para dizer que pensaria de uma forma melhor do que hoje. *Graduando em Psicologia pela UNIFRAN REFERENCIA: REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1979.
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