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Direito Processual Penal I

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DIREITO PROCESSUAL PENAL I
Aula-02/05/2016
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
JURISDIÇÃO
 CONCEITO
O termo “jurisdição” tem origem no latim “iurisdictio” que tem por significado “dizer o direito”.
No ordenamento jurídico brasileiro, a jurisdição se define por ser uma das funções do Estado, ou seja, sendo a prerrogativa que o Estado detém para dirimir os conflitos de interesses trazidos à sua apreciação. (MIRABETE)
É o poder de julgar (que é inerente a todos os juízes)
É a função por meio da qual o Estado-Juiz aplica o direito ao caso concreto.
É a possibilidade de aplicar a lei abstrata aos casos concretos que lhe sejam apresentados, o poder de solucionar lides.
Ocorre que um juiz não pode julgar todos os casos, de todas as espécies, sendo necessária uma delimitação de sua jurisdição. Essa delimitação é chamada de COMPETÊNCIA. A divisão da jurisdição em competência tem o intuito de conferir à jurisdição maior funcionalidade.
Jurisdição típica: Poder Judiciário ou Jurisdição Ordinária.
Ordinariamente, a prestação jurisdicional é feita pelos órgãos que compõem a estrutura do Poder Judiciário. Desde o ápice, sendo o órgão de cúpula o Supremo Tribunal Federal, até a base, integrado pelos Juízes de primeiro grau de jurisdição, a atividade de processar e julgar infrações penais é atribuição típica do Poder Judiciário.
Jurisdição atípica: Justiça Extraordinária ou Justiça Política.
É constituída de órgão do Poder Legislativo. O Poder Legislativo, ao julgar, exerce atividade que lhe é atípica (atividade típica do legislativo é legislar).
A Justiça Política, exercida por órgãos diversos do Poder Judiciário, tem a competência de julgar só crimes de responsabilidade no sentido estrito do termo, tratando-se de atividade jurisdicional exercida por órgão de estrutura política do Legislativo.
Crimes de responsabilidade não se confundem com crimes comuns. Os crimes de responsabilidade em sentido estrito são, em verdade, infrações político-administrativas que podem conduzir ao afastamento das funções.
 CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
- Para entendermos o conceito de jurisdição, necessário se faz a observância de determinadas características intrínsecas a este instituto, onde destacam-se a:
Substitutividade: O Estado, por meio de pessoas físicas intelectualmente preparadas, é designado para compor qualquer lide. A figura do juiz substitui a do particular para resolver o conflito de interesses entre os contendores.
Inércia: Cabe à parte provocar a prestação jurisdicional. O Estado-Juiz se mantém inerte até o momento em que é invocado.
Imutabilidade: Também conhecida por “definitividade”, os atos jurisdicionais são os únicos que transitam em julgado, diferentemente dos atos legislativos e administrativos. Significa que as decisões transitadas em julgado são imutáveis e definitivas.
 PRINCÍPIOS
Os princípios da jurisdição são aqueles sob os quais o instituto se assenta. São as bases que sustentam a jurisdição e seus desdobramentos.
A inobservância de tais princípios impede seu exercício e geram a ineficácia de seus atos. Assim, vejamos quais são estes princípios:
Investidura: Apenas as autoridades em exercício com investidura (concedida formalmente por meio de lei) podem exercer o poder jurisdicional.
Inevitabilidade: Trata do caráter obrigatório de submissão das partes à decisão do magistrado. Não podem as partes se recusarem a cumprir aquilo que foi determinado pelo Estado na figura do juiz.
Inafastabilidade: O juiz não pode se recusar a prolatar decisão não importando que motivo este aluguel para qual, sob pena de infração à dispositivo constitucional (artigo 5º, XXXV, CF).
Juiz Natural: As pessoas submetidas à jurisdição têm o direito de ser julgadas por um magistrado de ofício, concursado. É vedada a nomeação de um juízo ad hoc (designado a uma causa específica).
Indelegabilidade: O Juiz não pode delegar suas atribuições – existem exceções – art. 102, I, m, da CF (para alguns carta precatória/rogatória/de ordem configura exceção).
Devido Processo Legal: O cidadão tem o direito de percorrer o trâmite legal do processo em todas as suas etapas e dispor de todos os tipos de defesa nos termos da lei, prestigiando o artigo 5º, LIV da CF.
Fundamentação das Decisões: A decisão do magistrado deve obrigatoriamente ser fundamentada sob pena de nulidade absoluta do julgado. Devem ser apresentados os motivos pelos quais se fundou sua decisão, citando as provas e fatos apresentados pelas partes que somaram ao seu juízo de livre convencimento para prolatar a sentença que extinguiu a lide, seja com ou sem a resolução do mérito.
Aula-03/05/2016
Improrrogabilidade ou aderência da jurisdição: O juiz não pode invadir a área de atuação de outro, salvo nas hipóteses expressamente previstas em lei. A jurisdição não se prorroga à autoridade que não tem competência delineada em lei.
Correlação ou relatividade: Deve haver correspondência entre a sentença e o pedido feito na inicial acusatória. Não pode haver julgamento extra, citra ou ultra petita. O Magistrado está adstrito àquilo que lhe foi pedido.
- O CPP indica ferramentas para assegurar o princípio da correlação, permitindo a racionalidade entre o pedido formulado na inicial e aquilo a ser decidido na sentença.
- Admite-se, no momento do julgamento, correções quanto ao mero equívoco da tipificação esboçada na inicial, e até mesmo adequação da acusação em razão da modificação dos princípios fatos imputados aos réus, em razão das provas colhidas no transcorrer da instrução processual. (Emendatio libelli e Mutatio libelli)
 FINALIDADES DA JURISDIÇÃO
- Atuação da vontade da lei;
- Solução de conflitos de interesses;
- Aplicação de justiça aos casos concretos.
 ESPÉCIES
A Jurisdição divide-se em:
Comum (ordinária): Consiste na justiça comum e seus órgãos (Juízes Estaduais e Federais, Tribunais de Justiça, Tribunais Regionais Federais, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal).
Especial (extraordinária): Possuem caráter específico e restrito a uma determinada matéria. É o caso da Justiça Militar (Tribunais Militares e Superior Tribunal Militar), Justiça Eleitoral (Tribunais Regionais e Tribunal Superior Eleitoral) e Justiça do Trabalho (Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunal Superior do Trabalho).
 JURISDIÇÃO NECESSÁRIA
- Ocorre quando é vedada a aplicação voluntária da jurisdição. É vedada a espontânea solução do conflito.
- Em casos como esse, a única maneira de se obter a realização do preceito contido no texto normativo substancial é o processo.
- Em matéria penal é a regra.
- Exceções: Transação penal????
COMPETÊNCIA
- Como poder soberano do Estado, a jurisdição é uma.
- Dentre as várias funções estatais, encontra-se a de aplicar o direito ao caso concreto para a solução de litígio.
- É evidente que um juiz apenas não tem condições físicas e materiais de julgar todas as causas, assim a lei distribui a jurisdição por vários órgãos do Poder Judiciário. Dessa forma, cada órgão jurisdicional somente poderá aplicar o direito dentro dos limites que lhe foram conferidos nessa distribuição.
- A competência é, assim, a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão judicial poderá dizer o direito.
 CONCEITO
- É o poder que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de um caso concreto. Decorre esse poder de uma delimitação prévia, constitucional e legal, estabelecida segundo critérios de especialização da justiça, distribuição territorial e divisão de serviço.
- Para Mirabete “COMPETÊNCIA É, ASSIM, A MEDIDA E O LIMITE DA JURISDIÇÃO, É A DELIMITAÇÃO DO PODER JURISDICIONAL”.
- Um juiz sempre tem jurisdição, mas nem sempre competência.
- Do universo de juízes existentes em nosso território, haverá apenas um juiz competente para determinada causa.
 ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA
Em razão da matéria – Leva em conta a natureza do crime;
Em razão da pessoa– Leva em conta a qualidade da pessoa incriminada;
Em razão do local – Quando considera o local em que foi praticado ou consumado o crime, ou o local da residência do seu autor.
- Essa classificação coincide com a do CPP, que em seu art. 69 e incisos, dispõe que a competência se determina: a) incisos I e II: pelo lugar da infração ou pelo domicílio do réu (ratione loci); b) inciso III: pela natureza da infração (ratione materiae); c) inciso VII: pela prerrogativa de função (ratione personae).
 COMO ESTABELECER A COMPETÊNCIA
1º PASSO: “RATIONE MATERIAE”
- Inicialmente, a competência será fixada em razão da matéria.
- Assim, é importante conhecer se a causa será julgada pela jurisdição comum ou especial.
- Justiça Comum = Federal (arts. 108 e 109) e Estadual.
- Justiça Especial = Militar, Eleitoral, Política e Trabalho.
JURISDIÇÃO COMUM
Justiça Federal (art. 109, IV, V, V-A, VI, IX e X da CF);
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvadas a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o “exequatur”, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
- Entes não englobados
Sociedades de Economia Mista: Banco do Brasil (BB); Rede Ferroviária Federal (RFFSA); Petrobrás, etc...
Conselhos de Fiscalização Profissional: A Lei nº 9.649/98, em seu artigo 58, retirou dos respectivos conselhos o status de autarquia, ressalvando a OAB.
Concessionárias de serviço público e sindicatos.
- Súmulas aplicadas no STJ: 42 – 62 – 73 – 104 – 147 – 151 – 165 – 200 – 208 – 209.

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