Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO - UFRRJ INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE JORNALISMO Dilma e Aécio: a construção da imagem política no horário gratuito de televisão na propaganda eleitoral de 2014 Lucas Andrey da Silva Antunes dos Santos Seropédica Dezembro, 2016 i LUCAS ANDREY DA SILVA ANTUNES DOS SANTOS DILMA E AÉCIO: A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM POLÍTICA NO HORÁRIO GRATUITO DE TELEVISÃO NA PROPAGANDA ELEITORAL DE 2014 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo pela UFRRJ, nota final da disciplina TS 123 – TCC II e cumprimento da AC 472 – MONOGRAFIA. Orientadora: Profa. Dra. Ivana Mendes Cardoso Barreto Seropédica Dezembro, 2016 ii LUCAS ANDREY DA SILVA ANTUNES DOS SANTOS DILMA E AÉCIO: A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM POLÍTICA NO HORÁRIO GRATUITO DE TELEVISÃO NA PROPAGANDA ELEITORAL DE 2014 GRAU: _______ BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Prof. Orientadora: Profa. Dra. Ivana Mendes Cardoso Barreto ______________________________________________________________________ Avaliador 1 – Profa. Dra. Alessandra Pinto de Carvalho ______________________________________________________________________ Avaliador 2 - Profa. Dra. Sandra Sueli Garcia de Sousa Seropédica Dezembro, 2016 iii AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, à minha família que sempre me incentivou nos estudos e me encorajou nos desafios. Minha avó Cida, por todo amor e carinho que teve comigo desde que nasci e nos 18 anos que morei com ela, ao meu avô, João, que participou fielmente de todos os momentos escolares que tive até a universidade. Agradeço também os meus parentes paternos e maternos pelo apoio e incentivo, mesmo que de longe. Não podia deixar de fora desse agradecimento a família que formei no Estado do Rio de Janeiro: Daniel Lucas, Lucas Lacerda, Rener Pinheiro, Sandro Schutt, Filipe Marques, Rovany Trindade e todos da turma 2012.1. Agradeço também as pessoas que passaram em minha vida de forma tão especial nesses últimos anos e puderam dividir não só a sala de aula, mas igualmente momentos marcantes em festas, bares e na república, afinal, nós viemos para Seropédica para sermos universitários. Um abraço a Yuri Neri, Lucas Viriato e Guilherme Cezário. Um agradecimento especial a Jonas de Almeida Bastos, que mergulhou nessa aventura que foi mudar de estado em 2012 junto comigo para descobrirmos o que realmente queríamos da vida. Também gostaria de agradecer à minha namorada Manoella Lira, que desde 2013 me atura com a maior atenção e carinho possível, podendo dividir comigo frustrações, dúvidas e alegrias, sendo, no Rio de Janeiro, mais que uma companheira, mas uma amiga para as horas mais difíceis e menos empolgantes nesses anos. Para finalizar, não posso deixar de agradecer à Ivana Barreto, minha orientadora e pessoa que pôde me mostrar caminhos e alternativas diferentes durante essa pesquisa. Agradecer também ao professor Édison Gastaldo, pelos primeiros períodos da faculdade e pela pesquisa grandiosa que pude participar durante um ano, homem inteligentíssimo que me motivou ao ramo da pesquisa na comunicação nos seus diversos gêneros. iv Não aceite os papéis que a sociedade lhe impinge. Recrie-se forjando uma nova identidade, uma que chame atenção e não canse a plateia. Seja senhor da sua própria imagem, em vez de deixar que os outros a definam para você. Incorpore artifícios dramáticos aos gestos e ações públicas – seu poder se fortalecerá e sua personagem parecerá maior do que a realidade. Robert Greene e Joost Elffers v RESUMO Este trabalho é uma discussão sobre a importância de se perceber no contexto do jornalismo político as construções de personagens políticos no horário gratuito da propaganda eleitoral (HGPE) na televisão. O estudo é direcionado à corrida eleitoral de 2014, entre os candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff para o cargo de Presidente da República. É importante registrar que esta construção se dá pelo modelo de propaganda adotado no Brasil, país que culturalmente personifica as eleições políticas em qualquer esfera. Nesse sentido, buscou-se verificar como o horário eleitoral é distribuído, e como ele pode ser decisivo nas eleições, apontando conceitos do marketing político e do marketing eleitoral e, também, o exemplo de construção de imagem bem-sucedida realizada na campanha de Fernando Collor de Mello em 1989. Finalmente, o trabalho dedicou-se ao estudo de caso dos programas eleitorais dos candidatos, objetivando entender e relativizar a importância de se analisar a criação de personagens políticos para a compreensão da comunicação política no viés personalista que o Brasil se enquadra. PALAVRAS-CHAVE: Comunicação política; horário eleitoral; marketing político; construção de imagem. vi ABSTRACT This work is a discussion about the importance of perceiving in the context of political journalism the constructions of political characters in the free political advertising time on television. The study is aimed at the 2014 election race, between the candidates Aécio Neves and Dilma Rousseff for the position of President of the Republic. It is important to note that this construction is based on the propaganda model adopted in Brazil, a country that culturally personifies political elections in any sphere. In this sense, it was sought to verify how the electoral timetable is distributed, and how it can be decisive in the elections, pointing out concepts of political marketing and electoral marketing and, also, the example of successful image construction carried out in Fernando's campaign Collor de Mello in 1989. Finally, the paper focused on the case study of the electoral programs of the candidates, aiming to understand and relativize the importance of analyzing the creation of political characters for the understanding of political communication in the bias personalist that Brazil fits. KEYWORDS: Political communication, electoral timetable, political marketing, image building. vii LISTA Figura 1 – Quadro com grade do tempo de cada cargo no HGPE do primeiro e segundo turnos das eleições em 2014 .......................................................................................... 22 Figura 2 – Print do infográfico no site www.politize.com.br sobre o horário disponibilizado para cada candidato à Presidência no primeiro turno das eleições de 2014 ............................................................................................................................... 24 Figura 3 – Primeiro programa eleitoral de Aécio Neves – 2014 ................................... 55 Figura 4 – Aécio culpa o governo atual pelos problemas do país ................................. 56 Figura 5 – Olhos se abrindo para o Brasil de Dilma ..................................................... 56 Figura 6 – Dilma como a dona de casa ......................................................................... 57 Figura 7 – Lula falandosobre Eduardo Campos .......................................................... 57 Figura 8 – Aécio com sua família ................................................................................. 58 Figura 9 – Discurso de Aécio de como ele quer o cargo de presidente ........................ 58 Figura 10 – Pesquisa aponta Aécio encostando em Marina no primeiro turno ............ 59 Figura 11 – Slogan do último programa do primeiro turno........................................... 59 Figura 12 – Propostas do governo atreladas ao slogan ................................................. 60 Figura 13 – Conversa entre Dilma e Lula ..................................................................... 60 Figura 14 – Desenvolvimento do Brasil em grandes obras ........................................... 61 Figura 15 – Apresentador falando sobre Tancredo Neves ............................................ 62 Figura 16 – Aécio Neves e sua minibiografia ............................................................... 62 Figura 17 – Encontro para manifestação das alianças de Aécio no segundo turno ...... 63 Figura 18 – Comparação entre a gestão dos governos Dilma e Aécio ......................... 63 Figura 19 – Pesquisa de opinião aponta Aécio como vencedor da eleição caso a votação fosse naquele dia ............................................................................................................ 64 viii Figura 20 – Apresentadora fala que Dilma venceu o primeiro turno ............................ 64 Figura 21 – Apresentador critica FHC pela sua fala em uma entrevista ....................... 65 Figura 22 – Cidadão que mudou de vida com os programas sociais do PT conta sua história ........................................................................................................................... 65 Figura 23 – Jingle de Aécio e celebridades que o apoiam junto com eleitores comuns............................................................................................................................ 66 Figura 24 – Apresentador divulga pesquisa de intenção de voto para o segundo turno............................................................................................................................... 66 Figura 25 – Aécio discursando sobre o “muda Brasil”, que aconteceu com seu avô Tancredo Neves ............................................................................................................. 67 Figura 26 – Imagem da capa e do conteúdo da denúncia da Veja ................................. 67 Figura 27 – Capas da Veja que acusam o PT em anos de eleição ................................. 68 Figura 28 – Dilma critica a revista Veja pela acusação. Vestida de branco para mostrar a serenidade de quem não teme .........................................................................................68 Figura 29 – Imagem de Dilma em discurso, falando sobre seu governo ....................... 69 Figura 30 – Interação dos eleitores e simpatizantes durante jingle do último programa........................................................................................................................ 69 Figura 31 – Locução de Dilma em off enquanto passam imagens de comícios ........... 70 ix LISTA DE SIGLAS CAD - Centro de Análise do Discurso. DEM – Democratas. EBC – Empresa Brasileira de Comunicação. FHC – Fernando Henrique Cardoso. HGPE – Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral. IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística. IDEA – Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral. MPB – Música Popular Brasileira. PCB – Partido Comunista Brasileiro. PCdoB – Partido Comunista do Brasil. PCO – Partido da Causa Operária. PDT – Partido Democrático Trabalhista. PEN – Partido Ecológico Nacional. PFL – Partido da Frente Liberal. PIB – Produto Interno Bruto. PMN – Partido da Mobilização Nacional. PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro. PP – Partido Progressista. PR – Partido da República. PRB – Partido Republicano Brasileiro. PROS – Partido Republicano da Ordem Social. PRTB – Partido Renovador Trabalhista Brasileiro. x PSB – Partido Socialista Brasileiro. PSC – Partido Socialista Cristão. PSD – Partido Social Democrático. PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira. PSDC – Partido Social Democrata Cristão. PT – Partido dos Trabalhadores. PTB – Partido Trabalhista Brasileiro. PTC – Partido Trabalhista Cristão. PTdoB – Partido Trabalhista do Brasil. PTN – Partido Trabalhista Nacional. PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. PV – Partido Verde. SD – Solidariedade. TSE – Tribunal Superior Eleitoral. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 12 2. Propaganda Eleitoral ....................................................................................................................... 15 2.1 O Horário Político Gratuito Brasileiro ........................................................................................... 17 2.2 A Propaganda Eleitoral e Seu Caráter Decisivo nas Eleições ....................................................... 28 3. O político e a construção de sua imagem ........................................................................................... 33 3.1 Breve história do marketing político ............................................................................................... 38 3.2 Marketing político no Brasil ........................................................................................................... 41 3.3 Collor em 89: O caçador de Marajás .............................................................................................. 47 4. Dilma e Aécio nas eleições de 2014 ...................................................................................................... 51 4.1 Dilma: a mulher da luta .................................................................................................................. 52 4.2 O mineiro e o político de raiz .......................................................................................................... 52 4.3 Eleições 2014 ................................................................................................................................... 53 4.3.1 O primeiro turno ..................................................................................................................... 54 4.3.2 O segundo turno ...................................................................................................................... 62 5. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 72 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 75 ANEXOS ................................................................................................................................................... 83 11 12 1. INTRODUÇÃO De dois em dois anos, o Brasil recebe na sua programação de rádio e televisão aberta candidatos que aspiram vagas em várias esferas do poder público, como: vereadores, senadores, prefeitos, entre outros cargos. E quando isso acontece, os dias são marcados por promessas eleitoraisem TV, rádio e internet. De atletas aposentados, ex-famosos, ex-BBBs, até tradicionais políticos, todos almejam o voto do eleitor na urna. Mas para isso acontecer, para que o eleitor se sinta motivado a votar em um determinado político, este tem que trabalhar muito junto com sua equipe, no sentido de transmitir sempre a melhor imagem para o público. Sendo confiável, tendo uma boa articulação na fala e propostas políticas claras, e muitas vezes, com equipes bem estruturadas de marketing que trabalham a comunicação político-eleitor, as chances de êxito nas urnas são maiores. A televisão como emissor da imagem do candidato e veículo de comunicação é crucial para o sucesso das aspirações do político no cenário brasileiro: ora por se tratar de um meio sólido e que está ao acesso de muitos brasileiros, ora por sua legitimidade como emissor da mensagem. Cada candidato manifesta e constrói sua imagem a partir de um cenário de persuasão política dentro da televisão: tom de voz, programas eleitorais – cortes de câmera, jingles; até a presença de colaboradores famosos são fundamentais. Analisar esse discurso em várias plataformas: imagem, voz, slogan; no Horário Gratuito Político Eleitoral de Rádio e Televisão (HGPE), demonstra minimamente a construção ou pretensão do candidato em obter a melhor imagem perante seu eleitor. As eleições presidenciais de 2014 foram um marco no cenário político do país, não havia antes acontecido uma disputa tão equilibrada e tão discutida, desde a abertura para o voto direto. Nas ruas, nos bares, nas discussões em salas de aula, em todo o território nacional, o cenário foi marcado pelo debate envolvendo os eleitores, que se dividiram entre Aécio Neves e Dilma Roussef. Esse cenário é consequência da construção da imagem feita pelos próprios candidatos, mas também pelos assessores, marqueteiros, etc. Buscar, então, entender esse momento de como é feita a construção da imagem dos políticos na propaganda eleitoral dentro do nicho específico do horário 13 político exibido em redes de televisão aberta, permite o entendimento das táticas de sucesso ou de fracasso de um determinado candidato. As disputas políticas são no Brasil, segundo Gomes (2004), muito mais disputas pessoais entre os candidatos, do que entre os partidos. O político tem muita influência, e seu comportamento pode ser decisivo. Considerando a importância da imagem do candidato diante do seu eleitorado, o presente trabalho parte do seguinte questionamento: como o tempo de exposição usufruído por Aécio Neves e Dilma Rousseff dentro do horário eleitoral construiu a imagem política de cada um deles. O objetivo então será entender a construção da imagem dos candidatos no horário político para a presidência da República nas eleições de 2014. Além, também, de poder analisar os discursos de persuasão dos candidatos, entender os pontos fortes e fracos da construção dessa imagem e compreender as táticas de marketing eleitoral através da televisão no horário político gratuito de rádio e TV. O Brasil viveu nas últimas eleições a maior disputa eleitoral já vista desde a abertura para as eleições diretas, como mostrou à época vários periódicos e veículos de comunicação. Um exemplo breve, apenas para ilustrar o que foi dito, é a manchete do portal UOL, de 26 de outubro de 2014: “Dilma é reeleita na disputa mais apertada da história; PT ganha 4º mandato”. Os candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff buscaram de várias formas a aceitação e voto de cada eleitor. Entretanto, essa pesquisa considera ponto fundamental caminhar no sentido de um viés com menos interferência possível de fatores externos, como econômicos; sociais, ideológicos, na construção da imagem dos candidatos, a partir da formulação de uma identidade persuasiva e de comunicação – dentro do horário político eleitoral gratuito de rádio e televisão, especificamente na televisão, com isso, a observação do objeto de estudo focará mais a criação da imagem em fatores publicitários e de marketing político. O estudo se justifica a partir da consideração da complexidade do cenário político que vivemos, além do interesse pessoal do autor de entender a construção e a formulação da identidade do candidato perante as propagandas televisivas. Por isso, a decisão de estudar e analisar um determinado momento, marcado por uma eleição histórica. Durante todo o período de propaganda eleitoral, jornais, revistas, televisão e rádio foram alimentados de notícias sobre o tema. Porém, muito faltou à mídia uma análise do marketing político. Na maioria das vezes, os relatos consideraram principalmente o cenário político. Nesse sentido, o trabalho irá tentar buscar a 14 importância do marketing político, para que em tempos de eleição as matérias jornalísticas e os jornalistas envolvidos tenham um olhar mais abrangente sobre toda a estrutura política e publicitária que envolve os candidatos em qualquer eleição. E para que esta análise seja mais completa o presente trabalho consiste na análise de conteúdo que procura entender os aspectos manifestos e ocultos quanto à comunicação dos candidatos políticos dentro no HGPE. Usaremos a análise de conteúdo de acordo com a definição de Severino (2000) em que a análise se permeia na busca pelo sentido dos enunciados e na busca pelo significado das mensagens. E nossos fundamentos básicos pretendidos para este projeto são a pesquisa bibliográfica, que visa à compreensão de autores e pesquisadores deste tema no Brasil e no mundo como estão expostos nos capítulos 1 e 2 em que buscamos explicar os conceitos de propaganda e comportamento eleitoral, e de marketing político eleitoral visando à base da criação do personagem político. No capítulo 3 o registro documental do HGPE de Aécio Neves e Dilma Rousseff com o auxílio das pesquisas de intenção de voto completa nosso estudo no sentido da compreensão destas técnicas e se apesar das críticas quanto ao conceito de “marketing político faz milagre” o trabalho realizado por ambas as equipes teve o feito esperado. É claro que a política, especialmente a brasileira é complexa em sua totalidade, vários fatores são explorados durante a corrida eleitoral. O marketing eleitoral é só um dos caminhos utilizados para angariar votos. Por isso, a pretensão deste estudo é como já foi exposto, compreender esta construção personificada do personagem político na disputa eleitoral mais acirrada da história democrática brasileira no seu discurso e na sua montagem. O significado por detrás da mensagem exposta. 15 2. Propaganda Eleitoral Segundo o ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto 1 a eleição popular consiste no ápice da democracia representativa. Atualmente existem várias eleições em que as pessoas precisam participar, como: conselhos de bairro, condomínio, para representantes de sala, chapas estudantis e, claro, para governos dos mais variados: de proporcionais (deputados estaduais e federais) a majoritários (governadores, senadores e presidentes). Rubim (2000) esclarece corretamente o termo eleições: As eleições escolhem quem deve governar, quem vai ocupar lugares privilegiados de exercício de poder – seja ele executivo, legislativo ou, por vezes, judiciário – em instituições do Estado, da sociedade civil e, em circunstâncias infinitamente menos comuns, devido ao seu caráter não democratizado, do mercado. Assim não se escolhe propriamente o governo, mas através dos governantes, aqueles que estarão em lugares de comando. Isto é, em lugares e situações, nos quais se dispõe de modo privilegiado de parcela de poder para governar (RUBIM, 2000:2). Contudo muito do que vivemos hoje, vem de nossos ancestrais. Historiadores acreditam que essa noção de democracia como conhecemos já existia bem antes dos gregos. Algumas narrativas míticas celtas e hindus descrevem participações de sacerdotes e druidas na escolha de líderes políticos para seus povos. As votações também passaram por grandes modificações com o tempo. A urna (caixa para depositar os votos) foi instituída em Roma, por volta do século II a.C, para que a profanação do voto, que era até então feita em voz alta para o público, fosse substituída. Esta antiga prática do voto aberto gerava mal-estar entre os Romanos já naquela época. E hoje, no século XXI, aspectos como democracia, eleições populares estão cada vez mais explícitas em nossos cotidianos diálogos, no noticiário político, e cada vez mais pessoas engajadas no assunto, tornando os debates mais técnicos e disputados. Para o presente trabalho, que visa estudar a construção dos personagens político de Dilma Rousseff e Aécio Neves nas eleições presidenciais de 2014, o citado engajamento teve grande contribuição das eleições que os dois políticos mencionados disputaram na última corrida eleitoral para a presidência da República. 1 Blog do ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, disponível em: https://www.ayresbritto.com.br/tag/eleicao-popular-como-apice-da-democracia-representativa-festa/ 16 A partir do entendimento do momento político vivenciado por todos em 2014, pode-se promover um estudo da propaganda eleitoral e do marketing político nas eleições daquele ano. Sem o papel dos assessores, e de outros profissionais de comunicação, o político, na era contemporânea, não sobrevive aos seus adversários. O marketing brasileiro, a propaganda propriamente dita, é uma das mais reconhecidas mundialmente pela criatividade, ousadia e esperteza, e claro uma hora esse aspecto iria chegar à nossa política. Como aponta Gomes (2004): No Brasil, as campanhas eleitorais, frequentemente, são um meio de comunicação de uma só direção e com a intenção de persuadir, usando para isto outras técnicas inspiradas muitos mais na publicidade comercial do que no uso da informação. (GOMES, 2004:20). Contudo, será no capítulo 2 deste trabalho que iremos abordar com melhor precisão os conceitos de propaganda e marketing político, visando explicar as diferenças de nomenclaturas e ações. Por ora, dissertaremos sobre a história da propaganda eleitoral no Brasil, a partir do entendimento do Horário Gratuito de Propagada Eleitoral (HGPE), que acontece sempre no período que antecede às eleições. Segundo Aldé e Figueiredo (2003), o horário gratuito de rádio e televisão transformou-se, ao longo das últimas décadas, no retrato da democracia brasileira. Por isso, a televisão se tornou o meio onde os candidatos buscam sua popularidade, e constroem toda a sua imagem eleitoral. Programas eleitorais mais elaborados, com maior qualidade de som, imagem e postura dos candidatos apresentam maior repercussão. Porém, também, acarretam gastos partidários mais elevados. Em relação à essa questão, Miguel (2001) destaca que: Uma das pontas-de-lança dessa nova percepção, a revista GEORGE, fundada pelo falecido “John John Kennedy”, baseia sua linha editorial na idéia de que parlamentares e governantes devem ser encarados de maneira similar a atores, cantores, apresentadores de programas de auditório e outras estrelas do ramo do divertimento. Ou então, como escreveu um diretor de jornal brasileiro, a política se tornou um “ramo da publicidade”. (MIGUEL, 2001: 02). Percebemos, então, que no Brasil o voto é muito mais voltado ao candidato do que ao partido. O presente trabalho busca construir o diálogo com as ideias de Miguel 17 (2001). Antes disso, e para entender melhor todo o sistema descrito até agora, um breve histórico do Horário Político Brasileiro. 2.1 O Horário Político Gratuito Brasileiro A propaganda eleitoral nos meios de comunicação concessionados de poder público (rádio e televisão) foi regulamentada pela primeira vez pelo Código Eleitoral de 1950 (Lei Nº 1.164, de 24 de julho de 1950) que previa a propaganda paga. A Lei Nº 4.115, de 22 de agosto de 1962 foi a responsável pela criação da propaganda gratuita em rádio e televisão brasileiras. Segundo Albuquerque e Dias (2002), apenas a partir de 1985 a propaganda política na televisão ganhou destaque no processo eleitoral. E isso atrasou bastante o entendimento político das pessoas comuns, pois a inserção da propaganda começou, de fato, no meio do século passado, e o subdesenvolvimento da televisão brasileira com o regime militar, que até investiu na estruturação dos meios de comunicação no país, mas não deu importância aos processos eleitorais, fez com que a primeira eleição a ser analisada no Brasil fosse a de 1989. Segundo Dantas (2014), a ditadura militar influenciou negativamente na comunicação política e na propaganda eleitoral, na medida que confiscou com força a liberdade dos discursos políticos. Dias (apud, CERVI e MASSUCHIN 2011) apontam que o grande ápice da comunicação política, das técnicas de propaganda eleitoral aconteceu nos anos 90 no Brasil, impulsionadas pelo modelo norte-americano dos anos 80. Mais uma vez revertendo a Dantas (2014) com o fim da ditadura militar o Horário Eleitoral se tornou uma importante ferramenta para a apresentação de ideias, sendo que a ocupação do seu espaço é disputada a preço de ouro pelos partidos e seus candidatos. Contudo Miguel (1997) esclarece que nos anos 90, início da nova democracia brasileira, o Congresso aprovou a Lei Nº 8.713, de 30 de setembro de 1993, que proibia a utilização de truncagens, imagens externas ou animações (art. 76, § 1º), além disso, era vedada a participação de convidados. Ainda segundo Miguel (1997), no HGPE, apenas os candidatos a presidente e a vice podiam falar. Com isso, os gastos com produção diminuiriam, dando aos 18 candidatos com menos recursos financeiros maior competitividade e encurtando as diferenças de produções de campanha – eliminando até os recursos mais sofisticados. Porém, segundo o que o mesmo autor descreve, a lei não seguiu adiante, pois os partidos com mais verba, conseguiram transformar os estúdios e as produções em cenas que mais pareciam filmes de Hollywood. Usavam takes mais favoráveis, câmeras melhores e tudo que pudesse favorecer a campanha sem sair da lei, e algumas vezes saindo, pois algumas vezes, a multa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não era tão complicada para se pagar. Essa modernização das técnicas é marcada pelo papel central, hegemônico da televisão, que passou a ocupar cada vez mais os lares das famílias brasileiras. Investir na modernização das técnicas para este meio de comunicação era uma forma eficiente e de grande alcance no que se refere aos eleitores, além de dar visibilidade para os candidatos. Outro autor que aponta a importância da televisão neste processo é Bertani (2006), ele explicita que o diferencial da televisão para as outras mídias que existiam foi o fato dela aliar duas características que encantam o eleitor: o som e a imagem em movimento, elementos fundamentais para fornecerem suporte à construção da realidade. Esta construção da realidade é encontrada em Debord (1997) em que ela afirma que a sociedade busca constantemente a produção de imagens, embora não saiba muitas vezes o que fazer com ela. Para Debord, essa é a sociedade do espetáculo onde as imagens seriam a concretização da alienação. Para Domenach (1963), o papel da televisão na propagandaé fundamental: Finalmente, a televisão leva ao domicilio uma imagem animada e sonora. Proporciona à propaganda maravilhoso instrumento de persuasão: a visão do orador confere a esse uma presença completa, e o espetáculo torna-se visível a todos. No entanto, a televisão, na medida em que é antes uma contemplação solitária ou familial, exige da propaganda um estilo menos brutal, mais pessoal e provavelmente mais racional. (DOMENACH, 1963: 20). As várias mudanças nas leis para as campanhas eleitorais são constantes desde a ditadura, como vimos acima, e isso, muitas vezes, confunde o eleitor. Atualmente, no país, está em vigor a Lei Nº 13. 165/2015, que realizou alterações na Lei Nº 9.504/97, como o processo eleitoral que o presente trabalho analisa é o de 2014, não vamos pautar nossa reflexão nesta lei, e sim o Manual de Horário 19 Eleitoral Gratuito 2014, produzido pelo Grupo de Trabalho (GT – CAND) (2014) e publicado no site JUS Brasil 2 , que aponta a seguinte definição para o HGPE: A modalidade propaganda eleitoral gratuita, assim determinada em razão de não houver ônus aos partidos políticos, coligações e candidatos, é restrita às transmissões de rádio e televisão, razão pela qual sujeitam-se ao tratamento legal todas as emissoras de televisão que operam em VHF e UHF, bem assim os canais de televisão por assinatura sob responsabilidade do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, das assembleias legislativas e da Câmara Legislativa do Distrito Federal. (JUS, 2014: 2). Segundo o mesmo Manual, JUS Brasil (2014), essas são as únicas formas de propaganda política permitidas no rádio e na televisão, ocorrendo no segundo semestre do ano eleitoral. No mesmo período, não será veiculada a propaganda partidária gratuita e não será permitida qualquer propaganda eleitoral paga no rádio e na televisão, conforme o segundo parágrafo, do artigo 36, e o artigo 44 da Lei Nº 9.504/97. Como existe diferença em relação à marketing eleitoral e marketing político e marketing comercial, existe também uma diferença em relação à propaganda partidária e propaganda eleitoral. No manual já citado acima, é apresentada também esta diferença entre as propagandas. No que diz respeito à propaganda partidária, consiste na divulgação, sem ônus, mediante transmissão por rádio e televisão, em período e forma prevista em lei, exclusivamente de temas ligados aos interesses programáticos dos partidos políticos, focando nas mensagens partidárias. Já a propaganda eleitoral visa à captação de votos, facultada aos partidos, coligações e candidatos. Busca por meios publicitários permitidos na Lei Eleitoral, influir no processo decisório do eleitorado, divulgando além dos currículos dos candidatos, as propostas e mensagens, exclusivamente no período determinado de “campanha eleitoral”. De acordo com Cervi e Massuchin (2011), antes do início da propaganda, existe apenas uma pequena parcela envolvida direta ou indiretamente com as eleições, que são: as elites partidárias, militantes políticos, simpatizantes e a imprensa, que realiza coberturas das convenções e gabinetes. O eleitor comum se dá conta da eleição apenas quando se tem início a propaganda na televisão e no rádio. 2 JUS Brasil – é um portal online jurídico brasileiro. Nele são exibidas todas as matérias de cunho judicial do país como: Diário Oficial, Artigos, Legislações, e também é um canal de ligação entre advogados e futuros clientes. 20 Segundo Colling (2007), esta polarização dos meios de comunicação, para muitos pesquisadores brasileiros, não reflete mudança na forma de se fazer política. Segundo o mesmo autor existe ainda uma vertente de pesquisas que sinaliza três variáveis de mudanças dos meios tecnológicos ou de comunicação no “fazer político”3. Primeiramente os que apontam que tudo mudou para pior explicitam que a mídia despolitiza as campanhas (grifo nosso), nesse entendimento os autores discorrem que antigamente as campanhas políticas eram mais politizadas e que valorizavam antes as ideias dos candidatos e não a sua imagem; a mídia espetaculariza as campanhas (grifo nosso), os políticos são vistos como atores e os eleitores como uma plateia; a mídia transforma os políticos em mercadorias (grifo nosso), para estes autores os políticos se transformam em mercadorias ao gosto do freguês; mídia transforma os políticos em mitos (grifo nosso), para os autores deste grupo, a mitificação dos políticos retira o teor racional das campanhas eleitorais; mídia retira funções que eram do campo da política (grifo nosso), para estes autores a própria mídia se transformou em um partido, quando ela retira funções que antes eram da política, como a escolha de candidatos, e o contato direto com os eleitores; a mídia é central e dominante (grifo nosso), este é o item de conclusão destas teses, pois como a mídia realiza várias funções, ela consegue exercer um papel dominante sobre os demais campos. Porém, existe também outro grupo de pesquisadores que denominam aspectos positivos dos meios de comunicação na política. No grupo de que tudo mudou para melhor, são explicitados os seguintes aspectos: a mídia politizou as campanhas (grifo nosso), a mídia consegue trazer a política para um número maior de pessoas; ou seja, a mídia oferece aos leitores mais acesso as informações (grifo nosso), lave dizer que os meios de comunicação disponibilizam conteúdos que antes não chegavam às pessoas; a mídia provoca maior participação dos eleitores (grifo nosso), para os pesquisadores desta vertente, a mídia produz nos cidadãos maior vontade de participar e intervir na vida política; existem vieses positivos na espetacularização (grifo nosso), para estes autores, a espetacularização não produz apenas efeitos nocivos para os eleitores. Por fim, os autores que têm a concepção que existem mudanças parciais na vida política com os meios de comunicação. Para eles: as novas práticas de se fazer política não acabaram com as antigas práticas (grifo nosso), esses autores, 3 Trecho resumido por nós do livro de Colling O estado da “arte” dos estudos sobre mídia e eleições presidenciais de 1989 a 2002(2007). 21 discordam de que a mídia tenha provocado espetacularização ou mitificação dos candidatos. Para eles, isso sempre existiu, mas que os meios de comunicação só potencializaram o alcance; a mídia e a política são campos que se influenciam (grifo nosso), não existindo uma função de dominância entre mídia e política, a relação é, sim, recíproca; mídia é central, mas não é, necessariamente dominante (grifo nosso), a mídia tem relevância e centralidade de papel na sociedade, porém não existem indícios que a mídia exerça dominância sobre nenhum campo. Com isso, Veiga (2001), entende a propaganda política nos meios de comunicação como fonte de informação e ameniza a angústia individual motivada pela incerteza do voto e dá argumentos para justificar a postura do eleitor junto a seu grupo social. Voltando o foco de nossa atuação para o HGPE, segundo Veiga (2001), ele também tem o papel de entender a demanda dos homens comuns sobre a necessidade de segurança e estabilidade emocional. No momento em que a campanha chega à TV, o eleitor busca conhecer melhor os participantes da disputa, os objetos de campanha e governo, procurando também descobrir se as promessas eleitorais poderão ser concretizadas num futuro governo. Oliveira (apud, CERVI e MASSUCHIN 2011) apresenta que o papel do HGPE, é caracterizado como espaço político de apresentação de propostase garantias ao eleitor. Para Veiga (2001) também: Além disso, com o início do HGPE há uma inversão no debate sobre as eleições, pois se antes o debate se originava nos espaços públicos, onde as pessoas adquiriam informação por meio das notícias, agora as informações chegam diretamente no espaço privado dos cidadãos. Agora, o debate está se dando dentro das casas, no espaço privado, e depois para o debate público, nas conversas com amigos, familiares e no trabalho por exemplo. (CERVI e MASSUCHIN, 2010: 8). As eleições acontecem de dois em dois anos no Brasil, alternando entre eleições municipais: vereadores e prefeitos; e cargos estaduais e federais, como no caso de 2014. As eleições daquele ano foram realizadas para Presidente, governadores, senadores. Para este cargo, foram realizadas para a substituição de 1/3 das cadeiras. E para deputados federais e deputados estaduais. 22 Segundo a Empresa Brasileira de Comunicação 4 (EBC) (2014), no sentido de determinar o tempo de propaganda eleitoral dos candidatos à Presidência da República é feita uma estimativa com base no tamanho das bancadas que o apoiam. A divisão de tempo do HGPE, em 2014, para a televisão, foi segundo artigo 47, parágrafo I a V da Lei nº 9.504/97 e também do artigo 35 da Resolução do TSE Nº 23.404/2014 dividido da seguinte forma: nas segundas, quartas e sextas-feiras, governadores (das 13h às 13h20 e das 20h30 às 20h50); deputado estadual/distrital (das 13:20 às 13h40 e das 20h50 às 21h10); e senadores (das 13h40 às 14h e das 21h10 às 21h30). Os candidatos à Presidência da República e deputados federais ficaram com terças, quintas e sábados da seguinte maneira: Presidentes, (das 13h às 13h25 e das 20h30 às 20h55); e deputados federais (das 13h25 às 13h50 e das 20h55 às 21h20). Figura 1: Quadro com a grade do tempo de cada cargo no HGPE do primeiro e segundo turnos das eleições em 2014. Visto que o cálculo para a divisão do tempo entre governadores, senadores e deputados demandaria uma explicação mais detalhada, e, por conseguinte, poderia se 4 EBC é uma empresa pública que possui um conglomerado de mídia no Brasil. Foi criado em 2007 e faz a gestão de emissoras de rádio e televisão públicas federais. 23 distanciar do objetivo central deste trabalho, optamos por apenas detalhar a divisão de tempos para os presidenciáveis, tema central do presente estudo. Segundo a EBC (2014): O cálculo é feito partindo-se da resolução número 23.404/2014, do TSE (que se refere, por sua vez, à Lei nº 9.504, de 1997), e é feito em dois passos: primeiro, divide-se igualitariamente um terço (aproximadamente oito minutos) do tempo total de propaganda de cada um dos dois blocos nacionais diários (25 minutos cada) entre todos os candidatos. Esse cálculo, na situação atual, resulta em cerca de 45 segundos por candidato. (EBC, 2014). O Portal Politize 5 (2014), também aponta que outra divisão é realizada para os dois terços restantes, de acordo com o número de deputados federais que apoiam cada candidato (do partido ou coligação). Dividindo então 17 minutos por 513 deputados, tem-se dois segundos por candidato. A presidente Dilma Roussef teve nove partidos apoiando a sua candidatura: PT, PMDB, PDT, PCdoB, PP, PR, PSD, PROS e PRB, ficando, para o primeiro turno, com o tempo de inserção de 11 minutos e 48 segundos. O segundo candidato com mais apoiadores na eleição foi Aécio Neves do PSDB, que contou com o seu próprio partido PSDB e DEM, PTB, SD, PMN, PTC, PTdoB, PEN e PTN, somando 4 minutos e 31 segundos de propaganda no primeiro turno. Os outros candidatos somados tiveram juntos o tempo de 8 minutos e 40, com Marina Silva do PSB, podendo usufruir de 1 minuto e 49 segundos dentro da programação eleitoral. EBC (2014). Já para o segundo turno, que aconteceu em alguns estados, e para as eleições ao cargo máximo do Executivo, o procedimento de divisão é realizado de outra forma, como apresenta JUS Brasil (2014): Somente haverá segundo turno nas eleições de 2014 para os cargos de Presidente e Governador (art. 77, caput da Constituição Federal e art. 2º, parágrafo 1º da Lei Nº 9.504/97). Nesse caso, a propaganda eleitoral será veiculada em dois períodos diários de 20 minutos, inclusive aos domingos. Diferentemente das regras de divisão do horário para o primeiro turno, que levam em consideração a representação partidária na Câmara dos Deputados, o tempo reservado ao horário eleitoral em rede é dividido 5 O Portal Politize é um portal de educação política criado para prover alto conhecimento e consciência cidadã. 24 igualitariamente entre os concorrentes, independente da proporcionalidade da representação legislativa (art. 49, parágrafo 2º da Lei N 9.504/97, art. 37, parágrafo 2 da Resolução do TSE Nº 23.404/2014). (JUS, 2014: 11) Figura 2: Print do infográfico no site www.politize.com.br sobre o horário disponibilizado para cada candidato à Presidência no primeiro turno das eleições de 2014. Além de regras para a exposição dos candidatos, no HGPE existem também obrigações perante o conteúdo dos programas eleitorais. Candidatos, partidos e coligações devem cumprir diversas regras contidas na Resolução Nº 23.404, que trata da propaganda eleitoral e condutas proibidas nas eleições aqui estudadas. Segundo o Portal do TSE (2014), ficaram vedadas algumas ações dentro da propaganda eleitoral, que são: a propaganda ofensiva; usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que possa ridicularizar candidatos; proibição de usar o tempo de determinado cargo para outro – ou seja, usar o tempo de deputados para 25 cargos de eleições majoritárias; a participação de qualquer pessoa nos programas poderá ser feita, porém fica proibida remuneração; a obrigatoriedade do uso da linguagem de sinais brasileira nos programas e, em caso de pesquisas de opinião, deve ser apresentado o tempo da pesquisa, a margem de erro e nível de confiança. Diante do exposto, podemos perceber que no Brasil existe um cálculo que regulamenta o tempo de exposição de cada candidato e partido e regras para o conteúdo dos programas eleitorais. E isso tudo tem relação estreita com o tipo de sistema eleitoral que seguimos. Pelas atuais regras, as eleições para presidente, governador, prefeito e senador seguem o sistema de voto majoritário. Os votos para deputados estaduais, deputados federais e vereadores funcionam no tipo proporcional com lista aberta, segundo EBC (2014). De acordo com o livro Concepção de Sistemas Eleitorais do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral, (IDEA) (2015), o Brasil apresenta o Sistema Eleitoral de Pluralidade/Maioria, e o Sistema de Representação Proporcional. Idea (2005) define o sistema de pluralidade maioria como: O princípio de sistemas de pluralidade/maioria é simples. Depois de a votação ter sido realizada e os votos contados, os candidatos ou partidos com mais votos são declarados os vencedores (podem também haver condições adicionais). No entanto, o modo de como isto é alcançado na prática tem amplas variações. A maioria simples é a forma mais simples de sistemas eleitorais de pluralidade/maioria. O candidato vencedor é aquele que obtém mais votos que qualquer outro candidato, mesmo se não obtiver uma maioria absoluta dos votos válidos. O sistema usa círculos uninominais e os eleitores votam em candidatos ao invés de partidos políticos. (IDEA, 2005: 11).Caso o candidato ou partido não obtenha a quantidade necessária, é realizada uma segunda votação, que pode ser com dois ou mais candidatos da primeira votação, e quem ganha é o que tiver o maior número de votos, independente de ser a maioria absoluta ou, como no caso do Brasil, um formato de segunda votação em maioria final, em que os dois candidatos mais votados na primeira votação participam. IDEA (2005). De acordo com a EBC (2014), para os cargos de vereadores, deputados federais, deputados estaduais, deputados distritais, é possível votar tanto no candidato quanto na legenda. Na apuração, contabiliza-se o total de votos obtidos por cada partido, somando 26 os votos de legenda e os votos de cada candidato dessa legenda, então, as vagas são distribuídas proporcionalmente aos votos totais obtidos por cada partido. Para o IDEA (2005), os sistemas proporcionais são definidos assim: Os sistemas de representação proporcional são conscientemente concebidos para converter a proporção correspondente dos votos do partido em uma proporção correspondente de assentos na legislatura. A representação proporcional exige o uso de círculos eleitorais com mais de um membro: não é possível dividir proporcionalmente um único assento eleito em uma única ocasião. [...] Sob um sistema de lista de representação proporcional, cada partido ou grupo apresenta uma lista de candidatos para o círculo eleitoral plurinominal, os eleitores votam em um partido, e os partidos obtêm assentos na proporção da sua fracção geral de votação. Em sistemas de listas fechadas, os candidatos vencedores são selecionados na ordem da sua posição nas listas. Em sistemas de lista aberta, os eleitores podem influenciar a ordem dos candidatos ao marcar as suas preferências individuais.(IDEA, 2005: 12). Ainda de acordo com o Instituto, o sistema de lista aberta, como no Brasil, independente de dar mais liberdade ao eleitor, pode geral conflitos nos partidos com seus candidatos, que disputam entre si as vagas e a preferência dos eleitores. Segundo Tavares (apud, CARNEIRO, KUSCHNIR e SCHMITT 1999), o voto no país é “voto pessoal único em candidatura individual” ou como “voto uninominal”, com semelhanças em países como Finlândia e Chile. E, para eles, também, muitas vezes confunde-se com o que já foi apontado no presente trabalho, a “lista aberta”. Segundo os autores, os partidos não disponibilizam uma lista de candidatos, mas sim, uma competição entre eles, em que o voto individual prevalece. Para ilustrar os modelos de Sistemas Eleitorais, uma breve exemplificação do Sistema Eleitoral norte-americano. De acordo com o site Super Interessante 6 (2012), nos Estados Unidos, os candidatos são eleitos pelos delegados estaduais, esses delegados são eleitos pelo povo. Os candidatos precisam vencer em cada estado para ter os delegados, mas quem perde não ganha delegado nenhum no estado, ou seja, na disputa entre o candidato A e B, o A teve mais votos em determinado estado, e mesmo o B também recebendo um bom número de votos, os delegados vão todos para o vencedor do estado. Mas outro problema também atrapalha na decisão final: cada estado tem uma população diferente, que é proporcional aos delegados. Se o A venceu nos estados menos populosos, mesmo 6 Revista brasileira de curiosidades culturais e científicas, pertencente ao Grupo Abril. É publicada mensalmente em todo o território nacional e veicula diversas informações das mais variadas vertentes. 27 sendo maioria, pode perder na contagem final para os delegados de estados com maior população. Outro aspecto diferente dos Estados Unidos em relação ao Brasil se dá na inserção das propagandas dentro dos veículos de comunicação. No Brasil, é proibida a propaganda paga nas rádios e televisão, dentro do período estabelecido, desde 1965. Já nos Estados Unidos, a inserção dentro dos veículos é paga. Conforme matéria publicada no Portal G1 7 (2006), ao contrário do que ocorre nos EUA, onde a propaganda eleitoral na mídia eletrônica é paga, no Brasil os candidatos e partidos políticos não precisam pagar pelo espaço, que é definido de acordo com o tamanho de sua bancada na Câmara Federal. Segundo Carneiro, Kuchnir e Schmitt (1998), nenhum país reserva tanto tempo para a propaganda eleitoral gratuita dos partidos como o Brasil. E também para os citados autores, a percepção do HGPE fora do meio político é certamente controversa: A imprensa normalmente adota uma postura crítica em relação ao chamado "horário político". A mídia sustenta, em primeiro lugar, que o programa causaria prejuízos ao faturamento das emissoras de rádio e TV, por conta também de uma alegada queda de audiência. A legislação eleitoral já reagiu a essa acusação, pois vem diminuindo o período e a duração dos programas. A segunda crítica é relativa ao estabelecimento da transmissão em cadeia para todas as emissoras, o que retiraria do telespectador a possibilidade de assistir a qualquer outro programa durante aquele horário. (CARNEIRO, KUCHNIR e SCHMITT, 1998: 10). Ao longo dos anos, algumas propostas foram feitas para minimizar o descontentamento, como explicitado acima, porém, surgem também alternativas para a questão. De acordo com os autores Carneiro, Kuchnir e Schmitt (1998), seria interessante reservar um intervalo de tempo maior para a transmissão dos programas eleitorais, de tal forma, que os canais pudessem determinar horários diferentes para transmitir o conteúdo. Essa alternativa não foi posta em prática, talvez, apontam os autores, por conta da jurisprudência eleitoral de 1962 que determina a formação de uma cadeia de emissoras. Uma outra alternativa, que funciona desde 1996, são os pequenos spots comerciais de 15 ou 30 segundos veiculados na programação normal das emissoras, 7 Portal de notícias online da Globo. 28 durante o período de campanha. Estes comerciais, por conta do formato mais dinâmico e moderno, desde aquela época têm recebido críticas positivas da mídia. 2.2 A Propaganda Eleitoral e Seu Caráter Decisivo nas Eleições Como o trabalho já apresentou, as eleições populares simbolizam a democracia representativa, assim como a propaganda eleitoral também é essencial para este conceito de democracia. Gomes (1994) aborda este pensamento quando aponta que a propaganda eleitoral é uma instituição criada justamente para o propósito de “dar a conhecer” os princípios, propósitos, teses, e primordialmente a identidade daqueles que solicitam o consentimento do cidadão. E para que todos possam se beneficiar deste elemento é preciso que partidos, candidatos e eleitores interajam. Desde os primórdios da política, o desenvolvimento se deu por conta das interações sociais, e mais recentemente dos meios de comunicação e tecnológicos. Porém, os pesquisadores Almond e Powell Jr. (1972) ressaltam que é preciso ainda mais: Apesar da força positiva dos meios nacionais de comunicação de massa, o desenvolvimento de uma cultura política estável e unificada dependerá em alto grau das direções seguidas pelas intervenientes estruturas de comunicação dos partidos, grupos de interesses e líderes de opinião, que atingem o cidadão num sentido mais imediato (ALMOND e POWELL JR., 1972: 113). Para ilustrar e delimitar o campo a ser explorado, o presente trabalho segue na concepção de Brademburd et al.(2010), que definem o eleitorado brasileiro por mulheres e pessoas com ensino médio completo, sem deixar de ser heterogêneo. Por isso, osresponsáveis por gerenciar os programas eleitorais dos candidatos necessitam atingir um eleitor universal, porém, observando a criticidade de todos os povos e de cada grupo específico. Entende-se, então, a importância dos elementos citados acima, apesar de algumas controvérsias sobre a sua utilidade, também considerado pela pesquisa feita por Holbrook (1996), em que ele avaliou especificamente o efeito das campanhas presidenciáveis sobre a opinião pública, ou seja, sobre os jornais e no eleitorado norte-americano. Segundo esse estudo, Holbrook 29 (1996) conclui que dentro dos limites dados para cada eleição – contextos políticos ou econômicos – estas campanhas políticas são de fato capazes de moldar a opinião pública nos anos eleitorais, assim como ter interferência no resultado final. E um dos motivos que as campanhas políticas e eleitorais são tão importantes para o processo político fica apresentado Azambuja (apud, ROCHA 2008), considerando o fato de que neste jogo a propaganda política passa a ser uma “venda“ da imagem dos candidatos que os marqueteiros realizam. Outro aspecto a ser considerado seria o comportamento eleitoral, que é influenciado pelo contato com as propagandas eleitorais em rádio e televisão. De acordo com Rocha (2008): Alcançando todo o público sem discriminação, uma vez que é veiculada em toda a rede televisiva nacional, ela cria, entretanto, a impressão de ser dirigida a cada telespectador individualmente. Reproduzindo uma conversa face a face, a imagem do candidato procura provocar no telespectador um sentimento de intimidade. A propaganda eleitoral também utiliza o tom emocional no discurso, buscando atingir os sujeitos em suas esperanças, ambições, desilusões, preconceitos e medos. É desse modo que o discurso político é utilizado por governos e partidos políticos, criando correntes de opinião, suscitando desejos coletivos, distraindo, captando e dirigindo a atenção da população. (ROCHA, 2008). O comportamento eleitoral é motivo de debates entre pesquisadores da ciência política, muitos trabalhos foram realizados a este respeito e algumas teorias foram construídas. O presente trabalho irá apresentar brevemente as três mais conceituadas e estudadas no ramo. É importante frisar que não será feito nenhuma avaliação destas vertentes durante o estudo, pois a presente monografia não visa defender nenhum lado, e sim, apresentar pontos de vistas. Segundo Borba (2005), existe na literatura política moderna certa controvérsia sobre os efeitos das campanhas eleitorais no comportamento dos eleitores e no resultado das eleições. Também para o autor, existe uma longa tradição de estudos que encontrou evidências de que o resultado final de eleições pode ser medido facilmente sem considerar os efeitos de campanhas políticas. Neste raciocínio, os eleitores decidem seu voto em variáveis políticas e sociais de longo prazo, e por meio do julgamento administrativo dos governantes. 30 Por outro lado, ganharam força mais recentemente trabalhos e pesquisas em que apontam os efeitos persuasivos das campanhas eleitorais na definição dos votos dos eleitores, também de acordo com Felipe Borba (2005). Para estes estudos, fica claro o resultado final das eleições, que são fidedignos aos índices de intenção de voto, eventos políticos relevantes ocorridos na época. Para este pensamento, Felipe Borba, (2005) descreve: Na literatura que investiga o impacto da condição nacional sobre o voto, existem duas dimensões que procuram medir o clima de satisfação dos eleitores: o estado da economia e a avaliação do governante. A primeira dimensão procura estudar o impacto de indicadores econômicos clássicos sobre o voto, sendo os principais a taxa de desemprego, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a taxa de inflação. (BORBA, Felipe, 2005: 58). No sentido de ressaltar os estudos sobre o comportamento eleitoral e a persuasão política, serão apresentadas brevemente as três correntes de estudos sobre o tema. Em um primeiro momento, o estudo da Teoria Sociológica foi o norte dentro de pesquisas sobre o tema. A vertente também é conhecida como Teoria Histórico- Contextual e funda sua argumentação na perspectiva que o voto não é uma decisão unilateral, e sim o resultado de uma correlação de fatores que envolvem o contexto social que o eleitor está inserido, segundo Motta (2012). De acordo com esta corrente, o eleitor toma decisões de acordo com os padrões do grupo em que convive. Por isso, pode-se entender as similaridades de comportamento eleitoral entre integrantes de grupos com valores compartilhados. Motta (2012) ainda afirma que a sociologia compreende que, dentro da estrutura social, quem age é, de fato, o indivíduo, mas o ato individual não é socialmente isolado. A ação individual vem da interação com os outros. Esta corrente aponta os fatores importantes para a decisão eleitoral: De acordo com esta abordagem, um dos fatores importantes para a decisão do voto é o entendimento de que os fatores sociais, econômicos e políticos de uma sociedade acabam criando divisões sociais com base em classe, renda e escolaridade, por exemplo. (MOTTA, 2012: 6). Também existe a Teoria Psicológica ou o Modelo Michigan, como é mais conhecido. Esta teoria compreende o fator comportamental do eleitorado na perspectiva micro, individual, contrapondo-se à primeira corrente apresentada. Na perspectiva deste 31 modelo psicológico, a identificação partidária se originaria a partir de contínuo processo de socialização, de acordo com Borba (2005). Figueiredo (apud, BORBA 2005), explicita que a identificação partidária forjada em bases afetivas tende a ser estável e menos sujeita a variações de ordem conjuntural. Segundo Motta (2012), a psicologia começou a ser utilizada para explicar as vontades eleitorais no final dos anos 50, quando pesquisadores da Escola de Michigan (com os pesquisadores Angus Campbell e Philipe Converse) puderam ampliar a corrente sociológica para a psicossociologia. Para esta corrente teórica, a vida política do indivíduo, ou seja, o conjunto de pensamentos políticos e ideológicos têm origem, muito fortemente, no âmbito familiar. A infância e a adolescência formam significativamente a personalidade política de cada pessoa. Exemplificando ainda mais o conceito desta teoria: As atitudes adquiridas, juntamente com outros aspectos, passam a integrar a estrutura de personalidade dos indivíduos. Portanto, as atitudes políticas fazem parte da psicologia humana, e ao se consolidarem pela socialização política, tornam-se a base para a formação de opiniões, auto-avaliações e propensões para ação frente ao ambiente político mais amplo. Agindo, reagindo e interagindo social e politicamente a partir de uma base psicológica formada e com categorias políticas normativas razoavelmente consolidadas, o indivíduo sempre articulará da mesma maneira suas respostas a diferentes contextos. (FIGUEIREDO, 2008: 26). Motta (2012) ainda apresenta uma terceira teoria que se contrapõe a estas duas, a Teoria da Escolha Racional ou Economicista, criada por Anthony Downs. De acordo com esta abordagem, as escolhas eleitorais de cada indivíduo são pautadas em interesses: o eleitor pesaria o que ganharia ou perderia com determinado candidato. Nesta teoria, o principal interesse do eleitor é o econômico, por isso, economicista, e o “racional” é resultante de que o indivíduo é um ser racional: ele mede, calcula, avalia, interpreta e, com base nisso tudo realiza uma escolha. Por isso, Downs (1999) disserta: Um homem racional é aqueleque se comporta como se segue: (1) ele consegue sempre tomar uma decisão quando confrontado com uma gama de alternativas; (2) ele classifica todas as alternativas diante de si em ordem de preferência de tal modo que cada uma é ou preferida, indiferente, ou inferior a cada uma das outras; (3) seu ranking de preferências é transitivo; (4) ele sempre escolhe, dentre todas as 32 alternativas possíveis, aquela que fica em primeiro lugar em seu ranking de preferência; e (5) ele sempre toma a mesma decisão cada vez que é confrontado com as mesmas alternativas. (DOWNS, 1999: 28). Felipe Borba, (2005), complementa acerca do assunto, afirmando que esse valor de identidade partidária é um atalho para a diminuição dos custos de obtenção de informações. O eleitor, caso perceba as conformidades de interesse com o partido escolhido, tende a não pesquisar maiores informações de eleição em eleição. Para o mesmo autor, é evidente que hoje em dia, o contexto político e econômico tem muita importância dentro do comportamento eleitoral e no nível de apoio dos candidatos. Ainda de acordo com Felipe Borba, (2005): Se o clima corrente for de prosperidade e satisfação, devemos esperar que o candidato do governo, que representa o status quo, seja beneficiado. Caso contrário, se os eleitores apresentam sinais de insatisfação, a expectativa é a de que o candidato da oposição aumente suas chances de voto. (BORBA, Felipe, 2005: 58). Até por isso, Nunes (2000) comenta que hoje em dia também é raro qualquer futuro candidato ou político experiente apenas pautar suas propagandas em sua sensibilidade. No Brasil, as pesquisas eleitorais são indispensáveis e as pessoas que tomam decisão não abrem mão dessas pesquisas. 33 3. O político e a construção de sua imagem O Brasil vive eleições personificadas, ou seja, os brasileiros votam muito mais no candidato do que nos partidos. Segundo Albuquerque & Dias (2002), os partidos políticos no Brasil são vulneráveis à representação do candidato. De acordo com os autores, isso explica a taxa de votos em legenda, que são muito menores que as nominais. O eleitor brasileiro já está acostumado ao voto de “carinho” para o candidato que apresenta uma imagem mais positiva nos seus gestos, sendo um típico político de folhetim. GOMES (2004). Gomes (2004) ressalta também: Historicamente, o Brasil se situa entre os países onde o personalismo dos candidatos mais exerce um importante papel na decisão de voto, em detrimento do partido como estimulador da confiança do eleitorado. Neste caso, o candidato experimenta aqui todo um processo de mitificação de sua imagem pública; mitificação impossível de realizar se não se conta com a ajuda de um aparelho logístico, profissionais, sistemas, apoios e meios que façam factível esta idealização eleitoral do candidato. (GOMES, 2004: 88). Com isso, a publicidade atenta às questões políticas e comerciais procura trabalhar seus clientes nesse aspecto humano, mas sempre visando o lucro (vitória). E como Dias (2015) expõe, todas as estratégias de campanha dos candidatos visam à maximização de votos para a vitória eleitoral, segundo o pressuposto downisiano 8 . Toda essa formatação da propaganda política, e de intenção persuasiva dos candidatos, surge, segundo Lee e Bacha (1995, apud OLIVEIRA, 1999, p. 44), a partir da americanização das campanhas no que se diz respeito ao papel ocupado pela mídia e em especial pela TV na política. Também como descreve Bourdieu (1997): O campo jornalístico age, enquanto campo, sobre os outros campos. Em outras palavras, um campo, ele próprio cada vez mais dominado pela lógica comercial, impõe cada vez mais suas limitações aos outros universos. (BOURDIEU, 1997: 84). 8 A principal implicação prática desse pressuposto é que os políticos evitarão realizar candidaturas que assumam posições polêmicas, afastando potenciais eleitores. As posições mais rígidas e ambíguas são mais propensas para assegurar votos e construir um sucesso eleitoral. 34 A televisão ajuda muito para que o marketing seja personificado ao candidato. Segundo Oliveira (1999), a influência da mídia, de certa forma, estimula a propaganda, que muitas vezes é centralizada na vida dos candidatos, como em seus atributos pessoais. Outro ponto colocado por Dalton (1996, apud OLIVEIRA, 1999, p. 41), para esse declínio dos partidos políticos é o crescimento da sociedade industrial. Com o avanço desta sociedade, um novo tipo de cidadão é formado – um cidadão mais informado, mais crítico, menos identificado com os partidos e mais independente. Com essa crítica do novo cidadão, as eleições tenderam a perder o sentido ideológico, e passaram a ser mais imprevistas. Autores, como Endres et al. (2012), apontam outra direção no sentido da representação personificada dos candidatos. Não somente a queda dos partidos políticos, como também, uma guerra de propaganda eleitoral e retórica. A quebra do seguimento de ideologias partidárias também se dá com os candidatos, como segue: Nos dias de hoje, as pessoas não estão mais tão fiéis aos candidatos, tornando o mundo da propaganda eleitoral um concurso de persuasão, pois o que realmente acontece é que, as pessoas são levadas a uma escolha através do candidato que saiba se destacar melhor no quesito argumentação. (ENDRES et al., 2012: 5). Segundo Cioccari (2013), o pragmatismo fala mais alto nos partidos políticos, mas nos eleitores a identificação com o personagem político dá o tom à campanha eleitoral. Também para Schwartzenberg (1978, apud CIOCCARI, 2013, p. 3), essa busca pela imagem política transforma muitos dirigentes (políticos) em prisioneiros de sua própria imagem. Para o autor, o político deve então concordar em desempenhar, de uma maneira um tanto quanto duradoura e eficaz, o personagem que escolheu. A imagem, segundo Domenach (1963: 19), “(...) é, sem dúvida nenhuma, o instrumento mais notável e o mais eficaz. Sua percepção é imediata e não demanda nenhum esforço”. E este ator político constrói a sua imagem firmada em seu próprio interesse. Às vezes, também, age de acordo com as determinações partidárias, mas certamente, seguirá as determinações dos grupos econômicos que representa, ignorando assim os verdadeiros anseios do povo que o elege. NÓBREGA (2013). 35 Segundo Gomes (2004), o candidato ou político nunca pode ser igual a outro, e há de se dizer que também não será igual a si mesmo: o político é uma imagem. Por isso, Schwartzenberg (1978, apud NÓBREGA, 2013) afirma que os personagens da política podem, de acordo com diversas situações, representar os seguintes papéis: herói (grifo nosso), ele é o homem fora do comum, o salvador da humanidade, o ator político encarna um ídolo triunfante e intangível; líder charmoso (grifo nosso), ar de superioridade e autoridade, mas se aproxima do povo pela sua empatia, o foco está na sedução – sua elegância e beleza conquista o povo; nosso pai (grifo nosso), é o pai do povo, líder populista a quem o povo pede ajuda. É o político que vai cuidar dos pobres e oprimidos; tipo igual a todo mundo (grifo nosso), age com normalidade, também representa o conformismo, trabalhando com ideias recebidas e lugar comum (sentimento de segurança com a sociedade). E, além desses papéis que podem ser representados, também existem, de acordo com Gomes (2004), dois tipos de políticos, que se encaixam perfeitamente no presente trabalho – os que procuram se eleger pelaprimeira vez a algum cargo (Aécio para a presidência); e os que já estão no poder e aspiram reeleição (Dilma para mais quatro anos no cargo máximo). E, por isso, a autora também expõe que os principais passos na formatação da imagem do candidato são baseados mercadologicamente – o candidato é um produto: necessidade de um candidato (grifo nosso), bem apresentado e que cumpra os requisitos exatos que o segmento da população que ele se dirige exige, sua presença física vai ser a embalagem; preparação de uma campanha publicitária (grifo nosso), familiarize o candidato com o eleitorado, mostrando sua personalidade e informando os benefícios do voto, Apesar da boa embalagem, o povo quer ver o conteúdo; destaque dos momentos políticos mais importantes (grifo nosso), na campanha eleitoral tudo é lançamento, o Big One (como chamam os americanos – O Maior) concentra-se na pessoa do candidato; seleção da promessa ou benefício (grifo nosso), será obtida pelo eleitor que votar no candidato, geralmente vem no slogan que resume a imagem e o programa político; estabelecimento do posicionamento (grifo nosso), situa-los em esquemas que definam em linhas políticas e ao mesmo tempo o diferenciam da concorrência, seu posicionamento se dá a partir das resoluções dos problemas que ele define em seu programa eleitoral; divulgação de todos os atributos (grifo nosso), o mais indicado é encontrar o atributo maior e dar a ele toda a ênfase da campanha; cuidar da apresentação pessoal do candidato (grifo nosso), cuidados para a sua 36 aparição pública coincidir com seu programa e eleitorado. Submissão a uma série de exames técnicos: fotogenia, maquilagem, consultoria de roupas, dicção, movimentação em cena, etc. Entendemos, assim, a comercialização do candidato – sua preparação para o desempenho de um papel quase impecável na disputa eleitoral. Para Muniz (2016), o produto, no comércio tradicional tem sua funcionalidade na satisfação do consumidor. Porém, na política, esta relação com o consumidor final é realizado, no campo das ideias: “(...) mensagens, campanhas, e promessas que somente poderão se transformar em bens públicos concretos como escolas e hospitais quando o candidato assumir o poder”. (MUNIZ, 2016). Gomes (1997) complementa, ressaltando o valor conotativo das mensagens eleitorais: Na publicidade eleitoral trata-se igualmente de "vender" objetos: candidatos, idéias, princípios, compromissos, programas, "personas". Os objetos não são "vendidos" em si mesmos, em seu "valor de uso", naquilo que eles efetivamente são ou podem fazer. As mensagens que os vendem centram-se cada vez mais em mecanismos conotativos cujos contratos engajam o eleitor: o eleitor "moderno" vota em fulano, que é moderno; o eleitor "honesto" escolha tal partido etc. A personalização ou diferenciação do "consumidor" (que decorre do "consumo") não se funda na função eventualmente excercida pelo objeto político, mas obedece a um critério fundamental que consiste em inserir o consumidor numa cadeia de relações opositivas onde se jogam sobretudo a identidade (própria e grupal), o prestígio e (o resumo de ambos) o reconhecimento pelo outro. Os objetos políticos são, também estes, valores-signos, suportes conotativos que se consome sem que importe muito o "valor de uso" do objeto. (GOMES, 1997: 5). Muniz (2016) ainda conclui: Um candidato é um produto formado pelo conjunto de seus atributos pessoais, suas idéias, seus planos e sua imagem pública. Deve ter presente que os eleitores não poderão testá-lo como o fazem com seu automóvel, poderão somente questioná-lo, endossando-lhe credibilidade através do voto. Um candidato constitui-se num bem intangível muito particular, porque carrega uma aura de forte emocionalidade, podendo as pessoas menos esclarecidas ser inconscientemente envolvidas, favorecendo o surgimento de oportunidades e ditadores em prejuízo da liberdade e da democracia. (MUNIZ, 2016). 37 A revista Super Interessante (2014) realizou uma matéria revelando alguns truques utilizados pelo marketing e pelos políticos para angariar votos nas corridas eleitorais: utilize o corpo (grifo nosso), nossos gestos são julgados pelas pessoas em pouquíssimos segundos, por isso, os políticos usam de táticas de linguagem corporal para ficarem melhores nas câmeras; pegue carona com os outros (grifo nosso), copiar o nome de algum politico conhecido pode ajudar na hora da sugestão ao voto do eleitor; componha um hit (grifo nosso), os hits são instrumentos usados para mexer com as emoções dos eleitores e martelar o número dos candidatos na cabeça das pessoas; manipule os debates (grifo nosso); usar de táticas como pistas falsas do outro candidato, ou até mesmo de artifícios dentro dos cenários dos debates é comum pelos marqueteiros políticos, jogue lama nos rivais (grifo nosso), usar de táticas não tão convencionais também é costume. Propagandas de acusação são muitas vezes o que move as campanhas políticas; finja ser humilde (grifo nosso), muitos políticos precisam se adaptar ao seu eleitorado, que no caso brasileiro, é majoritariamente humilde. Políticos conhecidos e vencedores já usaram esta técnica algumas vezes, como Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso. Percebemos a complexidade na formatação de uma identidade política para os candidatos. Contudo, Gomes (2004), entende que quanto mais personalidade tem o candidato ou o partido, mais simples será o trabalho para a formatação da imagem do ator político. Podemos entender este fato, como um reflexo da ideologia determinado partido e determinado candidato seguem. Muniz (2016) conclui este pensamento do seguinte modo: Um produto-candidato também tem marca e embalagem que podem influir decisivamente na sua penetração junto ao eleitor. A marca do político é o seu partido, sua sigla ideológica, da qual deverão extrair toda a inspiração para desenvolver os seus ideais políticos. O perfil de um candidato é estudado com o objetivo de planejar a imagem que seja projetada junto aos eleitores. Os eleitores votam com base nesta imagem. (MUNIZ, 2016). Ainda segundo Muniz (2016), “(...) o conceito do candidato é o tema orientador principal ao redor do qual o interesse do eleitor será definido”. Bourdieu (1989), também discorre sobre o tema, afirmando que devido ao capital político do candidato, que o transforma em homem de honra, o faz também ser vulnerável às suspeitas, calúnias e quaisquer ameaças que possam quebrar a sua confiança e fé junto ao eleitorado. 38 3.1 Breve história do marketing político Segundo o Portal Observatório da Imprensa (2008), a história do marketing político é muito mais antiga do que as fontes oficiais apresentam. É possível se estabelecer um retrato da atividade do marketing político desde a Grécia antiga, com a arte da retórica e até mesmo com as pirâmides dos Faraós no Egito. Para Nóbrega (2013), o marketing político tem como principal objetivo o planejamento e o desenvolvimento da construção da imagem pública de um candidato. Ainda de acordo com o Portal Observatório da Imprensa (2008), os governantes europeus na Idade Média se valeram muito das estratégias de marketing que conhecemos hoje para seus propósitos. Luiz XIV, o Rei Sol, usava as pinturas de grandes artistas para se retratar, e se valeu muito do marketing político para promover um dos mais longos e exitosos reinados que o mundo conheceu. Segundo Pinho (1990, apud COUTINHO e SILVA, 2012), a propaganda ganhou espaço em outros setores da sociedade ao mesmo tempo em que a Igreja Católica começou a perder o espaço hegemônico de propagaçãode ideias, em virtude do surgimento das classes mercantis e comerciais. Para Muniz (2016), a utilização destas técnicas é decorrente da própria evolução social, assim como o conflito de interesses. Pode-se apontar que o conceito de marketing político moderno, as atividades que se veem hoje são fruto das ideias do General Norte Americano Dwight Eisenhower (1890 – 1969), que contratou uma empresa publicitária para sua campanha à presidência dos Estados Unidos em 1952. OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA (2008). Os marqueteiros de Eisenhower entendiam que era necessário criar um novo perfil para o candidato – não o de alguém que apenas colhia as glórias de um passado vitorioso no comando do exército americano na II Guerra Mundial; mas o de um presidente que plantaria as glórias do futuro americano. Esse trabalho se deu, primordialmente, por meio da mídia eletrônica. A estratégia deu certo, Eisenhower foi eleito e depois reeleito, em 1956. (OBERVATÓRIO DA IMPRENSA, 2008). Nóbrega (2013), cita outro exemplo de líder mundial que soube utilizar bem as técnicas de marketing político para propagar sua imagem e seus ideais foi Adolph Hitler, líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. 39 Lippman (apud DOMENACH, 1963, p. 26), conclui que a propaganda ataca imediatamente o sentimento prevalecente na multidão. A palavra ou discurso é usado para prender por associações sentimentais o programa proposto junto ao eleitorado. Porém, Muniz (2016), indica certa confusão ou até mesmo a falsa ideia do marketing político como marketing comercial – só uma nova embalagem vende um produto. Para a autora, o marketing trata de aplicar procedimentos e técnicas que aperfeiçoem os recursos utilizados dentro da campanha eleitoral. Muito desta confusão é também culpa dos próprios profissionais. Gomes (2007) enxerga com certa preocupação esse tratamento. O tratamento dado pelos profissionais de marketing como se produto comercial e candidato fossem a mesma coisa tem causado alguma preocupação. O que diferencia um do outro, é que a publicidade eleitoral deve ter, como principal objetivo, a divulgação, ainda que sintética, dos pontos programáticos e, também, provocar a adesão do eleitorado aos mesmos além de, num segundo lugar, mas não menos importante, potencializar a sua imagem de líder oferecendo dados biográficos sempre atrelados ao programa e à ideologia que o inspira. (GOMES, 2007). Por isso, não adianta o político pensar que só a propaganda irá realizar os milagres de multiplicar seus votos, ou seja, é necessário que ele conheça a sua população e o que ela precisa e deseja. E, então, suas propostas e sua propaganda se voltam ao interesse do eleitor. MUNIZ (2016). Isso nada mais é do que o marketing eleitoral. Figueiredo (2000: 14) ressalta “(...) o marketing político é fundamental, mas não tem a capacidade de construir a realidade. Sua virtude é dar relevo aos pontos positivos de um candidato, contribuindo para a sua vitória”. Gomes (2004) nos indica que o marketing político é a estratégia permanente de aproximação do candidato e partido ao cidadão comum; e que o marketing eleitoral se trata da estratégia voltada diretamente para o eleitor, com o objetivo de fazer o partido e o candidato vencer a eleição. Para Muniz (2016) “é importante diferenciar esta fase do marketing eleitoral da fase anterior da propaganda”. A fase da propaganda foi conhecidamente desenvolvida em esforços para a venda e a difusão das ações, no intuito de fazer com que a sociedade comprasse o aspirante político. 40 Hoje, no atual marketing eleitoral, o candidato precisa produzir propostas adequadas para os anseios da sociedade. Muniz (2016) completa: A propaganda continua a ser importante, mas surgiram dois novos elementos: a criação e o desenvolvimento de ações sociais e governamentais, de acordo com os desejos e necessidades dos vários níveis da sociedade. (MUNIZ, 2016). A construção política é realizada através de vários “setores” em conjunto com um único objetivo. “A publicidade eleitoral, como um instrumento de comunicação política, vai contribuir para os objetivos políticos fixados na estratégia de ação do marketing (...)”. (GOMES, 2004: 47). Apesar das confusões e até mesmo das dúvidas em relação às técnicas do marketing neste tipo de atividade, Barreras, Luz e Weber (2014) apontam que o marketing é, hoje, indispensável na corrida eleitoral. O marketing político-eleitoral é marcado pela controvérsia. De um lado, com o artificio onipotente capaz de anular variáveis políticas e menosprezar o eleitor ao trata-lo como consumidor. No outro, evocado como técnica científica neutra e necessária à disputa política mais profissional. Na dúvida, é sempre indispensável. (BARRERAS, LUZ e WEBER, 2014: 6). O objetivo maior dentro do plano de marketing político é transformar o candidato no candidato perfeito ou ideal. Os autores também respondem essa questão concluindo “O candidato ideal é aquele carismático, com biografia exemplar e capacidade de comunicação (...)”. (BARRERAS, LUZ e WEBER, 2014: 14). Entendemos aqui o que Gomes (1997) apresenta sobre o valor de performance da publicidade eleitoral. Candidatos e partidos buscam, em sua comunicação assertiva, o efeito de verdade em suas mensagens, apesar dos prós e contras, sempre se busca a produção do convencimento. Por isso, podemos finalizar com a seguinte crítica de Figueiredo (2000). O Poder do marketing político é limitado por uma série de razões. Em primeiro lugar, as campanhas ocorrem sob uma legislação eleitoral específica. (...) Outro fator que limita o alcance do marketing político é o próprio candidato e sua inserção naquilo que se pode chamar de meio ambiente político-social. Com o candidato errado na hora errada, não há genialidade de marketing e de comunicação que dê certo. (FIGUEIREDO, 2000: 38). 41 3.2 Marketing político no Brasil Para esclarecer um pouco sobre o marketing político no Brasil, iniciamos com uma explanação de Muniz (2016), em que a autora revela que muita da razão do surgimento do marketing político no Brasil se deu pela transformação social, assim aconteceu no mundo anteriormente. [...] as pressões sociais, a quantidade de candidatos, a segmentação de mercado, as exigências de novos grupamentos de eleitores, o fortalecimento dos grupos de pressão, a competição desmesurada, a decadência da sociedade coronelista no país, a urbanização, a industrialização, os novos valores ditados pela indústria cultural e o crescimento vegetativo da população constituem, entre outros, os elementos determinantes da necessidade da utilização dos princípios do marketing aplicado à política. (MUNIZ, 2016). Como se vê, o marketing político e eleitoral são oriundos do marketing ou publicidade comercial. E, de acordo com Gomes (2004), a política brasileira é vazia de conteúdo político, aproximando a comunicação política que se faz no país da publicidade comercial. Almeida (2013) expõe o surgimento do uso das estratégias de marketing no Brasil. Inicialmente, a campanha eleitoral de 1989 inaugurou a chamada “profissionalização das campanhas eleitorais”. Profissionais da área do Marketing Político assumiram o comando das campanhas. Cenário, conteúdo da propaganda, recursos audiovisuais, “jingles”, estratégias dos candidatos, suas roupas, falas e até entonação da voz, foram profundamente elaborados. As estratégias iam variando ao sabor das pesquisas eleitorais. (ALMEIDA, 2013: 3). E Souza (2012) complementa que uns dos instrumentos mais utilizadospelo marketing político brasileiro é a imagem dos artistas: De uns anos para cá, com o auxílio de profissionais do marketing, percebemos a larga utilização de artistas nacionais nas campanhas eleitorais, inclusive não só para “ilustrar“ a propaganda e dar seu apoio ao candidato, como também os partidos políticos estão lançando candidaturas de artistas com forte apelo popular, que não possuem a mínima ideia do que seja política, para angariar votos junto à população, a fim de trazer um número expressivo de votos para tais partidos. (SOUZA, 2012: 189). 42 O uso de grandes pessoas públicas nos programas eleitorais vem também desde o início da profissionalização das campanhas brasileiras. Alexandre Frota, Claudia Raia (casal global em 89) eram figuras que estampavam a campanha de Collor. ALMEIDA (2013). O presente trabalho entende isso como um artifício do marketing para atingir o eleitorado passional, que no Brasil, de acordo com os estudos, são muitos. Souza (2012: 174) até apresenta uma crítica feita pelo CAD (Centro de Análise do Discurso) “em uma democracia o povo vota mais em razão da sua imagem e de algumas frases de efeito que ele ou ela profira do que em razão de seu programa político”. Outro artifício do marketing político muito utilizado é o slogan “(...) frase de efeito que empolga as pessoas, levando-as, pela sua repetição, a assimilar, inconscientemente, a síntese da argumentação e os objetivos da campanha eleitoral.” (GOMES, 2004: 100). Todos estes conceitos são “despejados” dentro do programa eleitoral com a finalidade da persuasão do eleitorado. Gomes (2007) nos lembra que a persuasão é a verossimilhança com a realidade, e por isso não se torna manipulação. Para a autora, quando a mesma cita Roiz (1996), existem três pontos dentro do processo de comunicação que se voltam para o convencimento e que se identificam com os gêneros comunicativos: A persuasão cognitiva na informação da atualidade, vinculada à coleta e transmissão da informação cotidiana: por meios de notícias em qualquer meio (jornalismo); A persuasão ideológica, identificada com a propaganda de todo o tipo, especialmente na política, religiosa e ideológica: que se transmite por numerosos modos expressivos desde o panfleto até o discurso de algum líder (propaganda); A persuasão comercial, focada na divulgação de produtos, em especial por meio de campanhas publicitárias (publicidade). (GOMES, 2007). Gomes (2004) descreve que as imagens do político e partido devem ser tratadas de maneira que sempre fiquem gravadas no subconsciente do eleitor, para que sempre reapareçam no momento ideal, promovendo a ação do voto. Por outro lado, Godim & Veiga (2001), expressam em seus estudos uma briga entre o campo do marketing político e da o ciência política no Brasil. Segundo as autoras, os dois campos divergem da real relevância e da análise que cada campo faz da política. 43 Segundo as autoras, os seguidores do Marketing Político defendem uma escolha eleitoral cada vez menos racional pelos eleitores, e acusam a Ciência Política de ser um pouco pragmática no sentido de permitir uma interferência mais direta no processo político. Já os acadêmicos da Ciência Política consideram que o marketing político reduz tudo a uma questão psicológica e estética, deixando de lado uma parte importante da ideologia partidária. Porém, de acordo com Borba, (2005), o comportamento do eleitorado estaria mais ligado pelos critérios de eficiência na administração pública do que pela identificação ideológica. Ainda de acordo com Gomes (2004), no Brasil são os partidos mais colocados à esquerda que calcam suas comunicações pelo princípio ideológico. E, para poder analisar as diferenças da comunicação política, o presente trabalho procura entender o conceito de logos e pathos de Aristóteles (1981). Segundo as definições de Aristóteles, o logos corresponde ao discurso voltado à elite econômica e intelectual de um país, pois ela se refere aos conhecimentos lógicos, como por exemplo, índices de desemprego, números sobre PIB, dando provas lógicas daquilo que seu discurso apresenta. Já o pathos é direcionado à camada mais pobre da sociedade por ter um apelo mais emocional, algo que mexe com o sentimento do eleitor. SOUZA (2012). Por isso a imagem, num país tão precário educacional e financeiramente como o Brasil, é tão relevante dentro do marketing político. Souza (2012) também propõe que para a elite brasileira o importante é o projeto de governo, e para o político, manter relações com a elite é também proveitoso, para que ele consiga projetos no futuro. Contudo, para a população com menor poder aquisitivo, o que realmente conta é a persona política do candidato. Segundo Charaudeau (apud SOUZA, 2012, p. 179) “(...) o político procura obter tal dominação com a ajuda de discursos que fazem com que uma paixão comum se volte ao homem ou ao projeto dele”. É por isso também que Nóbrega (2013) nos recorda que as eleições brasileiras são tratadas como um comércio e o palco para muitas das estratégias políticas se dá no horário eleitoral. Assim como muitos dos antigos monarcas e líderes do passado, o marketing pessoal de políticos no Brasil também foi desenvolvido. O mais recente fenômeno foi Luís Inácio Lula da Silva, “Lula”. 44 Para o Observatório da Imprensa (2008) Lula à época já era comparado aos políticos mais amados do Brasil: Em pouco tempo, Lula evoluiu de sapo barbudo ao presidente mais popular desde a redemocratização do país. Com índices de aprovação de 73% segundo a última pesquisa do CNI/Ibope, Luiz Inácio Lula da Silva, ou Lula, ou „Lula do Povo‟ é um dos maiores fenômenos de marketing eleitoral dos últimos tempos, e já compete com Juscelino Kubitscheck e com Getúlio Vargas ao posto de presidente mais popular da história. Fruto de um grande carisma pessoal e de muita habilidade política, claro. Mas não se pode negar que o uso planejado de ferramentas de propaganda eleitoral – principalmente a construção de uma imagem midiática positiva – teve grande importância na ampliação da popularidade de Lula. (OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, 2008). De acordo também com o Observatório da Imprensa (2008), Lula teve diversas imagens construídas pelos marqueteiros durante seu tempo na presidência: o conciliador, o homem que veio do nada e venceu, o grande líder das causas sociais. Mas a que mais foi explicitada e recebida pela população foi a de homem do povo. O político que fato representou a maioria da população brasileira. Entendemos essas grandes personas como mitos políticos, que puderam entender e aproveitar as tecnologias existentes em sua época para gerar o conforto necessário com o público ou eleitor. Miguel (1997) discorre que os elementos míticos são veiculados no discurso político – já que o discurso é o meio fundamental do fazer político. Também de acordo com o autor, a sabedoria de que os políticos se apropriaram, de sugestionar o seu conceito, ou seja, ao invés de oferecer um produto, estimular a associação do candidato a alguma coisa como: prosperidade, futuro, é uma característica da formatação do mito. Entretanto, para Miguel (1997), os discursos e o caráter sugestivo já é preexistente dentro do conceito abordado. O que em Muniz (2016) se observa mais claramente: Um candidato terá que traçar o seu perfil condizente com as necessidades da população, mas que seja coerente com a sua personalidade, seu passado público e privado. Não deve violentar-se para agradar o eleitor, pois isto ficará latente aos olhos do povo, que o repelirá, classificando-ode falso, demagogo e oportunista. (MUNIZ, 2016). 45 Porém, observamos que muitas vezes a imagem pode ser sim reestruturada. Lula também é o exemplo disso. Para Souza (2012), o ex-presidente Lula teve de reformular o seu discurso, que era conhecido anteriormente como agressivo. Para a autora “(...) sua agressividade nas explanações atraiu muitos eleitores, porém, em 2002, isso não funcionava mais, portanto ele, com a ajuda dos “marqueteiros”, modulou seu discurso (...)” (SOUZA, 2012: 184) Esse “não funcionava mais” é uma descoberta feita pelas análises quantitativas e qualitativas realizadas pelos marqueteiros dos políticos e partidos políticos. Nóbrega (2013) explana esta atividade: Através da ajuda de pesquisas quantitativas e qualitativas identifica o ambiente eleitoral onde o candidato está inserido. Utilizando cerca de mais de 60 questões em uma pesquisa inicial, por exemplo, é possível se estudar o grau de conhecimento das pessoas sobre o candidato, para que através delas, possam ser traçadas estratégias de marketing para reforçar a imagem do ator político em um determinado setor. Se a imagem do candidato for a mesma esperada do eleitor, isso é bom. Se não for, ele terá que fazer um esforço para mudar. (NÓBREGA, 2013). Souza (2012) também aponta que de acordo com as premissas da Análise do Discurso – tudo é escolha. Portanto, os candidatos políticos tratam previamente as informações, selecionando-as para seus discursos. Figueiredo et al (1997) indica que existe 4 pontos a serem explorados na lógica discursiva dentro da campanha: é preciso descrever um mundo atual, dentre os possíveis, que melhor represente as condições sociais vividas pelas pessoas; descrever um mundo futuro, dentre as possibilidades, oportuno e esperado pela maioria dos eleitores; fazendo X o resultado será o melhor mundo futuro desejado; só será possível este mundo se o candidato com esta “promessa” ou o seu partido for eleito. Riker (1996, apud FIGUEIREDO et al, 1997, p. 6) conclui que esta estrutura de discurso é o exemplo de retórica eleitoral. “A retórica, todos o sabemos, é uma arte tão ou mais antiga que a filosofia (que historicamente foi sua concorrente direta em mais de um período histórico) e a dialética” (GOMES, 1997: 4). Para o autor, retórica significa “arte de persuadir pela expressão” e foi muito importante na difusão dos ideais gregos e dominada por todos que participavam do jogo político. A técnica consiste também no convencimento pela técnica argumentativa, em que prevalece o ideal de quem ganha o debate. 46 Contudo, para Gomes (1997), a dialética (origem atribuída a Sócrates), veio para se contrapor as técnicas de retórica no sentido de um debate em que os antagonismos, ou seja, as contraposições fossem complementando-se para que o resultado seja um posicionamento em concordância com todos os pontos. Por isso, o presente trabalho, entendendo a complexidade técnica das campanhas eleitorais e compreendendo a profissionalização das mesmas em relação à construção de imagens e a estrutura dos discursos, comunga com a premissa de Focault (1971) de que ninguém entra na ordem do discurso se não estiver apto, ou seja, qualificado para realizar esta atividade. E Pinto (2000) ressalta que as tecnologias discursivas estão nas mãos de profissionais de comunicação, que aprendem estas técnicas disfarçadas de que não existe ideologia, contudo, ao mobilizar estes recursos fica evidente o pertencimento a uma cultura compartilhada com o público. Para entendermos bem os termos explicitados, o marqueteiro político Duda Mendonça, em seu livro Casos e Coisas (2001) descreve que é com a ajuda das pesquisas qualitativas que ele escolhe os apresentadores dos programas eleitorais, pois as imagens dos porta-vozes são divididas com as do candidato. Ele também afirma que seus comerciais mais ousados e importantes, assim como conceitos, marcas, slogans, fotografias, tudo é testado antes em uma plateia. O presente trabalho não irá se debruçar a respeito das disputas entre o grau de importância das pesquisas qualitativas em comparação às quantitativas, pois não é do interesse do autor nem da pesquisa se aprofundar nesse aspecto. Ao invés de apontar um caminho melhor do que o outro, o estudo visa entender a construção de imagem dos candidatos e sua importância dentro da comunicação política. É claro que a construção do candidato é medida pelas pesquisas qualitativas e quantitativas, como já foi explicitado nas páginas anteriores, porém, não será de caráter fundamental neste trabalho indicar qual é a mais importante, até porque, por suas diferenças, se completam. Brito, Campanharo e Rodrigues (2011) propõem que as pesquisas qualitativas nasceram na Antropologia e Sociologia, mas agora ganharam o campo de outras áreas como Psicologia, Administração etc. Neste tipo de pesquisa, os questionários e o entendimento buscado pelos pesquisadores é fundamentado na perspectiva dos participantes da pesquisa, ou seja, o estudo busca dialogar e compreender o mundo através da intepretação mútua entre pessoal e mundo. 47 Já a pesquisa quantitativa é natural da ciência exata, que se utiliza de estatísticas que visam quantificar os dados coletados. O conceito básico desta pesquisa é evitar as contradições e garantir a precisão dos resultados obtidos. BRITO, CAMPANHARO e RODRIGUES (2011). Existem ainda segmentos dentro de cada tipo, porém não serão explorados nesta breve explicação. Entendemos, assim como os autores acima, que para cada tipo de análise é necessário um tipo de pesquisa. Entendemos também que como o marketing político trabalha na complexidade da sociedade, buscando a identificação ideológica ou imagética e angariar votos, os tipos de pesquisas utilizados pelos profissionais se complementam para o melhor resultado do cliente (candidato político). Vale ressaltar também a crítica que Gomes (2007) faz sobre as técnicas de marketing no sistema político brasileiro, mas que podemos estudar também para o modelo americano, que é de onde estas raízes foram formadas. A autora supracitada comenta em seu trabalho “Os instrumentos do marketing político e eleitoral e a persuasão como elemento comum entre eles para a formação da opinião pública” que a preferência pela publicidade eleitoral, constatada no uso exacerbado de técnicas deste ramo, não contribui para o desenvolvimento cívico da sociedade brasileira. 3.3 Collor em 89: O caçador de Marajás A eleição de Fernando Collor de Mello foi um dos casos políticos mais inusitados de todos os tempos no Brasil. Apesar de ter vindo de uma família tradicional de políticos no Nordeste brasileiro, o candidato, vencedor em 89, a primeira eleição após o período de Ditadura Militar, não era grande conhecido do resto do país. Prado & Ramaldes complementam: Na primeira eleição direta para presidência depois da ditadura militar de 1964-1985, o enfrentamento deu-se entre Lula e Collor. Collor, de início desacreditado como candidato de um pequeno estado do Nordeste, ganhou o apoio popular como caçador de marajás e opositor da velha prática política, além do apoio da mídia e dos empresários. (PRADO & RAMALDES, 2008: 172). 48 Almeida (2013) também conclui “(...) a campanha eleitoral de 1989 é considerada com um marco da redemocratização brasileira. Profundamente marcada pela mobilização da sociedade civil (...)”. (ALMEIDA, 2013: 2) Segundo Miguel (1997), Collor apresentava um discurso mítico clássico, ele era o Salvador da Pátria dos cidadãos brasileiros. “(...) A alcunha de “caçador de marajás” concedia-lhe umaaura heroica”. (MIGUEL, 1997: 252). Na campanha de Collor, a imagem de Salvador da Pátria era absolutamente central. Era a grande ideia-força que mobilizava seus seguidores. Mais do que qualquer candidato das eleições presidenciais de 1994, Collor construiu sua imagem em torno de um mito, utilizando as técnicas publicitárias, mas evitando a diluição de conteúdo própria do discurso publicitário. (MIGUEL, 197: 252). Novamente remetendo a Prado & Ramaldes (2008), Collor representava o candidato adequado, com berço, preparo e força. “(...) Collor em geral assumirá um ar de guerreiro, de transformador que encara o jogo pesado da política”. (PRADO & RAMALDES, 2008: 170). Como já sabemos, as pesquisas quali-quantitativas exercem uma função determinante na análise da imagem e do programa de governo dos candidatos. Estas pesquisas também foram fundamentais nas eleições de Collor em 89, de acordo com IstoÉ (apud PRADO & RAMALDES, 2008, p. 172), a sua imagem de “caçador de marajás” foi fundamental para o crescimento nas pesquisas de opinião. Almeida (2013) nos apresenta que em relação ao conteúdo criado pelos marqueteiros para os programas eleitorais, eles foram muito livres. A legislação eleitoral que regulamentou as eleições de 1989, se comparada às eleições posteriores, foi objeto de pouco controle. Os consultores de marketing político não tiveram suas liberdade e criatividade cerceadas por rigores jurídicos. (ALMEIDA, 2013: 3). Outro ponto também muito relevante na discussão do sucesso eleitoral de Collor foi apresentado por Singer (1994, apud ALMEIDA, 2013, p. 6), que o candidato do PRN (Partido da Reconstrução Nacional) conseguiu utilizar seu tempo de propaganda no horário nobre da televisão. Collor ocupou o espaço do Partido da Juventude (depois se tornou o PRN); o tempo do PTR (Partido Trabalhista Renovador) e do PSC (Partido Social Cristão). Assumindo, então, a liderança nas intenções de voto. Além das táticas de marketing, liberadas sem muita restrição, e também do espaço obtido para suas falas no HGPE, Collor teve ajuda da opinião pública, como as revistas semanais Veja e IstoÉ. 49 O olhar do jornalista para o corpo de Collor salienta os fios invisíveis de cabelo a dar um toque elegante e de elite à figura do ex-governador de Alagoas: a referência ao aquilino e à plenitude capilar sugere a força de um estrategista. Entretanto, as referências ao corpo de Collor são breves e delicadas. Em geral, a reportagem detém-se em descrição das posturas de diversas correntes políticas, pró e contra Collor, com os devidos argumentos. A performance eleitoral do candidato do PRN tem continuidade na edição de 7/6/89 de IstoÉ, não só porque “Collor disparou”, mas também porque se a eleição ocorresse naquele momento, “estaria transformada em um show de uma só estrela e na confusa agitação de alguns figurantes”. O texto passa da ironia à exaltação explícita. (PRADO & RAMALDES, 2008: 175). Ressaltando ainda a ajuda que Collor teve na disputa política em 89, temos o caso do debate entre os candidatos na Rede Globo, em que na edição do Jornal Nacional, um dia depois, a edição da matéria sobre o debate foi totalmente favorável a Collor. Como se não fosse o suficiente, o próprio debate teve manipulações, como revela a matéria da Super Interessante (2014), de que os produtores da Globo conseguiram deixar a imagem do Collor um pouco mais suada na câmera com glicerina que foi passada no rosto do candidato, dando um aspecto mais povo, já que a disputa era contra Lula. Com ajuda ou sem ajuda, Collor trouxe em sua campanha uma estratégia de reconhecimento do seu eu-político para uma esfera nacional, ao mesmo tempo em que lutava contra as políticas tradicionais do Brasil. Colocando a crise moral como o principal motivo da crise brasileira e erguendo a bandeira do que já falamos aqui “Salvador da Pátria”, ele conquistou eleitores de todas as classes sociais. Para Almeida (2013) “(...) o processo de construção de sua imagem plasmou a ideia de que o projeto de reconstrução nacional estaria para além dos conflitos entre as classes sociais”. (ALMEIDA, 2013: 9) A eleição de Collor foi fortemente inesperada pela quebra de ciclo entre o PMDB e o PFL na política brasileira, que deixou uma herança para os estudos de comunicação política. A partir da eleição de Collor, segundo Figueiredo et al (1997: 3) “(...) começou-se a prestar mais atenção em três aspectos: o desempenho performático do candidato vitorioso, a interveniência dos programas eleitorais na formação da intenção de voto e a interferência da mídia no processo eleitoral”. Guarnieri & Limongi (2014) dissertam ainda que este resultado foi fruto de um pessimismo muito grande que acompanhava a redemocratização do Brasil. Para os 50 autores, Collor foi caracterizado como um outsider, 9 e sua vitória não foi produto de estruturas partidárias. “(...) O carisma e a liderança pessoal teriam sobrepujado os partidos. A polarização que marcou o segundo turno só contribuiu para isso”. GUARNIERI & LIMONGI (2014). A sucessão de Fernando Collor de Mello da presidência deu início também à polarização das campanhas políticas, que desde 1994 traz PT (Partido dos Trabalhadores) e PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) na disputa bipartidária ao cargo máximo do executivo. Guarnieri & Limongi (2014) acrescentam: A eleição de 1994 inaugurou o padrão de competição com que convivemos até o momento. As eleições passaram a ser fundamentalmente bipartidárias. E não surpreende que seja assim. É o esperado, uma consequência da lei de Duverger 10 , segundo a qual eleições majoritárias tendem a ser controladas por dois partidos. Como muitos votos são esterilizados ou perdidos, eleitores adotam o "voto útil", isto é, evitam desperdiçar seus votos em candidaturas destinadas à derrota, convergindo para os dois principais contendores. Antecipando que isso vai ocorrer, políticos coordenam suas ações e formam coligações. Partidos que antecipam sua derrota e/ou que calculam que sua presença favorecerá seus principais inimigos se afastam da disputa ou se juntam a candidaturas menos perigosas. (GUARNIERE & LIMONGI, 2014). Deste modo, seguiremos no próximo capítulo a análise da construção das imagens dentro dos programas eleitorais escolhidos das eleições presidenciais do ano de 2014 que contaram com a polarização política e com o bipartidarismo entre os candidatos do PT Dilma Rousseff, e Aécio Neves, do PSDB. 9 Outsider pode ser entendido como um forasteiro, alguém que não se encaixa no tradicional e vem quebrar este paradigma. Ver Miguel (2003). 10 Maurice Duverger publicou em 1951 o livro Les partis politiques em que apresenta a Lei de Duverger – eleições majoritárias têm a tendência em serem bipartidárias. Ver Guarnieri (2015). 51 4. Dilma e Aécio nas eleições de 2014 As eleições de 2014 foram marcadas pelo bipartidarismo e pela polarização política dentro das famílias, redes sociais, grupos de amigos etc. Desde a redemocratização no final dos anos 1980, nenhuma eleição havia ganhado ares tão competitivos. A conjuntura política de 2014 foi muito simbólica para o país. Até hoje, 2016, ano do impeachment da presidente eleita na ocasião, o resultado final das eleições de 2014 é motivo para conversas em bares, universidades etc. Em razão disso, o presente trabalho utiliza como metodologia a análise de conteúdo, e procura entender os aspectos ocultos e manifestos quanto à comunicação dos candidatos dentro do Horário Gratuito PolíticoEleitoral, buscando, assim, compreender o sentido dos enunciados e do significado das mensagens. Os políticos que marcaram este bipartidarismo já enraizado na política brasileira foram Aécio e Dilma – o filho e herdeiro político de uma família tradicional na história política brasileira e a outra, uma mulher que ganhou espaço com punhos firmes e sua luta revolucionária nos anos da ditadura militar, depois ao fazer parte dos governos exitosos de seu padrinho político Luís Inácio Lula da Silva. Os dois candidatos concorreram pelos dois partidos que há anos disputam a corrida eleitoral: PSDB e PT, uma corrida que, em muitos casos, se dava empatada segundo Data Folha e IBOPE. O resultado da eleição só foi confirmado poucas horas antes do final da apuração e foi esperado como uma final de Copa do Mundo pelas cúpulas dos partidos concorrentes. Outro ponto também que gostaríamos de destacar foi o gasto com publicidade dos dois candidatos. O maior da história brasileira. Como vimos, o marketing político vem sendo fundamental dentro das estratégias políticas e, cada vez mais, se cobra caro por isso. Por isso, este trabalho está baseado, quanto à metodologia, em uma análise de conteúdo, como já explicitado, pois nós estabelecemos um método que procura esmiuçar os aspectos manifestos e ocultos quanto à comunicação dos políticos dentro do HGPE. A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa utilizada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas e ajudando a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de 52 uma leitura comum. Aqui remetendo a Olabuenaga e Ispizúa (1989), a análise de conteúdo se constitui em uma técnica para ler e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos, que se analisados adequadamente abrem caminhos ao conhecimento de aspectos e de fenômenos da vida social de outro modo seriam inacessíveis. E quanto à pesquisa das fontes, nossos fundamentos básicos são a pesquisa bibliográfica e documental. 4.1 Dilma: a mulher da luta A construção da imagem de Dilma Vana Rousseff, que foi militante política nos anos da ditadura militar e, mais tarde, ingressou em cargos públicos no Rio Grande do Sul e filou-se ao PDT, fundado por Leonel Brizola, fixa-se no perfil de uma administradora correta, com punhos firmes e uma trajetória de luta. Podemos ver em sua biografia, publicada no Portal UOL (2013), que Dilma participou da transição do governo de FHC e Lula, pela equipe de Infraestrutura do governo do PSDB e tornou-se membro do grupo responsável pelo programa de Energia do governo petista. Durante os anos de governo de Lula, foi ministra da pasta Minas e Energia de 2003 e 2005, e Ministra-Chefe da Casa Civil de 2005 a 2010, deixando o cargo para concorrer à presidência do Brasil naquele mesmo ano. Dilma foi eleita com 56,06% dos votos válidos, derrotando na ocasião José Serra, e se tornando a primeira mulher presidente do Brasil. Com esse breve resumo, podemos entender como o marketing político pode ser usado. Dilma, com seu histórico de luta, bravura e a trajetória política de cargos importantes, o feito de se tornar a primeira mulher a gerenciar o país, possibilitou ao marketing para a sua candidatura em 2014 produzir conteúdo que pudesse alavancar esta imagem da candidata. 4.2 O mineiro e o político de raiz Se Dilma teve como padrinho político para sua primeira candidatura Lula, Aécio Neves da Cunha teve em sua família um grande influenciador, especificamente seu avô Tancredo Neves, eleito presidente nas Diretas Já, mas que faleceu antes da posse. 53 Segundo biografia publicada no site Aécio Neves Oficial (2016), Aécio Neves foi eleito deputado federal constituinte um ano após a morte do avô, eleito governador duas vezes no primeiro turno em Minas Gerais com a maior taxa de aprovação entre os governadores. Em 2010, Aécio foi eleito Senador pelo PSDB. Aécio Neves se jogou na política muito cedo e disputou vários cargos. Por outro lado, se formos estabelecer aqui um paralelo com Dilma, apesar de ter comandado ministérios, até então, nunca tinha exercido função “política” propriamente. Veremos mais à frente, a estrutura de construção destas personalidades para a corrida eleitoral de 2014. As diferenças entre os discursos de governo serão óbvias, porém, quando se trata da pessoa e não do projeto podemos compreender uma semelhança em exibir o histórico de êxito destes políticos em outras épocas. 4.3 Eleições 2014 Como já dissemos, as eleições de 2014 marcaram, especificamente para o cargo de Presidente, a disputa mais acirrada desde a redemocratização. O bipartidarismo de PT e PSDB e o embate entre os dois mineiros foi pauta para boas discussões. Porém, a disputa para a presidência teve 11 candidatos: Dilma Rouseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (PSB), Luciana Genro (PSOL), Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV), Levy Fidelix (PRTB), Zé Maria (PSTU), Eymael (PSDC), Mauro Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO), Folha de São Paulo (2014). Dilma, Aécio e Marina, juntos, tiveram 96,46% dos votos válidos, quando se exclui os brancos e nulos. Os outros candidatos somados chegaram a 3, 54%. Segundo dados da Folha de São Paulo (2014), Dilma e Aécio Neves declararam somados 520 milhões de reais de arrecadação, porém os gastos ultrapassaram esses valores. A Folha de São Paulo (2014) ressalta “em ambas as campanhas os maiores gastos foram os referentes a marketing, comunicação e deslocamentos”. Com isso, podemos entender a importância da comunicação e do marketing dentro das campanhas. O uso exacerbado dos recursos para que a melhor foto, o melhor discurso e que o eleitor se sinta convencido se faz nesses tempos de política. Seguiremos, agora, para a análise dos dois candidatos em dois vídeos de cada um no primeiro turno e dois vídeos de cada um no segundo turno. 54 Para analisar as imagens e a estrutura de comunicação realizada pelas equipes dos candidatos, o presente trabalho se baseia na análise feita pelos pesquisadores Barreras, Luz e Weber (2014) e também da autora Nogueira (2014). De acordo com os três pesquisadores, as campanhas políticas podem ser analisadas a partir da seguinte estrutura: pela síntese política (grifo nosso) que sustenta a campanha, como história do partido, interesses políticos etc; pela síntese pessoal (grifo nosso) que é relacionada a todos os aspectos do candidato, como a trajetória do candidato, aparência física e seu discurso; e pela síntese comunicacional (grifo nosso), a campanha propriamente dita, com jingles, slogans, textos, cores, vídeos, depoimentos que possam enquadrar o projeto político nas estratégias. Com estas três sínteses, nós já poderíamos montar uma estrutura de comparação entre os candidatos na eleição aqui estudada, mas ao analisarmos os materiais relacionados ao marketing político, optamos por adicionarmos um item que Nogueira (2014) menciona em seu artigo O poder da propaganda política eleitoral sobre a opinião pública, no Portal Conteúdo Jurídico. O item que destacamos no artigo de Nogueira e colocamos em nossa análise é o uso da autoridade, ou seja, para se legitimar como candidato, o político ele usa terceiros que têm certa importância dentro do meio público (autoridade) para confirmar sua candidatura ao cargo pretendido. Estes terceiros podem ser artistas, atores, e até outros políticos que o público tem identificação. Segue, a partir de agora, a análise dos vídeos eleitorais 11 do primeiroturno. 4.3.1 O primeiro turno No início da corrida eleitoral, os candidatos mais pretendidos pela população eram Dilma, 38%, Aécio 23% e Eduardo Campos, 9%, segundo matéria publicada no G1 (2014). Porém, a corrida teve uma reviravolta logo no começo com a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo e com a entrada de Marina Silva como candidata do PSB. Após esta entrada de Marina, a candidata do PSB passou a frente de Aécio até quase o final da propaganda eleitoral do primeiro turno. 11 Os vídeos foram retirados do Youtube. Site de exibição de vídeos que os canais dos candidatos postaram os programas durante a corrida eleitoral. 55 Ao analisarmos a propaganda eleitoral de Aécio no primeiro turno, podemos ver que o candidato mineiro usa muito a mudança como uma ação que é necessária. Em seu primeiro programa eleitoral, Aécio começa entrando na casa dos brasileiros com um discurso feito em estúdio que, na propaganda, aparece nas televisões, dispositivos móveis e nos rádios dos eleitores. Aécio usa o tom emocional, logo de início, ao falar sobre sua relação com Eduardo Campos, que se conheceram na luta pelas Diretas Já!, acompanhando seus padrinhos políticos Miguel Arraes e Tancredo Neves. Figura 3: Aécio propaganda eleitoral primeiro programa Aécio 12 também realiza um discurso sobre os problemas que o Brasil começava a enfrentar em 2014 e que se estendem até hoje: inflação, alta no desemprego, recessão econômica etc. Com isso, ele se apresenta ao público e convida todos para um novo jeito de governar com o breve jingle “Bem-vindo” em que portas se abrem, e pessoas comuns (atores) abrem suas portas para um novo Brasil. 12 Canal de Aécio Neves. In: https://www.youtube.com/channel/UC6eJKfD2VUUPBLuY5j-tfnw. 56 Figura 4: Aécio culpa o governo atual pelos problemas do país. Já Dilma inicia sua campanha dentro do HGPE com a imagem de um olho se abrindo para as conquistas dos últimos anos, os investimentos, a geração de emprego e como o Brasil conseguiu se manter forte durante a crise que afetou o mundo após 2008. Figura 5: Olhos se abrindo para o Brasil de Dilma. No desenvolvimento do primeiro programa 13 , o foco é na mulher Dilma, como uma mulher dona de casa, mesmo estando no Planalto, ela consegue tempo para ler, para cozinhar, para caminhar. Usa o tom emocional ao falar da família da presidente, que mora longe. O slogan do primeiro programa ajuda a remeter à mulher forte que o Brasil conheceu nesses quatro anos “Dilma Coração Valente” lembra a biografia de luta da candidata, e apresenta também o jingle que reforça mais ainda a ideia do coração valente. 13 Canal de Dilma Rousseff. In: https://www.youtube.com/channel/UCNPBHPsVGXsoKclEkXmtOLw. 57 Figura 6: Dilma como a dona de casa. Dilma usa também nesse programa Lula para falar um pouco sobre a relação dele com Eduardo Campos. Este por sua vez, faz questão de lembrar uma frase dita por Eduardo em uma entrevista: “Nunca devemos desistir do Brasil”. Figura 7: Lula falando sobre Eduardo Campos. Já no último programa eleitoral de Aécio, o candidato inicia com imagens da sua cidade natal, São João Del Rei/MG. Ele ao lado de sua família, mulher, mãe e filhos, discursa agradecendo aos eleitores que ficaram juntos nesse tempo de propaganda. Ele também faz promessas de um Brasil crescendo e se ajustando com sua vitória. 58 Figura 8: Aécio com sua família. Na continuação do seu tempo, Aécio faz um discurso sobre como e o quanto ele quer ser o Presidente da República, diz que se preparou muito durante esses 30 anos que tinha de vida pública/política. Ao final do discurso, ele, em um tom ainda mais emocional, fala sobre seu avô Tancredo Neves, ilustre político brasileiro, em que se espelha e lembra que quer governar com o mesmo amor que o avô tinha pelo Brasil. Figura 9: Discurso de Aécio sobre como ele quer o cargo de Presidente. Ainda temos no programa as pesquisas de opinião publicadas na última semana de propaganda, em que Aécio estava subindo nas mesmas e sua adversária direta, Marina Silva, caía cada vez mais. Ainda é exibido o jingle da campanha, que tem o tom de mudança e chama o país inteiro para esta mudança. 59 Figura 10: Pesquisa aponta Aécio encostando em Marina no primeiro turno O programa encerra com uma locução em off “Aécio o voto útil para vencer o PT”, com o número, a identidade visual do candidato. Figura 11: Slogan do último programa do primeiro turno Dilma abre o último programa eleitoral do primeiro turno com um discurso pedindo a confiança dos eleitores, afirmando que seu governo se baseia no slogan “Governo novo ideias novas”. Então, começa um clipe com atores cantando o slogan e apresentando as propostas estruturadas nesse lema. 60 Figura 12: Propostas do governo atreladas ao slogan. Depois, Dilma apresenta seus projetos durantes os primeiros quatro anos de mandato. Lula pede um voto de confiança para Dilma, explicando que ele foi bem melhor no seu segundo mandato e que Dilma também será. Dilma ainda expressa que só ela pode dar continuidade ao desenvolvimento do Brasil, que a oposição não tem projetos concretos e inovadores e sim melhorias para os projetos criados pelo PT. Com isso, afirma que ela é a candidata ideal para dar mais crescimento ao país. É exibida ainda uma conversa entre Lula e Dilma em um jardim, em que eles falam sobre a oposição, sobre como o plano de governo dela é melhor etc. Figura 13: Conversa entre Dilma e Lula. Ao encerrar seu tempo, é usada, uma locução sobre as mudanças que aconteceram na vida das pessoas e o desenvolvimento do Brasil durante os governos PT e Dilma, com o uso de imagens das grandiosas obras em atividade. 61 Figura 14: Desenvolvimento do Brasil em grandes obras. Ao analisarmos os dois vídeos de Aécio Neves durante o primeiro turno, conseguimos constatar a síntese pessoal e comunicacional muito bem definidas. As intercalações de seus discursos, que convidam o povo para mudar o Brasil, em que o candidato se apresenta para o povo são estruturadas para ser emocional. O enquadramento é muitas vezes focalizado nos olhos grandes e fixos do político, tentando atrair os eleitores para a veracidade das informações. Como oposição, a síntese política se dá conforme o manual, criticando a situação do país com o atual governo, o desemprego, a inflação subindo. A oposição que quer a mudança. Com Dilma temos algumas diferenças, mas nem tantas. A síntese política pode ser considerada tradicional, o governo que quer permanecer no poder e autointitulado como o único que pode dar continuidade ao desenvolvimento que o Brasil vem passando. A síntese pessoal recai sobre a mulher Dilma, que não precisa mais apresentar sua biografia, pois o Brasil já a conhece, mas sim, uma política humana, “uma como todos nós”. Dilma usa bem o artifício de mostrar as mudanças sociais do país durante os anos do PT e a imagem de Lula para sustentar sua candidatura. Lula é usado para legitimar o ser político da candidata com a autoridade que tem perante os eleitores. A votação de 5/10/2014, o primeiro turno, foi vencida por Dilma com 41, 59% dos votos válidos, seguida de Aécio Neves com 33, 55% e Marina com 21, 32%. Dilma venceu em 15 estados e somou mais de 41 milhões de votos, logoatrás veio o candidato do PSDB, que ganhou em 9 estados mais o Distrito Federal, somando mais de 34 milhões de votos. Marina venceu em dois estados e ficou com mais de 22 milhões de votos. Folha de São Paulo (2014). 62 4.3.2 O segundo turno O primeiro programa de Aécio no segundo turno começa com um apresentador falando sobre os feitos de Tancredo Neves na época das Diretas Já! E, com isso, compara que, naquela época, Tancredo lutou muito até que o povo unido viesse junto para a mudança e que, coincidentemente, 30 anos depois, era a vez de outro mineiro, neto de Tancredo, unir o povo para mais uma mudança no país. Figura 15: Apresentador falando sobre Tancredo Neves. Aécio usa seu discurso para agradecer ao povo que votou não nele, mas sim, na mudança. E pede, desde o início, o voto daqueles que anularam ou votaram em branco para que a mudança se concretize. Também é exibido um clipe com uma minibiografia do candidato ao lado do avô para reforçar sua imagem e sua luta. Figura 16: Aécio Neves e sua minibiografia. O programa também mostra o encontro nacional do PSDB com outros partidos, de candidatos derrotados como Pastor Everaldo do PSC e Eduardo Jorge do PV, 63 pequena fala do Pastor Everaldo. O Encontro Nacional do PSB também é exibido com a manifestação de apoio a Aécio. Figura 17: Encontro para a manifestação das alianças de Aécio no segundo turno. Os apresentadores também comparam a gestão Aécio em Minas com a gestão Dilma na presidência. O corte de salários que Aécio realizou no Estado em contraposição ao aumento de ministérios de Dilma. Figura 18: Comparação entre a gestão dos governos Dilma e Aécio. Para encerrar seu primeiro programa, é apresentada a primeira pesquisa para o segundo turno feita pelo Instituto Paraná Pesquisa em que o mineiro estava com 56% dos votos válidos naquela data. 64 Figura 19: Pesquisa de opinião aponta Aécio como vencedor da eleição caso a votação fosse naquele dia. Ao contrário de Aécio, no primeiro programa de Dilma, a apresentadora diz que Dilma venceu o primeiro turno em mais de 15 estados, e não só isso, a maioria da sua base aliada foi eleita para o Senado e Câmara dos Deputados. Figura 20: Apresentadora fala que Dilma venceu o primeiro turno. Outro apresentador do programa eleitoral de Dilma também critica o ex- presidente Fernando Henrique Cardoso por uma frase que ele disse em uma entrevista em que acusa os eleitores do PT de serem ignorantes. O apresentador fala que FHC representa o jeito tucano de governar e o desrespeito aos mais humildes. Com isso, ele mostra algumas reportagens da época do governo FHC (PSDB) em que o Brasil era ranqueado como o segundo país do mundo com a maior taxa de desemprego e mostra, também, reportagens do governo Dilma com a taxa de desemprego em baixa, e que o Brasil com Dilma tirou 22 milhões de pessoas da miséria. 65 Figura 21: Apresentador critica FHC pela sua fala em uma entrevista que acusa os eleitores do PT de serem ignorantes. O programa também coloca pessoas que melhoraram de vida para falar sobre este tema, e um clipe com imagens de comícios, grandes obras e pessoas assistindo aos comícios enquanto um discurso de Dilma é ouvido na locução. Dilma também expõe suas propostas de governo baseadas no seu slogan “Governo novo ideias novas”. Figura 22: Cidadão que mudou de vida com os programas sociais do PT conta sua história. Para o seu último programa eleitoral, Aécio Neves usa na abertura imagens de seus comícios em todo o território brasileiro com eleitores cantando o hino nacional (música de fundo). Em seguida, o jingle especial para o programa, com várias celebridades, artistas, bandas cantando. Ele utiliza imagens dos cantores, centralizadas na tela, e passando embaixo celebridades e populares manifestando seu apoio. 66 Figura 23: Jingle de Aécio e celebridades que o apoiam junto com eleitores comuns. O apresentador divulga a pesquisa Istoé Sensus que mostra Aécio com 54,6% dos votos válidos. Logo depois, artistas como Ney Latorraca, a banda Tianastácia e Neymar apoiam o candidato. Marina Silva também tem um tempo dentro do programa para divulgar seu voto ao mineiro e diz que está com Aécio porque ele assumiu verdadeiros compromissos com a manutenção e ampliação das conquistas sociais. A esposa de Eduardo Campo também fala sobre o apoio do PSB e que Aécio representa um conjunto de forças e não só um partido. Figura 24: Apresentador divulga pesquisa de intenção de voto para o segundo turno. Aécio realiza um discurso, em tom emocional, agradecendo a todos que estiveram com ele durante a campanha. Novamente, diz que a mudança começa agora e que é preciso força para mudar, e que como há 30 anos, quando os brasileiros se uniram e gritaram junto com seu avô “Muda, Brasil!”, agora era a hora de gritar isso novamente e mudar. Durante todo o discurso, o som instrumental do hino nacional acompanhou o vídeo. O programa continua com atores cantando o hino nacional, representando o povo. 67 Figura 25: Aécio discursando sobre o “muda Brasil”, que aconteceu com seu avô, Tancredo Neves. O programa termina com a denúncia que a revista Veja iria mostrar em sua edição semanal, que foi antecipada para sexta-feira 24/10/2014, sobre o depoimento de Alberto Youssef na Polícia Federal, em que acusava Dilma e Lula de saberem sobre todo o esquema da Petrobrás, encerrando com a locução “no domingo você pode dar um basta a esses escândalos”. Figura 26: Imagem da capa e do conteúdo da denúncia da Veja. Já em seu último programa, a candidata do PT usa a revista Veja também, mas para criticar o mau jornalismo e a fantasiosa matéria. Na abertura do programa, o apresentador fala sobre o conteúdo da matéria e que Veja sempre quer atrapalhar a eleição dos candidatos do PT. Ele dá exemplos de outras edições em ano de eleição em que a revista publicou reportagens atacando o PT e seus candidatos. 68 Figura 27: Capas da Veja que acusam o PT em anos de eleição. Dilma também tem um tempo para discursar sobre a revista, ela se defende e ataca o veículo dizendo que a empresa jornalística terá sua resposta na justiça e o povo dará a resposta nas urnas. Pode-se notar aqui o uso de Dilma de uma roupa clara que representa a paz, serenidade, ou seja, apesar das acusações, Dilma está aberta ao diálogo. Para ela, a justiça será feita. Figura 28: Dilma critica a revista Veja pela acusação. Vestida de branco para simbolizar a serenidade de quem não teme. O programa se encarrega muito tempo de dar resposta à publicação da Veja, usa três apresentadores, além do discurso de Dilma para também contra-atacar a revista. Após o “direito de resposta”, o programa apresenta clipes de comícios de Dilma, discursos em off com imagens de eleitores emocionados assistindo. Frases como “Eu não fui eleita e nunca serei eleita para desempregar” ou “Eu nunca vou fazer o Brasil se curvar para quem quer que seja” dão o tom emocional, auxiliado por falas de Lula (o homem do PT). 69 Figura 29: Imagem de Dilma em discurso, falando sobre como ela sempre irá governar para o povo. O jingle apresentado no último programa tem um remix com diversos estilos musicais: funk, rap, samba, mpb etc. Vários artistas também aparecem para legitimar o apoio à candidata. Durante o jingle, são exibidos mini vídeos com eleitores, eles mesmos criaram e compartilharam, dando uma sensação deinteração. Figura 30: Interação dos eleitores e simpatizantes durante o jingle do último programa. O tempo de Dilma é encerrado com um discurso em off dela própria falando sobre seu amor pelo Brasil, sua luta, e força durante as batalhas que teve, ditadura, câncer e que sempre saiu vitoriosa. Tudo isso com imagens de comícios e do povo aplaudindo, cantando, pulando junto dela. Ela encerra com “Dou minha alma ao Brasil”. 70 Figura 31: Locução de Dilma em off enquanto passam imagens de comícios. Durante o segundo turno, a síntese política de Aécio continuou tradicional, como a do partido opositor. Contudo, ele conseguiu a apoio de outros partidos que disputaram a eleição, como o PSC e o PV e o mais concorrido que foi o PSB de Eduardo Campos e Marina Silva. A síntese pessoal ficou a cargo de sua minibiografia e também das comparações de gestão de seu governo em Minas com o de Dilma. A síntese comunicacional foi desenvolvida com a emoção em seus discursos, a inserção constante do tema “mudança” em jingles e discursos. Aécio usou, no segundo turno muito, o nome do avô Tancredo Neves, como um sucessor das ideias do avô, um político que aspira realizar os sonhos dos brasileiros, assim como Tancredo. O candidato também adotou muito o tom patriótico, o uso das cores da bandeira nacional, do hino nacional se fizeram presentes também. Os jingles em axé e sertanejo, utilizados nos programas, ajudaram no sentido de pluralidade que o candidato almejava. Já a candidata Dilma, em seus programas eleitorais, utilizou do artifício de mostrar como o Brasil mudou nesses anos. Sua síntese comunicacional se deu com imagens de comícios muito emocionais, falas emocionadas de Lula e dela própria. O uso de pessoas comuns que mudaram de vida para dar depoimentos também auxiliou no que a candidata quis passar durante seu tempo no HGPE. Em todo o período de comunicação, foi usada a diversidade, tanto nos apresentadores, quando nas músicas e cantores para os jingles. Uma marca da esquerda. A síntese política se deu pela crítica ao ex-presidente FHC (o homem do PSDB) e também pela defesa no último programa da acusação da revista Veja. Podemos expor aqui também a representatividade do PT, durante os programas, a cor que mais chamava a atenção era o vermelho do partido. Dilma usou, em algumas ocasiões, Lula e o jogo de cores da identidade visual também foi sempre o vermelho. Na síntese pessoal ela buscou reforçar a identidade de mulher 71 com raça e força que não tem medo de ninguém e que não abaixa a cabeça para as adversidades. A votação do dia 26/10/2016 deu a vitória para a candidata do PT com uma diferença de pouco menos de 3 milhões e meio de vantagem para Dilma. A candidata reeleita recebeu mais de 54 milhões de votos, o que correspondeu a 51, 64% de votos válidos, enquanto Aécio Neves teve pouco mais de 51 milhões de votos, ficando com 48, 36% dos votos válidos, segundo reportagem da Folha de São Paulo (2014). Dilma Rouseff venceu em 15 estados e Aécio Neves em 12. A candidata venceu na maioria dos estados do Norte, empatou no Sudeste, mas ganhando em Minas Gerais, importante estado por conta de densidade demográfica e venceu em todos os estados do Nordeste. O PT, como representatividade de esquerda, venceu nos seus estados chave, o que contribuiu para a vitória apertada. O candidato mineiro perdeu no Norte, no Nordeste recebeu uma lavada com a derrota em todos os estados, empatou no Sudeste, perdendo em Minas, que era seu carro chefe. Contudo, ganhou em todos os estados do Centro-Oeste e no Distrito Federal e também no Sul. Porém, a densidade demográfica era menor o que não foi suficiente para que ele superasse Dilma no segundo turno. 72 5. CONCLUSÃO Com o presente estudo, podemos inferir que muito do que pensávamos a respeito do modo de se fazer política no Brasil, com os preciosos empréstimos dos autores aos quais recorremos, se mostraram verdadeiros. O político é uma caricatura trabalhada pela mídia e pelos seus marqueteiros e também pela sua própria identidade, que direciona seus pontos fortes ao público e seus pontos fracos ao ataque dos adversários, apresentando incompetências, incoerências. Entendemos, desse modo, especialmente no caso da eleição de 2014, que o Brasil viveu a polarização claramente definida pelos projetos de governo e pela identificação pessoal de cada candidato. Dilma e Aécio disputaram voto a voto a preferência do eleitor indeciso, pois suas identidades, não só pessoais, mas partidárias, já estavam preestabelecidas - Sul de Aécio e Norte e Nordeste de Dilma. Ao confirmarmos a tese de Gomes (2004), de que o Brasil vota passionalmente, ainda pudemos identificar o que Torquato (2006) identifica como sendo o marketing político, em outras palavras, a arte, a técnica que se abastece do clima, das circunstâncias, um espelho capaz de projetar a imagem da cultura política. Ou seja, o Brasil em 2014 era o reflexo mais do que altamente exposto do bipartidarismo que persegue as eleições presidenciais desde FHC, como já observamos no presente trabalho, e também como aqui analisamos, o jogo de emotividade escolhido por ambos os candidatos para conquistar os eleitores indecisos. Analisamos, ainda, neste estudo, que nenhum dos candidatos deixou de exercer o seu já atribuído papel de situação e oposição. Dilma sempre colocava em seu discurso o tom de que a mudança necessitava da sua continuidade, pois só quem já estava lá, no poder, conseguiria ter a sabedoria e eficácia necessárias para o desenvolvimento do Brasil. Aécio, por sua vez, como oposição que era, usava de todos os artifícios para mostrar que o país não deveria estar naquelas condições e tudo poderia piorar ainda mais. Ao compararmos os programas eleitorais dos dois candidatos, fica claro que ambos usaram um modelo tradicional. Não existiu uma grande novidade dentro do HGPE de nenhum dos dois e até mesmo o desenvolvimento dos programas foi bem 73 parecido. O que realmente se destaca neste comparativo são as formas de usar as “imagens- símbolos”. Aécio usou e abusou do tom de patriotismo ao resgatar a vontade de mudança, enquanto Dilma reforçava a ideia de que o PT chegou aos mais pobres, e realizou sonhos básicos da maioria dos brasileiros: universidade, casa, saúde, entre outros. Aqui, o autor se permite uma indagação: será que o PT teria chegado efetivamente aos mais pobres? Como também destacamos no início deste estudo, ocorreu, muitas vezes, nas campanhas eleitorais, o apelo às histórias pessoais que cativam o público, e os dois candidatos usaram deste recurso. Porém, de forma diferente. Aécio quis se mostrar para os brasileiros que ainda não o conheciam. Governador e Senador por Minas, Aécio nunca antes havia necessitado de votos de outros estados. Por isso, a necessidade de divulgar sua biografia política atrelada ao seu avô Tancredo Neves. Como vimos nas páginas anteriores, é o que chamamos de político de raiz, ou seja, foi criado no meio e subindo de cargo aos poucos, se lançando dentro da política. Dilma era conhecida por todos no Brasil, não pela sua trajetória política, mas por já ser a presidente do país e ter anteriormente (eleições de 2010) feito sua divulgação nos moldes em que Aécio realizava na presente eleição. Ela agora buscava a reeleição e, então, sua trajetória - como já havia sido explorada anteriormente - precisava de outra “pegada”. O slogan “Coração Valente” deixou este fato nítido ao abusar diversas vezes da divulgação em locução de Dilma e de locutores de seu passado de luta.Dilma era e sempre será a guerreira e também a mãe, a dona de casa do Brasil. Acredito que o presente trabalho conseguiu, até certo ponto, explorar os conceitos do marketing e clarear de alguma forma o quê, como e porque as técnicas de marketing são utilizadas dentro das eleições, especialmente em nível nacional: gastos exacerbados e equipes com profissionais altamente qualificados, para escolha de roupa, montagem de discursos, fotografia, entre outros. O jornalismo precisa compreender melhor este fenômeno que é o marketing em nossas eleições e como trabalhar com ele no efeito de que seu posicionamento pode ser conteúdo, como vimos no caso notório de marketing ocorrido nesta eleição - objeto de análise da presente monografia - foi o da revista Veja, que antecipou sua edição semanal para divulgar o suposto depoimento do doleiro Alberto Youssef para a Polícia Federal, que expunha a cumplicidade de Dilma e Lula na corrupção da Petrobrás. O jornalismo 74 como suposto quarto poder e o marketing político com suas estratégias acabam se cruzando, mesmo que este encontro não pareça ter lógica. Dilma e Aécio usaram de parte dos seus respectivos tempos no último programa eleitoral para darem exposição ao caso. Um positivamente, indicando que Lula e Dilma poderiam ser culpados, como foi o caso do programa de Aécio; e outro, usando o horário para se defender e ainda deslegitimar o conteúdo da reportagem, como foi o caso de Dilma. Podemos entender com tudo que até aqui foi apresentado que nada passa pelos olhos dos marqueteiros e, dentro do jogo político, especialmente no HGPE, imagem é tudo. O poder do HGPE é muito maior do que o que se pode medir, não só para angariar votos, mas sim para trabalhar em cada eleitor, especialmente nos mais indecisos, o desejo de fazer parte de um “governo”. Sempre com a meta de conquistar o eleitor passionalmente, pela empatia com a personificação do candidato. 75 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 6 Truques do Marketing Político. Disponível em: http://super.abril.com.br/comportamento/6-truques-do-marketing-politico > Acesso em 17 de junho de 2016. Consultado em 25 de maio de 2016. ALBUQUERQUE, Afonso e DIAS, Marcia. Propaganda política e a construção da imagem partidária no Brasil. In: Revista de Ciências Sociais. Volume 2, nº 2. Porto Alegre, 2002. ALDÉ, Alessandra e FIGUEIREDO, Marcus. Intenção de Voto e Propaganda Política: Efeitos e Gramáticas da Propaganda Eleitoral. Notas Para Um Debate. XII Encontro COMPÓS. Recife, 2003. ALMOND, Gabriel A.; POWELL JR., Bingham. Uma teoria de política comparada. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. ALMEIDA, Mônica. A trajetória de Fernando Collor ruma à presidência: estratégias eleitorais televisivas. XXVII Simpósio Nacional de História. Natal, RN – 2013. A longa história do marketing político. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/circo-da-noticia/a-longa-historia-do-marketing- politico/ . Acesso em 10 de junho de 2016. ARISTÓTELES. Arte retórica e Arte poética. Rio de Janeiro, Ediouro, 1981. BARRERAS, Sandra; LUZ, Ana e WEBER, Maria. Equação da política provisória: a propaganda eleitoral para governador do RS em 2014. XXIII COMPÓS. Belém, 2014. BERTANI, Karine. A política entra no ar: evolução e características do horário gratuito de propaganda eleitoral. In: Ciências Sociais em Perspectiva. 1º Sem. 2006. 76 Biografia. Disponível em: http://aecioneves.com.br/biografia/. Acesso em 15 de outubro de 2016. BORBA, Felipe. Razões para a escolha eleitoral: a influência da campanha política na decisão de voto em Lula durante as eleições presidenciais de 2002. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 2005 (Dissertação de Mestrado). BORBA, J. Cultura Política, ideologia e comportamento eleitoral. In: Opinião Pública. Vol. XI. Campinas, março, 2005. P. 147-168. BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão – a influência do jornalismo e os jogos olímpicos. Jorge Zahar Editor Ltda. Rio de Janeiro, 1997. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Bertrand Brasil S/A. Rio de Janeiro, 1989. BRANDEMBURG, Lidiane; KICH, Scheila; SANTOS, Aniele; ISER, Fabiana. Propaganda Eleitoral Gratuita e Sua Influência no Público Receptor. Seminário Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão. XIII Mostra de Iniciação Científica. VIII Mostra de Extensão. UNICRUZ, RS, 2010. BRASIL. Lei Nº 4.737/1965. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737.htm. Acesso em 5 de maio de 2016. BRASIL. Lei Nº 9.504/1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm. Acesso em 5 de maio de 2016. BRASIL. Lei Nº 13.165/2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13165.htm. Acesso em 6 de maio de 2016. BRITO, Flávia; CAMPANHARO, Wesley e RODRIGUES, Brunela. Pesquisa Qualitativa vs Quantitativa. In: http://files.wendelandrade.webnode.com.br/200000173- 9808299026/Pesquisa%20qualitativa%20versus%20quantitativa.trabalho.2011.1.doc. Acesso 20 de julho de 2016. 77 Campanha de Aécio deixa dívida de R$ 15 milhões para tucanos. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1552795-campanha-de-aecio-deixa- divida-de-r-15-milhoes-para-tucanos.shtml. Acesso em 2 de setembro de 2016. CARNEIRO, Leandro; KUSCHNIR, Karina e SCHMITT, Rogério. Estratégias de campanha no horário gratuito de propaganda eleitoral em eleições proporcionais. XXII ANPOCS. MG, 1998. CERVI, Emerson e MASSUCHIN, Michele. HGPE e a formação da opinião pública no Brasil: Análise das estratégias dos principais candidatos à presidência da república em 2010. IV Congresso Latino Americano de Opinião Pública da WAPOR. Belo Horizonte, 2011. CIOCCARI, Deysi. A Imagem Contemporânea e a Construção do Personagem Político nas Eleições Municipais Brasileiras de 2012. In: Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero. Volume 5, nº 2, 2013. São Paulo. COLLING, Leandro. O estado da “arte” dos estudos sobre mídia e eleições presidenciais de 1989 a 2002. XVI COMPÓS. Curitiba, 2007. Como funciona as eleições americanas. Disponível em: http://super.abril.com.br/comportamento/como-funcionam-as-eleicoes-americanas. Acesso em 15 de maio de 2016. Como funciona o Horário Eleitoral Gratuito. Disponível em: http://www.politize.com.br/leis/como-funciona-o-horario-eleitoral-gratuito/. Acesso em 5 de maio de 2016. Como funciona o sistema eleitoral brasileiro? Disponível em: http://www.ebc.com.br/noticias/politica/2013/07/como-funciona-o-sistema-eleitoral- brasileiro. Acesso em 10 de maio de 2016. Conferência 2014 encerra com chave de ouro. Disponível em: https://www.ayresbritto.com.br/tag/eleicao-popular-como-apice-da-democracia- representativa-festa/. Acesso em 24 de maio de 2016. 78 COUTINHO, Renata e SILVA, Fernando. Raízes Históricas da propagando no Brasil e no mundo. In: http://www.bocc.ubi.pt/pag/silva-coutinho-raizes-historicas- da-propaganda-no-brasil-e-no-mundo.pdf . Acesso em 3 de maio de 2016. DANTAS, Humberto. História do Horário Eleitoral Gratuito tem mais de 50 anos. Rádio Estadão. Disponível em: http://radio.estadao.com.br/audios/detalhe/radio- estadao,historia-do-horario-eleitoral-gratuito-tem-mais-de-50-anos,332512. Acesso em 10 de maio de 2016. DEBORD, Guy. Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. DIAS, Marcia. Saindo do armário: a intensificação da disputa político- ideológica no diálogo da campanha presidencial brasileira de 2014. VI Congresso COMPOLÍTICA.PUC-RIO, 2015. Dilma arrecada 69% a mais que em 2010. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1553377-dilma-arrecada-41-a-mais-que- em-2010.shtml. Acesso em 2 de setembro de 2016. Dilma é reeleita na disputa mais apertada da história; PT ganha 4º mandato. Disponível em: http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/10/26/dilma-cresce-na- reta-final-e-reeleita-e-emplaca-quarto-mandato-do-pt.htm. Acesso em 5 de março de 2016. Dilma tem 38%, Aécio, 23%, e Campos, 9%, diz pesquisa do Ibope. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/noticia/2014/08/dilma-tem-38-aecio-23- e-campos-9-diz-pesquisa-ibope.html. Acesso em 20 de outubro de 2016. Dilma Roussef. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/dilma- rousseff.htm >. Acesso em 10 de outubro de 2016. DOMENACH, Jean-Marie. A Propaganda Política. Difusão Europeia do Livro, 1963. DOWNS, ANTHONY. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: EDUSP: 1999. 79 Eleições 2014 apuração 1º turno. Disponível em: http://eleicoes.folha.uol.com.br/2014/1turno/presidente/br.shtml. Acesso em 21 de outubro de 2016. Eleições 2014 apuração 2º turno. Disponível em: http://eleicoes.folha.uol.com.br/2014/2turno/presidente/br.shtml. Acesso em 21 de outubro de 2016. Eleições 2014: confira as regras sobre o teor dos programas no horário eleitoral. Disponível em: http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2014/Agosto/eleicoes-2014- confira-as-regras-sobre-o-teor-de-programas-no-horario-eleitoral. Acesso em 15 de maio de 2016. ENDRES, Sharis; GEORGEVICH, Rodolfo; MENESES, Jéssica e MUSSI, Thales. A arte da persuasão política. Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2014. FIGUEIREDO, Marcus. A decisão do voto: democracia e racionalidade. 2ª Ed. Belo Horizonte: UFMG, 2008. FIGUEIREDO, Marcus et al. Estratégias de persuasão eleitoral: uma proposta metodológica para o estudo da propaganda política. In: Opinião Pública, Vol. IV. Nº 3. Campinas – SP. FIGUEIREDO, Rubens (org). Marketing Político e Persuasão Eleitoral. São Paulo, Fundação Konrad Adenauer, 2000. FOCAULT, Michel. A ordem do discurso. Pronunciamento na aula inaugural no College de France. Editora Gallimard. Paris, 1971. GODIM, Sônia; VEIGA, Luciana. A utilização de métodos qualitativos na ciência política e no marketing político. In: Opinião Pública. Vol. VII. Campinas, 2001. P. 1-15. GOMES, Neusa. Formar Persuasivas de Comunicação Política. Coleção Comunicação. 3ª edição. EDIPURGS. Porto Alegre, 2004. 80 GOMES, Neusa. Os instrumentos do marketing político e eleitoral e a persuasão como elemento comum entre eles para a formatação da opinião pública. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R0356- 1.pdf. Acesso em 20 de julho de 2016. GOMES, Wilson da Silva. Estratégica retórica e ética da argumentação na propaganda política. Organizado por BRAGA, J.L. BRASIL. COMUNICAÇÃO, CULTURA E POLÍTICA. RIO DE JANEIRO, 1994, p. 117-133. GUARNIERI, Fernando. Voto Estratégico e Coordenação Eleitoral. Testando a Lei de Duverger no Brasil. In: http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v30n89/0102-6909- rbcsoc-30-89-0077.pdf. Acesso em 22 de junho de 2016. GUARNIERI, Fernando; LIMONGI, Fernanda. A base e os partidos: As eleições presidenciais no Brasil pós-democratização. In: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002014000200005. Acesso em 22 de junho de 2016. HOLBROOK, T. Do Campaigns Matter? Thousand Oaks, Sage. 1996. IDEA. Concepção de Sistemas Eleitorais: Uma visão geral do Novo guia Internacional IDEA – Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral. International IDEA. Estolcomo – Suécia, 2005. Manual de Horário Eleitoral Gratuito. Disponível em: http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-pa-manual-de-horario-eleitoral. Acesso em 5 de maio de 2016. MENDONÇA, Duda. Casos e coisas. São Paulo: Globo, 2001. MIGUEL, Luis. Capital Político e Carreira Eleitoral: Algumas variáveis na eleição para o Congresso brasileiro. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n20/n20a10. Acesso em 22 de junho de 2016. MIGUEL, Luis. Influência e Resistência. Em busca de um modelo complexo da relação mídia/política. X Encontro COMPÓS. Brasília, 2001. 81 MIGUEL, Luis. Mito e discurso político. Dissertação (Doutorado em Ciência Sociais). UNICAMP, 1997. MOTTA, Juliana. Comportamento eleitoral e propaganda política. Principais conceitos e definições. Departamento de Ciências Sociais, UFP. Curitiba, PR, 2012 MUNIZ, Eloá. Marketing Político – conceitos e definições. Disponível em: http://www.eloamuniz.com.br/arquivos/1188170795.pdf. Acesso em 3 de abril de 2016. NÓBREGA, Iluskhanney. A construção da imagem do ator político na atualidade. Disponível em: http://www.insite.pro.br/2013/abril/atorpolitico_imagem_processodeconstrucao.pdf. Acesso em 20 de junho de 2015. NUNES, Márcia Cavallari. O papel das pesquisas, in: FIGUEIREDO, Rubens (org). Marketing Político e Persuasão Eleitoral. Ed. Konrad Adenauer, 2000. OLABUENAGA, J.I. R.; ISPIZUA, M.A. La descodificacion de la vida cotidiana: métodos de investigación cualitativa. Bilbao, Universidad de Deusto, 1989. OLIVEIRA, Luiz A. A disputa política na televisão. Uma análise das estratégias discursivas dos candidatos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1999. O poder da propaganda eleitoral sobre a opinião pública. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-poder-da-propaganda-politica-eleitoral- sobre-a-opiniao-publica,50608.html. Acesso em 20 de outubro de 2016. PINTO, Milton. Retórica e análise dos discursos. IX Encontro COMPÓS. Porto Alegre, 2000. PRADO, José; RAMALDES, Dalva. O Corpo do Poder: Estudo semiótico da figura de Lula na campanha presidencial de 89 nas revistas semanais Veja e Istoé. Brazilian Journalism Research. Vol. 1. Nº 1. 2008.2. 82 Propaganda eleitoral no Brasil é melhor que nos EUA, diz Soros. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,AA1297261-5601,00- PROPAGANDA+ELEITORAL+NO+BRASIL+E+MELHOR+QUE+NOS+EUA+DIZ +SOROS.html. Acesso em 17 de maio de 2016. ROCHA, Imar. Eficácia da propaganda eleitoral: propaganda antecipada e propaganda institucional. Disponível em: https://www.tre-sc.jus.br/site/resenha- eleitoral/edicoes-impressas/integra/2012/06/eficacia-da-propaganda-eleitoral- propaganda-antecipada-e-propaganda- institucional/indexc1c1.html?no_cache=1&cHash=848ccf2477b860d62ac6320a723aaf1 e. Acesso em 21 de maio de 2016. RUBIM, Antônio. Novas Eleições no Brasil Contemporâneo. IX Encontro COMPÓS, 2000. Saiba como é calculado o tempo de propaganda política gratuita na TV e no Rádio. Disponível em: http://www.ebc.com.br/noticias/eleicoes-2014/2014/07/saiba- como-e-calculado-o-tempo-de-propaganda-politica-gratuita-na-tv. Acesso em 10 de maio de 2016. SOUZA, E. A persuasão e a construção da autoimagem no discurso político- midiático. In: Revista Litteris. Nº 9. USP – São Paulo, março, 2012. TORQUATO, Gaudêncio. Prefácio. In: QUEIROZ, Adolpho (organizador). Na Arena do Marketing Político: ideologia e propaganda nas campanhas presidenciais brasileiras. São Paulo: Summus, 2006. VEIGA, Luciana. Em Busca de Razões para o Voto: o uso que o homem comum faz do Horário Eleitoral. Dissertação (Doutorado em Ciência Política). Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2001. 83 ANEXOS ANEXOA - Quadro comparativo dos programas eleitorais dos candidatos Programa Aécio Neves Dilma Roussef MUDA BRASIL COM A FORÇA DO POVO SLOGAN O voto útil para vencer o PT Coração Valente/ Governo novo ideias novas IMAGEM SÍMBOLO Aécio usou apelo nacional e patriótico pela mudança. Com imagens de eleitores cantando o hino nacional, seus familiares e outras celebridades dando apoio Dilma usa imagens de grandes obras em desenvolvimento no país, depoimentos de pessoas que melhoraram de vida e praças lotadas em seus comícios ABERTURA Aécio usa a abertura para manifestar o desejo de mudança. Agradece os eleitores sempre Dilma usa a abertura para mostrar os pontos positivos do seu governo. Sua vitória nas urnas no primeiro turno DESENVOLVIMENTO Usa sempre uma sequência bem parecida de programa. Discurso, clipes, discurso, fala de encerramento, pesquisa de opinião e número Usa sempre uma sequência parecida de programa intercalando discursos, clipes, e sempre disponibilizando espaço para fala de Lula APRESENTADORES Ao todo Aécio usa quatro apresentadores Dilma usa três apresentadores QUADROS Nenhum Nenhum CLIPES Clipes musicais, comícios com off Clipes musicais, locução e imagens de comício JINGLES Aécio usa dois jingles Dilma usa dois jingles CENAS DE ESTÚDIO Muitas, candidato e apresentadores Muitas, discurso dela, do Lula e apresentadores CENAS EXTERNAS Eleitores dando apoio Dilma conversando com Lula em um jardim ENCERRAMENTO Locução e com o número do candidato Locução e com o número da candidata