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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA PLENA EM LETRAS INGLÊS DIDÁTICA E PRÁTICA DOCENTE Antonia Alves Pereira Silva FUESPI 2014 S5861d Silva, Antonia Alves Pereira. Didática e prática docente / Antonia Alves Pereira Silva. – Teresina : FUESPI, 2014. 108 p. ISBN Material de apoio pedagógico ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Inglês do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD / UESPI, 2014. 1. Aprendizagem. 2. Procedimentos metodológicos - Ensino. 3. Relação Professor - Aluno. I. Título. CDD: 371.3 Ficha catalográfica elaborada por Nayla Kedma de Carvalho Santos (Bibliotecária da Universidade Estadual do Piauí – UESPI) CRB-3 1188 Presidente da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação José Henrique Paím Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Celso José da Costa Governador do Piauí Wilson Nunes Martins Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí Àtila de Freitas Lira Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Nouga Cardoso Batista Vice-reitora da FUESPI Bárbara Olímpia Ramos de Melo Pró-reitora de Ensino e Graduação – PREG Ailma do Nascimento Silva Coordenadora da UAB-FUESPI Margareth Torres de Alencar Costa Coordenadora Adjunto da UAB-FUESPI Naira Lopes Moura Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação – PROP Diógenes Buenos Aires de Carvalho Pró-reitor Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Luís Gonzaga Medeiros Figueredo Júnior Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Geraldo Eduardo da Luz Junior Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Benedito Ribeiro da Graça Neto Coordenador do curso de Licenciatura Plena em Letras Inglês – EAD Evaldino Canuto de Souza Edição UAB - FNDE - CAPES UESPI/NEAD Diretora do NEAD Margareth Torres de Alencar Costa Diretora Adjunto Naira Lopes Moura Coordenador do Curso de Licenciatura Plena em Letras – Inglês Evaldino Canuto de Souza Coordenadora de Tutoria Lucirene da Silva Carvalho Coordenadora de Produção de Material Didático Silvana Maria Pantoja dos Santos Autora do Livro Antonia Alves Pereira Silva MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/ FUESPI Revisão Teresinha de Jesus Ferreira Robson Carlos da Silva Diagramação Pedro Leonardo de Sousa Magalhães Capa Luiz Paulo de Araújo Freitas UAB/UESPI/NEAD Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail: eaduespi@hotmail.com SUMÁRIO UNIDADE 1 - CONCEITOS FUNDAMENTAIS: EDUCAÇÃO ESCOLAR ENSINO E DIDÁTICA ............................................................................. 07 1. Conceitos fundamentais: educação escolar ensino e didática .............09 1.1 Compreendendo o Conceito de Educação ........................................09 1.2 Pedagogia e Didática .........................................................................11 1.3 Contexto Histórico da Didática ...........................................................13 1.4 Objeto de Estudo da Didática: o Processo de Ensino ........................17 1.4.1 A Aprendizagem Escolar..................................................................17 1.4.1.1 Características da aprendizagem escolar ....................................18 1.4.1.2 O ensino .......................................................................................20 UNIDADE 2 - O LUGAR DA DIDÁTICA NA PRÁTICA DOCENTE . ......23 2. O lugar da didática na prática docente ................................................25 2.1 Processo escolar: o professor como agente de transformação social ....25 2.2 As dimensões da Didática na prática docente ...................................29 2.2.1 A didática como fundamental..........................................................32 2.3 A concepção de didática nas tendências pedagógicas no Brasil .......33 UNIDADE 3 - COMPONENTES DO PROCESSO DE ENSINO ..............41 3. Componentes do processo de ensino ..................................................43 3.1. Objetivos educacionais: sua importância para a ação pedagógica ..44 3.1.2. Níveis de Objetivos Educacionais ..................................................46 3.2 Seleção e organização dos conteúdos ..............................................48 3.3. Procedimentos Metodológicos e Formas Organizativas do Ensino ..49 3.3.1 Organização curricular ....................................................................50 3.3.2. Procedimentos de ensino – a organização da aula .......................51 3.3.2.1. Alguns procedimentos de ensino ................................................53 3.4 Avaliação da aprendizagem ...............................................................55 3.4.1 Tipos de Avaliação Escolar ..............................................................56 3.5 O Processo de Ensino e a Relação Professor-Aluno ........................58 UNIDADE 4 - O PROCESSO DE PLANEJAMENTO EDUCATIVO ........67 4. O processo de planejamento educativo ...............................................69 4. Pensar o Trabalho Educacional...........................................................69 4.1 Planejamento: uma atividade humana ...............................................69 4. 2 Planejamento educativo: conceito e importância .............................70 4. 2.1 Tipos de Planejamento educativo...................................................72 4. 2.2 O planejamento da aula ................................................................79 4. 2.2.1 Modelo de plano de aula ............................................................82 UNIDADE 5 - DIDÁTICA E CONTEMPORANEIDADE ...........................89 5. Didática e contemporaneidade ............................................................91 5.1 Temas contemporâneos .....................................................................91 5.1.1 Didática e a relação às novas tecnologias ......................................91 5.1.2 Ecletismo na prática docente ..........................................................945.1.3 Distância entre a formação inicial e o cotidiano do trabalho ...........94 5.1.4 Teoria das inteligências múltiplas e a educação .............................95 5.1.5 A avaliação ......................................................................................97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................101 UNIDADE 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS: EDUCAÇÃO ESCOLAR ENSINO E DIDÁTICA OBJETIVOS • Analisar historicamente o fenômeno educacional, as formas como se apresenta, de maneira formal ou informal. • Compreender os conceitos fundamentais da Didática e sua relação com a Pedagogia. • Analisar o Processo de Ensino, enquanto objeto de estudo da Didática, em seus vários aspectos. • Conhecer a estrutura e os componentes do Processo de Ensino. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 9 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS: EDUCAÇÃO ESCOLAR ENSINO E DIDÁTICA 1.1 COMPREENDENDO O CONCEITO DE EDUCAÇÃO A palavra educação possui uma significação ampla englobando todas as ações inerentes à formação humana geral, assim é que se pode falar, por exemplo, da educação familiar – como referência aos valores, hábitos e práticas de um grupo institucional que são transmitidas aos membros mais jovens do grupo; da educação religiosa – como a formação de valores referentes a práticas de ligação do ser humano ao mundo espiritual, divino e; da educação escolar – que se refere à atividade intencionalmente realizada por determinadas instituições com o propósito de transmitir às novas gerações a cultura e os saberes formais socialmente produzidos. Brandão (1981, p. 7), é bastante esclarecedor ao afirmar que “ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, na escola [...]. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver” [...] Assim, educação não tem uma conotação exclusivamente escolar, mas também possui uma dimensão mais abrangente sendo denominadas educação informal e educação formal. A educação informal, de acordo com Libâneo (2002, p. 31), corresponde a Ações e influências exercidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural e que se desenvolve por meio das relações dos indivíduos e grupos com seu ambiente humano, social, ecológico, físico e cultural, das quais resultam conhecimentos experiências e práticas, mas que não estão ligadas especificamente a uma instituição, nem são intencionais e organizadas. A educação formal compreenderia instâncias de formação, escolares ou não, onde há objetivos educativos explícitos e uma ação intencional institucionalizada, estruturada, sistemática. Aqui percebemos a educação não só como uma atividade desenvolvida em instituições educacionais, mais que isso, ela faz parte de Didática e prática docente 10 todas as práticas cotidianas da sociedade que colaboram na formação dos indivíduos. Percebemos também a definição do que chamamos “educação formal”, compreendida também no sentido amplo de qualquer instância de formação, independente de ser em escolas; trata-se de instituições cujos objetivos sejam explicitamente educacionais, desde que aconteça de maneira intencional, estruturada e sistemática. Segundo o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, “toda a educação varia sempre em função de uma “concepção da vida”, refletindo, em cada época, a filosofia predominante que é determinada, a seu turno, pela estrutura da sociedade”. Assim é que temos no fenômeno educativo um dos aspectos fundadores da humanidade, pois a vida em sociedade só é possível por e com a educação. Segundo Ghiraldelli Jr. (1987) “a educação é, antes de tudo, uma prática educativa”, essa concepção nos remete à compreensão do fenômeno educativo, de maneira geral, como algo comum e necessário em todas as sociedades humanas. O que difere essa prática humana das demais práticas cotidianas é a sua intencionalidade, quando ensinamos algo temos necessidade de passar informações ou habilidades e isso não pode ser feito de qualquer maneira. Ao sistematizar o conhecimento que será repassado, a sociedade instituiu a escola como lócus próprio para esse fim, fato que acaba sendo um dos principais diferenciais entre o fenômeno educativo geral e o formal; o ensino torna-se algo sistemático e previamente determinado, ou seja, as atividades realizadas são planejadas para tal fim. Também segundo Ghiraldelli Jr. (1987) a educação “é uma prática geradora de uma teoria pedagógica”, ora, se agimos e refletimos sobre nossas ações, a chance de agirmos de maneira mais acertada nas próximas tentativas aumenta significativamente. Quando chegamos ao estágio em que guardamos várias práticas que repetidas vezes tiveram êxito ao tentar repassar conhecimentos ou habilidades, já temos um “pensamento correto” sobre como agir, ou seja, uma teoria. É a teoria sobre como ensinar de maneira correta, eficaz, que poderá ser considerada uma FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 11 teoria pedagógica, ela será a condutora dos processos que desencadeiam a aprendizagem nas jovens gerações. Por isso, Ghiraldelli Jr. (19870, p. 09) afirma que “a educação, ao mesmo tempo que produz pedagogia, é também direcionada e efetivada a partir das diretrizes da pedagogia”. É o acúmulo de conhecimentos realizado pela Pedagogia que garantirá sucesso no processo educativo, com o aumento da complexidade dos conteúdos, e o seu consequente acúmulo, surge a necessidade de um diálogo mais franco entre a prática educativa e sua teoria. Pelo esquema acima, podemos observar que a educação é uma prática humana em constante mudança, impulsionada pelo sucesso dos acontecimentos. A teoria educacional apropria-se das várias experiências de acerto e produz novas práticas. 1.2 PEDAGOGIA E DIDÁTICA Se a teoria sobre como ensinar de maneira correta, eficaz, pode ser considerada uma teoria pedagógica, segundo Libâneo (1994, p. 24) “o campo de conhecimento que investiga a natureza das finalidades da educação numa determinada sociedade, bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social” é a Pedagogia. O elemento que realiza a articulação entre a teoria pedagógica e a prática educacional é conhecido como Didática, que transita entre os polos teórico e prático. (GHIRALDELLI JR. 1987, p. 09). Em sua forma de organização mais antiga e tradicional, a Didática foi organizada centrada no processo de ensino, no qual o docente é o protagonista, assim, as questões referentes ao ensino se tornaram seu objeto de estudo – estratégias de ensino; recursos didáticos; uso de tecnologias da informação Didática e prática docente 12 e comunicação; o método orientado a determinada disciplina ou área de conteúdo; a relação da formação de professores com práticas escolares. Os conhecimentos produzidos sobre a Didática, pelos primeiros teóricos davam ênfase quase total ao ensino, após várias teorias, observações e discussões sobre as práticas pedagógicas, a ênfase maior passou a ser observada na aprendizagem. Assim, passa da centralidade na transmissão de conhecimentos protagonizada pelo professor, para o desenvolvimento de orientações que provocassem o estímulo ao estudante. Inicialmente houve uma valorização muito grande no planejamento, a crença era de que, se os objetivos fossem bem traçados no planejamento, os docentes fariam com que os discentes alcançassem as formas específicas de comportamento deles esperados – as aprendizagens seriam mais bem reguladas e o desenvolvimento de competências aconteceria. Atualmente a compreensão é que não basta somente o planejamento, existem vários outros fatores que interferem na aprendizagem. Concluímos que, as teorias produzidas sobre a Didática ora priorizava o ensino ora a aprendizagem, segundo Damis (2004): [...]a didática é, predominantemente, compreendida e analisada do ponto de vista da concepção do ato de ensinar que evidencia a atuação do professor ou como transmissor direto de conhecimentos específicos que se constituem em objetos de ensino, ou como agente que estimula democraticamente a aprendizagem do aluno, ou no planejamento de atividades visando alcançar os objetivos pretendidos. (p. 13-14). Esse movimento na direção do conteúdo marca todas as tendências e correntes pedagógicas que influenciaram e influenciam a Didática até hoje, entretanto, nada há que impeça o docente de atuar como transmissor direto de conhecimentos e, ao mesmo tempo, estimular de maneira democrática a aprendizagem dos discentes. O questionamento que sobressai a essa ênfase no trabalho docente é o outro lado do processo, ou seja, o papel ativo que o discente realiza no momento da aprendizagem, geralmente este é um aspecto ignorado quando a ênfase é sobre a atuação do docente. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 13 1.3 CONTEXTO HISTÓRICO DA DIDÁTICA Para iniciarmos o estudo de qualquer tema, antes de tudo existe a necessidade de conhecer sua origem, de onde vieram os ensinamentos relativos ao tema, como se instituiu e firmou-se entre as demais problemáticas relativas ao fenômeno, ou fenômenos ao qual está ligada, tentando vislumbrar, a partir do momento em que nos encontramos, para onde se encaminha. O vocábulo didática vem da expressão grega “techné didaktiké”, que significa “arte ou técnica de ensinar” (DIDÁTICA, 2013).Como a educação é um fenômeno típico das sociedades humanas, essa é uma das preocupações que acompanha as pessoas desde tempos muito antigos, manifesto nas preocupações de como e o quê ensinar às jovens gerações. Muitas foram as obras que trataram do tema, dentre as quais uma das que obteve maior influência foi a obra Didática Magna, do pastor morávio Jan Amós Comenius (1592-1670), um dos principais exemplos de criação humana nessa área do conhecimento. Comênio, como ficou conhecido entre os portugueses, é considerado como o “Pai da didática moderna”, não somente por abordar profundamente o tema, descrevendo nos mínimos detalhes como deveria ser o procedimento dos mestres, mas também por combater as ideias do Sistema Medieval. Defendeu, entre outras inovações para seu tempo, o ensino de tudo para todos, ou seja, uma escola laica, que estudasse todos os conteúdos, sem interferência dos teólogos, e principalmente, que respeitasse a inteligência e os sentimentos dos alunos. Desde o início, Comênio, na Didáctica Magna (1651), propôs um método que fosse universal, que garantisse o ensino SAIBA MAIS Jan Amos Komenský, Comenius, nasceu na Moravia, região da Boêmia, atual República Tcheca. É considerado o pai da didática moderna. Partia do princípio que era possível ensinar tudo a todos, desde que se usasse o modo ad- equado. Didática e prática docente 14 A proa e a popa da Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho útil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e mais sólido progresso; (COMÊNIO, 2001, p. 43-44). Era uma proposta revolucionária para a educação de seu tempo, sempre enfatizando a necessidade de ter um método, Comênio propõe um ensino com a máxima delicadeza, doçura e como que espontaneamente, bem diferente dos defensores da teoria de que “quem poupa a vara odeia a criança (GHIRALDELLI JR, 1987, p. 10), concepção predominante no final da Idade média e início da Modernidade. A partir dos ensinamentos de Comênio a concepção sobre o ato de ensinar foi ampliada, depois polarizou-se entre a ênfase no ensino ou na organização de atividades visando a aprendizagem dos estudantes. Além de Comênio outros educadores trataram do tema da arte de ensinar, dentre os quais Johann Friedrich Herbart (1766-1841), que afirmava ser a capacidade de assimilação do ser humano sua característica fundamental, ninguém nasce bom nem mau, tem seu desenvolvimento marcado por influências externas. Muitas de suas ideias perduram até hoje, como a maioria dos primeiros teóricos que discutiam sobre educação estavam preocupados com a formulação de uma teoria geral do ensino, denominada como “didática geral”, que poderia ser aplicada a todas as matérias. Outros educadores, como Dewey (1859-1952) enfatizam a necessidade de o professor permitir o contato direto e contínuo da criança com as coisas e é pela transformação da qualidade da experiência do estudante, criando condições e meios para estimular a aprendizagem, que a escola atinge sua finalidade. Demonstra a necessidade o ensino estar sempre relacionado à ação, à vida prática, à experiência, à existência humana, à vida prática. No Brasil, somente a partir da década de 1970, o Poder Público efetivamente manifesta preocupação com o tema da formação dos docentes, e da necessidade de investimento na área da pesquisa didática. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 15 Nas décadas seguintes, aumenta a importância dada aos conhecimentos referentes à formação docente, e o tema entra definitivamente na agenda política nos âmbitos federal, estaduais e municipais. No início dos anos 1980, com a diminuição da repressão governo militar e início da abertura política, surge a didática crítica, que vincula o ensino à realidade social, explicitando que os conteúdos escolares podem manifestar-se como uma cultura crítica. Outras várias correntes teóricas também surgem, entretanto, nem todas buscavam uma articulação pedagógica entre os aspectos instrucionais e sociais. Enquanto área do conhecimento propriamente dita, a Didática ganha espaço nas discussões dos educadores brasileiros e, por iniciativa de um grupo de professores reunidos na PUC do Rio de Janeiro, acontecem vários debates e encontros. Em 1989, esses encontros e debates foram ampliados, passando a ser denominado “Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino” (ENDIPE), espaço de discussão dos conhecimentos referentes à prática docente e dos processos de formação dos trabalhadores em educação. Essa discussão intensificou-se na década de 1990, com um número bem maior de profissionais e diferentes tipos de ações políticas que ampliaram e modificaram a área educacional. Consequentemente, aconteceu uma profusão de leis (LDB, 1996), decretos, portarias regulamentadoras do ensino, da profissão docente e da vida escolar do Ensino Básico e Superior. Essas mudanças influenciaram de maneira decisiva a formação inicial e continuada de docentes e na organização da educação formal. Muitas leis educacionais foram criadas e aumentou o número de incentivos e investimentos, resultado das reivindicações sociais da população e dos professores. Desde a década de 1990, pesquisadores têm valorizado experiências de mudanças no modo de compreender a relação entre teoria e prática em Didática, propondo a construção de propostas pedagógicas críticas, no próprio contexto do cotidiano escolar. Essa concepção, que não concebe a Didática como uma disciplina somente de caráter prescritivo e instrumental, está ligada à teoria curricular crítica, Didática e prática docente 16 indicando como responsável pela direção da prática docente os teóricos da educação e os docentes. Atualmente pode-se afirmar que existe uma tentativa de encontrar certa unidade entre a didática, de maneira geral, e as didáticas específicas, “em que cada metodologia específica desenvolve seu perfil, mas, em razão de muitas questões comuns, conhecimentos gerais, tarefas, etc., está relacionada com as demais metodologias e à didática geral” (KLINGBERG, 1978. p. 33). A instrução e a aprendizagem, como manifestaçõessociais universais, se convertem em ensino, uma atividade a partir da qual, em um conjunto de condições especificamente didáticas (por exemplo, um sistema de graus) e com uma instrumentação especificamente didática, se produzem e são dirigidos de forma planificada e sistemática, processos instrutivos e educativos. (KLINGBERG, 1978, p.48) No campo da Didática, discute-se muito sobre o rumo que tomará o desenvolvimento de novas abordagens sobre o ensino, tal ato também é abordado do ponto de vista do desenvolvimento de competências. Estudiosos como Perrenoud (1999) compreendem que, o enfrentamento das múltiplas e diferentes ações exigidas pela sociedade atual requer que o homem coloque em ação recursos cognitivos variados. Certamente um desses recursos é o conhecimento sistematizado adquirido na escola, através da educação formal, entretanto, o enfoque dado para as ações não será mais sobre o intelecto, sobre os conhecimentos, propriamente ditos, mas sobre as competências, ou seja: “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles” (p. 8). Assim para desenvolver essa capacidade de agir eficazmente, os profissionais da educação necessitam criar uma nova relação com o saber, criando e organizando situações favoráveis de aprendizagem que utilizem métodos ativos de ensino para o estudante confrontar e superar dificuldades específicas. Mobilizar conhecimentos, alcançar metas e tomar decisões, são as novas metas de planejamento dos docentes, não somente isso, mas também regular a aprendizagem, de forma a garantir, utilizando- FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 17 se de metodologias que crie situações problemas, que discentes adquiram competências. Estimular a participação ativa dos discentes em situações de aprendizagem que enfatizam a construção de conhecimentos; utilizar novas tecnologias de comunicação e de informação; planejar e desenvolver projetos adequados aos interesses e à participação. Passam a ser a tônica da escola, a prática da aula é direcionada para atividades que serão desenvolvidas pelos discentes, traduzidos nos aspectos organizacionais e técnicos da Didática. 1.4 OBJETO DE ESTUDO DA DIDÁTICA: O PROCESSO DE ENSINO O processo de ensino condensa todos os aspectos próprios da didática, nele podemos encontrar objetivos, métodos e formas de organi- zação do ensino (LIBÂNEO, 1994), e é no seu desenrolar que percebemos a assimilação dos conhecimentos, habilidades, hábitos e o desenvolvimen- to das capacidades cognoscitivas dos alunos. É também no processo de ensino que se pode observar a relação entre professor, aluno e conteúdo, pois a outra ponta do processo é a apren- dizagem, o professor coordena o processo de ensino com vistas à apren- dizagem. O ensino é uma prática de caráter interventivo, ou seja, prática marcada por uma intenção de mudar situações, individuais ou sociais, de forma planejada, considerando o que pode ser eficaz e construtivo para a realização de dessa tarefa em determinado momento histórico e num dado contexto social. 1.4.1 A APRENDIZAGEM ESCOLAR Em que consiste o processo de aprendizagem? Essa é uma pergunta fundamental para quem ensina. Descobrir como as pessoas aprendem, que condições internas ou externas influ- enciam na aprendizagem torna-se fundamental no processo de ensino. Qualquer atividade humana pode conduzir a algum tipo de aprendizagem, porém, na Didática falamos de aprendizagem planejada “que tem por fina- Didática e prática docente 18 lidade específica aprender determinados conhecimentos, habilidades, nor- mas de convivência social” (LIBÂNEO, 1994, p. 82). A maioria dos teóricos concordam que o resultado da aprendiza- gem é manifestada na mudança das atividades, externas e internas dos sujeitos, ns suas relações entre si e com a natureza. Para Libâneo, isso significa: aprender conhecimentos sistematizados (fatos, conceitos, princípios, métodos de conhecimento etc.); habilidades e hábitos intelectuais e sensório-motores (observar um fato e extrair conclusões, destacar propriedades e relações das coisas, dominar procedimentos para resolver exercícios, escrever e ler, uso adequado dos sentidos, manipulação de objetos e instrumentos etc.); atitudes e valores (por exemplo, perseverança e responsabilidade no estudo, modo científico de resolver problemas humanos, senso crítico frente os objetos de estudo e à realidade, espírito de camaradagem e solidariedade, convicções, valores humanos e sociais, interesse pelo conhecimento, modo de convivência social etc.). (2011, p. 83) grifo do autor Embora muitas das aprendizagens acima mencionadas sejam próprias do convívio social e do cotidiano, elas são potencializadas pela in- tencionalidade da prática do ensino escolar que, didaticamente organizada, é mais eficaz. 1.4.1.1 CARACTERÍSTICAS DA APRENDIZAGEM ESCOLAR Se o resultado da aprendizagem é manifesto na mudança das ati- tudes, externas e internas, dos sujeitos, nas suas relações entre si e com a natureza, de maneira semelhante acontecerá com a aprendizagem esco- lar. Porém, ela possui características especiais, que a fazem distinta das demais aprendizagens realizadas pelos seres humanos. As principais dif- erenças estão no seu caráter intencional, por isso mesmo é planejada, e o professor a dirige nesse sentido, portanto, não se trata de uma aprendiza- gem casual ou espontânea; FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 19 Além de ser uma atividade planejada e dirigida, a aprendizagem deve fazer sentido para o discente, assim, ela deve suscitar sua atividade mental, necessitando que ultrapasse a característica somente de praticidade. Outra característica é a influência de fatores afetivos e sociais, o discente deve estar motivado, e a relação professor-aluno é determinante na aprendizagem, o conteúdo não pode ser apresentado ao discente de qualquer maneira. Deve haver uma organização lógica das matérias a serem ensina- das, as mesmas devem possuir uma sequência progressiva dos conceitos, ideias, habilidades em nível crescente de complexidade, do mais simples ao mais complicado – semelhante ao que nos ensina Comênio em sua Didática Magna. O professor também deve tentar promover uma organização psi- cológica das matérias de ensino, assim, deve buscar atividades e conteú- dos adequados ao nível de desenvolvimento físico e mental do discente. Segundo Piaget (1982), as crianças só estão preparadas para aprender conceitos teóricos (pensamento formal), por volta dos 11 anos de idade, assim, exigir que antes disso, tais conhecimentos sejam adquiridos pode tornar-se um desafio insuperável para a criança o que pode levar à de- sistência em relação à aprendizagem. Fatos como esse podem desenvolv- er nos discentes uma ideia errada de si mesmos, julgando-se incapazes de realizar as atividades que o docente propõe. Da mesma forma a linguagem pode interferir negativamente na aprendizagem, por isso, o conteúdo deve ser apresentado de forma que os alunos a possam compreender e ter um significado para a sociedade em que o mesmo está inserido. Ou seja, deve motivar os discentes, evi- denciando que seus objetivos pessoais estão diretamente vinculados ao sucesso escolar, provocar sua curiosidade e promover estudos que satis- façam as expectativas que o discente traz da sociedade. Este que é outro aspecto fundamental da aprendizagem escolar, ela não foi constituída para satisfação própria da escola ou dos profes- sores, mas antes, a aprendizagem é movida por estímulos fortíssimos de fora do ambiente escolar, as exigências familiares, do mundo do trabalho e Didática e prática docente 20 das expectativas de benefícios proveniente dos estudos. A característica mais peculiar da aprendizagem escolar é a neces-sidade de ser um processo, é o que denominamos ensino, daí a necessi- dade de uma unidade no binômio ensino-aprendizagem, a transmissão de conhecimentos na escola só é importante à medida que os alunos façam a assimilação desses conhecimentos. 1.4.1.2 O ENSINO Segundo Libâneo (2011), para garantir a assimilação dos conhe- cimentos o professor deve “antecipar os objetivos de ensino, explicar a matéria puxar dos alunos conhecimentos que já dominam, estimulá-los no desejo de conhecer a matéria nova” (2011, p. 89). Ensinar é um ato intencional, dirigido, por isso tem objetivos a ser- em alcançados, esse é um dos nortes dos docentes, entretanto, o discente já chega à escola com vários conhecimentos e muitas informações de- sconexas. Tentar sistematizar o que os alunos já sabem, transformar suas informações em conhecimentos e conduzi-los a novas aprendizagens que visem principalmente o preparo para a vida em sociedade e para o trabalho. O ensino tem várias funções das quais se destacam três: “a) orga- nizar os conteúdos para sua transmissão; b) ajudar os alunos a conhecer suas possibilidades de aprender; e c) dirigir e controlar a atividade docente para os objetivos da aprendizagem” (LIBÂNEO, 2011, p. 90). Pode-se dizer que essas funções demonstram a unidade entre o ensino e a aprendizagem, pois o docente organiza os conteúdos de forma que sejam mais bem compreendidos, ensina métodos que demonstram as possibilidades de aprender dos discentes e, dirige sua atividade para os ob- jetivos da aprendizagem, aumentando as chances de acerto no processo. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 21 ATIVIDADES 01) Para Brandão, “ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, na escola (...). Para saber, para fazer, para ser ou para conviver”, como você entende essa afirmação? 02) Para Ghiraldelli Jr. a educação é “prática educativa” e “uma prática geradora de uma teoria pedagógica”, como você entende o termo “prática”? 03) Faça uma relação entre as frases de Ghiraldelli Jr. sobre a educação, que afirmar ser “uma prática educativa” e “uma prática geradora de uma teoria pedagógica”, com o esquema abaixo. 04) A valorização excessiva no planejamento que ocorreu no inicio da formulação dos princípios didáticos ignorava qual aspecto do processo educativo? 05) O fato de as teorias educacionais priorizarem ora ensino ora a aprendizagem, mas evidenciando sempre a atuação docente, revela a ausência de outro elemento do processo de ensino, qual? 06) Qual o significado etimológico do vocábulo Didática? 07) Por que Jan Amós Comenius é considerado como o “pai da didática moderna”? 08) Cite outros educadores que, à semelhança de Comênio, trataram do tema da arte de ensinar. 09) Quais argumentos justificam, conforme preconizado por estudiosos como Perrenoud, o uso de abordagens do ensino como o desenvolvimento de competências? 10) Para a maioria dos teóricos da educação como é manifesto o resulta- do da aprendizagem? Didática e prática docente 22 LEITURA COMPLEMENTAR Para aprofundamento nos temas aqui abordados recomendamos: Capítulos I, II e III do Livro Didática de José Carlos Libâneo, 1994. Ed. Cortez. RESUMO DA UNIDADE Na Unidade I, vimos uma breve introdução histórica do tema educação, resgatando seu aspecto humano, sua característica principal que é o desdobramento em Educação Formal e Educação Informal. Introduzimos também os conceitos fundamentais referentes à Educação Formal, bem como os teóricos e as teorias que permeiam a área. Fizemos uma breve distinção entre Pedagogia e Didática, demonstrando que essa é uma parte essencial daquela, demonstrar a evolução histórica dos estudos didáticos e apresentar seu objeto de estudo: o Processo de Ensino. Apresentamos de maneira mais aprofundada a estrutura e os componentes do Processo de Ensino, sua relação com a aprendizagem escola, a estrutura e componentes do processo docente. Também descrevemos o caráter educativo do Processo de Ensino. UNIDADE 2 O LUGAR DA DIDÁTICA NA PRÁTICA DOCENTE OBJETIVOS • Compreender o papel social do professor no contexto educacional brasileiro e em defesa do ensino público. • Conhecer as dimensões da Didática e as implicações das opções didáticas assumidas na prática docente. • Caracterizar a Didática na sua relação com as tendências pedagógicas presentes no Brasil. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 25 2 O LUGAR DA DIDÁTICA NA PRÁTICA DOCENTE 2.1 PROCESSO ESCOLAR: O PROFESSOR COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL Conforme vimos na Unidade I, o processo de educação escolar, ou ensino, se diferencia da educação informal, dentre outras características, pela sistematicidade e intencionalidade nela contidos. Para que o ensino possa acontecer conforme os objetivos sociais estabelecidos pelas escolas, nos programas educacionais, nos currículos e de forma mais ampla na política educacional, é que são definidos profissionais com competência e autoridade para responderem pela viabilização do ensino: os professores. Como todo profissional, o professor passa por um processo de formação no qual se apropria de saberes necessários à sua atuação, no caso a prática docente, e assim como os demais profissionais, as posturas assumidas no exercício da profissão são sempre objeto de observação e reflexão. Porém, em relação aos professores há uma exigência maior vez que a função que lhe é socialmente atribuída confunde-se mesmo com a dinâmica da existência da sociedade, pois segundo Libâneo (1994, p. 47), sua responsabilidade é preparar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho,nas associações de classe, na vida cultural e política. É uma atividade fundamentalmente social, porque contribui para a formação cultural e científica do povo, tarefa indispensável para as conquistas democráticas. Nessa perspectiva o trabalho do professor reveste-se de grande importância social e requer uma base formativa que permita a construção dos saberes necessários a sua atuação. Essa formação deve envolver conhecimentos acerca do funcionamento da sociedade em sua complexidade política econômica e cultural, geradora das demandas que serão direcionas à escola e transformadas em conteúdos de ensino, bem Didática e prática docente 26 como conhecimentos acerca do modo como transformar os conteúdos de ensino da ótica do professor para a ótica do aluno, o que favorecerá ou não o aprendizado. É nesta especificidade que situamos a Didática, à medida que apresenta ao professor a necessidade de refletir sobre cada componente do processo ensino-aprendizagem (objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação), na sua interrelação com o contexto social, político econômico. O que expressamos acima pode ser materializado, por exemplo, na concepção de ensino que cada professor assume e nas estratégias adotadas em sala de aula. Essa afirmação nos diz que, ao escolher agir de um determinado modo e não de outro em sala de aula, o professor o faz pautado em referências derivadas de uma concepção de homem e sociedade; que por sua vez definem o modo como ele trata o conteúdo de ensino, estabelece objetivos ensino-aprendizagem e se relaciona com os alunos, ou seja, sua concepção e prática de ensino. Neste sentido, as instituições formadoras, universidades e faculdades, devem primar por uma formação na qual os docentes assumam um compromisso social e ético com a transformação das condições de desigualdade social. Por este aspecto é que dizemos que o trabalho do professor possui uma dimensão política significativa, pois as suas escolhas de ensino definem uma postura frente ao grupo de alunos, mas também da sociedade como um todo. Assim, ele precisa ter consciência das escolhas que faz. A título de exemplo, quantoopta por criar em sala de aula um clima de submissão dos alunos ou de não reconhecimento do significado social dos conteúdos abordados, está fazendo uma opção didática para construir um determinado tipo de sociedade. Historicamente, a formação e professor tem sido objeto de reflexão e, por vezes, de crítica em virtude do enfoque adotado na formação que contribuem em maior ou menor intensidade para que o professor possa exercer sua função conforme definido acima. De acordo com Candau (2011) a pesquisa histórica revela quatro dimensões na formação de professores: a dimensão da norma, dimensão técnica, dimensão humana e a dimensão sócio-política. Essas dimensões foram predominantes, cada uma delas, em determinados períodos e, em geral de forma excludentes, até a chegada de FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 27 um discurso teórico de superação. Segundo Candau (2011), a dimensão da norma enfatiza a regra e a legislação, gerando uma postura descritiva na formação docente sem relações com o contexto social. Sob esta ótica o professor não possui elementos para compreensão crítica da realidade que atua e acerca do fenômeno educacional. Outra perspectiva formativa enfatiza a dimensão técnica onde o foco de formação está colocado na discussão na “organização e operacionalização dos componentes do processo ensino-aprendizagem: objetivos, seleção de conteúdos, estratégias de ensino, avaliação etc.”. (CANDAU, 2011, p 51-52). A autora destaca nesta dimensão da formação a ênfase nos elementos entre si, sem uma devida relação destes com a dinâmica do cotidiano social; como se os objetivos de ensino ou as estratégias adotadas não carregassem em si um valor social. O mais importante, nesta ótica, é o professor saber preparar adequadamente o plano de ensino com seus componentes, seguindo as regras. Tal compreensão gerou o a tendência tecnicista na educação, predominante na década de 1970; com a ideia equivocada de que um plano de ensino bem elaborado seria garantia de eficácia da prática docente. Em contraposição à dimensão técnica surge, ainda na década de 1970, a dimensão humana na formação docente; esta resultado dos estudos na área da psicologia, especificamente a Psicologia humanista. Para esta abordagem, o foco da formação docente está também nos componentes do processo ensino-aprendizagem, porém, ao contrário da dimensão técnica, privilegia as relações entre os seres humanos na relação educacional, ou seja, a relação professor-aluno. Aqui os sujeitos do processo ganham um interesse e preocupação maiores. Seguindo a compreensão da psicologia humanista, que é adaptada do consultório psicológico para o ensino, o processo educacional é um processo de crescimento e desenvolvimento pessoal. Assim, caberia ao professor, adquirir as atitudes necessárias à “mobilização da dinâmica de “tornar-se pessoa”, para liberar a capacidade humana de autoaprendizagem de forma que seja possível o desenvolvimento pessoal “pleno”, tanto educacional Didática e prática docente 28 quanto emocional”. (grifo da autora) (CANDAU, 2011, p. 53). A crítica feita às dimensões técnica e humana está no fato de que ambas enfatizam os aspecto dos elementos internos ao processo ensino- aprendizagem sem consideração das relações com co o contexto onde ocorre o processo educacional. Desse modo e surge e ganha fôlego na década de 1980, a dimensão sociopolítica, que considera a educação escolar uma prática social contextualizada e procura analisar os componentes desse processo com o mundo social, político e econômico. Trata-se, portanto, de uma perspectiva crítica na formação docente embasada nos estudos filosóficos e das ciências sociais. Na reflexão acerca das dimensões da formação docente, Candau (2011) aborda a necessária compreensão da perspectiva multidimensional da formação do educador, na qual estaria presentes a contribuição das três últimas dimensões. Segundo a autora a educação é um processo multidimensional. De fato ela apresenta uma dimensão humana, uma dimensão técnica e uma dimensão político-social. Estas dimensões não podem ser visualizadas como partes que se justapõem, ou que são acrescentadas uma às outras sem guardarem entre si uma articulação dinâmica e coerente.(CANDAU, 2011, p. 55). Nesta perspectiva, a formação do professor é compreendida como, necessariamente, multidimensional onde estariam presentes elementos da técnica, do humano e do político-social. Estas dimensões articuladas fornecem suporte formativo para o professor exercer adequadamente seu papel e a escola cumprir sua função social de promoção de uma educação para transformação social e não a reprodução das situações de dominação ou de manutenção do status quo. A reflexão acerca da questão da formação docente reflete nas concepções de didática construídas historicamente e que, consciente ou inconscientemente, norteia a prática dos professores e que passamos a discutir a seguir. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 29 2.2 AS DIMENSÕES DA DIDÁTICA NA PRÁTICA DOCENTE Enquanto área de conhecimento voltada para compreensão, reflexão do ensino, a Didática apresenta três dimensões básicas que estão relacionadas à teoria de formação de professores: a técnica, a humana e a sociopolítica. Ao professor é fundamental conhecer estas dimensões, pois sua prática estará sempre pautada em uma delas. Falar em dimensões da didática, portanto, justifica-se pela natureza da educação escolar na sociedade, ou seja, a função da escola. Desse modo, discutir dimensões da didática é relevante aos professores, mas também à escola como um todo. Discutir as dimensões da didática chamando a atenção para suas importância é procurar direcionar o olhar do futuro professor para o espaço micro da sala de aula. No entanto, a compreensão dessas dimensões só poderá ocorrer se inseridas no espaço social macro. O aluno, futuro professor, precisa compreender que, as ações de ensino que se desenvolvem na sala de aula estão relacionadas com o que acontece na sociedade, fora da escola, nas esferas política, econômica e cultural e, dos embates travados entre os agentes sociais. Por isso mesmo, o ensino assume determinadas características conforme o momento histórico que, em termos teóricos, se traduzem nas concepções de formação de professores, como mencionado anteriormente, e de didática orientando a prática de ensino. Se o fenômeno educativo é multifacetado ou multidimensional, do mesmo modo é o processo ensino-aprendizagem. Portanto, a didática ao refletir sobre o ensino, considera-o multidimensional e composto das seguintes dimensões: humana, técnica e político social. Estas dimensões foram sendo delineadas ao longo da história da educação e de seus determinantes sociais. A dimensão humana procura enfatizar que o ensino-aprendizagem é, em primeiro lugar, resultado de relações entre seres humanos, portanto o centro desse processo são as relações interpessoais; nesta dimensão a valorização do afetivo ganha destaque. A prerrogativa didática, aqui, é partir dos interesses da criança, valorizar a individualidade e liberdade dos alunos; é uma didática de inspiração psicológica, onde é afirmado Didática e prática docente 30 a necessidade de “aprender fazendo” e de “aprender a aprender”; [ ] estudam-se métodos e técnicas como: “centros de interesse”, estudo dirigido, unidades didáticas, método de projetos, a técnica de fichas didáticas, o contrato de ensino etc.; promovem- se visitas às “escolas experimentais”, seja no âmbito estatal ou privado.(CANDAU, 1987, p. 16).(grifo da autora). Se por um lado consideração da didática nesta dimensão procurava romper com o tradicionalismo no ensino, por outro, foi objeto de críticas por deixá-lo demasiadamente “solto” e refém de diversasindividualidades, afetando o caráter de intencionalidade do ensino. Outra crítica feita por Soares apud Candau (1987) é quanto ao caráter ideológico dessa perspectiva, o de uma ideologia liberal-pragmática vinculada ao mito da neutralidade dos métodos e técnicas de ensino totalmente desvinculada dos elementos sociais que interferem no ensino. Outra dimensão da didática, a técnica, foca aspectos bem divergentes da dimensão humana. Tem como proposta planejar o processo ensino-aprendizagem usando estratégias científicas que garantam a sua produtividade, eficiência e eficácia. A teoria na qual baseia seus princípios é a da psicologia behaviorista e teoria sistêmica e concentram o processo de ensino- aprendizagem na tecnologia educacional, atribuem à organização das condições de ensino, no planejamento do ambiente, nos meios (técnicas) selecionados, papel fundamental para o êxito o ensino. A didática nesta ótica deve voltar-se para a formulação de objetivos instrucionais, as diferentes taxionomias, a construção dos instrumentos de avaliação, as diferentes técnicas e recursos didáticos[...] habilidades de ensino são treinadas e são analisadas metodologias tais como: ensino SAIBA MAIS Behaviorismo é uma corrente psi- cológica que exerceu influência sobre a educação na década de 1970. Um dos teóricos dessa cor- rente mais conhecido é F. Skinner (1904-1990). Ele propôs formas de controle do comportamento humano para os fins desejados e, na edu- cação, o aprendizado. Criou a In- strução Programada, onde o aluno dá resposta às questões propostas e recebe estímulos (reforço positivo ou negativo) conforme sua respos- ta. Skinner criou as máquinas de en- sinar. Influenciou a Didática na dis- cussão sobre objetivos de ensino. Aqui o professor deve comportar-se mais como técnico e selecionar bem as estratégias didáticas. Nes- sa perspectiva os meios didáticos são mais importantes que o próprio processo de aprendizagem; ganha espaço nas salas de aula a tecno- logia educacional, como: máquinas de ensinar, tele ensino, TV, slides, vídeo etc., daí o nome tecnicismo. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 31 programado, plano Keller, a aprendizagem para domínio de módulos de ensino etc. (CANDAU, 1987, p. 18) De modo semelhante à dimensão humana, na dimensão técnica o processo de ensino é desvinculado de seus determinantes sociais e analisado na dimensão micro da sala de aula. A consideração do êxito do ensino pautada apenas na escolha de técnicas de ensino revela-se acrítica e não favorece a construção de sujeitos aptos à transformação social, mas à conformação às condições de dominação imposta pelos dominantes. A exacerbação da tecnologia educacional gerou o tecnicismo na educação. A dimensão político-social, parte do princípio de que o processo ensino-aprendizagem acontece em um determinado contexto social e político e desse modo, sofre as interferências dos valores, concepções e práticas desse contexto. Esta dimensão concentra-se na crítica às duas anteriores (humana e técnica), por entender que as mesmas não fornecem subsídios para análise de uma prática pedagógica real, com sujeitos reais, em um contexto das escolas brasileiras, por isto mesmo suas propostas de ensino aprendizagem não levam ao êxito do ensino. De acordo com Candau (1987), a consideração isolada, ou unilateral, das dimensões é um equívoco para o processo ensino-aprendizagem, pois nenhuma das três dimensões, por si só, dão conta de explicar e orientar a organização da prática docente. No entanto, essas dimensões estiveram presentes na prática formativa dos professore que, ora enfatizou a dimensão humana, ora a técnica, ora o político-social. Pensar o ensino de didática desse modo gerou a compreensão da disciplina didática como meramente instrumental, na qual seus ensinamentos teriam uma função técnica, de instrumentalizar a prática do professor, porém desprovida de uma crítica à própria ação docente. De fato, a consideração isolada das dimensões da didática privilegiando em determinados momento o humanismo, desprovido da análise da configuração desse humano o contexto social ou um tecnicismo em que o humano é colocado em segundo plano, ou um político-social sem a necessária competência técnica, não colaborou para o desenvolvimento da didática enquanto área de conhecimento nem tampouco com a formação Didática e prática docente 32 dos professores. Mais ainda serviu como justificativa para minorar a sua importância na formação docente, em um movimento que ficou conhecido como o de negação da didática; ou ainda como diz Candau (1987, p. 20) postula-se “uma antididática”. Como busca de superação desse problema, a autora fala da necessidade de se buscar uma didática que seja fundamental. 2.2.1 A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTAL A partir da discussão feita no tópico anterior reforçamos que a didática tem papel relevante na formação dos professores e que o seu caráter é multidimensional, o que implica dizer que as dimensões humana, técnica e político-social não podem ser tomadas separadamente no processo de formação dos professores. Se por um lado a técnica isolada e exagerada gerou o tecnicismo, não podemos negar que todo docente precisa adquirir habilidades e competências em organizar adequadamente o processo de ensino, inclusive com a utilização de técnicas. Do mesmo modo, o humano é inerente ao processo ensino-aprendizagem que se faz em um contexto político-social. Assim, o correto é compreender a didática articulando o técnico, o humano e o político-social. Isso requer do professor, no exercício docente, ao planejar as aulas levar em consideração que as técnicas, ou meios, objetivos e conteúdos, por ele selecionados tem um significado social, não são, portanto, neutros. A exemplo, um professor de Inglês que ministra aulas numa escola pública e numa particular e para esta última seleciona técnicas pautadas na interação em grupo, mas para a primeira não o faz por julgar que os alunos não conseguem interagir, limitando-se à exposição de conteúdos, está nitidamente fazendo uma opção política. Esse é o significado de dizer que as escolhas feitas pelo professor não neutras. Neste sentido concordamos, mais uma vez, com Candau ( 1987, p. 21) ao afirmar que a reflexão didática parte do compromisso com a transformação social, com a busca de práticas pedagógicas FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 33 que tornem o ensino de fato eficiente( não se deve ter medo da palavra). Ensaia. Analisa. Experimenta. Rompe com um a prática profissional individualista. Promove o trabalho comum de professores e especialistas. Busca as formas de aumentar a permanência das crianças na escola. Discute a questão do currículo em sua interação com uma população concreta e suas exigências, etc. Este é, ao meu ver, o desafio do momento: a superação de uma Didática exclusivamente instrumental e a construção de uma Didática fundamental. É preciso destacar que embora, a autora tenha apresentado essa proposição de busca da didática fundamental há mais de 20 anos atrás ainda é bastante comum nos curso de formação de professores, os professores de didática ainda priorizarem uma das suas dimensões no ensino, o que colabora para formação de professores sem a devida compreensão do que seja a disciplina de didática e sua importância na prática futura. Esse fato é evidente nas licenciaturas de modo geral, fugindo um pouco à regra apenas nos cursos de Pedagogia. 2.3 A CONCEPÇÃO DE DIDÁTICA NAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL Nosso propósito neste tópico é mostrar as diversas compreensões teórico- práticas da Didática no Brasil. Para tal partiremos das tendências pedagógicas que se manifestaram no país utilizando a classificação adotada porLibâneo (1994), a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Renovada, o Tecnicismo Educacional – denominadas como liberais – Pedagogia Libertadora e a Pedagogia Crítico-social dos Conteúdos – aquelas de caráter progressista. A apresentação da concepção de didática a partir das tendências pedagógicas permite uma visualização do modo como o ensino acontecia na prática, conforme a predominância da tendência. SAIBA MAIS As Pedagogias Liberais têm sua origem na filosofia Liberal que defende o princípio de liberdade individual aplicado a todas as di- mensões da vida. Nestas tendên- cias cada escola pode decidir como educar seus alunos. Estes por sua vez são educados para a real- ização pessoal, por mérito próprio. Os problemas contextuais aqui são negligenciados no processo ensi- no-aprendizagem. Já as Pedago- gias Progressistas, partem do opos- to, analisam a educação a partir de seus determinantes sociais. Didática e prática docente 34 A compreensão da concepção de didática em cada uma das tendências pedagógicas, ou pedagogias como denomina Libâneo (1994), só pode ser feita se conhecermos, mesmo que de modo sucinto, essas tendências. Não é nosso propósito aqui fazer uma descrição das tendências pedagógicas, pois este é o conteúdo de outro estudo já realizado em outros momentos. Porém iniciaremos a explicação da didática apresentando as principais características das tendências. A Pedagogia Tradicional tem como pressuposto básico a ideia de que a aprendizagem é um processo mnemônico e que o professor é o sujeito central nesse processo; o aluno não tem participação ativa no desenvolvimento das atividades escolares e o conteúdo é composto pelos saberes clássicos que devem ser repassados de modo inquestionável aos alunos pelo professor, este último, detentor do conhecimento. Nesta ótica, a didática visa explicar o processo de ensino como um conjunto de normas, de regras a serem seguidas pelo professor para garantir a aprendizagem; o professor apresenta a matéria de forma oral ao aluno, este deve escutar atentamente a palavra do professor, memorizar e assim aprende. O entendimento é o de que “ ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos “gravam” a matéria para depois reproduzi-la” [ ] a matéria do ensino é tratada de forma isoladamente, isto é, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas da sociedade e da vida”.( LIBÂNEO, 1994, P 64). Nesta perspectiva, a Didática concentra-se em regras que auxiliem o professor a ensinar. Porém, não há questionamento quanto aos aspectos macros da educação escolar como, por exemplo, saber o valor social do que vai ser ensinado (qual conteúdo ensinar), por que ensinar (os objetivos), tampouco a quem ensinar (que características possuem os alunos a quem o ensino se destina); trabalha-se, portanto, com um aluno idealizado, para uma sociedade sem contradições. A Didática na pedagogia Tradicional volta-se apenas para definição de regras do modo como o professor deve ensinar, o conteúdo é apresentado aos alunos segundo a lógica do professor e não conforme as condições e necessidades de aprendizagem dos alunos. Isto ocorre porque nesta concepção os elementos do processo ensino-aprendizagem situam-se na FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 35 dimensão micro da sala de aula e do plano de ensino, de forma técnica. Como consequência dessa compreensão de didática, predominou no país, uma prática de ensino onde o professor transmite uma grande quantidade de conteúdo para ser repetido acriticamente pelo aluno até a memorização. Muito embora esta prática ainda exista, temos que reconhecer que a mesma vem, paulatinamente, cedendo espaço para outras posturas em sala de aula. A Pedagogia Renovada surgida no cenário nacional a partir dos anos 1950 refere-se a um conjunto de correntes pedagógicas surgidas nesse período que se opunham à Pedagogia Tradicional sendo a mais conhecida delas a Escola Nova. De modo geral elas se propunham superar os equívocos dos tradicionalistas e divergiam em vários aspectos sendo o mais marcante deles a concepção do aluno no processo ensino aprendizagem. A Pedagogia Renovada tem as seguintes características a valorização da criança, dotada de liberdade, iniciativa e de interesses próprios e, por isso mesmo, sujeito da sua aprendizagem e agente do seu próprio desenvolvimento; tratamento científico do processo educacional, considerando as etapas sucessivas do desenvolvimento biológico e psicológico; respeito às capacidades e aptidões individuais, individualização do ensino conforme os ritmos próprios de aprendizagem; rejeição de modelos adultos em favor da atividade e da liberdade de expressão da criança. (LIBÂNEO, 1994, p. 62). Podemos observar pelas características mencionadas acima que, enquanto ma Pedagogia Tradicional direciona seu olhar para o professor, a Renovada foca seu trabalho no aluno. Por isto mesmo a didática direcionada para a aprendizagem e o aluno o sujeito de seu próprio aprender. Como consequência prática o professor deve colocar o aluno em condições propícias para que, partindo das suas necessidades e estimulando os seus interesses, possa buscar por si mesmo conhecimentos e experiências. A ideia é a de que o aluno aprende melhor o que faz por si próprio. (LIBÂNEO, 1994, p. 65). Didática e prática docente 36 Cabe ao professor estimular a capacidade intelectual, criadora e investigativa do aluno que passa a ser considerado o centro do processo ensino-aprendizagem, ou seja, o centro não é mais o professor nem o conteúdo clássico acumulado e transmitido acriticamente, mas o aluno e o seu processo ativo de aprendizagem; caracterizado por uma atitude de interação, investigação, curiosidade com o objeto do conhecimento. Ao professor, enquanto organizador desse processo compete selecionar as melhores situações de aprendizagem e de acordo com as capacidades de aprendizagem de cada grupo de alunos; além de ser um orientador, incentivador. Dentre as técnicas de trabalho desta didática estão: o trabalho em grupo, atividades de cooperação, experimentos, projetos, método de reflexão (LIBÂNEO, 1994). Verificamos assim o quanto a pedagogia renovada se distingue da perspectiva anterior e representa uma inovação para a educação. Ao trazer o aluno para o centro da aprendizagem pautando a argumentação do processo ensino-aprendizagem em estudos científicos acerca do desenvolvimento humano a didática renovada contribui para o estabelecimento de novos parâmetros práticos em sala de aula. No entanto, a sua efetivação no contexto das escolas brasileiras tornou-se inviável, uma vez que esta didática requeria para ser eficaz, um número de alunos reduzido em classe de forma a permitir que o professor pudesse fazer um acompanhamento individualizado dos alunos; junte-se a isto o fato de que o trabalho com a criação de estratégias de aprendizagem diversificadas requeria variedade de métodos, de recursos didáticos e um currículo flexível, o que nossas escolas não tinham e não têm ainda. Além do quê, os professores formados e habituados à estratégia tradicional não estavam preparados para atuar na nova ótica. De todo modo, essa concepção deixou suas marcas na prática escolar brasileira. A seguir, na década de 1960, temos o surgimento de uma nova corrente pedagógica que, embora, tenha começado a se delinear juntamente com a Pedagogia Renovada na década de 1950, possui referência própria: a corrente tecnicista ou tecnicismo educacional. Esta concepção implementada no país no período da ditadura militar, pois a FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 37 sua abordagem de ensino se adequava ao contexto político econômico predominante. Nesta corrente não existe uma relação de trocas entre sociedade e escola; mas a determinaçãode um sistema político econômico sobre o escolar, definindo os objetivos educacionais mais amplos. Ensino é entendido como instrução e a sua prática resume-se à busca de meios e técnicas que permitam realizar o plano de aula sem buscar as relações entre seus elementos: objetivos, conteúdos e avaliação. Assim a didática tem uma função meramente instrumentalizadora do processo de ensino, a didática entendida como técnica (CANDAU, 2011; LIBÂNEO, 1994). Para que os objetivos instrucionais possam ser atingidos, o planejamento da aula precisa ser eficazmente planejado e seguido e compõe-se de etapas que devem ser rigidamente controladas. São elas: a) especificação de objetivos instrucionais; b) avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-requisitos para alcançar os objetivos; c) organização das experiências de aprendizagem; d) avaliação dos alunos relativa ao que se propôs nos objetivos iniciais. (LIBÂNEO, 1994). Nesta ótica, não é exigido do professor possuir uma cultura vasta ou amplo domínio dos conteúdos de ensino, pois sua função é mais técnica; ele “é um administrador e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para se atingir os objetivos”. (LIBÂNEO, 1994, p. 68). Até o momento, apresentamos as concepções pedagógicas consideradas acríticas; assim classificadas em virtude de analisarem o fenômeno educacional sem considerar os seus determinantes sociais. A partir dos anos 1980 com o início do processo de redemocratização do país, é sistematizado o pensamento das chamadas Pedagogias Progressistas. Estas se diferenciam das anteriores pelo caráter crítico na abordagem da educação, procurando explicar as relações existentes entre o que acontece na escola e na sala de aula. São também chamadas de teorias críticas da educação. No Brasil ganharam destaque duas abordagens a Pedagogia Libertadora e a Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos. Em comum as Pedagogias Progressistas têm a defesa da superação de uma sociedade elitista, a luta por uma sociedade mais justa e igualitária e democratização do acesso à escola. Em síntese, elas propõem que a educação escolar seja Didática e prática docente 38 colocada a serviço da transformação social. Porém, há entre elas aspectos diferenciadores no que se refere à didática. Em relação à Pedagogia Libertadora, foi forjada no meio popular e tem no autor Paulo Freire, o principal representante. Embora tenha sido sistematizada na década de 1980, TVE uma atuação inicial nos anos 1960 com educação popular de adultos. Nesta retomada propõe-se também a uma atuação na educação formal. De acordo com Libâneo (1994, p. 69) a concepção de didática que pode depreender da Pedagogia Libertadora é que o ensino é centrado na realidade social, em que professor e alunos analisam problemas e realidades do meio sócio-econômico e cultural, da comunidade local, com seus recurso e necessidades tendo em vista uma ação coletiva frente a esses problemas. A ação do ensino, assim, é uma ação que visa alterar uma situação- problema do meio social. Por esta lógica o centro do processo é participação ativa das pessoas nas discussões e ações práticas. Dentre as estratégias predominantes nesse processo estão os relatos de vida (de experiências), as assembléias e a pesquisa participante. Por tratar-se de uma educação realizada no seio dos grupos sociais o professor é um coordenador das atividades, porém a organização das atividades deve ocorrer de modo coletivo. A aplicação desta Pedagogia revelou-se exitosa nos movimentos sociais, associações de bairros, sindicatos etc. onde se trabalha em geral com adultos. E, embora, não se o resultado de aplicação no ensino regular do ensino fundamental, esta pedagogia ajudou na revisão de parâmetros e práticas e educativas no país. Quanto a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos, fundada a partir do materialismo histórico dialético, valoriza a educação popular, a escola como instituição pública de promoção do saber e a valorização do trabalho do professor no sentido de promover ao povo acesso ao conhecimento formal, os saberes científicos. Para tanto o professor precisa ter um sólido FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 39 domínio dos conteúdos a serem ensinados e “a escola pública cumpre a sua função social de e política, assegurando a difusão dos conhecimentos sistematizados a todos, como condição para a efetiva participação do povo nas lutas sociais”. (LIBÂNEO, 1994, p. 70). Nesta perspectiva teórica, ensinar e aprender são igualmente importantes e a didática tem como objetivo dirigir o processo de ensinar, pautando esta ação nos objetivos sócio-políticos e pedagógicos, levando em consideração também os meios onde se processa o ensino. Para o autor supracitado a tarefa do ensino é colaborar para que os alunos desenvolvam suas capacidades e potencialidades por meios dos conteúdos clássicos; estes, porém, não são repassados ao aluno de forma crítica; os conteúdos situados no contexto e discutidos na busca de síntese superadora ao ensino na medida em que procura vincular o “para que”(opções político- pedagógica) com o “como” da ação educativa (a prática do professor) (Libâneo, 1994). Nesta lógica a Didática se faz importante por mediar esta relação. Para os autores dessa pedagogia a instrução e o ensino têm o papel de proporcionar aos alunos domínio dos conteúdos científicos, os métodos de estudo e habilidade e hábitos de raciocínio científico, de modo a irem formando a consciência crítica face às realidades sociais, capacitando-se a assumir no conjunto das lutas sociais a sua condição de agentes ativos de transformação da sociedade e de si próprios. (LIBÂNEO, 1994, p. 70-71). Verificamos nas pedagogias progressistas que a concepção de Didática nela implicada só pode ser a de uma Didática fundamental, pois a educação está necessariamente situada em um contexto social e o professor necessita de competências para exercer seu papel de colaborador na transformação social. ATIVIDADES 1- Produza um pequeno texto no qual você explique por que o trabalho Didática e prática docente 40 docente se insere numa dimensão de transformação social. Procure refletir nessa produção como o trabalha do professor de inglês se destaca no cumprimento dessa função. 2- Explique o que significa o caráter multidimensional da didática. 3- Faça um paralelo entre o que é a Didática instrumental e a Didática fundamental. 4- Fale acerca da concepção de Didática nas tendências pedagógicas apresentada em nosso texto acima. LEITURA COMPLEMENTAR Para aprofundar seus conhecimentos sobre as dimensões da Didática e sua configuração histórica, leia o Livro “A Didática em Questão” de Vera Maria Candau (org.). Editora Vozes. RESUMO DA UNIDADE Nesta Unidade mostramos porque o trabalho do professor é considerado numa perspectiva política e de transformação social. Verificamos como a didática se apresenta para contribuir com a formação docente, discutindo o seu caráter multidimensional no qual as dimensões humana, técnica, político- social devem ser articuladas para permitir uma adequada compreensão do processo ensino-aprendizagem; vimos ainda a necessidade de buscar a efetivação de uma didática fundamental nos curso de formação de professores. Por fim apresentamos as diversas concepções que a Didática foi obtendo ao longo da história da educação brasileira mais recente. UNIDADE 3 COMPONENTES DO PROCESSO DE ENSINO OBJETIVOS • Conhecer os componentes do Processo de Ensino. • Analisar os objetivos educacionais e sua importância para a ação pedagógica. • Compreender o processo de seleção e organização dos conteúdos; • Caracterizar procedimentos metodológicos e formas organizativas do ensino. • Entendero conceito de avaliação, os tipos de Avaliação Escolar e as modalidades avaliativas. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 43 3. COMPONENTES DO PROCESSO DE ENSINO A discussão acerca dos componentes de ensino é sem dúvidas o tema que ocupa centralidade nos livros de Didática. Isso ocorre porque, como já mencionamos antes, o foco da ação didática é o ensino. Vale considerarmos aqui a compreensão feita por José C. Libâneo em seu livro “Didática”, onde menciona os componentes didáticos como sendo: conteúdos, ensino e aprendizagem, que se configuram em torno dos objetivos educacionais. A partir de então é que o autor cita os componentes do processo de ensino. É acerca deste último que vamos focar nossa reflexão nesta Unidade considerando o propósito do nosso material. Assim, concordando tanto com Libâneo (1994) como com Haitd (1999) discutiremos mais detidamente os objetivos, os conteúdos, os procedimentos e ensino e formas avaliativas, os quais se relacionam de maneira dinâmica. A consideração acerca dos componentes do ensino, não significa, em hipótese alguma, que este esteja sendo tomado de forma isolada, como se ele pudesse ocorrer independente da aprendizagem. Na verdade, o sentido existencial do ensino é a aprendizagem dos alunos. No entanto, há uma necessidade didática de que se discuta o ensino como a ação desenvolvida pelo professor; atividade esta que possui características próprias e que todo profissional docente deve apropriar-se, pois o ensino é atividade do professor de organização, seleção e explicação dos conteúdos, organização das atividades de estudo dos alunos, encaminhando os objetivos, métodos, formas organizativas e meios mais adequados em função da aprendizagem dos alunos. A aprendizagem é atividade do aluno de assimilação de conhecimentos e habilidades. (LIBÂNEO, 1994, P. 92) grifo do autor. Observemos a partir da citação que o conceito de ensino já traz em si a aprendizagem dos alunos. É por isto mesmo que utilizamos na Pedagogia e na Didática o termo processo ensino-aprendizagem; com esta ideia de serem inseparáveis, senão para efeitos de análise didática. Didática e prática docente 44 No processo ensino-aprendizagem, todos os elementos estão interrelacionados. Libâneo (1994), explica que existe uma ação recíproca entre os conteúdos, o ensino e aprendizagem, nessa ação, a referência operatória são os objetivos educacionais entendidos como as exigências sociopolíticas e pedagógicas expressas através dos objetivos que estão propostos a determinada ação didática. Os conteúdos são as matérias onde os conhecimentos sistematizados pela humanidade foram condensados; eles são a concretização dos objetivos do ensino, ou seja, os conteúdos sempre são escolhidos em função dos objetivos que o sistema educacional, a escola ou o docente pretende alcançar, nunca o contrário. Em síntese, o ensino consiste na organização das atividades de estudo dos discentes, é para ele que os objetivos são encaminhados, métodos e formas organizativas de aprendizagem são realizados; por essas características o ensino é próprio do trabalho do docente. É no ensino que se articulam os objetivos, os conteúdos, as formas organizativas (ou métodos), e as condições materiais objetivas. Nenhum desses componentes pode ser considerado isoladamente, por exemplo, os objetivos correspondem a conteúdos e indicam os métodos para que sejam alcançados. Os conteúdos exigem métodos específicos de trabalho e os métodos submetem-se aos conteúdos e às características dos discentes e a análise dos resultados (avaliação) é pensada em termos dos objetivos definidos previamente e dos conteúdos escolhidos e trabalhados. 3.1. OBJETIVOS EDUCACIONAIS: SUA IMPORTÂNCIA PARA A AÇÃO PEDAGÓGICA Um dos elementos fundamentais do processo de ensino é a definição dos objetivos educacionais, essencial no planejamento, eles orientam e ajudam na escolha de estratégias mais adequadas, proporcionando maior segurança para a realização do trabalho pedagógica. Objetivo “é a descrição clara do que se pretende alcançar como resultado da nossa atividade” (PILETTI apud HAIDT, p. 113), então, os FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras/Inglês 45 objetivos educacionais podem ser definidos como todos os resultados que, intencional e sistematicamente, os docentes esperam alcançar através de suas ações. Desde a década de 1960, predominou no ensino oficial brasileiro uma visão tecnicista da educação, com uma conseqüente ligação dos objetivos educacionais com a teoria behaviorista (comportamentalista). A ênfase na cientificidade na formulação dos objetivos educacionais pretendida pelo behaviorismo fazia crer na suficiência dessa ação para garantir a eficácia do processo de ensino. Essa teoria resumia o processo educacional à mudança de comportamento, a qual deveria ser claramente definida nos objetivos. O processo educativo passa a ser concebido como uma série de objetivos específicos que visam fazer com que os discentes alcancem a conduta desejada, considerando o ser humano de forma estática. Uma forma diferente de conceber os objetivos educacionais é expressa por Libâneo (1994), que embora não negue a mudança individual de comportamento dos discentes, enfatiza as mudanças sociais, perfis institucionais, tendências estruturais, ou seja, mudanças nas pessoas e grupos sociais, afirma que: Os objetivos educacionais têm pelo menos três referências para sua formulação: os valores e ideais proclamados na legislação educacional e que expressam os propósitos das forças políticas dominantes no sistema social; os conteúdos básicos das ciências, produzidos e elaborados no decurso da prática social da humanidade; as necessidades e expectativas de formação cultural exigidas pela população majoritária da sociedade, decorrentes das condições concretas de vida e de trabalho e das lutas pela democratização. (pp.120-121) Essas referências, segundo o autor, estão interligadas e sujeitas a contradições, não podendo ser tomadas isoladamente. Se por um lado os valores proclamados expressam os propósitos das forças dominantes, por outro lado, eles também devem expressar aquilo que população majoritária deseja em termos de formação cultural, fato que só pode ocorrer quando o docente leva em consideração as condições reais de vida e de trabalho e Didática e prática docente 46 das lutas pela democratização, como citado acima. O docente deve assumir uma posição política ao escolher seus objetivos, avaliando “a pertinência dos objetivos e conteúdos propostos pelo sistema escolar oficial, verificando em que medida atendem as exigências de democratização política e social” (LIBÂNEO, 1994, p. 121). É o docente quem viabilizará os projetos de vida dos discentes, compatibilizando o que estes devem aprender para alcançar suas aspirações, mediar através de sua prática profissional o acesso aos conteúdos de relevância social. Uma posição diferente dessa, ou seja, quando o docente não assume de forma consciente e crítica, que a sociedade na qual está inserido é contraditória, corre o risco de repassar para sua prática profissional valores, ideais, concepções da classe dominante e, consequentemente, contrários aos interesses da população. 3.1.2. NÍVEIS DE OBJETIVOS EDUCACIONAIS Os objetivos educacionais são classificados conforme seu nível de abrangência; aqueles concebidos como expectativas mais elaboradas e com uma necessidade de tempo e de prática maiores para que sejam alcançados, são chamados objetivos gerais; já aqueles concebidos de maneira mais imediata com tempo de realização mais breve, são chamados objetivos específicos. Os objetivos gerais devem expressar maior abrangência, atendendo os propósitos do sistema escolar, que determina as finalidades educativas gerais,
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