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UMA VISÃO LITERÁRIA SOBRE A PROPAGANDA IDEOLÓGICA DAS ELITES PAULISTAS COMO INSTRUMENTO POLÍTICO DE MODELO DE REDENÇÃO PROGRESSISTA (Atividade 1)

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
HISTÓRIA DO BRASIL REPUBLICANO: O LIBERALISMO OLIGÁRQUICO
PROFESSOR RESPONSÁVEL: MS. GERALDO JOSÉ ALVES
ATIVIDADE 1
PATRICK GIULIANO TARANTI - RA 2515201547 – TURMA 5B2 (EAD)
UMA VISÃO LITERÁRIA SOBRE A PROPAGANDA IDEOLÓGICA DAS ELITES PAULISTAS COMO INSTRUMENTO POLÍTICO DE MODELO DE REDENÇÃO PROGRASSISTA
A presente análise limita-se, tão somente, aos textos de Monteiro Lobato (Jeca Tatu – A Ressureição) e de Lima Barreto (Problema Vital), ambos datados de 1918.
Observa-se que tal período possui uma composição social estratificada e que são compostas em sua maioria por uma população rural renegada a um segundo plano, onde tal aspecto é decorrente de uma continuidade de políticas governamentais remanescentes do Brasil monárquico, e não só dessa, mas de uma mentalidade social coletiva, e que visam atender interesses de uma elite econômica.
No decorrer do processo abolicionista, sobretudo, a partir da segunda metade do século XIX e início do século XX, o Estado não ofertou condições e, muito menos instrumentalizou os negros e seus descendentes, de modo que pudessem integra-se a sociedade vigente, sobretudo no campo econômico, ou seja, na seara do trabalho. Sobre este ponto, dava-se preferências à mão-de-obra estrangeira, fazendo-se com que cada vez mais se ampliasse o abismo social dos ex-cativos, passando, portanto, a situação de marginalizados sociais, quando não penais. População esta que passou a integrar-se em grande maioria ao ambiente rural, passando a serem conhecidos como caboclos.
Neste sentido Lima Barreto traça apontamentos a serem destacados, quando após a leitura da obra de Lobato, Urupês:
A cabana de sapê tem origem muito profundamente no nosso tipo de propriedade agrícola — a fazenda. Nascida sob o influxo do regime do trabalho escravo, ela se vai eternizando, sem se modificar, nas suas linhas gerais. Mesmo em terras ultimamente desbravadas e servidas por estradas de ferro, como nessa zona da Noroeste, que Monteiro Lobato deve conhecer melhor do que eu, a fazenda é a forma com que surge a propriedade territorial no Brasil. Ela passa de pais a filhos; é vendida integralmente e quase nunca, ou nunca, se divide. O interesse de seu proprietário é tê-la intacta, para não desvalorizar as suas terras. Deve ter uma parte de matas virgens, outra parte de capoeira, outra de pastagens, tantos alqueires de pés de café, casa de moradia, de colonos, currais, etc. (1918, p.6)
Eis que devido a essa política trabalhista, houve reflexos sociais, onde o caipira, o caboclo, passou a cada vez menos a possuir condições de igualdades e oportunidades. Tornando-se nômades em busca da parca subsistência, abandonando a terras nas quais encontravam-se quando não mais pudessem sobreviver desta, praticando tão somente culturas mínimas de subsistência quando assim era possível. Ocorre que frente ao aparato ideológico oligárquico, tal prática era vista como sinal de vadiagem, indolência, considerando-os como avessos a modernidade e ao progresso, ainda mais por demonstrarem imperícia no trato com a terra por meio de práticas agrícolas propostas.
Conforme observa-se em alguns trechos da obra de Lobato:
Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários filhinhos pálidos e tristes.
Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atrás da casa. Perto um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo.
Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis nem roupas, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, a espingardinha de carregar pela boca, muito ordinária, e só.
Todos que passavam por ali murmuravam:
— Que grandíssimo preguiçoso! (1918, p.1)
Monteiro Lobato assim se pensava quando herdou as terras de sua família, pois já empregava tais técnicas e tecnologias em seus plantios e, abominava o manejo caboclo, inclusive desentendendo-se com seus agregados e meeiros por tal questão. Era neste período um legítimo representante da elite paulista oligárquica e, a figura do Jeca em suas obras visava não sua exaltação, mais a sua aversão a não adesão aos parâmetros sociais estabelecidos pela elite a qual pertence. 
Tem-se, portanto, que o personagem caipira, matuto do interior, como símbolo do homem interiorano, pobre, pestilento, preguiçoso, apresentando-se como um empecilho ao progresso e a modernidade expansionista agrícola, precisando ser adestrado, educado e tocado mentalmente para estas mudanças visando a atender um interesse maior, o qual coincidia com os interesses classistas da elite a qual pertencia, a oligarquia paulista.
Este adestramento educacional, cultural e sanitário é visível no texto de Lobato quando da leitura dos seguintes trechos:
O doutor receitou-se o remédio adequado; depois disse: "E trate de comprar um par de botinas e nunca mais me ande descalço nem beba pinga, ouviu?"
[...]
Jeca ficou cismando. Não acreditava muito nas palavras da ciência, mas por fim resolveu comprar os remédios, e também um par de botinas ringideiras.(1918, p.2)
É dentro deste contexto de interesses político-econômicos que se sobressaem as discussões sanitaristas urbanas e, sobretudo, rurais, assim como interpretações acerca da sociedade. Emerge em meio a este ambiente social e literário o pensamento lobatiano, construindo a partir dos interesses de uma elite estabelecida, imagens simbólicas que visem a disseminar a ideologia paulista de exemplaridade a ser seguida (estabelecendo-se uma clara disputa pelo poder e controle deste), em detrimento ao ostracismo em que se encontrava Rio de Janeiro, sobretudo, a região urbana, uma vez que a periferia contrastava com esta.
Este aspecto é vislumbrado quando do trecho da obra de Lobato (1918, p.3): “Tudo o que o doutor disse aconteceu direitinho! Três meses depois ninguém mais conhecia o Jeca. A preguiça desapareceu. [...] — Quero ganhar o tempo perdido [...]. Quero tirar a prosa do ‘intaliano’ ”.
Destaca Lima Barreto quanto aspecto sanitarista e de sua política: 
Os identificadores de tais endemias julgam ser necessário um trabalho sistemático para o saneamento dessas regiões afastadas e não são só estas. Aqui, mesmo, nos arredores do Rio de Janeiro, o doutor Belisário Pena achou duzentos e cinqüenta mil habitantes atacados de maleitas, etc [...]
Por esse lado, julgo que ele e os seus auxiliares não falsificam o estado de saúde de nossas populações campestres. Têm toda a razão. O que não concordo com eles, é com o remédio que oferecem. Pelo que leio em seus trabalhos, pelo que a minha experiência pessoal pode me ensinar, me parece que há mais nisso uma questão de higiene domiciliar e de regime alimentar. (1918, p.6)
Para construção desta propaganda redentora e impulsionadora roupagem de progresso e modernidade, Lobato cerca-se da temática sanitarista educacional, pois esta vinha de pleno encontro aos interesses da elite, que era de apresenta-se como um exemplo a ser seguido nacionalmente no campo político-econômico, bem como, fixar mão-de-obra de baixo custo de manutenção, dedicada e com um sentimento de gratidão e replicação ideológica. A propaganda precisava imprimir uma mudança de mentalidade social, para tanto, lançou-se de recurso apresentar o caboclo em dois momentos de sua vida, onde no primeiro, apresenta um ser debilitado, doente e por este motivo avesso ao trabalho a modernidade, já em uma segunda etapa, após o contato com a ciência, a modernidade, apresenta um ser provido de vontade, gratidão e entusiasta da modernidade e suas tecnologias. Neste ponto, a intervenção do aparato estatal faz-se imprescindível, pois por meio de políticas sanitaristas efetivaspode apresentar a veracidade propagandista, de que o caboclo só não prospera por pleno abandono do Estado enquanto administração federal e, que o que lhes tolhe a vontade são somente as doenças.
Observa-se que esta elite paulista é fortemente influenciada pelo progresso americano e pelos avanços tecnológicos oriundo daquele país, pautando-se em uma política capitalista.
O conto Jeca Tatu – A Ressureição apresenta claramente este aspecto paternalista estatal, sobretudo, nos moldes paulistas, onde a redenção é alcançada pela guia de uma elite oligárquica.
Cabe ressaltar que Lobato assumiu, ao longo do seu fazer literário, diversos posicionamentos ideológicos, durante aquele período, sendo que todos seus posicionamentos ideológicos apresentavam um ponto congruente comum, todos os posicionamentos visavam um desenvolvimento econômico a nível nacional, onde o espaço de debates dava-se no ambiente rural, pois considerava que este era o caminho para tal, ou seja, para o alcance da modernidade, que por sua vez conduzia ao progresso.
Tem-se ainda, que naquele período a miscigenação racial era considerado uma barreira para o desenvolvimento econômico nacional. É a partir deste ponto que surge a figura do Jeca, traduzindo um estereótipo símbolo do rurícola, traduzindo a visão lobatiana acerca do trabalhador rural, que não imigrante estrangeiro, apresentando suas práticas e crenças, apontando que este era um ser avesso ao trabalho e a posse de terra, possuidor de práticas arcaicas de subsistência mínima, sendo um ser degenerado por sua origem racial e hospedeiro de doenças, em suma um legítimo representante do atraso social e por consequência do progresso.
Lobato apresenta o caboclo como o disseminador dos problemas rurais no Brasil, onde este só alcança a redenção por meio de uma política educacional sanitarista, que lhe purga os males sociais.
Sabiamente Lima Barreto, vai além do que lhe é apresentado no texto de Monteiro Lobato, onde destacamos sua análise derradeira:
O problema, conquanto não se possa desprezar a parte médica propriamente dita, é de natureza econômica e social. Precisamos combater o regímen capitalista na agricultura, dividir a propriedade agrícola, dar a propriedade da terra ao que efetivamente cava a terra e planta e não ao doutor vagabundo e parasita, que vive na "Casa Grande" ou no Rio ou em São Paulo. Já é tempo de fazermos isto e é isto que eu chamaria o "Problema Vital". (1918, p.6)
REFERENCIAL
BARRETO, Lima. Problema Vital, 1918. In: UNINOVE. Atividade 1: Anexo. Disciplina de História do Brasil Republicano: o liberalismo oligárquico. São Paulo: UNINOVE, 2017. p. 5-6. Nota: Texto 2; Universidade Nove de Julho. Curso de Licenciatura em História. Disponível em: <https://img.uninove.br/static/0/0/0/0/0/0/0/8/3/3/8/833808/textos-atividade-1.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.
LOBATO, Monteiro. Jeca Tatu – A Ressureição, 1918. In: UNINOVE. Atividade 1: Anexo. Disciplina de História do Brasil Republicano: o liberalismo oligárquico. São Paulo: UNINOVE, 2017. p. 1-5. Nota: Texto 1; Universidade Nove de Julho. Curso de Licenciatura em História. Disponível em: <https://img.uninove.br/static/0/0/0/0/0/0/0/8/3/3/8/833808/textos-atividade-1.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.

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