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ALGUNS FATORES irrig

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ALGUNS FATORES PRÁTICOS DA IRRIGAÇÃO DE
PASTAGENS
Gláucon Cézar Cardoso
*M. Sc. Forragicultura e Pastagens
Consultor Autônomo
INTRODUÇÃO
O Brasil, apesar de possuir o segundo maior rebanho bovino de
corte do mundo e das tecnologias existentes, o que se observa, nas
avaliações de propriedades rurais, são modestos índices de
produtividade. Com grande extensão territorial, disponibilidade de mão-
de-obra, recursos genéticos que atendem as expectativas da produção
animal a pasto, oferta de grãos e outros insumos e a ausência de
invernos rigorosamente frios a favor da atividade, coloca o Brasil numa
posição privilegiada na disputa pelo domínio da produção de carne
bovina. Contudo, falta política agrícola e internacional para crescimento
de estratégico da produção e marketing para mercados confiáveis que
avalizem o produtor na aquisição e implantação integral de novas
tecnologias que acelerem e sustentem a produção de carne bovina.
O ciclo da bovinocultura de corte no Brasil depende, ainda, das
condições climáticas. Grande parte do rebanho encontra-se no Brasil
Central, onde a distribuição de chuvas é concentrada entre os meses de
outubro a março. No período de inverno, caracterizado por ligeira queda
de temperatura em função da redução do fotoperíodo, as chuvas são
escassas e a produção forrageira é bastante restrita. O produtor precisa
se profissionalizar como pecuarista e melhorar mais a genética, a
nutrição, o manejo e a sanidade do seu rebanho, para disputar o
mercado interno com as carnes de suínos e aves e também encarar as
exigências do mercado internacional, vencendo cada desafio.
PRODUÇÃO DE CARNE NO BRASIL
Segundo dados do ANUALPEC (1998) mais de 90 % dos animais
abatidos são produzidos exclusivamente a pasto, sujeitos a variações na
idade de abate, obedecendo a distribuição anual de chuvas. O
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte244
desempenho dos animais é razoável na estação chuvosa com a
pastagem em boas condições, e no período de inverno, associado no
Brasil tropical ao período seco, o que se observa é a carência alimentar
causada pela baixíssima qualidade do pasto, resultando em perda de
peso no rebanho, acompanhando a distribuição das chuvas e a
produção forrageira, conforme figura 01. Esta situação contrastante,
que ocorre entre os períodos de chuva e seca, culmina em baixos
índices zootécnicos que são expressos em baixa taxa de fertilidade, alta
mortalidade, abate tardio, baixo desfrute, animais com qualidade de
carcaça inferior e do maior custo de produção.
Figura 1 - Variação(%) da produção forrageira no Brasil Central
durante os meses do ano.
Várias são as maneiras de contornar esta situação em função do
conhecimento sobre nutrição, manejo, sanidade animal e do potencial
forrageiro dos capins cultivados e do volume de informações lançadas
pelas Universidades e Centros de Pesquisa. As tecnologias de
suplementação alimentar existentes, as condições climáticas, o mercado,
os tipos de resíduos de culturas e as gramíneas largamente cultivadas
no Brasil são fatores determinantes da forma e velocidade de
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov
Pr
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ão
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M
as
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 (%
) 
 
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 245
terminação que se pode adotar para melhorar aqueles índices de
produtividade da bovinocultura brasileira.
Com dimensões continentais, o Brasil possui várias regiões com
características peculiares e que seria prudente adotar tecnologias
específicas ou adaptáveis com coerência para atender a essas carências
e tornar o ciclo da pecuária brasileira mais curto, melhorando a
qualidade, a produtividade e aumentando a competitividade do produto
animal brasileiro dentro do mercado internacional.
Muitas técnicas como o Creep-feeding, a suplementação a pasto,
uso de corretivos e fertilizantes em pastagens, pastejo rotacionado,
diferimento de pastagem e severo controle sanitário do rebanho estão
sendo usadas sem nenhuma restrição e com grande eficiência em todo
território nacional. Essas técnicas precisam ser amplamente difundidas
para melhorar os índices de produtividade da bovinocultura de corte
brasileira, já que muitos produtores tradicionalistas ainda resistem às
inovações tecnológicas. Medidas simples podem reduzir ou anular o
“efeito sanfona” expresso em satisfatório ganho de peso pela
considerável oferta de alimento na primavera e verão, e a lastimável
perda que os animais ainda sofrem após o desmame e durante cada
período seco.
Outras técnicas deverão ser usadas de acordo com as limitações
das condições específicas regionais e podem ser adotadas como as
pastagens de inverno na região Sul, os grandes confinamentos em
regiões produtoras de grãos ou resíduos da agroindústria e a irrigação
de pastagens para parte do sudeste e centro-oeste, e praticamente todo
o nordeste.
IRRIGAÇÃO DE PASTAGENS
O uso de irrigação em pastagens com uso de pivô central
recebeu impulso em meados do anos noventa, embora se tenha registro
da utilização de irrigação através de aspersão convencional e inundação
para capineiras e em pequena escala para produção de massa verde
para pastejo direto. Pastagens irrigadas via Pivot Central tiveram origem
em áreas de produção agrícola de grãos, onde havia baixa produtividade
causada principalmente por solos cansados e contaminados por
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte246
patógenos, demandando elevadas doses de defensivos, conseqüência
muitas vezes do monocultivo.
Iniciado na sua maioria por agricultores profissionais, com pouca
ou nenhuma experiência em bovinocultura e deficientes de
conhecimentos sobre as reais necessidades dos capins cultivados, no
que diz respeito a turno de rega, lâmina de irrigação, período de
descanso, altura mínima de pastejo, índice de área foliar, doses de
fertilizantes para sustentar a produtividade da forrageira, onde irrigar e
qual categoria animal responderia em melhor retorno financeiro para
adoção de sistemas irrigados. Em face disto muitos aventureiros
fracassaram com a atividade.
Com o objetivo de reduzir a estacionalidade de produção e
produzir maior quantidade de massa forrageira durante o ano, a
irrigação de pastagem, mesmo na época em que as condições climáticas
são favoráveis, na primavera e verão, em que a temperatura e taxa de
radiação solar favorecem ao crescimento vegetativo, pode-se imprimir
acréscimos consideráveis ao volume de matéria seca produzida em
função de contornar a escassez hídrica causada pela má distribuição das
chuvas no período, principalmente a causada pelos veranicos. Neste
período todas as condições climáticas concorrem pela alta produtividade,
exceto o déficit hídrico.
A redução na estacionalidade existe, ou pode até ser plenamente
contornada. O conhecimento das amplitudes de temperatura e do foto-
período registradas entre o verão e o inverno são de fundamental
importância para que se faça um prognóstico das possibilidades de
introduzir ou não pastagens irrigadas em determinada região e qual a
forrageira que melhor poderá responder esta tecnologia.
Temperatura e radiação solar
Alta temperatura ambiental e elevada quantidade e qualidade da
luz são fatores determinantes na atividade metabólica da planta, na
ausência de limitações hídricas e minerais. Dessa forma, a atividade
meristemática da parte aérea e toda, ou quase toda a produção de
assimiladas são direcionados para a demanda de crescimento de
tecidos, priorizando o máximo crescimento da parte aérea para otimizar
a captura da radiação solar. Esses eventos entre outros, são
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 247
responsáveis pela elevada produção de matéria seca durante os meses
quentes e de dias longos.
Dados técnicos de várias fazendas mostram que projetos
implantados em regiões próximas da linha do equador ondeo binômio
temperatura e radiação apresenta nível elevado e não variam
significativamente ao longo do ano, os resultados são bastante
satisfatórios com relação à constância na produção forrageira. Em
regiões com invernos mais rigorosos a produção forrageira tem ficado
bem aquém da capacidade produtiva do verão. Nesta situação, torna-se
necessário avaliar outra cultura a ser irrigada ou outra alternativa para
suplementar os animais que seja mais conveniente a esta realidade.
Temperaturas noturnas menores de 15 oC não permitem
atividade metabólica satisfatória e formação de tecidos da parte aérea
de forrageiras tropicais, principalmente para o mombaça e tanzânia,
adotadas em projetos irrigados. Quedas de temperatura têm sido
observadas em regiões localizadas abaixo do paralelo 20o.
Não só a latitude deverá ser observada, mas também a altitude
local. É comum nos cerrados, áreas de chapas com altitudes acima de
850 metros, onde a amplitude térmica é bastante significativa entre a
temperaturas noturna e diurna, verão e inverno. A observação de
fatores dessa natureza são fundamentais na decisão de implantação de
tecnologia de irrigação de pastagens.
A adoção da tecnologia de irrigação de pastagens demanda
apoio técnico fundamentado no conhecimento da fisiologia,
necessidades nutricionais da forrageira, uso coerente de fertilizantes
compatíveis com os corretivos para que não se perder em produtividade
do relvado. Sistemas mais intensificados de produção requerem grande
domínio e precisão das atitudes a serem tomadas
A escolha da forragem
A escolha da forrageira é o primeiro passo depois da avaliação
das condições locais e da decisão de implantar sistema de pastejo
irrigado. Existem vários capins com excelente potencial produtivo nas
regiões onde as condições ambientais permitem crescimento forrageiro
ao longo de todo ano. Capins dos gêneros cynodon, P. maximum e a
brachiaria brizantha têm sido amplamente difundido.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte248
O gênero cynodon, altamente produtivo, porém de alto custo de
implantação, deveria ser usado para produção de feno de maior
rentabilidade, que para pastejo direto, de menor eficiência econômica.
Além disto, contaminação do stand forrageiro por sementes de outros
capins tem ocorrido. Normalmente as braquiárias, menos palatáveis e
mais rústicas têm sido motivo de preocupação nestes sistemas, devido a
alta rotatividade de animais nestes sistemas.
O gênero P. maximum tem se mostrado mais adequado, devido
a facilidade de manejo e alta produção de matéria seca. Os cultivares
tanzânia e mombaça, de crescimento cespitoso, têm sido responsáveis
pela sedução de produtores e técnicos e garantido a sustentabilidade
dos sistemas irrigados. No auge do inverno e início da estação
primavera em que as pastagens estão secas, estas forrageiras têm
proporcionado verdadeiros oásis e permitido produção de carne ao
longo de todo ano.
Experiências de campo com o capim mombaça têm mostrado
dados de produção forrageira diária de até 160 kg de matéria seca por
ha, no auge do verão, em stand densos. O pisoteio e o desperdício após
pastejo não são facilmente determinados mas, podem ser estimados. O
hábito de crescimento desta forrageira favorece a menores desperdícios
pelo pisoteio.
Tabela 1 - Composição média de forragens cultivadas em sistemas
irrigados (% MS)
Capim NDT (%) PB (%) MS (%) P (%)
Tanzânia (34 dias) 63,8 14,2 17,2 0,29
Mombaça (34 dias) 62,9 13,5 18,1 0,28
Tifton 85 (30 dias) 64,1 15,6 18,4 0,31
*Valores obtidos em coleta de campo
Manejo da irrigação
A lâmina de irrigação necessária dependerá de observação e
acurácia do manejador. Solos arenosos exigem maior freqüência de
irrigação, duas a três vezes por semana, com lâminas mais “pesadas”.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 249
Solos argilosos por armazenarem maior quantidade de água poderão ser
irrigados uma ou duas vezes por semana. Não existe, é claro, receita
para determinar a freqüência de irrigação, outros fatores como umidade
relativa local, taxa de radiação solar, tipo de solo, stand forrageiro e
velocidade dos ventos deverão ser considerados para testar a lâmina
mais adequada. Normalmente, têm-se trabalhado com lâminas de 10 a
15 mm. Respostas a lâminas mais pesadas e turno de rega a cada 3 ou
4 dias têm sido bastante satisfatórias. O encharcamento do solo a cada
duas ou três vezes por semana têm permitido melhor distribuição do
sistema radicular no perfil do solo. A adoção de lâminas mais leves e
mais parceladas tem levado a decréscimos na produção forrageira ao
longo do tempo. Nessas condições têm-se obervado crescimento
radicular superficial com menor exploração do perfil solo em busca de
nutrientes, alta sensibilidade a falta de irrigação, sujeito ainda a donos
causados pelo pisoteio.
O uso tensiômetros ou estação climatológica são imprescindíveis
para se determinar o momento exato de se fazer a irrigação, evitando
que ocorra a falta ou desperdício de água e energia e até mesmo
comprometer o desenvolvimento da forrageira por falta ou excesso de
umidade.
Maiores efeitos do pisoteio têm sido notados em nível de solo
que em desperdício de forragem, quando se trata P. maximum. Solos
úmidos sofrem com maior compactação pelo pisoteio, dificultando o
crescimento do sistema radicular, a infiltração da água e
consequentemente a percolação de nutrientes lançados em cobertura
para manutenção da fertilidade do solo. Porém, a não irrigação dos
piquetes ocupados e dos que antecedem a ocupação tem favorecido a
produtividade e a longevidade dos sistemas irrigados devido à redução
do impacto do pisoteio.
APLICAÇÃO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS
É recomendável fazer aplicação de uma dose maciça de calcário
antes da formação do pasto, desde que não ultrapasse o nível de pH
que afete a disponibilidade de micronutrientes como o manganês.
Atenção deve ser dada à profundidade de aplicação, de 25 a 30 cm, que
permita melhor crescimento do sistema radicular. Em sistema de
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte250
pastagem irrigada não se permite movimentação periódica do solo.
Preferencialmente o calcário deveria ser de granulometria mais grossa ,
baixo PRNT (70%), e alto PN, já que a extração é contínua e elevada.
Calcários muitos finos têm levado aumentos de pH inicialmente e
redução a curto prazo com redução nos níveis de cálcio e magnésio,
consequentemente a menor eficiência de utilização de fertilizantes pelas
plantas. Manipular níveis de fertilizantes em sistemas de alta extração
de nutrientes tem sido um desafio, por não ser permitido remover o solo
periodicamente, como em culturas anuais. Este tem sido um dos
principais fatores de insucessos em sistemas irrigados, além do
desconhecimento das necessidades fisiológicas das gramíneas perenes,
relativas ao período de descanso, altura de pastejo e índice de área
foliar.
Grande economia é observada em aplicação de fertilizantes à
base de N, S e K via fertirrigação. A aplicação com uso adubadeiras
tracionadas por trator têm onerado muito os custos de manutenção
dessas pastagens pelo fato necessitar de máquinas todos os dias além,
do pisoteio comprometendo a forrageira e as condições físicas do solo.
O P. maximum de modo geral tem apresentado excelentes respostas a
adubações contendo altas doses de enxofre. Após o pastejo por período
de 5 a 7 dias há crescimento de até 10 cm diários, e o que se observa a
partir de então é uma ligeira redução na velocidade de alongamento
foliar. Por tanto seria conveniente realizar a adubação de cobertura
imediatamente após a saída dos animais do piquete para favorecer o
alargamento das touceiras e o aparecimento de novos perfilhos.
Muitos produtores, por falta de suporte técnico, cometeram erros
realizando adubações nitrogenadas com uso de uréia logo após a
calagem. Na verdade, por ter andado na frente da pesquisa científica,
muitas atitudesforam tomadas intuitivamente ou de experiências com
agricultura para produção de grãos. Hoje, com apoio de pesquisadores
de universidades, de institutos de pesquisa e profissionais de campo
qualificados têm-se obtido, a cada dia, melhores resultados com
sistemas de pastagem irrigada.
Maior eficiência nas fertilizações tem sido obtida em solos com
um nível mínimo de matéria orgânica (MO). Solos tropicais, onde a
temperatura normalmente é elevada, dificilmente consegue-se manter
teores de 2 a 3% de MO, principalmente em áreas irrigadas em que a
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 251
atividade microbiana do solo é bastante expressiva. Nessas regiões a
temperatura ambiental oscila entre 25 e 35oC e a umidade do solo é
constante, favorecendo a ação dos decompositores e redução contínua
dos teores de MO por mineralização. Contudo, torna-se necessário
adicionar sempre que possível esterco de curral, cepilha, casca de arroz,
resíduos da agricultura, cama de frango ou esterco de galinha poedeira.
MANEJO DO PASTO IRRIGADO
O sistema adotado é o pastejo rotacionado tradicional, que difere
do sistema de sequeiro por não sofrer grandes influências de variações
climáticas esperadas mas imprevisíveis quanto a duração, causadas
pelos veranicos, responsáveis por flutuações na produção, exigindo
interferências imediatas no controle da carga animal. O manejo do pasto
exige acompanhamento bastante rigoroso. Qualquer descuido na
pressão de pastejo poderá levar ao retardamento na recuperação da
produção forrageira. A observação do índice de área foliar remanescente
é fundamental para a recomposição do pasto em tempo hábil até a
chegada do próximo pastejo. Alta pressão de pastejo poderá levar a
planta a estresse fisiológico, menor conteúdo em reservas de
carboidratos nos tecidos permanentes e retardar sua recomposição e
consequentemente o próximo pastejo poderá ser comprometido, com
redução da capacidade de suporte.
O período de descanso é função da espécie forrageira e da
região de estabelecimento do projeto e deve ser flexível para as
diferentes estações do ano ou que ajuste na carga animal seja coerente
com a velocidade de crescimento da forrageira. A planta não obedece ao
tempo determinado pelo manejador e possui o seu tempo fisiológico que
envolve o crescimento e recomposição de suas reservas nos tecidos
permanentes. Durante o inverno em que a atividade meristemática é
reduzida em função da queda de temperatura, é necessário aumentar o
período entre pastejos e/ou reduzir a carga animal. Logicamente,
existem grandes variações entre um ano e outro e, o sucesso do sistema
está intimamente ligado ao acompanhamento técnico do sistema.
A exploração intensiva de pastagens requer conhecimento dos
eventos e a sua extensão sobre a forrageira que se pretende adotar
como suporte para produção de volumoso. As pesquisas científicas
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte252
continuam gerando um grande volume de informações sobre a idade
ótima de pastejo, altura de corte, descanso mínimo ou intervalo entre
pastejos para recomposição das reservas da planta, curvas
demonstrativas associando qualidade da forragem com volume de
massa produzida, capacidade de produção de matéria seca ao longo do
ano, extração de nutrientes, exigência em fertilidade, velocidade de
recuperação pós pastejo, entre outras referências indispensáveis para se
estabelecer o manejo para cada espécie. Enfim, um nível mínimo de
conhecimento sobre a ecofisiologia das pastagens é necessário para
otimizar a produção forrageira, de acordo com as exigências da
categoria animal em produção para assegurar a sustentabilidade do
sistema.
Muito ainda terá que ser discutido sobre a produção forrageira
em sistemas irrigados. Pastejo em sistemas irrigados nada mais é que
intensificação do pastejo rotacionado já adotado em muitas
propriedades, em várias regiões do Brasil. Sistemas de pastejo
rotacionado foram adotados e descartados em grande parte das
propriedades que o introduziram. A não obediência ou mesmo o
desconhecimento das leis do pastejo rotacionado levaram esta
tecnologia ao fracasso, à crítica e ao seu descrédito pelos produtores
rurais e até mesmo por técnicos extensionistas, devido à dificuldade de
conscientização dos manejadores de pastos. Por serem muito intensivos
não apresentam elasticidade suficiente para retardar a tomada de
decisão. O sucesso das decisões do manejador é função da observação
da altura de corte, índice de área foliar, altura do ponto de crescimento,
doses, forma e momento de aplicação de fertilizantes e corretivos. Esse
conjunto de informações associado à densidade do stand forrageiro vão
predizer a lotação admitida pelo sistema. O sucesso na tomada de
decisão será fundamental sustentabilidade do pastejo rotacionado
irrigado e obtenção de desempenho animal satisfatório.
Têm-se observado que períodos de descanso ou intervalos entre
pastejos, para o noroeste de mineiro, devem ser de 32 dias,
aproximadamente. Trabalhos de pesquisa mostram períodos de
descanso menores que este mas, o pastejo nunca é severamente
controlado e pequenos ajuste na carga animal sempre são necessários.
A presença do animal exerce efeitos conhecidos mas nunca
quantificados com exatidão. Existe muita semelhança entre dados de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 253
pesquisa, obtidos em casa de vegetação em vasos ou pequenos
canteiros e até mesmo em piquetes cujo período experimental, às vezes,
não excede 24 meses e os obtidos no campo, em sistemas que contém
de oito a dez animais com média de 400 kg de peso vivo por há,
considerando o peso de entrada e saída do sistema. Quando se trabalha
com lotes de 300 a 400 animais por piquete, têm-se que ser cauteloso e
aumentar o período de descanso entre pastejos é bastante prudente.
EXPECTATIVA DE PRODUÇÃO ANIMAL
A produção animal em sistemas intensivos de exploração de
pastagem pode ser bastante contraditória. Diferentes categorias podem
representar diferentes resultados, tornando o investimento mais ou
menos rentável. Deve-se sempre buscar maior produção de carne por
ha, como mostra a figura 02. Sistemas de pastagem irrigada são
implantados, normalmente, no sentido de eliminar a atividade de
confinamento ou acelerar a terminação de animais para abate, em
propriedades onde a estação seca é bem definida e longa. Outras,
utilizam-se da tecnologia para recria de animais desmamados dentro da
propriedades ou adquiridos de terceiro, permitindo o contínuo
desenvolvimento para terminação no próprio sistema irrigado ou em
confinamento fechado. Produtores de leite para pastoreio direto de
vacas em lactação. Não importa a finalidade, o importante que o
pastoreio direto se mostre mais rentável que a colheita mecânica de
alimentos, armazenagem e fornecimento aos animais em cochos,
deslocamento de máquinas e equipamentos, de mão-de-obra e infra-
estrutura de alimentação e acelere a terminação de animais de corte,
contribuindo para o aumento da taxa de desfrute.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte254
Figura 2 - Eficiência em utilização de pastagens (Produção de MS x
ganho de peso/ha)
O desempenho de animais em fase de recria tem sido bastante
satisfatório. O valor nutritivo da massa verde produzida, satisfatório em
PB e ligeira deficiência energética, é bastante compatível com as
exigências de animais em recria e de bois magros, conforme tabela 02
do NRC. As exigências de animais em fase final de terminação que
acumulam gordura não encaixam com a oferta de forrageiras irrigadas.
A oferta de proteína bruta (PB) do capim mombaça é bastante elevada
em função das adubações constantes à base de N e S, e tem atingido
níveis próximos de 13,5%. NDT têm oscilado entre 60 e 65%.
A tabela 03 mostra o consumo médio de animais em fase de
recria, novilhos e bois em fase de engorda de nutrientes oferecidos pela
pastagem (média de três anos). São apresentadosos ganhos médios
diários (GMD) do período para diferentes categorias.
Ganho de peso por animal x Ganho de peso por área
Pressão de pastejo
G
an
h
o
 m
áx
im
o
Ganho por
área
Ganho por
animal
 Pastejo
 ótimoSubpastejo Superpastejo
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 255
Tabela 2 - Quadro de exigência animal para ganho de 1,0 kg/dia
Exigência (kg/Cab/dia)
Categoria MS NDT PB
Bezerro-250 kg 5,8 3,9 0,897
Novilhos magros - 360 kg 8,0 4,98 0,924
Boi terminação-450 kg 9,8 6,1 1,176
*NRC (1988)
Tabela 3 - Consumo de nutrientes observado para diferentes categorias
de animais, em função do valor nutritivo do capim mombaça
obtido por análise bromatológica e GMD
Consumo (kg/Cab/dia)
Categoria MS NDT PB MO
GMD
observado
Bezerro-250 kg 6,25 3,9 0,719 36,8 0,710
Novilhos magros - 360 kg 8,0 5,0 0,92 47,0 0,980
Boi terminação-450 kg 9,5 5,9 1,193 55,9 0,780
* Valores estimados de consumo médio por cabeça.
A escolha da categoria animal deve levar em consideração o
mercado que determina custo de aquisição de animais para reposição,
função da oferta regional de bezerros, bois magros, vacas magras pós-
desmame, a velocidade de giro de capital pretendida e a exigência
nutricional. Experiências de campo têm mostrado que explorar o ganho
compensatório novilhos magros (12 a 13 @) tem sido bastante
vantajoso e normalmente, não tem excedido o prazo de 120 dias para
atingirem o peso de abate. A capacidade de suporte pode variar
bastante de região para região e um pouco menos de propriedade para
propriedade, mas tem ficado em torno de 9,6 bois magros por ha.
Animais em fase de recria submetidos a sistemas irrigados tem
proporcionado ótimos níveis de ganhos por área. É possível em muitos
casos conseguir-se lotações de 14 a 16 animais por ha. A tabela 04
apresenta dados de controle de desempenho trimestral.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte256
Animais geneticamente superiores como os cruzados de raças
zebuínas com raças européias, onde se explora máxima heterose, os
resultados têm sido bastante surpreendentes, com excepcionais GMD.
Tabela 4 - Produção média de carne/ha
Categoria Primavera Verão Outono Inverno Ganho Total
Bezerro-250 kg 984,0 945,0 890,6 834,3 3.653,9
Novilhos magros - 360 kg 801,6 790,8 715,0 698,0 3.005,4
* Ganhos obtidos em pastagem de capim mombaça.
Mesmo com ganhos menores por ha, tem sido mais vantajoso a
produção de carne a partir de novilhos magros em função dos preços de
arroba adquirida e arroba terminada. Vacas magras pós desmame
também tem apresentado retorno muito vantajoso, de fácil aquisição,
principalmente na região dos cerrados e por ser um animal de carcaça
formada, adequado para engorda. Animais magros aumentam a
viabilidade do investimento.
INVESTIMENTO EM SISTEMAS IRRIGADOS
Os custos são extremamente relevantes em sistemas irrigados
onde o equipamento utilizado é o Pivô Central. Além disto, nem todas as
propriedades dispõem de condições topográficas, energia elétrica, água
e solo que permitam a adoção desta tecnologia. Em função disto não há
porque implantar esta tecnologia em regiões em que o déficit hídrico
causado pela escassez de chuvas não seja bastante acentuado. O ponto
de capitação pode elevar bastante os custos de implantação deste
sistema. O conjunto moto-bomba, rede elétrica e adutora podem ser
muito expressivos na composição dos custos de implantação. Outro
aspecto é que conjuntos moto-bombas muito potentes tendem a elevar
o custo energético de acionamento do equipamento.
Os equipamentos mais adotados atualmente têm sido de 80 a
100 ha, por reduzirem o custo por área e causarem menor impacto em
nível de solos. Pivôs muito grandes possuem alta vazão na extremidade
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 257
podendo causar erosão em solos de baixa absorção e com topografia
mais inclinada.
Outros investimentos como aquisição de animais, cercas fixas e
eletrificadas, bebedouros, cochos de sal e formação de pasto são
específicos para a atividade de pecuária e devem ser considerados antes
de se decidir pelo sistema de pastagem irrigada, conforme resumo da
tabela 05, considerando custos para bois magros. Mas, ainda em pivôs
que irrigam lavouras anuais talvez seja sugerível fazer pastagem por
período de 1 a 2 anos para auxiliar no controle de patógenos de solo,
principalmente em propriedades que cultivam lavouras de feijão por
anos seguidos.
Considerando que o ciclo dos animais dentro do pivô não excede,
em média a 120 dias para bois magros, é possível trabalhar com 3 lotes
por ano para esta categoria. Fator que melhora significativamente a
rentabilidade do sistema. Outras opções são bastante rentáveis como a
recria de animais recém desmamados e a engorda de vacas magras.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte258
Tabela 5 - Resumo de custos de implantação, manutenção de
equipamentos e despesas operaicionais (US $)
1 - Investimentos Unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total
Pivô Central (100 ha) Conjunto 1 $120.000,00 $120.000,00
Formação de Pastagem ha 100 $262,00 $26.200,00
Cerca elétrica km 19,1828 $242,00 $4.642,24
montagem do pivô central Conjunto 1 $4.200,00 $4.200,00
Total (10 anos) $155.042,24
Sub-total1 (1 ano) $15.504,22
2 - Custo Operacional
2.1 - Rebanho
Minerallização ton 29,2 $290,00 $8.468,00
Vacinas e vermífugos dose 3 $2,80 $8,40
M.D.O. salário 30 $80,00 $2.400,00
Sub-total2 $10.876,40
2.2 - Irrigação
Energia elétrica contas 12 $1.400,00 $16.800,00
Manutenção do pivô (3%) $3.600,00
Sub-total3 $20.400,00
2.3 - Manut. pastagem
Super Simples ton 70 $160,00 $11.200,00
Sulfato de Amônio ton 50 $170,00 $8.500,00
NPK (20-00-20) ton 70 $205,00 $14.350,00
Esterco de galinha ton 300 $25,00 $7.500,00
Calcário ton 100 $5,20 $520,00
Dist. De corretivos e fertiliz. h.m. 675 $12,00 $8.100,00
Sub-total4 $50.170,00
Total Geral (1+2+3+4) (TG) $96.950,62
Aquisição de animais cabeça 800 $230,00 $184.000,00
Venda de animais cabeça 800 $310,00 $248.000,00
Receita Bruta (RB1) $64.000,00
Rec. Bruta (3 ciclos) (RB2) $192.000,00
Receita líquida (RB2 - TG) $95.049,38
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 259
CONCLUSÃO
A irrigação de pastagens tem grande potencial para expansão e
pode contribuir muito para melhorar os índices de produtividade da
pecuária brasileira, contribuindo ainda mais para a produção do boi de
pasto com alimentação mais natural possível. Os índices de
produtividade poderão ser melhorados se adotada uma suplementação
que possa acelerar o ganho de peso em pastejo, corrigindo as
necessidades de cada categoria animal.
Os investimentos são elevados e muitos critérios técnicos devem
ser adotados e respeitados para permitir o sucesso do empreendimento.
A observação de fatores como temperatura, fotoperíodo e distribuição
das chuvas, são variáveis climáticas fundamentais para adoção da
tecnologia de irrigação de pastagens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PECUÁRIA DE CORTE. São Paulo: FNP, v.6, 1998.
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PECUÁRIA DE CORTE. São Paulo: FNP, v.7, 1999.
Gomide, J. A. Morfogênese e análise de crescimento de gramíneas tropicais.
In: Simpósio Internacional sobre produção animal em pastejo, 1997, Viçosa.
Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p.411-429.
Maraschin, G. E. Produção de carne a pasto. In: Simpósio sobre manejo da
pastagem, 13., 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1997. p.243-
274.
Nabinger, C. Princípios da exploração intensiva de pastagens. In: Simpósio
sobre manejo da pastagem, 13., 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba:
FEALQ, 1997. p.15-95.
National Research Council. 1996. Nutrient Requirements of Beef Catle.
Washington, D.C., National Academy of Sciences.
Zimmer, A.H., Euclides Filho, K. As pastagens e a pecuária de corte brasileira
In: Simpósio Internacional sobre produçãoanimal em pastejo, 1997, Viçosa.
Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p. 349-379.
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