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ALGUNS FATORES PRÁTICOS DA IRRIGAÇÃO DE PASTAGENS Gláucon Cézar Cardoso *M. Sc. Forragicultura e Pastagens Consultor Autônomo INTRODUÇÃO O Brasil, apesar de possuir o segundo maior rebanho bovino de corte do mundo e das tecnologias existentes, o que se observa, nas avaliações de propriedades rurais, são modestos índices de produtividade. Com grande extensão territorial, disponibilidade de mão- de-obra, recursos genéticos que atendem as expectativas da produção animal a pasto, oferta de grãos e outros insumos e a ausência de invernos rigorosamente frios a favor da atividade, coloca o Brasil numa posição privilegiada na disputa pelo domínio da produção de carne bovina. Contudo, falta política agrícola e internacional para crescimento de estratégico da produção e marketing para mercados confiáveis que avalizem o produtor na aquisição e implantação integral de novas tecnologias que acelerem e sustentem a produção de carne bovina. O ciclo da bovinocultura de corte no Brasil depende, ainda, das condições climáticas. Grande parte do rebanho encontra-se no Brasil Central, onde a distribuição de chuvas é concentrada entre os meses de outubro a março. No período de inverno, caracterizado por ligeira queda de temperatura em função da redução do fotoperíodo, as chuvas são escassas e a produção forrageira é bastante restrita. O produtor precisa se profissionalizar como pecuarista e melhorar mais a genética, a nutrição, o manejo e a sanidade do seu rebanho, para disputar o mercado interno com as carnes de suínos e aves e também encarar as exigências do mercado internacional, vencendo cada desafio. PRODUÇÃO DE CARNE NO BRASIL Segundo dados do ANUALPEC (1998) mais de 90 % dos animais abatidos são produzidos exclusivamente a pasto, sujeitos a variações na idade de abate, obedecendo a distribuição anual de chuvas. O - II Simpósio de Produção de Gado de Corte244 desempenho dos animais é razoável na estação chuvosa com a pastagem em boas condições, e no período de inverno, associado no Brasil tropical ao período seco, o que se observa é a carência alimentar causada pela baixíssima qualidade do pasto, resultando em perda de peso no rebanho, acompanhando a distribuição das chuvas e a produção forrageira, conforme figura 01. Esta situação contrastante, que ocorre entre os períodos de chuva e seca, culmina em baixos índices zootécnicos que são expressos em baixa taxa de fertilidade, alta mortalidade, abate tardio, baixo desfrute, animais com qualidade de carcaça inferior e do maior custo de produção. Figura 1 - Variação(%) da produção forrageira no Brasil Central durante os meses do ano. Várias são as maneiras de contornar esta situação em função do conhecimento sobre nutrição, manejo, sanidade animal e do potencial forrageiro dos capins cultivados e do volume de informações lançadas pelas Universidades e Centros de Pesquisa. As tecnologias de suplementação alimentar existentes, as condições climáticas, o mercado, os tipos de resíduos de culturas e as gramíneas largamente cultivadas no Brasil são fatores determinantes da forma e velocidade de 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Nov Dez Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Pr od uç ão d e M as sa (% ) II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 245 terminação que se pode adotar para melhorar aqueles índices de produtividade da bovinocultura brasileira. Com dimensões continentais, o Brasil possui várias regiões com características peculiares e que seria prudente adotar tecnologias específicas ou adaptáveis com coerência para atender a essas carências e tornar o ciclo da pecuária brasileira mais curto, melhorando a qualidade, a produtividade e aumentando a competitividade do produto animal brasileiro dentro do mercado internacional. Muitas técnicas como o Creep-feeding, a suplementação a pasto, uso de corretivos e fertilizantes em pastagens, pastejo rotacionado, diferimento de pastagem e severo controle sanitário do rebanho estão sendo usadas sem nenhuma restrição e com grande eficiência em todo território nacional. Essas técnicas precisam ser amplamente difundidas para melhorar os índices de produtividade da bovinocultura de corte brasileira, já que muitos produtores tradicionalistas ainda resistem às inovações tecnológicas. Medidas simples podem reduzir ou anular o “efeito sanfona” expresso em satisfatório ganho de peso pela considerável oferta de alimento na primavera e verão, e a lastimável perda que os animais ainda sofrem após o desmame e durante cada período seco. Outras técnicas deverão ser usadas de acordo com as limitações das condições específicas regionais e podem ser adotadas como as pastagens de inverno na região Sul, os grandes confinamentos em regiões produtoras de grãos ou resíduos da agroindústria e a irrigação de pastagens para parte do sudeste e centro-oeste, e praticamente todo o nordeste. IRRIGAÇÃO DE PASTAGENS O uso de irrigação em pastagens com uso de pivô central recebeu impulso em meados do anos noventa, embora se tenha registro da utilização de irrigação através de aspersão convencional e inundação para capineiras e em pequena escala para produção de massa verde para pastejo direto. Pastagens irrigadas via Pivot Central tiveram origem em áreas de produção agrícola de grãos, onde havia baixa produtividade causada principalmente por solos cansados e contaminados por - II Simpósio de Produção de Gado de Corte246 patógenos, demandando elevadas doses de defensivos, conseqüência muitas vezes do monocultivo. Iniciado na sua maioria por agricultores profissionais, com pouca ou nenhuma experiência em bovinocultura e deficientes de conhecimentos sobre as reais necessidades dos capins cultivados, no que diz respeito a turno de rega, lâmina de irrigação, período de descanso, altura mínima de pastejo, índice de área foliar, doses de fertilizantes para sustentar a produtividade da forrageira, onde irrigar e qual categoria animal responderia em melhor retorno financeiro para adoção de sistemas irrigados. Em face disto muitos aventureiros fracassaram com a atividade. Com o objetivo de reduzir a estacionalidade de produção e produzir maior quantidade de massa forrageira durante o ano, a irrigação de pastagem, mesmo na época em que as condições climáticas são favoráveis, na primavera e verão, em que a temperatura e taxa de radiação solar favorecem ao crescimento vegetativo, pode-se imprimir acréscimos consideráveis ao volume de matéria seca produzida em função de contornar a escassez hídrica causada pela má distribuição das chuvas no período, principalmente a causada pelos veranicos. Neste período todas as condições climáticas concorrem pela alta produtividade, exceto o déficit hídrico. A redução na estacionalidade existe, ou pode até ser plenamente contornada. O conhecimento das amplitudes de temperatura e do foto- período registradas entre o verão e o inverno são de fundamental importância para que se faça um prognóstico das possibilidades de introduzir ou não pastagens irrigadas em determinada região e qual a forrageira que melhor poderá responder esta tecnologia. Temperatura e radiação solar Alta temperatura ambiental e elevada quantidade e qualidade da luz são fatores determinantes na atividade metabólica da planta, na ausência de limitações hídricas e minerais. Dessa forma, a atividade meristemática da parte aérea e toda, ou quase toda a produção de assimiladas são direcionados para a demanda de crescimento de tecidos, priorizando o máximo crescimento da parte aérea para otimizar a captura da radiação solar. Esses eventos entre outros, são II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 247 responsáveis pela elevada produção de matéria seca durante os meses quentes e de dias longos. Dados técnicos de várias fazendas mostram que projetos implantados em regiões próximas da linha do equador ondeo binômio temperatura e radiação apresenta nível elevado e não variam significativamente ao longo do ano, os resultados são bastante satisfatórios com relação à constância na produção forrageira. Em regiões com invernos mais rigorosos a produção forrageira tem ficado bem aquém da capacidade produtiva do verão. Nesta situação, torna-se necessário avaliar outra cultura a ser irrigada ou outra alternativa para suplementar os animais que seja mais conveniente a esta realidade. Temperaturas noturnas menores de 15 oC não permitem atividade metabólica satisfatória e formação de tecidos da parte aérea de forrageiras tropicais, principalmente para o mombaça e tanzânia, adotadas em projetos irrigados. Quedas de temperatura têm sido observadas em regiões localizadas abaixo do paralelo 20o. Não só a latitude deverá ser observada, mas também a altitude local. É comum nos cerrados, áreas de chapas com altitudes acima de 850 metros, onde a amplitude térmica é bastante significativa entre a temperaturas noturna e diurna, verão e inverno. A observação de fatores dessa natureza são fundamentais na decisão de implantação de tecnologia de irrigação de pastagens. A adoção da tecnologia de irrigação de pastagens demanda apoio técnico fundamentado no conhecimento da fisiologia, necessidades nutricionais da forrageira, uso coerente de fertilizantes compatíveis com os corretivos para que não se perder em produtividade do relvado. Sistemas mais intensificados de produção requerem grande domínio e precisão das atitudes a serem tomadas A escolha da forragem A escolha da forrageira é o primeiro passo depois da avaliação das condições locais e da decisão de implantar sistema de pastejo irrigado. Existem vários capins com excelente potencial produtivo nas regiões onde as condições ambientais permitem crescimento forrageiro ao longo de todo ano. Capins dos gêneros cynodon, P. maximum e a brachiaria brizantha têm sido amplamente difundido. - II Simpósio de Produção de Gado de Corte248 O gênero cynodon, altamente produtivo, porém de alto custo de implantação, deveria ser usado para produção de feno de maior rentabilidade, que para pastejo direto, de menor eficiência econômica. Além disto, contaminação do stand forrageiro por sementes de outros capins tem ocorrido. Normalmente as braquiárias, menos palatáveis e mais rústicas têm sido motivo de preocupação nestes sistemas, devido a alta rotatividade de animais nestes sistemas. O gênero P. maximum tem se mostrado mais adequado, devido a facilidade de manejo e alta produção de matéria seca. Os cultivares tanzânia e mombaça, de crescimento cespitoso, têm sido responsáveis pela sedução de produtores e técnicos e garantido a sustentabilidade dos sistemas irrigados. No auge do inverno e início da estação primavera em que as pastagens estão secas, estas forrageiras têm proporcionado verdadeiros oásis e permitido produção de carne ao longo de todo ano. Experiências de campo com o capim mombaça têm mostrado dados de produção forrageira diária de até 160 kg de matéria seca por ha, no auge do verão, em stand densos. O pisoteio e o desperdício após pastejo não são facilmente determinados mas, podem ser estimados. O hábito de crescimento desta forrageira favorece a menores desperdícios pelo pisoteio. Tabela 1 - Composição média de forragens cultivadas em sistemas irrigados (% MS) Capim NDT (%) PB (%) MS (%) P (%) Tanzânia (34 dias) 63,8 14,2 17,2 0,29 Mombaça (34 dias) 62,9 13,5 18,1 0,28 Tifton 85 (30 dias) 64,1 15,6 18,4 0,31 *Valores obtidos em coleta de campo Manejo da irrigação A lâmina de irrigação necessária dependerá de observação e acurácia do manejador. Solos arenosos exigem maior freqüência de irrigação, duas a três vezes por semana, com lâminas mais “pesadas”. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 249 Solos argilosos por armazenarem maior quantidade de água poderão ser irrigados uma ou duas vezes por semana. Não existe, é claro, receita para determinar a freqüência de irrigação, outros fatores como umidade relativa local, taxa de radiação solar, tipo de solo, stand forrageiro e velocidade dos ventos deverão ser considerados para testar a lâmina mais adequada. Normalmente, têm-se trabalhado com lâminas de 10 a 15 mm. Respostas a lâminas mais pesadas e turno de rega a cada 3 ou 4 dias têm sido bastante satisfatórias. O encharcamento do solo a cada duas ou três vezes por semana têm permitido melhor distribuição do sistema radicular no perfil do solo. A adoção de lâminas mais leves e mais parceladas tem levado a decréscimos na produção forrageira ao longo do tempo. Nessas condições têm-se obervado crescimento radicular superficial com menor exploração do perfil solo em busca de nutrientes, alta sensibilidade a falta de irrigação, sujeito ainda a donos causados pelo pisoteio. O uso tensiômetros ou estação climatológica são imprescindíveis para se determinar o momento exato de se fazer a irrigação, evitando que ocorra a falta ou desperdício de água e energia e até mesmo comprometer o desenvolvimento da forrageira por falta ou excesso de umidade. Maiores efeitos do pisoteio têm sido notados em nível de solo que em desperdício de forragem, quando se trata P. maximum. Solos úmidos sofrem com maior compactação pelo pisoteio, dificultando o crescimento do sistema radicular, a infiltração da água e consequentemente a percolação de nutrientes lançados em cobertura para manutenção da fertilidade do solo. Porém, a não irrigação dos piquetes ocupados e dos que antecedem a ocupação tem favorecido a produtividade e a longevidade dos sistemas irrigados devido à redução do impacto do pisoteio. APLICAÇÃO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS É recomendável fazer aplicação de uma dose maciça de calcário antes da formação do pasto, desde que não ultrapasse o nível de pH que afete a disponibilidade de micronutrientes como o manganês. Atenção deve ser dada à profundidade de aplicação, de 25 a 30 cm, que permita melhor crescimento do sistema radicular. Em sistema de - II Simpósio de Produção de Gado de Corte250 pastagem irrigada não se permite movimentação periódica do solo. Preferencialmente o calcário deveria ser de granulometria mais grossa , baixo PRNT (70%), e alto PN, já que a extração é contínua e elevada. Calcários muitos finos têm levado aumentos de pH inicialmente e redução a curto prazo com redução nos níveis de cálcio e magnésio, consequentemente a menor eficiência de utilização de fertilizantes pelas plantas. Manipular níveis de fertilizantes em sistemas de alta extração de nutrientes tem sido um desafio, por não ser permitido remover o solo periodicamente, como em culturas anuais. Este tem sido um dos principais fatores de insucessos em sistemas irrigados, além do desconhecimento das necessidades fisiológicas das gramíneas perenes, relativas ao período de descanso, altura de pastejo e índice de área foliar. Grande economia é observada em aplicação de fertilizantes à base de N, S e K via fertirrigação. A aplicação com uso adubadeiras tracionadas por trator têm onerado muito os custos de manutenção dessas pastagens pelo fato necessitar de máquinas todos os dias além, do pisoteio comprometendo a forrageira e as condições físicas do solo. O P. maximum de modo geral tem apresentado excelentes respostas a adubações contendo altas doses de enxofre. Após o pastejo por período de 5 a 7 dias há crescimento de até 10 cm diários, e o que se observa a partir de então é uma ligeira redução na velocidade de alongamento foliar. Por tanto seria conveniente realizar a adubação de cobertura imediatamente após a saída dos animais do piquete para favorecer o alargamento das touceiras e o aparecimento de novos perfilhos. Muitos produtores, por falta de suporte técnico, cometeram erros realizando adubações nitrogenadas com uso de uréia logo após a calagem. Na verdade, por ter andado na frente da pesquisa científica, muitas atitudesforam tomadas intuitivamente ou de experiências com agricultura para produção de grãos. Hoje, com apoio de pesquisadores de universidades, de institutos de pesquisa e profissionais de campo qualificados têm-se obtido, a cada dia, melhores resultados com sistemas de pastagem irrigada. Maior eficiência nas fertilizações tem sido obtida em solos com um nível mínimo de matéria orgânica (MO). Solos tropicais, onde a temperatura normalmente é elevada, dificilmente consegue-se manter teores de 2 a 3% de MO, principalmente em áreas irrigadas em que a II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 251 atividade microbiana do solo é bastante expressiva. Nessas regiões a temperatura ambiental oscila entre 25 e 35oC e a umidade do solo é constante, favorecendo a ação dos decompositores e redução contínua dos teores de MO por mineralização. Contudo, torna-se necessário adicionar sempre que possível esterco de curral, cepilha, casca de arroz, resíduos da agricultura, cama de frango ou esterco de galinha poedeira. MANEJO DO PASTO IRRIGADO O sistema adotado é o pastejo rotacionado tradicional, que difere do sistema de sequeiro por não sofrer grandes influências de variações climáticas esperadas mas imprevisíveis quanto a duração, causadas pelos veranicos, responsáveis por flutuações na produção, exigindo interferências imediatas no controle da carga animal. O manejo do pasto exige acompanhamento bastante rigoroso. Qualquer descuido na pressão de pastejo poderá levar ao retardamento na recuperação da produção forrageira. A observação do índice de área foliar remanescente é fundamental para a recomposição do pasto em tempo hábil até a chegada do próximo pastejo. Alta pressão de pastejo poderá levar a planta a estresse fisiológico, menor conteúdo em reservas de carboidratos nos tecidos permanentes e retardar sua recomposição e consequentemente o próximo pastejo poderá ser comprometido, com redução da capacidade de suporte. O período de descanso é função da espécie forrageira e da região de estabelecimento do projeto e deve ser flexível para as diferentes estações do ano ou que ajuste na carga animal seja coerente com a velocidade de crescimento da forrageira. A planta não obedece ao tempo determinado pelo manejador e possui o seu tempo fisiológico que envolve o crescimento e recomposição de suas reservas nos tecidos permanentes. Durante o inverno em que a atividade meristemática é reduzida em função da queda de temperatura, é necessário aumentar o período entre pastejos e/ou reduzir a carga animal. Logicamente, existem grandes variações entre um ano e outro e, o sucesso do sistema está intimamente ligado ao acompanhamento técnico do sistema. A exploração intensiva de pastagens requer conhecimento dos eventos e a sua extensão sobre a forrageira que se pretende adotar como suporte para produção de volumoso. As pesquisas científicas - II Simpósio de Produção de Gado de Corte252 continuam gerando um grande volume de informações sobre a idade ótima de pastejo, altura de corte, descanso mínimo ou intervalo entre pastejos para recomposição das reservas da planta, curvas demonstrativas associando qualidade da forragem com volume de massa produzida, capacidade de produção de matéria seca ao longo do ano, extração de nutrientes, exigência em fertilidade, velocidade de recuperação pós pastejo, entre outras referências indispensáveis para se estabelecer o manejo para cada espécie. Enfim, um nível mínimo de conhecimento sobre a ecofisiologia das pastagens é necessário para otimizar a produção forrageira, de acordo com as exigências da categoria animal em produção para assegurar a sustentabilidade do sistema. Muito ainda terá que ser discutido sobre a produção forrageira em sistemas irrigados. Pastejo em sistemas irrigados nada mais é que intensificação do pastejo rotacionado já adotado em muitas propriedades, em várias regiões do Brasil. Sistemas de pastejo rotacionado foram adotados e descartados em grande parte das propriedades que o introduziram. A não obediência ou mesmo o desconhecimento das leis do pastejo rotacionado levaram esta tecnologia ao fracasso, à crítica e ao seu descrédito pelos produtores rurais e até mesmo por técnicos extensionistas, devido à dificuldade de conscientização dos manejadores de pastos. Por serem muito intensivos não apresentam elasticidade suficiente para retardar a tomada de decisão. O sucesso das decisões do manejador é função da observação da altura de corte, índice de área foliar, altura do ponto de crescimento, doses, forma e momento de aplicação de fertilizantes e corretivos. Esse conjunto de informações associado à densidade do stand forrageiro vão predizer a lotação admitida pelo sistema. O sucesso na tomada de decisão será fundamental sustentabilidade do pastejo rotacionado irrigado e obtenção de desempenho animal satisfatório. Têm-se observado que períodos de descanso ou intervalos entre pastejos, para o noroeste de mineiro, devem ser de 32 dias, aproximadamente. Trabalhos de pesquisa mostram períodos de descanso menores que este mas, o pastejo nunca é severamente controlado e pequenos ajuste na carga animal sempre são necessários. A presença do animal exerce efeitos conhecidos mas nunca quantificados com exatidão. Existe muita semelhança entre dados de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 253 pesquisa, obtidos em casa de vegetação em vasos ou pequenos canteiros e até mesmo em piquetes cujo período experimental, às vezes, não excede 24 meses e os obtidos no campo, em sistemas que contém de oito a dez animais com média de 400 kg de peso vivo por há, considerando o peso de entrada e saída do sistema. Quando se trabalha com lotes de 300 a 400 animais por piquete, têm-se que ser cauteloso e aumentar o período de descanso entre pastejos é bastante prudente. EXPECTATIVA DE PRODUÇÃO ANIMAL A produção animal em sistemas intensivos de exploração de pastagem pode ser bastante contraditória. Diferentes categorias podem representar diferentes resultados, tornando o investimento mais ou menos rentável. Deve-se sempre buscar maior produção de carne por ha, como mostra a figura 02. Sistemas de pastagem irrigada são implantados, normalmente, no sentido de eliminar a atividade de confinamento ou acelerar a terminação de animais para abate, em propriedades onde a estação seca é bem definida e longa. Outras, utilizam-se da tecnologia para recria de animais desmamados dentro da propriedades ou adquiridos de terceiro, permitindo o contínuo desenvolvimento para terminação no próprio sistema irrigado ou em confinamento fechado. Produtores de leite para pastoreio direto de vacas em lactação. Não importa a finalidade, o importante que o pastoreio direto se mostre mais rentável que a colheita mecânica de alimentos, armazenagem e fornecimento aos animais em cochos, deslocamento de máquinas e equipamentos, de mão-de-obra e infra- estrutura de alimentação e acelere a terminação de animais de corte, contribuindo para o aumento da taxa de desfrute. - II Simpósio de Produção de Gado de Corte254 Figura 2 - Eficiência em utilização de pastagens (Produção de MS x ganho de peso/ha) O desempenho de animais em fase de recria tem sido bastante satisfatório. O valor nutritivo da massa verde produzida, satisfatório em PB e ligeira deficiência energética, é bastante compatível com as exigências de animais em recria e de bois magros, conforme tabela 02 do NRC. As exigências de animais em fase final de terminação que acumulam gordura não encaixam com a oferta de forrageiras irrigadas. A oferta de proteína bruta (PB) do capim mombaça é bastante elevada em função das adubações constantes à base de N e S, e tem atingido níveis próximos de 13,5%. NDT têm oscilado entre 60 e 65%. A tabela 03 mostra o consumo médio de animais em fase de recria, novilhos e bois em fase de engorda de nutrientes oferecidos pela pastagem (média de três anos). São apresentadosos ganhos médios diários (GMD) do período para diferentes categorias. Ganho de peso por animal x Ganho de peso por área Pressão de pastejo G an h o m áx im o Ganho por área Ganho por animal Pastejo ótimoSubpastejo Superpastejo II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 255 Tabela 2 - Quadro de exigência animal para ganho de 1,0 kg/dia Exigência (kg/Cab/dia) Categoria MS NDT PB Bezerro-250 kg 5,8 3,9 0,897 Novilhos magros - 360 kg 8,0 4,98 0,924 Boi terminação-450 kg 9,8 6,1 1,176 *NRC (1988) Tabela 3 - Consumo de nutrientes observado para diferentes categorias de animais, em função do valor nutritivo do capim mombaça obtido por análise bromatológica e GMD Consumo (kg/Cab/dia) Categoria MS NDT PB MO GMD observado Bezerro-250 kg 6,25 3,9 0,719 36,8 0,710 Novilhos magros - 360 kg 8,0 5,0 0,92 47,0 0,980 Boi terminação-450 kg 9,5 5,9 1,193 55,9 0,780 * Valores estimados de consumo médio por cabeça. A escolha da categoria animal deve levar em consideração o mercado que determina custo de aquisição de animais para reposição, função da oferta regional de bezerros, bois magros, vacas magras pós- desmame, a velocidade de giro de capital pretendida e a exigência nutricional. Experiências de campo têm mostrado que explorar o ganho compensatório novilhos magros (12 a 13 @) tem sido bastante vantajoso e normalmente, não tem excedido o prazo de 120 dias para atingirem o peso de abate. A capacidade de suporte pode variar bastante de região para região e um pouco menos de propriedade para propriedade, mas tem ficado em torno de 9,6 bois magros por ha. Animais em fase de recria submetidos a sistemas irrigados tem proporcionado ótimos níveis de ganhos por área. É possível em muitos casos conseguir-se lotações de 14 a 16 animais por ha. A tabela 04 apresenta dados de controle de desempenho trimestral. - II Simpósio de Produção de Gado de Corte256 Animais geneticamente superiores como os cruzados de raças zebuínas com raças européias, onde se explora máxima heterose, os resultados têm sido bastante surpreendentes, com excepcionais GMD. Tabela 4 - Produção média de carne/ha Categoria Primavera Verão Outono Inverno Ganho Total Bezerro-250 kg 984,0 945,0 890,6 834,3 3.653,9 Novilhos magros - 360 kg 801,6 790,8 715,0 698,0 3.005,4 * Ganhos obtidos em pastagem de capim mombaça. Mesmo com ganhos menores por ha, tem sido mais vantajoso a produção de carne a partir de novilhos magros em função dos preços de arroba adquirida e arroba terminada. Vacas magras pós desmame também tem apresentado retorno muito vantajoso, de fácil aquisição, principalmente na região dos cerrados e por ser um animal de carcaça formada, adequado para engorda. Animais magros aumentam a viabilidade do investimento. INVESTIMENTO EM SISTEMAS IRRIGADOS Os custos são extremamente relevantes em sistemas irrigados onde o equipamento utilizado é o Pivô Central. Além disto, nem todas as propriedades dispõem de condições topográficas, energia elétrica, água e solo que permitam a adoção desta tecnologia. Em função disto não há porque implantar esta tecnologia em regiões em que o déficit hídrico causado pela escassez de chuvas não seja bastante acentuado. O ponto de capitação pode elevar bastante os custos de implantação deste sistema. O conjunto moto-bomba, rede elétrica e adutora podem ser muito expressivos na composição dos custos de implantação. Outro aspecto é que conjuntos moto-bombas muito potentes tendem a elevar o custo energético de acionamento do equipamento. Os equipamentos mais adotados atualmente têm sido de 80 a 100 ha, por reduzirem o custo por área e causarem menor impacto em nível de solos. Pivôs muito grandes possuem alta vazão na extremidade II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 257 podendo causar erosão em solos de baixa absorção e com topografia mais inclinada. Outros investimentos como aquisição de animais, cercas fixas e eletrificadas, bebedouros, cochos de sal e formação de pasto são específicos para a atividade de pecuária e devem ser considerados antes de se decidir pelo sistema de pastagem irrigada, conforme resumo da tabela 05, considerando custos para bois magros. Mas, ainda em pivôs que irrigam lavouras anuais talvez seja sugerível fazer pastagem por período de 1 a 2 anos para auxiliar no controle de patógenos de solo, principalmente em propriedades que cultivam lavouras de feijão por anos seguidos. Considerando que o ciclo dos animais dentro do pivô não excede, em média a 120 dias para bois magros, é possível trabalhar com 3 lotes por ano para esta categoria. Fator que melhora significativamente a rentabilidade do sistema. Outras opções são bastante rentáveis como a recria de animais recém desmamados e a engorda de vacas magras. - II Simpósio de Produção de Gado de Corte258 Tabela 5 - Resumo de custos de implantação, manutenção de equipamentos e despesas operaicionais (US $) 1 - Investimentos Unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total Pivô Central (100 ha) Conjunto 1 $120.000,00 $120.000,00 Formação de Pastagem ha 100 $262,00 $26.200,00 Cerca elétrica km 19,1828 $242,00 $4.642,24 montagem do pivô central Conjunto 1 $4.200,00 $4.200,00 Total (10 anos) $155.042,24 Sub-total1 (1 ano) $15.504,22 2 - Custo Operacional 2.1 - Rebanho Minerallização ton 29,2 $290,00 $8.468,00 Vacinas e vermífugos dose 3 $2,80 $8,40 M.D.O. salário 30 $80,00 $2.400,00 Sub-total2 $10.876,40 2.2 - Irrigação Energia elétrica contas 12 $1.400,00 $16.800,00 Manutenção do pivô (3%) $3.600,00 Sub-total3 $20.400,00 2.3 - Manut. pastagem Super Simples ton 70 $160,00 $11.200,00 Sulfato de Amônio ton 50 $170,00 $8.500,00 NPK (20-00-20) ton 70 $205,00 $14.350,00 Esterco de galinha ton 300 $25,00 $7.500,00 Calcário ton 100 $5,20 $520,00 Dist. De corretivos e fertiliz. h.m. 675 $12,00 $8.100,00 Sub-total4 $50.170,00 Total Geral (1+2+3+4) (TG) $96.950,62 Aquisição de animais cabeça 800 $230,00 $184.000,00 Venda de animais cabeça 800 $310,00 $248.000,00 Receita Bruta (RB1) $64.000,00 Rec. Bruta (3 ciclos) (RB2) $192.000,00 Receita líquida (RB2 - TG) $95.049,38 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 259 CONCLUSÃO A irrigação de pastagens tem grande potencial para expansão e pode contribuir muito para melhorar os índices de produtividade da pecuária brasileira, contribuindo ainda mais para a produção do boi de pasto com alimentação mais natural possível. Os índices de produtividade poderão ser melhorados se adotada uma suplementação que possa acelerar o ganho de peso em pastejo, corrigindo as necessidades de cada categoria animal. Os investimentos são elevados e muitos critérios técnicos devem ser adotados e respeitados para permitir o sucesso do empreendimento. A observação de fatores como temperatura, fotoperíodo e distribuição das chuvas, são variáveis climáticas fundamentais para adoção da tecnologia de irrigação de pastagens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PECUÁRIA DE CORTE. São Paulo: FNP, v.6, 1998. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PECUÁRIA DE CORTE. São Paulo: FNP, v.7, 1999. Gomide, J. A. Morfogênese e análise de crescimento de gramíneas tropicais. In: Simpósio Internacional sobre produção animal em pastejo, 1997, Viçosa. Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p.411-429. Maraschin, G. E. Produção de carne a pasto. In: Simpósio sobre manejo da pastagem, 13., 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1997. p.243- 274. Nabinger, C. Princípios da exploração intensiva de pastagens. In: Simpósio sobre manejo da pastagem, 13., 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1997. p.15-95. National Research Council. 1996. Nutrient Requirements of Beef Catle. Washington, D.C., National Academy of Sciences. Zimmer, A.H., Euclides Filho, K. As pastagens e a pecuária de corte brasileira In: Simpósio Internacional sobre produçãoanimal em pastejo, 1997, Viçosa. Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p. 349-379. - II Simpósio de Produção de Gado de Corte260
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