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Geoformas e Potencial Geoturístico de Santiago, Cabo Verde (ROCHA, 2016)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS 
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 
BACHARELADO EM GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
HUDSON SILVA ROCHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOFORMAS E POTENCIAL GEOTURÍSTICO DE SANTIAGO, 
CABO VERDE – ÁFRICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA - CE 
2016 
HUDSON SILVA ROCHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOFORMAS E POTENCIAL GEOTURÍSTICO DE SANTIAGO, 
CABO VERDE – ÁFRICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao 
Departamento de Geografia da 
Universidade Federal do Ceará, 
como requisito parcial à obtenção 
do título de bacharel em Geografia. 
 
Orientadora: Profª. Drª. Vládia 
Pinto Vidal de Oliveira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA - CE 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS 
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 
BACHARELADO EM GEOGRAFIA 
 
 
 
HUDSON SILVA ROCHA 
 
 
 
GEOFORMAS E POTENCIAL GEOTURÍSTICO DE SANTIAGO, 
CABO VERDE – ÁFRICA 
 
 
 
Aprovada em: 15/02/2015 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Profª. Drª. Vládia Pinto Vidal de Oliveira (Orientadora) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
Prof. Dr. José Manuel da Veiga Pereira (Examinador) 
Universidade de Cabo Verde (UniCV) 
 
Profª. Drª. Sónia Maria Duarte Melo Silva Victória (Examinadora) 
Universidade de Cabo Verde (UniCV) 
 
 
FORTALEZA – CE 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Aos meus pais, pelo esforço 
incansável para oferecer uma 
educação digna.” 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Aos meus pais, Verardo e Salete, por todo o amor, apoio e trabalho árduo para garantir 
uma educação de qualidade aos seus filhos, e à minha irmã Naiara, pelas diversas críticas que 
contribuíram no meu desenvolvimento. Agradeço pelos ensinamentos e valores transmitidos. 
Aos meus tios e tias (Araújo, Andréa, Quinquinha, João, Edson e Elaine), primos 
(Natan, Taynara, Ariadson, Ariadne, Aridane, Emildo, Maria Eduarda e Erick) e avós 
maternos, Chico e Elsa, e paternos, José e Hilma (in memorian), e demais familiares pela 
confiança, carinho e apoio aos estudos. Ao meu afilhado, José Augusto, por me permitir a 
sensação da paternidade. 
À CAPES, em parceria com a AULP, pelo apoio financeiro ao "Programa 
Internacional de Apoio à Pesquisa e ao Ensino por Meio da Mobilidade Docente e Discente 
Internacional (CAPES/AULP)", permitindo o deslocamento e execução de pesquisas em Cabo 
Verde. 
À Profª. Drª. Vládia Vidal Pinto de Oliveira pelas orientações no decorrer do curso, 
sempre disposta a novas ideias, compreensiva e generosa, e aos integrantes do Laboratório de 
Pedologia e Análise Ambiental – LAPED, por todas as ajudas e trocas de experiências, 
sempre acolhedores e calorosos; uma verdadeira família. 
À Universidade de Cabo Verde, pelo prazeroso acolhimento durante minha 
permanência em solo africano. À minha supervisora em Cabo Verde, Profª. Drª. e Pró-Reitora 
da Universidade de Cabo Verde, Sónia Victória, pelas mais variadas sugestões e 
disponibilidade, e ao Prof. Dr. José Manuel, pelas indicações bibliográficas essenciais para a 
elaboração deste trabalho e demais pesquisas. 
Aos meus amigos de curso, pelos diversos momentos de descontração, trocas de 
experiências e auxílio em diversas etapas da graduação: Bruna Lima, Lucas Veras, Fabrício 
Ricarte, Lícia Benício, Aline Moreira, Érika Holanda, Levy Freitas e todos os demais. 
Especialmente, Larissa Carlos pelo grande apoio, amizade e conselhos. 
Aos companheiros da Gerência de Outorga e Fiscalização (GEOFI) da Companhia de 
Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (COGERH), instituição que me acolheu 
como estagiário, contribuindo na minha evolução profissional. 
À todos os professores, fonte de sabedoria, por todas as orientações transmitidas, que 
auxiliaram na lapidação do meu conhecimento. 
Aos queridos amigos de infância e de escola, por todos os divertimentos que me 
distraiam da pressão acadêmica, e a todos que estiveram presentes na trajetória da graduação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Irmão, 
Você não percebeu que você 
É o único representante do seu sonho na face da Terra? 
Se isso não fizer você correr, chapa... 
Eu não sei o que vai.” 
 
 
(Levanta e Anda – Emicida e Rael da Rima) 
 
RESUMO 
 
Cabo Verde é um arquipélago de origem vulcânica. A ilha de Santiago obedece a mesma 
lógica, apresentando diversas feições derivadas de processos vulcânicos. Essa é uma temática 
que sempre desperta curiosidade nas pessoas, pelo imaginário do esplendor de um vulcão 
expelindo seu fluido magmático. Em Santiago é perceptível como os diversos eventos 
associados ao vulcanismo influenciou diretamente na atual configuração paisagística, com a 
presença de domos vulcânicos, vestígio de um vulcão fortemente erodido e necks, como por 
exemplo Monte Graciosa, Pico da Antónia e Monte Marquês de Pombal, respectivamente, 
entre outros, demonstrando processos de valor científico. Partindo dessa perspectiva, é 
elaborado um estudo avaliando e caracterizando os elementos (geoformas) que mais se 
destacam no território da ilha. Assim, através da elaboração e propostas de painéis e rotas 
interpretativas, busca-se associar o conhecimento das Geociências às atividades turísticas e de 
lazer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palavras-chave: Geoforma; Geoturismo; Santiago. 
 
 
ABSTRACT 
 
Cape Verde is an archipelago of volcanic origin. The island of Santiago follows the same 
logic, with many features derived from volcanic processes. This is a subject that always 
arouses curiosity in people, by the splendor of the imagination of a volcano spewing its 
magmatic fluid. Santiago is noticeable how the various events associated with volcanism 
directly influenced the current landscape configuration, with the presence of volcanic domes , 
vestige of a heavily eroded volcano and necks , for example Monte Graciosa, Pico da Antónia 
and Monte Marquês de Pombal, respectively, among others, demonstrating processes 
scientific value. From this perspective, a study is designed to evaluate and featuring elements 
(geoforms) that stand out in the territory of the island. Thus, through the development and 
proposals for panels and interpretative routes, it seeks to associate the knowledge of 
Geosciences to tourist and leisure activities. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Keywords: Geoforms; Geoturism; Santiago. 
 
LISTA DE IMAGENS 
Imagem 1 – Tipo de valores das geoformas. ............................................................................ 28 
Imagem 2 – Vulcão do Fogo, no Chã das Caldeira, ilha do Fogo em Cabo Ver representa um 
local de interesse geomorfológico com valor científico e didático, quepermite visualizar 
processos eruptivos recentes e suas geoformas resultantes, por exemplo cones vulcânicos. 29 
Imagem 3 – A Pedra da Andorinha, localizada no distrito de Taperuaba em Sobral - Ceará, é 
uma geoforma caracterizada como inselberg, formada pelo afloramento de rochas graníticas, 
onde seus orifícios (tafones) abrigam diversas aves da região, até mesmo espécies que migram 
à Patagônia. ............................................................................................................................... 30 
Imagem 4 – Cova, localizada na ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, é uma imensa cratera 
vulcânica extinta utilizada para a agricultura, em razão da elevada fertilidade natural do solo. 
.................................................................................................................................................. 31 
Imagem 5 – Cadeia montanhosa com elevada beleza cênica em Santo Antão, Cabo Verde. .. 32 
Imagem 6 – Pedra Furada, em Jericoacoara - Ceará, esculpida pela erosão marinha, apresenta 
uma elevado valor econômico, na medida em que atrai milhares de turistas à localidade, 
fazendo a economia girar. Além disso, a mesma apresenta valor estético (pela peculiaridade) e 
científico (contato da litologia pré-cambriana com o mar). ..................................................... 33 
Imagem 7 – Esquema demonstrando o funcionamento do mecanismo hot spot ...................... 38 
Imagem 8 – A) vertente oriental mais úmida; B) vertente ocidental mais seca ....................... 43 
Imagem 9 – Planície litorânea em Tarrafal, norte de Santiago, com Neossolo Quartzarênico, 
com a presença das arribas ao fundo. ....................................................................................... 47 
Imagem 10 – Planície fluvial com cultivos em Calheta de São Miguel, leste de Santiago. 48 
Imagem 11 – Dois cones fortemente erodidos próximos a Ribeira da Prata, noroeste de 
Santiago. ................................................................................................................................... 48 
Imagem 12 – Monte Graciosa, domo vulcânico, ao fundo, em Tarrafal. ................................. 49 
Imagem 13 – Freguesia de Assomada inserida no planalto de Santa Catarina ........................ 50 
Imagem 14 – Cristas no concelho de São Lourenço dos Órgãos ............................................. 50 
Imagem 15 – Patamares parcialmente dissecados na Ribeira Grande de Santiago, sendo 
possível observar a extensa área plana ao fundo, geralmente trucados por vales. ................... 51 
Imagem 16 – Patamar aplainado a oeste do Monte Graciosa em Tarrafal. .............................. 52 
Imagem 17 – Maciço Serra da Malagueta. ............................................................................... 52 
Imagem 18 – Maciço do Pico da Antónia. ............................................................................... 53 
Imagem 19 – Ficha de avaliação qualitativa. ........................................................................... 56 
 
Imagem 20 – Pico da Antónia visto da capital Praia. ............................................................... 58 
Imagem 21 – Arco existente na configuração do Maciço do Pico da Antónia. ....................... 58 
Imagem 22 – Cume do Pico da Antónia visualizado do Monte Tchota ................................... 60 
Imagem 23 – Cornija basáltica da vertente direita do vale com blocos caídos em seu tálus. .. 61 
Imagem 24 – Vale da Ribeira Grande de Santiago .................................................................. 62 
Imagem 25 – Chaminé fonolítica em Picos, Monte Marquez de Pombal. ............................... 64 
Imagem 26 – Estátua do Marquês de Pombal em Lisboa, Portugal. ........................................ 65 
Imagem 27 – Conglomerado aflorado na baía de Tarrafal. ...................................................... 66 
Imagem 28 – Monte Graciosa. ................................................................................................. 67 
Imagem 29 – Entrada do Parque Natural de Serra Malagueta ................................................. 67 
Imagem 30 – Cobertura basáltica com disjunção colunar ........................................................ 68 
Imagem 31 – Vista da vertente da serra da Malagueta em direção ao sul ................................ 69 
Imagem 32 – Vista da cidade de Praia do Foral D. Maria Pia na Ponta Temerosa .................. 70 
Imagem 33 – Lavas submarinas em almofada na Ponta Temerosa. ......................................... 71 
Imagem 34 – Modelo de totem contendo painel interpretativo. ............................................... 80 
Imagem 35 – Painel proposto para o Pico da Antónia. ............................................................ 81 
Imagem 36 – Painel proposto para o Vale da Cidade Velha. ................................................... 82 
Imagem 37 – Painel proposto para o Monte Marquês de Pombal. ........................................... 83 
Imagem 38 – Painel proposto para o Monte Graciosa .............................................................. 84 
Imagem 39 – Painel proposto para a Serra da Malagueta ........................................................ 85 
Imagem 40 – Painel proposto para a Ponta Temerosa .............................................................. 86 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Alguns critérios possíveis para a avaliação de cada tipo de valor dos locais de 
interesse geomorfológico .......................................................................................................... 34 
Tabela 2 – Agrupamento das ilhas (com suas altitudes máximas) e ilhéus de Cabo Verde ..... 36 
Tabela 3 – Esboço simplificado lito-estratigráfico da ilha de Santiago. .................................. 42 
Tabela 4 – Pacote legislativo ambiental de Cabo Verde .......................................................... 74 
Tabela 5 – Utilização e potencial turístico dos recursos ambientais em Cabo Verde .............. 75 
 
 
LISTA DE MAPAS 
 
Mapa 1 – Mapa de localização de Cabo Verde e Santiago. ...................................................... 37 
Mapa 2 – Elevação da ilha de Santiago. ................................................................................... 44 
Mapa 3 – Geologia da ilha de Santiago. ................................................................................... 46 
Mapa 4 – Sistemas ambientais de Santiago, Cabo Verde ......................................................... 54 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 15 
2. GEODIVERSIDADE E SEUS VALORES ................................................................ 18 
3. GEOFORMAS NO ÂMBITO DA GEODIVERSIDADE ......................................... 25 
3.1. Avaliação das geoformas .............................................................................................. 27 
3.2. O valor das geoformas .................................................................................................. 28 
3.2.1. Valor científico............................................................................................................... 28 
3.2.2. Valor ecológico .............................................................................................................. 29 
3.2.3. Valor cultural ................................................................................................................. 30 
3.2.4. Valor estético .................................................................................................................. 31 
3.2.5. Valor econômico ............................................................................................................32 
4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...................................................... 35 
4.1. Arquipélago de Cabo Verde ........................................................................................ 35 
4.1.1. Gênese, evolução e fisiografia ....................................................................................... 36 
4.2. Caracterização de Santiago ......................................................................................... 40 
4.2.1. Origem e evolução da ilha ............................................................................................. 40 
4.2.2. Condições hidroclimáticas ............................................................................................ 43 
4.2.3. Sistemas ambientais de Santiago .................................................................................. 45 
5. GEOMORFOSSÍTIOS DE SANTIAGO: AVALIAÇÃO E QUALIFICAÇÃO .... 55 
5.1. Pico da Antónia ............................................................................................................. 57 
5.2. Vale da Cidade Velha ................................................................................................... 60 
5.3. Monte Marquês de Pombal .......................................................................................... 63 
5.4. Monte Graciosa ............................................................................................................. 65 
5.5. Maciço da Malagueta ................................................................................................... 67 
5.6. Ponta Temerosa ............................................................................................................ 70 
6. GEOTURISMO: ESTRATÉGIAS DE GEOCONSERVAÇÃO EM SANTIAGO.72 
6.1. Conservação da natureza abiótica .............................................................................. 72 
6.2. Legislação ambiental e turismo de natureza em Cabo Verde .................................. 73 
6.3. Geoturismo e interpretação ambiental ....................................................................... 76 
6.4. Meios interpretativos: propostas de rotas e painéis geoturísticos para Santiago... 77 
7. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 87 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 89 
ANEXOS ....................................................................................................................... 95 
15 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A conservação da natureza foi um tema muito discutido no século XX. É notável a 
variedade de programas, acordos e criações de Organizações Não Governamentais que 
emergiram dessa labuta. A preservação das florestas (fonte de oxigênio aos seres vivos), a 
proteção da diversidade da fauna e o combate ao aquecimento global foram questões que 
alertaram o risco que todos correríamos. A poluição histórica do ar pelas fábricas, 
desmatamento para agricultura e pecuária, caça predatória, entre outros, estavam (estão) 
prejudicando todo um ciclo ecossistêmico em nível global. 
Vários foram (são) os esforços para reduzir e mitigar esses impactos. Esse movimento 
“ecológico” foi atraindo diversos adeptos e simpatizantes, até serem inseridos em meio à 
sociedade, sendo hoje um senso comum a importância da biodiversidade. 
É inquestionável a relevância da biodiversidade para o planeta, principalmente como 
fonte de sobrevivência. Contudo, outro aspecto do planeta, e de semelhante importância, 
acaba sendo totalmente negligenciado e esquecido pela sociedade e pelos mecanismos de 
proteção da natureza. 
A natureza em movimento (o vôo e o canto da aves, mamíferos correndo pelos mais 
diversos ambientes, as folhas das árvores dançando no ritmo das brisas) atrai 
vertiginosamente os olhares. Porém, a natureza “morta” é a base para que haja toda essa 
proliferação de movimentos e possibilidades. 
A abiota, termo que representa todos os componentes que não apresentam vidas, sendo 
análogo a biota, é o alicerce para todas as manifestações da vida, sejam elas dos animais e 
plantas ou do próprio ser humano. O que seriam dos nossos ancestrais sem as cavernas para se 
protegerem das tempestades? Ou sem as rochas para criarem as diversas ferramentas para 
caça? Nessa perspectiva, é notável a importância desses aspectos abióticos para o 
desenvolvimento da sociedade. 
No final do século XX, essa temática é introduzida em meio à comunidade científica, 
não apenas como uma crítica, mas também como forma de preocupação com os recursos. É 
evidente a importância da abiota para a construção do nosso atual mundo. As rochas utilizadas 
nas construções de casas e edifícios; os minérios nos quais são extraídos diversos elementos 
essenciais para a atual sociedade, por exemplo, os metais como ferro utilizado para fabricar 
eletrodomésticos ou o tungstênio presente no filamento da lâmpada e que permite sua 
incandescência, produzindo a luz; os solos que com seus nutrientes permitem o 
16 
 
 
 
desenvolvimento das florestas e a produção agrícola, além das variadas formas de relevo que 
refletem diretamente no modo de ocupação. 
É nesse mesmo período que vem a tona o termo geoconservação, que seria a 
preservação da diversidade natural de significativos aspectos e processos geológicos 
(substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução natural 
(velocidade e intensidade) desses aspectos e processos. Concomitantemente, o termo 
geodiversidade é orginado. Este aborda a diversidade natural dos recursos geológicos (rochas, 
minerais, fósseis), geomorfológicos (formas do terreno e processos) e solos, incluindo suas 
relações, propriedades, interpretações e sistema. 
Seguindo essa lógica, essa temática desponta como inovadora no século XXI, sendo 
perceptível o crescimento das discussões relacionados a mesma, principalmente na 
comunidade científico. Ainda é um grande desafio propor estratégias para que as medidas de 
preservação da geodiversidade sejam adotadas pelos mecanismos legais. 
A dificuldade encontra-se principalmente em como demonstrar a importância e o 
deslumbre dessa natureza inanimada. Os esforços no meio acadêmico vêm demonstrando a 
necessidade e o apelo pela proteção dessa outra face da natureza. A beleza paisagística seria 
uma das estratégias de atrair os olhares à essa nova perspectiva. A apreciação das formas 
naturais seria um momento de experimentar, refletir e sentir a grandeza do todo. 
Outra forma seria a transmissão mais enfatizada dos conhecimentos das Geociências, 
que são praticamente incipientes nos currículos escolares, onde muitas vezes passam apenas a 
importância dos “bichinhos e plantinhas”. Mas claro, o maior incentivador que se poderia ter 
para a disseminação dessa temática seriam os governos e a mídia. Nota-se que as grandes 
áreas protegidas no Brasil e no mundo são evidenciadas pelas florestas e animais, com 
excelentes campanhas. Nesse caso, o governo é fundamental para que traga a tona a 
relevância abiótica, pondo em equilíbrio com a biota, sendo ambas complementares. 
Tendo em vista essa problemática, a Rede Mundial de Geoparques (World Geoparks 
Network) foi criada em 2004, através de uma parceria entre a UNESCO e a União 
Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), visando distinguir áreas naturais com elevado 
valor geológico e geomorfológico, nas quais apresentam em prática uma estratégia de 
desenvolvimento sustentado baseado na geologia e em outros valores naturais. 
Tal organização veio para consolidar a importância da geodiversidade. E com ela 
surgiu diversos modo de propagaçãodo conhecimento geocientífico. Ao serem elaboradas as 
áreas protegidas em detrimentos de suas exigências, foram elaboradas estratégias de 
desenvolvimento sustentável que envolve principalmente as comunidades adjacentes, mas 
17 
 
 
 
também para atrair visitantes e perpassar suas características e valores; um “prato cheio” para 
a divulgação das Geociências. 
Eis que surge uma nova categoria do turismo, o Geoturismo. Este se difere dos demais 
tipos de turismo de natureza, por, além de permitir a apreciação da natureza, também 
transmite os conhecimentos geológico-geomorfológicos através da origem e evolução natural 
de tal local. Podem ser realizadas através de guias devidamente qualificados e de painéis 
interpretativos, ambos podendo estar associados às trilhas. 
Logo, Cabo Verde, e mais especificamente Santiago, de origem vulcânica no Oceano 
Atlântico, apresenta diversos atrativos relacionados à geodiversidade. As feições (geoformas) 
derivadas de produtos vulcânicos são bem evidentes na paisagem, como vulcões, cones e 
escoadas lávicas, além de outros processos, como erosão fluvial e tectonismo. 
Tendo em vista tais potenciais, o presente trabalho seleciona áreas que demonstram 
relevância geocientífica, descrevendo seus aspectos, origem e evolução, mas que já 
apresentam fluxos turísticos estabelecidos, o que facilitaria a disseminação dos conhecimentos 
sobre geociências. 
18 
 
 
 
2. GEODIVERSIDADE E SEUS VALORES 
 
Geodiversidade é um termo muito recente que começou a ser utilizado por geólogos e 
geomorfólogos na década de 90 para descrever a variedade do meio abiótico (GRAY, 2004). 
 
Apesar de sua origem ser relativamente recente, o termo geodiversidade é cada vez 
mais utilizado na literatura científica, mas nem sempre com o mesmo significado. 
Segundo Burek e Potter (2002) o termo foi utilizado pela primeira vez, em 1991, 
durante uma reunião internacional sobre a geoconservação. Contudo, Gray (2004), 
num trabalho exclusivamente dedicado a esta temática, argumenta que as referências 
mais antigas sobre a geodiversidade datam de 1993. Posteriormente, com o 
objectivo de alcançar uma definição consensual que sirva de referência, diversos 
autores como: Kiernan (1994, 1996, 1997 e 2001), Dixon (1995 e 1996), Eberhard 
(1997), Fishman et a. (1998), Van-Halen (1998), Wimbledon et al (1998 e 2000), 
Dúran (1998), Alexandrowicz e Kozlowski (1999), Erikstad (1999), Gonera (1999), 
Fishman e Nusipov (1999) e Gonggrijp (2000), Stanley (2000 e 2001), Nieto, 
(2001), Sharples (2002), Gray (2004), (Dingwall et al., 2005), entre outros, têm 
procurado contribuir para uma crescente divulgação do termo. (PEREIRA, 2010, p. 
27). 
 
Mais recentemente destacam-se os trabalhos em língua portuguesa de Brilha (2005) e 
Nascimento et al (2008) e em língua espanhola de Urquí et al (2007) e Villar et al (2008) que 
vieram demonstrar o avanço nesta área de investigação. 
Sharples (2002) e a Australian Heritage Comission (2002) definiram geodiversidade 
como “a diversidade de características, conjuntas, sistemas e processos geológicos (substrato), 
geomorfológicos (formas da paisagem) e do solo”. A utilização desse termo nasceu 
originalmente como análogo ao de biodiversidade. Mesmo com a crescente sensibilização da 
sociedade às questões ambientais, que tem induzido um maior interesse de instituições para o 
estabelecimento e desenvolvimento de estratégias de preservação, conservação e recuperação 
de patrimônios naturais, são ainda escassos no tocante aos aspectos geomorfológicos e 
geológicos. Normalmente, a maior importância é atribuída aos movimentos ecológicos. Tais 
interesses vinculados aos patrimônios naturais são, muitas vezes, focados na fauna e na flora. 
O termo biodiversidade conta com uma definição amplamente aceita, já que foi 
definida em 1992 na reunião do Rio de Janeiro. Além disso, a biodiversidade conta com 
diretrizes internacionais que velam por estratégias de sua preservação e conservação. 
Almejando uma definição unificada que sirva de referência, Nieto (2001) e Gray 
(2004) realizaram uma revisão crítica das definições de geodiversidade mais utilizadas. Cada 
19 
 
 
 
um, a partir das revisões, chega a sua própria definição. Para Nieto (2001) geodiversidade é 
“o número e variedade de estruturas (sedimentares, tectônicas, geomorfológicas, 
hidrogeológicas e petrológicas) e de materiais geológicos (minerais, rochas, fósseis e solos), 
que constituem o substrato de uma região, na qual se assenta a atividade orgânica, inclusive a 
antrópica”. Já Gray (2004) considerou a definição da Australian Heritage Comission e 
introduziu algumas modificações, concluindo que geodiversidade é “a diversidade natural dos 
recursos geológicos (rochas, minerais e fósseis), geomorfológicos (formas do terreno e 
processos) e solos, incluindo suas relações, propriedades, interpretações e sistemas”. 
A geodiversidade é uma propriedade intrínseca do território e um importante atributo 
que descrevem o interesse geológico de uma determinada região. Porém, possui estreita 
relação com outros aspectos, como a geografia, os estudos de paisagem, os aspectos 
climáticos e os aspectos culturais e econômicos. 
 
A biodiversidade é (...) definitivamente condicionada pela geodiversidade, 
uma vez que os diferentes organismos apenas encontram condições de subsistência 
quando se reúnem uma série de condições abióticas insdipensáveis. (...) 
A geodiversidade determinou (...) a evolução da civilização. Ao longo do 
tempo, o desenvolvimento da espécie humana foi condicionada pela disponibilidade 
de alimento, existência de condições climáticas favoráveis, existência de locais de 
abrigo e de materiais para sua construção. As estruturas de defesas sempre se 
adaptaram às características da geodiversidade (...) (por exemplo, os castelos estão 
quase sempre em locais de cotas elevadas) (BRILHA, 2005, p. 18). 
 
Assim, a geodiversidade pode ser medida e valoradas para sua comparação entre áreas 
diferentes. Ela apresenta valores, pois o ato de preservar e de conservar algo está diretamente 
relacionado à atribuição de algum valor (NASCIMENTO et al, 2008). Brilha (2005), 
utilizando essencialmente as propostas de Gray (2004), classifica os valores como intrínseco, 
cultural, estético, econômico, funcional, científico e educativo. 
 
a) Valor intrínseco 
 
O valor intrínseco carrega em sua definição a subjetividade, em razão da dificuldade 
de sua quantificação e da sua ligação com as perspectivas filosóficas e religiosas de cada 
sociedade e cultura. Dessa forma, há duas abordagens cruciais: 1) a Natureza deve estar à 
disposição dos seres humanos para satisfazer suas necessidades, colocando o Homem 
hierarquicamente superior aos demais seres vivos deste planeta; 2) o Homem é parte 
20 
 
 
 
integrante da Natureza, fazendo com que esta possua um valor próprio. Por isso, há essa 
subjetividade, onde não se é possível obter umas resposta concreta. Desta forma, a 
geodiversidade ter um valor intrínseco independentemente da sua maior ou menor valia para o 
Homem. 
 
b) Valor cultural 
 
O valor cultural é conferido pelo Homem quando se reconhece uma forte 
interdependência entre o seu desenvolvimento social, cultural e/ou religioso e o meio físico 
que o rodeia. Quando a população utiliza certas explicações divinas, folclóricas (lendas e 
superstições) e transcendentais para explicar aspectos geológicos ou fatos misteriosos 
associados à abiota, Gray (2004) sugere a utilização do termo “geomitologia”. Podemos citar, 
o município de Quixadá, no Ceará, com seus monólitos imponentes no qual acreditam ser 
locais de pouso de OVNIs (Objeto VoadorNão-Identificado), atraindo ufólogos de todo o 
mundo para monitorar possíveis “fenômenos extraterrestres”, o que acaba movimentado o 
setor turístico no município. 
Outra atribuição cultural vinculada à geodiversidade são os registros arqueológicos e 
históricos. Pinturas rupestres e a escolha de materiais (rochas e mineirais) adequados para a 
fabricação de instrumentos (pontas de flechas, lâminas, machados, objetos em ouro, bronze, 
ferro, etc) por nossos antepassados, demonstra essa relação. A construção de estruturas de 
defesas em locais geomorfologicamente estratégicos, ou seja, zonas elevadas que permitiam 
uma observação panorâmica ao redor, tem sido uma tradição histórica ao longo do tempo, 
apresentando também um valor histórico que alguns locais apresentam. 
Outro aspecto cultural da geodiversidade vincula-se a utilização dos georrecursos para 
a produção de cerâmicas, tijolos e artesanatos, no caso da argila, e para edificações a partir 
das rochas, principalmente na arquitetura de séculos passados. Também “considera-se ainda 
como valor cultural o uso de uma dada particularidade e/ou fenômeno geológico como 
‘imagem de marca’ de uma região ou localidade” (BRILHA, 2005). Por exemplo, a abundante 
ocorrência de fósseis na região do Cariri cearense, que promoveu a região à Geopark, é 
utilizada como promoção da mesma. 
A toponímia de alguns municípios brasileiros relaciona-se diretamente com a 
geodiversidade, podendo ser considerada também um valor cultural. “Para se ter uma idéia, o 
Brasil possui mais de 140 municípios que começam com ‘Ita’ – que quer dizer ‘pedra’, por 
21 
 
 
 
exemplo: Itaberaba – BA (pedra brilhante), Itabira – MG (pedra erguida), Itaboraí – RJ (pedra 
bonita)” (NASCIMENTO et al, 2008) e Itapipoca – CE (pedra arrebentada). 
 
c) Valor estético 
 
Este é outro valor que apresenta subjetividade, sendo muito difícil quantificá-lo. A 
apreciação estética da paisagem varia conforme o gosto individual e na forma como cada um 
interpreta os sentimentos do prazer e da beleza. Uma vez que não existem consensos 
normativos relativos à atribuição do valor estético a um elemento da geodiversidade, cada um 
atribui um determinado valor consoante a sua percepção. 
É neste contexto que Bonesio (2002) sugere que uma paisagem deverá possuir alguns 
atributos naturais, básicos, que possibilitem o reconhecimento do seu valor estético por todos 
aqueles que a observam. Certa porcentagem da admiração do público ao observar a natureza 
está associada à geodiversidade. 
 
Apesar de, quase sempre, o observador não [notar a] presença de elementos [da 
geodiversidade], os seus sentimentos tornar-se-iam reforçados, se a observação fosse 
acompanhada de informações científicas sobre estruturas geológicas que lhes serve 
de suporte. Isto justifica-se pela necessidade de se reconhecer a importância dos 
aspectos geológicos e geomorfológicos da paisagem na transmissão da memória da 
História da Terra e dos cenários ambientais do passado (SILVA, 2006 apud 
PEREIRA, 2010, p. 35). 
 
Desse modo, é de suma importância o papel do valor estético da geodiversidade como 
divulgação do geoturismo e de atividades recreativas (trekking, escalada, canoagem...), já que 
para alguns o contato direto com a natureza é determinante para obter a sensação do bem- 
estar. 
Bennett e Doyle (1997 apud GRAY, 2004) pontuam que as paisagens são fontes 
extremamente importantes de inspiração para artistas, músicos, poetas, escritores, pintores e 
outros. 
 
d) Valor econômico 
 
O valor econômico da geodiversidade é objetivo e compreensível, já que estamos 
habituados a atribuir valor econômico a praticamente todos os bens e serviços. 
Compreendemos facilmente que as rochas e os mineirais possuem seu valor econômico. A 
22 
 
 
 
civilização humana sempre dependeu da utilização desses recursos e/ou seus derivados. Gray 
(2004) reitera que a importância econômica desses recursos naturais da Terra não se resume 
apenas aos valores económicos gerados pelo petróleo, gás natural, carvão, minerais metálicos, 
gemas etc., mas também estão potencializados nos fósseis, solos, recursos paisagísticos, 
formas de energia, entre outros. 
Brilha (2005) afirma que a dependência da geodiversidade em termos tecnológicos é 
extensiva à utilização de materiais radioativos (urânio, utilizado nas centrais nucleares); à 
construção de barragens para aproveitamento hidroelétrico, em locais favoráveis sob o ponto 
de vista geológico e geomorfológico; ao aproveitamento da energia das ondas e das marés, 
fortemente condicionada pelo substrato rochoso; e ao aproveitamento da energia geotérmica, 
para fins diversos. 
A geodiversidade adquire também um valor econômico uma vez que necessitamos de 
minerais metálicos e não-metálicos para produzir uma gama de produtos e bens dos quais nos 
tornamos dependentes. Do mesmo modo, na construção civil a geodiversidade tem sua 
relevância, desde os impactos de suas extração até as milhares de toneladas de areia, calcário, 
granito, argila, mármore e etc, que foram utilizados na construção de milhares de prédios e 
estradas, além de muitas obras públicas como barragens e estádios. 
As águas, muitas vezes negligenciadas, apresenta também valor econômico vinculado 
a geodiversidade. As aguás subterrâneas e superficiais possuem um valor econômico 
insubstituível, sobretudo em locais de climas áridos e semiáridos ou em períodos de seca, 
como Ceará e Cabo Verde, necessitando um gerenciamento e condicionando diretamente a 
qualidade de vida da população. 
Por fim, a utilização e comercialização de gemas (safiras, rubis, diamantes...) e fósseis, 
algumas vezes ilegais, para coleções, exibições ou como adereços de usos pessoais, é também 
uma forma de atribuição econômica à geodiversidade, normalmente com valores elevados. 
 
e) Valor funcional 
 
Gray (2004) introduziu o conceito de valor funcional reconhecendo que essa idéia é 
raramente aplicada na conservação da natureza, “mas é claro que os solos, sedimentos, 
paisagens e rochas possuem seu papel funcional no sistema ambiental”, tanto sob o ponto de 
vista físico como o biológico (considerando inclusive o ser humano). A partir dessa 
perspectiva, ele propõe duas segmentações: 
23 
 
 
 
i) o valor funcional da geodiversidade in situ, com caráter utilitário ao Homem e para a 
sociedade, ao contrário do valor econômico da geodiversidade após exploração. Refere-se 
à valorização da geodiversidade como substrato às mais variadas atividades humanas: o 
solo para a agricultura, a construção de barragens em áreas geomorfologicamente 
propícias, o papel das rochas para o abastecimento das águas subterrâneas, o 
desenvolvimento urbano conforme a superfície e até mesmo alguns minerais que são 
essenciais para a saúde humana e usados na fabricação de diversos remédio, como o cálcio 
(ajuda na densidade dos ossos), o zinco (importante para o funcionamento do sistema 
imunológico) e o magnésio (têm um papel na produção e transporte de energia pelo 
organismo). 
ii) o valor da geodiversidade ao geossitema, influências aos processo físicos – intemperismo, 
erosão, deposição e etc, e à biodiversidade – na criação de condições ideais para a sua 
fixação, desenvolvimento e manutenção. Por exemplo, podemos citar a Pedra da 
Andorinha, em Taperuaba, distrito de Sobral no Ceará, que se trata de um área com 
imponentes afloramentos de rochas graníticas porfiroblásticas que possuem orifícios e que 
servem de abrigo para diversas aves, inclusive migratórias. 
O reconhecimento da importância de geodiversidade, enquanto suporte dos 
processos ecológicos, constitui um dos requisitos importantes para a geoconservação. Muitas 
ocorrênciasda geodiversidade são inerentemente importantes para a biodiversidade, 
promovendo o benefício desta. Daí a necessidade de não conservar apenas a biota, mas 
também a abiota que a suporta. 
Diante de tudo, visualiza-se a dificuldade da quantificação desse valor, sendo uma 
tarefa bastante complexa, devido a sua subjetividade. 
 
f) Valor científico e educacional 
 
Bennet e Doyle (1997 apud GRAY, 2004) afirmam que a investigação no domínio das 
Ciências da Terra tem no ambiente físico um verdadeiro laboratório, onde são construídas 
muitas hipótese ou teorias geológicas, se baseando no acesso e posterior estudo de amostras 
representativas da geodiversidade. 
Assim como em outras áreas científicas, Brilha (2005) analisa que esta investigação 
pode ser de âmbito fundamental e aplicado. A investigação fundamental contribui a conhecer 
e interpretar a geodiversidade e reconstituir a história da Terra. A investigação aplicada 
contribui a melhorar a relação do homem com a geodiversidade, ajudando a viver em áreas de 
24 
 
 
 
potenciais riscos e monitorando e controlando os impactos ambientais das atividades 
industriais, por exemplo. 
A educação em Geociências só pode obter acurácia se houver o contato direto com a 
geodiversidade, com os verdadeiros laboratórios in situ. As saídas de campo permitem 
conferir à geodiversidade um extraordinário valor educativo, tanto por parte das atividades 
educativas formais (de âmbito escolar) quanto por parte de atividades não formais (público 
em geral), e é aí onde se insere a perspectiva do geoturismo, que será discutida nos capítulo 6. 
Porém, os “danos aos sistemas e locais físicos, inevitavelmente, prejudica a nossa capacidade 
para realizar pesquisa e ensino sobre o meio ambiente físico” (GRAY, 2004). 
Assim, nós devemos manter os meios para buscar conhecimentos futuros. 
25 
 
 
 
3. GEOFORMAS NO ÂMBITO DA GEODIVERSIDADE 
 
 
Os processos intempéricos e de erosão proporcionam o aparecimento de geoformas 
sobre variadas estruturas e ambientes geológicos. Como foi definido anteriormente, 
geodiversidade abarca os aspectos geológicos, geomorfológicos e pedológicos. Entretanto, é 
comum observarmos que tais aspectos são sempre atrelados ao geológico, ou patrimônio 
geológico. Isso se deve ao fato de que, tal temática originou-se no seio da Geologia. A imensa 
maioria dos trabalhos publicados ao se referirem aos elementos da geodiversidade (que seria o 
correto) utilizam-se do termo patrimônio geológico ou aspectos geológicos. 
A terminologia associada a esta temática inclui, entre outras, expressões como 
geoconservação, geomonumento, geossítios, geótopos ou local de interesse geológico (LIG). 
São termos que dizem respeito a esta nova área disciplinar das Ciências da Terra, direcionada 
para a preservação e valorização de objetos geológicos enquanto bens naturais patrimoniais, 
com valor atribuído pelo homem. “A designação patrimônio geológico enquadra-se nessa 
valorização e aplica-se ao património natural abiótico” (GRAY, 2004). 
Porém, Pereira (2006) salienta que “ao analisarmos o exemplo da 
Lista de Património Mundial da Humanidade, constatámos que grande parte dos sítios de 
âmbito natural considerados como património mundial têm uma importante componente 
geomorfológica”. 
A Lista inclui 812 sítios, em 137 países, considerados com elevado valor 
universal. Desses, 628 têm cariz cultural, 160 natural e 24 têm uma natureza mista. 
Nos sítios naturais e mistos de património mundial, o valor estético da paisagem é, 
na maioria dos casos, fundamental, tendo as geoformas um papel de destaque. Dos 
160 sítios de cariz natural, a maioria apresentam paisagens fortemente condicionadas 
por geoformas com valor especial. De igual modo, aqueles que têm natureza mista 
reflectem quase sempre uma forte relação entre aspectos culturais e as geoformas 
(PEREIRA, 2006, p. 39). 
 
Atentemo-nos ao fato de que, esses locais de excepcional valor patrimonial não são 
considerados enquanto patrimônio geomorfológico, estando esse assunto geralmente 
confinado as iniciativas internacionais no âmbito do patrimônio geológico. 
No tema do património geológico, a estética constitui um dos valores fundamentais 
atribuído ao objeto geológico, sendo a sua forma (geoforma) – que se sobressai às demais e 
que está profundamente interligado à visão – essencial para atribuir valor patrimonial. Este 
aspecto está intimamente ligado à noção de paisagem. 
26 
 
 
 
Porém, talvez seja esse o equívoco dos geólogos: considerar geomorfologia sinônimo 
de paisagem. O termo paisagem é utilizado em diferentes contextos, tendo sido analisado no 
âmbito de diferentes disciplinas, desde a geografia, a biologia, a arquitetura ou a arte, como 
um objeto científico. 
A perspectiva sobre o ambiente e a sua paisagem, surgiu na década de 1960, 
contrapondo a noção integradora da paisagem à visão iniciada com Humboldt no início do 
século XIX, que concebia a paisagem como o relacionamento dos diversos aspectos da 
natureza entre si. Bertrand (1968) situa a paisagem dentro da proposta de uma geografia 
global, deixando de lado a abordagem separatista tradicional. Considera-a como uma porção 
de espaço caracterizada por um tipo de combinação dinâmica entre elementos geográficos 
diferenciados (físicos, biológicos e antrópicos) atuando dialeticamente entre si. 
Milton Santos (1988) afirma que a paisagem é condicionada pelos movimentos 
superficiais e sociais; um mosaico de relações, funções, e sentidos de funcionamento 
ininterrupto. Então, tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. 
Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Formada não 
apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, sentimentos, etc. A 
paisagem possui escalas diferentes conforme o alcance da nossa visão de onde estejamos. A 
dimensão da percepção é a dimensão da paisagem. Por isso, o aparelho cognitivo tem 
importância crucial nessa apreensão, sendo um processo seletivo; pessoas diferentes 
apresentam diversas versões do mesmo fato. 
Logo, paisagens não são os objetos, mas a sua expressão visual, o que deles se pode 
assimilar com recurso aos sentidos, em especial da visão. A paisagem é o resultado da nossa 
percepção da imagem do ambiente, originando paisagens de índole natural, social e/ou 
cultural, considerando como um processo de transformação histórica. A paisagem é assim 
uma realidade observável, não tendo uma existência própria em si, mas existindo a partir do 
sujeito que a apreende. Cada indivíduo a vê de modo diferente, como já foi abordado no 
parágrafo anterior, não só devido à sua posição de observação, mas também dependendo dos 
seus interesses individuais. 
Da forte relação entre paisagem e geoformas parece não haver dúvidas, no sentido em 
que a segunda é determinante da primeira. Almeida (1995) destaca que os componentes 
geomorfológicos da paisagem são em regra os mais estruturantes da sua imagem, quer por 
serem os primeiros a ser percepcionados pelo observador, quer por deles depender de outros 
de seus componentes, como os hidrológicos ou as florísticos. Nos casos onde o valor estético 
27 
 
 
 
das geoformas é elevado, essa importância torna-se ainda maior, sobrepondo-se a outros 
elementos naturais (como a vegetação ou a água) ou culturais. 
Contudo, paisagem não significa o mesmo que geoforma. A geoforma pode ser o alvo 
de uma paisagem, mas uma paisagem não será necessariamente condicionada pela geoforma. 
Então, como já foi mencionado, “no tema do património geológico, os conceitos de paisagem 
e de geoforma têm sido quase sempre erroneamente interpretados como equivalentes”(PEREIRA et al, 2005). 
Esse fato sugere a dificuldade de uma parte da comunidade geoconservacionista em 
assimilar o património geomorfológico e as geoformas em geral como parte fundamental do 
património geológico, considerando os locais de interesse geológico com valor estético e 
paisagístico, sem ser mencionado o seu carácter geomorfológico. 
Nesse caso, é primordial a revisão destas concepções, sobretudo para destacar o real 
papel das geoformas no âmbito do património geológico. Pereira et al (2004) afirma que os 
referidos trabalhos e inventários usando expressões como paisagem geológica ou geossítio 
com valor paisagístico deveriam ser repensados. Os pontos nos quais as geoformas são o seu 
elemento fundamental devem ser designados de locais de interesse geomorfológico. 
 
3.1. Avaliação das geoformas 
 
 
O património geomorfológico traduz-se pelo conjunto de locais de interesse 
geomorfológico que adquiriram valor derivado da percepção humana. Outros termos podem 
ser usados para designar Local de Interesse Geomorfológico (LIGeom), tais como sítio 
geomorfológico, geossítio de carácter geomorfológico ou mesmo geomorfossítio. A avaliação 
científica destes locais é um dos aspectos essenciais nesta temática, na medida em que 
sustenta a sua seleção. 
O patrimônio geomorfológico é constituído pelas geoformas às quais foi atribuído um 
ou mais tipos de valor. O valor é assim o elemento core do tema, que se tem caracterizado 
pela dificuldade em identificá-lo e quantificá-lo nas mais variadas situações. 
Deste modo, é importante que o processo de avaliação se revista da maior objetividade 
possível, desde a formulação dos seus objetivos até à definição da metodologia de avaliação a 
adotar. Por outro lado, o conhecimento geomorfológico da área de estudo é fundamental para 
uma avaliação adequada, devendo ser conduzida por especialistas da área da geomorfologia, 
se possível em colaboração entre si ou mesmo com profissionais de outras disciplinas. 
28 
 
 
 
3.2. O valor das geoformas 
 
Designações como “valor”, “qualidade” ou “interesse”, pretendem muitas vezes 
significar o valor intrínseco (científico, didático) e a utilidade dos locais de interesse 
geomorfológico (numa perspectiva patrimonial e de conservação da natureza), e que, por 
vezes, esses conceitos se cruzam. 
 
O valor de objecto geomorfológico pode ser de vários tipos, ou seja, pode 
ser avaliado em diferentes âmbitos. Como foi referido no capítulo anterior, no 
âmbito do património geológico em geral, aos objetos geomorfológicos são 
atribuídos tradicionalmente interesses paisagístico, cénico e estético. A dimensão 
das geoformas e o seu contributo determinante na paisagem têm contribuído para a 
consideração desse tipo de valor essencial, que distingue os locais de interesse 
geomorfológico doutros tipos de local de interesse geológico (PEREIRA, 2006, p. 
66). 
 
 
A mensuração do valor de um local de interesse geomorfológico é semelhante à de 
uma local de interesse geológico, porém a geoforma está no patamar acima. Pereira (2006) 
destaca os valores de um local de interesse geomorfológico, mostrado abaixo: 
 
Imagem 1 – Tipo de valores das geoformas. 
 
Fonte: Adaptado de PEREIRA (2006). 
 
3.2.1. Valor científico 
 
O valor científico de um local de interesse geomorfológico, conforme Pereira (2006), 
consiste em princípios fundamentais: (i) sua associação à investigação científica em 
geomorfologia, através de elementos disponíveis úteis a essa investigação, como por exemplo 
a representatividade de processos passados e atuais; (ii) no uso potencial como um recurso 
didático, não apenas pela existência de elementos com elevado valor científico (ou outros) 
29 
 
 
 
presentes, mas igualmente pela facilidade em demonstrar esses elementos a público menos 
especializado e em aprendizagem, traduzida não só pela clareza desses elementos como 
também por boas condições de visibilidade e de acesso ao local. 
Do ponto de vista da investigação, são valorizadas a raridade, a integridade e a 
interpretação dos processos morfogenéticos. Aqui podem enquadrar-se todos os tipos de 
geoformas, como por exemplo, superfícies de erosão bem conservadas, escarpas de falha, 
estruturas vulcânicas, inselbergs, etc. Do ponto de vista didático, valoriza-se essencialmente a 
qualidade das geoformas em expressar os processos que as geraram. 
 
Imagem 2 – Vulcão do Fogo, no Chã das Caldeira, ilha do Fogo em Cabo Ver representa um local de interesse 
geomorfológico com valor científico e didático, que permite visualizar processos eruptivos recentes e suas 
geoformas resultantes, por exemplo cones vulcânicos. 
 
Fonte: Hudson S. Rocha, 2015. 
 
 
3.2.2. Valor ecológico 
 
Nos dois últimos decênios, desenvolveu-se um novo ramo de investigação em 
geomorfologia que relaciona as geoformas e o ambiente natural biótico. Este ramo, 
denominado de “biogeomorfologia” (VILES, 1988), dedica-se às interações entre processos 
geomorfológicos e ecológicos, as quais se podem estabelecer nos dois sentidos, ou seja, 
“elementos bióticos que determinam processos geomorfológicos ou elementos 
geomorfológicos, como determinadas geoformas ou a própria altimetria, que influenciam 
elementos e processos ecológicos” (NICHOLS et al., 1998; NAYLOR et al., 2002). 
30 
 
 
 
O valor ecológico de um local de interesse geomorfológico enquadra-se precisamente 
neste domínio biogeomorfológico. Diz respeito a essas mesmas relações e valoriza-se 
principalmente o fato das geoformas suportarem habitats. Nas situações em que os elementos 
bióticos condicionam o tipo de geoformas, embora se possa também considerar o valor 
ecológico, sobressai o valor científico. 
 
Imagem 3 – A Pedra da Andorinha, localizada no distrito de Taperuaba em Sobral - Ceará, é uma geoforma 
caracterizada como inselberg, formada pelo afloramento de rochas graníticas, onde seus orifícios (tafones) 
abrigam diversas aves da região, até mesmo espécies que migram à Patagônia. 
 
Fonte: Hudson S. Rocha, 2015. 
 
 
3.2.3. Valor cultural 
 
O valor cultural baseia-se nas relações estabelecidas entre as atividades humanas e as 
geoformas, quer como causa quer como consequência. Conforme Panizza (2002), podemos 
conferir valor cultural a uma geoforma que seja ou tenha sido suporte de atividades humanas, 
assim como essa valorização pode ser proveniente de modificações que atividades humanas 
tenham conferido às geoformas. 
Pereira (2006) acentua que essa valorização pode traduzir-se de duas formas: i) pela 
utilização das geoformas na expressão artística, como a pintura, a música ou o cinema, em 
elementos etnográficos, nas várias formas de literatura, em acontecimentos históricos 
importantes, ou de carácter religioso e mitológico, sendo nestes casos, geoformas sem a 
intervenção física humana nas geoformas; ii) em outras situações estabelece-se essa interação 
física, nomeadamente com a fixação de povoações ou a implantação de santuários religiosos, 
31 
 
 
 
de fortes e castelos, de campos agrícolas ou de outras atividades humanas. Algumas destas 
atividades são por vezes de tal forma importantes que geram geoformas antrópicas com 
elevado valor cultural. 
 
Imagem 4 – Cova, localizada na ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, é uma imensa cratera vulcânica extinta 
utilizada para a agricultura, em razão da elevada fertilidade natural do solo. 
 
Fonte: Hudson S. Rocha, 2015. 
 
3.2.4. Valor estético 
 
As geoformas também adquirirem valor estético. Este tipo de valor é difícil de avaliar 
e de quantificar. Este é o tipo de valor com maior subjetividade e dificuldade de avaliação 
objetiva. “Com efeito, podemos traduzir oconceito de estética pelo de beleza, sendo que a 
beleza de uma geoforma depende, em grande parte, do estado de espírito do observador” 
(PANIZZA, 2001), associando até ao conceito de paisagem. 
Por outro lado, mesmo sendo subjetivo, é possível atribuir valor estético às geoformas. 
Às geoformas que conferem às paisagens elevada beleza natural, torna-se mais fácil atribuir 
este tipo de valor, podendo coexistir com elementos culturais com elevado valor. O valor 
estético de geoformas com menor relevância é mais dependente da subjetividade do avaliador. 
 
A avaliação do valor estético deve considerar critérios como a dimensão 
das geoformas, o estado de conservação, o contraste de elementos geomorfológicos 
e de cores, e a interação com outros elementos, como a vegetação ou aspectos 
32 
 
 
 
culturais. Acrescente-se o facto do valor estético estar intrinsecamente interligado 
com os outros tipos de valor referidos atrás, na medida em que, quando existe 
elevado valor cultural, científico e/ou ecológico, normalmente o valor estético 
também é elevado. Da mesma forma, a beleza de uma geoforma pode repercutir no 
seu valor científico, cultural e/ou económico (PEREIRA, 2006, p. 71-72). 
 
Imagem 5 – Cadeia montanhosa com elevada beleza cênica em Santo Antão, Cabo Verde. 
Fonte: Hudson S. Rocha, 2015. 
 
 
3.2.5. Valor econômico 
 
O valor econômico das geoformas gira em torno de suas potencialidades de 
desenvolvimento econômico, onde as geoformas são avaliadas como recursos. Podem 
apresentar potencial para a efetivação de atividades turísticas e desportivas (cavernas, 
parapente, escalada, canoagem, trekking, etc.). Segundo Pereira (2006), insere-se nesse 
contexto critérios como visibilidade, acessibilidade, presença de água ou neve, existência de 
equipamentos de apoio, iniciativas de divulgação (uso de imagens das geoformas para fins 
publicitários de turismo ou eventos desportivos) ou de público interessado. “Por outro lado, é 
necessário ponderar a sua capacidade de carga, na medida em que o seu uso poderá 
desencadear deterioração das geoformas” (PANIZZA, 2001). 
33 
 
 
 
Esse valor provavelmente estará associado a outros valores. Desse modo, quando 
maior for o valor científico, ecológico, cultural e estético, maior será o valor econômico, uma 
vez que maior será a atração de turistas. 
Podemos também associar o valor econômico à sua utilidade de caráter social, 
principalmente no que se diz respeito à construção de barragens, com a finalidade tanto de 
acumular água para o abastecimento hídrico à população através dos reservatórios, como de 
gerar energia em função das hidrelétricas. Eventualmente, as barragens são edificadas em um 
boqueirão, termo usado para as aberturas ou gargantas estreitas cortadas, por vezes, em serras 
por onde passa um rio (GUERRA; GUERRA, 2011). 
 
Imagem 6 – Pedra Furada, em Jericoacoara - Ceará, esculpida pela erosão marinha, apresenta uma elevado valor 
econômico, na medida em que atrai milhares de turistas à localidade, fazendo a economia girar. Além disso, a 
mesma apresenta valor estético (pela peculiaridade) e científico (contato da litologia pré-cambriana com o mar). 
 
Fonte: Hudson S. Rocha, 2015. 
 
De acordo com CENDRERO (2000), a avaliação dos locais de interesse 
geomorfológico não se pode basear apenas no recurso a parâmetros estatísticos ou fórmulas 
matemáticas. Na verdade, a subjetividade pode estar presente ao longo de todo o processo de 
avaliação, mesmo quando se adotam modelos mais quantitativos. No entanto, é necessário o 
estabelecimento de uma metodologia que responda aos objetivos e ao âmbito da avaliação. 
34 
 
 
 
Tabela 1 – Alguns critérios possíveis para a avaliação de cada tipo de 
valor dos locais de interesse geomorfológico. 
 
Fonte: PEREIRA, 2006, p. 74. 
35 
 
 
 
4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 
 
4.1. Arquipélago de Cabo Verde 
 
Situado na margem Oriental do Atlântico Norte, o arquipélago de Cabo Verde fica a 
455 km da costa ocidental da África (Mapa 1), entre os paralelos 17º 12’ 30’’ e 14º 48’ de 
latitude Norte e entre os meridianos 22º 44’ e 25º 22’ de longitude Oeste de Greenwich 
(PEREIRA, 2010). Segundo os dados do Censo 2010, a população cabo-verdiana era 
de 491.875 pessoas residentes em todo o território nacional (INE, 2010). 
O arquipélago é composto por 10 ilhas e 13 ilhéus que se elevam de um soco 
submarino situado a uma profundidade da ordem de 3.000 metros (BEBIANO, 1932 apud 
PEREIRA, 2007). Deste soco emergem três pedestais bem distintos: 
- O pedestal Norte, que inclui as ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia e São 
Nicolau e os ilhéus Boi, Pássaros, Branco e Raso; 
- O pedestal Leste - Sul, incluindo as ilhas de Sal, Boa Vista, Maio e Santiago e os Ilhéus 
Rabo de Junco, Curral de Dadó, Fragata, Chano, Baluarte e de Santa Maria; 
- O pedestal Oeste compreende as ilhas do Fogo e da Brava e os ilhéus Grande, Luís Carneiro 
e de Cima. 
Cabo Verde é um país castigado por secas intensas. A região do Sahel, onde se insere 
o arquipélago, é bastante vulnerável às alterações climáticas, sendo fortemente afetado pela 
debilidade e pela irregularidade pluvimétrica. Encontra-se a sul de uma vasta faixa do deserto 
do Saara onde sopram predominantemente os ventos dos alísios do Nordeste. 
O clima deste arquipélago apresenta duas estações do ano: a estação Seca ou “Tempo 
das brisas”, que vai de Dezembro a Junho, e a estação Úmida ou “Tempo das águas” que vai 
de Agosto a Outubro. Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição. A 
estação das águas, a mais quente, está intimamente ligada à deslocação para Norte da Zona de 
Convergência Intertropical (ZCIT), enquanto na estação das brisas, mais fresca e seca, 
predomina a ação dos alísios do Nordeste (AMARAL, 2007). 
As ilhas e os ilhéus são divididos nos grupos do barlavento e do sotavento, em razão 
das influências exercidas pelos alísios do Atlântico Norte, principalmente os de Nordeste, que 
atingem primeiramente as ilhas mais ao norte, por isso barlavento, e depois as mais ao sul, daí 
a denominação sotavento (Tabela 1). Estima-se que o regime do vento nas ilhas de Sotavento 
seja mais constante que nas ilhas de Barlavento; os dias de calma são pouco frequentes, cerca 
de 4% (VICTÓRIA, 2012). 
36 
 
 
 
Tabela 2 – Agrupamento das ilhas (com suas altitudes máximas) e ilhéus de Cabo Verde. 
 
BARLAVENTO SOTAVENTO 
Ilhas Ilhéus Ilhas Ilhéus 
Santo Antão (1.979 m) 
São Vicente (744 m) 
Santa Luzia (395 m) 
São Nicolau (1.304 m) 
Sal (406 m) 
Boa Vista (390 m) 
Boi 
Pássaros 
Branco 
Raso 
Rabo de Junco 
Curral do Dado 
Fragata 
Chano 
Baluarte 
Maio (436 m) 
Santiago (1.392 m) 
Fogo (2.829 m) 
Brava (976 m) 
Grande 
Santa Maria 
De Cima 
Luís Carneiro 
Fonte: PEREIRA, 2010, adaptado pelo autor. 
 
 
4.1.1. Gênese, evolução e fisiografia 
 
O arquipélago fica situado a cerca de 2000 km a Leste do “rift” da Crista Média 
Atlântica, em pleno domínio de placa oceânica, que correspondem às idades absolutas, 
respectivamente, de 142 Ma e 115 Ma. 
Investigações realizadas por Stillman et al. (1982), Robertson (1984), Pollitz (1991), 
entre outros, apontaram para a localização do arquipélago numa região elevada do atual fundo 
oceânico, fazendo parte da “Crista de Cabo Verde” (“Cape Verde Rise” ou “Swell”) 
(PEREIRA, 2010) 
Esta elevação do fundo oceânico corresponde a um domo com cerca de 400 km de 
largura. Para Stiilman et al. (1982), um domo desta dimensão encontra-se possivelmente 
relacionado com a descompressão e fusão parcial fornecedoras dos magmas que estariam na 
origem das ilhas. 
Outrosautores, Burke e Wilson (1972) e Holm et al. (2006), consideram ainda que a 
gênese das ilhas está associada a um mecanismo do tipo hotspot. Crough (1978) afirma que: 
“The Cape Verde Rise” é o resultado de um hotspot desenvolvido a partir de plumas 
mantélicas. Assim, muitos outros autores, apontam a provável origem do arquipélago de Cabo 
Verde a partir do mecanismo de hotspots: como Gerlach et al. (1988), Grand et al. (1997), 
Abratis et al. (2002), Patriat e Labails (2006) (PEREIRA, 2010). 
 
37 
 
Mapa 1 – Mapa de localização de Cabo Verde e de Santiago. 
 
38 
 
 
 
Contudo, Pollitz (1991) destaca que 
 
(...) o hotspot responsável pela gênese do arquipélago cabo-verdiano é 
virtualmente estacionário, em relação à litosfera, uma vez que se situa próximo do 
pólo de rotação da Placa Africana, move-se lentamente acompanhando os 
movimentos de rotação daquela placa. Esta configuração permite que o estudo de 
interações entre as plumas e a litosfera sobrejacente seja efetuado sem a 
complicação dos movimentos desta placa. 
 
Imagem 7 – Esquema demonstrando o funcionamento do mecanismo hot spot. 
 
Fonte: GROTZINGER; JORDAN, 2013, p. 337. 
 
 
Dados radiométricos possibilitaram a determinação de idades absolutas das rochas em 
várias ilhas, sugerindo que a maior parte da atividade vulcânica teve início há 16 - 20 Ma 
tendo perdurado até ao presente. A ilha do Fogo pode ser inteiramente quaternária e a ilha do 
Maio relativamente antiga (8 - 12 Ma), enquanto a ilha de Santo Antão (1-3 (7)? Ma); São 
Vicente (4.43 Ma); Santiago (2 - 6 Ma) e Sal (8.7 - 15.8 Ma). (PEREIRA, 2010). 
A história geológica do arquipélago cabo-verdiano, aliada ao resultado das análises de 
suas composições magmáticas, permitiu Silva (2008) evidenciar três tipos de magmatismos: 
i) um magmatismo “toleítico” identificado nas ilhas de Maio e de Santiago, pela 
presença de lavas em almofada geradas numa região próxima da crista central do Atlântico, e 
sobre as quais assentam os calcários jurássicos e cretácicos, que representam um segmento 
levantado da crosta oceânica. 
39 
 
 
 
ii) um magmatismo do tipo “alcalino” subsaturado que originou os edifícios 
vulcânicos constituintes da maior parte das ilhas. Este tipo de magmatismo, a par com a 
elevação do fundo oceânico, teve o seu início há cerca de 26 Ma na ilha do Sal e perduram até 
à atualidade, sendo o último testemunho a erupção de 2014/2015 na ilha do Fogo. Existem 
elementos com composições subsaturadas em sílica e ricas em elementos alcalinos típicos de 
“ocean islands basalts”. 
iii) e um magmatismo carbonatítico, representado por rochas constituídas por 
carbonato ígneo (carbonatitos) extrusivo que corresponde às únicas ocorrências de 
vulcanismo carbonatítico assinalado em ilhas oceânicas. 
Estudos geológicos efetuados no âmbito da Missão Geológica a Cabo Verde, liderada 
por António Serralheiro, a partir da década de 60 do séc. XX permitiram estabelecer as 
principais unidades litoestratigráficas de Cabo Verde (da mais antiga para a mais recente): 
 Calcários com silexito (exclusivos da ilha do Maio); 
 Argilas, margas, calcários com silexito; 
 Margas e argilas; 
 Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA); 
 Rochas sedimentares (conglomerados e calcarenitos); 
 Derrames submarinos muito vastos e espessos (λρ); 
 Depósito conglomerático-brechóides CB (fácies terrestre e fácies marinha); 
 Traquitos pós-CB; 
 Complexo eruptivo principal, basáltico (essencialmente); 
 Derrames importantes pós-complexo principal, basálticos; 
 Cones de piroclastos e pequenas escoadas basálticas; 
 Calcários, calcarenitos e conglomerados (níveis de praia); 
 Sedimentos holocênicos e produtos vulcânicos. 
Burri (1973) defende a existência de três fraturas principais: uma fratura de direção 
WNW-ESE, resultando nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau; 
uma outra com direção aproximada N-S que está na origem das ilhas de Sal, Boa Vista e 
Maio, e uma terceira com orientação ENE-WSW, responsável pelas ilhas de Santiago, Fogo e 
Brava. Baseando-se em aspectos geomorfológicos, este autor sugere que as ilhas sobre a 
fractura N-S são provavelmente as mais antigas do arquipélago. 
A maioria das ilhas apresenta uma configuração predominantemente montanhosa, com 
notáveis aparelhos vulcânicos bem conservados, numerosos e extensos vales muito 
40 
 
 
 
encaixados e profundos; são as chamadas ilhas montanhosas. Pelo contrário, as ilhas do Maio, 
Sal, Boa Vista e Santa Luzia, com grandes zonas aplanadas, são conhecidas por ilhas planas. 
Algumas ilhas do arquipélago apresentam altitudes assinaláveis. As quatro maiores 
elevações são: 1) o Pico do Vulcão na ilha do Fogo, que apresenta a maior altitude do país, 
atingindo 2829 metros; 2) o Topo da Coroa na ilha de Santo Antão, com 1979 metros; 3) o 
Pico da Antónia na ilha de Santiago com seus 1392 metros; 4) e o Monte Gordo na ilha de 
São Nicolau, que alcança os 1304 metros. 
 
4.2. Caracterização de Santiago 
 
 
A ilha de Santiago situa-se na parte Sul do Arquipélago, entre os paralelos 15º 20’ e 
14º 50’ de latitude Norte e os meridianos 23º 50’ e 23º 20’ de longitude Oeste do meridiano 
de Greenwich. É a maior ilha do arquipélago, ocupando uma área de 991 km², 
aproximadamente 25% da sua área. Tem forma alongada na direcção NNW-SSE, adelgaçada 
na região Norte com um estrangulamento de cerca de 6 km. Com um comprimento máximo 
de 54,9 km entre a Ponta Moreia, a Norte, e a Ponta Mulher Branca, a Sul, e uma largura 
máxima de 29 km entre a Ponta Janela, a Oeste, e a Ponta Praia Baixo, a Leste. (PEREIRA, 
2010; VICTÓRIA, 2012). Pertence as ilhas de Sotavento e ao das ilhas altas ou montanhosas, 
com uma altitude máxima de 1.392 m (Mapa 2). 
A capital de Santiago é a cidade da Praia, que é a mais povoada e o centro político e 
econômico do arquipélago. A ilha de Santiago é constituída por nove concelhos: Tarrafal, São 
Miguel, Santa Catarina, Santa Cruz, São Salvador do Mundo, São Lourenço dos Órgãos, 
Ribeira Grande de Santiago, São Domingos e Praia. 
Santiago conta com uma população de 273.919 habitantes de acordo com o INE 
(2010). O concelho da Praia a capital é o mais povoado, com 131.719 habitantes. Ainda 
segundo estimativas do INE (2010), a maior parte da população concentra-se nos centros 
urbanos do País. Na ilha de Santiago cerca de 61% de população é urbana (166.502 
habitantes) e 39% de população é rural (107.417 habitantes). 
 
4.2.1. Origem e evolução da ilha 
 
A geologia da ilha de Santiago é essencialmente constituída por materiais vulcânicos e 
vulcanoclásticos, aflorando dominantemente basaltos, basanitos, tefritos e limburgitos, 
produtos piroclásticos e filões, diques basálticos e limburgitos (Tabela3) (Mapa 3). Ocorrem 
41 
 
 
 
em extensões menores fonólitos, traquitos, gabros, sienitos, piroxenitos e rochas sedimentares. 
Os mantos basálticos intercalados por piroclastos assentados sobre rochas calcárias, 
recortadas por filões, revelam o soerguimento da ilha (VICTÓRIA, 2012). 
A ilha caracteriza-se pela presença de aparelhos vulcânicos em escudo, cujos pendores 
variam entre 2º a 10º, com atividade do tipo havaiano; contudo, podem-se observar indícios 
de manifestações vulcânicas relacionadas com erupções dos tipos estromboliano e peleano. 
O crescimento da ilha terá sido primeiro através de um centro emissor principal, 
passando posteriormente a regime fissural. Amaral (2007) descreve que Santiago emergiu do 
oceano constituído por tufos, lavas e calcários intercalados por filões simultâneos à erupção 
submarina (Cretáceo–Terciário Inferior ?), constituindo o substrato da ilha (sériede base). As 
lavas fluidas submersas se estruturaram em blocos de pillow-lavas. Concomitantemente, 
ocorreram emissões de um magma viscoso, originando cúpulas e agulhas. 
A renovação da atividade vulcânica marca a edificação da topografia predominante 
atualmente. Seria essa a atividade vulcânica principal, decorrido a partir da cratera principal 
de um vulcão grandioso que ocuparia o Pico de Antónia. 
A continuidade da extensa área de mantos basálticos, em direção ao norte, é 
interrompida pelo horst da Serra da Malagueta, provocada pela intrusão de lavas mais 
viscosas. 
Um período de calmaria e de elevação da ilha acima do nível do mar, com encaixe dos 
talvegues, marca a transição para a fase mais recente de vulcanismo, representada pelo 
elevado número de cones. 
Por toda a ilha observam-se crateras recentes e bem conservadas. As formações mais 
antigas observam-se em áreas fortemente desnudadas, geralmente no leito das ribeiras mais 
profundamente escavadas. 
“As formações sedimentares marinhas, pelo fato de conterem fósseis, permitiram 
estabelecer a cronologia dos acontecimentos vulcânicos que originaram a atual configuração 
da ilha” (VICTÓRIA, 2012). “As rochas metamórficas são praticamente inexistentes. A sua 
presença restringe-se a limitadas evidências de fenómenos de metamorfismo de contato, sem 
expressão no contexto geológico da ilha” (PEREIRA, 2010). 
Toda evolução atual do relevo, conforme Amaral (2007), testemunha a amplitude 
erosiva em clima semiárido. A rocha nua, pela escassez da vegetação, é submetida 
diretamente aos agentes atmosféricos. As rochas mais resistentes são ressaltadas como 
esporões, cornijas vigorosas e pilhas de blocos. Nas rochas mais tenras, as enxurradas 
intensificam bruscamente a erosão vertical. 
42 
 
 
 
 
 
Tabela 3 – Quadro cronolitoestratigráfico da ilha de Santiago. 
 
FORMAÇÕES FÁCIES TERRESTRES FÁCIES MARINHAS ÉPOCA M.A. 
 
 
 
 
 
Formações 
sedimentares 
recentes de 
idade 
quaternária 
Aluviões; 
Dunas; 
Depósitos de vertente e de enxurrada; 
Terraços. 
Areias e cascalheiras da praia 
Níveis de praias antigas: 
- 2 a 4 m conglomerados, 
calcarenitos e plataformas de abrasão; 
- 5 a 10 m conglomerados, calcários 
calcarenitos e plataformas de abrasão; 
- 15 a 25 m conglomerados, 
calcarenitos e plataformas de abrasão; 
- 30 a 40 m depósitos de cascalheiras e, 
essencialmente plataformas de abrasão; 
- 50 a 60 m conglomerados, calcários e, 
essencialmente plataformas de abrasão; 
- 60 a 80 m conglomerados e 
plataformas de abrasão 
- Níveis de praia de 2 a 80 m 
Holoceno 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1,5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
Pleistoceno 
Formação do 
Monte das 
Vacas (MV) 
Escórias, cones de piroclastos, e pequenos derrames 
associados 
 Plioceno 
Formação de 
Assomada (A) 
Mantos subaéreos e piroclastos 
 
 
Complexo 
Eruptivo do 
Pico da Antónia 
(PA) 
E – piroclastos e escoadas associados; 
D – mantos e alguns níveis de piroclastos intercalados; 
C – tufo brecha (TB); 
B – fonólitos, traquitos e rochas afins 
- Sedimentos de posição indeterminada 
A – séries espessas essencialmente de mantos e alguns 
níveis de piroclastos intercalados 
-Conglomerados e calcarenitos 
fossilíferos 
- As: mantos superiores 
- Conglomerados, calcários e 
calcarenitos, fossilíferos 
- Ai: mantos e piroclastos inferiores 
- Conglomerados e calcarenitos 
fossilíferos 
Mioceno 
Sedimentos 
Posteriores ao 
CB e anteriores 
às lavas 
submarinas 
inferiores do 
PA 
Pequenos afloramentos de rochas sedimentares 
(calcarenitos, e calcarenitos fossilíferos) localizados em 
algumas localidades como em Ribeirão Fundo, Boa 
Ventura, linha de água do Monte Vermelho, etc. 
 
Formação 
lávica 
pós-formação 
dos Órgãos 
Traquitos 
Formação dos 
Órgãos (CB) 
Depósitos de enxurrada, tipo lahar, com mantos 
intercalados 
Conglomerados, calcários e 
calcarenitos, fossilíferos 
Formação dos 
Flamengos (λρ) 
 Mantos e piroclastos 
Conglomerados 
anteriores à 
Formação dos 
Flamengos 
 Conglomerados antigos 
 
 
 
Complexo 
Eruptivo 
Interno 
Antigo (CA) 
- Fases lávicas basálticas (filões, chaminés e mantos); 
- Fonólitos, traquitos e rochas afins (chaminés e filões) 
- Carbonatitos (pitões e filões); 
- Brechas profundas; 
- Sienitos feldspatóidicos e rochas afins; 
- Rochas gabróicas alcalinas e afins (gabros olivínicos 
alcalinos, ijjolitos, piroxenitos alcalinos, melagabros, e 
monzagabros feldspatóidicos, etc.); 
- Complexo filoniano de natureza essencialmente 
basáltica. 
 
Ante- 
Mioceno 
Fonte: Adaptado de Serralheiro (1976) e Alves et al., (1979). 
43 
 
 
 
4.2.2. Condições hidroclimáticas 
 
A ilha de Santiago está enquadrada numa zona climaticamente árida e semiárida. 
Caracteriza-se pela tropicalidade oceânica, baixa amplitude térmica e temperatura anual 
elevada, com uma média de 25,5 ºC e a amplitude térmica anual é relativamente baixa 
(inferior a 10º C) (VICTÓRIA, 2012). 
Santiago encontra-se situada na zona onde os alísios de nordeste sopram 
com regularidade durante todo o ano, dando singularidade ao clima local. Porém, por 
pertencer ao grupo das ilhas montanhosas, beneficia de boas precipitações, com 
uma média da ordem dos 340 mm, por receber maior umidade na porção leste (Imagem 8A), 
ao contrário da vertente oposta (Imagem 8B). 
Desse modo, baseado em Amaral (2007), a ilha apresenta uma estação seca (ou 
período das brisas), entre dezembro e junho, e uma estação das chuvas, de agosto a outubro. 
Julho e novembro são considerados meses de transição. A estação chuvosa possui curta 
duração, adquirindo um regime pluviométrico irregular. Essa irregularidade pode ocasionar 
elevada concentração de precipitação (chuvas torrenciais), “produzindo cheias do tipo flash- 
flood ou cheias súbitas” (VICTÓRIA, 2012). 
 
Imagem 8 – A) vertente oriental mais úmida; B) vertente ocidental mais seca 
Fonte: Hudson S. Rocha, 2015. 
 
Gomes et al. (2004) definiu as seguintes zonas microclimáticas: 
 Zona úmida, situada a partir dos 500 m, com pluviosidade de 500 mm. 
 Zona sub-úmida, entre 200 a 500 m de altitude, com pluviosidade compreendida entre 400 e 
500 mm. 
 Zona semi-árida, entre os 100 e 200 m de altitude, com pluviosidade 
compreendida entre 250 e 400 mm. 
 Zona árida, situada abaixo dos 100 m, com pluviosidade inferior a 250 mm. 
 
44 
 
Mapa 2 – Elevação da ilha de Santiago. 
 
 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
 
45 
 
 
As ribeiras, ou rios, são perenes, apresentando água apenas nos períodos de chuvas 
associados essencialmente aos flash-floods. Amaral (2007) destaca que período chuvoso, 
grandes enxurradas podem correr pelo leito pedregosos, transportando massas de materiais em 
suspensão e arrastado pelo fundo, chegam a arrastar blocas de grandes dimensões. Tal 
fenômeno é responsável por entalhar fortemente o talvegue, resultando vales bastante 
profundos e encaixados. 
As águas superficiais são praticamente inexploradas em razão da deficiência na 
captação e armazenamento. Na ilha “as águas superficiais estão estimadas em 56 milhões de 
m³/ano e as águas subterrâneas em 26 milhões de m³/ano” (VENTURA; MASCARENHAS, 
2009, p. 417), sendo as águas subterrâneas mais utilizadas. 
Ainda conforme os autores citados anteriormente, Santiago recebe anualmente cerca 
de 80 milhões de m³ de água