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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – FAED CURSO DE GEOGRAFIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO GEOMORFOSSÍTIOS: valorização da geodiversidade da Lagoinha do Leste, Florianópolis - SC YASMIM RIZZOLLI FONTANA DOS SANTOS FLORIANÓPOLIS, 2016 YASMIM RIZZOLLI FONTANA DOS SANTOS GEOMORFOSSÍTIOS: VALORIZAÇÃO DA GEODIVERSIDADE DA LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geografia, do Centro de Ciências Humanas e da Educação - FAED, como requisito para a obtenção de título de Licenciada em Geografia. Orientador: Dr. Jairo Valdati FLORIANÓPOLIS - SC 2016 AGRADECIMENTOS Antes mesmo da ideia deste trabalho estar definida, eu já pensava nas tantas pessoas que cruzaram o meu caminho e fizeram a experiência da universidade ser tão incrível quanto foi. Dei uma chance a Geografia em fevereiro de 2012 e, foi o suficiente para não querer mais sair. Em 2016, sou geógrafa, sou professora. Aqui finaliza um ciclo de vida para mim e todos aqueles que viveram a Geografia comigo. Nestas páginas não pouparei palavras para expressar a gratidão a todos aqueles que estiveram comigo nessa jornada. Assim, este trabalho de conclusão de curso não reflete apenas uma pesquisa, é o fruto de cinco de anos de dedicação que não foram só meus... Em primeiro lugar, agradeço aos meus queridos pais, que lidaram com exatos 480km – da Rodovia Admar Gonzaga, 1747 até a Bororós, 188 – de saudades e preocupações durante estes 5 anos. Este trabalho também é de vocês, Maria e Adroaldo, acredito que nunca haverá palavras suficientes para agradecê-los, sem seu apoio, isto não teria sequer começado. Como sempre falo, vocês me deram asas para voar longe, porém são asas muito bem treinadas para saber o caminho de volta para casa. William, meu irmão, agradeço ao apoio desde o pré-vestibular até a conclusão do curso e, obviamente, por todo suporte técnico nestes anos todos. Agora estou esperando a tua formatura! Ao corpo docente do Departamento de Geografia, certamente todos contribuíram para minha formação acadêmica e cidadã. Agradeço, em especial, ao meu orientador, Jairo Valdati, agora também um grande amigo, pela confiança tanto no projeto de pesquisa de cartografia geomorfológica quanto para realização deste trabalho, pela disponibilidade e incentivo sempre quando precisei. Não esquecendo dos cafezinhos da cantina, que não foram poucos! Aos amigos do Laboratório de Geologia e Mineralogia, que me acolheram neste ano, entre eles o Weslley Soares e a Professora Edna Luiz – a pessoa que sabe todos os elementos terras raras da tabela periódica de cor – que sempre esteve disposta a ajudar, além de ter aceito ser membra da banca. Ao Professor Francisco de Oliveira agradeço pelo apoio na pesquisa e por também ter aceito ser membro da banca. Sou grata aos amigos da turma de 2012, que tornavam as saídas de campo ainda melhores: Camila Camargo, Filipe Aderbal, Giovani Silveira, Lucas Gonzaga e Thales Gattiboni. Francine Sagas, agradeço pela amizade desde o primeiro dia de aula e pelo grande presente que me deu, o Bernardo. Angel Albano, agradeço pela Geografia Urbana te conquistar, assim minha amiga irmã ficou na Geografia, estando até o fim junto comigo. Obrigada pelo companheirismo de todas as horas. Ao PET Geografia agradeço pelas oportunidades que me proporcionou nos três anos que fui bolsista; as viagens, os projetos de extensão e as discussões das longas reuniões foram muito importantes para compreensão do papel da universidade. À tutora Vera Dias pelo incentivo a pesquisa e formação política, também aos amigos PETianos do período 2012 a 2015. Aquiles Schluter, Ayrian Thédiga, Marina Bernardes, Matheus Pereira, Gabriel Miranda, Guilherme Régis e Yuri Perotto, os “Geousados”, que proporcionaram as histórias mais insanas da universidade, com participação da Ana Paula de Oliveira, Bruna Cesário, Maria Ely Goulart e Raphael Kbabben, grandes amizades descobertas no fim do curso, obrigada! Agradecimento especial a querida Marina, desde 2015 a dupla “Risólis e Pinhão” foi sinônimo de parceria nos trabalhos, no estágio, nas séries e nos cafés, muitos cafés. Diferentemente da maioria dos universitários vindos de outras cidades, cheguei em Florianópolis com uma colega de apartamento, dividi as novas experiências da universidade, das engraçadas e as desgastantes. Somos amigas há 10 anos – contei várias vezes até cair a ficha disso – moramos juntas há 5 anos. Thaís Putti, agradeço imensamente pelo companheirismo incomparável destes últimos anos. Obrigada por estar sempre no quarto ao lado e por querer continuar a estar, no dia que os nossos “frios na barriga” nos separar, te guardarei como uma irmã de coração. Iara Steiner Perin, não contentes somente com o papel de amiga, somos quase orientadoras dos trabalhos acadêmicos, companhia de caminhada no domingo, de viagens e de café, participantes ativas do TCC e da dissertação e, o mais importante, o despertador uma da outra. São três anos de amizade – escrevendo tudo isso parece uma amizade da vida inteira! – obrigada por preencher estes anos de histórias e geografias para contar. Priscila Indalêncio, obrigada pela ajuda na correção do texto e apoio desde o período do vestibular, também por sempre lembrar que “tudo tem seu tempo”. O “Lumus” acendeu a amizade única que construímos até hoje! Mesmo você não gostando de Geografia, não posso deixar de agradecer por escutar e sempre querer – ou pelo menos tentar – entender os meus devaneios geográficos. Grupo Teatral Desvio do Septo, tenho 436 porquês a amizade de vocês é incomparável com qualquer outro grupo de amigos que exista. Agradeço por atuarem tão bem na minha vida. À Sonia Rampazzo agradeço pela companhia e as caronas para a realização das saídas de campo. Ao Felipe Guntin, com quem aprendi sobre a Lagoinha do Leste, agradeço pela parceria na pesquisa. À CAPES pela oportunidade de intercâmbio em 2014/1 na Brigham Young University, Utah – EUA, além de experiência acadêmica e de vida, me deu a amizade das extraordinárias Juliane Ramalho e Iara Perin. Ao CNPq pela bolsa de fomento à pesquisa, que neste ano de 2016 foi muito importante para a realização deste trabalho e, por fim, à UDESC, minha segunda casa desde 2012. Viajar a bordo de uma nave espacial em redor da Terra, numa órbita não muito elevada, deve ser uma experiência extraordinária. O planeta que habitamos é tudo menos monótono. No decorrer de uma volta completa em torno da Terra, quantas paisagens diferentes poderíamos ver da pequena janela da nossa nave espacial? Os milhares de fotografias que os astronautas nos enviam das suas missões espaciais reflectem bem a geodiversidade terrestre. José Brilha. RESUMO Geomorfossítios compõem áreas singulares, cujos aspectos geomorfológicos são exemplares a serem conservados. Considerando-se a geodiversidade, estes sítios se tornam ícones por sua representatividade de processos geomórficos e feição do relevo, ou por valor paleogeográfico. O presente trabalho objetiva identificar e mapear a diversidade geomorfológica da Lagoinha do Leste, localizada em Florianópolis – SC. A área de estudo está inserida numa Unidade de Conservação municipal, deste modo, este estudo pode contribuir para a realização do plano de manejo, valorizando não somente os aspectos ligados a fauna e a flora, mas também as particularidades da dinâmica do meio físico. O desenvolvimento da pesquisa ocorreu em cinco etapas: a construção do referencial teórico, fundamentado nos conceitos de patrimônio geológico-geomorfológico, geodiversidade, geomorfossítios e geoconservação; reconhecimento da Lagoinha do Leste com levantamentode dados existentes sobre o local; realização de trabalhos de campo, percorrendo as trilhas de acesso; inventário dos aspectos geomorfológicos; análise dos resultados e sua representação em mapas. A cartografia geomorfológica de detalhe foi uma ferramenta fundamental para a expressão dos resultados, pois a escala de detalhe possibilitou a representação das formas e processos identificados na área. Os mapas da pesquisa estão em escala 1:9000 e 1:10000 e foram elaborados com base nas ortofotos e no Modelo Digital de Terreno da Ilha de Santa Catarina e aprimorados a partir das observações dos trabalhos de campo. A geodiversidade local, bem como os geomorfossítios, estão refletidos em três mapas de escala de detalhe: o sistema de drenagem, a carta geomorfológica de detalhe e o mapa dos geomorfossítios. Constatou-se na área pesquisada uma dinâmica diferenciada, tendo em vista a quantidade de ambientes que engloba e, por esta razão, propõe-se a demarcação de geomorfossítios pontuais, areais e de paisagem, a partir de critérios científicos. PALAVRAS-CHAVE: Geomorfossítios. Lagoinha do Leste. Geodiversidade. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Esquema 1 – Relação conceitual de relevo e paisagem geomorfológica ................. 17 Esquema 2 – Vulnerabilidade dos geomorfossítios .................................................. 20 Quadro 1 – Contextos de avaliação .......................................................................... 21 Quadro 2 – Princípios orientadores para mapeamento de geomorfossítios ............. 26 Quadro 3 – Características do método da Universidade de Lausanne ..................... 49 Quadro 4 – Critérios científicos ................................................................................. 49 Tabela 1 – Geossítios no Brasil em 2015 ................................................................. 24 Tabela 2 – Dados das condições climáticas de Florianópolis em abril de 2016 ....... 61 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Delimitação do Parque Municipal da Lagoinha do Leste ......................... 31 Figura 2 – Mapa de localização ................................................................................ 32 Figura 3 – Climograma de Florianópolis ................................................................... 36 Figura 4 – Mapa geológico da Lagoinha do Leste .................................................... 37 Figura 5 – Padrão de canal de drenagem ................................................................. 39 Figura 6 – Padrão de drenagem ............................................................................... 39 Figura 7 – Curvas de nível da área de estudo .......................................................... 52 Figura 8 – Hillshade da Lagoinha do Leste ............................................................... 53 Figura 9 – Exemplos de simbologia da carta geomorfológica ................................... 55 Figura 10 – Geoevolução da área da Lagoinha do Leste ......................................... 62 file:///C:/Users/Yasmim/Documents/TCC/TCC%20.docx%23_Toc468459713 file:///C:/Users/Yasmim/Documents/TCC/TCC%20.docx%23_Toc468459714 LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 – Trilha do Matadeiro ............................................................................ 33 Fotografia 2 – Trilha do Pântano do Sul ................................................................... 33 Fotografia 3 - Vista panorâmica da Lagoinha do Leste ............................................ 34 Fotografia 4 – Vegetação de dunas fixas.................................................................. 44 Fotografia 5 – Restinga e formação Submontana .................................................... 45 Fotografia 6 – Canal criptorreico norte em abril de 2016 .......................................... 57 Fotografia 7 – Canal criptorreico norte em outubro de 2016 ..................................... 57 Fotografia 8 – Canal lagunar de maré ...................................................................... 59 Fotografia 9 – Vista panorâmica da laguna fechada ................................................. 59 Fotografia 10 – Nascente próxima a trilha na encosta norte ..................................... 60 Fotografia 11 – Desnível do canal lagunar de maré ................................................. 63 Fotografia 12 – Deposição próxima ao canal criptorreico norte ................................ 64 Fotografia 13 – Laguna com o nível de água baixo .................................................. 65 Fotografia 14 – Campo de blocos sul ....................................................................... 66 Fotografia 15 – Tafone.............................................................................................. 67 Fotografia 16 – "Favos de mel" ................................................................................. 68 Fotografia 17 – Erosão alveolar ................................................................................ 68 Fotografia 18 – Erosão diferencial e alvéolos ........................................................... 69 Fotografia 19 – Ponto geopanorâmico 1 ................................................................... 70 Fotografia 20 – Ponto geopanorâmico 2 ................................................................... 71 LISTAS DE ABREVIATUDAS AIA Avaliação de Impacto Ambiental APP Área de Preservação Permanente CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CPRM Serviço Geológico do Brasil Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Esri Environmental Systems Research Institute Floram Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis GPS Global Positioning System IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Inpe Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Iphan Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MDE Modelo Digital de Elevação MDT Modelo Digital de Terreno SGN Servizio Geologico Nazionale – Serviço Geológico Nacional da Itália SIG Sistema de Informações Geográficas Snuc Sistema Nacional de Unidades de Conservação Sigep Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos PMLL Parque Municipal da Lagoinha do Leste UC Unidade de Conservação Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 12 2 GEOPATRIMÔNIO: SÍTIOS REPRESENTANTES DA GEODIVERSIDADE 15 2.1 GEODIVERSIDADE ....................................................................................... 15 2.2 GEOMORFOSSÍTIOS .................................................................................... 18 2.2.1 Avaliação dos Geomorfossítios .................................................................. 20 2.2.2 Geopatrimônio do Brasil ............................................................................. 23 2.3 TÉCNICAS PARA REPRESENTAÇÃO DOS GEOMORFOSSÍTIOS: CARTOGRAFIA GEOMORFOLÓGICA DE DETALHE .................................. 25 3 A ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 30 3.1 LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC .......................................... 30 3.2 ASPECTOS FÍSICOS DA ÁREA DE ESTUDO .............................................. 35 3.2.1 Clima ............................................................................................................. 35 3.2.2 Geologia ........................................................................................................ 36 3.2.3 Rede hidrográfica ......................................................................................... 39 3.2.4 Geomorfologia ..............................................................................................40 3.2.5 Solos ............................................................................................................. 41 3.2.6 Vegetação ..................................................................................................... 42 4 METODOLOGIA ............................................................................................ 47 4.1 INVENTARIAÇÃO .......................................................................................... 48 4.2 AVALIAÇÃO ................................................................................................... 49 4.3 ELABORAÇÃO DE PRODUTOS CARTOGRÁFICOS ................................... 50 4.3.1 Materiais e Procedimentos .......................................................................... 50 4.3.2 Aplicação das técnicas da Cartografia Geomorfológica de Detalhe ....... 53 5 RESULTADOS............................................................................................... 53 5.1 INVENTÁRIO ................................................................................................. 56 5.1.1 Sistema de Drenagem .................................................................................. 56 5.1.2 Diversidade geomorfológica ....................................................................... 62 5.2 GEOMORFOSSÍTIOS .................................................................................... 69 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 75 APÊNCIDE A – MAPA DO SISTEMA DE DRENAGEM DA LAGOINHA DO LESTE ............................................................................................................ 80 APÊNDICE B – CARTA GEOMORFOLÓGICA DE DETALHE DA LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC ............................................................. 81 APÊNDICE C – MAPA DOS GEOMORFOSSÍTIOS DA LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC ................................................................... 82 12 1 INTRODUÇÃO Como um livro, a geologia e a geomorfologia contam a história da Terra. Dessa forma, o patrimônio natural corresponde ao acervo de exemplares únicos que não podem sair da biblioteca. A compreensão da evolução da paisagem geomorfológica, por meio de elementos remanescentes e na observação de processos e do presente relevo, além de possibilitar a prospectiva de futuro, justifica a Geomorfologia enquanto ciência, sua significância para a sociedade, e, ainda, as motivações deste trabalho de conclusão de curso, em pesquisar a geodiversidade para conservação. A ciência geomorfológica nasce na interface das disciplinas de Geologia e Geografia, preocupando-se com o presente e o passado, refletidos na paisagem geomorfológica. Para tratar de Geografia e Geomorfologia, há conceitos básicos a serem explanados, que são de suma importância para contemplar os objetivos deste trabalho. Primeiramente, a paisagem, esta que perpassa pelas artes e pela ciência, é discutida na Geografia desde seus primórdios, com Humboldt em sua perspectiva naturalista de que “as montanhas são vistas como livros” e com Vidal de La Blache num viés humanista, onde os processos humanos e naturais são inscritos na paisagem (REYNARD, 2009a). Tendo em vista estudos contemporâneos, cujo conceito de paisagem é dotado de aspectos subjetivos e objetivos, para adentrar na discussão assume-se paisagem como sendo a combinação de elementos abióticos, bióticos e humanos, representando a relação complexa entre o ambiente e a sociedade (REYNARD, 2009a). Os fatores abióticos são, como a própria raiz da palavra se refere, os componentes sem vida, isto é, o meio físico do ecossistema, em especial a geologia e o relevo, entre outros aspectos físicos, químicos e físico-químicos (temperatura, umidade...); enquanto os bióticos consistem nas interações entre os seres vivos. As características humanas são atribuídas pelas transformações no espaço. Sobre a superfície terrestre encontra-se um leque de variedades de espécies, materiais e composições paisagísticas, frutos de um longo processo histórico, sendo que cada um desses componentes se transformou em seu próprio tempo. Por exemplo, os fatores bióticos e abióticos foram se diversificando, respectivamente, em virtude da seleção natural e de eventos geológicos e agentes erosivos. Deste modo, os termos biodiversidade e geodiversidade surgiram para referenciar tal fato, servindo também, de motivação para estudos e políticas de preservação. Em particular, a 13 geodiversidade é uma discussão recente na comunidade científica, que será detalhada na seção 2 do presente estudo. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) é uma das maiores organizações que fomentam a preservação do patrimônio natural. A determinação de princípios de identificação e ações de conservação começou a partir da Conferência Geral da Unesco para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, em 1972 (CLAUDINO-SALES, 2010). A unidade territorial de patrimônio denomina-se sítio, havendo dois grandes grupos: os Culturais e os Naturais. Este último, em relação ao meio abiótico, consiste nos sítios geológicos ou geossítios. A organização nacional responsável pelos sítios do patrimônio geológico brasileiro é a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep), a qual identifica áreas em potencial e/ou recebe propostas. A partir disso, a Comissão realiza a avaliação e catalogação (CLAUDINO-SALES, 2010), bem como a seleção de geossítios de importância mundiais para reconhecimento na Lista de Patrimônio Mundial da Unesco. Há diversas categorias de geossítios, cada uma delas possuindo uma característica do meio físico em que se atribui o valor a ser preservado. Os geomorfossítios são áreas cujo valor da geomorfologia é relevante em virtude da feição ou processo que a originou, portanto trata-se de sítios de patrimônio geomorfológico. Embora existam geomorfossítios no Brasil, e no mundo todo, a referência destes estudos é de universidades europeias, das quais surgiram, até o momento, a maioria das metodologias de avaliação e seleção dos sítios geomorfológicos. Assim, a partir das formulações de autores suíços e italianos, em especial, que o referencial teórico é construído e os potenciais geomorfossítios são avaliados, visando à identificação e valorização do patrimônio natural brasileiro. É com base no conceito de geomorfossítios que este trabalho se desenvolve, tendo como área de estudo a Lagoinha do Leste, em Florianópolis – SC. O local citado é uma Unidade de Conservação municipal, localizada no sul da Ilha de Santa Catarina, que abrange a praia de mesmo nome, uma laguna, fauna e flora típica do litoral subtropical brasileiro, além de, como apresentará este estudo, a diversidade geomorfológica. Haja vista as menções feitas até aqui, definem-se os objetivos do presente trabalho de conclusão de curso: 14 • Objetivo geral: analisar a diversidade geomorfológica da Lagoinha do Leste, Florianópolis – SC, para valorização dos geomorfossítios. • Objetivos específicos: 1) Identificar a diversidade de formas e processos geomorfológicos existentes na área da Lagoinha do Leste; 2) Mapear as formas e processos presentes; 3) Mapear os geomorfossítios (pontual, areal e de paisagem). A pesquisa está dividida em seis seções: 1) Introdução, seção esta que engloba os objetivos e os tópicos gerais do trabalho de conclusão de curso; 2) “Geopatrimônio: sítios representantes da geodiversidade”, a seção consiste no referencial teórico da pesquisa; 3) Área de estudo, onde é descrito aspectos legais e humanos que envolvem a Lagoinha do Leste, além da descrição do meio físico; 4) Metodologia, na qual apresentam-seos procedimentos realizados para contemplar os objetivos; 5) Resultados, nesta seção se caracterizam as particularidades e propõem-se os geomorfossítios na área de estudo, bem como são apresentados os mapas temáticos elaborados; 6) Considerações finais, onde autora tece um parecer final, avaliando o desenvolvimento da pesquisa e os objetivos atingidos. Como nota-se pelos objetivos, o mapeamento geomorfológico da Lagoinha do Leste é fundamental para a análise e proposição de geomorfossítios. Assim, para elaboração dos mapas aplica-se a cartografia geomorfológica de detalhe, segundo as técnicas italianas. Foram gerados três produtos cartográficos, que estão expostos nos Apêndices A, B e C, sendo eles, respectivamente: o mapa do sistema de drenagem da Lagoinha do Leste, a carta geomorfológica de detalhe e o mapa dos geomorfossítios. Destaca-se que o mapeamento realizado para este trabalho, que por sua vez é especificado na seção 4, está vinculado ao projeto de pesquisa “Cartografia geomorfológica de detalhe à valorização de recursos geomorfológicos em Unidades de Conservação”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No Apêndice B, a carta geomorfológica de detalhe é a continuação da primeira versão feita por Felipe Guntin Rodriguez, na pesquisa intitulada “Cartografia geomorfológica de detalhe da bacia hidrográfica da Lagoinha do Leste”, realizada em 2015. 15 2 GEOPATRIMÔNIO: SÍTIOS REPRESENTANTES DA GEODIVERSIDADE 2.1 GEODIVERSIDADE Se patrimônio natural consiste numa herança comum transmitida de uma geração para outra, logo o Patrimônio Geológico e Geomorfológico, ou Geopatrimônio, é uma herança comum de fatores abióticos que devem ser transmitidos às futuras gerações. Para assim se cumprirem os processos de passagem, deve-se identificar, delimitar geograficamente, bem como proteger, ou seja, geoconservar. Primeiramente, se entende como geopatrimônio os elementos geomorfológicos, paleontológicos, mineralógicos, petrológicos e hidrogeológicos (BRILHA, 2005). Observando esta diversidade de elementos abióticos terrestres, nas últimas décadas ganhou proporção o termo Geodiversidade, que se tornou um dos principais fatores de seleção de sítios de valores excepcionais. O novo termo tem sido pauta na comunidade científica internacional desde o final do século XX, com ampla discussão sobre sua definição e avaliação e, no meio acadêmico, quanto a sua validade científica. Sharples (2002) e Gray (2004) são importantes referências mundiais sobre geodiversidade, dedicando-se às diversas questões em torno da temática. Contudo, apesar do termo geodiversidade ser amplamente discutido e usado, não há um conceito de geodiversidade oficializado pela comunidade científica internacional. Por meio das leituras para construção desta seção, notou-se que cada autor cria seu próprio conceito ou reformula um preexistente. Tendo em vista que a presente pesquisa não almeja definir um conceito ou aprofundar os pontos da discussão sobre sua validade científica, a seguir serão apresentadas algumas definições de órgãos oficias e de autores analisados na fundamentação teórica deste trabalho, assim proporcionando uma visão geral do que o termo abrange. Segundo Gray (2004), o primeiro estudo da relação entre geologia e geomorfologia com a diversidade foi realizado na Austrália, na década de 1980, com o uso de “diversidade das feições do relevo” e “diversidade geomórfica”. O mesmo autor apresenta um compilado das discussões sobre o tema em âmbito mundial, e afirma, assim como Panizza e Piacente (2009), que existem muitas definições de geodiversidade, que, em sua maioria, é associada com o termo biodiversidade, 16 considerando ambos conceitos complementares, sendo que a geodiversidade contribui para a biodiversidade. O conceito adotado por Gray (2004) é uma modificação do conceito usado por Sharples (2002), o qual é: Geodiversidade: a variedade natural (diversidade) de características geológicas (rochas, minerais, fósseis), geomorfológicas (feições do relevo, processos) e solos. Isso inclui seu conjunto, relação, propriedades, interpretações e sistemas (GRAY, 2004, p. 8, tradução nossa). A Associação Internacional de Geomorfólogos aceitou a definição de Panizza & Piacente divulgada em 2003, a qual afirma que geodiversidade é “a variedade de ambientes geológicos e geomorfológicos considerados como a base para a diversidade biológica da Terra” (PANIZZA; PIACENTE, 2009, p. 40, tradução nossa). O Serviço Geológico do Brasil (CPRM), tem como conceito Geodiversidade é a natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, águas, solos, fósseis e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o educativo e o turístico. (CPRM, [201-?]) O eixo central da geodiversidade, observado nas perspectivas citadas, é a variedade no que se refere aos ambientes geológicos (abiótico), associando-os à variedade da vida na Terra (biótico). Aqui retorna a concepção de paisagem, que é composta de fatores bióticos, abióticos e humanos. Todavia, na questão de expressão cênica da paisagem, são atribuídos valores de importância para cada um, assim, individualmente a paisagem abiótica perde seu valor. Somente a partir do final do século XX, especialmente com a geodiversidade, criou-se o vínculo de beleza aos conceitos geológicos (MANTESSO-NETO, [201-?]). Tratando especificadamente da Geomorfologia, define-se que as feições da superfície por si só compõem uma paisagem geomorfológica, dependendo dos valores atribuídos pelo observador (Esquema 1). 17 Esquema 1 – Relação conceitual de relevo e paisagem geomorfológica Fonte: REYNARD, 2009a, p. 27, tradução nossa. Segundo Reynard (2009a), o relevo é as diversas formas da superfície terrestre moldadas por processos geomorfológicos. Estes processos são ativados por três fatores: antrópicos, endógenos e exógenos. A paisagem geomorfológica é “considerada como parte do relevo da Terra vista, compreendida e, às vezes, usada pelo Homem” (REYNARD, 2009a, p. 28). Assim, a paisagem geomorfológica carrega valores estéticos, culturais/históricos e científicos, havendo casos de suma importância em sua valorização e proteção, visando garantir a transmissão para as gerações futuras, ou seja, passa a configurar um patrimônio natural ou geopatrimônio. Portanto, a geodiversidade é o potencial de uma paisagem geomorfológica concretizar um patrimônio geológico/geomorfológico. Logo, se algo possui algum valor justifica- se sua proteção e conservação (BRILHA, 2005). A efetivação da geodiversidade em geopatrimônio ocorre com a geoconservação, e esta, conforme Sharples (2002), tem objetivos de preservar a diversidade natural abiótica, bem como manter a evolução natural, as magnitudes de mudança dessas características e processos, isto é, conservar as formas e/ou os 18 processos que as originam. A geoconservação visa a valorização e proteção da geodiversidade por si só, indo além de sua relação com a biodiversidade. Para Brilha (2005), a geoconservação estabelece estratégias de gestão para efetivamente preservar os valores atribuídos à geodiversidade, como científico, cultural, turístico, entre outros, o real significado para se considerar patrimônio. Por fim, destaca-se a definição sucinta de cada termo feito por Gray (2004) com base na obra de Sharples (2002) • geodiversidade é a qualidade do que estamos tentando conservar, • geoconservação é o esforço de tentar conservar isso, e • geopatrimônio abrange exemplos concretos do que pode ser especificadamente identificado como de importância de conservação. (SHARPLES, 2002, apud GRAY, 2004,p. 7, tradução nossa) A delimitação espacial da geodiversidade é denominada sítios, neste caso, geossítios. Portanto, a geodiversidade é um critério da demarcação de geossítios, contudo, como não se pode preservar toda a geodiversidade da Terra, ainda há necessidade de definição dos valores da diversidade, assim como métodos de avaliação. Além disso, destaca-se a necessidade de descrever e publicar a importância do geopatrimônio. No Brasil, a catalogação dos sítios naturais é realizada pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep) e, em âmbito mundial, são listados pela Unesco. 2.2 GEOMORFOSSÍTIOS Tendo em vista a geodiversidade terrestre, propõe-se a criação de geossítios para valorizar os aspectos geológicos e geomorfológicos de um determinado local. Assim, segundo Reynard (2009b, p. 10, tradução nossa), “Geosites podem ser considerados como porções da geosfera que representam uma importância particular para a compreensão da história da Terra.”. Tal conceito está em sintonia com a Sigep, “geossítio como um sítio geológico de interesse singular pela importância científica, didática, turística, pela beleza ou outro aspecto que justifique recomendar a sua proteção (geoconservação).” (WINGE, 2013, p. 11). Para Reynard (2009b), há duas abordagens (sem nomenclatura) dos geossítios, a primeira mais restritiva e a segunda mais abrangente. A primeira considera os geosites apenas por sua qualidade científica, como raridade e exemplo 19 de algum processo geológico ou história da vida, basicamente como compreensão e afirmação das ciências da Terra; a segunda consiste nos geossítios como objetos geológicos que possuem certo valor para a percepção ou exploração humana. Nesta perspectiva abrangente, atribuem-se valores em dois níveis, o central (científico) e os valores adicionais, como estético, cultural, econômico e ecológico (REYNARD, 2009b). Geomorfossítio (geomorphosite, em inglês), é um tipo de geossítio. Este termo foi proposto por Mario Panizza em 2001, cuja definição é “geomorfossítio é uma feição do relevo para qual um valor pode ser atribuído” (REYNARD, 2009b, p. 14). De acordo com Reynard (2009b), além dos valores dos geosites (científicos, em especial), há três aspectos específicos para os geomorfossítios: 1) Dimensão estética: a composição da paisagem geomorfológica em que é atribuído um alto valor estético. Geralmente esta é a característica central, todavia forçoso ressaltar que nunca deve ser o único aspecto a ser considerado, de forma que a expressão física precisa estar aliada à importância científica, assim como pode existir geomorfosítio sem valor estético; 2) Dimensão dinâmica: a observação dos processos dinâmicos naturais atuantes no relevo e/ou registro de processos passados. Quanto à atividade dos processos, Reynard (2009b) separa em Ativos, os processos geológicos/geomorfológicos estão ocorrendo, portanto é possível e importante observá-los na superfície, e Passivos (ou fóssil), nos quais o geosítio é a testemunha dos processos e/ou condições naturais não mais existentes. Em relação a esta dinâmica, em ambos os casos a interferência antrópica pode causar danos irreparáveis, ou pelo menos, irreversíveis na escala humana. A reconstrução artificial é uma alternativa, no entanto são difíceis de reativar. (REYNARD, 2009b). 3) Escalas: tanto geosites quanto geomorphosites não possuem um tamanho padrão a ser seguido, nem um máximo ou mínimo, podendo abranger formas isoladas ou grandes feições na paisagem, contudo, é importante que seus limites sejam bem delineados. Grandgirard (1997) apud Reynard (2009b) apresenta quatro categorias de escala: forma isolada, grupo de feições, complexo de feições da terra e sistema geomorfológico. O sistema consiste na combinação de diversos processos e feições; grupo e complexo se diferenciam pela quantidade de diferentes feições que abrigam. Já Reynard (2009b) propõe 20 apenas duas escalas, a do objeto e a da paisagem. A primeira é pontual, contendo-se em uma feição incomum da superfície, que por muitas vezes é resultado da erosão diferencial ou contraste com o contexto do ambiente (este tipo de geomorfossítios é chamado, e protegido, como monumento natural); a segunda é em macroescala, tendo como critério principal a sua estética, ou seja, a composição cênica da paisagem. O fator contrastante dos geomorfossítios, em relação aos outros geossítios, é sua característica dinâmica, pois se observam os processos geomorfológicos atuando na evolução da forma. Todavia, sua particularidade é também sua vulnerabilidade e um desafio de gestão, tendo em vista que os processos ativos levam à autodestruição da feição do relevo e até de outros processos (REYANRD, 2009b). Existe, ou se cria, uma infraestrutura para reduzir a intensidade da dinâmica, o que poderia agregar valor ao sítio, porém é contrário aos princípios da geoconservação. Além da ameaça natural aos geomorphosites, há também a antrópica, através de inúmeros impactos. Reynard (2009b) simplifica ambos tipos de destruição conforme o Esquema 2. Esquema 2 – Vulnerabilidade dos geomorfossítios Fonte: adaptado de REYNARD, 2009b, p. 18, tradução nossa. 2.2.1 Avaliação dos Geomorfossítios Como são sítios geomorfológicos apenas as feições do relevo que se atribui um valor, nem todas as feições podem ser um geomorfossítio. Portanto, deve-se ter um método de avaliação de potencial, para assim selecionar as áreas representativas de determinado valor. No entanto, tratando-se de paisagem e geomorphosites, há 21 sempre aspectos subjetivos envolvidos, pois, os mesmos passam pelo “filtro do observador”. Contando que não se pode quantificar o valor de cada variável ambiental, graus de subjetividade são inevitáveis (REYNARD, 2009c). Grandgirard (1999) apud Reynard (2009c) define três questões, “O quê?” “Por quê?” e “Como?”, para nortear a escolha do objeto e o tipo de avaliação. De acordo com estes autores, o objetivo de cada pergunta é: 1) O quê? Definir o objeto da avaliação, ou seja, todos os geosites de uma área ou apenas um “geo-objeto”. Se for este último, indicar quais características, como mineralógica, paleontológica ou geomorfosítio. Basicamente, deve-se determinar qual o objeto e escala. 2) Por quê? Partindo da primeira pergunta, define-se o objetivo da avaliação. O autor considera que os objetivos são abordados através de três contextos de avaliação, Inventário, Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e Popularização, conforme o quadro a seguir: Quadro 1 – Contextos de avaliação Fonte: REYNARD, 2009c, p. 64, tradução nossa. 3) Como? É escolha da metodologia para atingir os objetivos. Há duas abordagens para responder esta pergunta/fazer a escolha: avaliação de expert ou processos sistemáticos. O primeiro consiste na seleção e delimitação do geomorfosítio baseada apenas em um técnico na determinada ciência, ou seja, a experiência do mesmo será o critério. A segunda requer um procedimento, o qual possui variados critérios para avaliar de maneira objetiva a área ou objeto. Reynard (2009c) elenca cinco metodologias para avaliação de potenciais 22 geomorfossítios, cada uma possui seu tipo de contexto para ser usada: • Universidade de Lausanne – Suíça: desenvolvida pelo próprio Reynard para fazer inventários, há dois grupos de critérios, os científicos e os valores adicionais (educacional, ameaças, medidas de gestão); • Universidade de Cantabria – Espanha: são avaliados três grupos de características, os valores científicos; potencial para uso (utilidade social); ameaças potenciais e necessidade de proteção. Aplicados para realização de inventário ou AIA; • Universidade de Valladolid – Espanha: apenas para fazer inventário, este método tem três categorias de avaliação, o valor científico; os valores adicionais; e valor de gestão;• Universidade de Modena e Reggio Emilia – Itália: aplicada como inventário ou AIA da área de estudo, o critério usado é apenas a qualidade científica, que abrange os valores de raridade, educacional, integridade, exposição, área, pesquisa científica e outros valores adicionais; • Universidade de Minho – Portugal: aplicada para realizar inventários, são usados dois grupos de critérios, o valor geomorfológico (científico e valores adicionais, estes não mencionados) e a gestão (valor de uso e proteção). O inventário, dentro dos métodos citados é o contexto mais utilizado, também destacado por Sharples (2002), Brilha (2005) e Lima (2008). A inventariação é a descrição detalhada dos componentes daquele sítio, assim mostrando os componentes representativos da geodiversidade. Realizado de maneira sistemática, baseado no conhecimento científico, o inventário é o primeiro passo para a geoconservação (LIMA, 2008). Cada pesquisador ou linha de pesquisa adota seus critérios para cada contexto de avaliação, usando etapas quantitativas e/ou qualitativas, ambos com o intuito de haver menor subjetividade. Entre os critérios, o mais frequente é o caráter científico, que consiste na descrição das feições de relevo e sua gênese, aliados a fatores de raridade, representatividade e integridade. Para os geomorphosites, Reynard (2009b) salienta a inclusão da perspectiva de potencial para uso (turístico, educacional...), bem como a boa representação dos resultados, especificadamente em mapas de detalhe. 23 2.2.2 Geopatrimônio do Brasil A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) é uma das maiores organizações que fomenta a preservação do patrimônio natural. Ações para conservação começaram a partir da Conferência Geral da Unesco para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, em 1972. Em 1989, cento e onze países, dentre eles o Brasil, aderiram à proposta da conferência, a qual consiste em salvaguardar o patrimônio cultural e natural para a toda humanidade. De acordo com o documento escrito do evento, cada país integrante tem autonomia de identificar e nomear sítios, e assim, posteriormente, submetê-los ao Comitê de Patrimônio Mundial, para inclusão na Lista de Patrimônio Mundial. Para o cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil, criou-se a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep) em 19971, que é composta por diversas entidades nacionais, dentre elas, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). A Sigep tem o objetivo de identificar, avaliar, descrever e publicar os sítios geológicos e paleobiológicos, visando à conservação do patrimônio geológico brasileiro (WINGE, 2013), inclusive submetendo propostas de sítios à Unesco. Os critérios para seleção pela Sigep são: • sua singularidade na representação de sua tipologia ou categoria • importância na caracterização de processos geológicos-chave regionais ou globais, períodos geológicos e registros expressivos na história evolutiva da Terra • expressão cênica • bom estado de conservação • acesso viável • existência de mecanismos ou possibilidade de criação de mecanismos que lhe assegure conservação e consequente aproveitamento (WINGE, 2013, p. 11) De acordo com o Inventário dos Geossítios do Brasil, publicado em 10 de outubro de 2015 pela Sigep, há 116 geossítios no território brasileiro, 46 propostas aprovadas aguardando por descrição e outras 26 sugestões de sítios. Dentre estes geossítios publicados oficialmente, há 12 categorias, conforme descrito na tabela: 1 De 1993 a 1997 era o Grupo de Trabalho Nacional de Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Departamento Nacional de Produção Mineral. Em 1997 foi criada a Sigep, com quatorze entidades membro, e apenas em 2012 surgiu a perspectiva de Marco Legal, através da criação do Grupo de Trabalho Interministerial de Sítios Geológicos e Paleontológicos. No entanto, até meados de 2016, na elaboração desta pesquisa, a Sigep não foi institucionalizada. 24 Tabela 1 – Geossítios no Brasil em 2015 Categoria de Geossítio Quantidade 1) Paleontológicos 37 2) Geomorfológicos 23 3) Paleoambiental 13 4) Espeleológico 11 5) Sedimentológicos 9 6) História da Geologia e da Mineração 8 7) Ígneos 3 8) Marinhos 5 9) Astroblemas 4 10) Estratigráficos 1 11) Tectônicos 1 12) Hidrogeológicos 1 TOTAL 116 Fonte: elaborado pela autora, 2016, com base nos Sítios Geológicos e Paleobiológicos volumes 1, 2 e 3, publicado pela CPRM/Sigep, respectivamente, em 2002, 2009 e 2013. Os geomorphosites são os segundos mais numerosos no país, sendo que a maioria se concentra no estado do Paraná, com seis unidades. Os restantes: três em Minas Gerais; dois no Ceará e Roraima; e um na Bahia, Goiás, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraíba e Pernambuco; um entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e outro entre São Paulo e Paraná. Segundo Claudino-Sales (2010), os sítios geomorfológicos brasileiros são representantes das unidades de paisagens geomorfológicas presentes no território nacional. A mesma autora classifica as morfologias, materiais e processos associados aos geomorphosites publicados, como estruturas sedimentares; relevo residual em rochas cristalinas/erosão diferencial; processos costeiros/formas costeiras; processos fluviais; e erosão diferencial associada com controle estrutural. No entanto, Claudino- Sales (2010) declara haver limitações nas análises científicas dos geomorfossítios pela Sigep, isto se deve à falta uma equipe especializada para a avaliar geomorfossítios no Brasil. De acordo com a Sigep, a realização de inventário dos geossítios/geomorfossítios é essencial para conservação da geodiversidade, bem como o uso adequado do patrimônio natural nacional. Claudino-Sales (2010) também destaca a importância dos geomorfossítios, que o incentivo de criação e avaliação dos mesmos pode contribuir para a conservação das paisagens geomorfológicas. 25 2.3 TÉCNICAS PARA REPRESENTAÇÃO DOS GEOMORFOSSÍTIOS: CARTOGRAFIA GEOMORFOLÓGICA DE DETALHE A comunicação visual é um dos meios mais eficientes para a transmissão de informação. Neste contexto, a cartografia possibilita a representação dos mais diversos aspectos do espaço geográfico, sendo assim umas mais importantes ferramentas da Geografia. Segundo Florenzano (2008), o mapa é uma fonte de informação, bem como um instrumento dela, ou seja, na Geomorfologia, o mapa geomorfológico é resultado de uma análise, bem como ferramenta de análise, síntese e interpretação geomorfológica. De acordo com o Serviço Geológico Nacional da Itália (Servizio Geologico Nazionale – SGN, no italiano), na normativa técnica de representação física do território, de 1994, a carta geomorfológica é resultado do estudo científico sobre as feições da Terra, realizado em trabalhos de campo e em laboratório. Assim, permitem retratar os diversos aspectos geomorfológicos, sejam endógenos ou exógenos do passado ou do presente. Deste modo, o mapeamento geomorfológico é de grande valia para diversos estudos, pois, nele se expressa as variáveis do meio físico. Dependendo do grau de detalhamento, que é em função da escala, estabelece um quadro de características geomorfológicas que propiciam o vislumbre do ambiente e processos que o originou, bem como, prevê tendências futuras (SGN, 1994). No entanto, há um leque de dificuldades envolvendo a unificação internacional de uma metodologia para mapeamento geomorfológico, problemas como escala e padronização da representação dos elementos/formas. Para Florenzano (2008, p. 107) Na elaboração de uma carta geomorfológica, trabalha-se com as formas ou com os elementos (porção indivisível e cuja reunião compõe as formas) do relevo. No sistema dos elementos, planos, rupturas e curvas representamfatos básicos na cartografia, e conduzem uma carta carregada de sinais [...] O mapeamento geomorfológico não dá, necessariamente, a mesma ênfase em todos os aspectos do relevo. Pode se destacar as características morfológicas, morfogenéticas, morfocronológicas ou morfodinâmicas, incluindo, ou não, a litologia, materiais inconsolidados ou formações superficiais, como o solo (FLORENZANO, 26 2008). Este é o caso quando aplicado a geomorfossítios, pois seu principal objetivo torna-se a percepção do objeto (feição do relevo) através de uma representação na qual seja compreensível a dinâmica que deu origem ao geomorfosítio, mas desse modo omite outros elementos presentes na paisagem (CORATZA; REGOLINI- BISSIG, 2009). A melhor apresentação dos geomorphosites ocorre no uso de uma vertente da cartografia geomorfológica, a cartografia geomorfológica de detalhe. Esta consiste no uso de técnicas para enfatizar o relevo em grande escala, assim proporcionando a melhor percepção humana dos componentes do geomorfosítio, uma vez que representa de forma legível as áreas de processos ativos ou inativos (CORATZA; REGOLINI-BISSIG, 2009). O uso da escala de detalhe, isto é, maior que 1:25.000, permite delimitar minuciosamente cada geomorfosítio, sejam objetos ou a paisagem, assim refletindo os resultados do contexto de avaliação, como os inventários. Metodologias para mapeamento geomorfológico de detalhe, em especial de geomorfossítios, foram propostas e experimentadas principalmente na Europa. Estas técnicas ainda são pouco usadas do Brasil, como afirma Valdati (2005), sendo evidenciado devido à ausência de padronização de legenda deste mapa temático. Coratza e Regolini-Bissig (2009), respectivamente da Universidade de Modena (Itália) e Universidade de Laussane (Suíça), desenvolveram princípios norteadores para o mapeamento dos geomorfossítios (Quadro 2), que possuem perguntas guias e orientações para a construção do mapa conforme o objetivo do pesquisador. Quadro 2 – Princípios orientadores para mapeamento de geomorfossítios Componentes do mapa Questões norteadoras Princípios orientadores Usuário Quem é o público pretendido? Mapas não devem ser produzidos do mesmo jeito para cientistas, planejadores, estudantes ou turistas. Diferentes grupos de usuários têm diferentes necessidades e habilidades de interpretação de mapas: um bom mapa para especialistas não é necessariamente um bom mapa para não especialistas. Definir o público pretendido ajuda a focar os esforços de mapeamento e a produzir mapas compreensíveis. 27 Propósito Qual é o propósito do mapa? Mapas são produzidos e servem para diferentes propósitos, tais como avaliação, conservação, gestão e promoção de geomorfossítios. Cada aplicação requer princípios específicos de mapeamento a fim de suprir necessidades particulares. Tema O que será mostrado com o mapa? A fim de limitar as feições a serem mostradas no mapa, somente um pequeno número de temas deve ser apresentado a cada vez. É recomendado representar a informação sequencialmente ao invés de simultaneamente, fazendo diversos mapas temáticos, em vez de sobrecarregar um documento. Nível Qual é a complexidade da informação desejada/exigida? O nível refere-se à complexidade de dados. Em alguns casos, um mapa detalhado incluindo muitas características é necessário, em outros, uma simples legenda bastará. Não sobrecarregar o leitor com detalhes desnecessário. Escala Qual é a área a ser coberta? A escala dos mapas depende da área a ser coberta e qual o jeito dos geomorfossítios serem visualizados: pontos, símbolos pictóricos ou imagens gráficas, símbolos de mapeamento clássicos das geociências. Dimensão Como mostrar a morfologia da área mapeada? Trabalhar com plano topográfico, modelos digitais de terreno, imagens de satélite, fotografias aéreas ou desenhos depende do propósito do mapa e do público alvo. Pode ser útil produzir diversas alternativas e avaliar qual funciona melhor. Design Como produzir mapas de boa aparência e que sejam fáceis de entender? O design dos mapas é o processo no qual todos os componentes (escala, dados, símbolos, textos...) ficam juntos de uma maneira atrativa. Seguir as convenções cartográficas, gráficos básicos e regras de design dos mapas ajudará a criar mapas bem personalizados. 28 Formato e tamanho Para qual propósito e em qual contexto o mapa será usado? A escolha do formato dos mapas (papel ou digital, material e tamanho do papel do mapa) é crucial porque isso irá afetar a produção e os custos de atualização. Deveria ser considerado também que o estudo do mapa deve ser o mais confortável possível em uma dada situação. Por exemplo, dobrar um grande mapa pode não ser a melhor opção para uma trilha ao longo da costa, pois poderia balançar com o vento. Custos Quais serão os custos envolvidos em preparar e publicar o mapa? Quanto do orçamento pode ser usado para adquirir dados? Para executar pesquisa de campo ou processar dados? O custo é um aspecto importante para todo projeto de mapeamento, pois isso determina a série de características do mapa, tais como técnicas de mapeamento (software, processamento de dados) e opção de impressão (material, tamanho, cores). Fonte: CORATZA; REGOLINI-BISSIG, 2009, p. 101, tradução nossa. Tendo em vista as perspectivas dos geomorfossítios (estética, científica, turística, educacional...), os mapas podem ser desenvolvidos em dois tipos, dependendo do público direcionado: mapa para especialistas, ou seja, comunidade científica e profissionais de planejamento e gerenciamento territorial e mapas para “não-especialistas”, mapas simplificados para o público em geral, sendo direcionados especialmente ao geoturismo (CORATZA; REGOLINI-BISSIG, 2009). Grande parte dos componentes do guia do quadro 1 se desenvolveu em virtude dos constantes avanços nas geotecnologias, pois, segundo Florenzano (2008), as tecnologias de sensoriamento remoto permitem ampliar a visão espectral, espacial e temporal dos ambientes terrestres. Portanto, a ciência geomorfológica, bem como a ciências da Terra em geral, é uma das maiores beneficiárias dos avanços tecnológicos, haja vista tais ferramentas contribuírem para o progresso nas bases cartográficas e apoio de campo; na extração de dados geomorfológicos e elaboração de cartas de diferentes ênfases; assim como na análise integrada e mapeamento da paisagem (FLORENZANO, 2008). Entre as geotecnologias, o Geoprocessamento é a área do conhecimento que usa técnicas computacionais e matemática para tratamento de dados, sendo intrínsecos aos Sistemas de Informações Geográficas. De acordo com FLORENZANO 29 (2008), os SIGs (Geographic Information System - GIS, em inglês) são sistemas que armazenam, analisam e manipulam dados geográficos. Os softwares para manipulação destes dados são livres ou privados, por exemplo, respectivamente, o Spring do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o ArcGIS da Environmental Systems Research Institute (Esri). Materiais como fotografias aéreas, imagens de satélites, os Modelos Digitais de Terreno (MDT) e Modelos Digitais de Elevação (MDE) são bases para elaboração de produtos cartográficos nestes sistemas. Todavia, estas técnicas e tecnologias se efetivam para a inteligibilidade do leitor quando utilizada uma legenda adequada. Mario Panizza, em 1973, começa a sistematização de legenda aos mapas geomorfológicos da Itália. Seus estudos culminam na publicação de uma normativa técnica para cartas geomorfológicas pelo Serviço Geológico Nacional da Itália. Em 1998, Damis e Bisci, publicaram um manual da cartografia geomorfológica, sugerindo a legenda para a escala de detalhe, contendo mais especificidades e complementares à primeira normativa. Para criar uma legenda funcional precisa-se considerar a boa legibilidade da simbologia, mesmoquando a carta for complexa e contenha muitos símbolos, assim sendo interpretada facilmente (DAMIS; BISCI, 1998). 30 3 A ÁREA DE ESTUDO 3.1 LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC O Parque Municipal da Lagoinha do Leste (PMLL) está localizado no sudeste da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis, distrito do Pântano do Sul. O parque é uma Unidade de Conservação (UC) Municipal, criado em 1992 pela Lei Municipal nº 4701/92, com o objetivo de “I - Salvaguardar a paisagem natural, a fauna e a flora; II - Proteger o manancial hídrico da Bacia Hidrográfica da Lagoinha do Leste.” (FLORIANÓPOLIS, 1992, p. 1). Como categoria UC, o parque está inserido no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), Lei Federal nº 9.985/00, cujo Artigo 2º define UC como: [...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. (BRASIL, 2000). Todas as UCs do território brasileiro2, seja de nível nacional, estadual ou municipal, devem se adequar à referida lei. No caso do Parque da Lagoinha do Leste, como uma UC de proteção integral, não é permitida sua exploração e, por ser estabelecida por lei municipal, seu órgão responsável é a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), cuja função é aplicar as leis da Snuc. Inicialmente, a UC possuía 480,5 hectares de área, já em 1999, por meio da Lei Municipal nº 5.500/99, sua extensão aumentou para 789,6 hectares, abrangendo parte do Morro do Matadeiro e Morro do Pântano do Sul (ROSA, 2015). Contudo, não há demarcação física do parque, seus reais limites são incertos e as informações disponibilizadas pela Floram são escassas. Devido a carência de dados, a população vizinha e os turistas inferem a delimitação da UC. Ferretti (2007) organizou o mapeamento das UCs e Áreas de Preservação Permanente (APP) da Ilha de Santa Catarina, com base na Carta de Zoneamento Natural e Carta de Unidades de Conservação da Ilha, em comparação ao mapa de 2 De acordo com a Lei 9.985/00, Artigo 7º, há dois grandes grupos de UCs, as de Uso Sustentável e as de Proteção Integral, dentro destes ainda existem classificações. A UC deste estudo se encaixa como Proteção Integral, então, seu intuito é a preservação, permitindo somente o uso indireto dos seus recursos naturais. 31 UCs de Dora Orth, de 1998. Resultando na projeção das dimensões do parque, de acordo com a sua expansão em 1999, visualizado no recorte da Figura 1. Figura 1 – Delimitação do Parque Municipal da Lagoinha do Leste Fonte: adaptado de FERRETI, 2007, p. [1]. Escala original 1: 2000. Destaca-se que o PMLL ainda não possui um plano de manejo, monitoramento e zona de amortecimento, ou seja, não está dentro dos critérios exigidos pela Snuc. Deste 2015 está em trâmite pela Câmara Municipal de Vereadores de Florianópolis uma proposta de ampliação do parque para 950,5 hectares, caso aprovada, será anexada a esta UC as APPs adjacentes (Figura 1), além de criar um corredor ecológico até o Parque Municipal da Lagoa do Peri3 (ROSA, 2015). Todavia, até novembro de 2016, nada sobre o tema foi divulgado pela Prefeitura Municipal. A área estudada por este trabalho não engloba toda a UC, detém-se na praia da Lagoinha do Leste e o sistema de drenagem do seu entorno, que abrange os morros que circundam a laguna e formam a enseada, como se confere na Figura 2. Por isso, a área estudada é chamada apenas de Lagoinha do Leste, não se mencionando a palavra parque. 3 O Parque Municipal da Lagoa do Peri foi tombado como Patrimônio Natural pelo município de Florianópolis desde 1976, e é um parque, efetivamente, desde 1981. 32 Figura 2 – Mapa de localização Fonte: elaborado pela autora, 2016 O acesso à praia da Lagoinha do Leste é por meio de duas trilhas: • Trilha do Matadeiro: tem início na praia do Matadeiro, possui aproximadamente 5km de extensão. O percurso se dá pelo costão rochoso, terminando na porção norte da Lagoinha do Leste. 33 Fonte b: Marco Santiago, 2016. Fotografia 1 – Trilha do Matadeiro a) Fonte: elaborado pela autora, 2016. Legenda: a) Primeira parte da trilha, iniciada pela praia do Matadeiro, indo pelo costão na parte externa da área de estudo; b) Fotografia do ponto de vista de dentro da enseada, seta indica a segunda parte da trilha, descendo pela encosta chega-se na praia. • Trilha do Pântano do Sul4: começa no sopé do Morro do Pântano do Sul, acesso pela servidão Manuel Pedro de Oliveira. A trilha tem 2,2 km e finaliza no sul da praia. Fotografia 2 – Trilha do Pântano do Sul a) Fonte a: Divulgação Floram, 2016. 4 Destaca-se que a trilha do Pântano do Sul começou a ser restruturada em meados de 2016, sendo concluída em outubro do mesmo ano. A realização da mesma foi pela parceria entre a Floram e organizações como o Coletivo UC da Ilha e a Instituição de Estudos Ambientais Trilheiros de Atitude, no Projeto Trilhas e Caminhos da Ilha de Santa Catarina A Fotografia 2 é a trilha já restaurada, anteriormente não havia sinalização de início/fim, consistia somente no caminho aberto. b) b) 34 Dependendo das condições do tempo, há possibilidade de ir pelo mar, os pescadores transportam os passageiros até a praia da Lagoinha do Leste a partir da praia do Pântano do Sul. No interior da área de estudo existe uma terceira trilha, a qual leva ao topo do Morro da Coroa, no extremo sul da área mencionada. A mesma possui 400m de extensão, na crista do morro, que é o fim da trilha, situam-se blocos de rochas que proporcionam a vista panorâmica da praia, como nota-se na Fotografia 3. Tal ponto de observação é um dos cartões postais do parque, bem como da Ilha de Santa Catarina. Fotografia 3 - Vista panorâmica da Lagoinha do Leste Fonte: elaborado pela autora, 2016. Quanto a ocupação da área pesquisada, de acordo com Cruz (2000), a Lagoinha do Leste teve algumas casas no início da década de 1940, no entanto não há vestígios de tais edificações. Os moradores daquela época tiravam seu sustento da pesca e da agricultura, do cultivo de milho, mandioca e cana-de-açúcar o que gerou pequenas clareiras nas encostas (CRUZ, 2000). Não há mais registros sobre a duração dessas e/ou outras atividades e quando os moradores deixaram o local. Desde a oficialização como UC, a ocupação humana consiste em prática de camping por turistas. No verão, esta atividade é intensa, apesar da falta de estrutura. O fato de não haver plano de manejo e monitoramento do local está causando problemas, principalmente em relação aos resíduos sólidos depositados em diversos 35 pontos do parque, ademais, há ocorrências de cortes da vegetação de restinga, caça dos animais silvestres e comércio ilegal (COELHO, 2013). 3.2 ASPECTOS FÍSICOS DA ÁREA DE ESTUDO 3.2.1 Clima Segundo Florianópolis (2009) o clima do litoral catarinense está classificado como Subtropical Mesotérmico Úmido da classificação de Strahler, correspondente ao Cfa, de Köppen, portanto, considera-se como clima de transição entre o tropical quente e o temperado mesotérmico. A mesma definição aplica-se a Florianópolis, logo, os verões são quentes e invernos amenos, respectivamente, em média, 24,5ºC em janeiro e 16,5ºC em julho, com média anual de 20,4ºC (FLORIANÓPOLIS, 2009). A fonte referida ainda afirma que o caráter mesotérmico é dado pela influência de massas de ar quentes e úmidas: • Massa Tropical Atlântica (MTA): massa de ar quente e úmida, responsável pelos ventos de Norte e Nordeste. •Massas de Ar Intertropical: massa quente; • Massa Polar Atlântica (MPA): massa de ar fria, o encontro destas massas forma a Frente Polar Atlântica, provocando chuvas frontais, pré- frontais e pós-frontais na Ilha, além de ser responsável pelo vento Sul e Sudeste. Sobre os ventos na Ilha, Em dados do Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídricos de Santa Catarina – CLIMERH, nos últimos 70 anos tem-se a predominância dos ventos Norte (36.92%); seguido pelos ventos de Sudeste (16.92%); Sul (15.77%); Nordeste (10.05%); Noroeste (2.85%) e Sudoeste (1.14%). (FLORIANÓPOLIS, 2009, p. 12). A umidade relativa do ar, devido a maritimidade, geralmente fica entorno de 80% (FLORIANÓPOLIS, 2009). As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano, sendo a média anual 1493,12mm. O verão apresenta os maiores índices, concentrando 35% das chuvas, no inverno, os mais baixos, por volta de 19% (FLORIANÓPOLIS, 2009). Tais informações são representadas no climograma a seguir, Figura 3. 36 Figura 3 – Climograma de Florianópolis Fonte: INSTITUO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS - INPE. Monitoramento Brasil. Disponível em: <http://img0.cptec.inpe.br/~rclima/climatologias/mensal/capitais/florianopolisc.gif> Acesso em: 10 de nov. de 2016. Há diferença na distribuição de chuvas nos limites de Florianópolis, em particular no sul, onde se observa maior pluviosidade, o que se deve, a princípio, ao fato de haver ali elevações mais altas, como o Morro do Ribeirão e o Morro do Cambirela. No entanto, não há estudos e registros oficiais sobre tal fenômeno, haja vista que não há uma estação pluviométrica na área, esta é uma constatação empírica dos moradores do sul da Ilha. 3.2.2 Geologia A geologia da Lagoinha do Leste, bem como de todo o sul da Ilha de Santa Catarina, é composta de granitos maciços da Suíte Pluto-Vulcânica Cambirela da Era Neoproterozóica (entre 1000 e 541 milhões de anos atrás). Segundo Tomazzoli e Pellerin (2014), a Suíte Cambirela é composta de derrames e diques de riolito, riodacito, dacito, granito de grão fino, bem como tufos e lapilli tufos ignimbríticos. Conforme o mapa geológico da Ilha de Santa Catarina, elaborado por Tomazzoli e Pellerin em 2014 (Figura 4), o maciço rochoso que circunda a praia da Lagoinha do Leste consiste em tufos e ignimbritos indiferenciados, ou seja, rochas piroclásticas que “são constituídas por cristaloclastos de quartzo, K-feldspato e plagioclásio, com bordos angulosos ou arredondados e embaiados por reação com a matriz, usualmente muito fina ou vítrea, constituída, dominantemente, por quartzo e feldspato.” (TOMAZZOLI; PELERRIN, 2001, p. 4). Estas rochas piroclásticas são pouco estruturadas e possuem cor escura devido a presença de vidro vulcânico (TOMAZZOLLI; PELLERIN, 2014). Além disso, encontra-se cristaloclastos, bombas e lapillis, bem como concentrações de lapillis e http://img0.cptec.inpe.br/~rclima/climatologias/mensal/capitais/florianopolisc.gif 37 bombas de riolito fluidal com formas arredondas, retorcidas e elipsóidicas (TOMAZZOLI; PELLERIN, 2001). Semelhantes a esta formação geológica, os mesmos autores delimitaram áreas com maiores concentrações de bombas de riolito pórfiro (classe “tufos e ignimbritos com maiores concentrações de bombas”, Figura 4), o que sugere a maior proximidade dos centros vulcânicos. De acordo com os mesmos autores, estas bombas possuem dimensões variadas e formas arredondadas, angulares e fusiformes. Figura 4 – Geologia da Lagoinha do Leste Fonte: adaptado de TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014, p. [1]. Escala original 1:50000. Em áreas pontuais, ocorre o granito de grão fino, chamado Granito Itacorubi. Segundo Tomazzoli e Pellerin (2001), seus principais constitutivos são quartzo, K- feldspato, biotita e muscovita, também ocorre presença de epídoto, zircão, apatita, turmalina e anfibólio. Suas características são: textura fina a média, com fenocristais centimétricos de K-feldspato, tendo textura porfirítica em alguns locais. No maciço rochoso da Lagoinha do Leste também se encontram diques de diabásio da Formação Serra Geral, do magmatismo do Período Jurássico. Situados 38 nos extremos norte e sul da área em estudo (Figura 4), na porção norte existem quatro na direção N-S, ao sul, oito na direção N-W. Esses diques são de espessura variada, cor escura e tem “o predomínio de trama intergranular fina, com cristais de piroxênio e magnetita/ilmenita envolvidos por plagioclásio tabular fino” (TOMAZZOLI; PELLERIN, 2001). Conforme os autores citados, os depósitos encontrados na área estudada (Figura 4) são do período Quaternário, sendo eles: • Depósito Marinho Praial: como apresentam Tomazzoli e Pellerin (2014), estes são sedimentos arenosos de textura variada da época Holoceno, provenientes do processo marinho que formou as praias atuais; • Depósitos Eólicos: segundo Tomazzoli e Pellerin (2014) há dois tipos deste depósito, diferenciados pela época geológica que ocorreu. 1) Holoceno: representado por dunas transversais ativas, constituídas sedimentos finos e bem selecionados de coloração esbranquiçada; 2) Pleistoceno: na forma de paleodunas ou dunas longitudinais fixadas pela vegetação, são sedimentos arenosos finos, de coloração amarelo- avermelhada devido presença de minerais ferrosos; • Depósito aluvial de fundo de vale: sedimentos pelíticos e arenosos de granulometria variável da época Holoceno, situados em ambientes de baixa energia, como terraço lagunar e fundos de vale (HORN FILHO; LIVI, 2013; TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014). • Depósito de Colúvio-Aluvionar: constituem leques ou rampas no sopés das encostas do embasamento cristalino, são “Sedimentos mal selecionados, geralmente grosseiros com proporções variadas de blocos, matacões, seixos, grânulos e material pelítico-arenosos.” (TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014, p.[1]). • Depósito Paludial: de acordo com Tomazzoli e Pellerin (2014), está localizado em áreas semi-alagadas, constitui-se de turfas e sedimentos finos ricos em matéria orgânica. 39 3.2.3 Rede hidrográfica Primeiramente, define-se a drenagem fluvial como um conjunto de canais de escoamento (ou curso de água), que são interligados formando, juntamente com os terrenos drenados por este conjunto, uma bacia de drenagem, também chamada de bacia hidrográfica (CHRISTOFOLETTI, 1980). Quanto a presença de água, os canais dividem-se em três tipos: perenes, contém água o tempo todo, mesmo durante um período de seca, o canal continuamente alimentado pelo lençol subterrâneo; intermitentes, quando possuem água somente na estação chuvosa; efêmeros, quando escoam apenas durante ou logo após a precipitação (CHRISTOFOLETTI, 1980; SUGUIO e BIGARELLA, 1990). A disposição espacial do conjunto dos cursos d’água de uma bacia hidrográfica pode apresentar diferentes padrões, havendo seis tipos principais, que por sua vez refletem os aspectos geológicos do terreno drenado pela bacia. Estes padrões são citados por Christofoletti (1980), como sendo: Dendrítico, Treliça, Paralelo, Radial, Anelar e Retangular (Figura 5). Fonte: adaptado de CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 104. Figura 5 – Padrão de canal de drenagem Figura 6 – Padrão de drenagem Fonte: adaptado de RICCOMINI; COIMBRA, 1993, p. 4. 40 Além do padrão de drenagem, também é possível estabelecer os tipos de canais dentro da bacia, chamado de padrões de canais de drenagem (Figura 6). A configuração do mesmo demostra sua geometria hidráulica, isto é, a forma e a composição dos leitos. Há diversos fatores que condicionam o padrão de canal, como a largura e profundidade do canal, a velocidade do fluxo, a rugosidade do leito e sua declividade, bem como a carga sedimentar (SUGUIO e BIGARELLA, 1990). Tendo em vista as interrelações destes fatores, são estabelecidas quatro configurações de canal fluvial: Anastomosado, Entrelaçado, Meandrante e Retilíneo(Figura 6). Materiais referentes a rede hidrográfica da Lagoinha do Leste são escassos, sendo, majoritariamente, provenientes dos mapeamentos do local. Nota-se, na Figura 4, que a área possui canais de escoamento retilíneos de disposição paralela, que percorrem as encostas do embasamento cristalino, que, por sua vez, deságuam na laguna. Localizada na porção central da área de estudo, a laguna tem formato meândrico, e é barrada pelo compartimento praial. O sistema de drenagem da Lagoinha do Leste dispõe de um dinâmica peculiar, em razão desta singularidade, a drenagem é devidamente descrita na seção 5 deste trabalho. 3.2.4 Geomorfologia No relevo da Ilha de Santa Catarina, como destacam Herrmann e Rosa (1991), há dois tipos de modelados, o de dissecação e o de acumulação, cuja distinção é dada pela gênese e/ou energia do relevo, ou seja, sugere como as formas de relevo foram moldadas pelos processos nos materiais geológicos. Ambos são observados na área de estudo. Formado por processos pluviais e/ou fluviais, o modelado de dissecação são terrenos altos, onde predominam os processos de erosão sobre os de sedimentação (HERRMANN; ROSA, 1991; LUIZ, 2004a). Há subdivisões de acordo com o tipo de elevação, estas são: Colina, até 50 a 60m de altura, com encostas suaves e topos convexos; Morro, 100 a 200m de altura, topo angulosos e encostas íngremes; Montanha, acima de 200m, com encostas íngremes e topo anguloso (LUIZ, 2004a). Na Lagoinha do Leste, encontra-se o modelado de dissecação em montanhas. Estas elevações que formam a enseada pertencem as Serras do Leste Catarinense5 e variam entre 200m a 300m de altura. Modelados de dissecação em geral são 5 Segundo Luiz (2004), as Serras do Lestes Catarinense são esculpidas em rochas cristalinas, estendem-se do norte do estado até o sul, próximo ao município de Jaguaruna. 41 susceptíveis a fenômenos erosivos, como deslizamentos e queda de blocos e matacões (LUIZ, 2004), ambos observados na área estudada. O modelado de acumulação consiste em ambientes deposicionais, isto é, formas de relevo de terrenos mais baixos gerados pela deposição de sedimentos, conforme as características de sua origem podem ser subdivididos em compartimentos ou feições de relevo (HERRMANN; ROSA, 1991; LUIZ, 2004a). Na Ilha, a planície costeira é composta pelos compartimentos Praial, Eólico e Colúvio- aluvionar. Segundo Luiz (2004a), o compartimento praial abarca as praias atuais, os terraços marinhos, as planícies de restinga, de maré e as lacustres, ou seja, feições formadas a partir dos sedimentos depositados pelas correntes litorâneas e o regime de ondas, bem como regressões e transgressões marinhas. De acordo com a mesma autora, o compartimento eólico é composto por campos de dunas móveis e fixas, onde se observa cômoros e dunas longitudinais, transversais e parabólicas, além de bacias de deflação. Há grande dinâmica nestas formas, pois são criadas e remodeladas pela ação dos ventos no litoral. Por fim, o compartimento colúvio-aluvionar se configura em um ambiente de transição da planície costeira para as feições das serras do leste catarinense, assim formando-se rampas de depósitos de sedimentos de granulometria muito variada (LUIZ, 2004a). A Lagoinha do Leste possui representantes de cada um dos três grandes compartimentos, sendo identificados por Horn Filho & Livi (2013) e Tomazzolli e Pellerin (2014) em seus mapeamentos e descrições sobre os depósitos presentes na Ilha de Santa Catarina. 3.2.5 Solos Solo consiste no material terroso, composto de minerais, provenientes da alteração das rochas ou de depósitos de sedimentos de processos erosivos, e de matéria orgânica (EMBRAPA, 2006; LUIZ, 2004b). Sua organização é em camadas paralelas, conhecidas como horizontes, sendo o limite superior a atmosfera e o inferior a rocha sã ou depósitos de sedimentos (EMBRAPA, 2006; LUIZ, 2004b). Geralmente, distinguem-se três horizontes: A, camada escura, de minerais com mais matéria orgânica; B, material mineral alterado com pouca matéria orgânica, coloração entre o amarelo e o marrom; C, horizonte mais profundo, caracterizando a transição do solo bem alterado até a rocha sã, portanto se nota o aumento do tamanho 42 dos materiais, como fragmentos da rocha ou sedimentos de origem (LUIZ, 2004b). A nomenclatura dos solos usada neste trabalho tem como base o Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos, feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 2006. Sobre o embasamento cristalino da Lagoinha do Leste se localizam Argissolos, típico de relevo de dissecação. De modo geral, neste tipo de solo ocorre a migração de argila do A para o B, assim, o horizonte A torna-se mais arenoso e o B argiloso. Especificadamente nesta área, há associação de Argissolo vermelho-amarelo álico com Argissolo Vermelho6 (SOMMER; ROSATELLI, 1991). O primeiro é derivado de granitos e possui textura areno-argilosa; o segundo é resultado da alteração de diabásio, sua textura é argilosa e, geralmente, são mais férteis que o vermelho- amarelo (LUIZ, 2004b). Há uma exceção na encosta ao norte, onde situam-se depósitos eólicos do Pleistoceno, pois o predomínio de sedimentos arenosos levam o desenvolvimento de Neossolo quartzarênico, que consiste de areias quartzosas álicas (SOMMER; ROSATELLI, 1991). Segundo os mesmos autores, no sopé das encostas da enseada da Lagoinha do Leste encontra-se areias quartzosas álicas, na classificação da Embrapa, chama-se Neossolo quartzarênico hidromórfico. As dunas e a linha de praia são compostas de areias quartzosas, os depósitos arenosos citados na seção 4.2.4, não se tem formação de solos em virtude do ambiente dinâmico feito pela constante atividade do mar e vento (LUIZ, 2004b). 3.2.6 Vegetação Na área de estudo, encontra-se duas formações vegetais: a Floresta Ombrófila Densa e as Formações Pioneiras, ambas estão inseridas no bioma Mata Atlântica. O Manual Técnico da Vegetação Brasileira do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) é usado como base para fazer a descrição desta seção, pois caracteriza a vegetação do bioma de acordo com suas características fisionômico- ecológica, dentro de uma classificação internacional. Há dois grandes grupos da vegetação desse bioma, a Primária e a Secundária. A Primária consiste na vegetação intocada desde sua existência, ou seja, desde sua 6 A partir da nova classificação brasileira de solos, realizada pela Embrapa, os tipos de solo Podzólico passaram a se achar Argissolo. A nomenclatura Podzólico foi utilizada pelos autores Sommer e Rosatelli no Atlas de Florianópolis de 1991. 43 primeira colonização no solo. A Secundária é a vegetação regenerada, quando a vegetação primária é retirada por ações antrópicas7, a comunidade vegetal posterior é a secundária, que nunca será igual a primeira (IBGE, 2012). Para atingir o estágio nomeado secundário, ocorre a sucessão vegetal, num processo sequencial de espécies, que indicam o grau de desenvolvimento daquela comunidade vegetal. De acordo com o Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 2012), a sucessão ocorre nas seguintes etapas: 1) Pioneira: fase inicial sugere uma “regressão ecológica”, em face de ser colonizada por hemicriptófitos8 pioneiros de famílias bastante primitivas; 2) Capoeirinha: este estágio já apresenta hemicriptófitos graminóides, caméfitos9 rosulados e nanofanerófitos10 de baixo porte; 3) Capoeira rala: vegetação mais desenvolvida, também apresenta poucas caméfitas herbáceas e muitas plantas lenhosas de baixo porte; 4) Capoeira propriamente dita: vegetação complexa, dominada por microfanerófitos com até 5 m; 5) Capoeirão: esta fase, dominada por mesofanerófitos que ultrapassam 15 m de altura, é um estágio eminentemente lenhoso,
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