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Valorização da Geodiversidade da Lagoinha do Leste

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – FAED 
CURSO DE GEOGRAFIA 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
GEOMORFOSSÍTIOS: valorização da 
geodiversidade da Lagoinha do 
Leste, Florianópolis - SC 
 
YASMIM RIZZOLLI FONTANA DOS SANTOS 
FLORIANÓPOLIS, 2016 
YASMIM RIZZOLLI FONTANA DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
GEOMORFOSSÍTIOS: VALORIZAÇÃO DA GEODIVERSIDADE DA LAGOINHA 
DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Departamento de 
Geografia, do Centro de Ciências 
Humanas e da Educação - FAED, como 
requisito para a obtenção de título de 
Licenciada em Geografia. 
 
 
Orientador: Dr. Jairo Valdati 
 
 
 
 
 
 
FLORIANÓPOLIS - SC 
 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Antes mesmo da ideia deste trabalho estar definida, eu já pensava nas tantas 
pessoas que cruzaram o meu caminho e fizeram a experiência da universidade ser 
tão incrível quanto foi. Dei uma chance a Geografia em fevereiro de 2012 e, foi o 
suficiente para não querer mais sair. Em 2016, sou geógrafa, sou professora. 
Aqui finaliza um ciclo de vida para mim e todos aqueles que viveram a 
Geografia comigo. Nestas páginas não pouparei palavras para expressar a gratidão a 
todos aqueles que estiveram comigo nessa jornada. Assim, este trabalho de 
conclusão de curso não reflete apenas uma pesquisa, é o fruto de cinco de anos de 
dedicação que não foram só meus... 
Em primeiro lugar, agradeço aos meus queridos pais, que lidaram com exatos 
480km – da Rodovia Admar Gonzaga, 1747 até a Bororós, 188 – de saudades e 
preocupações durante estes 5 anos. Este trabalho também é de vocês, Maria e 
Adroaldo, acredito que nunca haverá palavras suficientes para agradecê-los, sem seu 
apoio, isto não teria sequer começado. Como sempre falo, vocês me deram asas para 
voar longe, porém são asas muito bem treinadas para saber o caminho de volta para 
casa. 
William, meu irmão, agradeço ao apoio desde o pré-vestibular até a conclusão 
do curso e, obviamente, por todo suporte técnico nestes anos todos. Agora estou 
esperando a tua formatura! 
Ao corpo docente do Departamento de Geografia, certamente todos 
contribuíram para minha formação acadêmica e cidadã. Agradeço, em especial, ao 
meu orientador, Jairo Valdati, agora também um grande amigo, pela confiança tanto 
no projeto de pesquisa de cartografia geomorfológica quanto para realização deste 
trabalho, pela disponibilidade e incentivo sempre quando precisei. Não esquecendo 
dos cafezinhos da cantina, que não foram poucos! 
Aos amigos do Laboratório de Geologia e Mineralogia, que me acolheram neste 
ano, entre eles o Weslley Soares e a Professora Edna Luiz – a pessoa que sabe todos 
os elementos terras raras da tabela periódica de cor – que sempre esteve disposta a 
ajudar, além de ter aceito ser membra da banca. Ao Professor Francisco de Oliveira 
agradeço pelo apoio na pesquisa e por também ter aceito ser membro da banca. 
Sou grata aos amigos da turma de 2012, que tornavam as saídas de campo 
ainda melhores: Camila Camargo, Filipe Aderbal, Giovani Silveira, Lucas Gonzaga e 
Thales Gattiboni. Francine Sagas, agradeço pela amizade desde o primeiro dia de 
aula e pelo grande presente que me deu, o Bernardo. Angel Albano, agradeço pela 
Geografia Urbana te conquistar, assim minha amiga irmã ficou na Geografia, estando 
até o fim junto comigo. Obrigada pelo companheirismo de todas as horas. 
Ao PET Geografia agradeço pelas oportunidades que me proporcionou nos três 
anos que fui bolsista; as viagens, os projetos de extensão e as discussões das longas 
reuniões foram muito importantes para compreensão do papel da universidade. À 
tutora Vera Dias pelo incentivo a pesquisa e formação política, também aos amigos 
PETianos do período 2012 a 2015. 
Aquiles Schluter, Ayrian Thédiga, Marina Bernardes, Matheus Pereira, Gabriel 
Miranda, Guilherme Régis e Yuri Perotto, os “Geousados”, que proporcionaram as 
histórias mais insanas da universidade, com participação da Ana Paula de Oliveira, 
Bruna Cesário, Maria Ely Goulart e Raphael Kbabben, grandes amizades descobertas 
no fim do curso, obrigada! Agradecimento especial a querida Marina, desde 2015 a 
dupla “Risólis e Pinhão” foi sinônimo de parceria nos trabalhos, no estágio, nas séries 
e nos cafés, muitos cafés. 
Diferentemente da maioria dos universitários vindos de outras cidades, cheguei 
em Florianópolis com uma colega de apartamento, dividi as novas experiências da 
universidade, das engraçadas e as desgastantes. Somos amigas há 10 anos – contei 
várias vezes até cair a ficha disso – moramos juntas há 5 anos. Thaís Putti, agradeço 
imensamente pelo companheirismo incomparável destes últimos anos. Obrigada por 
estar sempre no quarto ao lado e por querer continuar a estar, no dia que os nossos 
“frios na barriga” nos separar, te guardarei como uma irmã de coração. 
Iara Steiner Perin, não contentes somente com o papel de amiga, somos quase 
orientadoras dos trabalhos acadêmicos, companhia de caminhada no domingo, de 
viagens e de café, participantes ativas do TCC e da dissertação e, o mais importante, 
o despertador uma da outra. São três anos de amizade – escrevendo tudo isso parece 
uma amizade da vida inteira! – obrigada por preencher estes anos de histórias e 
geografias para contar. 
Priscila Indalêncio, obrigada pela ajuda na correção do texto e apoio desde o 
período do vestibular, também por sempre lembrar que “tudo tem seu tempo”. O 
“Lumus” acendeu a amizade única que construímos até hoje! Mesmo você não 
gostando de Geografia, não posso deixar de agradecer por escutar e sempre querer 
– ou pelo menos tentar – entender os meus devaneios geográficos. 
Grupo Teatral Desvio do Septo, tenho 436 porquês a amizade de vocês é 
incomparável com qualquer outro grupo de amigos que exista. Agradeço por atuarem 
tão bem na minha vida. 
À Sonia Rampazzo agradeço pela companhia e as caronas para a realização 
das saídas de campo. Ao Felipe Guntin, com quem aprendi sobre a Lagoinha do Leste, 
agradeço pela parceria na pesquisa. 
À CAPES pela oportunidade de intercâmbio em 2014/1 na Brigham Young 
University, Utah – EUA, além de experiência acadêmica e de vida, me deu a amizade 
das extraordinárias Juliane Ramalho e Iara Perin. Ao CNPq pela bolsa de fomento à 
pesquisa, que neste ano de 2016 foi muito importante para a realização deste trabalho 
e, por fim, à UDESC, minha segunda casa desde 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Viajar a bordo de uma nave espacial em redor da Terra, 
numa órbita não muito elevada, deve ser uma experiência 
extraordinária. O planeta que habitamos é tudo menos 
monótono. No decorrer de uma volta completa em torno 
da Terra, quantas paisagens diferentes poderíamos ver da 
pequena janela da nossa nave espacial? Os milhares de 
fotografias que os astronautas nos enviam das suas 
missões espaciais reflectem bem a geodiversidade 
terrestre. 
José Brilha. 
 
 
 
RESUMO 
 
Geomorfossítios compõem áreas singulares, cujos aspectos geomorfológicos são 
exemplares a serem conservados. Considerando-se a geodiversidade, estes sítios se 
tornam ícones por sua representatividade de processos geomórficos e feição do 
relevo, ou por valor paleogeográfico. O presente trabalho objetiva identificar e mapear 
a diversidade geomorfológica da Lagoinha do Leste, localizada em Florianópolis – SC. 
A área de estudo está inserida numa Unidade de Conservação municipal, deste modo, 
este estudo pode contribuir para a realização do plano de manejo, valorizando não 
somente os aspectos ligados a fauna e a flora, mas também as particularidades da 
dinâmica do meio físico. O desenvolvimento da pesquisa ocorreu em cinco etapas: a 
construção do referencial teórico, fundamentado nos conceitos de patrimônio 
geológico-geomorfológico, geodiversidade, geomorfossítios e geoconservação; 
reconhecimento da Lagoinha do Leste com levantamentode dados existentes sobre 
o local; realização de trabalhos de campo, percorrendo as trilhas de acesso; inventário 
dos aspectos geomorfológicos; análise dos resultados e sua representação em 
mapas. A cartografia geomorfológica de detalhe foi uma ferramenta fundamental para 
a expressão dos resultados, pois a escala de detalhe possibilitou a representação das 
formas e processos identificados na área. Os mapas da pesquisa estão em escala 
1:9000 e 1:10000 e foram elaborados com base nas ortofotos e no Modelo Digital de 
Terreno da Ilha de Santa Catarina e aprimorados a partir das observações dos 
trabalhos de campo. A geodiversidade local, bem como os geomorfossítios, estão 
refletidos em três mapas de escala de detalhe: o sistema de drenagem, a carta 
geomorfológica de detalhe e o mapa dos geomorfossítios. Constatou-se na área 
pesquisada uma dinâmica diferenciada, tendo em vista a quantidade de ambientes 
que engloba e, por esta razão, propõe-se a demarcação de geomorfossítios pontuais, 
areais e de paisagem, a partir de critérios científicos. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Geomorfossítios. Lagoinha do Leste. Geodiversidade. 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Esquema 1 – Relação conceitual de relevo e paisagem geomorfológica ................. 17 
Esquema 2 – Vulnerabilidade dos geomorfossítios .................................................. 20 
 
Quadro 1 – Contextos de avaliação .......................................................................... 21 
Quadro 2 – Princípios orientadores para mapeamento de geomorfossítios ............. 26 
Quadro 3 – Características do método da Universidade de Lausanne ..................... 49 
Quadro 4 – Critérios científicos ................................................................................. 49 
 
Tabela 1 – Geossítios no Brasil em 2015 ................................................................. 24 
Tabela 2 – Dados das condições climáticas de Florianópolis em abril de 2016 ....... 61 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Delimitação do Parque Municipal da Lagoinha do Leste ......................... 31 
Figura 2 – Mapa de localização ................................................................................ 32 
Figura 3 – Climograma de Florianópolis ................................................................... 36 
Figura 4 – Mapa geológico da Lagoinha do Leste .................................................... 37 
Figura 5 – Padrão de canal de drenagem ................................................................. 39 
Figura 6 – Padrão de drenagem ............................................................................... 39 
Figura 7 – Curvas de nível da área de estudo .......................................................... 52 
Figura 8 – Hillshade da Lagoinha do Leste ............................................................... 53 
Figura 9 – Exemplos de simbologia da carta geomorfológica ................................... 55 
Figura 10 – Geoevolução da área da Lagoinha do Leste ......................................... 62 
 
 
 
file:///C:/Users/Yasmim/Documents/TCC/TCC%20.docx%23_Toc468459713
file:///C:/Users/Yasmim/Documents/TCC/TCC%20.docx%23_Toc468459714
LISTA DE FOTOGRAFIAS 
 
Fotografia 1 – Trilha do Matadeiro ............................................................................ 33 
Fotografia 2 – Trilha do Pântano do Sul ................................................................... 33 
Fotografia 3 - Vista panorâmica da Lagoinha do Leste ............................................ 34 
Fotografia 4 – Vegetação de dunas fixas.................................................................. 44 
Fotografia 5 – Restinga e formação Submontana .................................................... 45 
Fotografia 6 – Canal criptorreico norte em abril de 2016 .......................................... 57 
Fotografia 7 – Canal criptorreico norte em outubro de 2016 ..................................... 57 
Fotografia 8 – Canal lagunar de maré ...................................................................... 59 
Fotografia 9 – Vista panorâmica da laguna fechada ................................................. 59 
Fotografia 10 – Nascente próxima a trilha na encosta norte ..................................... 60 
Fotografia 11 – Desnível do canal lagunar de maré ................................................. 63 
Fotografia 12 – Deposição próxima ao canal criptorreico norte ................................ 64 
Fotografia 13 – Laguna com o nível de água baixo .................................................. 65 
Fotografia 14 – Campo de blocos sul ....................................................................... 66 
Fotografia 15 – Tafone.............................................................................................. 67 
Fotografia 16 – "Favos de mel" ................................................................................. 68 
Fotografia 17 – Erosão alveolar ................................................................................ 68 
Fotografia 18 – Erosão diferencial e alvéolos ........................................................... 69 
Fotografia 19 – Ponto geopanorâmico 1 ................................................................... 70 
Fotografia 20 – Ponto geopanorâmico 2 ................................................................... 71 
 
 
LISTAS DE ABREVIATUDAS 
 
AIA Avaliação de Impacto Ambiental 
APP Área de Preservação Permanente 
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
CPRM Serviço Geológico do Brasil 
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
Esri Environmental Systems Research Institute 
Floram Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis 
GPS Global Positioning System 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
Inpe Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 
Iphan Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
MDE Modelo Digital de Elevação 
MDT Modelo Digital de Terreno 
SGN Servizio Geologico Nazionale – Serviço Geológico Nacional da Itália 
SIG Sistema de Informações Geográficas 
Snuc Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
Sigep Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos 
PMLL Parque Municipal da Lagoinha do Leste 
UC Unidade de Conservação 
Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 12 
2 GEOPATRIMÔNIO: SÍTIOS REPRESENTANTES DA GEODIVERSIDADE 15 
2.1 GEODIVERSIDADE ....................................................................................... 15 
2.2 GEOMORFOSSÍTIOS .................................................................................... 18 
2.2.1 Avaliação dos Geomorfossítios .................................................................. 20 
2.2.2 Geopatrimônio do Brasil ............................................................................. 23 
2.3 TÉCNICAS PARA REPRESENTAÇÃO DOS GEOMORFOSSÍTIOS: 
CARTOGRAFIA GEOMORFOLÓGICA DE DETALHE .................................. 25 
3 A ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 30 
3.1 LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC .......................................... 30 
3.2 ASPECTOS FÍSICOS DA ÁREA DE ESTUDO .............................................. 35 
3.2.1 Clima ............................................................................................................. 35 
3.2.2 Geologia ........................................................................................................ 36 
3.2.3 Rede hidrográfica ......................................................................................... 39 
3.2.4 Geomorfologia ..............................................................................................40 
3.2.5 Solos ............................................................................................................. 41 
3.2.6 Vegetação ..................................................................................................... 42 
4 METODOLOGIA ............................................................................................ 47 
4.1 INVENTARIAÇÃO .......................................................................................... 48 
4.2 AVALIAÇÃO ................................................................................................... 49 
4.3 ELABORAÇÃO DE PRODUTOS CARTOGRÁFICOS ................................... 50 
4.3.1 Materiais e Procedimentos .......................................................................... 50 
4.3.2 Aplicação das técnicas da Cartografia Geomorfológica de Detalhe ....... 53 
5 RESULTADOS............................................................................................... 53 
5.1 INVENTÁRIO ................................................................................................. 56 
5.1.1 Sistema de Drenagem .................................................................................. 56 
5.1.2 Diversidade geomorfológica ....................................................................... 62 
5.2 GEOMORFOSSÍTIOS .................................................................................... 69 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 73 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 75 
APÊNCIDE A – MAPA DO SISTEMA DE DRENAGEM DA LAGOINHA DO 
LESTE ............................................................................................................ 80 
APÊNDICE B – CARTA GEOMORFOLÓGICA DE DETALHE DA LAGOINHA 
DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC ............................................................. 81 
APÊNDICE C – MAPA DOS GEOMORFOSSÍTIOS DA LAGOINHA DO 
LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC ................................................................... 82 
12 
1 INTRODUÇÃO 
Como um livro, a geologia e a geomorfologia contam a história da Terra. Dessa 
forma, o patrimônio natural corresponde ao acervo de exemplares únicos que não 
podem sair da biblioteca. A compreensão da evolução da paisagem geomorfológica, 
por meio de elementos remanescentes e na observação de processos e do presente 
relevo, além de possibilitar a prospectiva de futuro, justifica a Geomorfologia enquanto 
ciência, sua significância para a sociedade, e, ainda, as motivações deste trabalho de 
conclusão de curso, em pesquisar a geodiversidade para conservação. 
A ciência geomorfológica nasce na interface das disciplinas de Geologia e 
Geografia, preocupando-se com o presente e o passado, refletidos na paisagem 
geomorfológica. Para tratar de Geografia e Geomorfologia, há conceitos básicos a 
serem explanados, que são de suma importância para contemplar os objetivos deste 
trabalho. Primeiramente, a paisagem, esta que perpassa pelas artes e pela ciência, é 
discutida na Geografia desde seus primórdios, com Humboldt em sua perspectiva 
naturalista de que “as montanhas são vistas como livros” e com Vidal de La Blache 
num viés humanista, onde os processos humanos e naturais são inscritos na 
paisagem (REYNARD, 2009a). 
Tendo em vista estudos contemporâneos, cujo conceito de paisagem é dotado 
de aspectos subjetivos e objetivos, para adentrar na discussão assume-se paisagem 
como sendo a combinação de elementos abióticos, bióticos e humanos, 
representando a relação complexa entre o ambiente e a sociedade (REYNARD, 
2009a). Os fatores abióticos são, como a própria raiz da palavra se refere, os 
componentes sem vida, isto é, o meio físico do ecossistema, em especial a geologia 
e o relevo, entre outros aspectos físicos, químicos e físico-químicos (temperatura, 
umidade...); enquanto os bióticos consistem nas interações entre os seres vivos. As 
características humanas são atribuídas pelas transformações no espaço. 
Sobre a superfície terrestre encontra-se um leque de variedades de espécies, 
materiais e composições paisagísticas, frutos de um longo processo histórico, sendo 
que cada um desses componentes se transformou em seu próprio tempo. Por 
exemplo, os fatores bióticos e abióticos foram se diversificando, respectivamente, em 
virtude da seleção natural e de eventos geológicos e agentes erosivos. Deste modo, 
os termos biodiversidade e geodiversidade surgiram para referenciar tal fato, servindo 
também, de motivação para estudos e políticas de preservação. Em particular, a 
13 
geodiversidade é uma discussão recente na comunidade científica, que será 
detalhada na seção 2 do presente estudo. 
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(Unesco) é uma das maiores organizações que fomentam a preservação do 
patrimônio natural. A determinação de princípios de identificação e ações de 
conservação começou a partir da Conferência Geral da Unesco para a Proteção do 
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, em 1972 (CLAUDINO-SALES, 2010). A 
unidade territorial de patrimônio denomina-se sítio, havendo dois grandes grupos: os 
Culturais e os Naturais. Este último, em relação ao meio abiótico, consiste nos sítios 
geológicos ou geossítios. 
A organização nacional responsável pelos sítios do patrimônio geológico 
brasileiro é a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep), a 
qual identifica áreas em potencial e/ou recebe propostas. A partir disso, a Comissão 
realiza a avaliação e catalogação (CLAUDINO-SALES, 2010), bem como a seleção 
de geossítios de importância mundiais para reconhecimento na Lista de Patrimônio 
Mundial da Unesco. 
Há diversas categorias de geossítios, cada uma delas possuindo uma 
característica do meio físico em que se atribui o valor a ser preservado. Os 
geomorfossítios são áreas cujo valor da geomorfologia é relevante em virtude da 
feição ou processo que a originou, portanto trata-se de sítios de patrimônio 
geomorfológico. Embora existam geomorfossítios no Brasil, e no mundo todo, a 
referência destes estudos é de universidades europeias, das quais surgiram, até o 
momento, a maioria das metodologias de avaliação e seleção dos sítios 
geomorfológicos. Assim, a partir das formulações de autores suíços e italianos, em 
especial, que o referencial teórico é construído e os potenciais geomorfossítios são 
avaliados, visando à identificação e valorização do patrimônio natural brasileiro. 
É com base no conceito de geomorfossítios que este trabalho se desenvolve, 
tendo como área de estudo a Lagoinha do Leste, em Florianópolis – SC. O local citado 
é uma Unidade de Conservação municipal, localizada no sul da Ilha de Santa Catarina, 
que abrange a praia de mesmo nome, uma laguna, fauna e flora típica do litoral 
subtropical brasileiro, além de, como apresentará este estudo, a diversidade 
geomorfológica. Haja vista as menções feitas até aqui, definem-se os objetivos do 
presente trabalho de conclusão de curso: 
 
14 
• Objetivo geral: analisar a diversidade geomorfológica da Lagoinha do Leste, 
Florianópolis – SC, para valorização dos geomorfossítios. 
• Objetivos específicos: 
1) Identificar a diversidade de formas e processos geomorfológicos existentes na 
área da Lagoinha do Leste; 
2) Mapear as formas e processos presentes; 
3) Mapear os geomorfossítios (pontual, areal e de paisagem). 
 
A pesquisa está dividida em seis seções: 1) Introdução, seção esta que engloba 
os objetivos e os tópicos gerais do trabalho de conclusão de curso; 2) “Geopatrimônio: 
sítios representantes da geodiversidade”, a seção consiste no referencial teórico da 
pesquisa; 3) Área de estudo, onde é descrito aspectos legais e humanos que 
envolvem a Lagoinha do Leste, além da descrição do meio físico; 4) Metodologia, na 
qual apresentam-seos procedimentos realizados para contemplar os objetivos; 5) 
Resultados, nesta seção se caracterizam as particularidades e propõem-se os 
geomorfossítios na área de estudo, bem como são apresentados os mapas temáticos 
elaborados; 6) Considerações finais, onde autora tece um parecer final, avaliando o 
desenvolvimento da pesquisa e os objetivos atingidos. 
Como nota-se pelos objetivos, o mapeamento geomorfológico da Lagoinha do 
Leste é fundamental para a análise e proposição de geomorfossítios. Assim, para 
elaboração dos mapas aplica-se a cartografia geomorfológica de detalhe, segundo as 
técnicas italianas. Foram gerados três produtos cartográficos, que estão expostos nos 
Apêndices A, B e C, sendo eles, respectivamente: o mapa do sistema de drenagem 
da Lagoinha do Leste, a carta geomorfológica de detalhe e o mapa dos 
geomorfossítios. 
Destaca-se que o mapeamento realizado para este trabalho, que por sua vez é 
especificado na seção 4, está vinculado ao projeto de pesquisa “Cartografia 
geomorfológica de detalhe à valorização de recursos geomorfológicos em Unidades 
de Conservação”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico 
e Tecnológico (CNPq). No Apêndice B, a carta geomorfológica de detalhe é a 
continuação da primeira versão feita por Felipe Guntin Rodriguez, na pesquisa 
intitulada “Cartografia geomorfológica de detalhe da bacia hidrográfica da Lagoinha 
do Leste”, realizada em 2015. 
15 
2 GEOPATRIMÔNIO: SÍTIOS REPRESENTANTES DA GEODIVERSIDADE 
2.1 GEODIVERSIDADE 
 
Se patrimônio natural consiste numa herança comum transmitida de uma 
geração para outra, logo o Patrimônio Geológico e Geomorfológico, ou 
Geopatrimônio, é uma herança comum de fatores abióticos que devem ser 
transmitidos às futuras gerações. Para assim se cumprirem os processos de 
passagem, deve-se identificar, delimitar geograficamente, bem como proteger, ou 
seja, geoconservar. 
Primeiramente, se entende como geopatrimônio os elementos 
geomorfológicos, paleontológicos, mineralógicos, petrológicos e hidrogeológicos 
(BRILHA, 2005). Observando esta diversidade de elementos abióticos terrestres, nas 
últimas décadas ganhou proporção o termo Geodiversidade, que se tornou um dos 
principais fatores de seleção de sítios de valores excepcionais. O novo termo tem sido 
pauta na comunidade científica internacional desde o final do século XX, com ampla 
discussão sobre sua definição e avaliação e, no meio acadêmico, quanto a sua 
validade científica. 
Sharples (2002) e Gray (2004) são importantes referências mundiais sobre 
geodiversidade, dedicando-se às diversas questões em torno da temática. Contudo, 
apesar do termo geodiversidade ser amplamente discutido e usado, não há um 
conceito de geodiversidade oficializado pela comunidade científica internacional. Por 
meio das leituras para construção desta seção, notou-se que cada autor cria seu 
próprio conceito ou reformula um preexistente. Tendo em vista que a presente 
pesquisa não almeja definir um conceito ou aprofundar os pontos da discussão sobre 
sua validade científica, a seguir serão apresentadas algumas definições de órgãos 
oficias e de autores analisados na fundamentação teórica deste trabalho, assim 
proporcionando uma visão geral do que o termo abrange. 
Segundo Gray (2004), o primeiro estudo da relação entre geologia e 
geomorfologia com a diversidade foi realizado na Austrália, na década de 1980, com 
o uso de “diversidade das feições do relevo” e “diversidade geomórfica”. O mesmo 
autor apresenta um compilado das discussões sobre o tema em âmbito mundial, e 
afirma, assim como Panizza e Piacente (2009), que existem muitas definições de 
geodiversidade, que, em sua maioria, é associada com o termo biodiversidade, 
16 
considerando ambos conceitos complementares, sendo que a geodiversidade 
contribui para a biodiversidade. 
O conceito adotado por Gray (2004) é uma modificação do conceito usado por 
Sharples (2002), o qual é: 
Geodiversidade: a variedade natural (diversidade) de características 
geológicas (rochas, minerais, fósseis), geomorfológicas (feições do relevo, 
processos) e solos. Isso inclui seu conjunto, relação, propriedades, 
interpretações e sistemas (GRAY, 2004, p. 8, tradução nossa). 
 
A Associação Internacional de Geomorfólogos aceitou a definição de Panizza 
& Piacente divulgada em 2003, a qual afirma que geodiversidade é “a variedade de 
ambientes geológicos e geomorfológicos considerados como a base para a 
diversidade biológica da Terra” (PANIZZA; PIACENTE, 2009, p. 40, tradução nossa). 
O Serviço Geológico do Brasil (CPRM), tem como conceito 
 
Geodiversidade é a natureza abiótica (meio físico) constituída por uma 
variedade de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem 
às paisagens, rochas, minerais, águas, solos, fósseis e outros depósitos 
superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na terra, tendo como 
valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o educativo 
e o turístico. (CPRM, [201-?]) 
 
O eixo central da geodiversidade, observado nas perspectivas citadas, é a 
variedade no que se refere aos ambientes geológicos (abiótico), associando-os à 
variedade da vida na Terra (biótico). Aqui retorna a concepção de paisagem, que é 
composta de fatores bióticos, abióticos e humanos. Todavia, na questão de expressão 
cênica da paisagem, são atribuídos valores de importância para cada um, assim, 
individualmente a paisagem abiótica perde seu valor. Somente a partir do final do 
século XX, especialmente com a geodiversidade, criou-se o vínculo de beleza aos 
conceitos geológicos (MANTESSO-NETO, [201-?]). Tratando especificadamente da 
Geomorfologia, define-se que as feições da superfície por si só compõem uma 
paisagem geomorfológica, dependendo dos valores atribuídos pelo observador 
(Esquema 1). 
17 
Esquema 1 – Relação conceitual de relevo e paisagem geomorfológica 
 
Fonte: REYNARD, 2009a, p. 27, tradução nossa. 
 
Segundo Reynard (2009a), o relevo é as diversas formas da superfície terrestre 
moldadas por processos geomorfológicos. Estes processos são ativados por três 
fatores: antrópicos, endógenos e exógenos. A paisagem geomorfológica é 
“considerada como parte do relevo da Terra vista, compreendida e, às vezes, usada 
pelo Homem” (REYNARD, 2009a, p. 28). Assim, a paisagem geomorfológica carrega 
valores estéticos, culturais/históricos e científicos, havendo casos de suma 
importância em sua valorização e proteção, visando garantir a transmissão para as 
gerações futuras, ou seja, passa a configurar um patrimônio natural ou geopatrimônio. 
Portanto, a geodiversidade é o potencial de uma paisagem geomorfológica concretizar 
um patrimônio geológico/geomorfológico. Logo, se algo possui algum valor justifica-
se sua proteção e conservação (BRILHA, 2005). 
A efetivação da geodiversidade em geopatrimônio ocorre com a 
geoconservação, e esta, conforme Sharples (2002), tem objetivos de preservar a 
diversidade natural abiótica, bem como manter a evolução natural, as magnitudes de 
mudança dessas características e processos, isto é, conservar as formas e/ou os 
18 
processos que as originam. A geoconservação visa a valorização e proteção da 
geodiversidade por si só, indo além de sua relação com a biodiversidade. Para Brilha 
(2005), a geoconservação estabelece estratégias de gestão para efetivamente 
preservar os valores atribuídos à geodiversidade, como científico, cultural, turístico, 
entre outros, o real significado para se considerar patrimônio. 
Por fim, destaca-se a definição sucinta de cada termo feito por Gray (2004) com 
base na obra de Sharples (2002) 
 
• geodiversidade é a qualidade do que estamos tentando conservar, 
• geoconservação é o esforço de tentar conservar isso, e 
• geopatrimônio abrange exemplos concretos do que pode ser 
especificadamente identificado como de importância de conservação. 
(SHARPLES, 2002, apud GRAY, 2004,p. 7, tradução nossa) 
 
A delimitação espacial da geodiversidade é denominada sítios, neste caso, 
geossítios. Portanto, a geodiversidade é um critério da demarcação de geossítios, 
contudo, como não se pode preservar toda a geodiversidade da Terra, ainda há 
necessidade de definição dos valores da diversidade, assim como métodos de 
avaliação. Além disso, destaca-se a necessidade de descrever e publicar a 
importância do geopatrimônio. No Brasil, a catalogação dos sítios naturais é realizada 
pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep) e, em âmbito 
mundial, são listados pela Unesco. 
 
2.2 GEOMORFOSSÍTIOS 
 
Tendo em vista a geodiversidade terrestre, propõe-se a criação de geossítios 
para valorizar os aspectos geológicos e geomorfológicos de um determinado local. 
Assim, segundo Reynard (2009b, p. 10, tradução nossa), “Geosites podem ser 
considerados como porções da geosfera que representam uma importância particular 
para a compreensão da história da Terra.”. Tal conceito está em sintonia com a Sigep, 
“geossítio como um sítio geológico de interesse singular pela importância científica, 
didática, turística, pela beleza ou outro aspecto que justifique recomendar a sua 
proteção (geoconservação).” (WINGE, 2013, p. 11). 
Para Reynard (2009b), há duas abordagens (sem nomenclatura) dos 
geossítios, a primeira mais restritiva e a segunda mais abrangente. A primeira 
considera os geosites apenas por sua qualidade científica, como raridade e exemplo 
19 
de algum processo geológico ou história da vida, basicamente como compreensão e 
afirmação das ciências da Terra; a segunda consiste nos geossítios como objetos 
geológicos que possuem certo valor para a percepção ou exploração humana. Nesta 
perspectiva abrangente, atribuem-se valores em dois níveis, o central (científico) e os 
valores adicionais, como estético, cultural, econômico e ecológico (REYNARD, 
2009b). 
Geomorfossítio (geomorphosite, em inglês), é um tipo de geossítio. Este termo 
foi proposto por Mario Panizza em 2001, cuja definição é “geomorfossítio é uma feição 
do relevo para qual um valor pode ser atribuído” (REYNARD, 2009b, p. 14). 
De acordo com Reynard (2009b), além dos valores dos geosites (científicos, 
em especial), há três aspectos específicos para os geomorfossítios: 
1) Dimensão estética: a composição da paisagem geomorfológica em que é 
atribuído um alto valor estético. Geralmente esta é a característica central, 
todavia forçoso ressaltar que nunca deve ser o único aspecto a ser 
considerado, de forma que a expressão física precisa estar aliada à importância 
científica, assim como pode existir geomorfosítio sem valor estético; 
2) Dimensão dinâmica: a observação dos processos dinâmicos naturais atuantes 
no relevo e/ou registro de processos passados. Quanto à atividade dos 
processos, Reynard (2009b) separa em Ativos, os processos 
geológicos/geomorfológicos estão ocorrendo, portanto é possível e importante 
observá-los na superfície, e Passivos (ou fóssil), nos quais o geosítio é a 
testemunha dos processos e/ou condições naturais não mais existentes. Em 
relação a esta dinâmica, em ambos os casos a interferência antrópica pode 
causar danos irreparáveis, ou pelo menos, irreversíveis na escala humana. A 
reconstrução artificial é uma alternativa, no entanto são difíceis de reativar. 
(REYNARD, 2009b). 
3) Escalas: tanto geosites quanto geomorphosites não possuem um tamanho 
padrão a ser seguido, nem um máximo ou mínimo, podendo abranger formas 
isoladas ou grandes feições na paisagem, contudo, é importante que seus 
limites sejam bem delineados. Grandgirard (1997) apud Reynard (2009b) 
apresenta quatro categorias de escala: forma isolada, grupo de feições, 
complexo de feições da terra e sistema geomorfológico. O sistema consiste na 
combinação de diversos processos e feições; grupo e complexo se diferenciam 
pela quantidade de diferentes feições que abrigam. Já Reynard (2009b) propõe 
20 
apenas duas escalas, a do objeto e a da paisagem. A primeira é pontual, 
contendo-se em uma feição incomum da superfície, que por muitas vezes é 
resultado da erosão diferencial ou contraste com o contexto do ambiente (este 
tipo de geomorfossítios é chamado, e protegido, como monumento natural); a 
segunda é em macroescala, tendo como critério principal a sua estética, ou 
seja, a composição cênica da paisagem. 
O fator contrastante dos geomorfossítios, em relação aos outros geossítios, é 
sua característica dinâmica, pois se observam os processos geomorfológicos atuando 
na evolução da forma. Todavia, sua particularidade é também sua vulnerabilidade e 
um desafio de gestão, tendo em vista que os processos ativos levam à autodestruição 
da feição do relevo e até de outros processos (REYANRD, 2009b). Existe, ou se cria, 
uma infraestrutura para reduzir a intensidade da dinâmica, o que poderia agregar valor 
ao sítio, porém é contrário aos princípios da geoconservação. 
Além da ameaça natural aos geomorphosites, há também a antrópica, através 
de inúmeros impactos. Reynard (2009b) simplifica ambos tipos de destruição 
conforme o Esquema 2. 
 
Esquema 2 – Vulnerabilidade dos geomorfossítios 
 
Fonte: adaptado de REYNARD, 2009b, p. 18, tradução nossa. 
 
2.2.1 Avaliação dos Geomorfossítios 
Como são sítios geomorfológicos apenas as feições do relevo que se atribui 
um valor, nem todas as feições podem ser um geomorfossítio. Portanto, deve-se ter 
um método de avaliação de potencial, para assim selecionar as áreas representativas 
de determinado valor. No entanto, tratando-se de paisagem e geomorphosites, há 
21 
sempre aspectos subjetivos envolvidos, pois, os mesmos passam pelo “filtro do 
observador”. Contando que não se pode quantificar o valor de cada variável ambiental, 
graus de subjetividade são inevitáveis (REYNARD, 2009c). 
Grandgirard (1999) apud Reynard (2009c) define três questões, “O quê?” “Por 
quê?” e “Como?”, para nortear a escolha do objeto e o tipo de avaliação. De acordo 
com estes autores, o objetivo de cada pergunta é: 
1) O quê? Definir o objeto da avaliação, ou seja, todos os geosites de uma 
área ou apenas um “geo-objeto”. Se for este último, indicar quais 
características, como mineralógica, paleontológica ou geomorfosítio. 
Basicamente, deve-se determinar qual o objeto e escala. 
2) Por quê? Partindo da primeira pergunta, define-se o objetivo da 
avaliação. O autor considera que os objetivos são abordados através de 
três contextos de avaliação, Inventário, Avaliação de Impacto Ambiental 
(AIA) e Popularização, conforme o quadro a seguir: 
 
Quadro 1 – Contextos de avaliação 
 
Fonte: REYNARD, 2009c, p. 64, tradução nossa. 
 
3) Como? É escolha da metodologia para atingir os objetivos. Há duas 
abordagens para responder esta pergunta/fazer a escolha: avaliação de expert 
ou processos sistemáticos. O primeiro consiste na seleção e delimitação do 
geomorfosítio baseada apenas em um técnico na determinada ciência, ou seja, 
a experiência do mesmo será o critério. A segunda requer um procedimento, o 
qual possui variados critérios para avaliar de maneira objetiva a área ou objeto. 
Reynard (2009c) elenca cinco metodologias para avaliação de potenciais 
22 
geomorfossítios, cada uma possui seu tipo de contexto para ser usada: 
• Universidade de Lausanne – Suíça: desenvolvida pelo próprio Reynard 
para fazer inventários, há dois grupos de critérios, os científicos e os 
valores adicionais (educacional, ameaças, medidas de gestão); 
• Universidade de Cantabria – Espanha: são avaliados três grupos de 
características, os valores científicos; potencial para uso (utilidade 
social); ameaças potenciais e necessidade de proteção. Aplicados para 
realização de inventário ou AIA; 
• Universidade de Valladolid – Espanha: apenas para fazer inventário, 
este método tem três categorias de avaliação, o valor científico; os 
valores adicionais; e valor de gestão;• Universidade de Modena e Reggio Emilia – Itália: aplicada como 
inventário ou AIA da área de estudo, o critério usado é apenas a 
qualidade científica, que abrange os valores de raridade, educacional, 
integridade, exposição, área, pesquisa científica e outros valores 
adicionais; 
• Universidade de Minho – Portugal: aplicada para realizar inventários, 
são usados dois grupos de critérios, o valor geomorfológico (científico e 
valores adicionais, estes não mencionados) e a gestão (valor de uso e 
proteção). 
O inventário, dentro dos métodos citados é o contexto mais utilizado, também 
destacado por Sharples (2002), Brilha (2005) e Lima (2008). A inventariação é a 
descrição detalhada dos componentes daquele sítio, assim mostrando os 
componentes representativos da geodiversidade. Realizado de maneira sistemática, 
baseado no conhecimento científico, o inventário é o primeiro passo para a 
geoconservação (LIMA, 2008). 
Cada pesquisador ou linha de pesquisa adota seus critérios para cada contexto 
de avaliação, usando etapas quantitativas e/ou qualitativas, ambos com o intuito de 
haver menor subjetividade. Entre os critérios, o mais frequente é o caráter científico, 
que consiste na descrição das feições de relevo e sua gênese, aliados a fatores de 
raridade, representatividade e integridade. Para os geomorphosites, Reynard (2009b) 
salienta a inclusão da perspectiva de potencial para uso (turístico, educacional...), bem 
como a boa representação dos resultados, especificadamente em mapas de detalhe. 
23 
2.2.2 Geopatrimônio do Brasil 
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(Unesco) é uma das maiores organizações que fomenta a preservação do patrimônio 
natural. Ações para conservação começaram a partir da Conferência Geral da Unesco 
para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, em 1972. Em 1989, cento 
e onze países, dentre eles o Brasil, aderiram à proposta da conferência, a qual 
consiste em salvaguardar o patrimônio cultural e natural para a toda humanidade. De 
acordo com o documento escrito do evento, cada país integrante tem autonomia de 
identificar e nomear sítios, e assim, posteriormente, submetê-los ao Comitê de 
Patrimônio Mundial, para inclusão na Lista de Patrimônio Mundial. 
Para o cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil, criou-se a 
Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep) em 19971, que é 
composta por diversas entidades nacionais, dentre elas, o Serviço Geológico do Brasil 
(CPRM). A Sigep tem o objetivo de identificar, avaliar, descrever e publicar os sítios 
geológicos e paleobiológicos, visando à conservação do patrimônio geológico 
brasileiro (WINGE, 2013), inclusive submetendo propostas de sítios à Unesco. 
Os critérios para seleção pela Sigep são: 
 
• sua singularidade na representação de sua tipologia ou categoria 
• importância na caracterização de processos geológicos-chave regionais ou 
globais, períodos geológicos e registros expressivos na história evolutiva da 
Terra 
• expressão cênica 
• bom estado de conservação 
• acesso viável 
• existência de mecanismos ou possibilidade de criação de mecanismos que 
lhe assegure conservação e consequente aproveitamento (WINGE, 2013, p. 
11) 
 
De acordo com o Inventário dos Geossítios do Brasil, publicado em 10 de 
outubro de 2015 pela Sigep, há 116 geossítios no território brasileiro, 46 propostas 
aprovadas aguardando por descrição e outras 26 sugestões de sítios. 
Dentre estes geossítios publicados oficialmente, há 12 categorias, conforme 
descrito na tabela: 
 
1 De 1993 a 1997 era o Grupo de Trabalho Nacional de Sítios Geológicos e Paleobiológicos do 
Departamento Nacional de Produção Mineral. Em 1997 foi criada a Sigep, com quatorze entidades 
membro, e apenas em 2012 surgiu a perspectiva de Marco Legal, através da criação do Grupo de 
Trabalho Interministerial de Sítios Geológicos e Paleontológicos. No entanto, até meados de 2016, na 
elaboração desta pesquisa, a Sigep não foi institucionalizada. 
24 
Tabela 1 – Geossítios no Brasil em 2015 
Categoria de Geossítio Quantidade 
1) Paleontológicos 37 
2) Geomorfológicos 23 
3) Paleoambiental 13 
4) Espeleológico 11 
5) Sedimentológicos 9 
6) História da Geologia e da Mineração 8 
7) Ígneos 3 
8) Marinhos 5 
9) Astroblemas 4 
10) Estratigráficos 1 
11) Tectônicos 1 
12) Hidrogeológicos 1 
TOTAL 116 
Fonte: elaborado pela autora, 2016, com base nos Sítios Geológicos e Paleobiológicos volumes 1, 2 e 
3, publicado pela CPRM/Sigep, respectivamente, em 2002, 2009 e 2013. 
 
Os geomorphosites são os segundos mais numerosos no país, sendo que a 
maioria se concentra no estado do Paraná, com seis unidades. Os restantes: três em 
Minas Gerais; dois no Ceará e Roraima; e um na Bahia, Goiás, Piauí, Rio de Janeiro, 
Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraíba e Pernambuco; um entre os estados de Santa 
Catarina e Rio Grande do Sul e outro entre São Paulo e Paraná. 
Segundo Claudino-Sales (2010), os sítios geomorfológicos brasileiros são 
representantes das unidades de paisagens geomorfológicas presentes no território 
nacional. A mesma autora classifica as morfologias, materiais e processos associados 
aos geomorphosites publicados, como estruturas sedimentares; relevo residual em 
rochas cristalinas/erosão diferencial; processos costeiros/formas costeiras; processos 
fluviais; e erosão diferencial associada com controle estrutural. No entanto, Claudino-
Sales (2010) declara haver limitações nas análises científicas dos geomorfossítios 
pela Sigep, isto se deve à falta uma equipe especializada para a avaliar 
geomorfossítios no Brasil. 
De acordo com a Sigep, a realização de inventário dos 
geossítios/geomorfossítios é essencial para conservação da geodiversidade, bem 
como o uso adequado do patrimônio natural nacional. Claudino-Sales (2010) também 
destaca a importância dos geomorfossítios, que o incentivo de criação e avaliação dos 
mesmos pode contribuir para a conservação das paisagens geomorfológicas. 
 
 
25 
 
2.3 TÉCNICAS PARA REPRESENTAÇÃO DOS GEOMORFOSSÍTIOS: 
CARTOGRAFIA GEOMORFOLÓGICA DE DETALHE 
 
A comunicação visual é um dos meios mais eficientes para a transmissão de 
informação. Neste contexto, a cartografia possibilita a representação dos mais 
diversos aspectos do espaço geográfico, sendo assim umas mais importantes 
ferramentas da Geografia. Segundo Florenzano (2008), o mapa é uma fonte de 
informação, bem como um instrumento dela, ou seja, na Geomorfologia, o mapa 
geomorfológico é resultado de uma análise, bem como ferramenta de análise, síntese 
e interpretação geomorfológica. 
De acordo com o Serviço Geológico Nacional da Itália (Servizio Geologico 
Nazionale – SGN, no italiano), na normativa técnica de representação física do 
território, de 1994, a carta geomorfológica é resultado do estudo científico sobre as 
feições da Terra, realizado em trabalhos de campo e em laboratório. Assim, permitem 
retratar os diversos aspectos geomorfológicos, sejam endógenos ou exógenos do 
passado ou do presente. Deste modo, o mapeamento geomorfológico é de grande 
valia para diversos estudos, pois, nele se expressa as variáveis do meio físico. 
Dependendo do grau de detalhamento, que é em função da escala, estabelece um 
quadro de características geomorfológicas que propiciam o vislumbre do ambiente e 
processos que o originou, bem como, prevê tendências futuras (SGN, 1994). 
No entanto, há um leque de dificuldades envolvendo a unificação internacional 
de uma metodologia para mapeamento geomorfológico, problemas como escala e 
padronização da representação dos elementos/formas. Para Florenzano (2008, p. 
107) 
 
Na elaboração de uma carta geomorfológica, trabalha-se com as formas ou 
com os elementos (porção indivisível e cuja reunião compõe as formas) do 
relevo. No sistema dos elementos, planos, rupturas e curvas representamfatos básicos na cartografia, e conduzem uma carta carregada de sinais [...] 
 
O mapeamento geomorfológico não dá, necessariamente, a mesma ênfase em 
todos os aspectos do relevo. Pode se destacar as características morfológicas, 
morfogenéticas, morfocronológicas ou morfodinâmicas, incluindo, ou não, a litologia, 
materiais inconsolidados ou formações superficiais, como o solo (FLORENZANO, 
26 
2008). Este é o caso quando aplicado a geomorfossítios, pois seu principal objetivo 
torna-se a percepção do objeto (feição do relevo) através de uma representação na 
qual seja compreensível a dinâmica que deu origem ao geomorfosítio, mas desse 
modo omite outros elementos presentes na paisagem (CORATZA; REGOLINI-
BISSIG, 2009). 
A melhor apresentação dos geomorphosites ocorre no uso de uma vertente da 
cartografia geomorfológica, a cartografia geomorfológica de detalhe. Esta consiste no 
uso de técnicas para enfatizar o relevo em grande escala, assim proporcionando a 
melhor percepção humana dos componentes do geomorfosítio, uma vez que 
representa de forma legível as áreas de processos ativos ou inativos (CORATZA; 
REGOLINI-BISSIG, 2009). O uso da escala de detalhe, isto é, maior que 1:25.000, 
permite delimitar minuciosamente cada geomorfosítio, sejam objetos ou a paisagem, 
assim refletindo os resultados do contexto de avaliação, como os inventários. 
Metodologias para mapeamento geomorfológico de detalhe, em especial de 
geomorfossítios, foram propostas e experimentadas principalmente na Europa. Estas 
técnicas ainda são pouco usadas do Brasil, como afirma Valdati (2005), sendo 
evidenciado devido à ausência de padronização de legenda deste mapa temático. 
Coratza e Regolini-Bissig (2009), respectivamente da Universidade de Modena (Itália) 
e Universidade de Laussane (Suíça), desenvolveram princípios norteadores para o 
mapeamento dos geomorfossítios (Quadro 2), que possuem perguntas guias e 
orientações para a construção do mapa conforme o objetivo do pesquisador. 
 
Quadro 2 – Princípios orientadores para mapeamento de geomorfossítios 
Componentes do 
mapa 
Questões norteadoras Princípios orientadores 
Usuário Quem é o público 
pretendido? 
Mapas não devem ser produzidos do mesmo 
jeito para cientistas, planejadores, estudantes 
ou turistas. Diferentes grupos de usuários têm 
diferentes necessidades e habilidades de 
interpretação de mapas: um bom mapa para 
especialistas não é necessariamente um bom 
mapa para não especialistas. Definir o público 
pretendido ajuda a focar os esforços de 
mapeamento e a produzir mapas 
compreensíveis. 
27 
Propósito Qual é o propósito do 
mapa? 
Mapas são produzidos e servem para 
diferentes propósitos, tais como avaliação, 
conservação, gestão e promoção de 
geomorfossítios. Cada aplicação requer 
princípios específicos de mapeamento a fim 
de suprir necessidades particulares. 
 Tema O que será mostrado 
com o mapa? 
A fim de limitar as feições a serem mostradas 
no mapa, somente um pequeno número de 
temas deve ser apresentado a cada vez. É 
recomendado representar a informação 
sequencialmente ao invés de 
simultaneamente, fazendo diversos mapas 
temáticos, em vez de sobrecarregar um 
documento. 
Nível Qual é a complexidade 
da informação 
desejada/exigida? 
O nível refere-se à complexidade de dados. 
Em alguns casos, um mapa detalhado 
incluindo muitas características é necessário, 
em outros, uma simples legenda bastará. Não 
sobrecarregar o leitor com detalhes 
desnecessário. 
Escala Qual é a área a ser 
coberta? 
A escala dos mapas depende da área a ser 
coberta e qual o jeito dos geomorfossítios 
serem visualizados: pontos, símbolos 
pictóricos ou imagens gráficas, símbolos de 
mapeamento clássicos das geociências. 
Dimensão Como mostrar a 
morfologia da área 
mapeada? 
Trabalhar com plano topográfico, modelos 
digitais de terreno, imagens de satélite, 
fotografias aéreas ou desenhos depende do 
propósito do mapa e do público alvo. Pode ser 
útil produzir diversas alternativas e avaliar 
qual funciona melhor. 
Design Como produzir mapas 
de boa aparência e que 
sejam fáceis de 
entender? 
O design dos mapas é o processo no qual 
todos os componentes (escala, dados, 
símbolos, textos...) ficam juntos de uma 
maneira atrativa. Seguir as convenções 
cartográficas, gráficos básicos e regras de 
design dos mapas ajudará a criar mapas bem 
personalizados. 
28 
Formato e tamanho Para qual propósito e em 
qual contexto o mapa 
será usado? 
A escolha do formato dos mapas (papel ou 
digital, material e tamanho do papel do mapa) 
é crucial porque isso irá afetar a produção e 
os custos de atualização. Deveria ser 
considerado também que o estudo do mapa 
deve ser o mais confortável possível em uma 
dada situação. Por exemplo, dobrar um 
grande mapa pode não ser a melhor opção 
para uma trilha ao longo da costa, pois poderia 
balançar com o vento. 
Custos Quais serão os custos 
envolvidos em preparar 
e publicar o mapa? 
Quanto do orçamento pode ser usado para 
adquirir dados? Para executar pesquisa de 
campo ou processar dados? O custo é um 
aspecto importante para todo projeto de 
mapeamento, pois isso determina a série de 
características do mapa, tais como técnicas 
de mapeamento (software, processamento de 
dados) e opção de impressão (material, 
tamanho, cores). 
Fonte: CORATZA; REGOLINI-BISSIG, 2009, p. 101, tradução nossa. 
 
Tendo em vista as perspectivas dos geomorfossítios (estética, científica, 
turística, educacional...), os mapas podem ser desenvolvidos em dois tipos, 
dependendo do público direcionado: mapa para especialistas, ou seja, comunidade 
científica e profissionais de planejamento e gerenciamento territorial e mapas para 
“não-especialistas”, mapas simplificados para o público em geral, sendo direcionados 
especialmente ao geoturismo (CORATZA; REGOLINI-BISSIG, 2009). 
Grande parte dos componentes do guia do quadro 1 se desenvolveu em virtude 
dos constantes avanços nas geotecnologias, pois, segundo Florenzano (2008), as 
tecnologias de sensoriamento remoto permitem ampliar a visão espectral, espacial e 
temporal dos ambientes terrestres. Portanto, a ciência geomorfológica, bem como a 
ciências da Terra em geral, é uma das maiores beneficiárias dos avanços 
tecnológicos, haja vista tais ferramentas contribuírem para o progresso nas bases 
cartográficas e apoio de campo; na extração de dados geomorfológicos e elaboração 
de cartas de diferentes ênfases; assim como na análise integrada e mapeamento da 
paisagem (FLORENZANO, 2008). 
Entre as geotecnologias, o Geoprocessamento é a área do conhecimento que 
usa técnicas computacionais e matemática para tratamento de dados, sendo 
intrínsecos aos Sistemas de Informações Geográficas. De acordo com FLORENZANO 
29 
(2008), os SIGs (Geographic Information System - GIS, em inglês) são sistemas que 
armazenam, analisam e manipulam dados geográficos. Os softwares para 
manipulação destes dados são livres ou privados, por exemplo, respectivamente, o 
Spring do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o ArcGIS da 
Environmental Systems Research Institute (Esri). Materiais como fotografias aéreas, 
imagens de satélites, os Modelos Digitais de Terreno (MDT) e Modelos Digitais de 
Elevação (MDE) são bases para elaboração de produtos cartográficos nestes 
sistemas. 
Todavia, estas técnicas e tecnologias se efetivam para a inteligibilidade do leitor 
quando utilizada uma legenda adequada. Mario Panizza, em 1973, começa a 
sistematização de legenda aos mapas geomorfológicos da Itália. Seus estudos 
culminam na publicação de uma normativa técnica para cartas geomorfológicas pelo 
Serviço Geológico Nacional da Itália. Em 1998, Damis e Bisci, publicaram um manual 
da cartografia geomorfológica, sugerindo a legenda para a escala de detalhe, 
contendo mais especificidades e complementares à primeira normativa. Para criar 
uma legenda funcional precisa-se considerar a boa legibilidade da simbologia, mesmoquando a carta for complexa e contenha muitos símbolos, assim sendo interpretada 
facilmente (DAMIS; BISCI, 1998). 
 
 
30 
3 A ÁREA DE ESTUDO 
3.1 LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC 
 
O Parque Municipal da Lagoinha do Leste (PMLL) está localizado no sudeste 
da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis, distrito do Pântano do Sul. O 
parque é uma Unidade de Conservação (UC) Municipal, criado em 1992 pela Lei 
Municipal nº 4701/92, com o objetivo de “I - Salvaguardar a paisagem natural, a fauna 
e a flora; II - Proteger o manancial hídrico da Bacia Hidrográfica da Lagoinha do Leste.” 
(FLORIANÓPOLIS, 1992, p. 1). 
Como categoria UC, o parque está inserido no Sistema Nacional de Unidades 
de Conservação (Snuc), Lei Federal nº 9.985/00, cujo Artigo 2º define UC como: 
 
 [...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas 
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído 
pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob 
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas 
de proteção. (BRASIL, 2000). 
 
Todas as UCs do território brasileiro2, seja de nível nacional, estadual ou 
municipal, devem se adequar à referida lei. No caso do Parque da Lagoinha do Leste, 
como uma UC de proteção integral, não é permitida sua exploração e, por ser 
estabelecida por lei municipal, seu órgão responsável é a Fundação Municipal do Meio 
Ambiente de Florianópolis (Floram), cuja função é aplicar as leis da Snuc. 
Inicialmente, a UC possuía 480,5 hectares de área, já em 1999, por meio da 
Lei Municipal nº 5.500/99, sua extensão aumentou para 789,6 hectares, abrangendo 
parte do Morro do Matadeiro e Morro do Pântano do Sul (ROSA, 2015). Contudo, não 
há demarcação física do parque, seus reais limites são incertos e as informações 
disponibilizadas pela Floram são escassas. Devido a carência de dados, a população 
vizinha e os turistas inferem a delimitação da UC. 
Ferretti (2007) organizou o mapeamento das UCs e Áreas de Preservação 
Permanente (APP) da Ilha de Santa Catarina, com base na Carta de Zoneamento 
Natural e Carta de Unidades de Conservação da Ilha, em comparação ao mapa de 
 
2 De acordo com a Lei 9.985/00, Artigo 7º, há dois grandes grupos de UCs, as de Uso Sustentável e as 
de Proteção Integral, dentro destes ainda existem classificações. A UC deste estudo se encaixa como 
Proteção Integral, então, seu intuito é a preservação, permitindo somente o uso indireto dos seus 
recursos naturais. 
31 
UCs de Dora Orth, de 1998. Resultando na projeção das dimensões do parque, de 
acordo com a sua expansão em 1999, visualizado no recorte da Figura 1. 
 
Figura 1 – Delimitação do Parque Municipal da Lagoinha do Leste 
 
Fonte: adaptado de FERRETI, 2007, p. [1]. Escala original 1: 2000. 
 
Destaca-se que o PMLL ainda não possui um plano de manejo, monitoramento 
e zona de amortecimento, ou seja, não está dentro dos critérios exigidos pela Snuc. 
Deste 2015 está em trâmite pela Câmara Municipal de Vereadores de Florianópolis 
uma proposta de ampliação do parque para 950,5 hectares, caso aprovada, será 
anexada a esta UC as APPs adjacentes (Figura 1), além de criar um corredor 
ecológico até o Parque Municipal da Lagoa do Peri3 (ROSA, 2015). Todavia, até 
novembro de 2016, nada sobre o tema foi divulgado pela Prefeitura Municipal. 
A área estudada por este trabalho não engloba toda a UC, detém-se na praia 
da Lagoinha do Leste e o sistema de drenagem do seu entorno, que abrange os 
morros que circundam a laguna e formam a enseada, como se confere na Figura 2. 
Por isso, a área estudada é chamada apenas de Lagoinha do Leste, não se 
mencionando a palavra parque. 
 
3 O Parque Municipal da Lagoa do Peri foi tombado como Patrimônio Natural pelo município de 
Florianópolis desde 1976, e é um parque, efetivamente, desde 1981. 
32 
Figura 2 – Mapa de localização 
 
Fonte: elaborado pela autora, 2016 
 
O acesso à praia da Lagoinha do Leste é por meio de duas trilhas: 
• Trilha do Matadeiro: tem início na praia do Matadeiro, possui 
aproximadamente 5km de extensão. O percurso se dá pelo costão 
rochoso, terminando na porção norte da Lagoinha do Leste. 
 
 
 
 
33 
Fonte b: Marco Santiago, 2016. 
Fotografia 1 – Trilha do Matadeiro 
 a) 
 
 
Fonte: elaborado pela autora, 2016. 
Legenda: a) Primeira parte da trilha, iniciada pela praia do Matadeiro, indo pelo costão na parte externa 
da área de estudo; b) Fotografia do ponto de vista de dentro da enseada, seta indica a segunda parte 
da trilha, descendo pela encosta chega-se na praia. 
 
• Trilha do Pântano do Sul4: começa no sopé do Morro do Pântano do Sul, 
acesso pela servidão Manuel Pedro de Oliveira. A trilha tem 2,2 km e 
finaliza no sul da praia. 
 
Fotografia 2 – Trilha do Pântano do Sul 
 a) 
 
 
Fonte a: Divulgação Floram, 2016. 
 
 
 
4 Destaca-se que a trilha do Pântano do Sul começou a ser restruturada em meados de 2016, sendo 
concluída em outubro do mesmo ano. A realização da mesma foi pela parceria entre a Floram e 
organizações como o Coletivo UC da Ilha e a Instituição de Estudos Ambientais Trilheiros de Atitude, 
no Projeto Trilhas e Caminhos da Ilha de Santa Catarina A Fotografia 2 é a trilha já restaurada, 
anteriormente não havia sinalização de início/fim, consistia somente no caminho aberto. 
 
b) 
b) 
34 
Dependendo das condições do tempo, há possibilidade de ir pelo mar, os 
pescadores transportam os passageiros até a praia da Lagoinha do Leste a partir da 
praia do Pântano do Sul. No interior da área de estudo existe uma terceira trilha, a 
qual leva ao topo do Morro da Coroa, no extremo sul da área mencionada. A mesma 
possui 400m de extensão, na crista do morro, que é o fim da trilha, situam-se blocos 
de rochas que proporcionam a vista panorâmica da praia, como nota-se na Fotografia 
3. Tal ponto de observação é um dos cartões postais do parque, bem como da Ilha de 
Santa Catarina. 
 
Fotografia 3 - Vista panorâmica da Lagoinha do Leste 
 
Fonte: elaborado pela autora, 2016. 
 
Quanto a ocupação da área pesquisada, de acordo com Cruz (2000), a 
Lagoinha do Leste teve algumas casas no início da década de 1940, no entanto não 
há vestígios de tais edificações. Os moradores daquela época tiravam seu sustento 
da pesca e da agricultura, do cultivo de milho, mandioca e cana-de-açúcar o que gerou 
pequenas clareiras nas encostas (CRUZ, 2000). Não há mais registros sobre a 
duração dessas e/ou outras atividades e quando os moradores deixaram o local. 
Desde a oficialização como UC, a ocupação humana consiste em prática de 
camping por turistas. No verão, esta atividade é intensa, apesar da falta de estrutura. 
O fato de não haver plano de manejo e monitoramento do local está causando 
problemas, principalmente em relação aos resíduos sólidos depositados em diversos 
35 
pontos do parque, ademais, há ocorrências de cortes da vegetação de restinga, caça 
dos animais silvestres e comércio ilegal (COELHO, 2013). 
 
3.2 ASPECTOS FÍSICOS DA ÁREA DE ESTUDO 
 
3.2.1 Clima 
Segundo Florianópolis (2009) o clima do litoral catarinense está classificado 
como Subtropical Mesotérmico Úmido da classificação de Strahler, correspondente ao 
Cfa, de Köppen, portanto, considera-se como clima de transição entre o tropical 
quente e o temperado mesotérmico. 
A mesma definição aplica-se a Florianópolis, logo, os verões são quentes e 
invernos amenos, respectivamente, em média, 24,5ºC em janeiro e 16,5ºC em julho, 
com média anual de 20,4ºC (FLORIANÓPOLIS, 2009). A fonte referida ainda afirma 
que o caráter mesotérmico é dado pela influência de massas de ar quentes e úmidas: 
• Massa Tropical Atlântica (MTA): massa de ar quente e úmida, 
responsável pelos ventos de Norte e Nordeste. 
•Massas de Ar Intertropical: massa quente; 
• Massa Polar Atlântica (MPA): massa de ar fria, o encontro destas 
massas forma a Frente Polar Atlântica, provocando chuvas frontais, pré-
frontais e pós-frontais na Ilha, além de ser responsável pelo vento Sul e 
Sudeste. 
Sobre os ventos na Ilha, 
 
Em dados do Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídricos de Santa 
Catarina – CLIMERH, nos últimos 70 anos tem-se a predominância dos 
ventos Norte (36.92%); seguido pelos ventos de Sudeste (16.92%); Sul 
(15.77%); Nordeste (10.05%); Noroeste (2.85%) e Sudoeste (1.14%). 
(FLORIANÓPOLIS, 2009, p. 12). 
 
A umidade relativa do ar, devido a maritimidade, geralmente fica entorno de 
80% (FLORIANÓPOLIS, 2009). As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano, 
sendo a média anual 1493,12mm. O verão apresenta os maiores índices, 
concentrando 35% das chuvas, no inverno, os mais baixos, por volta de 19% 
(FLORIANÓPOLIS, 2009). Tais informações são representadas no climograma a 
seguir, Figura 3. 
 
36 
Figura 3 – Climograma de Florianópolis 
 
Fonte: INSTITUO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS - INPE. Monitoramento Brasil. 
Disponível em: <http://img0.cptec.inpe.br/~rclima/climatologias/mensal/capitais/florianopolisc.gif> 
Acesso em: 10 de nov. de 2016. 
 
Há diferença na distribuição de chuvas nos limites de Florianópolis, em 
particular no sul, onde se observa maior pluviosidade, o que se deve, a princípio, ao 
fato de haver ali elevações mais altas, como o Morro do Ribeirão e o Morro do 
Cambirela. No entanto, não há estudos e registros oficiais sobre tal fenômeno, haja 
vista que não há uma estação pluviométrica na área, esta é uma constatação empírica 
dos moradores do sul da Ilha. 
 
3.2.2 Geologia 
A geologia da Lagoinha do Leste, bem como de todo o sul da Ilha de Santa 
Catarina, é composta de granitos maciços da Suíte Pluto-Vulcânica Cambirela da Era 
Neoproterozóica (entre 1000 e 541 milhões de anos atrás). Segundo Tomazzoli e 
Pellerin (2014), a Suíte Cambirela é composta de derrames e diques de riolito, 
riodacito, dacito, granito de grão fino, bem como tufos e lapilli tufos ignimbríticos. 
Conforme o mapa geológico da Ilha de Santa Catarina, elaborado por 
Tomazzoli e Pellerin em 2014 (Figura 4), o maciço rochoso que circunda a praia da 
Lagoinha do Leste consiste em tufos e ignimbritos indiferenciados, ou seja, rochas 
piroclásticas que “são constituídas por cristaloclastos de quartzo, K-feldspato e 
plagioclásio, com bordos angulosos ou arredondados e embaiados por reação com a 
matriz, usualmente muito fina ou vítrea, constituída, dominantemente, por quartzo e 
feldspato.” (TOMAZZOLI; PELERRIN, 2001, p. 4). 
Estas rochas piroclásticas são pouco estruturadas e possuem cor escura 
devido a presença de vidro vulcânico (TOMAZZOLLI; PELLERIN, 2014). Além disso, 
encontra-se cristaloclastos, bombas e lapillis, bem como concentrações de lapillis e 
http://img0.cptec.inpe.br/~rclima/climatologias/mensal/capitais/florianopolisc.gif
37 
bombas de riolito fluidal com formas arredondas, retorcidas e elipsóidicas 
(TOMAZZOLI; PELLERIN, 2001). Semelhantes a esta formação geológica, os 
mesmos autores delimitaram áreas com maiores concentrações de bombas de riolito 
pórfiro (classe “tufos e ignimbritos com maiores concentrações de bombas”, Figura 4), 
o que sugere a maior proximidade dos centros vulcânicos. De acordo com os mesmos 
autores, estas bombas possuem dimensões variadas e formas arredondadas, 
angulares e fusiformes. 
 
Figura 4 – Geologia da Lagoinha do Leste 
 
Fonte: adaptado de TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014, p. [1]. Escala original 1:50000. 
 
Em áreas pontuais, ocorre o granito de grão fino, chamado Granito Itacorubi. 
Segundo Tomazzoli e Pellerin (2001), seus principais constitutivos são quartzo, K-
feldspato, biotita e muscovita, também ocorre presença de epídoto, zircão, apatita, 
turmalina e anfibólio. Suas características são: textura fina a média, com fenocristais 
centimétricos de K-feldspato, tendo textura porfirítica em alguns locais. 
No maciço rochoso da Lagoinha do Leste também se encontram diques de 
diabásio da Formação Serra Geral, do magmatismo do Período Jurássico. Situados 
38 
nos extremos norte e sul da área em estudo (Figura 4), na porção norte existem quatro 
na direção N-S, ao sul, oito na direção N-W. Esses diques são de espessura variada, 
cor escura e tem “o predomínio de trama intergranular fina, com cristais de piroxênio 
e magnetita/ilmenita envolvidos por plagioclásio tabular fino” (TOMAZZOLI; 
PELLERIN, 2001). 
Conforme os autores citados, os depósitos encontrados na área estudada 
(Figura 4) são do período Quaternário, sendo eles: 
• Depósito Marinho Praial: como apresentam Tomazzoli e Pellerin (2014), 
estes são sedimentos arenosos de textura variada da época Holoceno, 
provenientes do processo marinho que formou as praias atuais; 
• Depósitos Eólicos: segundo Tomazzoli e Pellerin (2014) há dois tipos 
deste depósito, diferenciados pela época geológica que ocorreu. 1) 
Holoceno: representado por dunas transversais ativas, constituídas 
sedimentos finos e bem selecionados de coloração esbranquiçada; 2) 
Pleistoceno: na forma de paleodunas ou dunas longitudinais fixadas pela 
vegetação, são sedimentos arenosos finos, de coloração amarelo-
avermelhada devido presença de minerais ferrosos; 
• Depósito aluvial de fundo de vale: sedimentos pelíticos e arenosos de 
granulometria variável da época Holoceno, situados em ambientes de 
baixa energia, como terraço lagunar e fundos de vale (HORN FILHO; 
LIVI, 2013; TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014). 
• Depósito de Colúvio-Aluvionar: constituem leques ou rampas no sopés 
das encostas do embasamento cristalino, são “Sedimentos mal 
selecionados, geralmente grosseiros com proporções variadas de 
blocos, matacões, seixos, grânulos e material pelítico-arenosos.” 
(TOMAZZOLI; PELLERIN, 2014, p.[1]). 
• Depósito Paludial: de acordo com Tomazzoli e Pellerin (2014), está 
localizado em áreas semi-alagadas, constitui-se de turfas e sedimentos 
finos ricos em matéria orgânica. 
 
 
 
39 
3.2.3 Rede hidrográfica 
Primeiramente, define-se a drenagem fluvial como um conjunto de canais de 
escoamento (ou curso de água), que são interligados formando, juntamente com os 
terrenos drenados por este conjunto, uma bacia de drenagem, também chamada de 
bacia hidrográfica (CHRISTOFOLETTI, 1980). Quanto a presença de água, os canais 
dividem-se em três tipos: perenes, contém água o tempo todo, mesmo durante um 
período de seca, o canal continuamente alimentado pelo lençol subterrâneo; 
intermitentes, quando possuem água somente na estação chuvosa; efêmeros, quando 
escoam apenas durante ou logo após a precipitação (CHRISTOFOLETTI, 1980; 
SUGUIO e BIGARELLA, 1990). 
A disposição espacial do conjunto dos cursos d’água de uma bacia hidrográfica 
pode apresentar diferentes padrões, havendo seis tipos principais, que por sua vez 
refletem os aspectos geológicos do terreno drenado pela bacia. Estes padrões são 
citados por Christofoletti (1980), como sendo: Dendrítico, Treliça, Paralelo, Radial, 
Anelar e Retangular (Figura 5). 
 
 
 
Fonte: adaptado de CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 104. 
 
Figura 5 – Padrão de canal de drenagem Figura 6 – Padrão de drenagem 
Fonte: adaptado de RICCOMINI; COIMBRA, 1993, p. 4. 
40 
Além do padrão de drenagem, também é possível estabelecer os tipos de 
canais dentro da bacia, chamado de padrões de canais de drenagem (Figura 6). A 
configuração do mesmo demostra sua geometria hidráulica, isto é, a forma e a 
composição dos leitos. Há diversos fatores que condicionam o padrão de canal, como 
a largura e profundidade do canal, a velocidade do fluxo, a rugosidade do leito e sua 
declividade, bem como a carga sedimentar (SUGUIO e BIGARELLA, 1990). Tendo 
em vista as interrelações destes fatores, são estabelecidas quatro configurações de 
canal fluvial: Anastomosado, Entrelaçado, Meandrante e Retilíneo(Figura 6). 
Materiais referentes a rede hidrográfica da Lagoinha do Leste são escassos, 
sendo, majoritariamente, provenientes dos mapeamentos do local. Nota-se, na Figura 
4, que a área possui canais de escoamento retilíneos de disposição paralela, que 
percorrem as encostas do embasamento cristalino, que, por sua vez, deságuam na 
laguna. Localizada na porção central da área de estudo, a laguna tem formato 
meândrico, e é barrada pelo compartimento praial. O sistema de drenagem da 
Lagoinha do Leste dispõe de um dinâmica peculiar, em razão desta singularidade, a 
drenagem é devidamente descrita na seção 5 deste trabalho. 
 
3.2.4 Geomorfologia 
No relevo da Ilha de Santa Catarina, como destacam Herrmann e Rosa (1991), 
há dois tipos de modelados, o de dissecação e o de acumulação, cuja distinção é dada 
pela gênese e/ou energia do relevo, ou seja, sugere como as formas de relevo foram 
moldadas pelos processos nos materiais geológicos. Ambos são observados na área 
de estudo. 
Formado por processos pluviais e/ou fluviais, o modelado de dissecação são 
terrenos altos, onde predominam os processos de erosão sobre os de sedimentação 
(HERRMANN; ROSA, 1991; LUIZ, 2004a). Há subdivisões de acordo com o tipo de 
elevação, estas são: Colina, até 50 a 60m de altura, com encostas suaves e topos 
convexos; Morro, 100 a 200m de altura, topo angulosos e encostas íngremes; 
Montanha, acima de 200m, com encostas íngremes e topo anguloso (LUIZ, 2004a). 
Na Lagoinha do Leste, encontra-se o modelado de dissecação em montanhas. 
Estas elevações que formam a enseada pertencem as Serras do Leste Catarinense5 
e variam entre 200m a 300m de altura. Modelados de dissecação em geral são 
 
5 Segundo Luiz (2004), as Serras do Lestes Catarinense são esculpidas em rochas cristalinas, 
estendem-se do norte do estado até o sul, próximo ao município de Jaguaruna. 
41 
susceptíveis a fenômenos erosivos, como deslizamentos e queda de blocos e 
matacões (LUIZ, 2004), ambos observados na área estudada. 
O modelado de acumulação consiste em ambientes deposicionais, isto é, 
formas de relevo de terrenos mais baixos gerados pela deposição de sedimentos, 
conforme as características de sua origem podem ser subdivididos em 
compartimentos ou feições de relevo (HERRMANN; ROSA, 1991; LUIZ, 2004a). Na 
Ilha, a planície costeira é composta pelos compartimentos Praial, Eólico e Colúvio-
aluvionar. 
Segundo Luiz (2004a), o compartimento praial abarca as praias atuais, os 
terraços marinhos, as planícies de restinga, de maré e as lacustres, ou seja, feições 
formadas a partir dos sedimentos depositados pelas correntes litorâneas e o regime 
de ondas, bem como regressões e transgressões marinhas. De acordo com a mesma 
autora, o compartimento eólico é composto por campos de dunas móveis e fixas, onde 
se observa cômoros e dunas longitudinais, transversais e parabólicas, além de bacias 
de deflação. Há grande dinâmica nestas formas, pois são criadas e remodeladas pela 
ação dos ventos no litoral. Por fim, o compartimento colúvio-aluvionar se configura em 
um ambiente de transição da planície costeira para as feições das serras do leste 
catarinense, assim formando-se rampas de depósitos de sedimentos de granulometria 
muito variada (LUIZ, 2004a). 
A Lagoinha do Leste possui representantes de cada um dos três grandes 
compartimentos, sendo identificados por Horn Filho & Livi (2013) e Tomazzolli e 
Pellerin (2014) em seus mapeamentos e descrições sobre os depósitos presentes na 
Ilha de Santa Catarina. 
 
3.2.5 Solos 
Solo consiste no material terroso, composto de minerais, provenientes da 
alteração das rochas ou de depósitos de sedimentos de processos erosivos, e de 
matéria orgânica (EMBRAPA, 2006; LUIZ, 2004b). Sua organização é em camadas 
paralelas, conhecidas como horizontes, sendo o limite superior a atmosfera e o inferior 
a rocha sã ou depósitos de sedimentos (EMBRAPA, 2006; LUIZ, 2004b). 
 Geralmente, distinguem-se três horizontes: A, camada escura, de minerais 
com mais matéria orgânica; B, material mineral alterado com pouca matéria orgânica, 
coloração entre o amarelo e o marrom; C, horizonte mais profundo, caracterizando a 
transição do solo bem alterado até a rocha sã, portanto se nota o aumento do tamanho 
42 
dos materiais, como fragmentos da rocha ou sedimentos de origem (LUIZ, 2004b). A 
nomenclatura dos solos usada neste trabalho tem como base o Sistema Brasileiro de 
Classificação dos Solos, feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
(Embrapa) em 2006. 
Sobre o embasamento cristalino da Lagoinha do Leste se localizam Argissolos, 
típico de relevo de dissecação. De modo geral, neste tipo de solo ocorre a migração 
de argila do A para o B, assim, o horizonte A torna-se mais arenoso e o B argiloso. 
Especificadamente nesta área, há associação de Argissolo vermelho-amarelo álico 
com Argissolo Vermelho6 (SOMMER; ROSATELLI, 1991). O primeiro é derivado de 
granitos e possui textura areno-argilosa; o segundo é resultado da alteração de 
diabásio, sua textura é argilosa e, geralmente, são mais férteis que o vermelho-
amarelo (LUIZ, 2004b). 
Há uma exceção na encosta ao norte, onde situam-se depósitos eólicos do 
Pleistoceno, pois o predomínio de sedimentos arenosos levam o desenvolvimento de 
Neossolo quartzarênico, que consiste de areias quartzosas álicas (SOMMER; 
ROSATELLI, 1991). Segundo os mesmos autores, no sopé das encostas da enseada 
da Lagoinha do Leste encontra-se areias quartzosas álicas, na classificação da 
Embrapa, chama-se Neossolo quartzarênico hidromórfico. 
As dunas e a linha de praia são compostas de areias quartzosas, os depósitos 
arenosos citados na seção 4.2.4, não se tem formação de solos em virtude do 
ambiente dinâmico feito pela constante atividade do mar e vento (LUIZ, 2004b). 
 
3.2.6 Vegetação 
Na área de estudo, encontra-se duas formações vegetais: a Floresta Ombrófila 
Densa e as Formações Pioneiras, ambas estão inseridas no bioma Mata Atlântica. O 
Manual Técnico da Vegetação Brasileira do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE, 2012) é usado como base para fazer a descrição desta seção, pois 
caracteriza a vegetação do bioma de acordo com suas características fisionômico-
ecológica, dentro de uma classificação internacional. 
Há dois grandes grupos da vegetação desse bioma, a Primária e a Secundária. 
A Primária consiste na vegetação intocada desde sua existência, ou seja, desde sua 
 
6 A partir da nova classificação brasileira de solos, realizada pela Embrapa, os tipos de solo Podzólico 
passaram a se achar Argissolo. A nomenclatura Podzólico foi utilizada pelos autores Sommer e 
Rosatelli no Atlas de Florianópolis de 1991. 
43 
primeira colonização no solo. A Secundária é a vegetação regenerada, quando a 
vegetação primária é retirada por ações antrópicas7, a comunidade vegetal posterior 
é a secundária, que nunca será igual a primeira (IBGE, 2012). Para atingir o estágio 
nomeado secundário, ocorre a sucessão vegetal, num processo sequencial de 
espécies, que indicam o grau de desenvolvimento daquela comunidade vegetal. De 
acordo com o Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 2012), a sucessão 
ocorre nas seguintes etapas: 
1) Pioneira: fase inicial sugere uma “regressão ecológica”, em face de ser 
colonizada por hemicriptófitos8 pioneiros de famílias bastante primitivas; 
2) Capoeirinha: este estágio já apresenta hemicriptófitos graminóides, 
caméfitos9 rosulados e nanofanerófitos10 de baixo porte; 
3) Capoeira rala: vegetação mais desenvolvida, também apresenta poucas 
caméfitas herbáceas e muitas plantas lenhosas de baixo porte; 
4) Capoeira propriamente dita: vegetação complexa, dominada por 
microfanerófitos com até 5 m; 
5) Capoeirão: esta fase, dominada por mesofanerófitos que ultrapassam 15 m 
de altura, é um estágio eminentemente lenhoso,

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