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201301_Golpe e Revolução 04

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GOLPE, REVOLUÇÃO E REFORMA
O Estado, enquanto sociedade política tem por finalidade promover o bem comum mediante a criação de condições de vida social que propiciem e que sejam capazes de assegurar o desenvolvimento da personalidade dos integrantes de seu povo.
A formação estatal corresponde, assim, a determinada sociedade, protagonizada por diversos atores e grupos em determinado contexto histórico, o que, por conseguinte, implica o surgimento de novos carecimentos e interesses face à evolução da sociedade, que está sujeita a contínuas transformações. Desta forma, é possível inferir que o Estado não pode ser concebido de forma estática, em virtude da dinâmica das mutações vivenciadas pelo seu povo. 
Decerto, quando não se considera tal dinâmica, tem-se um Estado obsoleto e ineficaz na consecução de seus propósitos, até alcançar um momento crítico de deterioração, no qual o descontentamento popular acentua-se, conduzindo-o inexoravelmente a transformações por meios violentos ou pacíficos. Tais mudanças são traduzidas pelos fenômenos da revolução, da reforma e, ainda, do golpe. É imperioso ressaltar que o tema merece especial enfoque, em virtude da utilização indiscriminada dos referidos conceitos, o que é constatado muitas vezes. É imperioso ressaltar que o tema merece especial enfoque, em virtude da utilização indiscriminada dos referidos conceitos, o que é constatado muitas vezes. 
Tal questão adquire ainda maior calor, quando se trata de definir as principais diferenças entre esses fenômenos e os seus efeitos do ponto de vista político, jurídico e social. Portanto, passar-se-á ao exame das peculiaridades dessas categorias, a fim de propiciar-se o emprego devido de cada uma delas. 
1. Revolução
O tema ‘revolução’ é tratado de forma interdisciplinar em virtude das enormes repercussões trazidas às sociedades envolvidas, o que acarreta desdobramentos no campo político, histórico, social e jurídico. Ora tal fenômeno é concebido como a interrupção de um período cultural (concepção histórica), ora é visto como mudança violenta das instituições políticas do Estado, o que corresponde à sua concepção política. Do ponto de vista sociológico, a revolução opera mudanças profundas na estrutura da sociedade, alterando o sistema de classes sociais. Sob o enfoque jurídico, a revolução constitui uma ruptura com o ordenamento jurídico anterior por meio da modificação não legal dos princípios fundamentais da ordem constitucional vigente.
Em suma, constata-se que, seja qual for à concepção adotada, o vocábulo ‘revolução’ é utilizado para designar um fenômeno que realiza mudanças radicais da estrutura política, jurídica e social. Neste sentido, destaca José Ribas Vieira: Podemos visualizar que as revoluções devem ser conceituadas e compreendidas como um processo de mudança violenta e abrupta, por determinadas forças sociais, dos níveis de articulação entre as sociedades civil e política em determinadas condições históricas. 
É válido destacar que a qualificação jurídica do movimento está condicionada ao seu triunfo. Assim, caso o movimento obtenha êxito, sua relevância será político-jurídica; caso contrário, será oposta antijuridicidade à sua fundação, revestindo-se de relevância jurídico-penal, como ensina.
No tocante à análise da revolução, merecem relevo dois aspectos que lhe são inerentes: a ilegalidade e a legitimidade. O primeiro deve-se ao fato de a revolução caracterizar se pela quebra do princípio da legalidade, uma vez que se instaura nova ordem por procedimento não previsto no ordenamento jurídico anterior, isto é, há a tomada do poder por meios extralegais e a substituição por nova ordem jurídica através da implantação de um poder constituinte que compatibilize os preceitos da Carta política revolucionária com as reivindicações da sociedade. Cabe ressaltar que, embora a revolução seja revestida do caráter de ilegalidade, não significa que os revolucionários não possam empregar os instrumentos jurídicos legais do sistema para alcançar uma posição de poder institucional.
Outro aspecto, o da legitimidade, relaciona-se à aceitação fática do rompimento brusco do antigo poder e de sua eliminação. A acumulação de descontentamentos e decepções, em alto grau, pela sociedade em face de graves injustiças perpetradas pelo regime anterior, acaba por destituí-lo de apoio popular e, por conseguinte, de autoridade. Desta forma, a revolução almeja destruir uma ordem de coisas tida como injusta, para impor a edificação de nova estrutura capaz de levar ao progresso e atender aos reclamos sociais, revestindo-se, por conseguinte, de apoio popular.
O processo revolucionário é desencadeado, assim, pela acumulação de impugnações da ordem de valores impostos, culminando inexoravelmente em um momento crítico de tomada do poder. Não é possível identificar precisamente a ocasião exata em que a revolução começa e termina, compreendendo um processo que comporta basicamente três fases: 
O período pré-revolucionário ou de fermentação, no qual há uma série de distúrbios sociais, o período revolucionário propriamente dito ou de crise, representado, em geral, pela atuação do movimento armado e pela tomada do poder; e o período pós-revolucionário, caracterizado por ser a fase de ascensão do novo poder, que vai se alicerçando, para se tornar o novo fundamento da legalidade.
Entende-se que, mesmo após a ruptura revolucionária, certos atos praticados pelo Estado anteriormente devem seguir válidos em seus efeitos no regime superveniente, em razão do princípio da continuidade do Estado, a exemplo das obrigações internacionais anteriormente assumidas, que necessitam ser cumpridas.
Cumpre destacar que, uma vez consumada a revolução, é preciso que a ordem, a paz e a segurança sejam restauradas, a fim de que o poder estatal se afirme e possa implementar as promessas que objetivava ao deflagrar a revolução; caso contrário, o novo poder estará apenas beneficiando a classe revolucionária em detrimento de todo o povo, o que pode culminar em regime ditatorial, como testemunhou algumas vezes a História.
2. Golpe
Observam-se muitas vezes imprecisões no emprego dos conceitos ‘golpe’ e ‘revolução’. Ocorre que se verifica constantemente a utilização da expressão ‘revolução’ para designar o que, na realidade, corresponderia a golpe de Estado. Esse uso se dá em razão do prestígio de que se reveste tradicionalmente o vocábulo ‘revolução’, em contraposição à conotação negativa atribuída ao vocábulo ‘golpe’. Tal fato pode ser comprovado, sobretudo nos países da América Latina e nos do continente africano, onde os golpes tiveram lugar, com maior freqüência, no século passado, em virtude da instabilidade das instituições políticas e sociais, que não permitiram o emprego normal dos mecanismos constitucionais de continuidade do poder.
Embora ambos os termos possuam aparentemente similitudes – tomada de poder por meios violentos não previstos no sistema jurídico estatal, com a violação do sistema jurídico constitucional –, vislumbram-se limites ao seu emprego em face da análise de características que os tornam nitidamente distintos.
O golpe é concebido como tomada de poder por meios ilegais. Diferentemente da revolução, o golpe parte de um segmento específico, que é composto, em geral, por integrantes de o próprio poder, os quais, por já estarem investidos das funções estatais, contam com melhores condições de imobilizar mais rapidamente a reação do governo, usurpando-lhe o poder. Já a revolução advém do próprio povo, o que lhe confere o caráter de legitimidade.
Podem ser destacados outros traços distintivos entre o golpe e a revolução, como o fato de o primeiro se fazer contra a pessoa do governante e de seu modo de governar, traduzindo o interesse de um grupo restrito ou do próprio líder, ao passo que a revolução resulta do alto grau de insatisfação com os atos tidos como injustos, perpetrados pelo sistema. 
Assim, com a revolução, almeja-se modificar não somente o governo, mas os próprios fundamentosdo Estado e de suas instituições, tendo como prevalência o interesse da coletividade e não a satisfação de número limitado de pessoas. Disso se conclui que a revolução é um processo que se reveste de legitimidade, ao passo que o golpe é simultaneamente ilegal e ilegítimo.
Cabe mencionar ainda que, no golpe, não há transformações substanciais no âmago da organização social, tal como ocorre na revolução, operando apenas algumas mudanças que não implicam o total rompimento com a antiga ordem social. 
Outrossim, cumpre destacar a afirmação de Tocqueville ao referir-se ao legado das revoluções: A revolução segue, no entanto seu curso: à medida que se vê aparecer a cabeça do monstro, que sua fisionomia singular e terrível vai-se descobrindo, que após ter destruído as instituições políticas, suprime e muda, em seguida, as leis, os usos e costumes e até a língua: quando, após ter arruinado a estrutura do governo, mexe nos fundamentos da sociedade e parece querer agredir até Deus. 
Constata-se assim, que, na revolução, há mudanças viscerais na sociedade, na ideologia e no sistema político, deixando marcas profundas, o que parece não ocorrer no golpe de Estado, visto que este tem o condão de operar apenas algumas reformas, incapazes de trazer alterações na estrutura da sociedade, a saber, a aparição de nova organização político-jurídica, de novo sistema de classes sociais e o surgimento de novas instituições.
3. Reforma
Constitui a reforma um modo de reestruturação do Estado através de meios pacíficos, em que são tomadas medidas econômicas, sociais e políticas com o intuito de solucionar uma grave crise social. Através da reforma pretende-se solucionar delicados problemas com base em consenso entre o poder estatal e as classes sociais ressentidas, restabelecendo-se um diálogo que propiciará a retomada de confiança pelos diversos segmentos descontentes em relação ao Estado. Destarte, pela reforma, evita-se o emprego de meios violentos utilizados na dinâmica revolucionária, capazes de expor o povo a situações de desordem e de insegurança, além de resguardá-lo do caráter de imprevisibilidade de suas conseqüências.
Enquanto na revolução há queda de toda uma ordem jurídica de forma abrupta, pela reforma, o Estado evolui prudentemente, ao adotar políticas capazes de corrigir as imperfeições do sistema, sem que ocorram mudanças violentas, capazes de levar à queda das instituições e à ruptura com a ordem vigente.
Conclusão
A apreciação da temática das transformações do Estado mediante a revolução, a reforma e o golpe na esfera dos estudos políticos revela que há limites substanciais ao emprego dessas categorias, embora comumente observem-se equívocos acerca do tema. É preciso registrar que a revolução constitui um modo de transformação do Estado, em que se edifica nova ordem político-jurídica e social com largo apoio do povo, em substituição a uma ordem considerada injusta e obsoleta, incapaz de trazer benefícios à sociedade.
A revolução é, portanto, o poder de fato que a sociedade possui de subverter a ordem jurídica vigente e instaurar novo direito positivo, assentado em instituições inovadoras e em novo modelo de organização social e política, quando a crise constitucional alcança patamares insuportáveis. 
Conclui-se assim, que o processo revolucionário opera mudanças abruptas na sociedade, distintamente da chamada reforma, na qual se almeja corrigir as imperfeições do sistema por meios pacíficos e legais, objetivando-se preservar a sociedade dos efeitos imprevisíveis da revolução. Por derradeiro, o golpe associa-se à atuação de um segmento integrante, em geral, do próprio governo, que, movido por interesses próprios, neutraliza a ação do Governo, tomando-lhe o poder, sem desencadear mudanças profundas nas raízes do sistema.

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