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20130331 Trabalho - Inquisição

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
CURSO DE DIREITO
Disciplina: Teoria do Direito
JOÃO HENRIQUE RIBEIRO NUNES
PÂMELA PIRES NUNES
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHO DE PESQUISA SOBRE INQUISIÇÃO
 
 
 
 
 
 
 
Professor: GILBERTO BRITTO
Campus: Guaíba
 
 
 
 
 
 
Camaquã – RIO GRANDE DO SUL
2013/1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
2 - OBJETIVOS
2.1 - OBJETIVO GERAL
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
3. CONCEITO DE INQUISIÇÃO
4. ASPECTOS HISTÓRICOS DA INQUISIÇÃO
4.1 A INQUISIÇÃO MEDIEVAL
4.2 A INQUISIÇÃO MODERNA
4.3 A INQUISIÇÃO NO BRASIL COLÔNIA
5 - ASPECTOS JURÍDICOS DA INQUISIÇÃO
5.2 TIPOS DE PROCESSO
5.2.1 O ACUSATÓRIO
5.2.2 O INQUÉRITO
5.3 FORMAS DE ACUSAÇÃO
5.4 MÉTODOS COMUMENTE UTILIZADOS
5.5 DIREITO A DEFESA
5.6 TIPOS DE CONDENAÇÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
A inquisição foi ferramenta de repressão, disposta aos interesses da igreja durante quase um milênio. A inquisição medieval coincide com o período das grandes navegações e colonização das Américas e da índia, onde podemos identificar as práticas inquisitoriais modernas como instrumento de afirmação da fé católica.
Importante analisar os seus aspectos históricos para delinear a sua importância na história humana e a amplitude de sua execução.
A inquisição assumiu formatos distintos durante sua evolução quer seja no aspecto metodológico, quer seja nos fins a que esteve intimamente ligada. Ao passo em que esta evolui, podemos identificar também a evolução do estado e a relação promíscua da soberania absolutista dos monarcas em favor dos interesses da Igreja e da máquina religiosa como afirmação e manutenção do poder secular apoiado pelo poder espiritual.
Conjuntamente identificamos a evolução do direito civil, a partir da evolução do direito canônico, assimilando e incorporando a este alguns conceitos do direito romano.
2 - OBJETIVOS
2.1 - OBJETIVO GERAL
Efetuar pesquisa bibliográfica acerca do tema: Inquisição.
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Definir o conceito de Inquisição;
Explicitar às principais características históricas da inquisição;
Identificar os aspectos jurídicos da inquisição;
Concluir sobre a sua importância na evolução histórica do direito.
3. CONCEITO DE INQUISIÇÃO
O significado de inquisição extrapola aquele encontrado no dicionário, qual afirma: tribunal onde se julgavam os crimes em matéria de religião. A santa inquisição foi um instrumento genuinamente católico que visava punir e exterminar os condenados de descrença ou desvio dos preceitos da religião. 
Rodeada de uma auréola de fanatismo e intransigência, constituiu uma instituição complexa, que variou notavelmente de forma segundo os lugares e épocas históricas.
Santo Ofício foi a designação dada ao tribunal eclesiástico vigente na Idade Média e começo da modernidade, que julgava os hereges e as pessoas suspeitas de se desviarem da ortodoxia católica. Sua origem remonta ao século IV , mas atingiu o auge no século XIII, no combate às heresias e a outras práticas contra a fé e a unidade do cristianismo. Depois entrou em declínio, até ressurgir em novos moldes na Espanha e em Roma, onde alcançou enorme poderio.
4. ASPECTOS HISTÓRICOS DA INQUISIÇÃO
4.1 A INQUISIÇÃO MEDIEVAL
Foi no período da Baixa Idade Média (século XII e XIII) que o poder eclesiástico atingiu o seu apogeu. Os reis recebiam o seu poder da Igreja, que os consagrava e podia excomungá-los. A organização e o prestígio do papado saíram fortalecidos da questão das investiduras.
Em 1229, ante o fracasso das medidas de repressão contra a seita dos albigenses, na França, o sínodo de Toulouse decidiu instituir um tribunal especial contra os hereges. Finalmente, em 1231, o papa Gregório IX criou o Tribunal da Inquisição, com o objetivo de investigar, prender e julgar todos os suspeitos de heresia. Atuou sobretudo no sul da França, norte da Itália, reino de Aragão e na Alemanha.
O termo heresia englobava qualquer atividade ou manifestação contrária ao que havia sido definido pela Igreja em matéria de fé. Dessa forma, na qualificação de hereges encontravam-se os mouros, os judeus, os cátaros e albigenses, além dos supostos praticantes de bruxaria. A chamada Inquisição Medieval, consistia na identificação e condenação de indivíduos suspeitos de heresia.
No que tange aos procedimentos e penas aplicados, o processo era sumário. Mulheres, crianças e escravos eram admitidos como testemunhas de acusação, mas não de defesa. Se o processado delatava parentes, amigos e outras pessoas, passava a gozar de “regalias”. Era crime, para o Santo Ofício, qualquer ofensa à fé ou aos costumes. Considerava-se crime de judaísmo acender velas ou usar toalhas limpas no começo do sábado, abster-se de comer carne de porco ou de peixe sem escamas, jejuar no dia do Perdão ou da rainha Ester. O tribunal recolhia denúncias de quem quer que fosse, mesmo feitas por fontes anônimas.
Depois de preso, o réu era submetido a longos interrogatórios, não lhe sendo comunicado o motivo da prisão, nem o nome do denunciante. O advogado de defesa era nomeado pelo Santo Ofício. Os réus que se declaravam culpados eram “reconciliados” com a Igreja e quando absolvidos, assinavam o “termo de segredo”, em que juravam nada revelar do que se passava a portas fechadas. A violação do segredo era equiparada ao crime de heresia.
A prática da tortura para obter a confissão do réu, habitual nos processos civis da época, foi repelida de início pelos papas, que chegaram a encarcerar alguns inquisidores por sua crueldade. Em 1252, no entanto, o papa Inocêncio IV autorizou o uso da tortura quando se duvidasse da veracidade da declaração dos acusados. A partir de então, o emprego de métodos hediondos na busca pela confissão se generalizou, atingindo vários países da Europa Ocidental e Oriental, e tornando a condenação cada vez mais desumana, variando entre execução dos condenados pelo fogo, banimento, trabalhos forçados, prisão, e invariavelmente, no confisco de bens.
Durante os séculos XIV e XV a inquisição caiu paulatinamente e passou a ser utilizada com fins políticos. Exemplo disso foi a morte na fogueira de Joana D’arc, em 1431.
4.2 A INQUISIÇÃO MODERNA
Se na Idade Média, no exato período de sua instituição, a Inquisição cumpria o objetivo específico de conter os desvios da fé Católica, na Idade Moderna apresentará motivações mais político-econômicas do que religiosas.
Sua criação pela Igreja Católica e expansão até meados do século XV, está inserida em um contexto de ameaça às bases do catolicismo, já na Idade Moderna, não há essa ameaça , e no entanto, a instituição persistiu, caracterizando o que chamaremos de segunda fase inquisitória. Nesta fase, não será mais a Igreja a entidade responsável por controlar a Inquisição, mas os Estados Nacionais em formação, que a utilizarão conforme seus interesses políticos e econômicos. Os perseguidos pela Inquisição também serão diferentes. Ao invés de bruxas e hereges, o principal foco de perseguições será composto por judeus convertidos. Isso porque esse grupo havia enriquecido durante a ocupação muçulmana, sendo assim, sua perseguição foi o meio mais eficaz que os Estados encontraram de se apropriarem rapidamente de suas riquezas. Além disso, a inquisição foi utilizada para conter o avanço dos protestantes na Itália e para punir inimigos dos reis. Dentre os inquisidores mais cruéis desta fase, está o frade dominicano Tomás de Torquemada, o principal inquisidor espanhol. Este tinha tanto poder que rivalizava com os reis da Espanha. Calcula-se que Torquemada tenha condenado à morte de 2.000 à 10.000 pessoas. 
A frieza do frade era tamanha que ele rezava baixinho enquanto os acusados tinham sua pele queimada ,unhas arrancadas e parafusos aplicados no polegar.
Torquemada difundia que os judeus não eram confiáveis e que o país (a Espanha) precisava possuir apenas sangre limpia, ou seja, sangue puramente cristão. No afã de obter dos reis católicos a expulsão de todos os judeus, promoveu,em 1490, uma inquisição espetáculo, onde as vítimas foram oito judeus, acusados de praticar rituais satânicos de crucificação de crianças cristãs. Pressionados pelo clima de crescente intolerância, em 31 de março de 1492, Isabel de Castella e Fernando de Aragão, (os reinos católicos que unidos formaram a Espanha) publicaram o “Édito de Expulsão”. Foi permitido aos judeus que permanecessem até julho na Espanha, a partir daí, os que fossem encontrados seriam mortos. Muitos fugiram para Portugal ou Norte da África, onde encontraram mais perseguições, outros, sem alternativas, permaneceram na Espanha como judeus ocultos. A ação intolerante de Torquemada trouxe-lhe resistências, as quais chegaram ao papa Alexandre VI, que restringiu gradativamente seus poderes de atuação, até destituí-lo do cargo em 1494.
Entre os terríveis instrumentos de tortura que se generalizaram nesta segunda fase estão o corta-joelhos, o triturador de cabeças, o arranca seios e a donzela de ferro.
A inquisição foi extinta gradualmente ao longo do século XVIII, embora só em 1821 se dê sua extinção formal, deixando, no entanto, como herdeira a Congregação pela Doutrina da Fé , a mais antiga das nove congregações instituídas pela Cúria Romana em substituição à Suprema e Sacra Congregação do Santo Ofício, que era a responsável pela criação da Inquisição em si. Todavia, sua atual função é difundir a doutrina católica e defender os pontos de sua tradição que possam estar em perigo, como consequência de doutrinas novas não aceitáveis pela Igreja Católica. A congregação também trata dos casos de abuso sexual e da instituição dos ordinariatos pessoais. 
4.3 A INQUISIÇÃO NO BRASIL COLÔNIA
Diferentemente do que ocorrera nas colônias espanholas, a América portuguesa não contou com tribunal do Santo Ofício próprio, apesar da malograda tentativa do seu estabelecimento no período filipino. Com efeito, a Colônia ficou sob a égide da Inquisição de Lisboa, que exercia jurisdição também sobre outras partes do Império luso: as Ilhas Atlânticas, Norte e porção Ocidental da África.
Apesar de nunca ter tido uma sede na Colônia, a Inquisição portuguesa agiu no Brasil por meio de várias estratégias, que variaram no tempo e no espaço. As visitações, a colaboração dos bispos e das Ordens Regulares (sobretudo a Companhia de Jesus), a Justiça Eclesiástica e uma rede de agentes, composta principalmente por Comissários e Familiares, foram os principais mecanismos utilizados pelo Santo Ofício para atingir a Colônia portuguesa.
Antes do envio das visitações à colônia e da formação da rede de agentes próprios, a colaboração dos bispos foi muito importante para a atuação do Santo Ofício na América Portuguesa.
Os bispos tinham poderes para efetuar prisões, confiscar bens e enviar prisioneiros ou seus processos para a inquisição de Lisboa, que tratava dos casos relativos ao Brasil. Assumindo feições diversas, essa relação entre membros da esfera Eclesiástica e Inquisição existiu durante todo o período colonial.
No final do século XVI , a Inquisição passou a enviar visitações à América Portuguesa. A primeira delas, realizada por Licenciado Heitor Furtado de Mendonça, ocorreu em 9 de junho de 1591, na Bahia, e estendeu-se até 1593, quando partiu para Pernambuco, onde permaneceu durante dois anos. A Bahia seria novamente visitada entre 1618 e 1621 por Marcos Teixeira. Ainda na década de 1620, embora a documentação seja mais escassa, temos notícia sobre uma outra visitação que percorreu o Brasil, passou por Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo. Para esta última apenas uma pessoa foi processada, Izabel Mendesm acusada de judaísmo.
De 1591 a 1624 foram processados 245 cristãos-novos, acusados de judaísmo. Em 1646 realizou-se no Colégio de Campanha de Jesus, na Bahia, uma “grande inquisição”. Foram ouvidas mais de 120 testemunhas e denunciadas mais de 100, entre cristãos-novos, hereges e feiticeiros.
A estratégia de ação do Santo Ofício através das visitações, foi utilizada sobretudo no século XVI e na primeira metade da centúria seguinte. A partir desse período as visitações entram em decadência. Concomitante ao declínio das Visitações, notamos um crescimento do número de habilitações de agentes inquisitoriais expedidas pelo Santo Ofício, cujo ápice foi atingido no século XVIII. Em sua primeira década a Inquisição fez prisões em massa. No Auto-da-Fé de 1711 havia 52 brasileiros. 
Isso significa que a Inquisição foi mudando sua estratégia, passando a se apoiar cada vez mais na rede de agentes próprios, composta principalmente por Comissários, Notórios, Qualificadores e Familiares.
As perseguições e os confiscos nesse período levaram a uma paralisação crescente na fabricação do açúcar, principal artigo produzido pelo Brasil na época, o que prejudicou seriamente o comércio. De 1694 a 1748, 18 brasileiros foram condenados à morte pela Inquisição de Lisboa. 
Desde as primeiras visitações, no entanto, as denúncias de práticas heréticas surgiam das mais variadas formas, qualquer declaração sem provas ou dedução precipitada bastava para que as autoridades retirassem o condenado de seu lar para responder ao processo. Após preso pelas autoridades, o acusado passava por uma série de torturas que tinham como principal função obter a confissão do herege. Uma das punições mais comuns era cortar as plantas dos pés dos acusado e , depois de untá-las com manteiga, expor as feridas em um braseiro. Somente quando alguém não confessava o pecado a morte na fogueira era utilizada.Sendo um instrumento de forte natureza coercitiva, os membros do tribunal da Inquisição acreditavam que a humilhação pública era um instrumento de combate bem mais eficiente que a morte. Ao longo de toda a Inquisição , cerca de 500 pessoas foram denunciadas no Brasil, sendo a maioria acusada de disseminar o judaísmo.
5 - ASPECTOS JURÍDICOS DA INQUISIÇÃO
Em função da inter-relação entre Igreja e Estado na Idade Média, a inquisição tornou-se uma operação primariamente judicial, com foco na manutenção dos interesses da Igreja pela afirmação como única religião possível, e do estado na perseguição de nobres e opositores ao regime do soberano e diminuição da ameaça econômica e patrocínio da coroa pelo confisco dos bens dos condenados.
O incipiente direito laico da era medieval foi fortemente influenciado pelo direito canônico. O direito canônico foi o único redigido e era analisado desde a Alta Idade Média além de aplicado exclusivamente pelos tribunais eclesiásticos. A jurisdição destes tribunais, durante a Idade Média, estendeu-se também aos leigos. Portanto, era de competência destes tribunais julgarem todo e qualquer crime ou infração cometidos contra a religião, desde heresia e bruxaria, até adultério.
5.2 TIPOS DE PROCESSO
Entre os séculos XII e XIII houve uma mudança no sistema penal no que confere ao regime do processo, passando de um tipo irracional (acusatório) para um tipo racional (inquirição). Este foi o período de formação dos principais direitos europeus. Esta mudança foi desencadeada pela Igreja, através da proibição em 1215 da participação de clérigos nos ordálios, pondo fim ao processo irracional, o qual estava atrelado a participação do religioso abençoando-o. Esta mudança deve-se ao fato de que o novo modelo racional de processo garantia melhores resultados aos interesses da Igreja, pois minimizava possíveis falhas de procedimento e concentrava o poder decisório nas mãos dos juizes. Para entender esta mudança, caracterizamos os dois principais tipos de processos, a seguir.
5.2.1 O ACUSATÓRIO
Neste tipo de processo a ação era provocada por uma pessoa particular ou seu representante, que efetuava uma acusação pública sob juramento, iniciando um processo contra o acusado. Em caso de provas contundentes ou confissão, passava-se a sentença emitida pelo juiz. Porém, em caso de dúvida, o julgamento era procedido de forma irracional, através, geralmente de um ordálio. Colocava-se o assunto nas mão de Deus, não cabendo ao homem investigar o supostocrime. Daí a classificação de processo irracional. Os ordálios mais comuns envolviam submersão em água ou óleo fervente, e no caso de um milagre de Deus o suspeito era considerado inocente. Em caso de inocência do suspeito o processo virava contra o acusador.
O juiz era neste tipo de processo um árbitro imparcial, nunca decidindo, apenas orquestrando o processo, o que resultava deveras num outro tipo de solução das questões, o duelo judicial, onde o acusado e o acusador, ou seus padrinhos, duelavam e a vitória de um presumia sua inocência.
Este período é classificado na história do direito como o da vingança privada.
5.2.2 O INQUÉRITO
O processo por inquérito substituiu o acusatório a partir do século XIII e foi o principal procedimento da chamada Santa Inquisição a partir do século XVI. Era caracterizado pela figura do juízo humano, pautado nas regras racionais do direito. O procedimento racional, evitava as principais falhas do acusatório, como a dificuldade de julgamento dos crimes ocultos, a possibilidade de manipulação dos ordálios, o risco ao acusador, e a compurgação (vide Direito à defesa) dos abastados.
Neste procedimento a acusação ainda poderia ser privada, mas o acusador não era responsabilizado, podendo ser inclusive anônimo. Veio de encontro ao interesse da Igreja em sufocar a influência dos judeus, mouros e árabes, bem como a proliferação das seitas nos territórios europeus. Os oficiais, Inquisidores, podiam eles mesmos investigar e denunciar quem quisessem com base em suas próprias desconfianças. Além do que quaisquer boatos nas aldeias já serviam de base para os procedimentos inquisitoriais. Qualquer alteração de comportamento ou humor poderia desencadear acusações de heresia, inclusive acusações provocadas por inimizade eram investigadas. Porém o procedimento racional não representou um avanço evolutivo do ponto de vista da defesa, pois ao concentrar os poderes de investigação, julgamento e execução nas mãos dos oficiais inquisidores, resultou na possibilidade de ação das maiores barbáries cometidas pelo homem contra si mesmo até então.
Os crimes denunciados eram julgados pelos oficiais, que representavam o sagrado e o soberano, visto que este era expressão do poder secular consagrado pelos bispos, e as penas executadas sob o prisma do direito de punir do soberano. Os crimes investigados pela inquisição não eram mais de uma parte a outra e sim crimes contra o próprio estado. Este período ficou caracterizado na história do direito como período da “vingança pública”.
5.3 FORMAS DE ACUSAÇÃO
No acusatório, a denúncia privada.
No inquisitório, denúncia privada, inclusive anônima; de oficio (dos próprios inquisidores) baseada em boatos, fofocas, suspeitas públicas baseadas nos tratados de bruxaria, e indicação de cumplicidade extraída do réu através de tortura. Este tipo de acusação, transformava cada processo concluso em uma gama de novos processos ocasionando a multiplicidade dos mesmos. As acusações geralmente estendiam-se aos familiares do investigado.
5.4 MÉTODOS COMUMENTE UTILIZADOS
No acusatório, os métodos de julgamento eram irracionais. Ficavam a cargo do divino. Eram utilizados desde ordálios até duelos judiciais. Não haviam investigações além das provas apresentadas pelo acusador. O juiz era apenas um organizador do processo.
No inquisitório, o interrogatório do acusado e de testemunhas era a principal ferramenta de investigação. Além do interrogatório, o corpo dos acusados de bruxaria e pacto com o demônio era inspecionado na busca de sinais na pele (genéticos ou cicatrizes) e alfinetado sistematicamente na busca por áreas de insensibilidade como prova da ligação com o satânico.
As denúncias eram acatadas de diversas fontes, e a necessidade de resolução dos casos dentro do método judicial canônico exigiu a adoção de métodos de tortura, autorizados pela Igreja em 1252, também para os crimes de heresia e bruxaria, conforme orientação dos tribunais seculares. A utilização da tortura, cada vez mais técnica e cruel, ocasionou um fenômeno de confissão superior a 95% dos casos, e era peça fundamental do inquérito, pois os juízes não queriam condenar alguém injustamente, mas invariavelmente fariam qualquer coisa para obterem uma confissão.
Um dos aspectos identificados na evolução das técnicas de tortura corresponderia hoje ao critério de dosimetria da pena. Algumas técnicas eram preferidas por possibilitarem a dosagem do sofrimento a ponto de estender a aplicação da técnica sem levar o acusado a morte, e suspender mais facilmente após a obtenção da confissão desejada.
O condenado, caso confesso, era obrigado a assumir em público os seus desvios, além de pedir perdão a Deus e aos santos pelos seus pecados. Na maioria dos casos era a última saída para um desfecho misericordioso: ser morto por estrangulamento antes de ser queimado, para não sofrer demasiado sendo queimado ainda vivo.
5.5 DIREITO A DEFESA
No acusatório, o direito a defesa resumia-se ao método irracional, onde podia contar com a sorte, subornar os responsáveis pelos ordálios, ou caso tivesse condições, utilizar-se da compurgação. A compurgação consistia em reunir muitas testemunhas a favor da inocência e da honestidade do acusado, garantindo assim sua absolvição. Era um artificio empreendido unicamente por pessoas de renomada reputação e/ou muitas posses.
Já no inquisitório, ao contrário do que possa parecer, e apesar da sistematicidade pelo método desenvolvido a partir do direito canônico, onde eram registradas todas as etapas do mesmo a partir da acusação, o direito a defesa era quase inócuo. Conforme (Foucalt, 2012), os procedimentos corriam em segredo absoluto. Tamanho segredo era utilizado de modo que o acusado não sabia muitas vezes do que tinha sido acusado, quem o acusara, e na remota hipótese de absolvição, assinava um termo de compromisso de manter em segredo tudo o que foi desenvolvido dentro do processo de investigação. Este segredo tolia a possibilidade de ampla defesa, e a única averiguação às vezes utilizada pelos inquisidores era perguntar ao acusado uma lista de seus inimigos para ver se dentre eles figurava o acusador. A confusão dos acusados era tamanha que algumas vezes confessavam sob tortura um crime, e na verdade estavam sendo acusados de outro.
5.6 TIPOS DE CONDENAÇÃO
A confissão obtida era o auge do processo inquisitório, em seguida vinha a condenação, e imediatamente a execução da pena.
Durante a vigência do processo inquisitório, as penas comumente aplicadas eram, humilhação pública, prisão, prisão perpétua, mutilação seguida de morte, morte na fogueira, estrangulamento seguido de incineração, morte por decapitação podendo utilizar-se da guilhotina.
Todo condenado confesso era obrigado a assumir a culpa em público, para caracterizar o grau exemplar da pena como forma de constranger o restante da população em cometer os mesmos delitos, e assim justificar a ação dos inquisidores oficiais.
Em todos os casos de condenação, a pena, sem caráter de pessoalidade, passava pelo confisco total dos bens do condenado, sob o pretexto de custear o processo como um todo. A pena de confisco foi amplamente utilizada e incentivada durante a Inquisição espanhola na Idade Média contra os infiéis como forma de arrecadação pela coroa de Aragão e Castella, e de equilíbrio econômico entre a nobreza espanhola predominantemente feudatária, contra os povos judaicos e árabes, competentes mercantilistas.
Além do que esta impessoalidade da pena expandia pelo critério inquisitorial da hereditariedade as acusações a todos os membros da família do condenado, passando estes ao grau de suspeitos pelos mesmos crimes do executado.
CONCLUSÃO
Como visto, a Inquisição foi um tema bastante amplo no que tange ao estudo da Idade Média e da Idade Moderna, pois sendo fruto da expressão do poder dual, exercido pela Igreja e pelo estado absolutista medieval ,serviu a ambos em seus propósitos de afirmação. A Igreja utilizou-se da perseguição aos infiéis e descrentes e contou com o aparato bélicodo estado em seu favor. O estado absolutista utilizou-se deste mecanismo desenvolvido pela igreja para eliminar os entraves aos seus interesses econômicos e de poder, respaldando-o sempre que necessário. É um fenômeno na história da humanidade tão importante pelas revoluções que o sucederam quanto pelo enorme genocídio que provocou. Foram tantas arbitrariedades provocadas nestes processos inquisitórios, que acabaram levando uma gama de pensadores a disseminar doutrinas revolucionárias, como as que embasaram a revolução francesa no final da Idade Moderna. Esta revolução marcou o fim de uma relação de poder exercido pela monarquia sobre o povo e veio a decretar o nascimento do reconhecimento positivo dos direitos fundamentais do homem.
Não podemos dizer que a humanidade aprendeu a lição, pois, após a Idade Média ainda vem presenciando vários tipos de genocídio e toda sorte de atentados à condição humana, mas, se esquecermos deste episódio, corremos o risco de repetir os nossos erros do passado.
Identificar os aspectos legais e jurídicos da inquisição fornece subsídios ao entendimento do sistema jurídico e penal que exercemos na contemporaneidade e como ele se desenvolveu, ajuda a entender que ele não é perfeito e instiga a pensar como poderíamos melhorá-lo sem recair nas armadilhas as quais já são por nós conhecidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir, 36ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 18º vol. São Paulo: Encyclopaedia Britânica do Brasil, 2000. 
NOVINSKI, Anita Waingort, Inquisição: Prisioneiros do Brasil (séculos XVI a XIX), Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2002.
NOVINSKI, Anita Waingort, Inquisição. Os cristãos novos na Bahia, 11ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007.
RODRIGUES, Aldair Carlos, Sociedade e Inquisição em Minas Colonial, TCC - Universidade de São Paulo (USP), 2007.
SOUZA, Laura de Mello e, O Diabo e a terra de santa cruz, São Paulo: Cia das Letras, 1986.
VAINFAS, Ronaldo et. all.(org.), Inquisição em Xeque: Temas, Controvérsias, Estudos de Caso. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2006.
WOLKMER, Antônio Carlos (org.), Fundamentos de história do direito, 3ª ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

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