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Introdução ao Estudo das Ciências da Cognição SEIDL DE MOURA, M. L._ CORREA,

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Ralar Antônio Celso Alves Pereira 
Vice-reitora Nilcéa Freire
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO 
DO RIO DE JANEIRO
Conselho Editorial
Elon Lages Lima 
Gerd Bornheim 
Ivo Barbieri (jPresidente)
Jorge Zahar
Leandro Konder
Pedro Luiz Pereira de Souza
Maria Lucia Seidl de Moura 
Jane Correa
Estudo Psicológico do Pensamento 
de W Wundt a uma Ciênda da Cognição
Rio de Janeiro 1997
Capítulo VII
Introdução ao Estudo das 
Ciências da Cognição
The domain of cognitive science consists of the 
accruing of knowledge about human cognition, 
through disciplinary and (increasingly) 
scholarship. In the short run, such progress is 
difficult to assess with confidence.
Gardner
1.
Introdução
Introdução
O termo Ciências da Cognição designa uma abordagem 
multidisciplinar no âmbito do estudo dos processos cognitivos. 
Entre as disciplinas envolvidas neste projeto temos a Psicologia 
Cognitiva, as Neurociências, a Lingüística, a Lógica e as Ciências 
da Computação. Não é difícil pois concluir que esta área é 
permeada por uma diversidade de abordagens e métodos. E 
possível, no entanto, estabelecer um ponto comum em meio a 
toda esta diversidade: o interesse pelo estudo da inteligência.
Diversas tentativas foram feitas no sentido de definir a 
inteligência. A tentativa de unificação das diversas conceituações, 
na verdade, se mostra tão difícil quanto tentar unificar as diversas 
teorias das quais estes conceitos derivam. Contudo, poucos de 
nós discordariam que ao resolvermos problemas, ao responder­
mos aos desafios intelectuais que nos impõe a vida profissional 
ou às nossas atividades do quotidiano não estamos expressando 
um comportamento inteligente. Convenientemente, poder-se-ia,
Introdução ao Estudo das Ciências da Cognição
entâo, como Simon e Kaplan (1989), definir inteligência como a 
capacidade de execução de tarefas intelectuais, independentemen­
te da natureza do sistema que exibe tal habilidade. Neste sentido, 
o termo inteligência não seria apenas aplicado aos sistemas huma­
nos, mas, também, aos animais e aos sistemas artificiais, como os 
computadores. As Ciências da Cognição têm, portanto, como 
escopo principal o estudo da inteligência, esteja ela presente em 
sistemas humanos, animais ou artificiais.
Há algum tempo, a Psicologia vinha estudando o compor­
tamento inteligente não só dos seres humanos como dos animais; 
no entanto, é um ramo das Ciências da Computação - a Inteli­
gência Artificial - que se incumbirá do estudo do comportamen­
to inteligente dos programas computacionais.
O ideal de uma máquina inteligente, isto é, uma máquina 
que pudesse executar funções normalmente associadas à mente 
humana, toma forma na década de 30 com Allan Turing, um 
então desconhecido matemático inglês (Gardner, 1985). Este 
desenvolve a idéia de que uma máquina simples poderia ser 
construída a partir do emprego de um código binário (composto 
de zeros e uns), e que através deste código poder-se-ia elaborar 
e executar um número infinito de programas. Turing mostrava- 
se de tal modo entusiasmado com o projeto, que vislumbrou a 
possibilidade de construção de uma máquina que tornasse impos­
sível distinguir as respostas dadas por esta máquina de respostas 
de um eventual interlocutor humano na mesma situação - pro­
posição que ficou conhecida como o Teste da Máquina de Turing.
Outras importantes contribuições para o projeto de cons­
trução de uma máquina inteligente foram as de C. Shannon e J. 
von Neumann (Gardner, 1985). Shannon estabeleceu analogias 
entre o cálculo proposicional e a rede de circuitos elétricos, ex­
plorando a idéia de que as proposições da lógica booleana teriam 
seu paralelo no ligar/desligar de um circuito elétrico. Qualquer
154
Introdução
operação a ser executada por uma máquina traduzir-se-ia nas 
operações binárias de ligar e desligar realizadas por uma rede de 
circuitos elétricos.
John von Neumann, por sua vez, desenvolveu a concepção 
de uma máquina em cuja arquitetura existia uma unidade interna 
de memória que podia armazenar os programas ou conjuntos de 
instruções que regulavam as operações a serem realizadas pela 
máquina
No entanto, o desenvolvimento efetivo de tais máquinas 
será levado a cabo por uma segunda geração de cientistas, que 
inclui A. Newel, H. Simon e Marvin Minsky, que, a partir da 
década de 50, passaram a contar com condições propícias. Os 
computadores deixaram portanto de serem usados somente para 
o cômputo propriamente dito, e passaram, primordialmente, a 
serem empregados nas tarefas de manipular, estocar e transfor­
mar símbolos.
155
2.
O Surgimento do Projeto das 
Ciências da Cognição
De acordo com Howard Gardner (1985), poder-se-ia buscar 
uma data de nascimento oficial para o projeto das chamadas 
Ciências da Cognição; esta, no consenso de muitos de seus fun­
dadores, situar-se-ia na década de 50 quando, em diversas áreas 
como Psicologia, Ciências da Computação e Lingüística, teve 
lugar vigorosa reação teórica ao movimento Behaviorista.
Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, os esforços de 
guerra promoveram o desenvolvimento de determinadas ativida­
des científicas e tecnológicas cujas conseqüências teóricas se mos­
traram de grande importância para o surgimento de um projeto 
de Ciências da Cognição. Baterias anti-aéreas mais sofisticadas 
faziam-se então necessárias, sendo essencial a correção permanen­
te dos controles, de modo que os alvos fossem atingidos com 
perfeição. Problemas desta natureza, a cargo de pesquisadores do 
M lT (Massachusetts Institute of Technology - Instituto de 
Tecnologia de Massachusetts) fizeram com que estes pesquisado­
res redefinissem conceitos até então tidos como de cunho 
metafísico, e, portanto, banidos do vocabulário científico da época
Introdução ao Estudo das Ciências da Cognição
pelo movimento behaviorista. Conceitos como retroalimentação, 
planejamento e propósito adquirem grande relevância.
São publicadas nesta década algumas obras de destaque 
que se contrapõem aos preceitos teórico-metodológicos do 
Behaviorismo. N o campo da Psicologia, estabelecem-se dois 
marcos importantes para a futura constituição da Psicologia 
Cognitiva na América do Norte: a) O trabalho de Bruner, 
Goodnow e Austin sobre o processo de categorização e b) O 
estudo de George Miller sobre as limitações físicas da capacidade 
da memória humana de curto prazo, e sobre a natureza de sua 
organização.
Segundo Gardner (1985), no âmbito das ciências da com­
putação, os trabalhos mais importantes são os de A. Newell & 
H. Simon - The Logic Theory Machine, de 1956, onde os autores 
demonstram a capacidade da máquina de provar os teoremas 
contidos na obra Principia Matbematica de A. N. Whitehead e B. 
Russel, dois lógico-matemáticos britânicos. Também muito rele­
vante é a publicação póstuma do livro do matemático John von 
Neumann - The Computer and theBrain (O Computador e a Mente) 
- uma coletânea de seminários do autor que discute vários aspectos 
emergentes da Ciências das Computação, como o conceito de 
programas, a função de memória da máquina e as perspectivas 
de construção de máquinas inteligentes.
Na Lingüística, os trabalhos de Chomsky além de apresen­
tarem uma crítica contundente aos princípios behavioristas relati­
vos ao estudo da linguagem, inauguram uma nova abordagem na 
análise dos fenômenos lingüísticos. Chomsky concentra-se no 
estudo dos aspectos sintáticos da Língua, advogando a possibi­
lidade de priorizar o estudo da sintaxe das Línguas, frente aos 
aspectos relativos ao significado (semântica) e ao uso destas (prag­
mática). Para isto, adota procedimentos dedutivo-formais, com o 
objetivo de gerar um sistema formalizado de regras que atendes­
158
O Surgimento do Projeto das Ciências da Cognição
se a dois critérios fundamentais:a) Ser capaz de dar conta de um 
número indeterminado de possíveis sentenças gramaticais a serem 
criadas pelos falantes da língua e b) Não permitir a geração de 
sentenças consideradas não-gramaticais, ou seja, de sentenças cuja 
formação não seria reconhecida como pertencente ao universo 
lingüístico estudado.
A idéia de uma gramática gerativa postulada por Chomsky 
exerceu marcante influência no estudo de processos cognitivos 
em que o pensamento é focalizado em sua capacidade de 
processamento lingüístico. As idéias de Chomsky influenciaram 
também trabalhos subseqüentes, como os de Jerry Fodor, jovem 
professor do MIT nos anos 60, e um dos atuais expoentes da 
teoria da Modularidade da Mente.
No entanto, as idéias de Chomsky foram também objeto 
de poderosas críticas, principalmente pelo seu excessivo 
formalismo na análise do fenômeno lingüístico. E importante 
assinalar porém que o projeto de uma gramática gerativa é fruto 
não só da perspectiva singular de Chomsky, mas também de uma 
era de acirrados debates acerca das perspectivas abertas pelos 
autômatos e programas inteligentes
A Neuropsicologia também constitui uma importante re­
ferência dos estudos sobre a cognição. Uma série de pesquisas 
empíricas foram realizadas, principalmente nos Estados Unidos, 
Inglaterra e União Soviética sobre a afasia (distúrbio de lingua­
gem) e a agnosia (distúrbio de reconhecimento), com pessoas que 
sofreram lesões cerebrais por ocasião da Segunda Guerra Mun­
dial. Entre as importantes contribuições trazidas por estes estu­
dos, destacamos as de Alexander Luria, importante neuropsicólogo 
soviético.
Luria trabalhou com Vygotsky, e foi por seu intermédio 
que o Ocidente tomou conhecimento das idéias de Vygotsky, 
através da divulgação póstuma de seus manuscritos. Os trabalhos
159
Introdução ao Estudo das Ciências da Cognição
de Luria e seus colaboradores são de grande importância para a 
formulação de um novo modelo de organização do cérebro e 
das funções cognitivas. Seus trabalhos opõem-se à representação 
da organização do sistema nervoso baseada numa perspectiva 
eminentemente localizacionista, onde cada região do cérebro 
manteria tuna correspondência pontual com determinada função 
cognitiva
As investigações levadas a cabo por Luria evidenciaram 
que, ao longo do processo de desenvolvimento, diferentes cen­
tros nervosos se tomam dominantes, e que a hierarquia entre suas 
diferentes funções também se altera ao longo do processo. Para 
Luria, nenhuma função seria desempenhada plenamente por ape­
nas uma determinada região do cérebro, como quer a hipótese 
localizacionista. Por outro lado, não é possível afirmar o con­
trário, ou seja, que todas as regiões são igualmente responsá­
veis por uma função específica. Segundo Luria, diferentes 
regiões do cérebro podem ser responsáveis por uma determi­
nada função, porém cada uma destas regiões é responsável 
por uma determinada contribuição, específica e de certa maneira 
insubstituível
Dois aspectos podem ser apontados como principais não 
só nos trabalhos de Luria mas também no de outros centros de 
pesquisa na América e Europa para o desenvolvimento específico 
da Neuropsicologia, bem como para o estudo dos processos 
cognitivos de um modo geral.
O primeiro deles diz respeito à contribuição dos estudos 
das disfunções observadas em pacientes portadores de lesões 
cerebrais para a compreensão do funcionamento normal do 
cérebro. O segundo, refere-se à construção de um modelo de 
organização cerebral. As evidências empíricas propiciadas por 
estes estudos levaram sobretudo à crítica do modelo teórico de 
cunho associacionista e elementarista da organização cerebral.
160
O Surgimento do Projeto das Ciências da Cognição
Em resumo, poder-se-ia dizer que o projeto de Ciências 
da Cognição não é um projeto unitário, nem do ponto de vista 
das disciplinas que o compõem, nem do referencial teórico ado­
tado. Em comum, pode-se apontar o intento de elaboração de 
uma teoria sobre a cognição, ou, mais especificamente, uma teo­
ria sobre os sistemas inteligentes. Embora não seja um consenso 
entre os pesquisadores da area, um número significativo de inves- 
tigações enfatiza o uso da simulação por computador e dos 
conceitos derivados da utilização do modelo computacional na 
construção de teorias.
161
3.
Psicologia Cognitiva e Algumas das 
Problemáticas em Investigação
De uma maneira geral, dois tipos de abordagens têm orien­
tado as pesquisas empíricas sobre os processos cognitivos (Simon 
& Kaplan, 1989). Embora enfocando problemáticas diferentes, 
estas abordagens não são excludentes.
A primeira destas abordagens recebe influência da Lógica 
e da Psicolingiiística. Nela, o pensamento ora é visto como um 
processo dedutivo, ora como uma representação da linguagem. 
São característicos deste tipo de abordagem as pesquisas voltadas 
para o estudo dos modelos semânticos e do raciocínio dedutivo.
A segunda vertente recebe influência da Psicologia Cognitiva 
e dos trabalhos em Inteligência Artificial, sendo o pensamento 
investigado sob uma perspectiva heurística. São exemplos desta 
perspectiva os trabalhos sobre a solução de problemas, obtenção 
de conceitos e raciocínio indutivo.
N o bojo destas diferentes linhas de investigação encon­
tram-se três problemas diversos. O primeiro deles diz respeito à 
natureza da linguagem humana. Questiona-se se a linguagem 
humana envolveria uma faculdade altamente especializada, em
Introdução ao Estudo das Ciências da Cognição
seus aspectos sintáticos, semânticos ou fonéticos, e se tal especia­
lização seria melhor representada como um componente separa­
do da cognição humana.
Um segundo ponto importante recai sobre a escolha da 
melhor representação para a cognição. Seria o processo de pen­
samento identificado com o raciocínio lógico, e portanto repre­
sentado como um processo dedutivo e hierárquico, ou melhor 
seria representar a cognição como um processo de busca de 
procedimentos?
Um terceiro aspecto, refere-se ao tipo de representação do 
conhecimento. Seria o conhecimento melhor representado sob a 
forma de proposições ou conjunto de proposições, de acordo, 
portanto, com um modelo de representação dedutivo-hierárqui- 
co para a cognição? Ou melhor seria escolher um modelo 
heurístico, baseado em imagens mentais de situações-problema?
Em relação aos modelos teóricos em Psicologia Cognitiva, 
registre-se ainda a divergência entre os modelos ditos generalistas 
e os que se baseiam em módulos. O primeiro modelo teórico 
tem longa tradição nos estudos dos processos cognitivos e pre­
tende descrever uma representação global da organização cognitiva 
Poderiam ser tomados como exemplos desta tradição autores 
como Bruner e Piaget.
De outro lado, encontram-se os teóricos que postulam um 
modelo modular de organização cognitiva, em que cada módulo 
em particular operaria um determinado tipo de informação, como, 
por exemplo, a linguagem, a música ou outro conteúdo especí­
fico. Um dos mais destacados representantes desta linha de inves­
tigação é Jerry Fodor.
Fodor sugere que a mente deveria ser entendida como um 
conjunto de diversos módulos mentais, ou seja, como um con­
junto de faculdades mentais altamente específicas em relação a 
determinado conteúdo. As operações psicológicas seriam carac­
164
Psicologia Cognitiva e Algumas das Problemáticas em Investigação
terizadas por domínios específicos independentes. Por exemplo, 
as operações mentais requeridas para o reconhecimento de faces 
seriam distintas daquelas de reconhecimento de sons musicais.
Estes módulos, ou faculdades mentais, seriam relativamen­
te independentes uns dos outros, ou, melhor dizendo, auto-sufi- 
cientes. Assim, poderíamos continuar a ouvir uma música ainda 
que nossa atenção consciente seja desviada para outro evento.
O princípio que organizao funcionamento de cada um 
destes módulos mentais seria inato, não dependendo de nenhum 
tipo de treinamento externo para se desenvolver. Poder-se-ia dizer 
que os módulos mentais contemplam habilidades mentais inatas 
altamente especializadas no trato com determinado tipo de estí­
mulo (informação).
Os módulos mentais teriam, também, um modo de fun­
cionamento automático, fora do nosso controle consciente. Em 
conseqüência, tais módulos poderiam operar com extrema rapi­
dez. Por exemplo, podemos compreender com uma pequena 
defasagem de tempo, o conteúdo de uma leitura que fazemos em 
voz alta.
A teoria da modularidade da mente tem ganho suporte 
empírico, principalmente através de evidências obtida em crianças 
e adultos cujas habilidades gerais são excepcionalmente pobres, e 
que, no entanto, demonstram habilidades sofisticadas em domí­
nios especializados (música, aritmética, linguagem etc.). Outra forte 
evidência provém do relato de casos de crianças-prodígio que 
demonstram excepcional habilidade em domínios específicos ain­
da muito novas, sem que estas habilidades possam ser explicadas 
através de suas interações sociais, e sem que estas mesmas habi­
lidades tenham exercido qualquer influência em outros domínios 
cognitivos.
Apesar de corroboradas por evidências empíricas que não 
podem ser ignoradas, a teoria de módulos mentais apresenta
165
Introdução ao Estudo das Ciências da Cognição
problemas teóricos a serem equacionados. O principal deles diz 
respeito à própria arquitetura da mente, em decorrência do con­
junto de módulos que a compõem, e das fronteiras entre estes. 
Quantos e quais seriam estes módulos? Haveriam módulos men­
tais responsáveis por distinguir a ilusão da realidade ou que per­
mitam considerar simultaneamente duas ou mais variáveis para a 
solução de um determinado problema?
Estes e outros problemas referentes aos modelos que 
melhor descrevem a organização dos processos cognitivos ainda 
são objeto de intenso debate.
166
4.
A Psicologia Cognitiva e o 
Paradigma Computacional
Em Psicologia Cognitiva, o desenvolvimento de modelos 
baseados no uso de metáforas computacionais pode ser 
exemplificado pela teoria do processamento das informações. 
Embora referida neste capítulo como uma teoria, expressão usa­
da por conveniência, a teoria do processamento das informações 
seria melhor descrita como uma abordagem mais geral, que enfeixa 
diversos modelos teóricos específicos.
A teoria do processamento das informações busca seus 
fundamentos na Teoria da Comunicação, no estudo da Inteligên­
cia Artificial, e na Psicolingüística, abordagens que floresceram 
após a Segunda Guerra Mundial, a partir do estudo da infor­
mação e do desenvolvimento tecnológico das “máquinas inteli­
gentes”.
Segundo a teoria do processamento das informações, a 
cognição é vista como um sistema cuja essência é a manipulação, 
a estocagem e a transformação das informações. O pensamento 
seria, na verdade, o resultado da aplicação de um conjunto de 
regras às informações presentes no sistema.
Introdução ao Estudo das Ciências da Cognição
Esta conceptualização envolve um modelo funcional, emi­
nentemente dedutivo, baseado na aplicação de regras. Freqüente­
mente, a dinâmica do processo de pensamento é representada 
através de fluxogramas que procuram detalhar a seqüência de 
procedimentos envolvidos no processamento particular de uma 
determinada informação. A elaboração de tais fluxogramas, que 
envolvem a análise detalhada dos processos envolvidos na reso­
lução de uma determinada tarefa, é característica dos modelos 
teóricos baseados na teoria do processamento das informações.
Os modelos teóricos baseados no processamento das in­
formações ganham destaque nos Estados Unidos com pesquisa­
dores como Robert Siegler. Pesquisas são conduzidas, por exem­
plo, com o objetivo de investigar quais informações seriam rele­
vantes para a solução de uma determinada tarefa, e como estas 
informações seriam estocadas e manipuladas pela criança. As 
dificuldades encontradas pelas crianças seriam explicadas, princi­
palmente, pela sua limitada capacidades de processar informa­
ções, ou seja, devido ao fato da criança ter uma capacidade 
limitada de memória, além de restrições no uso de estratégias 
para aquisição e uso da informação. Com o desenvolvimento da 
criança, as limitações relativas à capacidade de processamento de 
informação vão sendo superadas, tendo como conseqüência uma 
mudança qualitativa em seu desempenho.
Em geral, as teorias derivadas do modelo de processamento 
de informações dividem a cognição em diferentes sistemas, e 
tentam estudar como estes diversos sistemas ou módulos mani­
pulam, transformam ou estocam as informações.
O delineamento de um modelo para a cognição que espe­
cifique os componentes fundamentais da cognição como um 
sistema de processamento de informações implica descrever sua 
arquitetura. O modelo clássico desta arquitetura prevê a existência 
de uma unidade de memória capaz de estocar tanto o programa
168
A Psicologia Cognitiva e o Paradigma Computacional
como os dados, de componentes responsáveis pela entrada e 
saída de informações e de um processador com capacidade para 
manipular e transformar símbolos, segundo um modelo de 
processamento serial.
Este modelo de arquitetura tem sofrido críticas principal­
mente devido a seu caráter serial. De acordo com os críticos, o 
modelo de entrada de informação de um sistema inteligente é, na 
verdade, paralelo, ou seja, conta com múltiplas entradas de infor­
mação em diversos pontos do sistema. Ao invés de descrever o 
pensamento através de um modelo linear de processamento de 
informações, com a realização de uma única operação por vez, 
poderíamos pensar em um modelo de processamento em para­
lelo, melhor representado por um modelo de redes. No entanto, 
como dissemos anteriormente, o debate no interior das Ciências 
da Cognição é recente, e provavelmente ainda nos reservará 
importantes reformulações e novos pontos de vista.
169

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