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CRIMINOLOGIA Mod VIII

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VIII. MODELOS DE REAÇÃO AO DELITO.
1. Modelo dissuasório clássico.
Tem como postulados:
- Cobertura normativa completa;
- Tendência intimidatória;
- Rigor e rapidez das penas;
- Efeito dissuasório da pena;
- Autolimitação da atuação penal (modelo garantista);
- Órgãos persecutórios bem estruturados.
Características:
- Os instrumentos de intervenção consistem nas normas e sanções penais, as quais têm eficácia limitada, pois só condicionam os comportamentos sociais se coincidirem com os objetivos das famílias, escolas, opinião publica;
- Defende a tutela dos pressupostos essenciais de convivência autolimitada ao seu âmbito de atuação, pois o modelo penal garantista só atua nas infrações graves, quando não existirem outras estratégias;
- Limita o garantismo ao necessário à proteção dos direitos e garantias do cidadão;
- Preconiza limites ao poder punitivo através da exigência de humanidade e proporcionalidade do castigo.
2. Modelo do paradigma ressocializador.
Tem como fundamentos:
- Orientação humanista;
- Atuação positiva e ressocializadora sobre o condenado;
- Orientação no cumprimento e execução do castigo para que tenha utilidade;
- Privilegia a certeza do castigo;
- Assume a natureza social do problema criminal;
- Defende a neutralização das conseqüências do castigo;
- Tem interesse exclusivo e real no condenado;
- Preconiza a adoção de técnicas e terapias que facilitem a ressocialização.
Características:
- Intervém por meio de programas ressocializadores, que podem ter fins tutelares, assistenciais ou encobrir desígnios defensivos, conforme se encare o delinqüente como um ser inválido, marginalizado ou selvagem, respectivamente.
Entretanto, o pensamento ressocializador privilegia a dignidade do infrator, ignorando direitos legítimos das vítimas.
Além disso, não há comprovação cientifica de êxito na ressocialização, pois todo prognóstico depende da personalidade do infrator.
Há, também, os que entendem o crime como produto social, devendo-se ressocializar a sociedade.
- A pena deve orientar-se à educação do infrator, abrindo-lhe caminho para a vida social.
- O processo de reinserção deve continuar após a saída do presídio, contando também com os esforços da sociedade.
- Os métodos e técnicas de tratamento em âmbito penitenciário incluem tratamentos médicos e os de finalidade pedagógica.
3. Modelo integrador.
Tem como fundamentos:
- A necessidade de evitar o impacto estigmatizante do sistema legal;
- A melhor satisfação das expectativas de um dos protagonistas, no caso, a vítima do conflito criminal;
- A falta de legitimação ativa do sistema em tirar o conflito das mãos de seus proprietários.
Características:
- Insere a conciliação e a reparação de danos causados à vítima, à sociedade, e a pacificação social na resposta ao delito.
- Procura atender aos interesses, expectativas e exigências de todas as partes envolvidas no conflito;
- É flexível, utilizando vias alternativas ao sistema legal, com soluções informais e comunitárias porque entende que o crime é um conflito interpessoal e que sua solução efetiva deve ser encontrada pelos próprios implicados e, não, imposta pelo sistema legal através de critérios formalistas e de elevado custo social;
- Através da mediação, da conciliação e da reparação de danos pretende resgatar a dimensão interpessoal do crime, com solução satisfatória para a vítima e melhoria do clima social através de uma justiça de base comunitária, que assuma a realidade do crime;
- Suas metas e objetivos são mais exigentes;
- Seus custos sociais são mais baixos.
Ao conceber o crime como conflito interpessoal real, concreto, o modelo integrador resgata o que o sistema formal tinha neutralizado, redefinindo o ideal de justiça.
Propõe uma intervenção não repressiva no conflito através:
- da educação e da comunicação;
- da reconstrução de vínculos informais como garantia de cumprimento das normas;
- prevenção do delito.
A justiça restaurativa tem como paradigmas a participação voluntária da vítima, do agressor e da comunidade afetada que, com a colaboração de mediadores, atuam com autonomia responsável, sem que geralmente haja qualquer hierarquia entre eles.
Os interessados participam ativamente da resolução das questões decorrentes do crime, que podem ser ofensas físicas, morais, psicológicas ou patrimoniais, com a ajuda de um mediador independente e imparcial que facilita a comunicação entre as partes.
Essa interposição de terceira pessoa na solução do litígio configura a mediação, que pode estar focada no acordo ou na relação.
A conciliação é um modelo de mediação focado no acordo, pois prioriza o problema e o acordo entre as partes, devolvendo à vítima um papel ativo e dinâmico na resposta ao delito. Assim, a vítima é repersonalizada.
Apesar de adotar a hierarquia e limitar a confidencialidade e a autonomia entre as partes, a conciliação humaniza a justiça por torná-la mais leiga, comunitária, integradora, pacificadora, que compreende os conflitos a partir da sua origem e que busca soluções, ao invés de impô-las.
Na mediação focada na relação, através da confrontação direta com a vítima, o infrator obtém efeitos positivos e deixa de ser visto como um ser patológico, passando a ser encarado como um indivíduo capaz de reconhecer as conseqüências dos seus atos e participar da busca de soluções.
No âmbito criminal, a justiça restaurativa complementa a estrutura oficial, mantendo o respeito aos princípios de ordem pública do Estado Democrático de Direito.
Em decorrência da complexidade das questões criminais, são necessários vários encontros restaurativos.
Paradoxalmente, a justiça restaurativa é mais exigente, pois pretende que o criminoso assuma a realidade do dano e a própria responsabilidade, sem a necessidade de atitudes repreensivas degradantes.
O alto conteúdo pedagógico é conseqüência natural da percepção, pelo agressor, do dano causado à vítima.
Permite, também, uma resposta flexível, adaptada a cada caso de acordo com a complexidade social, e alivia os tribunais dos assuntos menos importantes.
Atua por meio do pacto, do consenso, da negociação, confiando no compromisso das partes, utilizando procedimentos informais, flexíveis e operativos.
Os procedimentos abordam os conflitos internamente, sem impor critérios externos, com solução satisfatória que repercute na paz social.
Entretanto, a conciliação não se aplica aos delitos graves, por razões de prevenção geral, em decorrência da necessidade de controle social formal, nem às infrações de pequena importância, que podem ser solucionadas com mera advertência. 
A mediação sugere compromisso comunitário, já que uma justiça restaurativa visa à conciliação entre o infrator e a vítima, reparação do dano e recuperação do delinqüente.
A reparação de danos inclui, além dos aspectos materiais e econômicos, o reconhecimento público do dano causado e retratação do infrator perante a vítima por meio de procedimentos informais.
O resultado restaurativo deve satisfazer às necessidades de todas as partes, podendo consistir na reparação de danos, na restituição de algum bem e na prestação de serviços à comunidade, além de demarcar as respectivas responsabilidades visando à reintegração da vítima e do agressor. 
 A justiça restaurativa tem uma finalidade institucional, pois à medida que aumenta a eficiência e a humanidade do sistema penal, aperfeiçoa a administração da justiça formal, e uma finalidade político-criminal, já que não se preocupa exclusivamente com a resposta ao comportamento criminoso, mas com a reparação de danos tanto materiais quanto os causados às relações e à confiança afetadas pelo crime.
Implica em mudanças na aplicação da justiça tradicional, porque introduz uma nova forma de tratar o fenômeno criminal, visando a abrandar seus aspectos negativos. Não pode, entretanto, afrontar asgarantias penais e processuais como a igualdade entre as partes. 
4. modelo criminológico Crítico.
A Nova Criminologia ou Criminologia Crítica é um movimento que surgiu a partir da segunda metade do século XX, opondo-se aos modelos existentes com base no seguinte posicionamento:
- Reivindica maior autonomia frente ao Direito Penal e um modelo criminológico crítico que desloque a investigação, das perspectivas biológicas e psicológicas, para as propostas sócio-criminais.
- Propõe o controle do comportamento desviado como meta interdisciplinar e interprofissional coordenada.
- Tem interesse em conhecer o interior do crime para captar o seu sentido para o infrator, necessitando de uma postura de empatia dos investigadores do fenômeno delitivo.
- Preconiza a utilização de técnicas qualitativas e longitudinais.
- Estuda as trajetórias e carreiras delitivas, que propiciam uma concepção mais dinâmica do fenômeno criminal, os mecanismos de controle social e as interações delinqüente-vítima.
A Nova Criminologia ou Criminologia Crítica tem como características:
- a problematização e relativização do conceito de delito, preferindo a expressão “comportamento desviado”;
- questiona a própria reação social e sua incidência supostamente favorável como prevenção;
- defende a troca progressiva da pena por controles sociais menos destrutivos e estigmatizantes;
- valoriza o crime dos poderosos, os delitos sem vítima, o problema das drogas e a prostituição;
- tem interesse na investigação dos delitos que agridem bens jurídicos supra-individuais, sócio-econômicos e financeiros, os consumidores, a qualidade de vida etc..
- tem atitude de crítica política e preocupação com a transformação social;
- rejeita propostas abstratas e não históricas;
- na prevenção, serve-se de medidas invasivas em relação a terceiros e de concepções que alterem a fisionomia dos bairros e cidades, pois apesar das vantagens da prevenção primária, a prevenção situacional é necessária ao atendimento das exigências da opinião pública, que reclama soluções imediatas.

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