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Síntese sobre a obra lilia Schwarcz: Um enigma chamado Brasil

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
RENATA ANDRADE BRITO
SÍNTESE: 
MISCIGENAÇÃO COMO FORMAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL
VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
2017
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Curso: Direito 
Turma: 2016.2
Docente: Lucas Pereira Carwile
Discente: Renata Andrade Brito
	A identidade nacional brasileira, da forma como reconhecemos hoje, não é homogênea, ela é formada pela conjunção de várias culturas, etnias e povos diferentes. Entretanto, essa identificação nem sempre foi assumida dessa maneira. Até a Era Vargas existiam ciências que procuravam formular uma personalidade homogênea para todo o país, representadas, inclusive dentro do próprio governo, pelas campanhas de nacionalização, que procuravam conter a influência dos imigrantes sobre os brasileiros. 
	Os brasileiros, até então, não admitiam, totalmente, que o Brasil se constituiu desde o inicio da fusão de três raças: a branca, a negra e a índia. Essa miscigenação, que possuía papel decisivo no rumo da nação que se formava, foi objeto de estudo de pesquisadores das mais diversas várias áreas de conhecimento, a partir do final do século XIX. Nesse período e antes dele, o país era o destino para os naturalistas, que primeiramente vieram interessados pela natureza e se deparam com a mistura de raças. 
	É nesse sentido que o Brasil destaca-se internacionalmente, como um país mulato, assim disse Silvo Romero, importante escritor e critico do período, “se não no sangue ao menos na alma”. Porém, essa mistura não era interpretada de forma positiva, mostrava-se como uma possível resposta para o atraso no desenvolvimento da nação, não só em aspectos econômicos e sociais, bem como na carência de conhecimentos. 
	Na época das grandes navegações ficaram visíveis às existências de diferenças entre os povos que constituem a humanidade, nesse sentido durante o século XVIII, com a disseminação do pensamento etnocêntrico, os povos recém “descobertos” passam a ser denominados de primitivos. Essa caracterização dar-se em vista da concepção do que era o homem civilizado da época e da busca dos povos primitivos por essa civilização. 
Mesmo assim, somente a partir dos anos 1870, com o fim de uma economia sustentada pela escravidão e ascensão da classe média, que surge no cenário brasileiro as teorias discutidas há décadas na Europa, com ideais evolucionistas, positivistas e darwinistas. Dentro de todas elas os pensamentos voltados para o cunho da análise racial possuía papel de destaque, no âmbito nacional essas teorias adentram ainda de forma desconexas, já que existiam diferenças nas realidades nas quais elas foram desenvolvidas e para a nacional. 
Em meio a tantas teorias e a tentativa de formação de uma identidade nacional, o tema racial, por seu caráter ainda pessimista quando o assunto era a mistura das raças, aparece, de certa forma, como um argumento justificativo para a conservação da hierarquia social existente no período escravista e a diferenciação nos direitos individuais entre a população. Essa desigualdade é destacada na teoria de Rousseau, quando diz que todos os seres humanos são capazes de chegarem a “perfectibilidade”, mas que nem todos a alcançariam.
Como sua visão era mais humanista, Rousseau acreditava que os povos primitivos eram bons, mas que a evolução social os corrompeu, porém as vertentes que contrariam essa visão ganharam mais espaço no território nacional. Cornelius de Pauw introduz o conceito de degeneração ligado às espécies tidas como inferiores, consequentemente a diferenciação entre as raças passa a compor titulo biológico. Existia, então, um embate entre as duas visões sobre qual seria a origem da humanidade.
Os monogenistas, com um pensamento mais humanista, acreditavam que os homens teriam uma origem comum, essa ideia baseada nos textos bíblicos, e que na degeneração de alguns povos estaria a diferença entre eles, junto a ela nasceu à análise etnológica, que possuía uma ideologia mais social e filosófica e a acreditava na evolução das raças. Contrariando essas ideias existia a hipótese poligenista, baseada na biologia, entendia que a origem se dava de forma distinta para cada espécie/raça.
Para tonificar esse pensamento um ramo da antropologia, que estudava o tamanho dos crânios, demonstrou quantitativamente a existência de diferenças físicas entre indivíduos de povos distintos. Com a publicação e ampla aceitação, por diversos setores, da obra de Charles Darwin, comprovando que partimos de um ancestral comum e após assumirem viés evolucionista, que trazia a noção que as raças passam por um processo de aperfeiçoamento, o conflito entre as visões se tranquilizaram e conceito de raça passa adentrar no campo politico e cultural. 
Porém a obra de Darwin, em longo prazo, parecia confirmar as ideias poligenistas, essa visão é bastante influenciada pela teoria determinista, que também se dividia em duas esferas: a geográfica e a racial. A primeira considerava a interferência do meio como determinante para o desenvolvimento da nação, o clima explicaria, por exemplo, o temperamento do brasileiro, tido muitas vezes como indolente, preguiçoso e símbolo de sexualidade. Silvio Romero, apesar de acreditar na influencia do meio no comportamento humano, considerava a problemática racial nacional mais importante e abrangente que isso. 
Por conseguinte, o determinismo voltado para questão racial possui mais domínio nas discursões, que não se restringiam apenas a elite. Conhecido pelo nome de Darwinismo social, esse ramo via de forma ainda mais pessimista a miscigenação, entendia que o cruzamento entre as raças estava fadado à degeneração e deveria ser evitado a todo custo, assim como a diferença existente também se encontrava no ramo cultural e psíquico. Isso implicou em um pensamento de submissão de uma raça a outra, ou, em casos extremos como o que ocorreria futuramente na Alemanha, até de extermínio. 
Consequentemente, criava um conflito com o pensamento evolucionista, disseminado pela antropologia cultural, de que todos os povos da humanidade se desenvolveriam e isso ocorreria de forma igualitária, já que acreditava no gênero humano de maneira unificada. Nesse contexto, onde a miscigenação carregava os piores genes de cada raça, a distinção entre os conceitos de diferença e desigualdade ficam claros. 
Desigualdade passa enquadrar-se na concepção de desenvolvimento do evolucionismo, essas teriam caráter transitório e estava sujeita a mudanças. Já o termo diferenças, possuía vínculo com pensamento do darwinismo social, seguia a ideia do diferenciado potencial biológico de cada raça e que a civilidade não é acessível a todos. Raça também é um conceito que passa por redefinição no final do século XIX, além de remeter a ideia biológica, passa a designar a nação.
Todas essas linhas de pensamento de cunho racial começam a ser, verdadeiramente, discutidas no âmbito universitário, principalmente dentro das faculdades de Direito, a de Recife e a de São Paulo. Em comum possuíam poucas características, como a valorização da profissão e a ideia que elas serviram para criar uma nova elite intelectual no país. Entretanto, apesar da influência das teorias raciais estarem presente nas duas faculdades, na de Recife percebe-se uma maior tendência para essa problemática, enquanto na de São Paulo preocupava-se mais com as questões politicas. 
Apesar do inicio conturbado, em Recife os estudantes buscavam dar ao curso um sentindo mais científico, aliado aos estudos naturais. Assim, eles tentam adaptar as teorias raciais ao direito, aplicando-as a realidade nacional, era como se dentro das linhas de pensamentos disponíveis fossem escolhidas algumas características que se mostravam mais pertinentes para a problemática da miscigenação nacional. Nessa mesma escola ocorreu o apogeu das teorias deterministas por causa da sua atitude científica, aplicando-se até na literatura, a geográfica foi bastante enfatizada pelo escritor Euclides daCunha, em sua obra O Sertão, apesar de posteriormente descartada já que o meio era tido como propicio para evolução. 
Proveniente dessa linha de pensamento, Silvio Romero é o primeiro a falar do mestiço como o fruto de uma raça, ainda em formação, no Brasil e que ele seria a solução para uma homogeneidade buscada na identidade nacional. É a partir dele que a faculdade começa integrar outras matérias para o campo de estudo, uma das mais importantes, e já citada, é a antropologia criminal, percebe-se essa relevância pela quantidade de artigos publicados na Revista Acadêmica da instituição. 
A antropologia criminal, é descendente da hipótese poligenista, tem como grande pesquisador Cesar Lambroso, trazendo a criminalidade determinada por fatores: físicos, antropológicos e sociais, definindo uma imagem para o criminoso. Essa ideia é bastante comentada e aprovada por Nina Rodrigues, médico considerado o pai dessa disciplina, que enxergava no mestiço a figura criminosa particularmente nacional, dessa maneira critica a representação dos “homens de leis” por não criarem um código penal com punição diferenciada para cada tipo de delinquente. Na sua visão, toda mistura de raça se degeneraria, isso, além dos fatores de higiene e educação, explicariam as doenças típicas da raça negra. 
Na faculdade de direito de Recife, os acadêmicos sentiam forte senso de responsabilidade na formação da nação, viam que o Brasil era um país mestiço e isso não mudaria. Sendo assim, procuram maneiras de suavizar a ideias radicais expostas pelas teorias raciais, para que elas se encaixassem nas particularidades nacionais, nesse contexto o estado teria um papel de integrar todas as realidades nacionais existentes. Não se via esse caráter, de certa forma revolucionária, em São Paulo, eram contra o determinismo social, já que a presença da corrente evolucionista os fazia acreditar na possibilidade de evolução e perfectibilidade dos homens, mesmo que eles continuem desiguais. 
Como seu interesse maior estava na questão politica do país, tinham uma interpretação “liberal” do Estado e a partir dos anos 30, do século XX, faziam um apelo pela democracia como condição para evolução. Antes desse período, nos anos 90, a discursão sobre miscigenação era tema polêmico entre os intelectuais, ainda concentrado nas universidades de medicina e direito. Entretanto, como a noção de raça passa a dar lugar à noção de cultura, elimina uma série de preconceitos sobre a herança transmitida pelo mestiço e o direito começa a cumprir um papel acima das diferenças.
A questão racial ainda se mostrava extremamente influente, inclusive, na formação de um Estado que ainda não estava consolidado, e desenvolvia-se de forma diversa no país. Nesse sentido, o sociólogo e antropólogo, Renato Ortiz traz em sua obra “Cultura brasileira e identidade nacional” a “implausibilidade” das teorias raciais, ele não entendia como elas foram aceitas de formas tão radicais em um país onde o meio e as raças são elementos tão importantes para a construção de uma identidade nacional. 
Após a Revolução de 30, as mudanças passaram a ser orientadas politicamente, o Estado procurava consolidar o desenvolvimento social interno e as teorias raciais tornam-se atrasadas. A explicação de que era a da miscigenação a culpada pela degeneração e a atraso do país não se sustenta mais. 
Aparentemente, não há nada que justifique ou explique esse atraso em que se vêem, as dificuldades que têm encontrado no seu desenvolvimento. O meio é propício, e por isso mesmo, diante desta anomalia, o sociólogo não pode deixar de voltar-se para o passado a fim de buscar as causas dos males presentes. (BONFIM, 1903, p.35 apud ORTIZ, 1985, p.24).
Dessa forma, Bonfim culpa as metrópoles europeias pelo atraso existentes não só no Brasil, mas em todos os países latinos, ele usa o termo parasitismo social. Onde as potências europeias seriam os parasitas, e as nações da América latina seriam as vitimas que com o tempo atrofiariam por tamanha exploração. E ao contrário, de Nina Rodrigues e Silvio Romero, considerava a miscigenação com “renovadora”. 
Com o governo de Vargas existe um programa de valorização da figura mestiça, mesmo que contradissesse as politicas de embranquecimento da população na mesma época. A obra literária “Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freyre, ajuda no processo de transformação da negatividade em figura positiva, a ideia do Brasil-cadinho, da fusão das três raças, torna-se aceitável. Essa identidade mestiça deixa mais difícil identificar as diferença entre as raças. Existe também uma ação cultural que se volta para à música popular e a figura do “malandro” é substituída por uma ideologia voltada para o valor do trabalho. A figura no mestiço passa a ser a identidade nacional tanto procurada.
REFERÊNCIAS: 
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 7-44.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças – cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SCHWARCZ, Lilia Motriz. Nina Rodrigues: Um radical do pessimismo.  In: BOTELHO, André; SCHWARCZ, Lilia Motriz. Um enigma chamado Brasil: 29 intérpretes e um país. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 90-103.