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Resumos de Temas em Psicanálise

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Resumo da dinâmica da transferência
Na Dinâmica da Transferência (1912), Freud reitera a tensão libidinal parcialmente insatisfeita, se encontra pronta por antecipação, dirigindo-se à figura do analista , sendo a transferência elaborada tanto pelas idéias antecipadas conscientes quanto por aquelas que foram retidas ou que são inconscientes. "...a transferência é ela própria, apenas um fragmento da repetição, e a repetição é uma transferência do passado esquecido." A transferência faz com que a libido torne-se acessível à consciência; neste ponto, todas as forças aparecerão como resistência ao trabalho da análise, de modo que toda a intensidade e persistência da transferência são efeito e expressão da resistência. O primeiro passo para superar a resistência se deve ao fato do analista revela-la ao paciente. Embora as pessoas tenham capacidade de dirigir pulsões libidinais às outras, esta tendência aumenta muito na transferência psicanalítica. O amor trasferencial é: 1) provocado pela situação analítica ; 2)intensificado pela resistência 3) não corresponde à situações da realidade.
Sobre a dinâmica da transferência "Deve-se compreender que cada indivíduo, através da ação combinada de sua disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica... Isso produz o que se poderia descrever como um clichê estereotípico..." - Freud (1912).
Com esta frase que inicia o texto "A dinâmica da transferência", Freud explicita o mecanismo neurótico da repetição - o clichê estereotípico da vida erótica do indivíduo, para introduzir o conceito de transferência, um fenômeno que então se atualiza e portanto se repete na interação analista-analisando.
Segundo Laplanche e Pontalis, transferência designa em psicanálise "o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica." E segue. "Trata-se aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida com um sentimento de atualidade acentuada."
Poderíamos dizer que o neurótico só produz a transferência pois de alguma forma busca inconscientemente reviver uma situação infantil, principalmente a ocasião da satisfação plena simbiótica.
Ocorre que a busca incessante e repetitiva do neurótico pela satisfação plena não tem fim, pois não é possível replicar a satisfação primordial. O desejo então não finda. O objeto da pulsão figura como uma eterna miragem. Como aquela caricatura do burro que corre atrás da cenoura presa diante e distante de sua fronte.
Ora, é por isso que na análise, a identificação da transferência permite um manejo técnico onde o analisando terá a oportunidade de romper com a repetição, ou ao menos refletir sobre a iminência da repetição. A análise permite uma não alienação acerca destas repetições e dos seus porquês, o que amplia a condição de liberdade do indivíduo.
Resumo do caso clínico de Freud: O caso Dora
O caso publicado por Freud em 1905, a saber, o caso Dora, trata-se de uma história clínica de uma jovem histérica, de apenas 18 anos que Freud atendeu por apenas três meses. Neste caso, Freud conseguiu romper as limitações impostas pelo sigilo médico, onde os aspectos sexuais são abordados de forma clara, o que para época causou certo impacto. Ele trás o sonho como fundamental no entendimento do caso, introduzindo uma equivalência entre os sonhos e os sintomas, pois há relação entre a maneira como são formados os sintomas e a maneira como são formados os sonhos, pois tanto os sonhos quanto os sintomas são do inconsciente. Tendo como objetivo demonstrar a estrutura íntima da doença neurótica e o determinismo de seus sintomas. Conforme proposto, darei partida aos sintomas, fenômenos elementares e queixas de Dora que a levou a Freud no ano de 1900. Em seguida, apresentarei um resumo do caso para melhor entendimento do mesmo.
FENÔMENOS ELEMENTARES E QUEIXAS DE DORA
Os sintomas neuróticos de Dora começam, segundo relato de Freud, aos oito anos de idade, onde ela apresenta uma dispneia crônica, com acessos ocasionais incluindo crise de asma e falta de ar. Na época, o distúrbio foi diagnosticado como distúrbio nervoso. Sendo este, oprimeiro registro da doença neurótica de Dora. Ela teve as doenças orgânicas normais, sempre marcadas por certo excesso, se comparado com o irmão que tinha infecções comuns às crianças, e com ela, sempre era um caso de contágio. Com doze anos, ela começa a ter dores de cabeça, enxaquecas e acessos de tosse nervosa. A enxaqueca desapareceu aos dezesseis anos. Mas os acessos de tosse nervosa continuaram a ocorrer e, quando ela posteriormente se consultou com Freud, aos dezoito anos, ela tossia de maneira característica da tosse nervosa, uma tosse seca, sem secreção. Os acessos de tosse duraram de três a cinco semanas e, em certa vez, teriam durado diversos meses. O sintoma mais incômodo para Dora era uma afonia, uma perda completa da voz. Evitava contatos sociais. Tinha fadigas e falta de concentração, sentimento de grande desânimo e uma visível alteração no caráter. Demonstrava uma tendência psíquica de se matar e se via em ataques de perda de consciência seguida de amnésia. Todas as tentativas de tratar esses sintomas segundo relatos de Freud foram em vão, pois Dora achava graça da incapacidade dos médicos de não conseguir curá-la. Foi quando ela enfim foi apresentada a Freud, e seus sintomas e etiologias puderam ser entendidas e trabalhadas a luz da psicanálise.
RESUMO DO CASO CLÍNICO: DORA
O caso em si, começa de fato, aos relatos de Freud acerca da dinâmica familiar de Dora, ou seja, seu circuito familiar. Dora morava com seus pais e um irmão mais velho. O pai se apresentava como dominante desse círculo, que forneceu o suporte sobre o qual se deu a história infantil e patológica da paciente em questão. Dora tinha muito carinho e era muito apegada a seu pai. Esse carinho era enaltecido como consequência das graves doenças que seu pai obteve desde que ela tinha seis anos de idade. Devido ao fato do pai de Dora ter contraído tuberculose, sua família se mudou para a cidade que Freud chamou de B. Permaneceram por dez anos nesta cidade. Quando Dora estava com oito anos começou a apresentar seus primeiros sintomas neuróticos.
Quando a menina tinha dez anos, seu pai teve de submeter-se a tratamento em quarto escuro por causa de um descolamento de retina. A doença mais grave aconteceu cerca de dois anos depois que consistiu numa crise confusional, tendo como sintomas: paralisia e ligeiras perturbações psíquicas. Um amigo do pai de Dora, o convenceu a viajar para Viena com seu médico e consultar-se com Freud. Foi por essa intervenção que, quatro anos depois, Dora lhe foi apresentada movida pela autoridade do pai, onde a mesma foientregue para tratamento psicoterápico. 
Freud viu Dora pela primeira vez no início do verão, quando ela estava com dezesseis anos, sofrendo de tosse e rouquidão, e Freud propôs um tratamento psíquico, que não foi adotado, pois a crise desapareceu espontaneamente. No inverno seguinte, após a morte de sua tia, ao qual tinha um grande apreço, adoeceu com um quadro febril que foi diagnosticado como apendicite. No outono seguinte, como a saúde do pai parecia justificar essa medida, a família deixou por vez a estação chamada de B, fixando residência permanente em Viena.
Como fruto de sua morada em B, contou o pai de Dora a Freud, que havia feito uma amizade íntima. A Sra. K. cuidou do pai em durante seu período enfermo, o que fez com a mesma tivesse sua eterna gratidão. O Sr. K. sempre foi extremamente agradável com Dora, e a levava para passear com ela no período que eles estavam em B. Ele dava pequenos presentes, mas ninguém via má intenção nesse ato. Dora tinha um ótimo relacionamento com os dois filhos dos K, e os tratava como se fossem seus próprios filhos. Quando o pai e Dora foram se consultar com Freud, dois anos antes, eles estavam prestes a viajar para ir ao encontrodos K, onde Dora iria passar várias semanas na casa deles. Quando seu pai se preparava para partir, Doraanunciou com estranheza que queria ir com ele, e foi. O comportamento estranho foi explicado só depois de alguns dias, onde Dora contou a sua mãe para que fosse transmitido ao pai, que o Sr. K. lhe fez uma proposta amorosa, durante uma caminhada depois de um passeio pelo lago. Sr. K negou tal afirmação de Dora e como informação vinda da Sra. K. já mostrava interesses sexuais como consequência de sua leituras sobre o tema, e isso explicava o comportamento de Dora como algo imaginado. O pai acreditou nessa história, e não rompeu laços com os K como Dora insistiu, estava ligado a Sra. K. por grande amizade e não queria magoá-la. 
A Sra. K. era muito infeliz no casamento e encontrava no pai de Dora o seu único apoio. O casal K sempre falava em divórcio, o único elo que os uniam eram os filhos. Dora ouvia as confidencias da Sra. K. e sabia o estado das relações dela com o marido. Ela se identificava também com a Sra. K. no amor por seu pai.
A experiência de Dora com o Sr. K., suas propostas amorosas a ela, forneceu o trauma psíquico onde sabemos ter ocorrido na vida da paciente, mas isso não basta para esclarecer a especificidade do sintoma. Alguns dos sintomas como a tosse e a perda da voz tinham sido produzidos pela paciente anos antes do trauma, segundo informações de Freud, eque suas primeiras manifestações remontavam à infância, pois tinham ocorrido quando Dora tinha oito anos. Na teoria do trauma, deve-se retroceder até a infância tornando-se primordial na busca por influências que explique o efeito análogo ao de um trauma. 
O tratamento seguiu seu curso, e Dora comunicou informações sobre uma experiência anterior com o Sr. K.,onde no período em que Dora tinha 14 anos de idade, o Sr.K combinou com ela e sua esposa que fossem encontrá-lo em sua loja na praça principal, para assistir um festival religioso, mas ele a induziu a esposa a ficar em casa, dispensou os empregados e se encontrava sozinho quando Dora chegou à loja. Logo após, ao invés de sair voltou e surpreendeu Dora dando-lhe um beijo nos lábios, sendo a primeira sensação de excitação sexual sentida e por Dora, mas o que ela sentiu no momento uma intensa repugnância. Dora, que vinha aceitando os assédios do Sr. K., nessa situação, fugiu. Mesmo assim a relação com o Sr. K continuou e nenhum dos dois jamais mencionou esta cena. As consequências sintomáticas refletidas em Dora após esta experiência se resumem em três: a repugnância, a sensação de pressão na parte superior do corpo, e a hesitação de conversar afetuosamente com homens. A repugnância se inclui nas manifestações afetivas da vidasexual.
Dora não conseguiu perdoar seu pai por continuar a manter relações com o Sr. K. e, mais particularmente, com a Sra. K. Para ela não havia nenhuma dúvida de que o que ligava seu pai a Sra. K. era um relacionamento amoroso. Nos passeios de todos em comum, seu pai e a Sra. K. sempre sabiam arranjar as coisas de modo a ficarem a sós. O pai começou a dar grandes presentes à Sra. K. e, para disfarçá-los, tornou-se ao mesmo tempo generoso com a mãe de Dora e com ela mesma. E a Sra. K., até então doentia, ela mesma obrigada a passar meses num sanatório para doentes nervosos por não poder andar, tornara-se agora uma mulher sadia e cheia de vida. Diante disso, Dora tinha a concepção de ter sido entregue ao Sr. K. como prêmio pela tolerância dele para com as relações entre sua mulher e seu pai. A ternura de Dora por seu pai pressente sua fúria por ser usada dessa forma. Segundo Freud, ela tinha razão em achar que seu pai não queria esclarecer o comportamento do Sr. K. em relação a ela para não ser molestado em seu próprio relacionamento com a Sra. K. Mas Dora na ocasião, fez a mesma coisa. Ela se tornou cúmplice desse relacionamento e repudiara, ou seja, ignorava todos os sinais que pudessem mostrar sua verdadeira origem.
Tempos atrás, houve uma governanta que tentou abrir osolhos de Dora, para que a mesma pudesse ver que entre o pai e a Sra. K. não era apenas um relação de amizade, tentando alertar também a mãe. Mas seus esforços não valeram de nada, pois Dora estava ligada a Sra. K. Ela deixou-a de lado quando percebeu que seus interesses estavam voltados para seu pai.
Dora então, passou a expressar seus sentimentos secretos pelo Sr, K. através de sintomas patológicos como acessos de tosse acompanhados de perda da voz que duravam o tempo que o Sr. K ficava ausente. Ela aprendeu observando a Sra. K., quanto proveito se podia tirar das doenças. Ao passo que a Sra. K. demonstrava com suas doenças, aversão ao marido. Mas como nos diz Freud, não é sua intenção afirmar que em todos os casos em que há crises periódicas de afonia deve-se diagnosticar a existência de um amado que se ausenta temporariamente. Há particularidades de caso a caso. No caso de Dora, estava bem específico. Para a terapia, os determinantes mais importantes são os que vêm do material psíquico acidental, os sintomas são desmembrados buscando sua significação psíquica. Uma vez removido tudo o que se pode eliminar pela psicanálise, o que fica são as condições de formar as conjecturas, sobre as bases somáticas dos sintomas, que geralmente são constitucionais e orgânicas. No caso dosacessos de tosse e afonia de Dora segundo Freud, há de contentar com uma interpretação psicanalítica, mas por trás dela há o fator orgânico de que partiu a “complacência somática” que possibilitou expressar sua afeição por um amado ausente. O que há é a intenção de adoecer.
Todos os casos que são desenvolvidos na íntegra são prováveis que se encontrem motivos que sustentam a condição do doente. Porém, há casos com motivos puramente internos, como a autopunição. Assim, verifica-se que a tarefa terapêutica é mais fácil de solucionar do que nos casos em que a doença se relaciona com algum objetivo externo. No caso de Dora, esse objetivo era claramente o de sensibilizar o pai e afastá-lo da Sra. K. segundo Freud.
Freud vai dizer que pelo menos um dos significados de um sintoma corresponde à representação de uma fantasia sexual, enquanto para os outros significados não se impõe tal limitação do conteúdo. Quando se usa o trabalho psicanalítico, logo se constata que os sintomas têm mais de um significado e servem para representar simultaneamente diversos cursos inconscientes de pensamento. Foi diante dessa informação que surgiu a oportunidade de atribuir à tosse nervosa de Dora a uma interpretação desse tipo, frente uma situação sexual fantasiada. Afirmação que invariavelmente remete aohorror de muitos, dando aos órgãos e funções do corpo seus nomes técnicos que está presente nas etiologias das neuroses. Portanto, nos faz pensar Freud, não é de surpreender que a histérica em questão, soubesse da existência de uma relação sexual, no caso, a sucção do órgão masculino, e criasse uma fantasia inconsciente dessa natureza e a expressasse através da sensação de cócega na garganta e da tosse.
Vamos a teoria de Freud, ao exemplo fornecido pelo caso de Dora. Começando pela primeira hipótese, ou seja, de que a raiz de sua preocupação obsessiva com as relações entre seu pai e a Sra. K. lhe era desconhecida por se encontrar no inconsciente. Seu comportamento que bem explicitamente ia para além de um interesse de uma filha. Ela se sentia e agia mais como uma esposa ciumenta, como se esperaria de sua mãe. Por sua exigência ao pai (“ou ela ou eu”), pelas cenas que costumava criar e pela ameaça de suicídio que deixou entrever, se torna evidente que ela estava se colocando no lugar da mãe. E quanto à fantasia de situação sexual no que diz respeito a sua tosse, nessa fantasia ela deveria estar se colocando no lugar da Sra. K. Portanto, sendo assim de identificava com as duas mulheres, a que o pai amou e a que amava agora. A conclusão que Freud nos remete, a sua inclinação pelo paiera muito maior do que ela sabia ou estava disposta a não ignorar, ou seja, que estava apaixonada por ele.
Freud então passou a ver e compreender que tantonas relações amorosas inconscientes entre pai e filha quanto entre mãe e filho, conhecidas por suas consequências anormais, é uma revivência de germes dos sentimentos infantis. Talvez se encontre na maioria dos seres humanos um traço nítido dessa inclinação precoce da filha pelo pai e do filho pela mãe, e deve-se acreditar que ela seja mais intensa, no caso das crianças constitucionalmente destinadas à neurose, que têm amadurecimento precoce e são famintas de amor, segundo Freud. No caso em questão, Dora, sempre a atraiu para o pai, e as diversas doenças foram intensificadas como consequência de seu aumento de ternura por ele. Em diversas doenças, ele não permitia que ninguém, senão ela lhe ajudasse nos pequenos serviços que seu tratamento remetia. O pai orgulhoso do desenvolvimento precoce da inteligência de Dora, fez dela ainda criança, sua confidente. Com o aparecimento da Sra. K., na verdade não foi a mãe, e sim ela, que foi deslocada de mais de uma posição. Quando Freud comunicou essa compreensão a Dora, provocou nela a mais enfática negativa, um recalque. 
Freud vai além quando supõe que a sequência hipervalente depensamentos de Dora, que fazia com que ela se ocupasse das relações entre seu pai e a Sra. K., era não apenas o de suprimir seu amor pelo Sr. K., que antes era consciente, mas também o de ocultar o amor pela Sra. K., que era inconsciente. Isso remeteu a uma moção de ciúme feminino ligada no inconsciente, ao ciúme que um homem sentiria. Essas correntes de sentimentos masculinos, ou seja, ginecofílicos devem ser consideradas típicas da vida amorosa inconsciente das moças histéricas.
O PRIMEIRO SONHO DE DORA
Dora contou a Freud sobre um sonho que aconteceu várias vezes e exatamente da mesma forma. Freud logo se interessou, considerando a importância do entrelaçamento desse sonho na trama da análise, a essa altura do campeonato.
Este é o sonho, tal como Dora relatou a Freud: “Uma casa estava em chamas. Papai estava ao lado da minha cama e me acordou. Vesti-me rapidamente. Mamãe ainda queria salvar sua caixa de jóias, mas papai disse: `Não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa de jóias.’ Descemos a escada às pressas e, logo que me vi do lado de fora, acordei.” .” Dora recordava ter tido este mesmo sonho três noites sucessivas em L – (lugar no lago onde acorreu à cena do lago com o Sr. K, a proposta amorosa).
Freud então formulou uma tese que restringe o sentido dos sonhos a uma única forma de pensamento que seria a representação de desejos e assim provocou a inclinação universal à discordância. Depois várias perguntas direcionadas a Dora sobre as peculiaridades do seu sonho, Freud entende o sentido do sonho.
Quando Dora disse a si mesma: esse homem está me perseguindo e quer forçar a entrada em meu quarto, minha “caixa de joias” está em perigo e, se acontecer alguma desgraça, a culpa é do papai. Foi por isso que escolheu, no sonho, uma situação que expressa o oposto, um perigo de que seu pai a salva. Nessa parte do sonho, em geral, segundo Freud, tudo está transformado em seu oposto. O mistério está na mãe de Dora. Porque a mãe entrou no sonho? Freud propõe substituir “aceitar” por “dar” e “rejeitar” por “recusar”. Isso quer dizer, então, que Dora estaria disposta a dar a seu pai o que sua mãe não dava, e a coisa que se trata teria a ver com uma joia. Freud pediu a Dora que se lembrasse da caixa de joias que o Sr. K. tinha dado a ela. Aqui está ponto de partida para uma sequência paralela de pensamentos, na qual o pai deve ser substituído pelo Sr. K., tal como aconteceu na situação de ele estar em frente a cama de Dora. Freud continua sua interpretação dizendo que Sr. K. havia dado uma caixa de joias a Dora e,portanto, ela teria de presenteá-lo com sua caixa de joias, o que seria a “retribuição do presente”. Nessa sequência então, a mãe de Dora deve ser substituída pela Sra. K., que estava presente, ela sim, naquela ocasião. Portanto, Dora estaria disposta a dar ao Sr. K. o que a mulher dele se recusava. Pelo pensamento ter sido recalcado, explica o esforço que tornou necessária a transformação de todos os elementos em seu oposto. O sonho então evocou o antigo amor de Dora por seu pai para se proteger de seu amor pelo Sr. K. Mas, questiona Freud, o que mostram todos esses esforços? Não só que Dora temeu o Sr. K., mas que temeu ainda mais a si mesma, temeu ceder à tentação dele. Confirmam também, portanto, como era intenso seu amor por ele.
Freud continua suas investigações ao sonho e desperta outras interpretações. O sonho mediante cuja análise Freud obteve as informações precedentes corresponde, foi a um propósito que Dora levou com ela para o sono. Por isso se repetiu todas as noites, até que o propósito fosse então realizado, e reapareceu anos depois, ao surgir uma ocasião para que ela formasse um propósito análogo. O propósito poderia se expressar conscientemente da seguinte forma: “Preciso afastar-me dessa casa, na qual, como vi, minha virgindade corre perigo; partirei com papaie, pela manhã, ao fazer minha toalete, tomarei minhas precauções para não ser surpreendida.” Esses pensamentos encontram explícita no sonho, pertencem a uma corrente, corrente psíquica que, na vida de vigília, chegou à consciência e se tornou dominante.
Freud aborda outros assuntos no decorrer de sua análise do sonho como a que no caso de Dora, no aspecto de molhar a cama, não era o habitual, pois na época em que Dora relatou o sonho, Freud estava empenhado numa linha de investigação que levava diretamente à admissão de que ela se masturbava na infância. Aborda também a questão de que seu pai tomasse o lugar do homem tentador, que não trouxe à memória um material infantil qualquer, mas justamente um material que mantinha as mais íntimas relações com a supressão dessa tentação.
Além disso, Freud vê, nas associações, a substituição de queimar por seu antônimo molhar, com evidente conotação sexual: substituição pelo oposto. A insistente reprovação de Dora quanto às ligações amorosas de seu pai com a Sra. K. que revelam, assim, seu fundamento. Para Freud, um rosário de censuras a outras pessoas devem alertar o analista para um rosário de autocensuras com o mesmo conteúdo, que estaria recalcado. O que estaria latente no seu sonho, portanto, é a sua paixão pelo Sr. K. Nosonho, a situação edipiana de Dora estaria atualizada nas ligações com o casal K.
Podemos dizer que através do sonho temos acesso a detalhes de vivências patogenicamente ativas que, de outro modo teriam sido inacessíveis à memória ou, pelo menos, à reprodução. Por isso a importância dos sonhos para Freud. Ele nos revela coisas que na associação livre muitas vezes não permite acessar. No caso de Dora, questões sexuais recalcadas estavam intimamente ligadas aos sonhos. A formação dos sonhos, a situação fantasiada é escolhida de modo a reproduzir uma situação infantil.
O SEGUNDO SONHO DE DORA
Poucas semanas depois do primeiro sonho aconteceu o segundo, porém, seu sentido, sua interpretação foi interrompida em análise. Freud confessa que encontrou dificuldade em interpretá-lo. Sua interpretação não foi tão clara quanto o primeiro mas possibilitou uma confirmação desejada.
Narrou Dora: “Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças que me eram estranhas. Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui até meu quarto e ali encontrei uma carta de mamãe. Dizia que, como eu saíra de casa sem o conhecimento de meus pais, ela não quisera escrever-me que papai estava doente. `Agora ele morreu e, se quiser, você pode vir.’ Fui então para a estação[Bahnhof] e perguntei umas cem vezes: `Onde fica a estação?’ Recebia sempre a resposta: `Cinco minutos.’ Vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, e ali fiz a pergunta a um homem que encontrei. Disse-me: `Mais duas horas e meia.’ Pediu-me que o deixasse acompanhar-me. Recusei e fui sozinha. Vi a estação à minha frente e não conseguia alcancá-la. Aí me veio o sentimento habitual de angústia de quando, nos sonhos, não se consegueir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por nossa casa. A criada abriu para mim e respondeu: `A mamãe e os outros já estão no cemitério [Friedhof]’.”
Nas associações que se seguiram ao sonho apareceu, inicialmente, a identificação de Dora com um jovem engenheiro que estava interessado por ela. Quanto a “perguntar cem vezes”, lembrou-se de uma interpelação à sua mãe: “Já lhe perguntei cem vezes onde está a chave”. Chave, segundo as explicações de Freud, seria o correlativo masculino de caixa, ou seja, termos alusivos aos órgãos genitais. As associações correlacionaram, ainda, caixa com estação (‘Bahnhof’) e cemitério (‘Friedhof’). 
Avançando para outro rumo, Freud investigou melhor a cena do lago. Dora falou a ele que,quando o Sr K. fez a proposta amorosa e ela, disse: “Você sabe que minha mulher não é nada para mim”. Ela então, esbofeteou-o e fugiu. O significado do sonho, para Freud, estava ligado a um desejo de vingança de Dora contra o seu pai e a uma fantasia de defloração: um homem procurando forçar a entrada nos órgãos genitais femininos. Quando a conclusão foi dita a Dora, ela reagiu imediatamente, lembrando-se de uma parte do sonho que havia esquecido: “Eu entrei calmamente no apartamento e comecei a ler um grande livro que estava sobre sua escrivaninha”. As associações levaram para uma enciclopédia onde se procura satisfazer a curiosidade sexual. O pai estava morto, ela poderia ler o que quisesse. Um dos motivos para querer vingar-se seria esta revolta contra a coerção exercida pelos pais.
A análise do segundo sonho durou duas sessões. Na terceira sessão, Dora apenas comunicou a Freud que aquela seria a última vez que iria lá, sendo que a sua decisão já tinha sido tomada há quinze dias. No pós-escrito do caso, numa nota de rodapé, a auto-crítica: “Parece-me que a minha falha esteja nesta omissão: não consegui descobrir a tempo nem informar à paciente que seu amor homossexual (ginecofílico) pela Sra. K. era a corrente inconsciente mais poderosa de sua vida mental”
Introdução Ao Narcisismo - Resumo
I.
Freud inicia o texto conceituando o Narcisismo como “o comportamento do indivíduo que trata o próprio corpo como normalmente só trataria um objeto sexual.”
A partir da observação psicanalítica constatou que a libido narcísica pode Ter um importante papel no desenvolvimento normal do ser humano. O narcisismo seria “o complemento libidinal do egoísmo próprio da pulsão de autoconservação”, presente em todos nós.
Estudando a parafrenia, somos levados a nos ocuparmos da idéia de um narcisismo primário. Esses doentes possuem dois traços fundamentais de caráter: o delírio de grandeza e o desligamento de seu interesse pelo mundo exterior, sendo assim, inacessíveis à influência da psicanálise. Não só os parafrênicos se afastam da realidade, como também os neuróticos. Mas na neurose, o sujeito não suspende seu vínculo erótico com as pessoas e as coisas. Conserva as pessoas e coisas na fantasia, substituindo objetos reais por imaginários de sua lembrança. Por outro lado, desiste de encaminhar as ações motoras necessárias para atingir suas metas em relação a estes objetos, o que chamamos de introversão.
O parafrênico retira sua libido das pessoas e coisas do mundo exterior sem substituí-las na fantasia. O delírio de grandeza aponta para o destino da libido retirada dos objetos. Essa libido foi redirecionada ao eu, o que podemos chamar de narcisismo.
O narcisismo “que se constitui ao chamar de novo para si os investimentos anteriormente depositados nos objetos, pode ser concebido como um narcisismo secundário, superposta a outro, primário.”
Uma terceira contribuição provém das observações da vida psíquica das crianças. “Assim, chegamos à concepção de que originalmente o Eu é investido de libido e de que uma parte dessa libido é depois repassada aos objetos; contudo, essencialmente, a libido permanece retida no Eu.”
Partindo dos sintomas neuróticos, essa parte da libido do Eu permanece encoberta. O que nos fica visível são as emanações dessa libido, os investimentos objetais que podem ser lançados aos objetos e recolhidos novamente. A grosso modo, há uma oposição entre a libido do Eu e a libido objetal. “Quanto mais uma consome, mais a outra se esvazia”. A mais avançada fase da libido objetal é o apaixonamento, onde há uma desistência da própria personalidade a favor do investimento do objeto. Seu oposto se encontra na fantasia dos paranóicos sobre o fim do mundo. “Somente quando passa a ocorrer um investimento nos objetos é que se torna possível distinguir uma energia sexual, a libido, de uma energia das pulsões do Eu”.
Quanto à relação do narcisismo com o auto-erotismo, Freud ressalta que uma unidade comparável ao Eu não está no sujeito desde o início, o Eu precisa antes ser desenvolvido. Todavia, as pulsões auto-eróticas estão presentes desde o início, necessitando de algo a ser acrescentado para que esse auto-erotismo constitua o narcisismo.
Freud coloca uma segunda questão: “Se admitimos para o Euum investimento primário com libido, por que seria ainda necessário diferenciar, de um lado, uma libido sexual e, de outro, uma energia não sexual pertencente às pulsões do Eu?” Para ele, há uma oposição entre pulsões do Eu e pulsões sexuais, que se impõe a partir da análise das neuroses de transferência.
II.
A principal via de acesso do narcisismo in loco ainda é a análise das parafrenias, que nos permitirão entrar na psicologia do Eu. Freud divide em três aspectos que serão abordados nessa ordem: observação da doença orgânica, da hipocondria e da vida amorosa entre os gêneros.
Quanto à doença orgânica, leva em conta a influência da enfermidade sobre a distribuição da libido. “O doente recolhe seus investimentos libidinais para o Eu e torna a enviá-los depois da cura (...) Tanto a libido quanto o interesse do Eu têm o mesmo destino e são indiferenciáveis entre si.” (103)
O estado de sono implica também um recolhimento narcísica da libido, que realoca-se para a própria, para o desejo de dormir. Também ocorre uma alteração na distribuição da libido em conseqüência da alteração ocorrida no Eu.
Quanto à hipocondria, esta se manifesta pelas sensações corporais e coincide com a doença à respeito da distribuição da libido. “O hipocondríaco recolhe o interesse e a libido (...) dos objetos do mundo exterior e os concentra sobre o órgão do qual está se ocupando.” (104) A diferença da hipocondria em relação à doença orgânica é que na doença, as sensações desagradáveis se baseiam em alteraçõescomprováveis e na hipocondria, não.
“Se a hipocondria e a parafrenia dependem, portanto, da libido do Eu, as outras neuroses dependem da libido objetal. Assim, o medo hipocondríaco parte da libido do Eu e seria a contrapartida do medo neurótico”. (105) Nas neuroses de transferência o adoecimento e a formação de sintomas, a passagem da introversão para a regressão, “ se vinculam a um represamento da libido objetal”. (105) Na hipocondria e na parafrenia ocorre um represamento da libido do Eu.
“Podemos arriscar-nos a indagar porque a vida psíquica se vê forçada a ultrapassar as fronteiras do narcisismo e a depositar a libido nos objetos. (...) A resposta seria a de que essa necessidade entrará em cena quando o investimento de libido no Eu ultrapassar determinada quantidade.” (105)
Ao aparelho psíquico, cabe lidar com as excitações sentidas de forma dolorosas ou que provocariam efeitos patogênicos. Com um serviço de escoamento interno das emoções que não podem sofrer remoção imediata para o exterior, Mas não faz diferença se esse trabalho se aplica a objetos reais ou imaginários. Só se fará diferença mais tarde, quando a libido se direcionar para objetos irreais e causar um represamento libidinal. Nas parafrenias, causará o delírio de grandeza. “Talvez seja só depois do fracasso do delírio de grandeza que o represamento libidinal no Eu se torne patogênico e estimule o início do processo de cura, quetanto nos impressiona na forma de enfermidade.” ()
Na parafrenia, a libido não permanece nos objetos nafantasia, mas recolhe-se ao Eu. O delírio de grandeza é visto como um modo de lidar psiquicamente com esse volume de libido do Eu. Ao fracasso dessa função psíquica, corresponde a hipocondria da parafrenia, onde há a tentativa de restituição. A parafrenia implica uma retirada apenas parcial da libido dos objetos, podemos diferenciar três grupos de fenômenos no quadro parafrênico: - Manifestações de normalidade ou de neurose remanescentes; - Manifestações do processo de adoecimento (delírio de grandeza, hipocondria); - manifestações das tentativas de restituição, “por meio de novo esforço de anexar libido aos objetos como ocorre nas neuroses de transferência.
Uma terceira via de estudo do narcisismo é a vida amorosa. Do mesmo modo que, de início, a libido objetal encobria nossa visão da libido do Eu, na escolha objetal da criança pode-se observar que ela toma seus objetos sexuais a parir da satisfação. As pulsões sexuais apoiam-se primeiro na satisfação da pulsão do Eu para mais tarde tornarem-se independente delas.
Observou-se, baseando-se na escolha do objeto pelas primeiras satisfações, que a escolha do primeiro objeto volta-se para a mãe. Mas em alguns casos, nos perversos e homossexuais, de acordo com Freud, que a escolha do objeto volta-se para si, exibem escolha de um objeto narcísico.
“Estamos afirmando que o ser humano possui dois objetos sexuais primordiais: ele mesmo e a mulher que dele cuida, e, com isso estamos pressupondo que em todo ser humano há um narcisismo primário, queeventualmente pode manifestar-se de maneira dominante de objeto”. (108)
Para Freud, “o amor objetal pleno segundo o tipo de escolha por veiculação sustentada é característico do homem.” (108) Há nessa escolha uma supervalorização sexual que corresponde a uma transferência desse narcisismo para o objeto sexual, que permite o surgimento da paixão apontando para a compulsão neurótica, que leva a um empobrecimento da libido do Eu em benefício da libido objetal.
Na mulher, com a puberdade, intensifica-se o narcisismo original. “Em rigor, é só a si mesmas que essas mulheres amam com intensidade comparável à do homem que ama.” (108) A essas mulheres narcísicas, a via para o amor pleno objetal é o filho, que gerará de seu próprio corpo e na forma de outro objeto, partindo de seu próprio narcisismo para o amor objetal.
Resumo dos caminhos que conduzem à escolha do objeto. Ama-se:
“1- conforme o tipo narcísico:
a) o que se é;
b) o que se foi;
c) o que se gostaria de ser
d) a pessoa que outrora fez parte de nosso próprio si-mesmo.
2- Conforme o tipo de escolha por veiculação sustentada:
a) a mulher que nutre;
b) o homem protetor.” (109/110)
O narcisismo primário que supomos existir na criança, vemos nos pais uma revivescência de seu próprio narcisismo, ao serem afetuosos com seus filho. Os pais atribuem à criança todas as perfeições e tendem a encobrir os defeitos dela. Atitude esta que se relaciona com a negação da sexualidade infantil. “Reivindicam para acriança o direito a privilégios aos quais eles, os pais, há muito tiveram de renunciar.” Não submetem-na aos mesmos imperativos, restrições à própria vontade não devem ocorrer para a criança. Passa a ser o centro do mundo, “Sua Majestade, o Bebê”. “A criança deve satisfazer os sonhos e os desejos nunca realizados dos pais. (...) O comovente amor parental, no fundo tão infantil, não é outra coisa senão o narcisismo renascido dos pais, que, ao se transformar em amor objetal, acaba por revelar inequivocamente sua antiga natureza.” (110)
III.
Freud refere-se agora “às perturbações que o narcisismo original da criança sofre” (111), ao complexo de castração (medo em relação ao próprio pênis no menino inveja do pênis na menina). “Penso ser de todo impossível estabelecer a gênese da neurose sobre a base estreita do complexo de castração.” (111)
Quando as moções pulsionais libidinais entram em conflito com as concepções do Eu, seu destino será o recalque patogênico – “o recalque ocorre a partir do Eu, (...) parte da avaliação que o Eu faz de si mesmo.” (112)
“Podemos dizer que um sujeito erigiu em si um ideal pelo qual mede seu Eu atual (...) a condição para o recalque é essa formação de ideal por parte do Eu”(112). É quando o sujeito tolera as impressões, vivências, impulsos e moções de desejo em si próprio, processando conscientemente. No conflito entre moções pulsionais libidinais e as concepções culturais, há um “acordo de compromisso”.
“O amor por si mesmo, que já foi desfrutadopelo Eu Verdadeiro na infância dirige-se agora a esse Eu-Ideal.” (112) Esse eu ideal tem posse de perfeição e completude. O sujeito nesta posição não quer renunciar a essa completude. Esse eu ideal é o substituto do narcisismo perdido da infância, onde o eu era o próprio ideal. Esse narcisismo da infância, com as admoestações próprias da educação e o despertar da capacidade de ajuizar, é perturbado. Ele é recuperado na forma de um ideal-de-eu. “Assim, o que o ser humano projeta diante de si como seu ideal é o substituto do narcisismo perdido de sua infância, durante a qual ele mesmo era seu próprio ideal.”(112)
“Parece sugestivo pensar que haja relações entre essa formação de ideal e a sublimação. A sublimação é um processo que ocorre na libido objetal e consiste no fato de a pulsão se lançar em direção a outra meta, situada em um ponto distante da satisfação sexual.” (112) Quer dizer, a sublimação ocorre com a libido objetal e a idealização, com o objeto, que pode ocorrer tanto na libido do Eu quanto na libido objetal. A sublimação é algo que ocorre com a pulsão enquanto a idealização é algo que ocorre com o objeto.
Não confundamos a formação do ideal-de-eu com sublimação, pois aquele que trocou seu narcisismo pela veneração de um ideal-de-eu não sublimou. “Embora para ser alcançado o ideal-de-eu requeira tal sublimação, ele não pode forçá-la.” De início, a sublimação é motivada pelo ideal mas sua ocorrência ou não independe desta motivação. Aqui está a diferença: “formação de ideal eleva o níveldas exigências do Eu e é o mais forte favorecedor do recalque, a sublimação, por sua vez, oferece uma saída para cumprir estas exigências sem envolver o recalque.”
O ideal-de-eu corresponde à uma consciência moral, influência dos pais, dos educadores ou até mesmo da opinião pública. Não há, até aí, uma instância definida para essa “consciência moral” ( mais tarde, em “O Eu e o Isso, Freud equiparará o ideal-de-eu com o Supereu, salvo algumas pequenas diferenças, mais nesse momento, creio que é disso que se trata). A consciência moral foi a incorporação da crítica dos pais e mais tarde, da sociedade. Na paranóia, essa crítica aparece vinda de fora, nas alucinações, vozes.
Freud entra na questão do autoconceito (auto-estima, me ative à palavra utilizada na tradução). Seria uma expressão de grandeza do Eu, que nas parafrenias se eleva e nas neuroses de transferência se reduz. Na vida amorosa, o não estar sendo amado reduz e o estar sendo amado, o aumenta. Na escolha narcísica de objeto, estar sendo amado representa tanto a meta quanto a satisfação.
Um investimento libidinal nos objetos não aumenta o autoconceito. Quando se está apaixonado, há uma dependência no objeto, sacrifica-se uma parcela de seu narcisismo. “O autoconceito parece sempre estar relacionado com o componente narcísico da vida amorosa.
A percepção da própria incapacidade de amar tem o efeito de rebaixar a auto-estima, situando uma das fontes do sentimento de inferioridade que se apresenta nas neuroses detransferência. Porém, a fonte está no empobrecimento do eu, por retirada de investimentos libidinais dele.
De acordo com A. Adler, a percepção das inferioridades incita a psique à provocar uma supercompensação. Mas, para Freud, é um exagero pensar que um bom desempenho tem a condição de uma inferioridade orgânica. No caso das neuroses, estas fazem uso da inferioridade como pretexto, atrofias orgânicas e defeitosnão aumentam as enfermidades neuróticas.
As relações de auto-estima e erotismo se distinguem em dois casos: se os investimentos estão em sintonia com o eu ou se sofreram recalque. Quando a libido está em sintonia com o eu, o ato de amar é considerado como qualquer outra atividade do eu. Quando a libido está recalcada, “o investimento amorosa é sentido como uma gravíssima diminuição do eu, e a satisfação amorosa torna-se então, impossível. Neste caso, unicamente por meio da retirada e do retorno da libido que estava investida nos objetos, é possível reenriquecer novamente o Eu.” (117) Um amor feliz seria capaz de corresponder à uma retorno ao estado originário onde não há como diferenciar libido objetal de libido do eu.
“O desenvolvimento do eu consiste em um processo de distanciamento do narcisismo primário (...) que ocorre por meio de um deslocamento da libido em direção a um ideal-de-eu que foi imposto a partir de fora, e a satisfação é obtida agora pela realização desse ideal.” (117)
O eu lança investimento aos objetos e ao mesmo tempo que empobrece, por conta dessesinvestimentos e do ideal-de-eu, volta a se enriquecer pelas satisfações obtidas pelos objetos e pela realização do ideal.
A auto-estima se compõe de três partes: uma primária, resíduo do narcisismo infantil; outra da realização do ideal-de-eu; a terceira da satisfação da libido objetal.
O ideal-de-eu é o que permite levar a satisfação libidinal aos objetos. Quando esse ideal não se constitui dessa forma, a vertente sexual se incorporará à personalidade do sujeito na forma de perversão, querendo assim, alcançar seu próprio ideal.
As paixões são o transbordamento da libido sobre o objeto, suspendendo recalques, e restaurando perversões. Se baseia nas condições de amor da infância, o que puder realizar essa condição infantil de amor é idealizado.
O amar seque o modelo da escolha objetal narcísica. “Amaremos aquilo que fomos e deixamos de ser ou aquilo que possui qualidades que nunca teremos. (...) Será amado aquilo que possui uma qualidade que falta ao Eu para chegar ao ideal.” (118) O neurótico procura sair do desperdício libidinal enviado aos objetos e retorna ao narcisismo. Freud chama da “cura pelo amor”.
O ideal-de-eu tem uma parcela social também pois envolve o ideal da família, que enlaçou libido narcísica e além dela, libido homossexual da pessoa que retorna para o Eu. “A insatisfação resultante da não realização desse ideal libera de novo essa libido homossexual que se transforma em culpa.” (119) Culpa ligada ao castigo dos pais, ao “medo da perda de seu amor” (119)
Recordar repetir e elaborar Freud
Resenha do texto: Recordar, repetir e elaborar.
O texto retrata basicamente sobre a importância de levar o paciente a recordar. Com o abandono da hipnose, buscava-se descobrir o que o paciente não recordava procurando interpretar as suas resistências. Posteriormente, o foco era estudar tudo o que se achasse presente no momento, na superfície da mente do paciente, identificando as resistências e tornando-as conscientes ao paciente. Tratava-se então segundo Freud de preencher lacunas na memória. 
O texto traz que a repetição se faz presente em lugar do recordar, e que isto somente é possível em estados nos quais as resistências tenham sido elaboradas. O texto mostra que o caráter de repetição está claramente presente no fenômeno da transferência. 
Existem situações em que o paciente não recorda o que esqueceu e reprimiu, mas o expressa pela atuação. Ou seja, ao invés de recordar, o paciente age, sem saber o que faz ou porque faz. Reproduz não como lembrança, mas como ação, sem saber que está repetindo. É a partir das reações repetitivas através da transferência, que é possível percorrer ao longo dos caminhos familiares até o despertar das lembranças, que aparecem após a resistência ter sido superada. Quanto maior a resistência, mais a atuação, ou seja, arepetição substituirá o recordar. 
A Transferência é um fragmento da repetição e essa repetição é uma transferência do passado esquecido. 
A partir da leitura do texto foi possível compreender que o principal instrumento para conter a compulsão à repetição do paciente e transformá-la num motivo para recordar está no manejo da transferência.
A partir das reações repetitivas exibidas na transferência, somos levados ao longo dos caminhos familiares até o despertar das lembranças que aparecem sem dificuldade, após a resistência ter sido superada
O texto retrata que o analista deve utilizar a interpretação para poder identificar as resistências e torná-las conscientes ao paciente. Somente quando as resistências tiverem sido vencidas, é que haverá possibilidade do paciente relacionar as situações e vinculações esquecidas.
O texto traz que a regra fundamental, no entanto, para que o paciente possa recordar é dar a ele tempo para conhecer melhor suas resistências, para assim poder elaborá-la. Este é primeiro passo para superar as resistências, visto que tal resistência nunca é reconhecida pelo paciente. Deve-se então esperar para que ele a reconheça e assim possa elaborá-la. Essa elaboração pode ser uma tarefa árdua para o paciente e uma prova de paciência para o analista.
ANÁLISE TERMINÁVEL E INTERMINÁVEL
CAPÍTULO V
Na tentativa de abreviar a duração da análise e conseguir uma cura ou impedir uma doença futura após o tratamento analítico alguns fatores decisivos como a influência da etiologia traumática, a força relativa dos instintos que devem ser controlados e a alteração do ego, devem ser colocados em questão.
Para que haja uma situação analítica, precisa se aliar ao ego do paciente em questão, submetendo partes do id não controladas, ou seja, aglutiná-las na síntese do seu ego.
Os tipos de alterações cognitivas são congênitas ou adquiridas. As adquiridas são mais facilmente tratadas, pois o acontecimento se dá no decurso do desenvolvimento desde o nascimento, pois é a partir daí que o ego tenta desempenhar sua tarefa de mediar entre o seu id e o mundo externo. Sob a influência da educação, o ego costuma remover a cena de luta de fora para dentro e domina o perigo interno antes de se tornar externo. Em geral, o ego consiste em evitar o perigo, a ansiedade e o desprazer. Esse procedimento é chamado de mecanismo de defesa.
O estudo dos processos neuróticos se iniciou a partir do mecanismo de repressão.
O desprazer não é tolerado pelo aparelho psíquico, por isso tenta desviá-lo, e se a percepção acarreta desprazer a verdade é sacrificada. O indivíduo tenta durante um tempo ficar forte, evitando situações de perigo, para mais tarde afastar as ameaça, alterando a realidade.Por isso, os mecanismos defensivos do ego falsificam nossa percepção interna e nos dá uma representação imperfeita de nosso id.
Mecanismos de defesa nos mantém afastados de perigos, mas podem ser transformados em perigos também. Cada um faz uma seleção dos mecanismos de defesas.
Durante o tratamento, o trabalho terapêutico estará de oscilando entre um fragmento de análise do id e um fragmento de análise do ego, tentando tornar consciente algo do id e corrigindo algo do ego. Os mecanismos defensivos reaparecem no tratamento como resistências contra o restabelecimento do paciente.
O efeito terapêutico torna consciente o que está reprimido no id. Prepara-se o caminho para a conscientização mediante interpretações e construções, porém é feita apenas para o terapeuta. Durante o trabalho o ego se retrai da situação analítica, parando de apoiar nos esforços para revelar o id.
Se o paciente confia no analista, a confiança se fortalece com a transferência positiva, já se o não há confiança, a transferência negativa se baseia nos impulsos desprazerosos sentidos, resultando na ativação de seus conflitos defensivos, anulando a situação analítica. Dessa maneira, a resistência além de ser da conscientização dos conteúdos do id, também será da análise em geral.
A alteração no ego é ocasionada pelas defesas. Para que o tratamento tenha resultado a alteração do ego dependerá da força e profundidade daraiz dessas resistências.

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