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Evolução hist. do D. Penal e Escolas Penais


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Introdução 
Parece existir uma relevante importância do processo histórico na compreensão da filosofia e 
dos princípios do Direito Penal Contemporâneo. Crimes e castigos existiram na sociedade 
humana desde os primórdios. Com a conquista da escrita, os governantes puderam lavrar suas 
leis em tábuas de barro e estelas que ainda hoje podem ser lidas e se tornaram documentos 
preciosos para o entendimento da evolução do pensamento sobre as regras de conduta, as 
proibições e as penas impostas aos violadores da lei. 
O objetivo deste trabalho é discorrer brevemente sobre os principais códigos que nortearam o 
comportamento e a vida dos homens através dos tempos e a relevância que tiveram para o 
estabelecimento do Direito Penal vigente na atualidade. 
"A aplicação das leis é mais importante que a sua elaboração". 
Thomas Jefferson 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL 
"Importância do conhecimento histórico para desfazer preconceitos e alargar horizontes" J. 
Leal 
O estudo da evolução histórico-penal é de suma importância para uma avaliação correta da 
mentalidade e dos princípios que nortearam o sistema punitivo contemporâneo. 
A história humana não pode ser desvinculada do direito penal, pois desde o princípio o crime 
vem acontecendo. Era necessário um ordenamento coercitivo que garantisse a paz e a 
tranqüilidade para a convivência harmoniosa nas sociedades. 
"A história do Direito Penal é a história da humanidade. Ela surge com o homem e o 
acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se 
afastou". 
Os estudiosos subdividem a história do direito penal em algumas fases, fases estas que não se 
sucederam de forma linear ou totalmente rígida (os princípios e características de um período 
penetravam em outro). São elas: 
Vingança Privada 
"A pena em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais compreensível que naquela 
criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida devia ser fatal, não havendo 
preocupações com a proporção, nem mesmo com sua justiça" Noronha 
Quando ocorria um crime a reação a ele era imediata por parte da própria vitima, por seus 
familiares ou por sua tribo. Comumente esta reação era superior à agressão, não havia qualquer 
idéia de proporcionalidade. 
Esta ligação foi definida por Eric Fromm[1] como sendo um vínculo de sangue, ou seja, era "um 
dever sagrado que recai num membro de determinada família, de um clã ou de uma tribo, que 
tem de matar um membro de uma unidade correspondente, se um de seus companheiros tiver 
sido morto". 
Foi um período marcado por lutas acirradas entre famílias e tribos, acarretando um 
enfraquecimento e até a extinção das mesmas. Deu-se então o surgimento de regras para evitar o 
aniquilamento total e assim foi obtida a primeira conquista no âmbito repressivo: a Lei de 
Talião (jus talionis). 
O termo talião de origem latina tálio + onis, significa castigo na mesma medida da culpa. Foi a 
primeira delimitação do castigo: o crime deveria atingir o seu infrator da mesma forma e 
intensidade do mal causado por ele. 
O famoso ditado "olho por olho, dente por dente" foi acolhido como principio de diversos 
códigos como o de Hamurabi[2] e pela Lei das XII Tábuas (Lex XII Tabularum). 
Com o passar do tempo á própria Lei de Talião evoluiu, surgindo a possibilidade do agressor 
satisfazer a ofensa mediante indenização em moeda ou espécie (gado, vestes e etc). Era a 
chamada Composição (compositio). 
"A composição é, assim, uma forma alternativa de repressão aplicável aos casos em que a 
morte do delinqüente fosse desaconselhável, seja porque o interesse do ofendido ou dos 
membros de seu grupo fosse favorável à reparação do dano causado pela ação delituosa".J. 
Leal 
Vingança Divina 
É o direito penal imposto pelos sacerdotes, fundamentalmente teocrático; o Direito se 
confundindo com a religião. 
O crime era visto como um pecado e cada pecado atingiam a um certo deus. A pena era um 
castigo divino para a purificação e salvação da alma do infrator. 
Era comum neste período o uso de penas cruéis e bastante severas. 
Seus princípios podem ser verificados no Código de Manu (Índia)[3] e no Código de Hamurábi, 
assim como nas regiões do Egito, Assíria, Fenícia, Israel e Grécia. 
"Se alguém furta bens do Deus ou da Corte deverá ser morto; e mais quem recebeu dele a coisa 
furtada também deverá ser morto". 
(Código de Hamurábi � art.6º.) 
Vingança Pública 
Período[4] marcado pelas penas cruéis (morte na fogueira, roda, esquartejamento, sepultamento 
em vida) para se alcançar o objetivo maior que era a segurança do monarca.Com o poder do 
Estado cada vez mais fortalecido, o caráter religioso foi sendo dissipado e as penas passaram a 
ter o intuito de intimidar para que os crimes fossem prevenidos e reprimidos. 
Os processos eram sigilosos, o réu não sabia qual era a imputação feita contra ele, o 
entendimento era de que, sendo inocente, o acusado não precisava de defesa; se fosse culpado, a 
ela não teria direito. Isso favorecia o arbítrio dos governantes. 
Direito Penal Romano 
De inicio, em Roma, a religião e o direito estavam intimamente ligados, o Pater Famílias 
consistia no poder de exercitar o direito de vida e de morte (jus vitae et necis) sobre todos os 
seus dependentes, inclusive mulheres e escravos. 
Com a chegada da Republica Romana ocorreu uma ruptura e desmembramento destes dois 
alicerces, a vingança privada foi abolida passando ao Estado o magistério penal. 
"Roma foi o marco inicial do direito moderno principalmente no âmbito civil. No penal, embora 
tímido, conseguiram destacar o dolo e a culpa e o fim da correção da pena (...)" César Dário 
Os romanos contribuíram para a evolução do direito penal fazendo a distinção do crime, do 
propósito, do ímpeto, do acaso, do erro, da culpa leve, do simples dolo e dolo mau (dolus 
malus), além do fim de correção da pena. 
Direito Penal Germânico 
O Direito era visto como uma ordem da paz; desta forma o crime seria a quebra, a ruptura com 
este estado. 
Inicialmente eram utilizadas a vingança e da composição, porém, com a invasão de Roma, o 
poder Estatal foi consideravelmente aumentado, desaparecendo a vingança. 
As leis bárbaras caracterizavam-se pela composição, onde as tarifas eram estabelecidas 
conforme a qualidade da pessoa, o sexo, idade, local e espécie da ofensa. Para aqueles que não 
pudessem pagar eram atribuídas as penas corporais. 
Também adotaram a Lei de Talião e, conforme o delito cometido, utilizavam a força para 
resolver questões criminais. 
Eram admitidas também as ordálias ou juízos de Deus (provas de água fervendo, ferro em 
brasa...), assim como os duelos judiciários, onde o vencedor era proclamado inocente. 
Direito Canônico 
É o ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana. 
O vocábulo canônico é derivado da palavra kánon, que significava regra e norma, com a qual 
originariamente se indicava qualquer prescrição relativa à fé ou à ação cristã. 
Inicialmente o Direito Canônico tinha o caráter meramente disciplinar, porém com o 
fortalecimento do poder papal, este direito passou atingir a todos da sociedade (religiosos e 
leigos). 
Tinha o objetivo de recuperação dos criminosos através do arrependimento, mesmo que fosse 
necessária a utilização de penas e métodos severos. 
Os delitos eram classificados em: 
*delicta eclesiástica 
: ofendido o direito divino, o julgamento era de competência dos tribunais eclesiásticos. A 
punição do infrator era dada em forma de penitências. 
*delicta mere secularia 
: quando a ordem jurídica laica fosse lesionada a competência era dos tribunais do Estado. O 
infrator era punido com penas comuns. 
*delicta mixta 
: delitos queviolavam a ordem laica e a religiosa; a competência do julgamento era do primeiro 
tribunal que tomasse conhecimento do delito. 
Esse direito deu uma atenção ao aspecto subjetivo do crime, combateu a vingança privada com 
o direito de asilo e as tréguas de Deus, humanizou as penas, reprimiu o uso das ordálias e 
introduziu as penas privativas de liberdade (ocorriam nos monastérios em celas) em substituição 
às patrimoniais. 
A penitenciária foi criada por este Direito: seria um local onde o condenado não cometeria 
crimes, se arrependeria dos seus erros e por fim se redimiria podendo voltar ao convívio social. 
Os tribunais eclesiásticos não costumavam aplicar as penas capitais até o período conhecido 
como a Inquisição[5]. Neste período passou-se a empregar a tortura, o processo inquisitório 
dispensava prévia acusação e as autoridades eclesiásticas agiam conforme os seus valores e 
entendimentos. Foi um período marcado por muitas atrocidades... 
Período Humanitário 
Em fins do século XVII,I com a propagação dos ideais iluministas, ocorreu uma conscientização 
quanto às barbaridades que vinham acontecendo, era preciso romper com os convencionalismos 
e tradições vigentes. Houve um imperativo para a proteção da liberdade individual em face do 
arbítrio judiciário e para o banimento das torturas, com fundamento em sentimentos de piedade, 
compaixão e respeito à pessoa humana. 
Almejava-se uma lei penal que fosse simples, clara, precisa e escrita em língua pátria, deveria 
ser também severa o mínimo necessário para combater a criminalidade, tornado assim o 
processo penal rápido e eficaz. 
César de Bonesana, o Marques de Beccaria, saiu em defesa dos desafortunados e dos 
desfavorecidos em sua obra "Dos delitos e das penas" (Dei Delitti e Delle Pene). Opôs-se às 
técnicas utilizadas até então pela justiça, era contra a prática da tortura como meio de produção 
de prova e por fim combateu o sistema presidiário das masmorras. Foi um verdadeiro grito 
contra o individualismo. 
Baseou-se na Teoria do Contrato Social, investiu contra a pena capital, com o argumento de 
que, apesar do homem ceder parte de sua liberdade ao Bem Comum, não poderia ser privado de 
todos os seus direitos e a ninguém seria conferido o poder de matá-lo. 
"A lei que autoriza a tortura é uma lei que diz: homens, resisti à dor" Beccaria 
Beccaria dividiu o crime em duas espécies: 
* Crimes horrendos são aquelas que são fruto da violação das convenções sociais e ligados ao 
bem estar comum como o direito de propriedade e também os homicídios. 
*Admitia que havia crimes menos graves que o homicídio e ainda os delitos, como o adultério. 
Beccaria foi um marco decisivo para a modificação do Direito Penal, veja algumas de suas 
citações mais importantes: 
Sobre a Impunidade: 
"É, porém, em vão que procuro abafar os remorsos que me afligem, quando autorizo as santas 
leis, fiadoras sagradas da confiança pública, base respeitável dos costumes, a proteger a 
perfídia, a legitimar a traição. E que opróbrio para uma nação, se os seus magistrados 
tornados infiéis, faltassem à promessa que fizeram e se apoiassem vergonhosamente em vãs 
sutilezas, para levar ao suplício aquele que respondeu ao convite das leis". 
Sobre a moderação das penas: 
estas deveriam ser preventivas e não retributivas. 
"Toda severidade que ultrapasse os limites se torna supérflua e, por conseguinte, tirânica". 
"O que pretendeu Beccaria não foi certamente fazer obra de ciência, mas de humanidade e 
justiça, e, assim, ela resultou num gesto eloqüente de revolta contra a iniqüidade, que teve, na 
época, o poder de sedução suficiente para conquistar a consciência universal. (...) falou claro 
diante dos poderosos, em um tempo de absolutismo, de soberania de origem divina, de confusão 
das normas penais com religião, moral, superstições, ousando construir um Direito Penal sobre 
bases humanas, traçar fronteiras à autoridade do príncipe e limitar a pena à necessidade da 
segurança social. Defendeu, assim, o homem contra a tirania, e com isso encerrou um período 
de nefanda (perversa) memória na história do Direito Penal".Aníbal Bruno 
Outras figuras importantes também surgiram neste período, tais como: 
John Howard 
, em seu livro The State of Prision in England, relatou a situação das prisões européias, 
propondo um tratamento mais digno aos presos (direito ao trabalho, a uma alimentação sadia, 
assistência religiosa...). John Howard considerado por muitos como o pai da Ciência 
Penitenciária. 
Jeremias Bentham 
, postulou que o castigo era um mal necessário para se prevenir maiores danos à sociedade, 
embora admitisse o seu fim correcional. 
Sua obra mais significativa foi a Teoria das Penas e das Recompensas. 
A sua maior contribuição foi o pan-óptico[6], em que descrevia a arquitetura e os problemas de 
uma penitenciária. 
Além destes citem-se também os reformadores Servan (Discurso sobre a administração da 
justiça criminal); Marat (Plano de legislação criminal) e Lardizábal (Discurso sobre las penas). 
ESCOLAS PENAIS 
" As escolas penais são corpos de doutrinas mais ou menos coerentes sobre os problemas em 
relação com o fenômeno do crime e, em particular, sobre os fundamentos e objetos do sistema 
penal." Aníbal Bruno 
São chamadas "escolas penais" as diversas correntes filosófico-juridico em matéria penal que 
surgiram nos Tempos Modernos. 
Elas se formaram e se distinguiram umas das outras. Lidam com problemas que abordam o 
fenômeno do crime e os fundamentos e objetivos do sistema penal. 
"O Direito Penal é o produto da civilização dos povos, através da longa evolução histórica" 
Antônio Moniz Sodré de Aragão 
"As escolas penais são um sistema de idéias e teorias políticas-jurídicas e filosóficas que, num 
determinado momento histórico, expressaram o pensamento dos juristas sobre as questões 
criminais fundamentais".José Leal 
ESCOLA CLÁSSICA 
Também chamada de Idealista, Filosófico-jurídica, Crítico Forense, nasceu sob os ideais 
iluministas. 
Para a Escola Clássica[7] a pena é um mal imposto ao indivíduo merecedor de um castigo por 
motivo de uma falta considerada crime, cometida voluntária e conscientemente. 
A finalidade da pena é o restabelecimento da ordem externa na sociedade. 
Esta doutrina possui princípios básicos e comuns, de linha filosófica, de cunho humanitário e 
liberal (defende os direitos individuais e o principio da reserva legal, sendo contra o 
absolutismo, a tortura e o processo inquisitório). Foi uma escola importantíssima para a 
evolução do direito penal na medida em que defendeu o individuo contra o arbítrio do Estado. 
A Escola Clássica dividiu-se em dois grandes períodos: 
*Filosófico/teórico 
: no qual a figura de maior destaque foi Beccaria.Ele desenvolveu sua tese com base na idéias de 
Rousseau[8] e de Montesquieu[9], construindo um sistema baseado na legalidade, onde o 
Estado deveria punir os delinqüentes mas tinha de se submeter às limitações da lei. 
O pacto social define que o individuo se comprometa a viver conforme as leis estipuladas pela 
sociedade e deverá ser punido pelo Estado quando transgredi-las, para que a ordem social seja 
restabelecida. 
* 
Jurídico ou prático: em que o grande nome foi Franchesco Carrara, sumo mestre de Pisa. Ele 
estudou o crime em si mesmo, sem se preocupar com a figura do criminoso. Defendia que o 
crime era uma infração da lei do Estado (promulgada pra proteger os cidadãos); é impelido por 
duas forças: a física, movimento corpóreo que produzirá o resultado, e a moral, a vontade 
consciente e livre de praticar um delito. 
Carrara é considerado o maior penalista de todos os tempos 
. 
"Três fatos constituem a essência de nossa ciência: o homem, que viola a lei; alei, que exige 
que seja castigado esse homem; o juiz, que comprova a violação e dá o castigo." Carrara 
A pena é um conteúdo necessário do direito. É o mal que a autoridade pública inflige a um 
culpado por causa de seu delito. 
"A pena não é simples necessidade de justiça que exija a expiação do mal moral, pois só Deus 
tem a medida e a potestade de exigir a expiação devida, tampouco é uma mera defesa que 
procura o interesse dos homens as expensas dos demais; nem é fruto de um sentimento dos 
homens, que procuram tranqüilizar seus ânimos frente ao perigo de ofensas futuras. A pena não 
é senão a sanção do preceito ditado pela lei eterna, que sempre tende à conservação da 
humanidade e a proteção de seus direitos, que sempre procede com observância às normas de 
Justiça, e sempre responde ao sentimento da consciência universal".Carrara 
A pena é meio de tutela jurídica, desta forma, se o crime é uma violação do direito, a defesa 
contra este crime deverá se encontrar no seu próprio seio. A pena não pode ser arbitrária, 
desproporcional; deverá ser do tamanho exato do dano sofrido, deve se também retributiva, 
porém a figura do delinqüente não é importante,.Este é talvez um dos pontos fracos desta escola. 
Outros representantes do classicismo italiano: 
Filangieri ( 1752/1788) 
: jusnaturalista que via o direito de punir como uma necessidade política do Estado para se 
preservar a ordem. Obra: Scienza della legis lazione 
Carmignani (1768/1847) 
: Obras: Juris criminalis elementa (1831) e Teoria delle leggi della sicurezza sociale (1831) 
Gian Romagnosi (1761-1835): 
foi um dos maiores pensadores italianos, considerava a pena como uma arma de defesa social. 
Obra: Scienza delle costituzioni, Che cosa é l´eguaglianza? 
Pellegrino Rossi ( 1768-1847) 
: Com base numa justiça moral deu ênfase ao jusnaturalismo. Obras: Trouté du droit penal e 
Cours d´économie politique 
No classicismo alemão temos a figura de Paulo Anselm Ritter Von Feuerbach (1775-1833), que 
se dedicou a filosofia e não aceitava a pena como um imperativo categórico, limitada pelo 
talião.Esta deveria ser preventiva a fim de deter o delinqüente em potencial, antes dele iniciar o 
inter criminis. É interessante notar que em um filme[10] muito atual retratou-se uma sociedade 
na qual a tecnologia permitia que a polícia soubesse quando e onde um crime ocorreria; os 
guardas lá chegavam antes do evento e o frustrado criminoso era preso. 
Feuerbach defendeu o princípio da legalidade sendo dele a fórmula nullum crimen sine lege, 
nulla poena sine lege[11], ou seja qualquer ameaça de sanção deve estar anteriormente prevista 
em lei; 
Com a promulgação do Código da Alemanha (1871) surgiu através de Karl Binding uma visão 
que considerava a pena como uma retribuição e satisfação, um direito e dever do Estado. 
Princípios fundamentais: 
1) O crime é um ente jurídico, ou seja é a infração do direito. 
2) Livre arbítrio no qual o homem nasce livre e pode tomar qualquer caminho, escolhendo pelo 
caminho do crime, responderá pela sua opção. 
3) A pena é uma retribuição ao crime (Pena retributiva) 
4) Método dedutivo[12], uma vez que é ciência jurídica. 
ESCOLA POSITIVISTA 
Esta nova corrente filosófica teve como precursor Augusto Comte, que representou a ascensão 
da burguesia emergente após a Revolução de 1789. Foi a fase em que as ciências fundamentais 
adquiriram posição como a biologia e a sociologia.O crime começou a ser examinado sob o 
ângulo sociológico, e o criminoso passou também a ser estudado, se tornando o centro das 
investigações biopsicológicas. 
Este movimento foi iniciado pelo médico Cesare Lombroso (1835-1909) com sua obra L´uomo 
delinqüente (1875). Na concepção deste médico existia a idéia de um criminoso nato, que seria 
aquele que já nascia com esta predisposição orgânica, era um ser atávico[13] uma regressão ao 
homem primitivo. 
Lombroso estudou o cadáver de diversos criminosos procurando encontrar elementos que os 
distinguissem dos homens normais. Após anos de pesquisa declarou que os criminosos já 
nasciam delinqüentes e que apresentam deformações e anomalias anatômicas físicas e 
psicológicas. 
* Físicos 
: assimetria craniada, orelhas de abano, zigomas[14] salientes, arcada superior predominante, 
face ampla e larga, cabelos abundantes, além de aspectos como a estatura, peso, braçada, 
insensibilidade física, mancinismo[15] e distúrbio dos sentidos. 
*Psicológicos 
: insensibilidade moral, impulsividade, vaidade, preguiça e imprevidência. 
Contudo esta concepção ainda não explicava a etiologia do delito, então Lombroso tentou achar 
a causa desta degeneração na epilepsia. As idéias deste médico não se sustentaram; eram 
inconsistentes perante qualquer análise científica. Isto nos remete ao nazismo e seus parâmetros 
que visavam provar a superioridade da raça ariana, como o ângulo do nariz em relação à orelha, 
a proporcionalidade entre os tamanhos da testa, nariz e queixo etc. Mas foi em Berlim e sob os 
olhares de Hitler e seus colaboradores que um negro americano, Jesse Owens[16], ganhou 
diversas medalhas de ouro. 
"Para os positivistas, o criminoso é um ser atávico, com fundo epiléptico e semelhante ao louco 
penal" Cuello Calón 
Enrico Ferri (1856-1929) - podemos dizer dele que foi o discípulo de Lombroso; era um 
brilhante advogado criminalista que fundou a Sociologia Criminal[17]. Nesta nova concepção o 
crime era determinado por fatores antropológicos, físicos e sociais. 
Também classificou os criminosos em: 
*Natos 
: são aqueles indivíduos com atrofia do senso moral; 
*Loucos 
: também se incluíam os matóides, que são aqueles indivíduos que estão na linha entre a 
sanidade e a insanidade, atualmente a psicologia utiliza o termo "Border line" para classificar 
esse tipo de disfunção. 
*Habitual 
: é aquele indivíduo que sofreu a influência de aspectos externos, de meio social inadequado. 
Ex: ao cometer um pequeno delito, o jovem vai cumprir pena em local inadequado, entrando em 
contato com delinqüentes que acabam por o corromper. 
*Ocasional 
: é aquele ser fraco de espírito, sem nenhuma firmeza de caráter. 
* Passional ( sob o efeito da paixão): 
ser de bom caráter mas de temperamento nervoso e com sensibilidade exagerada. Normalmente 
o crime acontece na juventude, vindo o indivíduo a confessar e arrepender-se depois. 
Freqüentemente ocorrem suicídios. 
Outro expoente foi Rafael Garafalo (1851-1934). Em sua obra Criminologia (1891) insiste que 
o crime está no indivíduo, pois é um ser temível, um degenerado. O delinqüente é um ser 
anormal portador de anomalia de sentido moral. 
O termo temiblididade gerou alguns princípios utilizados nos estatutos penais, como a 
periculosidade. 
Garafalo defendeu a pena capital. 
Verifica-se então que esta escola nega o livre-arbítrio, abomina a idéia da Escola Clássica que 
afirmava que o crime era o resultado da vontade livre do homem. 
A responsabilidade criminal é social por fatores endógenos e a pena não poderia ser retributiva, 
uma vez que o indivíduo age sem liberdade, o que leva ao desaparecimento da culpa voluntária. 
Propõem-se então a medida de segurança, uma sanção criminal que defende o grupo e ao 
mesmo tempo recupera o delinqüente, e que viria em substituição à pena criminal. Esta medida 
deveria ser indeterminada até a periculosidade do indivíduo desaparecer por completo. 
"É a lei expressando os interesses sociais, que atribui responsabilidade criminal aos 
indivíduos." 
"Os positivistas procuraram elaborar um conceito de delito natural que resistisse às 
transformações impostas pelos costumes, pela moral e pela própria realidade socioeconômica e 
política" J. Leal 
Princípios Fundamentais: 
a) métodoindutivo[18] 
b) o crime é visto como um fenômeno social e natural oriundo de causas biológicas físicas e 
sociais 
c) responsabilidade social em decorrência do determinismo e da periculosidade. 
d) a pena era vista como um fim a defesa social e a tutela jurídica. 
ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA 
Esta escola inicia-se em 1905 e é uma reação à corrente positivista. Procura restaurar o critério 
propriamente jurídico da ciência do Direito Penal. 
O seu primeiro expoente é Arturo Rocco, com sua famosa aula magna na Universidade de 
Sassari[19]. 
O maior objetivo é desenvolver a idéia que a ciência penal é autônoma, com objeto e métodos 
próprios, ou seja ela é única não se misturando com outras ciências (antropologia, sociologia, 
filosofia, estatística, psicologia e política) numa verdadeira desorganização. O Direito Penal 
continha de tudo, menos Direito. Rocco propõe uma reorganização onde o estudo do Direito 
Criminal se restringiria apenas ao Direito Positivo vigente. 
"único que la experiencia nos señala y en el cual solamente puede encontrarse el objeto de una 
ciencia jurídica como lo es la del derecho penal (...)". Rocco 
"Lo que se quiere es tan solo que la ciencia del derecho penal, en armonia con su naturaleza de 
ciencia jurídica especial, limite el objeto de sus investigaciones directas al estudio exclusivo del 
derecho penal y, de acordo con sus medios, del único derecho penal que existe como dato de la 
experiencia, o sea, el derecho penal positivo". Rocco 
O Direito penal seria aquele expresso na lei, e o jurista deve-se ater apenas a ela.O Direito Penal 
é o que está na lei. O seu estudo compõe-se de três partes: 
*exegese 
: irá dar sentido as disposições do ordenamento jurídico 
*dogmática 
: investigação dos princípios que irão nortear o direito penal fixando assim os seus elementos 
*crítica 
: que irá orientar na consideração do direito vigente demonstrando assim o seu acerto ou a sua 
conveniência de reforma. 
Outros importantes defensores dessa escola são: Manzini, Massari, Delitala, Cicala, Vannini, 
Conti. 
Princípios Fudamentais: 
a) o delito é pura relação jurídica, de conteúdo individual e social; 
b) a pena constitui uma reação e uma conseqüência do crime (tutela jurídica), com função 
preventiva geral e especial, é aplicável aos imputáveis; 
c) a medida de segurança - preventiva -, é aplicável aos inimputáveis; 
d) a responsabilidade é moral (vontade livre); 
e) o método utilizado é técnico-jurídico; 
f) refuta o emprego da filosofia no campo penal. 
CONCLUSÃO 
Para que se possa compreender a filosofia e os princípios que regem o direito penal 
contemporâneo é preciso que se tenha uma visão do processo histórico que os precedeu. 
É inconteste que, com o aparecimento do homem sobre a terra, surgiu também o crime. Um dos 
mais antigos livros que se tem acesso, a Bíblia, já relata o assassinato de Abel por seu irmão 
Caim e a conseqüente pena de banimento que lhe foi aplicada por Deus. A invenção da escrita, 
que é o marco divisório entre a pré-história e a história, trouxe a possibilidade de gravação das 
leis, como o famoso Código de Hamurabi. Temos então, na gênese das civilizações, a 
preocupação, desde os povos antigos, com as regras que definem o crime e as penas a serem 
aplicadas aos infratores. 
A história do Direito Penal é descrita em fases nas quais os princípios e aspectos distintivos não 
se sucedem de forma estritamente linear. 
As mais antigas são " A Vingança Privada" com a famosa Lei de Talião, " A Vingança Divina" 
onde direito e religião se confundiam e a "Vingança Pública" cuja principal finalidade era a 
segurança do monarca que detinha o poder absoluto. 
Depois veio o "Direito Romano" que foi o grande antepassado das leis atuais e introduziu 
conceitos inovadores como graus de culpa. Também o "Direito Germânico" inovou com a 
definição de uma "ordem de paz" que poderia se rompida pelo crime. O "Direito Canônico" 
substituiu as penas patrimoniais pelo encarceramento. 
O Iluminismo propiciou a conscientização de uma visão ética sobre o homem e o tratamento 
que a ele deveria ser dado. Surgiu, juntamente com a Teoria do Contrato Social, o "Período 
Humanitário" com a contribuição importante do Marquês de Beccaria, que teve um papel 
decisivo na elaboração de um novo Direito Penal mais compassivo e respeitador do indivíduo. 
As escolas penais são as diversas correntes filosófico-jurídicas sobre crimes e punições que 
apareceram nos Tempos Modernos. 
A Escola Clássica, de inspiração Iluminista, visa propiciar ao homem um defesa contra o 
arbítrio do Estado. A Escola Positivista encara o crime sob a ótica sociológica e o criminoso 
torna-se o alvo de investigações biopsicológicas com fundamentos que não resistem a uma 
análise mais minuciosa e negam o livre-arbítrio, base da responsabilidade inalienável que cabe 
ao homem por seus atos. A Escola Técnico-Jurídica iniciada em 1905 reage contra a positivista 
e objetiva a restauração do critério propriamente jurídico do Direito Penal como ciência. 
A observação dessa abordagem cronológica propicia o entendimento da evolução do 
pensamento humano sobre o conceito e o significado de crime e sobre as penas que ao infrator 
devem ser imputadas. A construção da ciência do Direito Penal foi um processo lento, cheio de 
ensaios e erros, que passou por todas as gradações do profundo desrespeito à pessoa até à 
moderna proposta da valorização dos direitos humanos. Graças ao árduo trabalho de juristas 
competentes, cuja visão muitas vezes foi deturpada pelo chamado "espírito da época"[20], mas 
cujo intento sempre foi melhorar a vida dos homens, foram sendo elaborados os parâmetros do 
legalmente certo e errado e das punições permitidas ao Estado. É pertinente ressaltar que 
nenhum Estado pode se sobrepor à justiça e que todos os atos de genocídios e expurgos são 
imorais, mesmo quando previstos por leis ditatoriais como o nazismo e fascismo.