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1 SANEAMENTEO II CURSO DE ENGENHARIA CIVIL-UEG PROF. CLODOVEU REIS PEREIRA Normas importantes para estudo de esgoto sanitário: NBR 9648 nov/1986 – Estudo de concepção de sistemas de esgoto sanitário NBR 7968 maio/1983 – Diâmetros nominais em tubulações de saneamento NBR 9649 nov/1986 – Projeto de redes coletoras de esgoto sanitário NB-568 nov/1989 – Projeto de interceptores de esgoto sanitário NBR 12208 ABR/1992 – Projeto de estações elevatórias de esgoto sanitário NB-570 MAR/1990 – Projeto de estações de tratamento de esgoto sanitário NBR 7367 DEZ/1988 – Projeto e assentamento de tubulações de PVC rígido para sistemas de esgoto sanitário NBR 7229 SET/1993 – Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos NBR 9814 Maio/1987 – Execução de rede coletora de esgoto sanitário NBR 12587 ABR./1982 – Cadastro de sistema de esgotamento sanitário EB-2065 SET./1990 – Agitadores mecânicos de baixa rotação, do tipo turbina EB-2185 DEZ/1991 – Grade de barras retas, de limpeza manual NBR 13160 JUN./1994 – Grade fixa de barras curvas, com limpeza mecanizada EB-2107FEV./1991 – Aerador mecânico de superfície, tipo escova. 1 TRATAMENTO DO ESGOTO SANITÁRIO 1.1 Conceitos Iniciais Sistema de esgotos sanitários é o conjunto de obras e instalações destinadas a propiciar a coleta, o transporte e o afastamento, bem como tratamento e a disposição final dos esgotos de forma ambientalmente correta. Os esgotos costumam ser classificados em dois grupos principais: os esgotos sanitários e os esgotos industriais. Os esgotos sanitários são constituídos de esgotos domésticos, uma parcela de água de chuva, água de infiltração e, eventualmente, uma parcela não significativa de 2 esgotos industriais com características bem definidas. São compostos principalmente de água (99,9%) e de sólidos (0,1%). Os esgotos domésticos provêm principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas ou qualquer dispositivo de utilização de água para fins domésticos. Compõem-se essencialmente de água de banho, urina, fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem. 1.2 Objetivos do tratamento do esgoto sanitário Os objetivos primordiais do tratamento do esgoto são a transformação de matérias orgânicas em matérias inorgânicas e a remoção dos microrganismos patogênicos e de matéria tóxica, a fim de garantir a saúde pública e a proteção do meio ambiente. A definição do tipo de tratamento depende dos padrões de emissão do tratamento do esgoto. O sistema deve produzir um efluente em consonância com os padrões exigidos pela legislação ambiental. Os requisitos a serem atingidos para o efluente são função de legislação específica, que prevê padrões de qualidade para o efluente e para o corpo receptor. 1.3 Níveis de tratamento A remoção dos poluentes no tratamento, de forma a adequar o lançamento a uma qualidade desejada ou ao padrão de qualidade vigente está associada aos conceitos de nível de tratamento e eficiência do tratamento. Tendo por referencial os padrões de eficiência, Sperling (1996a, p.169) propõe a seguinte classificação para as formas de tratamento do esgoto sanitário: tratamento preliminar – objetiva a remoção dos sólidos grosseiros, a fim de evitar danos a equipamentos e as unidades subseqüentes e aos corpos receptores; 3 tratamento primário – visa à remoção de sólidos sedimentáveis remanescentes e parte da matéria orgânica; é a fase em que predominam os mecanismos físicos; tratamento secundário – apresenta maior eficiência para remoção da matéria orgânica e sólidos em suspensão; nesta fase, predominam os mecanismos biológicos; as bactérias que efetuam o tratamento se reproduzem e têm a sua massa total aumentada em função da quantidade de matéria degradada; tratamento terciário (avançado) – objetiva a remoção de nutrientes, de coliformes e de uma parte complementar de demanda bioquímica de oxigênio (DBO). Segundo Jordão e Pessoa (2005) os condicionamentos aplicados aos esgotos são comumente denominados de processos de tratamento. Os processos de tratamento dos esgotos são formados, em última análise, por uma série de operações unitárias, empregadas para a remoção de substâncias indesejáveis, ou para a transformação destas substâncias em outras de forma aceitável. As mais importantes destas operações unitárias, empregadas nos sistemas de tratamento são: ● Troca de gás: operação pela qual gases são adicionados ao esgoto ou tomados em solução pelo esgoto a ser tratado, pela sua exposição ao ar sob condição elevada, redução normal de pressão. Exemplos: a adição de oxigênio ou ar ao esgoto, para criar ou manter condições aeróbias, a adição de cloro por meio de cloradores gasosos, para a inativação de microrganismos. ● Gradeamento: operação pela qual o material flutuante e a matéria em suspensão que for maior que as aberturas das grades, são retidos e removidos. Exemplo: a remoção de sólidos grosseiros do esgoto por meio de grades de barras, desintegradores, ou peneiras. ● Sedimentação: operação pela qual a capacidade de carreamento e de erosão da água é diminuída, até que as partículas em suspensão sedimentem pela ação da gravidade e não possam mais ser relevantadas pela ação de correntes. Exemplos: a retirada de areias do esgoto através das caixas de areia; a remoção de sólidos não sedimentáveis, mas que se 4 tornaram sedimentáveis pela ação de coagulação; as substâncias que se sedimentaram são chamadas , genericamente, de “lodo”. ● Flotação: operação pela qual a capacidade de carreamento da água é diminuída e sua capacidade de empuxo é então aumentada, às vezes até pela adição de agentes flotantes: as substâncias naturalmente mais leves que a água, ou que pela ação destes agentes flotantes são tornadas mais leves, sobem à superfície, e são então raspadas. Exemplo: a remoção de gordura e óleo do esgoto, com uso ou não de aeração. ● Coagulação química: operação pela qual substâncias químicas formadoras de flocos – coagulantes – são adicionadas ao esgoto com a finalidade de se juntar ou combinar com a matéria em suspensão sedimentável e, particularmente, com a não sedimentável e com a matéria coloidal; com isto forças de atração maiores que as forças de repulsão entre as partículas se formam rapidamente, unindo-as e formando flocos em suspensão que sedimentam melhor. Embora solúveis, os coagulantes se precipitam depois de reagir com outras substâncias do meio. Exemplo: adição de cloreto férrico ao esgoto para coagulação e floculação. ● Precipitação química: operação pela qual substâncias dissolvidas são retiradas de solução; as substâncias químicas adicionadas são solúveis e reagem com as substâncias químicas do esgoto, precipitando-as. Exemplo: adição de cal ao esgoto rico em ferro, produzindo flocos que sedimentam. ● Filtração: operação pela qual os fenômenos de coar, de sedimentação, e de contato interfacial combinam-se para transferir a matéria em suspensão para grãos de areia, carvão, ou outro material granular, de onde deverá ser removida. Exemplo: a filtração lenta do esgoto através de leitos de areia. ● Desinfecção: operação pela qual os organismos vivos infecciosos em potencial são inativados. Exemplo:cloração, ozonização, ação de raios ultravioleta sobre o esgoto. ● Oxidação biológica: operação pela qual os microrganismos decompõem a matéria orgânica contida no esgoto ou no lodo e transformam substâncias complexas em produtos simples. Exemplos: a aeração dos esgotos, a filtração biológica, a depuração nas lagoas de estabilização.5 O quadro 1 mostra uma síntese dos três primeiros níveis de tratamento de esgoto e de suas características. Quadro 1 – Características dos principais níveis de tratamento dos esgotos NÍVEL DO TRATAMENTO(1) Preliminar Primário Secundário Poluentes removidos -Sólidos grosseiros -Sólidos sedimentáveis -DBO em suspensão -Sólidos não sedimentáveis -DBO em suspensão fina -DBO solúvel -Nutrientes (parcialmente) -Patogênicos (parcialmente) Eficiência de remoção -Sólidos em suspensão: 60% - 70% -DBO: 30 - 40% -Coliformes: 30 - 40% -DBO: 60% - 99% -Coliformes: 60% - 99%(3) -Nutrientes: 10% - 55%(3) Mecanismo de tratamento predominante Físico Físico Biológico Cumpre o padrão de lançamento? (2) Não Não Usualmente sim Aplicação -Montante de elevatória -Etapa inicial de tratamento -Tratamento parcial -Etapa intermediária de tratamento mais completo -Tratamento mais completo para matéria orgânica e sólidos em suspensão (para nutrientes e coliformes, com adaptações ou inclusão de etapas específicas) Fonte: Sperling (1996a) (1) Uma ETE de nível secundário usualmente tem tratamento preliminar, mas pode ou não ter tratamento primário (depende do processo). (2) O padrão de lançamento tal como expresso na legislação. O órgão ambiental poderá autorizar outros valores para o lançamento, caso estudos ambientais demonstrem que o corpo receptor continuará 6 enquadrado dentro da sua classe. (3) A eficiência de remoção poderá ser superior, caso haja alguma etapa de remoção específica. A porcentagem ou eficiência de remoção de determinado poluente no tratamento ou em uma etapa do mesmo é dada pela fórmula: E = (Co – Ce) / Co . 100 Onde: E = eficiência de remoção (%0 Co = concentração afluente do poluente (mg/L) Ce = concentração efluente do poluente (mg/L) O quadro 2 apresenta um resumo das unidades empregadas na remoção de diversos tipos de sólidos no esgoto. Quadro 2 – Produtos gerados em uma estação de tratamento de esgoto TRATAMENTO PROCESSOS E OPERAÇÕES PRODUTOS GERADOS Preliminar •Gradeamento •Remoção de areia •Separação de óleo •Material gradeado: madeira, trapos, folhas, e outros •Areia, silte etc. •Óleo e escuma oleosa Primário •Sedimentação •Flotação por ar dissolvido •Coagulação e sedimentação •Sólidos orgânicos, escuma •Matéria graxa, escuma •Sólidos orgânicos, precipitados químicos, escuma. Secundário •Lodos ativados em geral, filtros biológicos, com sedimentação final. •Sólidos gerados no processo biológico Terciário •Coagulação química e sedimentação •Filtração em areia •Adsorção em carvão ativado •Sólidos da precipitação química, hidróxidos •Sólidos na água de lavagem •Carvão ativado para ser regenerado Lagoas de estabilização •Lagoas fotossintéticas •Lagoas aeradas •Lagoas de decantação •Sólidos acumulados no fundo, algas no efluente. •Sólidos em suspensão no efluente •Sólidos gerados na lagoa aerada. Aplicação no terreno •Tratamento primário ou secundário •Sólidos em suspensão no efluente do pré- tratamento Adensamento do lodo •Adensamento por gravidade, por flotação, filtros de esteira, centrífugas •Lodo concentrado Tratamento do lodo •Digestão anaeróbia, aeróbia, compostagem. •Sólidos orgânicos parcialmente estabilizados, gás Remoção da umidade do lodo •Leitos de secagem, desidratação mecânica •Torta de lodo seco Disposição final do lodo •Aterros •Incineração •Sólidos secos espalhados e compactados •Cinzas •Vários produtos sólidos rapidamente dispersados e diluídos Fonte: Jordão e Pessoa (1995), com adaptações. 7 1.3.1 Tipos de sistemas de esgotos Os sistemas de esgotos urbanos podem ser de três tipos: a) Sistemas de esgotamento unitário, onde as águas residuárias (domésticas e industriais), águas de infiltração e águas pluviais veiculam por um único sistema. b) Sistema separador parcial; c) Sistema separador absoluto, em que as águas residuárias (domésticas e industriais) e as águas de infiltração que constituem o esgoto sanitário, veiculam em um sistema independente, denominado sistema de esgoto sanitário. No Brasil, basicamente utiliza-se o sistema separador absoluto. 1.4 Características qualitativas do esgoto sanitário 1.4.1 Características físicas As principais características físicas dos esgotos domésticos são: matéria sólida, temperatura, cor, odor e turbidez. A cor e a turbidez são provocadas pela presença de sólidos dissolvidos e em suspensão respectivamente. A concentração de sólidos presentes no esgoto afluente é de grande relevância em seu tratamento. As partículas apresentam-se em suspensão ou dissolvidas, são sedimentáveis ou não, orgânicas ou minerais. Quantificar e qualificar os sólidos presentes no esgoto é importante para o dimensionamento e controle das unidades de tratamento de esgoto, assim como para a avaliação da quantidade de material retido. 8 Formam os resíduos sólidos do tratamento de esgoto o material retido no gradeamento, o material retido no desarenador, a escuma e o lodo. Esse último é o principal subproduto, em razão dos maiores volumes e massas produzidas na ETE. Os sólidos totais que compõem o esgoto, em média, não ultrapassam de 0,09% da massa dos esgotos, dos quais 70% são constituídos de matéria orgânica e 30% de matéria inorgânica . Podem ser definidos como a matéria que permanece na forma de resíduo após a evaporação a 1030C. Se esse resíduo é calcinado a 6000C, as substâncias orgânicas volatilizam-se e as minerais permanecem sob a forma de cinza, compondo, assim, a matéria sólida volátil e a matéria fixa. O conhecimento da fração de sólidos voláteis apresenta particular interesse nos exames do lodo do esgoto para se saber sua estabilidade biológica e composição orgânica. Os sólidos totais classificam-se ainda em matéria em suspensão e dissolvida. Os sólidos em suspensão compõem a parte que é retida, quando um volume da amostra de esgoto é filtrada através de um filtro de tamanho especificado correspondente aos sólidos dissolvidos. A fração que passa pelo filtro compõe a matéria sólida dissolvida e que está presente em solução ou sob a forma coloidal. Define-se ainda como sólido sedimentável a fração das partículas em suspensão que sedimentam por ação da gravidade num recipiente apropriado de um litro (cone “Imhoff”), após o tempo de uma hora (JORDÃO, PESSOA, 1995). A quantidade de sólido sedimentável é uma indicação do volume de lodo que poderá ser removida por sedimentação nos decantadores. De acordo com Lettinga e Haandel (1994), é procedente esperar que, no esgoto bruto, aproximadamente 1/3 dos sólidos presentes sejam suspensos e sedimentáveis, 1/3 sejam suspensos, mas não sedimentáveis, e 1/3 sejam dissolvidos. Na tabela 1, são apresentados valores de concentrações de sólidos típicas do esgoto sanitário e de duas ETEs estudadas no Rio de Janeiro. 9 Tabela 1 – Características típicas de sólidos no esgoto bruto MATERIA SÓLIDA ESGOTO MÉDIO (mg/L) ETE DE SANTA MARIA (mg/L) ETE ILHA GOVERNADOR (mg/L) Totais Voláteis Fixos Suspensos totais Suspensos voláteis Suspensos fixos Dissolvidos totais Dissolvidos voláteis Dissolvidos fixos 500 350 150 300 250 50 200 100 100 741 460 281 366 284 82 375 176 199 485 185 360 173 103 70 312 82230 Fonte: Jordão e Pessoa (1995) (com adaptações) Sperling (1996a) classifica como sólidos dissolvidos aqueles com diâmetro inferior a 10-3 m, como sólidos coloidais aqueles com diâmetro entre 10-3 e 100 m e como sólidos em suspensão aqueles com diâmetro superior a 100 m. 10 1.4.2 Características químicas do esgoto sanitário a) Matéria orgânica Considerando que 70% dos sólidos presentes no esgoto doméstico são de origem orgânica, Metcalf e Eddy (1991) afirmam que as substâncias orgânicas presentes nos esgotos são constituídas principalmente por: compostos de proteínas (40% a 60%); carboidratos (25% a 50%); gordura e óleos (8% a 12%); uréia, surfactantes, fenóis, pesticidas, metais e outros (menor quantidade). A matéria orgânica carbonácea (baseada no carbono orgânico) presente no esgoto nos esgotos afluentes a uma estação de tratamento divide-se nas seguintes frações: ●classificação quanto à forma e tamanho -em suspensão (particulada) -dissolvida (solúvel) ●classificação quanto à biodegradabilidade -inerte -biodegradável. Em termos práticos, usualmente não há necessidade de se caracterizar a matéria orgânica em termos de proteínas, gorduras, carboidratos etc. O principal efeito ecológico da poluição em um curso d`água é o decréscimo dos teores de oxigênio dissolvido. A concentração dos esgotos é indicada pela quantidade de matéria orgânica presente em um determinado despejo e é medida principalmente pela DBO5 (demanda bioquímica de oxigênio aos cinco dias), que é a quantidade de oxigênio 11 necessária para a oxidação da matéria orgânica existente na água residuária, a qual pode ser oxidada pelas bactérias. Convencionou-se proceder à análise no 50 dia. Para esgotos domésticos típicos, esse consumo do quinto dia pode ser correlacionado com o consumo total final (DBOu), determinou-se que o teste fosse efetuado à temperatura de 20 0C, já que temperaturas diferentes interferem no metabolismo bacteriano, alterando as relações entre a DBO de 5 dias e a DBO última. Simplesmente, o teste da DBO pode ser entendido da seguinte maneira: no dias da coleta, determina-se a concentração de oxigênio dissolvido (OD) da amostra. Cinco dias após, com a amostra mantida em um frasco fechado e incubada a 200C, determina-se a nova concentração, já reduzida, devido ao consumo de oxigênio durante o período. A diferença entre o teor de OD no dia zero e no dia 5 representa o oxigênio consumido para a oxidação da matéria orgânica, sendo portanto, a DBO5. Os esgotos domésticos possuem uma DBO da ordem de 300 mg/L, ou seja, 1 litro de esgoto consome aproximadamente 300 mg de oxigênio, em 5 dias, no processo de estabilização da matéria orgânica carbonácea. Demanda Última de Oxigênio (DBOu) _ A DBO5 corresponde ao consumo de oxigênio durante os primeiros 5 dias. No entanto, ao final do quinto dia a estabilização da matéria orgânica não está ainda completa, prosseguindo, embora em taxas mais lentas, por mais um período de semanas ou dias. Após tal, o consumo de oxigênio pode ser considerado desprezível. Neste sentido, a Demanda Última de Oxigênio corresponde ao consumo de oxigênio exercido até este tempo, a partir do qual não há consumo representativo. Vários autores adotam, de maneira geral, a relação DBOu/DBO5 igual a 1,46. Isto quer dizer, caso se tenha uma DBO5 de 300 mg/L, a DBOu será igual a 1,46 x 300 = 438 mg/L. Outra forma para verificar a concentração dos esgotos é através da DQO (demanda química de oxigênio), que corresponde à quantidade de oxigênio requerida para oxidar a fração orgânica de uma amostra que seja oxidável pelo permanganato ou dicromato de potássio. Uma das vantagens da DQO sobre a DBO é que permite respostas em tempo muito menor. O teste gasta de 2 a 3 horas para ser realizado. O teste de DQO 12 engloba não somente a demanda satisfeita biologicamente, mas tudo o que susceptível de demandas de oxigênio, em particular os sais minerais oxidáveis, (JORDÃO, PESSOA, 1995). Sperling (1996a) considera que a concentração média de DBO5 dos esgotos domésticos seja da ordem de 300 mg/L e a concentração de DQO na ordem de 600 mg/L. Para esgotos domésticos brutos,, a relação DQO/DBO5 varia em torno de 1,7 a 2,4. ● relação DQO/DBO5 baixa: ( menor cerca de 2,5) -a fração biodegradável é elevada, - provável indicação para tratamento biológico. ● relação DQO/DBO5 intermediária (entre 2,5 e 3,5): -a fração biodegradável não é elevada, - estudos de tratabilidade para verificar viabilidade do tratamento biológico ● relação DQO/DBO5 elevada: ( cerca de 3,5 ou 4,0) -a fração inerte (não biodegradável) é elevada; -se a fração não for importante em termos de poluição do corpo receptor: possível indicação para tratamento biológico; -se a fração não biodegradável for importante em termos de poluição do corpo receptor: provável indicação para tratamento físico-químico. Em vários casos, a quantificação de poluentes deve ser apresentada em termos de carga. A carga é expressa em termos de massa por unidade de tempo, podendo ser calculado pela equação: . Carga = concentração x vazão / 1.000 Em que: Carga (kg/dia) Concentração (g/m3) Vazão (m3/dia) Valores de DBO do esgoto afluente e efluente da ETE-Anápolis (2005) fornecidos pela SANEAGO, são apresentados na tabela 2. 13 Tabela 2 – Resultados de DBO – ETE Anápolis Mês DBO Afluete (mg/L) DBO efluente(mg/L) Junho 270 22 Julho 320 34 Agosto 290 68 Setembro 360 52 Outubro 344 61 Média 316 47 Caracterização da matéria carbonácea (baseada no carbono orgânico) -Inerte não biodegradável, pode ser solúvel e sai do reator do jeito que entrou ou pode ser particulada e removida com o lodo. Biodegradável, sofre alteração na sua passagem pelo sistema. Pode ser rapidamente biodegradável (usualmente solúveis) ou lentamente biodegradáveis (usualmente particulada). Caracterização da matéria nitrogenada -Inorgânica, amônia, sob a forma livre NH3 ou sob a forma ionizada NH4†; -Orgânica, semelhante a matéria orgânica carbonácea. Quanto a biodegradabilidade pode ser inerte ou biodegradável. A DBO se refere a estabilização da matéria orgânica carbonácea. b) Nível de pH O pH representa a concentração de íons hidrogênio, dando uma indicação de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água natural ou esgoto (SPERLING, 1996a). 14 Valores de pH altos ou baixos podem afetar o crescimento dos microrganismos e tornar impossível o tratamento biológico do esgoto. A presença de algas pode elevar os valores de pH, no caso de lagoas de estabilização. c) Alcalinidade Alcalinidade corresponde à medição da capacidade da água de neutralizar os ácidos (capacidade de resistir às mudanças de pH: capacidade tampão). A alcalinidade é devida a presença de hidróxidos, carbonatos e bicarbonatos. Tem importância no tratamento de esgotos, pois a redução do pH pode afetar os microrganismos responsáveis pela depuração. O esgoto sanitário é geralmente alcalino, em razão da presença de materiais adicionados no trato doméstico (SPERLING, 1996a). d) Acidez Acidez é a capacidade da água em resistir às mudanças de pH causadas pelas bases (SPERLING, 1996a). e) Dureza A dureza representa a concentração de cátions multimetálicos em solução. Os cátions mais freqüentemente associados à dureza são os cátions divalentes Ca2+ e Mg2+. A dureza tem pouca relevância no tratamento de esgoto sanitário (SPERLING, 1996a). f) Ferro, manganês e cloretos No tratamento de águas residuárias,deve ser observada a legislação sobre padrões de lançamento de elementos como ferro, manganês e cloretos (SPERLING, 1996a). g) Nitrogênio 15 No meio aquático, o nitrogênio pode ser encontrado nas seguintes formas: nitrogênio molecular, nitrogênio orgânico, amônia, nitrito e nitrato. No esgoto doméstico bruto, as formas predominantes são: o nitrogênio orgânico e a amônia. A presença do nitrogênio no esgoto, em qualquer uma de suas diversas formas, é um dado importante, porque: certas doenças como a metahemoglobinia são associadas a algumas formas do nitrogênio; o nitrogênio é um elemento indispensável para o crescimento de algas; o nitrogênio, nos processos bioquímicos de conversão da amônia em nitrito e deste em nitrato, implica o consumo de oxigênio dissolvido no meio; o nitrogênio é um elemento indispensável ao crescimento dos microrganismos responsáveis pelo tratamento de esgotos; os processos de conversão do nitrogênio têm implicações na operação das estações de tratamento de esgotos; é necessário o balanço da relação C: N: P (carbono, nitrogênio e fósforo) no esgoto para o desenvolvimento dos microrganismos. A relação em peso DBO/N/P pode indicar a viabilidade do tratamento biológico 100/5/1 como necessária para manter um balanço, matéria orgânica e nutrientes para o tratamento biológico. Em cursos d’água ou em estações de tratamento de esgotos a amônia pode sofrer transformações posteriores. No processo de nitrificação a amônia é oxidada a nitrito e este a nitrato. No processo de desnitrificação os nitratos são reduzidos a nitrogênio gasoso. Nitrogênio Total: O nitrogênio total inclui o nitrogênio orgânico, amônia, nitrito e nitrato. Ë um nutriente indispensável para o desenvolvimento dos microrganismos no tratamento biológico. O nitrogênio orgânico e a amônia compreendem o denominado Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK) 16 Principais formas encontradas de Nitrogênio: Nitrogênio molecular N2 Nitrogênio orgânico variável (nitrogênio na forma de proteínas, aminoácidos e uréia. Amônia livre-NH3 Produzida como primeiro estágio da decomposição do nit. Orgânico Íon amônia NH4† Ion nitrito NO2- Estágio intermediário da oxidação da amônia. Praticamente ausente no esgoto bruto. Ion nitrato NO3- Produto final da oxidação da amônia. Praticamente ausente no esgoto bruto. h) Fósforo: O fósforo é indispensável ao crescimento de algas e outros microrganismos responsáveis pela estabilização da matéria orgânica. As algas, cuja presença é fundamental para o bom desempenho de uma lagoa facultativa, quando em elevadas concentrações em lagoas e em represas, podem conduzir a um fenômeno denominado eutrofização. i) Oxigênio dissolvido O oxigênio dissolvido é o principal parâmetro para se avaliar o efeito do lançamento de matéria orgânica em um corpo receptor. O oxigênio é essencial para a respiração de microrganismos aeróbios. Na tabela 3 são apresentados valores médios de vários parâmetros encontrados em estação de tratamento de esgoto. 17 1.4.3 Características biológicas Existem, nos intestinos do homem e dos animais, bactérias, vírus, protozoários e helmintos transmissores de doenças, chamados de organismos patogênicos. Muitos desses microrganismos, depois de excretados com as fezes podem sobreviver no meio ambiente (água, lodo, esgoto, solo) e até mesmo multiplicar-se. Alguns deles podem ainda voltar ao organismo humano ou animal, penetrando através do sistema respiratório ou de escoriações na pele. As bactérias são os microrganismos mais importantes numa ETE, por serem as principais responsáveis pela decomposição e estabilização da matéria orgânica. Silva e Mara (1979) avaliam que, do ponto de vista do tratamento de águas 18 residuárias, as bactérias podem ser consideradas em si mesmas como minúsculos e automáticos reatores químicos. Para se indicar a poluição de origem humana e para medir a magnitude dessa contribuição, costuma-se adotar como indicadores os microrganismos do grupo coliforme. As bactérias coliformes são típicas do intestino do homem e de outros animais de sangue quente. E, justamente por estarem presentes no excremento humano (100 a 400 bilhões de coliformes/hab.dia) e serem de simples determinação, são adotadas como referência na determinação da grandeza da poluição. A medida dos coliformes é dada por uma estimativa estatística de sua concentração, conhecida como o número mais provável de coliformes (NMP/mL ou NMP/100 mL), determinada por técnicas próprias de laboratório. Jordão e Pessoa (1995) consideram que o esgoto bruto contém cerca de 109 a 1010 NMP/100 mL de colis totais, e de 108 a 109 NMP/100 mL de colis fecais. Do ponto de vista do controle de microrganismos, Mendonça (1990) considera que, o controle bacteriológico, é fundamental na avaliação da eficiência de uma ETE. Com os resultados da remoção desses organismos patogênicos, pode-se analisar o perigo potencial associado com a descarga de efluentes no corpo receptor, quando se deseja avaliar a possibilidade de reuso de efluentes para irrigação, dessedentação de gado e aqüicultura. A presença de microrganismos implica riscos de saúde para o pessoal que trabalha no campo, para o que manuseia os alimentos e para o consumidor final. São numerosas as doenças que seguem a via oral-fecal provocadas por microrganismos, que, em muitas situações, podem levar o paciente a óbito. São famosas as epidemias de febre tifóide e cólera na história da humanidade. Os helmintos ou vermes que parasitam o intestino humano apresentam morfologias variadas e ciclos complexos de reprodução. A transmissão de doenças por helmintos ocorre por meio de diversas matérias contaminadas com ovos ou larvas eliminados com as fezes de doentes. Mendonça (1990) relata que os ovos podem sobreviver por tempo bastante prolongado (até vários meses ou anos) em diferentes ambientes, especialmente em solos úmidos e com temperaturas médias de 28oC. Como 19 exemplo do ciclo de vida dos helmintos, pode-se citar o ciclo do Ascaris lombricóides: (homem-solo-homem). Alimentos contaminados são ingeridos e passam pelo aparelho digestivo. Os ovos maduros são eliminados através das fezes. Esses ovos amadurecem no solo em uma ou duas semanas, originando as formas embrionárias infecciosas. O ovo embrionário permanece viável por meses e até anos em alimentos contaminados, solo e água. Em caso de reuso do esgoto tratado na agricultura, na avaliação do risco de contaminação, é importante comparar o tempo de sobrevivência do patógeno com a duração do ciclo de crescimento do vegetal. Konig (2001) afirma que há um risco real quando o tempo de sobrevivência superar o tempo de crescimento e de colheita da planta A simples presença, nos esgotos de patógenos que contaminam a água ou o solo não implica a sua imediata transmissão ou a infecção de novos indivíduos. Resultados de diversas pesquisas sugerem como parâmetro para reuso irrestrito as recomendações da WHO (1973), assim definidas: número de coliformes termotolerantes menor ou igual a 103 por 100 mL e menor ou igual a 1 ovo viável de helminto perfeitamente alcançada (lombricóides). Essa concentração é alcançada após tratamento dos esgotos em lagoas de estabilização com tempos de detenção hidráulica entre 10 e 25 dias (KONIG, 2001). Em lagoas de estabilização, devido ao grande tempo de detenção do esgoto nos reatores, propicia a decantação da maioria dos ovos de helmintos e a destruição dos cistos de protozoários. Ainda segundo a mesma autora, o longo tempo de detenção em lagoasde estabilização favorece também a ação sinérgica do conjunto de fatores bactericidas e virucidas (pH elevado, toxidez do oxigênio, toxinas das algas, luz solar etc.). As algas são muito importantes nos processos de tratamento de esgoto, quando se adotam como sistema de tratamento lagoas de estabilização do tipo facultativa, pois produzem oxigênio por meio da fotossíntese. No entanto em lagos e represas, podem proliferar em excesso, causando deterioração da qualidade da água. 20 1.5 Autodepuração dos cursos d’água A introdução de matéria orgânica em um corpo d’água resulta, indiretamente, no consumo de oxigênio dissolvido. Tal se deve aos processos de estabilização da matéria orgânica realizados pelas bactérias decompositoras, as quais utilizam o oxigênio disponível no meio líquido para a sua respiração (SPERLING, 2005). Dentro de um enfoque prático, deve-se considerar que uma água esteja depurada quando as suas características não mais sejam conflitantes com a sua utilização prevista em cada trecho do curso d’água. Dentro de uma visão essencialmente prática, pode-se considerar que a capacidade que um corpo d’água tem de assimilar os despejos, sem apresentar problemas do ponto de vista ambiental, é um recurso natural que pode ser explorado. Esta visão realística é de grande importância em países em desenvolvimento, em que a carência de recursos justifica que se utilizem os cursos d’água como complementação dos processos que ocorrem no tratamento de esgotos (desde que feito com parcimônia e dentro de critérios técnicos seguros e bem defenidos. Desta forma, a capacidade de assimilação do corpo d’água pode ser utilizada até um ponto aceitável e não prejudicial, não sendo admitido o lançamento de cargas poluidoras acima deste limite (SPERLING, 2005). Afigura 1 apresenta a trajetória dos três principais parâmetros (matéria orgânica, bactérias decompositoras e oxigênio dissolvido. 1.5.1 - Cinética da desoxigenação O principal efeito ecológico da poluição orgânica em um curso d’água é o decréscimo dos teores de oxigênio dissolvido. Este decréscimo está associado à Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). O conceito de DBO, representando tanto a matéria orgânica, quanto o consumo de oxigênio, pode ser entendido por estes dois ângulos distintos, ambos tendo como unidade massa de oxigênio por unidade de volume (ex: mgO2/L): ● DBO remanescente: concentração de matéria orgânica remanescente na massa líquida em um dado instante ● DBO exercida: oxigênio consumido para estabilizar a matéria orgânica até este instante. A progressão da DBO ao longo do tempo, segundo estes dois conceitos, pode ser vista na figura 2. 21 ZONAS DE AUTODEPURAÇÃO 22 As duas curvas são simétricas, em imagem de espelho. No tempo igual a zero, a matéria orgânica se apresenta em sua concentração total, enquanto o oxigênio consumido é zero. Com o passar do tempo, a matéria orgânica remancescente vai se reduzindo, implicando no aumento do consumo acumulado de oxigênio. Após um período de vários dias, a matéria orgânica está praticamente toda estabilizada (DBO remanescente igual a zero), ao passo qua o consumo de oxigênio está praticamente todo exercido (DBO totalmente exercida). (SPERLING, 2005) A cinética da reação da matéria orgânica remanescente (DBO remanescente) se processa segundo uma reação de primeira ordem. Uma reação de primeira ordem é aquela na qual a taxa de mudança da concentração de um substância é proporcional à primeira potência da concentração. As equações abaixo, podem ser aplicadas para a matéria carbonácea (considerando a base 10 DL/dt = -k1 L L = La (10 -K 1 t) Y = La (1 – 10 –k1t) Sendo: L – DBO remanescente no tempo t, mg/L 23 La – DBO total de 10 estágio, mg/L K1 – constante de desoxigenação, d-1 t – o tempo decorrido, d y – DBO exercida no tempo t, mg/L Quanto maior a concentração de DBO, mais rapidamente se processará a desoxigenação. A equação acima não leva em conta o efeito dos bancos de lodo e dos sólidos do fundo que também consomem DBO (demanda bentônica), mas imagina um rio relativamente profundo, grande, e sem depósitos importantes de lodo. As equações acima poderiam estar referenciadas à base e, L = La (e -k 1e t) k1e (base e) = ln (10) x K1 (base 10) k1e = 2,3 k1 Exemplo 1. A interpretação de análises de laboratório de uma amostra de água de um rio a jusante de um lançamento de esgotos conduziu aos seguintes valores: a) Coeficiente de desoxigenação: k1 = 0,25 d -1 ; b) demanda última L0 = 100 mg/L. Calcular DBO exercida a 1,5 e 20 dias. 1.5.2 Coeficiente de desoxigenação k1 O coeficiente K1 depende das características da matéria orgânica, além da temperatura e da presença de substâncias inibidoras. Valores médios de K1 encontram-se apresentados no quadro 3 24 Quadro 3 – valores para o coeficiente K1 Origem K1 (dia –1) Esgoto bruto concentrado 0,35-0,45 Esgoto bruto de baixa concentração 0,30-0,40 Efluente primário 0,30-0,40 Efluente secundário 0,12-0,24 Curso d’água com águas limpas 0,08-0,20 Fonte: Adaptado de Fair et al (1973) e Arceivala 1.5.3 A influência da temperatura A temperatura tem uma grande influência no metabolismo microbiano, afetando, por conseguinte, as taxas de conversão da matéria orgânica. A relação empírica entre a temperatura e a taxa de desoxigenação pode ser expressa da seguinte forma: K1T = K1 20 . Ө(T – 20) Onde: K1T = K1 a uma temperatura T qualquer (d -1) K1 20 = K1 a uma temperatura T = 20 oC (d-1) T = temperatura do líquido (oC) Ө = coeficiente de temperatura Um valor usualmente empregado de Ө para K1 é de 1,047 (EPA,1987). A interpretação deste valor, com relação à equação anterior é de que o valor de K1 aumenta 4,7% a cada acréscimo de 1oC na temperatura da água. Um outro aspecto a ser comentado é o de que a elevação da temperatura aumenta o K1, mas não altera o valor da demanda última Lo, que passa a ser apenas mais rapidamente satisfeita. 1.5.4 As equações da mistura As condições no ponto de lançamento dos esgotos, ou seja, da mistura esgoto- rio, são as condições iniciais dos modelos de qualidade das águas. A partir do ponto de mistura, os modelos assumem o início do cálculo das reações físicas e bioquímicas. A 25 concentração de um constituinte qualquer (OD, DBO, N, P, CF etc) pode ser obtida por meio de: Co = (Qr.Cr + Qe.Ce) / Qr + Qe Onde: Co = concentração do constituinte na mistura (mg/L ou g/m 3) Cr = concentração do constituinte no rio, imediatamente a montante do ponto de mistura (mg/L ou g/m3) Ce = concentração do constituinte no esgoto, imediatamente a montante do ponto de mistura (mg/L ou g/m3) Qr = vazão do rio (L/s ou m 3/s) Qe = vazão do esgoto (L/s ou m 3/s) 1.6 Padrões de qualidade para efluentes e corpos d’água Tipos de padrão ou diretriz de interesse direto dentro da Engenharia Ambiental no que tange à qualidade da água em corpos d’água e ao reuso de efluentes tratados: ● Padrões de lançamento no corpo receptor ● Padrões de qualidade do corpo receptor ● Padrões ou diretrizes de qualidade para determinado uso do efluente tratado (ex: irrigação) 1.7 Padrões de lançamento e de qualidade do corpo receptor no Brasil No Brasil, a resoluçãoCONAMA no 357 de 2005, dividiu as água do território nacional em água doces (salinidade < 0,05 %), salobras (salinidade entre 0,05 % e 3%) e salinas (salinidade > 3,0 %). Em função dos usos previstos, foram criados nove classes. O quadro 6, apresenta um resumo dos usos preponderantes em cada classe, em que a Classe especial pressupõe os usos mais nobres, e a Classe 4 (águas doces), os menos nobres. As classes 5 e 6 são relativas às águas salinas e as Classes 7 e 8 às águas salobras (SPERLING, 2005) 26 A cada uma dessas classes corresponde uma determinada qualidade a ser mantida no corpo d’água. Esta qualidade é expressa na forma de padrões, através da referida Resolução CONAMA. Além dos padrões de qualidade dos corpos receptores, a resolução CONAMA apresenta ainda padrões para o lançamento de efluentes nos corpos d’água. Os principais padrões de qualidade associados às diversas classes dos corpos d’água doce encontram-se no Quadro 7, conjuntamente com os padrões de lançamento. 27 2.0 PERAÇÕES FÍSICAS ENVOLVIDAS NO TRATAMENTO PRELIMINAR DO ESGOTO SANITÁRIO 2.1 Gradeamento Gradeamento é a operação em que o material flutuante e a matéria em suspensão maior em tamanho do que as aberturas das grades são retidos e removidos. As grades de barras destinam-se a reter sólidos grosseiros em suspensão e corpos flutuantes, e constituem a primeira unidade de uma ETE. As grades são utilizadas para proteger tubulações, válvulas, registros, bombas e equipamentos de tratamento contra obstruções. De acordo com a EB 2185 (ABNT,1991), as grades podem ser classificadas em: ● grade fina - de 10 mm a 20 mm ● grade média - de 20 mm a 40 mm ● grade grosseira - de 40 mm a 100 mm De uma maneira geral, as grades são constituídas de barras de ferro ou aço, dispostas paralelamente, em posição perpendicular ou inclinada, de modo a permitir o fluxo normal dos esgotos e reter o material grosseiro transportado sem grandes perdas de carga. As grades inclinadas têm mostrado melhor rendimento do que as grades verticais, pois a inclinação evita que o material desprenda-se facilmente do ancinho e retorne à canalização. O espaçamento entre as barras é determinado em função dos resíduos que se deseja reter e, em regra, adotam-se inclinações de 45o ou 60o com a horizontal, para grades finas, e de 30o ou 45o, para grades grosseiras (JORDÃO, PESSOA, 1995). O peneiramento é utilizado para remoção de sólidos muito finos ou fibrosos. Podem substituir os decantadores primários em sistemas de tratamento de resíduos 28 industriais, onde os sólidos separados, provenientes das operações industriais, podem ser reaproveitáveis. Utilizado em indústria agro-alimentícia, têxtil, celulose, curtume, química, etc, em estação de esgoto de pequeno porte. Tipos de peneiras está em função das dimensões dos sólidos removidos. Peneira estática média - 250 a 1500 µm Peneira vibratória: grosseira- 0,8 a 2,4 mm média- 100 a 1000 µm Tambor rotativo: grosseiro- 0,8 a 2,4 mm médio- 250 a 1500 µm fino 15 a 60 µm 2.2 Quantidade de material retido no gradeamento A quantidade de material gradeado sofre a influência das condições locais, dos hábitos da população, da época do ano etc., e depende muito da abertura da grade especificada. Metcalf e Eddy (1991) afirmam, ainda, que há um aumento considerável de material retido nos períodos de grandes chuvas. Os dados apresentados na tabela 4 mostram a variação volume de material retido em relação às aberturas das grades, mostrando que menores espaçamentos entre barras representa maiores volumes retidos. Tabela 4 – Quantidade de material retido nas grades conforme a abertura entre barras ABERTURA (cm) QUANTIDADES (L/m3) Fonte (1) Fonte (2) 1,0 - 0,058 2,0 0,038 0,029 2,5 0,023 0,020 3,5 0,012 - 4,0 0,009 0,009 5,0 - 0,006 6,0 - 0,005 FONTE: (1) SCHROEPFER apud AZEVEDO NETTO et al.( 1977, p. 266.) (2) TSUTIYA et al. apud Tsutya e Sobrinho (1999). 29 Tabela 4 (cont) – Volume de material retido nas grades TAXA DE MATERIAL RETIDO(1) TIPO DE GRADE REFERÊNCIA L/m3 (1) L/hab.ano 0,040 - - Jordão e Pessoa (1995) - 5 a 15 fina Imhoff (1996) - 5 a 15 grosseira Imhoff (1996) 0,01 a 0,025 - média Azevedo Neto et al. (1977) 0,0375 a 0,225 - - Metcalf e Eddy (1991) (1) Volume de material retido por volume de esgoto tratado A tabela 5 resume, na forma de média, os dados relativos ao volume de material retido no tratamento preliminar dos esgotos de diversas cidades brasileiras, apresentados de modo completo no apêndice E. Tabela 52 – Média dos volumes de material retido nas grades em cidades do Brasil (2005) (continua) CIDADE NÚMERO DE ETEs AVALIADAS ESPAÇAMENTO ENTRE BARRAS (cm) VOLUME DE MATERIAL GRADEADO /VOLUME TRATADO (L/m3) DESTINO DADO AO MATERIAL GRADE GROSSA GRADE FINA Belo Horizonte 05 NE 2,0 0,005 Aterro sanitário Belo Horizonte 01 10,0 1,5 0,005 Aterro sanitário Brasília 04 5,0 1,5 0,013 Aterro sanitário Brasília 05 5,0 0,5 0,033 Aterro sanitário 30 Tabela 5 – Média dos volumes de material retido nas grades em cidades do Brasil (2005) (conclusão) CIDADE NÚMERO DE ETEs AVALIADAS ESPAÇAMENTO ENTRE BARRAS (cm) VOLUME DE MATERIAL GRADEADO /VOLUME TRATADO (L/m3) DESTINO DADO AO MATERIAL GRADE GROSSA GRADE FINA Curitiba 01 NE 2,0 0,028 Aterro sanitário Goiânia 01 7,5 1,3 0,005 Aterro sanitário Palmas 04 NE 2,0 0,018 Vala sanitária no local da ETE S.Paulo 04 10,0 1,0 0,002 Aterro sanitário Uberlândia 01 10,0 1,0 0,018 Aterro sanitário NE – Não existene N.I – Não informado Nota: Todos os dados em que se baseiam as médias, bem como os que são apresentados extensivamente no apêndice E foram obtidos das Empresas de Saneamento Básico. 2.3 Natureza do material retido no gradeamento O material que chega a ETE e é retido nas grades apresenta uma variação imensa. Inclui desde utensílios domésticos até animais mortos. Entre os materiais mais comuns encontrados, encontram-se papel, estopas, trapos, detritos vegetais, pedaços de madeira, rolhas, latas, materiais plásticos, escovas, etc. A composição e o percentual gravimétrico do Tabela 6 – Quantidade proporcional de material retido nas grades de ETEs do Estado de São Paulo ARTIGO PORCENTAGEM DE MATERIAL RETIDO NAS GRADES (%) Papéis 10 a 70 Estopa 10 a 20 Trapos e panos 5 a 15 Para essas três parcelas 40 a 80 (média: 60) Materiais diversos 20 a 60 (média: 40) Fonte: Azevedo Netto et al. (1977) 31 Metcalf e Eddy (1991) consideram que grande parte do material retido nas grades é muito volátil (80% a 90%), que a quantidade de sólidos secos encontrados no material retido varia de 15% a 25% e, ainda, que as características do material retido dependem do tipo de barras e espaçamentos usados, do sistema de esgotos adotado e da localização geográfica. Já Mendonça (1990) calcula que a composição física do material gradeado é da ordem de 70% a 90% de água, pesando de 0,70 kg a 1,00 kg por litro. 3.4 Inclinação das grades As grades podem ser instaladas verticalmente ou inclinadas. Geralmente as grades de limpeza manual são inclinadas, para facilitar a operação de limpeza, e as mecanizadas podem ser inclinadas ou verticais. As grades grosseiras são normalmente de limpeza manual e inclinadas, mas podem ser instaladasna vertical, desde que sejam dotadas de mecanismos de limpeza. As grades médias e finas de limpeza manual, geralmente possuem inclinações de 45o a 60o com a horizontal. Inclinações menores, em torno de 30o , acarretam grandes extensões do canal da grade. (JORDÃO, PESSOA, 2005). 2.5 Limpeza das grades Jordão e Pessoa (1995) sugerem que o material retido nas grades deve ser removido tão rapidamente, quanto possível, de modo a evitar que a perda de carga localizada cresça, progressivamente, causando o represamento dos esgotos no canal a montante e aumente demasiadamente a velocidade do líquido entre as barras, arrastando alguns materiais que se pretenda reter. O material removido deverá ser imediatamente encaminhado ao seu destino final, de modo a evitar inconvenientes nas instalações de tratamento. O material removido deve receber operações de acondicionamento e higienização , a fim de facilitar seu manejo, e ser encaminhado para locais adequados 32 conforme estabelece a legislação ambiental pertinente. Em muitas ETEs, como a de Anápolis, o material é enterrado em terreno próximo às grades, na área da ETE. Na tabela 7, são apresentados, sinteticamente, diversos destinos aplicados ao material retido nas grades em várias ETEs do País. Azevedo Netto et al. (1977) recomendam que, nas pequenas instalações a limpeza seja feita por rastelos manuais e o material retirado ser enterrado ou incinerado. Em instalações grandes, os detritos devem ser removidos mecanicamente, incinerados, digeridos ou triturados. Em último caso, devem ser devolvidos aos esgotos. Para evitar o problema do mau cheiro, o material, quando enterrado, deve ser recoberto com uma camada de terra de pelo menos, 0,30 m. Pelo Decreto n. 1.745, de 1979, A Agência Goiana do Meio Ambiente estabeleceu a proibição de “depositar, dispor, descarregar, enterrar, infiltrar, ou acumular, no solo, resíduos em qualquer estado de matéria, desde que sejam poluentes”. 2.6 Perda de carga Admite-se, para efeito de manutenção da velocidade e perfil hidráulico, a obstrução de até 50% da lâmina d’água no canal da grade, nas unidade de limpeza manual. Para perdas de carga, os seguintes valores mínimos são indicados: ● grade de limpeza manual: 0,15 m ● grade de limpeza mecanizada: 0,10 m (JORDÃO, PESSOA, 2005) 2.7 Dimensionamento O dimensionamento das partes componentes da unidade de gradeamento deverá ter a seguinte sequência de procedimentos: ● seleção do tipo de grade; ● dimensionamento do canal da grade; e ● avaliação da perda de carga 2.8 Eficiência da grade O termo “eficiência da grade” tem sido expresso pela fórmula: E= a /(a + t) 33 Onde: E = eficiência da grade; a = espaçamento entre as barras; e t = espessura das barras. 2.9 Dimensionamento do canal afluente à grade A área útil (Au) na seção da grade, representada pela área livre entre as barras, é limitada pelo nível d’água, e correspondente à velocidade de passagem (v) e à vazão de projeto (Q), podendo ser avaliada pela fórmula conhecida: Au = Q/v A seção (S) do canal junto à grade, necessária para o escoamento, é determinada pela expressão: S = Au/E = Au x (a+ t)/ a A largura do canal afluente à grade poderá ser aumentada para atender a velocidade de passagem entre as barras resultando daí uma velocidade de aproximação vo, na seção imediatamente antes da grade, menor do que a velocidade v fixada para projeto, tal que: Vo = Q/S 2.9.1 Dimensionamento da perda de carga na grade A perda de carga pode ser calculada considerando-se que o comportamento hidráulico é idêntico ao escoamento através de orifício. A fórmula simplificada tem a seguinte expressão: hf = 1,43 x (v2 – vo2 )/2g Onde: hf = perda de carga, m v = velocidade do fluxo através das barras, m/s vo = velocidade imediatamente a montante da grade, m/s 34 g = aceleração da gravidade, igual a 9,8 m/s2 Recomendações da ABNT ● o dimensionamento das grades de barras deverá ser em função da vazão máxima afluente a cada unidade ● em elevatórias de pequeno porte (até 50 L/s), nas quais não seja prevista grande incidência de sólidos de porte maior que os permitidos pelas passagens da bomba, e quando o coletor descarregar diretamente no poço de sucção, o gradeamento poderá ser processado através de cesta removível por içamento, colocada na altura da boca de descarga do coletor; ● em elevatórias de pequeno porte (até 50 L/s), cujas profundidades dos canais não excedam a 4 metros e onde a necessidade de limpeza não seja contínua, se deverá optar por grades de limpeza manual; ● tratando-se de elevatórias médias, entre (50 a 500 L/s), com profundidades maiores ou com elevado índice de sólidos grosseiros, será obrigatório instalar grades com remoção mecânica dos materiais retido; ● deverá ser previsto passagem para locomoção adequada dos carrinhos carregados, ou acesso para aproximação de viaturas que transportarão o material removido; ● o uso de trituradores está condicionado ao tipo de sólidos carregados pelo esgoto e à instalação de um ou mais canais de reserva, com capacidade para escoar a vazão máxima de projeto, equipados com trituradores ou grades; e ● as grades deverão ser fixadas em quadros ou suportes para facilitar a sua retirada. Nunca deverão ser chumbadas na estrutura de concreto do canal. 35 2.10 Caixas de areia 2.10.1 Conceito, funcionamento e finalidades das caixas de areia As caixas de areia ou desarenadores são unidades destinadas a reter areia e os detritos minerais inertes e pesados presentes nos esgotos. Geralmente, ficam localizadas entre as grades e o decantador primário ou as lagoas de estabilização como acontece na ETE de Anápolis. Designa-se genericamente como “areia” todo o material mineral pesado contido nos esgotos, tais como: pedriscos, silte, escórias, cascalhos e areia (fragmentos/partículas de rocha/rocha decomposta). Esse material arenoso contém também uma reduzida quantidade de matéria orgânica putrescível. Entre estas temos vegetais, tal como: grãos de café, grãos de feijão, milho, frutas e verduras. Também aparecem cascas de ovos e pedaços de ossos e penas de aves. É comum a presença de pêlos, cabelos, plásticos e fibras. Esse material é oriundo das atividades domésticas, das águas provenientes do lançamento inadequado nas instalações de esgotamento sanitário, das ligações clandestinas de águas pluviais, de lavagem de pisos, de despejos industriais ou comerciais e infiltrações na rede coletora. A remoção de areia dos esgotos tem por finalidade eliminar o material inorgânico não putrescível, que se caracteriza por constituir-se de partículas que não floculam, de tamanho em geral superior a 0,2mm, e por uma velocidade de sedimentação maior que a das partículas orgânicas, em geral de 0,02 m/s (AZEVEDO NETTO et al., 1977). A remoção de areia objetiva: evitar abrasão nos equipamento e nas tubulações; eliminar ou reduzir a possibilidade de obstruções nas unidades dos sistemas, tais como: tubulações, tanques, orifícios, sifões, etc.; facilitar o transporte líquido do sistema, principalmente a transferência de lodos, em suas diversas fases. Essa operação facilita o tratamento subseqüente dos esgotos. 36 Se o material removido tem o tamanho e a velocidade de sedimentação de acordo as referências citadas anteriormente, a caixa de areia funciona com eficiência. Portanto, para controle de operação, deve-se medir: a quantidade de matéria sólida removida por unidade de volume de esgoto tratado; a percentagem de sólidos voláteis presentes na matériasólida removida; o teor de umidade; e a granulometria da areia removida, no caso de estações de grande porte. Segundo Metcalf e Eddy (1991) a umidade da areia pode variar de 13% a 65% e o material volátil de 1% a 56%. Enquanto o peso específico da areia pode variar de 1.300 kg/m3 a 2.700 kg/m3. É comum usar o valor de 1.600 kg/m3 como peso específico da areia. 2.10.2 Princípio e funcionamento das caixas de areia Azevedo Netto et al. (1977) observam que as condições hidrodinâmicas de uma corrente líquida, notadamente a turbulência, são responsáveis pelo transporte de partículas sólidas mais densas do que a água. Essas partículas são conduzidas em suspensão ou são arrastadas por tração junto ao fundo dos canais ou das canalizações. Em canais ou tanques apropriados, reduz-se a velocidade de escoamento das águas a valores que permitam a deposição das partículas. A velocidade de sedimentação é função do diâmetro das partículas, como evidencia a tabela 7. 37 Tabela 7 – Velocidade de sedimentação em função do tamanho da partícula TAMANHO DAS PARTÍCULAS (mm) VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO (cm/s)(1) 0,3 4,3 0,2 2,4 0,1 0,9 Fonte: Azevedo Netto et al. (1977) (1) valores para grãos de areia de peso específico 2,65 g/ml a 200 C em água tranqüila A NB-570 (ABNT, 1990) recomenda que, no caso de desarenador do tipo canal, a velocidade de escoamento para a vazão média seja igual a 0,30 m/s, não sendo superior a 0,40 m/s para a vazão máxima. A vazão numa ETE varia continuamente, alterando-se em conseqüência, a altura da lâmina de água no canal da caixa de areia. Para se manter a velocidade dentro dos limites desejáveis, projeta-se a caixa de areia com seção adequada, e a jusante constrói-se um dispositivo capaz de manter a velocidade com pequenas variações. No caso da ETE- Anápolis foi construído um vertedor. 2.10.3 Deposição de matéria orgânica nas caixas de areia O tratamento preliminar em uma ETE é previsto com a finalidade de reter sólidos grosseiros e areia. A matéria orgânica deve ser encaminhada às fases seguintes, unidades de tratamento biológico que terão como principal finalidade a remoção da matéria orgânica. A presença de matéria orgânica nas caixas de areia resulta em que o material retido nessa fase seja ainda instável para efeito de disposição no meio ambiente. A deposição das partículas minerais pesadas deve-se à velocidade de sedimentação. Por isso é impossível evitar a presença de certa quantidade de matéria orgânica nas caixas de areia. A condição mais desfavorável para se remover partículas de areia é a da superfície das águas. A unidade para remoção da areia é projetada com dimensões que 38 correspondem ao tempo necessário para essas partículas se depositarem, mantendo-se ainda uma certa folga. Porém, em pontos mais baixos da lâmina líquida também são transportadas partículas de matéria orgânica. Estas, por se encontrarem mais próximas do fundo, elas poderão em parte, depositar-se, em parte, juntamente com as partículas de areia. 2.10.4 Quantidade de material retido nas caixas de areia A quantidade de material retido nas caixas de areia é função dos costumes locais e do sistema de retenção desse material. Conforme explica Azevedo Netto et al. (1977), a quantidade de material removida pelas caixas de areia depende do sistema de esgotos (unitário ou separador), do tipo de área servida (industrial, residencial, pavimentada ou não), do tipo de coleta e transporte do esgoto e de outros fatores. Quando não é possível remover areia por carga hidráulica, deve-se observar que a canaleta onde se acumula areia, tenha, pelo menos, o espaço suficiente para arrastar a areia por meio de pás, enxadas ou outros tipos de ferramentas (JORDÃO, PESSOA, 1995). Na tabela 10 estão apresentados valores referentes a quantidade de areia retida em diversas ETEs do país e no apêndice E (tabela E1), estão expostas as quantidades de areia retida nos desarenadores da ETE Hélio de Brito de Goiânia. Os valores apresentados pela SANEAGO, estão expressos em kg/mês; para transformá-los em volume retido, foi utilizada, para peso específico da areia, a referência de 1.300 kg/m3. Os dados apresentados na tabela 8 mostram valores bem diferentes para ETEs de Brasília e Curitiba que merecem ser melhor estudados. 39 Tabela 8 – Média dos volumes de material retido nos desarenadores em cidades do Brasil (2005) Cidade No etes Avaliadas Tipo de Caixa de Areia Volume de Areia/Volume de Esgoto (L/ 1.000 m3) Destino Dado ao Material Belo Horizonte 06 NI 20 Aterro sanitário Brasília 14 Gravidade (natural) 117 Aterro sanitário Curitiba 01 NI 147 Aterro sanitário Goiânia 01 Aerada 19 Aterro sanitário Palmas 04 NI N.I Vala sanitária no local da ETE S.Paulo 04 Aerada 22 Aterro sanitário Uberlândia 01 NI 15 Aterro sanitário N.I – Não informado Nota: Os dados foram obtidos das Empresas de Saneamento Básico Ainda conforme Azevedo Netto et al. (1977), nos meses de elevada precipitação atmosférica, são maiores os volumes de areia retida, podendo-se admitir, com segurança, de 30 L a 40 L por 1.000 m3 de águas de esgotos. A tabela 9 apresenta valores referentes à remoção de areia medidos nas ETEs Pinheiros e Vila Leopoldina, em São Paulo, durante 15 meses consecutivos. 40 Tabela 9 – Remoção de areia nas ETEs de Pinheiro e Vila Leopoldina MÊS/ANO QUANTIDADE (L/1000m3) ETE Pinheiros ETE Vila Leopoldina Janeiro/1976 Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 340 282 132 230 216 318 499 732 528 489 356 567 49 29 152 139 77 112 85 217 203 167 134 104 Janeiro/1977 Fevereiro Março 395 318 710 70 192 131 Extremos Média 132 x 732 407 29 x 217 124 Fonte: Jordão e Pessoa (1995), com adaptações Segundo Jordão e Pessoa (1995, p. 39) a caixa de areia funcionará bem se o valor do material removido tiver os seguintes resultados: quantidade de areia cujo valor médio do volume de areia removida-VA em função do volume de esgoto tratado-VE (VA/VE) deve estar compreendido entre 2/100.000 a 4/100.000, ou seja, 0,002 m3 a 0,004 m3 de areia por 1.000 m3 de esgoto tratado; quantidade de areia com valores acima de 15/100.000 indica prováveis infiltrações excessivas na rede de esgoto contribuinte ou outros fatores irregulares influentes ao longo da rede, tais como: avarias, ligações clandestinas de esgotos pluviais e industriais; valores abaixo de 1/100.000 indicam prováveis falhas de projeto ou operação inadequada ou outros fatores influentes; 41 o limite tolerado para teor de sólidos voláteis é de 30%; valores acima desse limite indicam excesso de lodo sedimentado devido a problemas operacionais ou falha de projeto; o teor de umidade deve esta compreendido entre 30% e 20% e o peso específico da areia removida deve estar entre 1.400 kg/m3 a 1.700 kg/m3. 2.10.5 Disposição final da areia Segundo Metcalf e Eddy (1991), em algumas ETEs a areia é incinerada com o lodo, mas, na maioria dos casos, ela é levada para o aterro sanitário. Toda disposição deve ser feita em conformidade com a regulamentação ambiental. Várias práticas realizadas no Brasil podem ser observadas na tabela 10. Segundo Jordão e Pessoa (1995), se a areia sofre alguma operação de lavagem, esse material poderá ter o destino que o seu grau de limpeza permitir.2.10.5.1 Dimensionamento da caixa de areia a) Comprimento da caixa de areia Para dimensionamento é importante lembrar que, para partículas de diâmetros iguais ou maiores do que 0,2 mm, a velocidade de sedimentação adquire valores em torno de 0,02 m/s. Ver figura 3 42 v 1 = L/t1 e v 2 = h / t2 onde: v1 = velocidade do fluxo, geralmente em torno de 0,30 m/s; a Norma Brasileira determina este valor para a vazão média, limitando em 0,40 m/s para vazão máxima, indicando ainda que deve ser evitada velocidade inferior a 0,20 m/s. v2 = velocidade de sedimentação, cujo valor médio para partículas de 0,2 mm é 0,02 m/s L = comprimento da caixa de areia h = altura d’água na caixa (câmara de sedimentação. Como t1 = t2, pois o tempo gasto para a partícula percorrer as distâncias h e L é o mesmo: V1 . h = L. v2 Substituindo-se os valores de v1 e v2, obtém-se a seguinte relação: L = 15 . h Para segurança, devido ao efeito de turbulência, adota-se um fator de garantia de até 50%: L = 22,5.h b) Largura da caixa de areia Conhecendo-se os valores: Q = vazão dos esgotos (m3/s); h = altura d`água (m) v1 = velocidade de fluxo (m/s) Q = S.v = b.h.v Sendo b = largura do canal para seção retangular (S): b = Q/ v.h c) Taxa de escoamento superficial 43 Denomina-se taxa de escoamento superficial a relação entre a vazão dos esgotos afluentes (Q) e a área em planta da caixa (A). Esta relação deve variar na prática entre 600 e 1.300 m3/m2.d. 2.10.6 Caixa de areia prismática quadrada por gravidade (JORDÃO, PESSOA, 2005). As caixas de areia por gravidade quadradas consistem de tanques de formatos quadrado em planta, geralmente de pouca profundidade (entre 1,1 e 1,60 m), de limpeza mecanizada, onde o fenômeno da separação da areia se baseia fundamentalmente nos princípios da sedimentação. Estas unidades são dimensionadas com base na taxa de aplicação superficial (que a Norma Brasileira recomenda estar entre 600 e 1.300 m3/m2.d), e têm operado muito bem nas estações de tratamento em que se acham instaladas. 2.10.7 Caixas de areia tipo “Vortex” Este tipo de unidade se baseia na formação de um “vortex” (movimento de fluxo em espira-cônico) a partir da entrada do esgoto tangencialmente á parede da caixa de areia, de formato cônico, que faz com que o material a ser retido se acumule no fundo em um poço central da caixa de areia. Uma vez acumulada neste poço central a areia é removida pela ação de um sistema de “air-lift”. A caixa de areia tipo “vortex” apresenta as vantagens de ocupar pouco espaço (tempo de detenção da ordem de apenas meio minuto), ter uma perda de carga mínima, e remover muito bem a areia, inclusive a de granulometria mais fina. 2.10.8 Caixa de areia aerada As unidades aeradas são caracterizadas pela introdução de um dispositivo de aeração, através de ar comprimido, com aspersores localizados próximo ao fundo do tanque, com a finalidade de promover um fluxo helicoidal, de velocidade padrão, com eixo paralelo ao escoamento do esgoto na câmara de sedimentação. As partículas com velocidade de sedimentação maior sedimentam na câmara de acumulação de areia. A matéria orgânica e as demais partículas são arrastadas no fluxo efluente do tanque. Obviamente estas unidades são influenciadas pela forma, dispositivo de aeração e tipo de mecanismo de remoção do material retido. 2.11 Calhas Parshall As calhas Parshall são medidores de vazão que através de estrangulamento ressaltos, estabelecem, para um determinada seção vertical a montante, uma relação entre a vazão do fluxo e a lâmina dágua naquela seção. São medidores de regime crítico, largamente utilizados nas estações de tratamento de águia e de esgotos. (JORDÃO , PESSOA, 2005). 44 A cada largura W de garganta correspondem as demais dimensões da unidade, existindo uma faixa de vazões aplicável para cada garganta (tabela 13).O fundo é em nível na primeira seção, em declive na garganta, e em aclive na seção divergente. A leitura da profundidade da lâmina d`água deve ser feita na seção convergente, em um ponto localizado a 2/3 do fim desta seção (2/3 A, sendo A o comprimento da seção convergente). Assim, estas unidades são identificadas pela menos largura do estrangulamento, W, a garganta, cuja relação com a altura da lâmina dágua h, no ponto de medição é a seguint: Q = K.hn Os valores de K e n para as diversas larguras de garganta figuram na Tabela 10, sendo Q em m3/s. Assim, medida a profundidade da lâmina h, pode-se imediatamente calcular a vazão Q correspondente. Tabela 10 – Expoente n e Coeficiente K Garganta W W(m) Expotente n Coeficiente K 3” 0,076 1,547 0,176 6” 0,152 1,580 0,381 9” 0,229 1,530 0,535 1’ 0,305 1,522 0,690 2’ 0,610 1,550 1,426 3’ 0,915 1,566 2,182 4’ 1,220 1,578 2,935 6’ 1,830 1,595 4,515 8’ 2,440 1,606 6,101 Fonte: Jordão e Pessoa,(2005) 45 46 3.0 LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO 3.1 Definição e vantagens das lagoas de estabilização Lagoas de estabilização são bacias de terra rasas nas quais águas residuárias são tratadas mediante processos biológicos que se desenvolvem espontaneamente. (LETTINGA e HAANDEL, 1994). As lagoas de estabilização constituem o mais simples método de tratamento de esgotos que existe e que mais se aproxima do ambiente natural. Sistemas de Lagoas de Estabilização têm como principal objetivo a transformação da matéria orgânica, em produtos mineralizados, utilizando processos de tratamento baseados no metabolismo dos microrganismos. Vantagens das lagoas de estabilização: consomem pouca ou nenhuma energia no processo; não necessitam de aparelhos eletromecânicos, apenas as lagoas aeradas precisam de aeradores; 47 oferecem facilidade na operação; produzem pouco lodo; propiciam más condições de sobrevivência para os microrganismos. Principais tipos de lagoas de estabilização 3.2 Lagoas anaeróbias O processo de tratamento de esgotos por meio de lagoas anaeróbias consiste na utilização de diques naturais para estabilização da matéria orgânica, nos quais a existência de condições estritamente anaeróbias é essencial. Nesse tipo de lagoa, a DBO supera a capacidade de produção de oxigênio dissolvido-OD. Essas condições de anaerobiose permitem que esse tipo de lagoa seja eficiente para tratar esgotos domésticos e industriais predominantemente orgânicos com altos teores de DBO. De acordo com Konig (2001, p. 41) nas lagoas anaeróbias, a degradação de matéria orgânica é realizada pelas bactérias formadoras de ácidos orgânicos (bactérias acidogênicas) e as formadoras do gás metano (bactérias metanogênicas). As primeiras convertem os compostos orgân icos complexos presentes no esgoto em moléculas orgânicas simples. Os carboidratos como a celulose, o amido são convertidos em ácidos orgânicos, aldeídos e álcoois; os lipídios em glicerol e ácidos graxos que posteriormente serão transformados em álcoois, aldeídos e ácidos; as proteínas são degradadas em aminoácidos que por sua vez são convertidos em ácidos orgânicos, mercaptanas e aminas. Estes produtos de degradação ácida, principalmente o ácido acético, são substratos para a ação das bactérias metanogên icas, que convertem este material para metano e dióxido de carbono. O sucesso de lagoas anaeróbias depende do equilíbrio entre as duas populações bacterianas (a formadora de ácidos orgânicos e a formadora do metano), para que aconteça isso, as temperaturasdevem permanecer acima de 15 o e o pH entre 6,8 e 7,4 . Segundo Campos et al. (1999), deve-se usar o parâmetro de carga orgânica em relação ao volume para o dimensionamento de lagoas anaeróbias. A relação entre a carga 48 orgânica afluente e o volume da lagoa é conhecida como taxa de aplicação volumétrica e é obtida pela equação (SPERLING, 1996b). LV = L/V Em que: LV = taxa de aplicação volumétrica (kgDBO5/m 3.dia) L = carga de DBO total afluente (kgDBO5/dia) V = volume requerido para a lagoa (m3) Cargas acima de 1.000 kg DBO5/ha.dia garantem, de forma efetiva, condições anaeróbias em toda a massa líquida das lagoas. A tabela 11 apresenta a faixa de valores recomendados para a taxa de aplicação de carga orgânica, em função da temperatura média do mês mais frio do ano, e valores conservativos de remoção de DBO5, para tratamento de esgotos sanitários. Tabela 3 – Valores de taxa de aplicação de carga orgânica e remoção de DBO5 em lagoas anaeróbias TEMPERATURA MÉDIA MENSAL (OC) TAXA DE APLICAÇÃO ORGÂNICA (g DBO5 . m3 . dia-1) REMOÇÃO DE DBO5 (%) <10 100 40 10-20 20.T – 100 2.T + 20 >20 300 60 Fonte: Mara e Pearson ( apud CAMPOS et al., 1999, p. 111) T: Temperatura (oC) O tempo de detenção hidráulica-TDH para lagoa anaeróbia situa-se na faixa de 3,0 a 6,0 dias e pode ser calculado pela equação: TDH = V/Q 49 Em que: TDH = tempo de detenção hidráulica (dias) V = volume da lagoa (m3) Q = vazão afluente (m3/dia) Entretanto, nas lagoas anaeróbias, ocorre contínua interação entre os organismos presentes no banco de lodos e a camada líquida devido à produção de gases. Isso pode explicar o bom desempenho verificado em lagoas anaeróbias operadas com TDH inferior a 3 dias (até um dia, na Região Nordeste), o que corresponde ao tempo mínimo de reprodução de bactérias metanogênicas responsáveis pela conversão de ácido acético em biogás. A eficiência de remoção de DBO nas lagoas anaeróbias para esgotos sanitários é da ordem de 50%. O efluente das lagoas anaeróbias sai com muita matéria orgânica o que implica a necessidade de unidades de tratamento complementares. Para Lettinga e Haandel (1994), embora a taxa de remoção de matéria orgânica na lagoa anaeróbia seja bem mais alta do que nos outros tipos de lagoas de estabilização, a sua aplicabilidade em regiões urbanas é restrita por causa dos maus odores que ao menos ocasionalmente dela se desprendem. As lagoas de estabilização de Anápolis estão situadas numa área afastada, a 4 km do centro urbano mais próximo. A literatura especializada recomenda que só se construam lagoas anaeróbias à distância mínima de 500 m de aglomerados urbanos, pois há sempre a possibilidade, especialmente em tarde de muito calor, de sentir os odores que emanam das lagoas em regiões vizinhas. As distâncias preconizadas têm o escopo de evitar essa inconveniência. 3.2.1 Critérios de projeto para lagoas anaeróbias -Tempo de detenção; -Taxa de aplicação volumétrica 50 a) Tempo de detenção é o tempo necessário para reprodução das bactérias anaeróbias; Td = 3,0 d a 6,0 d Vol = t.Q Onde Vol = volume requerido para lagoa (m3 ) , tempo de detenção(d), Q = vazão média afluente (m3/d). b) Taxa de aplicação volumétrica (Lv) é estabelecida em função da necessidade de um volume da lagoa anaeróbia para estabilização da carga de DBO aplicada. Carga = concentração x vazão Lv = 0,1 a 0,3 kg DBO5 / m 3.d V= L/Lv V = volume requerido para lagoa (m3); L = carga de DBO5 afluente (solúvel mais particulada) kg DBO5/d Ls = Txa de aplicação volumétrica (kg DBO5/m 3 d) c)profundidade H (4,0m a 5,0m) 3.3 Lagoas facultativas Sperling (1996b) refere-se a lagoas facultativas como a variante mais simples dos sistemas de lagoas de estabilização. O processo consiste na utilização de grandes tanques que garantem a permanência dos esgotos por um período de tempo longo, durante o qual ocorre a estabilização natural da matéria orgânica. Nas lagoas facultativas os processos de oxidação bacteriana convertem o material orgânico em dióxido de carbono, amônia e fosfatos. A presença desses nutrientes (NH4 e PO4) proporciona um ambiente adequado ao desenvolvimento das algas. E estas, 51 através de sua atividade fotossintética, produzem oxigênio, que ficará disponível para as bactérias continuarem a oxidação aeróbia de matéria orgânica. O suprimento de oxigênio na camada aeróbia de lagoas facultativas depende principalmente da atividade fotossintética de algas e da reaeração superficial através da interface ar-água. A DBO total do esgoto efluente é causada por duas fontes: a DBO remanescente do tratamento (DBO solúvel) e a DBO causada pelos sólidos em suspensão no efluente (DBO particulada). Os sólidos em suspensão são predominantemente algas, que poderão ou não exercer alguma demanda de oxigênio no corpo receptor, dependendo das suas condições de sobrevivência no mesmo (ARCEIVALA, 1981). Mara (1995) considera que os sólidos em suspensão nas lagoas facultativas são aproximadamente de 60% a 90% algas. Cada 1 mg de algas gera uma DBO 5 em torno de 0,45 mg. O efluente de uma lagoa facultativa possui as seguintes características principais, segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB, 1989): cor verde devido às algas; elevado teor de oxigênio dissolvido; sólidos em suspensão, embora poucos sejam sedimentáveis (as algas, por exemplo, praticamente não se sedimentam no teste do cone Imhoff). CRITÉRIO DE PROJETO -Taxa de aplicação superficial (TAS) -Tempo de detenção a) TAS – necessidade de área superficial, exposição a luz solar na lagoa para que haja fotossíntese, relaciona-se a atividade das algas. b) Td – tempo necessário para que os microrganismos procedam a estabilização da matéria orgânica. 52 A = L/Ls, onde A – área requerida para a lagoa (há) L- carga DBO total (solúvel mais particulada) afluente ( kg DBO5 /d) Ls- taxa de aplicação superficial kg DBO5 /há.d) Regiões com inverno quente e elevada insolação Ls = 240 a 350 kg DBO5/há d Regiões com inverno e insolação moderada Ls = 120 a 240 kg DBO5/há d Regiões com inverno frio e baixa insolação Ls = 100 a 180 kg DBO5/há d V = t. Q , onde Volume requerido para lagoa (m3) T = tempo detenção (d) Q = vazão média afluente m3/d T = 15 a 45 dias Profundidade H = 1,5 a 3,0 m Estimativa da concentração efluente de DBO Influência do regime hidráulico: a remoção da DBO processa-se segundo uma reação de primeira ordem ( a taxa de reação é diretamente proporcional à concentração do substrato). Reator de fluxo de pistão – maior concentração de DBO na entrada do reator Reator de mistura completa, Há uma equalização da DBO em todo reator; Não existe reator totalmente ideal, como o reator de mistura completa é menos eficiente, se adotar este modelo o cálculo estará a favor de segurança. Veja folha seguinte síntese dos regimes hidráulicos para os reatores. Mistura completa: S = So / 1 + Kt So = concentração total da DBO afluente mg/L 53 S = concentração da DBO solúvel efluente mg/L K = coeficiente remoção DBO (d-1) T = tempo de detenção total (d) 54 55 A DBO afluente So é admitida como a DBO total solúvel mais particulada; -a DBO total efluente é causada por duas fontes; a) DBO remanescente do tratamento (DBO solúvel) e b) DBO causada pelos sólidos em suspensão no efluente (DBO particulada– quase sempre alga); Os sólidos em suspensão de lagoas facultativas são em torno de 60 a 90 %algas. Cada 1 mg de algas gera uma DBO em torno de 0,45 mg. 1 mg SS/L = 0,3 a 0,4 mg DBO/ L 3.4 Lagoas aeradas facultativas Nas lagoas aeradas facultativas, o oxigênio é obtido principalmente através de aeradores. A lagoa é denominada “facultativa” porque o nível de energia introduzido pelos aeradores é suficiente apenas para a oxigenação, mas não para manter os sólidos em suspensão. na massa líquida. Assim, os sólidos sedimentáveis vão para o fundo da lagoa formando a camada de lodo que será decomposta anaerobiamente. Na lagoa facultativa o oxigênio tem origem na fotossíntese, e, na lagoa aerada facultativa, o oxigênio é obtido principalmente através dos aeradores. Com a transferência mecânica de oxigênio no meio líquido, a decomposição da matéria orgânica acontece mais rapidamente e, em conseqüência, a área necessária para a lagoa passa a ser menor. O efluente das lagoas aeradas facultativas é constituído de matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) e matéria orgânica em suspensão, (DBO particulada) a qual não é mais composta predominantemente por algas. A capacidade de mistura nas lagoas aeradas facultativas é medida pela densidade de potência (Φ), que é a relação entre a energia introduzida pelos aeradores por unidade de volume do reator. O mesmo autor considera razoável adotar valores em torno de 0,75 W/m3 de densidade de potência para lagoas aeradas facultativas. Φ = Pot/ V 56 Em que: Φ = densidade de potência (W/m3) Pot = potência instalada (W) V = volume do reator (m3) Pela norma de lagoas, sugere que a massa de oxigênio a ser fornecida seja igual a 60% da carga de DBO aplicada RO = a Q (So – S) /1000 RO = requisito de oxigênio (kg O2/d) a = coeficiente , variando de 0,8 a 1,2 kg O2 /kg DBO So = concentração de DBO total (solúvel + particulada) afluente (g/m 3) S = concentração de DBO solúvel efluente (g/m2) 1000 = CONVERSÃO KG PARA g Requisito Energético O parâmetro que converte o consumo de O2 em consumo de energia é a eficiência de oxigenação (E.O) Kg O2 /kWh Fabricante – condições padrão (20C, ausência de O2 dissolvido, salinidade nula, nível do mar, água limpa. EO = 1,5 a 2,0 Kg O2/ KW.h (padrão) EO campo = 55 % a 65% da EO padrão (condição real) Requisito energético RE = RO/ 24 EO campo. RE = requisito energético (KW) 57 24 conversão de dias para hora (24 h/d) 3.5 Lagoas aeradas de mistura completa seguida de lagoas de decantação Essas lagoas funcionam de forma totalmente aeróbia. Os aeradores, além de garantir o oxigênio necessário no meio, servem também para manterem os sólidos em suspensão. Como as lagoas aeradas de mistura completa mantêm os sólidos em suspensão, é necessário que haja uma outra unidade para sedimentação desses sólidos, que é a lagoa de decantação. No projeto e na execução da ETE-Anápolis foram previstas e construídas duas lagoas de decantação. Segundo Sperling (1996b), há necessidade de proceder à remoção de lodo, a cada período de um a cinco anos, nessas lagoas de decantação. Para se assegurar uma dispersão completa dos sólidos em suspensão na lagoa aerada, deve-se ter uma densidade de potência superior a 3,0 W/m3 (SPERLING, 1996b). 3.6 Desempenho de lagoas de estabilização As lagoas de estabilização têm-se apresentado como excelente processo de tratamento de esgoto sanitário por causa dos resultados alcançados, tanto na estabilização da carga orgânica como na eliminação considerável de organismos patogênicos. Além disso, esse tipo de lagoas possibilita a remoção parcial de nutrientes. A tabela 12 registra a performance de uma série de lagoas que tratam esgoto sanitário da cidade de Campina Grande, na Paraíba. 58 Tabela 4 – Desempenho de lagoas em Campina Grande – PB Amostra TEMPO DE RETENÇÃO (dias) DBO5 (mg/L) SÓLIDOS EM SUSPENSÃO (mg/L) COLIFORMES TERMOTOLERA NTES FECAIS (por 100 ml) OVOS DE NEMATÓIDE (por litro) Esgoto bruto Efluente de: Lagoa Anaeróbia Lagoa facultativa Lagoa maturação 1 Lagoa maturação 2 Lagoa maturação 3 - 6,8 5,5 5,5 5,5 5,8 240 63 45 25 19 17 305 56 74 61 43 45 4,6 x 107 2,9 x 106 3,2 x105 2,4 x 104 450 30 804 29 1 0 0 0 MARA E SILVA (1986), com adaptações Lodos gerados em sistemas de tratamento de esgotos LODOS ATIVADOS 1.0- Introdução. É um dos sistemas mais utilizado por todo mundo, para tratamento de despejos domésticos e industriais. O sistema inclui um índice de mecanização ao de outros sistemas de tratamento. No reator ou tanque de aeração ocorrem as reações bioquímicas de remoção da matéria orgânica e, em determinadas condições, da matéria nitrogenada. A biomassa se utiliza do substrato presente no esgoto bruto para se desenvolver. No decantador secundário ocorre a sedimentação dos sólidos (biomassa). Os sólidos sedimentados no fundo do decantador secundário são recirculados para o reator, aumentando a concenatração de biomassa no mesmo, o que é responsável pela elevada eficiência do sistema. A biomassa consegue ser facilmente separada no decantador secundário devido à sua propriedade de flocular. O floco formado no decantador, possui maiores dimensões, o que facilita a sedimentação. Nos sistemas de lodos ativados, o tempo de detenção do líquido é bem baixo, da ordem de horas, implicando em que o volume do tanque de aeração seja bem reduzido. No entanto, devido a recirculação dos sólidos, estes permanecem no sistema por um tempo superior ao do líquido. O tempo de retenção dos sólidos é denominado idade do lodo. É esta maior permanência dos sólidos no sistema que garante a elevada eficiência dos sistemas de lodos ativados, já que a biomassa tem tempo suficiente para metabolizar praticamente toda a matéria organica dos esgotos. No tanque de aeração, devido à entrada contínua de alimento, na forma de DBO dos esgotos, os microrganismos crescem e se reproduzem continuamente. Para manter o sistema em equilíbrio, é necessário que se retire aproximadamente a mesma quantidade de biomassa que é aumentada por reprodução. Este é, portanto, o lodo biológico excedente, que pode ser extraído diretamente do reator ou da linha de recirculação. 59 Com relação à remoção de coliformes, devido aos reduzidos tempos de detenção das unidades do sistemas de lodos ativados, tem-se que a eficiência é baixa e usualmente insuficiente para atender aos requisitos de qualidade dos corpos receptores. Existem diversas variantes do processo de lodos ativados. •Divisão quanto a idade do lodo: -Lodo ativado convencional; -aeração prolongada •Divisão quanto ao fluxo -Fluxo contínuo -Fluxo intermitente (batelada) Os sistemas mais utilizados são os de lodos ativados convencional e os de aeração prolongada. Deve-se destacar ainda que os sistemas de lodos ativados podem ser integrados a outros sistemas de tratamento, tais como filtros biológicos e reatores anaeróbios. Neste último caso, têm ganhado crescente importância sistemas constituídos por reatores UASB seguidos por lodos ativados para remoção de nutrientes e remoção adicional de DBO e SS. Os reatores UASB substituem os decantadores primários, efetuando a remoção de grande parte de DBO e dos sólidos afluentes, permitindo um sistema de lodos ativados de menor porte, com menor consumo de energia e com menorprodução de lodo excedente. Lodos ativados convencional (Fluxo contínuo) No sistema convencional, para se economizar energia para a aeração, parte da matéria orgânica (em suspensão, sedimentável) dos esgotos é retirada antes do tanque de aeração, através do decantador primário. Assim, os sistemas de lodos ativados convencional têm como parte integrante também o tratamento primário. 60 No sistema convencional, a idade do lodo é usualmente da ordem de 4 a 10 dias, e o tempo de detenção hidráulica, da ordem de 6 a 8 horas. Com esta idade de lodo, a biomassa retirada do sistema no lodo excedente requer ainda uma etapa de estabilização no tratamento do lodo, por conter ainda um elevado teor de matéria orgânica armazenada nas células. Aeração prolongada (fluxo contínuo) Caso a biomassa permaneça no sistema por um período mais longo, da ordem de 18 a 30 dias (daí o nome aeração prolongada), recebendo a mesma carga de DBO do esgoto bruto que o sistema convencional, haverá uma menor disponibilidade de alimento para as bactérias. Para que a biomassa permaneça mais tempo no sistema, é necessário que o reator seja maior ( o tempo de detenção do líquido é em torno de 16 a 24 horas). Portanto, há menos matéria orgânica por unidade de volume do tanque de aeração. Em decorrência, as bactérias, para sobreviver, passam a utilizar nos seus processos metabólicos a própria matéria orgânica componente das suas células. Esta matéria orgânica celular é convertida em gás carbônico e água através da respiração. Isto corresponde a uma estabilização da biomassa, ocorrendo no próprio tanque de aeração. Enquanto no sistema convencional a estabilização do lodo é feita conjuntamente, no próprio reator. Já que não há a necessidade de se estabilizar o lodo biológico excedente, procura-se evitar no sistema de aeração prolongada também a geração de alguma outra forma de lodo, que venha a requerer posterior estabilização. Deste modo, os sistemas de aeração prolongada usualmente não possuem decantadores primários, para evitar a necessidade de se estabilizar o lodo primário. Com isto, obtém-se uma grande simplificação no fluxograma do processo: não há decantadores primários nem unidades de digestão de lodo. O preço desta simplificação do sistema é o gasto com energia para aeração, já que o lodo é estabilizado aerobiamente no reator. Por outro lado, a reduzida disponibilidade de alimento e a sua praticamente total assimilação fazem com que a aeração prolongada seja o processo de tratamento dos esgotos mais eficiente na remoção de DBO. 61 Há uma variante do sistema de lodos ativados com operação em fluxo intermitente. O princípio do processo de lodos ativados com operação intermitente consiste na incorporação de todas as unidades , processos e operações normalmente associados ao tratamento convencional de lodos ativados, quais sejam, decantação primária, oxidação biológica e decantação secundária, em um único tanque. Utilizando um tanque único, esses processos e operações passam a ser simplesmente sequências no tempo, e nào unidades separadas como ocorre nos processos convencionais de fluxo contínuo. O processo de lodos ativados com fluxo intermitente pode ser utilizado tanto na modalidade convencional quanto na prolongada. Nesta última, o tanque único passa a incorporar também a unidade de digestão do lodo. O processo consiste de um reator de mistura completa onde ocorrem todas as etapas do tratamento. Isso é conseguido através do estabelecimento de ciclos de operação com durações definidas. A massa biológica permanece no reator durante todos os ciclos, eliminando dessa forma a necessidade de decantadores separados. Os ciclos normais de tratamento são: •Enchimento (entrada de esgoto bruto ou decantado no reator); •Reaçào (aeração/mistura da massa líquida contida no reator); •Sedimentação (sedimentação e separação dos sólidos em suspensão do esgoto tratado); •Esvaziamento (retirada do esgoto tratado do reator); •Repouso (ajuste de ciclos e remoção do lodo excedente). 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 4.0 SISTEMA COLETOR DE ESGOTO SANITÁRIO Tipos de sistemas de esgotos: Os sistemas de esgotos urbanos podem ser de três tipos: a) Sistema de esgotamento unitário, em que as águas residuárias(domésticas e industriais) , águas de infiltração e águas pluviais veiculam por um único sistema. b) Sistema de esgotamento separador parcial, em que uma parcela das águas pluviais são misturadas ao esgoto sanitário; c) Sistema de separador absoluto: As águas pluviais sào separadas do esgoto sanitário. 4.1 INTRODUÇÃO Os condutos que recolhem e transportam as águas residuárias são denominados de coletores e os mesmos compõem a rede coletora. A rede coletora, os interceptores, os emissários, as unidades de tratamento, etc, compõem o que é denominado de sistema de esgotos sanitários. 4.2 TERMINOLOGIA BÁSICA - Bacia de Drenagem:área delimitada pelos coletores que contribuem para um determinado ponto de reunião das vazões finais coletadas nessa área. -Caixa de Passagem (CP): câmara subterrânea sem acesso, localizada em pontos singulares por necessidade construtiva e econômica de projeto. - Coletor de Esgoto: tubulação subterrânea da rede coletora que recebe contribuição de esgotos em qualquer ponto ao longo de seu comprimento, também chamado de coletor público. - Coletor principal: coletor de esgotos de maior extensão dentro de uma mesma bacia. - Coletor tronco: tubulação do sistema coletor que recebe apenas as contribuições de outros coletores. - Corpo receptor: curso ou massa de água onde é lançado o efluente final do sistema de esgotos. - Diâmetro Nominal (DN): simples número que serve para indicar as dimensões da tubulação e acessórios. - Emissário: canalização que recebe esgoto exclusivamente em sua extremidade de montante, pois se destina apenas ao transporte das vazões de esgotos coletados a montante. 96 - Estação Elevatória: (EEE): conjunto de equipamentos, em geral sob o abrigo de uma edificação subterrânea, destinado a promover o recalque das vazões de esgotos coletados a montante. - Estação deTratamento de Esgotos (ETE): unidade destinada a dar condições ao esgoto recolhido de ser devolvido a natureza sem prejuízo ao meio ambiente. - Inteceptor: canalização que recolhe contribuições de uma séria de coletores de modo a evitar que desaguem em uma localidade a proteger, por exemplo, uma praia, um lago, umrio,etc. - Ligação predial: trecho do coletor predial compreendido entre o limite do lote e o coletor público. - Órgãos Acessórios: dispositivos fixos desprovidos de equipamentos mecânicos (definição da NBR 9649/86 – ABNT) - Passagem Forçada: trecho com escoamento sob pressão, sem rebaixamento. - Poço de Visita (PV): câmara visitável destinada a permitir a inspeção e trabalhos de manutenção preventiva ou corretiva nas canalizações – é um exemplo de órgão acessório. - Profundidade do Coletor: a diferença de nível entre a superfície do terreno e a geratriz superior externa do coletor. - Rede coletora: conjunto de canalizações e órgãos acessórios destinado a coleta dos despejos gerados nas edificações, através dos coletores ou ramais prediais. - Sifão Invertido: trecho rebaixado com escoamento sob pressão, cuja finalidade é transpor obstáculos que não podem ser transpassados em linha reta. - Sistema Coletor: conjunto constituído pela rede coletora, interceptores, estações elevatórias e órgãos complementares acessórios. - Tanques fluxíveis: reservatórios subterrâneos de água destinados a fornecerem descargas periódicas sob pressão em trechos de coletores sujeitos a sedimentação de material sólido, para prevenção contra entupimentos por sedimentação progressiva. - Terminal de Limpeza (TL): dispositivo que permite introdução de equipamentos de limpeza, localizado na extremidade de montante dos coletores. - Trecho: segmento de coletor, interceptor ou emissário compreendido entre duas singularidades consecutiva, por exemplo, dois poços de visita. - Tubo de Inspeção e Limpeza (TIL): dispositivo não visitável que permite a inspeção e a introdução de equipamentos de limpeza. - Tubo de Queda (TQ): dispositivo instalado no PV de modo a permitir que o trecho de coletor a montante deságüe no fundo do poço. 4.3 Estimativa de população Normalmente costuma-se estimar a população, para efeito de projetos de Saneamento básicos, por um período de 20 anos. Os fatores demográficos fundamentais na evolução de certa população, P, são natalidade, mortalidade, emigração e imigração. Portanto, a expressão geral da população, em função do tempo, pode ser assim representada: P = PO + (N – M) + (I – E) Onde: P = população na data t; Po = população na data inicial to; 97 N = nascimentos ( no período t-to); M = óbtos ( no período t-to); I = imigrantes ( no período t – to); E = emigrantes (no período t – to); (N-M) = crescimento vegetativo ou saldo vegetativo no período; (I-E) = crescimento social ou saldo migratório no período. Este método baseia-se no crescimento vegetativo e social. Para poder aplica-lo é necessário ter controle dos diversos parâmetros. Embora, até hoje, não se tenha conseguido um método ideal para estimativa de população, vários métodos matemáticos e gráficos são usados, os principais segundo Mendonça(1997) são: Crescimento aritmético, crescimento geométrico, logística de Verhulst, crescimento com percentagem decrescente, prolongamento manual, extrapolação gráfica, método dos mínimos quadrados. Crescimento aritmético No processo aritmético admite-se que a população varie linearmente com o tempo, podendo-se pois, aplicar a fórmula de juros simples (linha reta). Método utilizado para estimativas de menor prazo. A taxa de crescimento populacional, r, será: r = (P2 – P0)/ t2 – t0 A expressão para a determinação da população é dada por: Pt = P0 + r (t – t0) Crescimento geométrico Crescimento populacional função da população a cada instante. Utilizado para estimativa de menor prazo, as equação são: R = ( log P2 – log P1) / t2 – t1 Pt = P0 10 r.(t 2- t 1 ) Exemplo : Com base nos dados censitários apresentados a seguir, fazer a projeção populacional, utilizando-se os métodos (aritmético e geométrico) 4.4 Densidade populacionais Valores típicos de densidades populacionais estão apresentados no quadro 6. 98 Quadro 6 - Densidades populacionais típicas em função do uso do solo Uso do solo Densidade populacional (hab/há) (hab/km2) Áreas residenciais Residências unifamiliares; lotes grandes 12-36 1.200-3.600 Residenciais unifamiliares; lotes pequenos 36-90 3.600-9.000 Residências multifamiliares; lotes pequenos 90-250 9.000-25.000 Apartamentos 250-2.500 25.000-250.000 Áreas comerciais sem predominância de prédios 36-75 3.600-7.500 Áreas industriais 12-36 1.200-3.600 Total(excluindo-se parques e outros equipamentos de grande porte) 25-125 2.500-12.500 Fonte: Sperling (2005) 4.5 Vazão de esgoto sanitário Inúmeros fatores influenciam a contribuição dos esgotos domésticos. Contudo, esta depende fundamentalmente do consumo de água pela população. Em regra, ela tem origem na utilização da água do sistema público de abastecimento. Parte da água consumida pela população será encaminhada ao sistema de coleta de esgoto e, posteriormente ao sistema de tratamento quando este existir. Há uma relação muito próxima entre o consumo per capita de água e a contribuição per capita de esgoto por dia. A vazão adotada nos projetos de esgoto sanitário é função direta da população a ser atendida no projeto. Segundo Fernandes (1997), no Brasil adota-se um valor per capita da ordem de 150 L/hab.dia a 200 L/hab.dia, parâmetro coerente com valores utilizados em projetos da empresa Saneamento de Goiás S.A. ― (SANEAGO). A NBR 7229 (ABNT, 1993) indica valores entre 120 L/hab.dia a 200 L/hab.dia. Tsutya e Sobrinho (1999), ao tratar de consumo médio per capita e contribuições de esgotos, consideram que o consumo per capita adotado em projetos visa atender ao consumo doméstico, ao consumo comercial das indústrias que não utilizam águas em seus processamentos, ao consumo público e às perdas. Frisam, entretanto, que para o dimensionamento do sistema de esgotos, deve ser utilizado o consumo de água efetivo per capita, sem incluir as perdas de água. 99 No quadro 5, são apresentados valores de produção de esgoto por pessoa conforme o tipo de atividade de ocupação. Estes dados se constituem em parâmetro para o cálculo de vazão de projeto de redes coletoras e sistema de tratamento de esgotos. Entretanto nem toda a água consumida retorna para a rede de esgoto. É o que ocorre, por exemplo, com a água de lavagem de quintal. Por esse motivo, a relação esgoto ― água, denominada pela NBR 9649 (ABNT, 1986) coeficiente de retorno é sempre menor que a unidade. A maioria dos projetistas acatam orientação da NBR 9649 e adotam o valor 0,80 para esse parâmetro. Quadro 5 – Produção de esgotos por atividade e usuário ATIVIDADE/USUÁRIO UNIDADE ESGOTO (L/d) Residência (urbana) Residência (popular ou rural) Apartamento Escola (internato) Escola (externato) Hotel (sem coz.e lavanderia) Hospital Alojamento (provisório) Fábrica (em geral) Escritório e edifício público Restaurante ou similar Cinema, teatro e templo Pessoa Pessoa Pessoa Pessoa Pessoa Pessoa Leito Pessoa Pessoa Pessoa Refeição Lugar 150 120 200 150 50 120 250 80 70 50 25 2 Fonte: NBR 7229 (ABNT, 1993) Entre os outros fatores que interferem na contribuição de esgotos, destacam- se como os mais importantes: a região atendida, o clima, as atividades desenvolvidas, o tipo de atividade industrial, os hábitos de higiene,o nível socioeconômico, o nível cultural, além de inúmeras variáveis comportamentais. A figura 1 mostra um hidrograma característico da vazão afluente a uma ETE, ao longo do dia. Esse hidrograma pode sofrer pequenas variações de acordo com a distância média das redes coletoras em relação à ETE. 100 Figura 1 – Hidrograma típico de uma ETE Fonte: Sperling (1996a) À vazão a ser considerada no dimensionamento do sistema deve ser acrescentada da vazão de infiltração de água através das juntas e paredes das canalizações, caixas de passagem e poços de visita. Esse parâmetro é adotado em função da extensão da rede coletora, não recebendo influência do fator população atendida. Metcalf e Eddy (1991) avaliam que a quantidade de água infiltrada depende de diversos fatores, como a extensão da rede coletora, a área servida, o tipo de solo, a profundidade do lençol freático, a topografia e a densidade populacional (número de conexões por unidade de área). Quando não se dispõe de dados específicos definidos, a NBR 9649 recomenda adotar valores de 0,05 L/s.km a 1,0 L/s.km, dependendo das condições locais. Metcalf e Eddy (1991) sugerem coeficientes de infiltração, em função do diâmetro da tubulação, de 0,01 m3/d.km a 1,0 m3/d.km por mm. Por exemplo: para um tubo de diâmetro de 200 mm, a taxa de infiltração variará entre 2 a 200 m3/d.km. 4.7 Coeficientes de variação de vazão de esgoto O consumo de água e a geração de esgoto por uma comunidade variam ao longo do dia e ao longo do ano. Jordão e Pessoa (1995) afirmam que a variação horária de vazão 101 tem menor amplitude depois de meia-noite e torna-se máxima entre 7 h e 15 h. Algumas cidades apresentam valores para vazão máxima de 50% a 200% da vazão média. Na prática, têm-se adotado alguns coeficientes representativos da variação da vazão média; k1, k2 e k3, que podem ser vistos nas equações 1.1, 1.2, 1.3: Coeficiente do dia de maior consumo (K1): K1 = (consumo máximo diário) / (consumo médio diário); (1.1) Coeficiente da hora de maior consumo (K2) : K2 = (maior vazão horária observada em um dia) / (vazão média horária no mesmo dia); (1.2) Coeficiente da hora de menor consumo (K3) : K3 = (menor vazão observada em um dia) / (vazão média horária no mesmo dia). (1.3) Na falta de valores obtidos através de medição, a NBR 9649 da ABNT recomenda o uso de K1 = 1,2, K2 = 1,5 e K3 = 0,5. Esses valores são admitidos constantes ao longo do tempo, independentemente da população existente na área. Assim, as vazões média, máxima e mínima de água podem ser obtidas, respectivamente pelas equações 1.4, 1.5 e 1.6 (SPERLING, 1996a). Qmédio = pop.QPC.R / 86.400 (L/s) (1.4) Em que: Q médio = vazão doméstica média de esgotos (L/s) QPC = quota per capita de água (L/hab.dia) R = coeficiente de retorno esgoto/água Qmáximo = Qmédio.K1.K2 = 1,8 Qmédio (1.5) Qmínimo = Qmédio.K3 = 0,5 Qmédio (1.6) 102 Observação ― para efeito de projeto, o valor da vazões totais será o resultado das vazões médias anteriores acrescido das vazões de infiltrações. A vazão média de projeto passa a ser: Qmédio = pop. QPC. R/ 86.400 + Q inf. (L/s) A flutuação da variação horária da vazão de esgoto é amortecida ao longo da rede coletora. É fácil conceber-se que quanto maior a rede ou a população, menores serão as chances de as vazões de pico se superporem na entrada da estação. Assim, o tempo de residência na rede coletora tem uma grande influência no amortecimento dos picos de vazão. As águas de chuva que se agregam ao esgoto sanitário proveniente de ligações clandestinas, poços de visitas e redes coletoras provocam grandes alterações nos hidrogramas típicos das ETEs. 4.8 Vazão industrial A vazão de esgotos dos despejos industriais é função do tipo e porte da indústria, grau de reciclagem, existência de pré-tratamento etc. Os despejos industriais podem exercer grande influência no projeto e operação da ETE. Deve-se procurar obter dados específicos de cada indústria mais significativa, através de cadastros industriais orientados no sentido de extrair dados de interesse para o projeto. Com relação ao consumo de água e à geração de despejos, deve-se obter, pelo menos, as seguintes informações das indústrias principais (SPERLING, 1996): ● Consumo de água: volume consumido total (por dia ou mês), volume consumido nas diversas etapas do processamento, recirculações internas, origem da água (abastecimento público, poços etc), eventuais sistemas de tratamento da água internos; ● Produção de despejos: vazão total, número de lançamento (contínuo ou intermitente, duração e freqüência) de cada ponto de lançamento, ponto(s) de lançamento (rede coletora, curso d’água), eventual mistura dos despejos com esgotos domésticos e águas pluviais. O padrão de lançamento dos despejos industriais, ao longo do dia, não segue o hidrograma da vazão doméstica, variando substancialmente de indústria. 103 4.9 SEQUÊNCIA DE CÁLCULO PARA REDES COLETORAS Estudo Preliminar Para lançamento dos coletores, normalmente, utilizam-se plantas em escala 1:2.000 com curvas de nível separadas de um (1,0) metro. De posse da planta topográfica, com os respectivos arruamentos e pontos notáveis, elabora-se um traçado para a rede dentro de uma concepção mais adequada da situação (FERNANDES, 1997). A seguir procura-se identificar a declividade natural do terreno, pois esta será a referência inicial para o posicionamento em perfil dos trechos. Feito isto são localizadas todas as ruas onde a existência ou passagem de coletores for indispensável para, em seqüência, lançarem-se os poços de visita necessários. Deve-se, também, observar uma proximidade lógica e prática nesta numeração, para o conjunto de coletores. Numeram-se todos os trechos, no sentido crescente das vazões em cada coletor, e identificam-se as cotas do terreno sobre os poços de visita, determinando-se, a seguir, a declividade média do terreno em cada trecho. Localizam-se os pontos de contribuições concentradas, bem como o volume de cada uma dessas contribuições, calculam-se as populações de projeto e, em seguida, as contribuições lineares dos diversos setores da área edificada e de expansão prevista, para início e fim de plano. Planilhas de cálculo Os modelos de planilha encontradas na literatura sobre o assunto são inumeráveis e variam inclusive entre projetistas, de acordo com o tipo e o número de informações que cada um entenda como conveniente e necessário. (ver modelo na figura XX) Critérios Hidráulicos para o dimensionamento das tubulações de esgoto ( Prof. Dr. Pedro Além Sobrinho) O projeto hidráulico-sanitário das tubulações de esgoto envolve considerações sobre três aspectos principais: -hidráulico: as tubulações funcionando como condutos livres deverão transportar as vazões máximas e mínimas no projeto; -reações bioquímicas: controle de sulfeto de hidrogênio; e -deposição de materiais sólidos encontrados nos esgotos – ação de auto limpeza. As tubulações dos coletores e interceptores de esgoto devem ser projetadas para funcionarem sempre como conduto livre; os sifões invertidos e linha de recalque das estações elevatórias funcionam como condutos forçados. Os emissários podem funcionar como condutos livres ou forçados, não recebendo contribuições em marcha. São condutos forçados no caso de linhas de recalque e emissários submarinos. Devido ao fato de queo mecanismo básico da ação de auto limpeza é uma força hidrodinâmica exercida sobre as paredes do conduto pelo escoamento de esgotos, a tendência atual é usar a tensão trativa para o dimensionamento da tubulações do esgoto, em substituição ao critério da velocidade de auto limpeza. 104 Metodologia de cálculo Após identificadas as cotas do terreno, CTm e CTj, nos pontos extremos dos trechos e sua extensão, L, calcula-se a declividade média do terreno, It, para cada trecho. Definida a vazão de dimensionamento, Qf, para o trecho, identificam-se os limites de declividade Io, min e Io, max, para esta vazão, através das expressões correspondentes: (para n=0,013) Io min = 0,055 Qi-0,47 Io, min em m/m e Qi em L/s, não sendo recomendável declividades inferiores a 0,0005 m/m. Iom Max = 4,26 Qf0,67 para Vf = 5,0 m/s. Para n = 0,010 (tubos de PVC) Io min = 0,0062 Qi-0,47, e Io max = 2,52 Q-0,67 Se a declividade do terreno for inferior a declividade mínima calculada, então o trecho será dimensionado com Io = Io,min. Se It estiver contida no intervalo calculado, então o trecho deverá ser implantado com Io = It. Caso It seja superior a Io,max então Io = Io,max. Sempre que houver encontro de trechos essa reunião dar-se-á através de uma unidade de acesso para inspeção e limpeza, um poço de visita por exemplo, e caso esta reunião ocorra com um diferença superior a 0,50m, serão instalados tubos de queda. Determinada a declividade do trecho segue-se a determinação do diâmetro adequado. ( Fórmula de Manning). No caso de vazões variáveis, Qf > Qi, torna-se mais prático elaborar o dimensionamento para a vazão maior e testar o diâmetro encontrado para a condição inicial do projeto. È aconselhável que se adote diâmetro mínimo de 150 mm para rede coletora, atualmente, nos projetos, tem-se utilizado tubos de PVC com diâmetros de 100 mm, para os trechos iniciais, fazendo-se redes dos dois lados da rua. Vazão para dimensionamento da rede coletora (vazão máxima horária) qL = (Cr.P.q.K1.K2)/86.400.Lt + qinf Onde: ql = vazão linear (L/s) Cr = coeficiente de retorno (0,8) P = população de projeto em habitantes q = consumo per capita (L/hab.dia) K1 = coeficiente do dia de maior consumo (1,2) K2 = coeficiente da hora de maior consumo (1,5) qinf = vazão de infiltração ao longo do tubo (L/s) Vazão no trecho: qL onde L comprimento do trecho estudado. 4.10 Tensão trativa (σ) 105 σ = γ.RH.I Onde: σ = tensão trativa média, Pa; γ = peso específico do líquido, 104 N/m3 para o esgoto; I = declividade da tubulação, m/m. A maioria das pesquisas realizadas a respeito da tensão trativa crítica para a auto limpeza em coletores de esgoto indica valores variando entre 1,0 a 2,0 Pa. 0,1 kgf/m2 = 1 Pa σ 0,10 kgf/m2 (1 Pa) Tratando-se de redes de esgoto sanitário a tensão trativa varia de 1 a 2 N/m2. Tensão trativa igual a 1 N/m2 (1 Pa) pode remover partículas de até 1,5 mm de diâmetro. 4.10.3 Lâmina Líquida A lâmina líquida deve ser igual ou menor que 75 % do diâmetro para vazão final de projeto. De acordo com a NB-567 quando a velocidade final Vf for super a velocidade crítica Vc, a maior lâmina admissível deve ser 50% do diâmetro do coletor, assegurando a ventilação na rede. Sendo Vc a velocidade crítica para que ocorra entrada de ar em um tubo parcialmente cheio Vc = Va = 6.(gR)1/2 g = aceleração da gravidade (m/s2) R = raio hidráulico, em m A PNB-567/75 recomenda que, para velocidade inicial variando entre 0,50 a 0,60 m/s, a relação Y/D deverá ser superior a 20%, sendo Y a lâmina correspondente à vazão de dimensionamento para início de plano. Para velocidades superiores a 0,60 m/s, podem ser tolerados enchimentos menores que 20%. 4.10.4 Critérios específicos a serem atendidos em projeto - conhecimento prévio das interferências (galerias de águas pluviais, cabos telefônicos e elétricos, adutoras, redes de água); - profundidade dos coletores; - tráfego; -largura da rua; -soleiras dos prédios. 106 Dependendo das condições da via pública, pode-se pode-se assentar uma tubulação rede (simples), ou até duas tubulações (rede dupla). 4.10.5- Profundidade dos coletores Máximas – as profundidades máximas dos coletores quando assentadas nos passeios, deverão ficar em torno de 2,0 a 2,5 m dependendo do tipo de solo. Normalmente, as profundidades máximas das redes de esgotos não ultrapassam 3,0 a 4,0 m. Profundidades maiores só serão admitidas após justificativa técnico-econômica. Para coletores situados abaixo de 4,0 m de profundidade, devem ser projetados coletores auxiliares mais rasos para receberem as ligações prediais. Mínimas – As profundidades mínimas são estabelecidas para atender as condições de recobrimento mínimo, para a proteção da tubulação e, também para permitir que a ligação predial seja executada adequadamente. Para o coletor assentado no leito da via de tráfego, o recobrimento da tubulação não deve ser inferior a 0,90m, ou 0,65m, para coletor assentado no passeio. 4.10.6– Poços de visita (PV) Atualmente, nas cidades em que se dispõe de equipamentos adequados de limpeza das redes de esgotos, o poço de visita pode ser substituído por tubo de inspeção e limpeza (TIL), terminal de limpeza (TL) e caixas de passagem (CP). O PV não pode ser substituído por outro órgão acessório, nos seguintes casos: -na reunião de mais de dois trechos ao coletor, -na reunião que exige colocação de tubo de queda -nas extremidades de sifões invertidos e passagens forçadas; e -em profundidade maiores que 3,0 m. 4.10.7 Distância entre singulares O espaçamento entre PV, TIL ou TL consecutivos deve ser limitado pelo alcance dos equipamentos de desobstrução. Normalmente, adota-se a distância de 100m entre singulares. 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 5.0 Lodos gerados em sistemas de tratamento de esgotos O termo “lodo” tem sido empregado para definir os resíduos sólidos do tratamento de esgoto, sendo constituído por compostos orgânicos carreados pelo esgoto, microrganismos, e subprodutos da atividade dos microrganismos. Sperling (2001) considera apropriado o emprego do termo “biossólido” como forma de ressaltar os seus aspectos benéficos (lodo), valorizando a utilização produtiva do lodo, em comparação com a meradisposição final improdutiva, por meio de aterros, disposição superficial no solo ou incineração. Todos os sistemas biológicos de tratamento de esgoto produzem lodo, que devem ser descarregados com uma determinada freqüência. Segundo Campos et al. (1999), dependendo da natureza e origem dos sólidos, distinguem-se lodo primário e lodo secundário. O lodo primário é gerado a partir da sedimentação de material particulado do esgoto bruto. O lodo secundário ou biológico é produzido no reator biológico do sistema de tratamento, constituindo-se da mistura de sólidos não biodegradáveis do afluente e, principalmente, massa bacteriana que cresce no reator. Cassini et al. (2003) consideram que, no Brasil, sejam produzidas cerca de 270 mil toneladas anuais de lodo por ano (expresso em matéria seca), das quais apenas cerca de 5% são reutilizadas em conformidade com as normas ambientais. Dados apresentados por Cassini et al. (2003) dão conta de que os esgotos domiciliares produzem, no Brasil, cerca de 10.200 toneladas/dia de sólidos. Metade desse esgoto é recebida pelos sistemas individuais de tratamento e, depois de digerida, reduz-se a 2.040 toneladas/dia, que são destinadas a terrenos nos limites da cidade, rios ou redes coletoras. A outra metade é recolhida pelo sistema de esgotamento sanitário, sendo que aproximadamente 3.825 toneladas/dia de esgotos são lançados diretamente nos cursos d’água. Outras 1.275 toneladas/dia são encaminhadas para as estações de tratamento, nas quais cerca de 255 toneladas/dia são despejadas com o efluente. Os sólidos restantes, acrescidos daqueles gerados no próprio processo pela produção microbiana, somam 144 aproximadamente 803 toneladas/dia, as quais também necessitam ser dispostas de forma segura e ambientalmente aceitável. Esse volume, somado às 2.040 toneladas/dia geradas pelos sistemas individuais de tratamento, resulta em uma produção de lodo da ordem de 2.843 toneladas/dia (em massa seca). Se todos os esgotos fossem coletados e tratados, esse número seria três vezes maior que o atual. De acordo com Sperling (2001) em todos os sistemas de tratamento de esgotos, é necessário o descarte do lodo, ou seja, sua retirada da fase líquida, embora nem todos necessitem do descarte contínuo dessa biomassa. Alguns sistemas de tratamento conseguem armazenar o lodo por todo o horizonte de operação da estação (ex.: lagoas facultativas), outros permitem um descarte apenas eventual (ex.: reatores anaeróbios), mas há os que requerem uma retirada contínua ou bastante freqüente (ex.: lodos ativados). 5.1 Composição físico-química típica do lodo de lagoas de estabilização a) Sólidos totais e voláteis O lodo é composto por sólidos e por água. De acordo com a literatura específica consultada, o teor de umidade do lodo produzido e descartado da fase líquida geralmente está acima de 95%, o que determina uma densidade do lodo próxima à unidade (1,03). O teor de umidade do lodo tem grande influência no volume a ser manejado. De acordo com Sperling (2001), a água presente no lodo pode ser distribuída em quatro classes distintas: água livre, água adsorvida, água capilar e água celular. A remoção da água livre pode-se dar por simples ação gravitacional ou por flotação. A eficiência do adensamento pode resultar na redução de volume do lodo da ordem de 60% com relação ao volume original. A remoção da água adsorvida proporciona teores de sólidos superiores a 30%, resultando em um material denominado torta, de aparência semi-sólida, com consistência compatível com a manipulação por meio de pá ou o transporte através de roscas transportadoras. A remoção das águas livre, adsorvida e capilar do lodo (originalmente a 2% ST) pode resultar em uma redução do volume original de 90% a 95%. A remoção da água celular, que acontece principalmente através da evaporação, consiste é uma das formas mais eficientes de remoção de umidade de “tortas” oriundas do 145 desaguamento de lodos orgânicos domésticos e industriais disponíveis atualmente em uso. Um teor de sólidos de até 95% pode ser obtido. Nesses casos, tendo como referência um lodo com 2% de ST, o volume final pode chegar a menos de 1% do volume original. Valores típicos para teor de sólidos totais e voláteis podem ser vistos na tabela 12. Tabela12 – Composição do lodo gerado em ETEs COMPOSIÇÃO TÍPICA DO LODO BRUTO E DIGERIDO Parâmetro Lodo bruto Lodo digerido Variação Valor típico Variação Valor típico Sólidos totais (ST), % 2,0 a 8,0 5 6,0 a 12,0 10 Sólidos voláteis (% do ST) 60,0 a 80,0 65 30,0 - 60,0 40 Graxas e gorduras solúveis (% do ST) 6,0 a 30,0 5,0 a 20,0 18 Proteínas (% do ST) 20,0 a 30,0 25 15,0 a 20,0 18 Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (1991). A concentração de sólidos voláteis é o melhor indicativo para se avaliar o teor de matéria orgânica e o nível de digestão do lodo. Em lodos não digeridos, as relação (SV/ST) situa-se entre 0,75 e 0,80; ao passo que, em lodos digeridos, esses valores situam- se entre 0,60 e 0,65. Medidas de eficiências típicas de remoção de SV na digestão do lodo situam-se em torno de 40% a 45%. Gonçalves et al. (2000) consideram que lodo com baixos tempos de retenção celular apresentam baixos teores de sólidos totais-ST e elevados percentuais de sólidos voláteis-SV, exigindo etapas de tratamento que realizem a estabilização complementar. O lodo de lagoas de estabilização apresentam características específicas devido ao longo tempo de permanência dentro dos reatores. A degradação dos sólidos por períodos superiores a um ano na camada de lodo permite até mesmo a decomposição do material orgânico de biodegradação muito lenta, conforme afirmou Sacar e Pescod (apud GONÇALVES et al. 2000). De acordo com Silva (apud GONÇALVES et al. 2000), o lodo retirado de lagoas primárias, em geral, apresenta elevados teores de sólidos totais (ST ≥ 15%) e baixos teores de sólidos voláteis (SV ≤ 50% ST). O mesmo autor considera importante o efeito do tempo de residência do lodo no reator sobre suas características físico-químicas. 146 A tabela 13 registra características e a quantidade de lodo gerado em vários processos de tratamento de esgotos e apresenta também a produção per capita de lodo em vários tipos de tratamento. Tabela 13 – Características dos lodos produzidos em vários sistemas de tratamento de esgoto (SPERLING 2001) (continua) SISTEMAS CARACTERÍSTICAS DO LODO PRODUZIDO E DESCARTADO DA FASE LIQUIDA (dirigido à etapa de tratamento do lodo) KgSS/kgDQO aplicada Teor de sólidos Secos (%) Massa de lodo (gSS/hab.dia) Volume de lodo (L/hab.dia) Tratamento primário convencional 0,35-0,45 2-6 35-45 0,6-2,2 Tratamento primário(tanques sépticos) 0,20-0,30 3-6 20-30 0,3-1,0 Lagoa facultativa 0,12-0,32 5-15 12-32 0,1-0,25 Lagoa anaeróbia-lagoa facultativa +Lagoa anaeróbia +Lagoa facultativa +Total 0,20-0,45 0,06-0,10 0,26-0,55 15-20 7-12 - 20-45 6-10 26-55 0,1-0,3 0,05-0,15 0,15-0,45 Lagoa aerada facultativa 0,08-0,13 6-10 8-13 0,08-0,22 Lagoa aerada mist. Comp.lagoa sed. 0,11-0,13 5-8 11-13 0,15-0,25 Tanque séptico +filtro anaeróbio +Tanque séptico +Filtro anaeróbio +Total 0,20-0,30 0,07-0,09 0,27-0,39 3-6 0,5-4,0 1,4-5,4 20-30 7-9 27-39 0,3-1,0 0,2-1,8 0,5-2,8 Lodos ativados convencional +Lodo primário +Lodo secundário +Total 0,35-0,45 0,25-0,35 0,60-0,80 2-6 0,6-1 1-2 35-45 25-35 60-80 0,6-2,2 2,5-6,0 3,1-8,2 Lodos ativados-aeraçãoprolongada 0,50-0,55 0,8-1,2 40-45 3,3-5,6 Filtro biológico de alta carga +Lodo primário +Lodo secundário +Total 0,35-0,45 0,20-0,30 0,55-0,75 2-6 1-2,5 1,5-4,0 35-45 20-30 55-75 0,6-2,2 0,8-3,0 1,4-5,2 147 Tabela 13 – Características dos lodos produzidos em vários sistemas de tratamento de esgoto (SPERLING 2001) (conclusão) SISTEMAS CARACTERÍSTICAS DO LODO PRODUZIDO E DESCARTADO DA FASE LIQUIDA (dirigido à etapa de tratamento do lodo) KgSS/kgDQO aplicada Teor de sólidos Secos(%) Massa de lodo (gSS/hab.dia) Volume de lodo (L/hab.dia) Biofiltro aerado submerso +Lodo primário +Lodo secundário +Total 0,35-0,45 0,25-0,35 0,60-0,80 2-6 0,6-1 1-2 35-40 25-35 3,1-8,2 0,6-2,2 2,5-6,0 3,1-8,2 Reator UASB 0,12-0,18 3-6 12-18 0,2-0,6 UASB+ pós-tratamento aeróbio(c) +Lodo anaeróbio (UASB) +Lodo aeróbio(lodos ativados(d) +Total 0,12-0,18 0,08-0,14 0,2-0,32 3-4 3-4 3-4 12-18 8-14 20-32 0,3-0,6 0,2-0,5 0,5-1,1 Fonte: Sperling (2001, p.31) b) Principais nutrientes presentes no lodo de lagoas de estabilização O lodo de esgoto encerra em sua composição diversos nutrientes necessários ao desenvolvimento das plantas. Estes, por se encontrarem, em sua grande parte, na forma orgânica, são liberados no solo gradativamente, por meio de processos bioquímicos, o que aumenta a probabilidade de que sejam absorvidos pelo sistema radicular das plantas, conforme ensina Melo et al. (apud RIZO, 2005, p.16). Os nutrientes encontrados em maior quantidade o lodo das lagoas de estabilização são o N e o P. Os elementos Ca e Mg são encontrados em pequenas quantidades e o K quase não aparece. No entanto, encontra-se em forma prontamente assimilável pelas plantas e normalmente é suplementado por fertilizantes químicos nos solos adubados com lodo. As quantidades de micronutrientes no lodo são variáveis (SPERLING, 2001). Ainda segundo o mesmo autor a quantidade de nutrientes pode não estar perfeitamente balanceada conforme a demanda das plantas, sendo necessária a complementação com outros fertilizantes de acordo com a cultura específica. Segundo Luchesi (apud GONÇALVES et al. 2000, p. 27): 148 O teor de nitrogênio nos lodos de ETE varia de 2% a 6%, principalmente sob a forma orgânica, do qual 10% a 40% mineralizam-se no primeiro ano de aplicação no solo. O fósforo apresenta-se no lodo também em maiores concentrações que em matérias orgânicas de uso habitual na agricultura e apresenta baixa solubilidade no solo. O potássio apresenta-se em níveis geralmente inferiores a 1% no lodo, por esse elemento ser muito solúvel e não ficar retido no mesmo. No solo, 100% do potássio é considerado assimilável pelas plantas. c) Principais contaminantes do lodo de lagoas de estabilização Alguns componentes do lodo tornam-se potencialmente perigosos para meio ambiente, impondo dificuldades ao se definir o destino do lodo retirado do sistema. São eles: metais pesados e poluentes orgânicos variados. Segundo Gonçalves et al. (2000), os metais pesados, presentes no lodo, necessitam de atenção especial, pois não são biodegradados biologica ou quimicamente de forma natural. Os metais pesados são acumulados e, quando reagem com alguns componentes do solos, tornam-se ainda mais nocivos ao meio ambiente. A quantidade de elementos poluentes presentes no lodo, torna-se fator limitante para a quantidade de biossólido que se pode aplicar no solo. A concentração de metais em lodos depende, em grande parte, do tipo e quantidade de efluentes industriais lançados nos sistemas de tratamento de esgotos e é fundamental na definição de alternativa para disposição final. Os lotes de lodo de esgoto e de produtos derivados, para o uso agrícola, devem respeitar os limites máximos de concentração estipulados pelos órgãos ambientais. Os valores determinados para concentração de metais pesados no lodo segundo resolução no 375/2006 do CONAMA, são muito mais restritivos do que, por exemplo, os padrões estabelecidos nos EUA, como pode ser visto no quadro 6. Se o solo já possui teor elevado de metais pesados, é possível a adoção de técnicas de manejo que o tornem o menos disponível possível as plantas (TSUTIYA et al., 2002). 149 Quadro 6 – Padrões referentes a metais em lodo de esgoto utilizados na agricultura e nos solos agrícolas METAIS PESADOS CONCENTRAÇÃO MÁXIMA (mg/kg, base seca) CETESB(1999) CONAMA (2006) EUA-USEPA PART 503 Arsênio 75 41 75 Bário - 1.300 - Cádmio 85 39 85 Chumbo 840 300 840 Cobre 4.300 1.500 4.300 Cromo - 1.000 3.000 Mercúrio 57 17 57 Molibdênio 75 50 75 Níquel 420 420 420 Selênio 100 100 100 Zinco 7.500 2.800 7.500