Buscar

Nota de Aula 5

Prévia do material em texto

RESPONSABILIDADE CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL OBJETIVA
Nota de Aula 05
1. Conceito:
Trata-se de um modelo de responsabilidade, o qual tem como elementos, por exemplo, a conduta, o nexo causal e o dano, restando prescindível a demonstração da culpa.
Nesse sentido, faz-se necessário demonstrar o nexo de causalidade entre a conduta do ofensor ao dano à vítima, uma vez que a indenização decorrerá dessa circunstância, qual seja, o liame entre a conduta e o resultado.
Assim, para melhor compreensão:
Pressupostos da Responsabilidade Objetiva:
- Conduta (Ação ou Omissão);
- Nexo Causal;
- Dano.
Conforme art. 927, p. u., CC/02
Pressupostos da Responsabilidade Objetiva:
- Conduta (Ação ou Omissão);
- Nexo Causal;
Ressalta-se que a culpa pode existir ou não, mas isso é irrelevante, uma vez que a análise desta é dispensável.
Por fim, algumas regras da responsabilidade civil extracontratual subjetiva também podem ser aplicadas em sede de responsabilidade civil extracontratual objetiva, por exemplo, as excludentes de nexo de causalidade.
A RESPONSABILIDADE OBJETIVA PODE SER CONSIDERADA RESPONSABILIDADE SEM CULPA?
Negativo. A culpa presumida mantém a culpa como elemento da responsabilidade, mas a culpa é mitigada, uma vez que a presunção é relativa, ou seja, juris tantum. Já na teoria objetiva, a culpa não é presumida, uma vez que esta não é nem elemento da responsabilidade, sendo tratada como desnecessária. 
Demonstra-se o posicionamento de Cristiano Chaves. 
Na culpa presumida, a culpa mantém a sua condição de pressuposto para a obrigação de indenizar, porém de forma mitigada, eis que nos casos previstos em lei bastaria a vítima demonstrar o fato danoso, decorrendo a obrigação de indenizar da presunção de culpa, que, em razão da inversão do ônus da prova, poderia ser afastada pelo ofensor, se demonstrasse a ausência de sua culpa.
 
2. Delineamento Histórico:
No século XVIII e XIX, no auge da revolução industrial, vislumbra-se o desenvolvimento social, estrutural e organizacional da população. 
Entretanto, juntamente com o desenvolvimento científico e com a exploração demográfica, ou seja, populações migrando de um local para outro, veio a ideia de insuficiência da análise da conduta culposa (culpa e dolo) do agente ofensor como fundamento à responsabilização do mesmo.
Ressalta-se que os acidentes de trabalho eram demasiados, haja vista a produção em grande escala, sem condições necessárias para o exercício do ofício e sem nenhum aparato médico. Insta dizer que, contemporaneamente, os acidentes de trabalho ainda continuam em alto índice. 
Assim, se os empregados necessitassem comprovar a culpa do seu empregador para fazer jus à respectiva indenização/reparação pelos danos causados, muitos ficariam sem ressarcimento, uma vez que, em alguns casos, a prova da culpa era extremamente onerosa/difícil.
Desse modo, a comprovação da culpa funcionaria como obstáculo para responsabilização do agente ofensor, uma vez que inviabilizaria a satisfação do direito material da vítima do dano, reflexo da rigidez. 
3. Teoria do Risco:
Aquele que exerce atividade de risco responderá independentemente de comprovação de culpa.
 Assim, define-se como atividade de risco aquela que implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem, nos moldes do art. 927, p. u., CC/02,.
Art. 927.(...).
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
 
Ademais, posiciona-se Sérgio Cavalieri Filho da seguinte forma:
Risco é o perigo, é probabilidade de dano, importando, isso, dizer que aquele que exerce atividade perigosa deve-lhe assumir os riscos e reparar o dano dela decorrente. A doutrina do risco por ser, então, assim resumida: todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e reparado por quem o causou, independentemente de ter ou não agido com culpa.[1: CAVALIERI FILHO, SERGIO. Programa de responsabilidade civil. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 152.]
Nesse sentido, visa-se que a culpa é inerente ao homem (indivíduo) e o risco é inerente à atividade, ou seja, é impessoal. 
Por fim, ressalta-se que o risco atinge, segundo Cavalieri Filho, o direito de segurança da vítima. 
***PERGUNTA***COMO SE ANALISARÁ O RISCO DA ATIVIDADE DO AGENTE?
O risco da atividade do agente será analisado por meio de estatística, prova técnica e as máximas de experiência, conforme Enunciado 448, V Jornada de Direito Civil.
V Jornada de Direito Civil - Enunciado 448
A regra do art. 927, parágrafo único, segunda parte, do CC aplica-se sempre que a atividade normalmente desenvolvida, mesmo sem defeito e não essencialmente perigosa, induza, por sua natureza, risco especial e diferenciado aos direitos de outrem. São critérios de avaliação desse risco, entre outros, a estatística, a prova técnica e as máximas de experiência. (grifo nosso)
Importa salientar que a proteção do art. 927, p. u., não se restringe apenas ao direito à integridade física e à vida da vítima, mas, inclusive, a outros direitos, estes de caráter patrimonial (material) ou extrapatrimonial (moral), nos moldes do Enunciado 555, VI Jornada de Direito Civil.
VI Jornada de Direito Civil - Enunciado 555
"Os direitos de outrem" mencionados no parágrafo único do art. 927 do Código Civil devem abranger não apenas a vida e a integridade física, mas também outros direitos, de caráter patrimonial ou extrapatrimonial.
Assim, afere-se que a proteção aos direitos de outrem alberga direitos patrimoniais e extrapatrimoniais, não se limitando a apenas uma classe de direitos.
3.1. Modalidades do Risco
3.1.1. Teoria do Risco Proveito
Aquele que retira proveito da atividade danosa deverá suportar o ônus da atividade. Desse modo, onde há bônus, há ônus.
Faz-se necessário vislumbrar o entendimento de Sérgio Cavalieri Filho.
Se proveito tem o sentido de lucro, vantagem econômica, a responsabilidade fundada no risco proveito ficará restrita aos comerciantes e industriais, não sendo aplicável aos casos em que a coisa causadora do dano não é fonte de ganho. [2: CAVALIERI FILHO, SERGIO. Programa de responsabilidade civil. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 153.]
Ademais, a vítima deveria suportar o ônus de comprovar o efetivo proveito da atividade de risco.
3.1.2. Teoria do Risco Profissional
O fato prejudicial decorrente de profissão ou atividade gera responsabilidade daquele que a exerce. Desse modo, vislumbra-se a responsabilização do empregador aos danos causados aos seus empregados em decorrência do próprio exercício do ofício.
Assim, a responsabilidade do empregador é objetiva, uma vez que promover a comprovação da culpa limitaria o direito à indenização, haja vista ser oneroso para o empregado demonstrar a culpa (dolo ou culpa) do empregador.
3.1.3. Teoria do Risco Excepcional
Algumas atividades geram riscos excepcionalmente, ou seja, em algum momento poderá causar um dano a esfera de direito de outrem. Por exemplo, energia elétrica, materiais radioativos, energia nuclear etc.
Desse modo, aqueles que exploram as atividades supramencionadas serão compelidos a indenizar, desde que seja comprovado o liame/vínculo entre a conduta e o dano.
3.1.4. Teoria do Risco Criado
Aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, criar risco/perigo a outrem, está sujeito à reparação do dano que causar.
Entretanto, defende Caio Mário que esta responsabilidade poderá ser elidida, desde que se comprove que o ofensor realizou todas as medidas necessárias e idôneas para evitar o dano. O que não ocorre exatamente assim!
O expoente da referida teoria é o ilustre Caio Mário, o qual distingue a teoria do risco criado da teoria do risco proveito, uma vez que aquela não relaciona o risco ao proveito auferido pelo agente ofensor. 
Na teoria do risco criado, a análise da conduta do agente é objetiva. Assim, ele responderá,ainda que o dano não tenha gerado lucro para o mesmo, pois não é pressuposto para a responsabilização civil.
A teoria do risco criado ampliou o conceito da teoria do risco proveito, haja vista esta trazer como pressuposto a correlação entre a atividade/risco/dano/lucro, já a teoria do risco criado está atrelada a atividade/risco/dano. 
Desse modo, não há que se falar em comprovação de proveito auferido pelo agente ofensor, uma vez que a responsabilidade deste, na teoria do risco criado, não depende desse pressuposto.
MITIGAÇÃO DA RESPONSABILIDADE PELO RISCO CRIADO
A responsabilidade do agente não será elidida com a simples demonstração de que foram realizados todos os atos necessários para coibir resultados negativos. Mais que isso, para elidir a responsabilidade, deve-se demonstrar alguma hipótese de excludente de nexo causal, por exemplo, culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro etc.
Entretanto, discute-se se a diligência do agente causador do dano poderia repercutir quando da valoração da indenização/quantum indenizatório, uma vez que não seria justo o mesmo tomar todas as providências e mesmo assim ser responsabilizado integralmente pelo dano causado.
É o que defende Cristiano Chaves, inclusive, defendendo a aplicação do art. 944, parágrafo único, CC, tentando valorar de forma equitativa a indenização.
Ressalta-se que o Enunciado 380, da IV Jornada de Direito Civil, atribuiu nova redação ao Enunciado 46, da I Jornada de Direito Civil.
Assim, houve a supressão da parte final, a qual dizia que o parágrafo único do art. 944, CC, não se aplica nos casos de responsabilidade civil objetiva.
3.1.5. Teoria do Risco Integral ou Responsabilidade Objetiva Absoluta
Em regra, a responsabilidade extracontratual objetiva permite excludentes de nexo causal. Entretanto, a teoria do risco integral afasta completamente as possibilidades de excludentes de responsabilidade.
Desse modo, ainda que o agente aja sob o manto de excludente de nexo causal, por exemplo, fato exclusivo da vítima, ele responderá pelos danos causados.
Ressalta-se que a teoria do risco integral é aplicada de forma excepcional, uma vez que traria injustiças caso fosse adotada como regra.
Nesse sentido, vislumbra-se o entendimento trazidos por Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Netto.
Trata-se de uma construção jurisprudencial a ser aplicada em casos excepcionalíssimos, na medida em que a sua adoção representará a imposição de uma obrigação objetiva de indenizar, mesmo que as circunstâncias evidenciem a existência de uma excludente do nexo causal. Isso significa que uma pessoa terá de responder por danos que não causou.[3: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson; NETTO, Felipe Peixoto Braga. Curso de direito civil – responsabilidade civil. 3ª ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, pág. 502. ]
Sendo assim, demonstra-se o caráter excepcional da teoria do risco integral.
 Teoria do Risco Integral e Teoria do Risco Agravado
Na teoria do risco integral, o agente responderá, ainda que o dano tenha sido causado por uma excludente de responsabilidade, uma vez que está relacionado à atividade do agente.
Na teoria do risco agravado, o agente responderá, ainda que o dano tenha sido causado por um fato estranho, pois, em determinados casos, o dano já esperado. 
Assim, o fator estranho só agrava o risco da atividade do agente, causando o dano. Assim, não se pode dizer que o dano fora estranho à atividade do agente ofensor.
Por exemplo, um caminhoneiro que após madrugadas em claro estava na estrada e, logo a sua frente, outro colega que também estava rodando por madrugadas.
O que estava atrás acaba dormindo ao volante, colidindo com o caminhão da frente, o qual, com o impulso, invade a faixa contrária, colidindo de frente com uma moto.
Assim, demonstra-se um fato que não é aleatório da atividade exercida, pois motoristas de caminhão, por exemplo, sabem o risco de transitar pelas rodovias, principalmente durante longas madrugadas.
Perceba que o fato supramencionado tomaria outros rumos, desde que o fato ocorresse, por exemplo, por um fator substancialmente estranho à atividade do agente. Assim, elidiria a hipótese de responsabilidade agravada.
Podemos citar, por exemplo, caminhoneiro que é atingido por uma bala perdida, vindo a perder o controle do caminhão e colidir com o muro de um terreno.
Desse modo, o agente será eximido da responsabilidade, uma vez que se trata de um fortuito externo.
Assim, faz-se necessário expor o entendimento do TJ- SP
RESPONSABILIDADE CIVIL – TRANSPORTE DE PESSOAS – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS – Sentença de improcedência – Apelo do autor sustentando, em síntese, estar incontroverso que foi atingido por dois tiros quando passageiro de ônibus do réu, sofrendo danos de ordem moral e material, razão pela qual a condenação do réu, cuja responsabilidade é objetiva, é de rigor – Conquanto a responsabilidade do transportador seja objetiva ela pode ser elidida quando os danos alegados decorrerem de fortuito externo, sem relação com a atividade desenvolvida – Tiros suportados pelo passageiro que foram causados por balas perdidas de tiroteio entre policiais e meliantes quando de assalto de caixa eletrônico – Excludente caracterizada – Indenizações indevidas - Precedentes do C. STJ – Sentença mantida - Apelo desprovido.
(TJ-SP - APL: 10493605620158260002 SP 1049360-56.2015.8.26.0002, Relator: José Wagner de Oliveira Melatto Peixoto, Data de Julgamento: 30/09/2016, 15ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/09/2016).
Desse modo, considera-se de suma importância visualizar a diferença entre a teoria do risco integral e a teoria do risco agravado, conforme supramencionado.
4. Evolução da Responsabilidade Civil Objetiva no CC/02
A reponsabilidade civil objetiva fora responsável por alterar os dogmas anteriores, especificamente no século XIX e XX, os quais consolidavam a responsabilidade civil com a apreciação da culpa do agente causador do dano.
Desse modo, segundo o entendimento de Silvio de Salvo Venosa:
Nesse diapasão, acentuam-se, no direito ocidental, os aspectos de causalidade e reparação do dano, em detrimento da imputabilidade e culpabilidade de seu causador. (...) Muito cedo se percebeu no curso da história que os princípios da responsabilidade com culpa eram insuficientes para muitas das situações de prejuízo, a começar pela dificuldade da prova da própria culpa.[4: VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Reponsabilidade Civil. 14ª Ed. São Paulo: Atlas, 2014, pág. 14.]
Antigamente, segundo o autor supramencionado, o fundamento da responsabilidade era, de forma exclusiva, a culpa do agente. Desse modo, não haveria espaço para a responsabilidade objetiva.
Hoje em dia, o crescimento da teoria objetiva (responsabilidade objetiva) é expressivo, uma vez que se percebeu o risco de condicionar a responsabilidade à comprovação da culpa em sentido lato, culminando, em alguns casos, ao não ressarcimento do dano causado, haja vista o lesado não ter meios para demonstrar a culpa do agente causador do dano.
Nesse sentido, o Código Civil de 2002 separou determinados casos em que há a possibilidade de responsabilização sem a necessidade de comprovação de culpa, nos termos do art. 932, CC/02.
Desse modo, observa-se o Enunciado 451, V Jornada de Direito Civil.
V Jornada de Direito Civil - Enunciado 451
A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida.
Por fim, ressalta-se a distinção da culpa presumida e da responsabilidade civil objetiva, já trabalhada por nós, conforme se afere na nota de aula 2. 
4.1. Incidência Específica da Responsabilidade Civil 
4.1.1. Responsabilidade das Estradas de Ferro
O Decreto nº 2.681, de 7 de dezembro de 1912, fora considerado o primeiro documento legal a prever a incidência da responsabilidade civil. 
O decreto previa a possibilidadede responsabilização das estradas de ferro pelos danos causados aos proprietários marginais, estes decorrentes da utilização da linha férrea.
Também havia a previsão de responsabilidade objetiva pelos danos causados aos passageiros. 
Entretanto, o Decreto nº 2.681 somente vigorou o século XX, passando a ser revogado pelo Código Civil de 2002 (nosso atual).
4.1.2. Responsabilidade Civil por Acidente de Trabalho
A Lei de Acidentes de Trabalho é fundamentada na teoria objetiva, dispondo sobre os danos causados por acidentes e males decorrentes do exercício do trabalho.
O Decreto nº 24.637/34 prevê a responsabilidade objetiva do empregador, desde que não haja a comprovação da culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro ou caso de força maior, estes não possuindo relação com o trabalho.
No caso da força maior, os fatos não podem guardar relação com o trabalho, uma vez que o fenômeno natural poderá ser agravado pela instalação do estabelecimento, ou, até mesmo, pela natureza do serviço. 
Assim, os fatos naturais que foram ocasionados pela natureza do serviço ou pela instalação do estabelecimento não podem ser alegados como força maior.
Por fim, a Lei 8.213/91 dispõe sobre o pagamento das prestações por acidente de trabalho, sendo este realizado pela Previdência Social. Ressalta-se que o auxílio percebido não isenta o empregador de suas responsabilidades civis perante o trabalhador, nos moldes do art. 121, Lei 8.213/91..
4.1.3. Seguro Obrigatório/DPVAT
Trata-se de seguro obrigatório, uma vez que visa subsidiar possíveis vítimas de acidentes de veículos. 
O aumento na circulação de veículos, certamente, propicia acidentes. Desse modo, o legislador resolveu minimizar o infortúnio suportado pela vítima, não a deixando desamparada. 
Assim, configura-se como um seguro social e não mais seguro de responsabilidade civil do proprietário, haja vista o segurado ser a vítima do acidente, a qual, até o momento do acidente, é desconhecida. 
Ademais, o seguro possui caráter legal, uma vez que a lei impõe o pagamento do referido seguro. Desse modo, não há que se falar em contrato.
4.1.4. Responsabilidade Civil do Estado
A Constituição Federal adotou a teoria do risco administrativo para responsabilizar o Estado, sendo a responsabilidade objetiva. 
Desse modo, o Estado responde objetivamente, prescindindo-se a comprovação de culpa. Entretanto, a referida responsabilidade poderá ser afastada, desde que haja a incidência de excludente de nexo causal, por exemplo, culpa exclusiva da vítima. 
4.1.5. Responsabilidade pelos Danos causados ao Meio Ambiente 
O direito ao meio ambiente pertence a todos, tratando-se de um direito de 3ª geração. Assim, todos são legítimos para coibir agressões ao meio ambiente.
Nesse sentido, atenta-se que também pertence a nós o dever de coibir/evitar os danos causados ao meio ambiente. 
Ademais, ressalta-se que o dano causado ao meio ambiente poderá ser responsabilizado em três esferas, podendo responder na seara penal, cível e administrativa, nos moldes do art. 225, § 3º, CF. 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Por fim, vislumbra-se a possibilidade do agente responder na esfera penal e/ou administrativa, independe da reparação dos danos causados. Sendo assim, funda-se na teoria do risco integral, uma vez que não se pode alegar excludente de nexo causal.
5. Abuso de Direito e a Responsabilidade Civil Objetiva
Age com abuso de direito aquele que, sendo detentor de um direito, excede-se ao exercê-lo, causando, assim, danos ao direito de outrem, nos moldes do art. 187, CC.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Assim, por exemplo, se eu sou credor de uma quantia em uma relação consumerista e, ao cobrar o consumidor/devedor, eu o exponho de humilhante, eu ajo com abuso de direito, uma vez que excedo ao direito de cobrá-lo, incorrendo na violação ao art. 42, caput, CDC. 
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Dessa forma, o abuso de direito culmina em responsabilidade civil objetiva, uma vez que não se torna necessária a apreciação da culpa do ofensor, conforme Enunciado nº 37 da I Jornada de Direito Civil.
I Jornada de Direito Civil - Enunciado 37
A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.
Por fim, torna-se válido trazer um exemplo citado por Cristiano Chaves sobre determinada conduta. 
O empregador, por exemplo, que sem dados concretos demite de moto vexatório e humilhante um empregado, chamando a polícia para levá-lo, conferindo ampla publicidade ao caso, comete abuso. Naturalmente, não sendo julgada procedente a pretensão punitiva estatal, caberá reparação sem que se precise provar o dolo do empregador, pois o meio escolhido – gravoso e atentatório à dignidade – provocou severos danos que exigem reparação. (Grifo nosso).[5: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson; NETTO, Felipe Peixoto Braga. Curso de direito civil – responsabilidade civil. 2ª ed. Salvador: Ed. Atlas, 2015, pág. 194.]
 
Por fim, demonstra-se que o abuso de direito se configura como ato ilícito, gerando, consequentemente, a responsabilidade civil, sendo esta objetiva, prescindindo-se de culpa.
6. Responsabilidade por Dano do Produto (Código Civil e Código de Defesa do Consumidor)
A responsabilidade por danos oriundos do produto está atrelada à teoria do risco do empreendimento. 
Segundo a teoria do empreendimento, aquele que se arrisca a exercer quaisquer atividades no mercado de consumo tem a responsabilidade sobre eventuais vícios ou defeitos dos produtos ou serviços fornecidos, independentemente de culpa.
Sendo assim, faz-se necessária a apresentação da posição de Sérgio Cavalieri Filho.
A teoria do risco do empreendimento (ou empresarial), contrapõe-se à teoria do risco do consumo. Pela teoria do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente de culpa.[6: CAVALIERI FILHO, SERGIO. Programa de responsabilidade civil. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 194.]
Observa-se a teoria do risco do empreendimento no art. 931, CC/02.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
Oportunamente, devemos distinguir risco e defeito, uma vez que risco é inerente ao produto, e, o defeito, este é adquirido, ou seja, é a falta de segurança esperada ao utilizar determinado produto ou serviço.
Vislumbramos o conceito de defeito no art. 12, § 1°, CDC. Vide.
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscosque razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
Aproveitando o ensejo, vislumbra-se que no Código de Defesa do Consumidor, conforme supramencionado, o fabricante, o produtor e o construtor respondem de forma objetiva pelos defeitos do produto.
Assim, nasce a responsabilidade por fato e por vício do produtor.
Fato do Produto: dano sai da esfera do produto, produzindo dano a outro objeto ou à outrem.
Vício do Produto: dano se restringe à esfera do produto, não atingindo nada alheio.
Desse modo, apresenta-se a posição de Flávio Tartuce.
A responsabilidade por vício do produto, presente quando existe um problema oculto ou aparente no bem de consumo, que o torna impróprio para uso ou diminui o seu valor, tido como um vício por inadequação. (...) Em suma, lembre-se que no vício o problema permanece no produto, não rompendo os seus limites.
Como dantes exposto, no fato do produto ou defeito estão presentes outras consequências além do próprio produto, outros danos suportados pelo consumidor, a gerar a responsabilidade objetiva direta e imediata do fabricante (art. 12 do CDC).[7: TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do consumidor: direito material e processual. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense: Forense: São Paulo: Método, 2014, pág. 161 e 174.]
O comerciante também responde pelo fato do produto, ou pelo vício, entretanto, de forma subsidiária, uma vez que somente responderá quando: 
o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
o produto for fornecido sem a identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Tais hipóteses estão previstas no art. 13, CDC.
6.2. Excludentes de Responsabilidade por Fato do Produto
O próprio Código de Defesa do Consumidor quando fala da responsabilidade do fabricante, do produtor ou do construtor, elenca as hipóteses excludentes de responsabilidade.
Desse modo, são excludentes de responsabilidade, por exemplo, culpa exclusiva do consumidor (vítima) ou de terceiro, demonstrar que o defeito inexiste, ainda que tenha colocado o produto no mercado e, por fim, comprovar que o produto não fora posto em mercado, nos moldes do art. 12, § 3°, CDC.
Art. 12. (...)
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Ademais, não se pode olvidar das excludentes supralegais, as quais não foram dispostas nos artigos, mas que também elidem a responsabilidade dos agentes supramencionados, quais sejam, o caso fortuito e a força maior. 
Observar as excludentes de responsabilidade e seus efeitos na nota de aula 3.
7. Risco do Desenvolvimento
A teoria do risco do desenvolvimento é definida pelo risco que, a priori, o produto não apresenta, sendo este conhecido após um lapso temporal entre a colocação do produto no mercado, seu consumo e sua utilização.
Desse modo, somente se vislumbra os danos causados por esses produtos após a utilização dos mesmos, por exemplo, efeitos colaterais dos remédios postos em circulação.
A celeuma se instaura quanto ao responsável pelo ressarcimento dos danos causados. Será que o fornecedor deverá responder por esses danos?
Para isso, devemos observar as anotações de Sérgio Cavalieri Filho.
Tem-se sustentado que fazer o fornecedor responder pelos riscos do desenvolvimento pode tornar-se insuportável para o setor produtivo da sociedade, a ponto de inviabilizar a pesquisa e o progresso científico-tecnológico, frustrando o lançamento de novos produtos.
Entretanto, o mesmo doutrinador nos abre os olhos quando alerta sobre a onerosidade em relação a população arcar com os gastos somente pelo produto, em tese, gerar benefícios, caso tenha efeitos positivos, obviamente. Desse modo, o risco seria necessário e, assim, deveria ser suportado por todos, sem ônus para o fornecedor.
Assim, os gastos devem ser suportados por todos, principalmente pelo fornecedor, uma vez que deve ponderar os argumentos supramencionados. 
Por fim, ressalta-se que a responsabilidade por parte do fornecedor está relacionada ao risco do empreendimento, nos moldes do Enunciado nº. 43 da I Jornada de Direito Civil.
I Jornada de Direito Civil - Enunciado 43
A responsabilidade civil pelo fato do produto, prevista no art. 931 do novo Código Civil, também inclui os riscos do desenvolvimento.
Sendo assim, o fornecedor não se exime da responsabilidade de arcar com os riscos do desenvolvimento, ou seja, deverá suportar os danos causados nas respectivas circunstâncias.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes