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Resenha Meia Pata para maiores

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MEIA PATA PARA MAIORES 
DANTAS, Ricardo. Meia Pata. São Paulo: Kazuá, 2013. 
 
Khatlen Lohanne Martins de Almeida1 
 
 
Meia Pata se passa no final da década de oitenta e narra a trajetória de Daniel Silva, 
um biólogo pesquisador que acaba indo para Roraima, onde conhece a índia de etnia Macuxi, 
Iara Parente, e tem um confronto com a maior predadora da floresta, a onça-pintada. 
Esse é o primeiro romance do escritor brasileiro Ricardo André Dantas Neves, nascido 
em 1979, em Santa Cruz do Inharé, e residente no estado de Roraima desde o ano de 2002. O 
autor teve sua obra publicada originalmente em 2013 pela Editora Kazuá com capa e 
ilustração na cor laranja. A obra de caráter regionalista se divide em sumário, agradecimentos, 
prefácio e 20 capítulos, totalizando as suas 278 páginas. 
Em meados de 2015 e 2016, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) selecionou a 
obra Meia Pata como título de referência para o vestibular 2017 e 2018. No entanto, fez-se 
necessária uma nova edição, pois a obra não atendia a alguns requisitos, tais como uma 
linguagem voltada para o público infanto-juvenil; ademais havia erros ortográficos e 
tipográficos que passaram despercebidos aos olhos dos revisores. 
Dantas, então, adequou o seu trabalho e em janeiro do ano passado foi lançada uma 
edição com capa e ilustração na cor azul. Segundo ele, em entrevista concedida aos alunos da 
disciplina Literatura em Roraima, em 2016.1, acrescentaram-se 7.500 caracteres no capítulo 
Boca da mata. Dessa forma, os palavrões passaram a dar lugar a eufemismos que os 
correspondessem. A seguir, exemplificamos com alguns trechos: 
 
 
 
1Graduanda em Letras-Português/Literatura e Línguas Vernáculas pela Universidade Federal de Roraima. E-
mail: khatlenlma@gmail.com 
Trabalho apresentado na disciplina Discurso: Leitura e Produção de Textos e Hipertextos no semestre 2016.2 na 
Universidade Federal de Roraima, orientada pelo Profº Ms. Eliabe Procópio. E-mail: 
eliabeprocopio@yahoo.com.br 
- Cala a boca porra! Quebro a tua cara 
filho da puta! Hômi, deixe este pau no 
cu aqui mesmo, posso fazer besteira se 
ele for com a gente! – Sapo tinha 
sangue nos olhos. (p. 112) 
- Cala a boca, poxa! Quebro a tua cara, 
filho da mãe! Hômi, deixe este mané 
aqui mesmo, posso fazer besteira se 
ele for com a gente! – Sapo tinha 
sangue nos olhos. (p. 86) 
O novo livro recebeu outro ISBN, tornando-se uma nova edição. Entretanto, a 
nomenclatura de “2ª edição” não consta no livro de capa azul, mesmo havendo uma alteração 
significativa no conteúdo do livro. 
Em face da ampla divulgação que ocorreu no meio acadêmico e estudantil, o romance 
foi escolhido para fazer parte do projeto Lona Literária, realizado em 2016, na Escola 
Estadual Ana Libória, em Boa Vista, pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à 
Docência (PIBID), através das bolsistas, Beatriz Salles, Khatlen Almeida e Lêssa Cristina, 
supervisionado pela professora regente Marilene Alves de Carvalho. 
Dessa forma, os alunos do terceiro ano do Ensino Médio tinham contato não somente 
com as obras cobradas nos livros didáticos, mas principalmente com os títulos de referência 
para o vestibular da Universidade Federal de Roraima (UFRR). 
Todavia, foi ao cursar a disciplina Literatura em Roraima, ministrada pela professora 
Sony Ferseck, durante o semestre 2016.1, que tivemos maior contato com a edição da capa 
laranja e com o próprio Ricardo, de qual adquirimos uma edição azul autografada. 
Nesse romance, há três ambientes em que se processa a narrativa: a cidade, o 
acampamento e a floresta. O primeiro ambiente, a cidade de Boa Vista, narra as primeiras 
impressões de Daniel ao pisar em solo roraimense, seu contato em Boa Vista, o Engenheiro 
Florestal Cláudio e o seu encontro com Mr. Peter, um norte americano, diretor de uma 
empresa de investidores de capital estadunidense e canadense, a Bronze Verde Florestal. Seus 
contatos com o professor Verduroso, agrônomo, e o Engenheiro Florestal Torini da Embrapa. 
Em seguida, Daniel conhece seu Plínio, o prático, que o ajuda com a contratação dos peões 
que trabalharão para ele durante três meses. É nesse primeiro ambiente que Daniel matem 
contato com Iara. 
Há um espaço de transição entre Boa Vista e Caracaraí, e a partir disso, é que se tem o 
segundo ambiente, o acampamento, que nos fala da viagem para a floresta, onde o rapaz 
conhece Ronaldo e o Velho Xereta. A equipe da floresta se compõe por Daniel, Jesus, Raul, 
Sapo, Manel, Cuca e Ronaldo. Nesse ambiente, descrevem-se a primeira noite de Daniel na 
floresta, o primeiro dia de trabalho do grupo, alguns conflitos secundários entre a equipe e os 
grandes momentos de tensão que envolvem Cuca e Raul. 
No terceiro ambiente, a floresta, Daniel rastreia a onça e a encontra. Ele e Meia Pata 
têm um confronto feroz e dias depois os dois encontram-se novamente. Desta vez há um 
respeito maior da parte de ambos e o rapaz conversa com o animal. 
O romance Meia Pata foi produzido a partir de um conto chamado, Velho Xereta, que 
inspirou a obra, em 2008, quando o autor trabalhou em um Plano de Manejo Sustentável 
Florestal, no município de Caracaraí. Foi através da Literatura Oral que Ricardo Dantas 
desenvolveu o seu livro, pois o autor registrava as histórias contadas pelos trabalhadores da 
floresta e também os eventos que ocorreriam com ele. Ricardo, assim como a personagem 
principal da trama, Daniel, é biólogo, potiguar e sua esposa, a indígena, Yara Macuxi, serviu 
de inspiração para a personagem Iara Parente. Contudo, o romance não se classifica como 
autobiográfico. 
Atualmente, a obra vem sendo considerada a precursora de um Movimento Literário 
criado pelo autor, a Bioarte. O movimento já lhe rendera três prêmios, o II e III Prêmio Jaider 
Esbell de criação Literária, nos anos 2014 e 2016, com os contos Um olhar distante e 
Upatakon, e o segundo lugar no concurso Literário Aldenor Pimentel, em julho de 2016, com 
o conto Garimpeiro. 
Segundo ele, em entrevista concedida à Folha de Boa Vista Web2, trata-se um 
movimento que surgiu através da concepção em enaltecer os ecossistemas e os povos 
indígenas. É válido mencionar que por um equívoco no título da matéria, alguns desavisados 
acreditam que o autor criou um novo gênero literário, pois a chamada diz: Novo gênero 
literário surge em Roraima. Isto seria, nos parece, um enorme erro. 
Questionado a respeito do título da matéria, Ricardo Dantas corrige que não se trata de 
um gênero, mas sim de um movimento. A seguir, apresentamos na íntegra o Manifesto 
Literário Bioarte: 
A Bioarte louva os verdadeiros artistas. Os indígenas, que 
mesmo diante do preconceito, da dor de presenciarem suas 
terras sendo devastadas, seguem firme na luta pela autenticidade 
de seus direitos. Os extrativistas, como os seringueiros, 
massacrados, porém resistentes, que com sangue escorrendo das 
bandeiras, venceram a opressão e conquistaram uma vida digna. 
O sertanejo agricultor, que não desiste de rachar o solo 
cristalizado pela seca, e com mãos e orgulho calejado, segue em 
frente sem fraquejar. E por fim a Natureza, que compadecida, 
presencia árvores frondosas, literalmente milagres que fornecem 
o suporte para milhares de formas de vidas, serem ceifadas, 
levando para a tumba toda a rede ecológica. A Bioarte exalta a 
 
2 Disponível em: http://www.folhabv.com.br/noticia/Novo-genero-literario-surge-em-Roraima/25228 Acessada 
às 22:50 do 03/03/2017 
biodiversidade, a pluralidade social e principalmente as 
interações ecossistêmicas entre cultura e arte.3 
 
Meia Pata pode ser postaao lado de obras que vêm sendo publicadas desde 1908, em 
que o homem e a floresta travam embates nas brenhas tropicais em proporções de forças que 
se alternam, em conformidade com a perspectiva da narrativa. 
 Obras como Inferno verde (1908), de Alberto Rangel, O coração das trevas, de 
Joseph Conrad, A voragem (1922), de José Eustasio Rivera e mesmo Canaima, de Rómulo 
Gallegos, em que o cenário é a Venezuela. Nessas obras, a floresta é descrita ou como infernal 
ou paradisíaca, imagens extremamente comuns, perceptíveis nas falas embevecidas de Daniel 
sobre o lavrado roraimense e as áreas de transições. 
Os pontos positivos da narrativa que mais impressionam são a simplicidade e 
habilidade do autor ao caracterizar as personagens, através da construção da linguagem de 
cada um. 
A escolha em adotar uma alternância de narradores, pois na obra há o narrador-autor e 
a narração pela perspectiva de Meia Pata, a onça, que no primeiro capítulo narra sua trajetória 
de dor e agonia ao ser atingida por um “alto-aterrorizante” que dilacera a sua pata dianteira 
esquerda. 
O aparecimento da característica pós-modernista, pluralidade de gêneros, presente em 
obras como O Mez da Grippe, de Valêncio Xavier, dividido em fotografias, anúncios 
publicitários, depoimentos orais, versos de poema, músicas e manchetes jornalísticas, em 
Galantes memórias e admiráveis aventuras do virtuoso conselheiro Gomes, o Chalaça, de 
José Roberto Torero, por ser dividido em Memórias, Diário e Cartas. E no caso de Meia Pata, 
a integração do Diário de Daniel na narrativa. 
O processo de aproximação do protagonista com a cultura indígena, uma vez que Meia 
Pata, é a real responsável por essa ligação, pois a Onça usufruiu de grande respeito nas 
culturas ameríndias. 
As características zoomórficas e antropomórficas existentes do início ao fim da 
narrativa fortalecem a ligação da obra com a cultura indígena. A onça, é a maior ameaça ao 
homem da floresta, mas é nela que o ancião Sinforoso, Pajé da comunidade e avô de Iara, ao 
realizar um ritual xamanico com Daniel, se transforma. Esses traços naturalistas estão 
presentes no ritual realizado pelo Pajé, no protagonista e na onça. 
 
3 Disponível em: http://eusouderoraima.com.br/ricardo-dantas/ Acessada às 23:39 do 03/03/2017 
O autor ao transformar o rapaz em um animal, dá início ao processo que conhecemos por 
zoomorfismo. A personagem passa a viver na floresta e a agir por instinto, de forma irracional e 
sendo condicionado pelo meio em que se insere. 
Pôde ver com clareza o local que Meia Pata havia caçado e 
correu para contemplar de perto, onde havia uma paca com toda 
a região do pescoço, peito, paleta e costelas devoradas. Daniel 
debruçou-se sobre a carcaça, e com dentadas inquietas arrancou 
pedações do animal. Comeu veementemente. Saciou-se de uma 
fome que quase o consumiu e arrastou o resto da carcaça para sua 
toca. (p. 269) 
Com a onça acontece o contrário, a ela são dadas características antropomórficas, que nada mais 
é do que a atribuição de aspectos humanos a animais, o que por sua vez gera inúmeras 
interpretações por parte das personagens em relação ao comportamento da onça. 
(...) desde o dia em que matou o cachorro na grande toca 
dos humanos (...) de alguma forma menos presou aquele 
ser. Mas ele estava junto dos que viviam nas imediações 
de suas terras há vários ciclos de chuvas, e esses humanos 
eram o debilitado “traiçoeiro-camuflagem” e o vigoroso 
“velocidade-camuflagem”. (p. 24, 25) 
Contudo, na narrativa há alguns pontos negativos como a predominância de verbos no 
pretérito, o que torna a leitura muitas vezes tediosa, as cenas românticas são excessivamente 
melosas e não empolgam, e a descrição demorada da flora acaba dando a obra um caráter 
documental e um tanto patriótico. 
As descrições a respeito da personagem Yara fomentam inúmeras discussões, pois 
ainda que a personagem seja a mediadora entre Daniel e a cultura indígena, ela não é uma 
personagem bem desenvolvida e não exerce um papel além disso. 
No ritual xamanico anteriormente falado, Daniel não sofre uma transformação 
significativa enquanto pessoa. O protagonista apenas experimente uma espécie de epifania, 
que dá uma súbita sensação de entendimento, em relação ao que ele já desconfiava sobre a 
presença da Onça. 
Aliado a tudo isso, o autor traz diversas discussões na narrativa, mas não as 
desenvolve. As cenas aparentes de afrontamento questionando valores sociais, morais e 
religiosos são superficiais e não revelam um posicionamento acerca dos conflitos sociais 
vivenciados pelos indígenas ou mesmo por seus companheiros de acampamento acometidos 
por situações de pobreza, exploração trabalhista, alcoolismo, mercantilização da fé, e o 
massacre da cultura indígena pelos dogmas cristãos. 
Apesar do belo discurso proferido por Daniel ao fim do romance, a obra traz uma 
forma de preservação ambiental tanto quanto deslocada das questões sociais e políticas. O que 
o distancia completamente das obras que foram citadas lá no início e que também retratam a 
floresta. 
Em suma, Meia Pata é uma obra para todas as idades, o que faz despertar o interesse 
de todos que ouvem falar a respeito. Mas, para o desespero dos fãs e aqueles que ficaram 
interessados pela leitura dessa obra, que aliás, vale a pena. É desgostoso informar que a 
edição com capa e ilustração na cor laranja não está mais a venda há alguns anos. 
Já a edição com capa e ilustração na cor azul pode ser facilmente adquirida nos sites 
da Editora Kazuá, Livraria Cultura e também em lojas físicas, tais como a livraria da 
Universidade Federal de Roraima e na Livraria Nobel, localizada no Pátio Roraima Shopping. 
Caso o leitor prefira obter a obra autografada, poderá entrar facilmente em contato com o 
autor e adquirir o seu exemplar.

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