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Guia Didático - Literatura Brasileira II

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Literatura BrasiLeira ii
Silvana Camilo
www.unipar.br
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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UNIPAR 
C183L Camilo, Silvana. 
Literatura brasileira II / Silvana Camilo -- Umuarama : 
Unipar, 2016. 
141 f. 
ISBN: 978-85-8498-128-1
1. Literatura Brasileira. 2. Ensino a distância - EAD. I. 
Universidade Paranaense. II. Título.
(21 ed.) CDD: B869.09
Assessoria pedagógica 
Daniele Silva Marques e Marcia Dias 
Diagramação e Capa 
Andresa Guilhen Zam, Diego Ricardo Pinaffo, Fernando Truculo Evangelista e Renata Sguissardi
* Material de uso exclusivo da Universidade Paranaense – UNIPAR com todos os direitos da edição a ela reservados.
Sumário
Unidade i - a TRanSiÇÃO dO SÉCULO XiX PaRa O XX .......13
O pré-modernismo: literatura e arte ..............................................................14
euclides da Cunha (1866-1909) .......................................................................17
Lima barreto (1881-1922) .................................................................................27
Graça aranha (1868-1931) ................................................................................30
Monteiro Lobato (1882-1948) ..........................................................................31
augusto dos anjos (1884-1914): um poeta marginal .............................35
a caminho do modernismo: as vanguardas artísticas europeias das 
primeiras décadas do século XX .......................................................................39
Unidade ii: a SeMana de aRTe MOdeRna e O 
MOdeRniSMO ..........................................................................................47
a semana de arte moderna e o modernismo .............................................48
análise da 1ª geração modernista ...................................................................56
Mário de andrade (1893-1945) .......................................................................57
Oswald de andrade (1890-1954) ....................................................................60
Manuel Bandeira (1886-1968) .........................................................................65
Menotti del Picchia (1892-1988) ...................................................................71
Literatura BraSiLeira ii
Unidade iii: a GeRaÇÃO de 1930 ................................................77
a Geração de 1930: o romance regional e a literatura nacional .........78
José américo de almeida ....................................................................................80
José Lins do Rego ....................................................................................................82
Rachel de Queiroz ...................................................................................................89
Jorge amado ..............................................................................................................92
Unidade iV: a GeRaÇÃO de 1945 .................................................103
a Geração de 1945: os caminhos da literatura pós 1945, na 
prosa e na poesia .....................................................................................................104
Guimarães Rosa .......................................................................................................106
Érico Veríssimo ........................................................................................................111
João Cabral de Melo neto.....................................................................................115
Vinícius de Moraes .................................................................................................122
Cecília Meireles ........................................................................................................124
Clarice Lispector ......................................................................................................128
Carlos drummond de andrade .........................................................................130
O Concretismo .........................................................................................................135
RefeRênCiaS ..........................................................................................141
apresentação
Diante dos novos desafios trazidos pelo mundo contemporâneo e o surgimento de um 
novo paradigma educacional frente às Tecnologias de Informação e Comunicação dis-
poníveis que favorecem a construção do conhecimento, a revolução educacional está 
entre os mais pungentes, levando as universidades a assumirem a sua missão como 
instituição formadora, com competência e comprometimento, optando por uma gestão 
mais aberta e flexível, democratizando o conhecimento científico e tecnológico, atra-
vés da Educação a Distância.
Sendo assim, a Universidade Paranaense - UNIPAR - atenta a este novo cenário e 
buscando formar profissionais cada vez mais preparados, autônomos, criativos, res-
ponsáveis, críticos e comprometidos com a formação de uma sociedade mais demo-
crática, vem oferecer-lhe o Ensino a Distância, como uma opção dinâmica e acessível 
estimulando o processo de autoaprendizagem.
Como parte deste processo e dos recursos didático-pedagógicos do programa da 
Educação a Distância oferecida por esta universidade, este Guia Didático tem como 
objetivo oferecer a você, acadêmico(a), meios para que, através do autoestudo, possa 
construir o conhecimento e, ao mesmo tempo, refletir sobre a importância dele em sua 
formação profissional.Seja bem-vindo(a) ao Programa de Educação a Distância da UNIPAR.
Carlos Eduardo Garcia 
Reitor
Seja bem-vindo caro(a) acadêmico(a),
Os cursos e/ou programas da UNIPAR, ofertados na modalidade de educação a dis-
tância, são compostos de atividades de autoestudo, atividades de tutoria e atividades 
presenciais obrigatórias, os quais individualmente e no conjunto são planejados e or-
ganizados de forma a garantir a interatividade e o alcance dos objetivos pedagógicos 
estabelecidos em seus respectivos projetos.
As atividades de autoestudo, de caráter individual, compreendem o cumprimento das 
atividades propostas pelo professor e pelo tutor mediador, a partir de métodos e práti-
cas de ensino-aprendizagem que incorporem a mediação de recursos didáticos orga-
nizados em diferentes suportes de informação e comunicação.
As atividades de tutoria, também de caráter individual, compreendem atividades de 
comunicação pessoal entre você e o tutor mediador, que está apto a: esclarecer as 
dúvidas que, no decorrer deste estudo, venham a surgir; trocar informações sobre as-
suntos concernentes à disciplina; auxiliá-lo na execução das atividades propostas no 
material didático, conforme calendário estabelecido, enfim, acompanhá-lo e orientá-lo 
no que for necessário.
As atividades presenciais, de âmbito coletivo para toda a turma, destinam-se obriga-
toriamente à realização das avaliações oficiais e outras atividades, conforme dispuser 
o plano de ensino da disciplina.
Neste contexto, este Guia Didático foi produzido a partir do esforço coletivo de uma 
equipe de profissionais multidisciplinares totalmente integrados que se preocupa 
com a construção do seu conhecimento, independente da distância geográfica que 
você se encontra.
O Programa de Educação a Distância adotado pela UNIPAR prioriza a interatividade, 
e respeita a sua autonomia, assegurando que o conhecimento ora disponibilizado seja 
construído e apropriado de forma que, progressivamente, novos comportamentos, no-
vas atitudes e novos valores sejam desenvolvidos por você.
A interatividade será vivenciada principalmente no ambiente virtual de aprendizagem 
– AVA, nele serão disponibilizados os materiais de autoestudo e as atividades de tuto-
ria que possibilitarão o desenvolvimento de competências necessárias para que você 
se aproprie do conhecimento.
Recomendo que durante a realização de seu curso, você explore os textos sugeridos 
e as indicações de leituras, resolva às atividades propostas e participe dos fóruns de 
discussão, considerando que estas atividades são fundamentais para o sucesso da 
sua aprendizagem.
Bons estudos! e-@braços.
Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato 
Diretora Executiva de Gestão da Educação a Distância
introdução
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) aos estudos da disciplina de Literatura Brasileira II. 
Sou a Professora Silvana Camilo, Mestranda em Literatura pela Universidade Estadual 
de Maringá (UEM), graduada em Letras Português/Inglês no ano de 2007, por essa 
mesma instituição. Leciono, há vários anos, Produção de Textos e Literatura para alu-
nos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. 
Este material que está recebendo será o seu apoio nos seus estudos autônomos e 
também durante as aulas virtuais. Com base nele, você irá ampliar e aprofundar o seu 
conhecimento a respeito da produção literária brasileira, partindo do período denomi-
nado Pré-Modernismo, chegando à geração de 1945, períodos esses de extrema im-
portância para a consolidação da cultura literária no Brasil. Em cada unidade, iremos 
estudar as características principais do momento literário e os principais autores de 
cada período, bem como sua obra.
Para isso, este material é dividido em quatro unidades, conforme segue: 
Unidade I: A transição do século XIX para o XX: O Pré-Modernismo, Modernismo e as 
vanguardas artísticas europeias das primeiras décadas do século XX.
Unidade II: A Semana de Arte Moderna e o Modernismo: A Semana de 1922: 
Antecedentes, o clima cultural da época e os protagonistas. 
Unidade III: A Geração de 1930: O significado do romance regional para a lite-
ratura nacional. 
Unidade IV: A Geração de 1945: Os caminhos da literatura nacional pós-1945 na 
prosa e poesia. 
Assim, não deixe de observar que, ao final de cada unidade, há exercícios de fixação 
e aprofundamento, fundamentais para que o conteúdo estudado seja melhor assimi-
lado por você. Além disso, crie o hábito de fazer pesquisas nos sites e livros selecio-
nados e sugeridos aqui, pois isso é fundamental para ampliar o seu repertório e lhe 
proporcionar uma reflexão mais embasada e fundamentada.
Bons estudos!
Silvana Camilo
Unidade i - a TRanSiÇÃO dO SÉCULO XiX 
PaRa O XX 
ObjetivOs a serem alcançadOs nesta unidade
Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser 
capaz de:
• Compreender a literatura brasileira que surge no final do século XIX e início 
do século XX.
• Compreender o Pré-Modernismo nas suas principais características e ma-
nifestações.
• Conhecer e analisar as principais obras desse período, bem como seus autores.
• Conhecer e compreender as vanguardas europeias.
• Identificar as influências das vanguardas para a literatura brasileira.
Para que esses objetivos sejam alcançados, é de extrema importância que você de-
senvolva seus estudos com seriedade e dedicação, lendo as literaturas recomenda-
das e os capítulos dos livros didáticos que forem referenciados neste guia. 
Bons estudos!
14 Literatura BrasiLeira ii
O Pré-mOdernismO: literatura e arte
Ao falar em Pré-Modernismo, é natural você inferir que este termo se refira a algo que 
preceda ao moderno, ao novo, não é mesmo? Sendo assim, o que seria moderno 
para esse período? Quais as razões para denominar um período literário – e, ao falar 
em período, trata-se justamente de um corte temporal, associando obras segundo 
suas características e época de surgimento – como sendo antecedente ao moderno? 
O nosso objetivo, a partir daqui, é justamente compreender todas essas questões e 
conhecer um pouco mais a nossa cultura, especificamente a literária.
Desse modo, cabe aqui esclarecer o que seria esse “moderno” ao qual o Pré-Mo-
dernismo se antecede, que nada mais são do que as tendências apresentadas pela 
Semana de Arte Moderna de 1922 (a qual estudaremos de maneira mais aprofundada 
no próximo tópico). A proposta dessa Semana era apresentar ao Brasil as vanguardas 
europeias e tudo o que havia de inovador com relação a nossa arte, inclusive a literária. 
Este período concerne um número significativo de autores, os quais não se enqua-
dravam apenas no Parnasianismo ou no Simbolismo, produzindo uma arte literária 
intermediária ou mal situada, porém também de qualidade estética. 
É importante ressaltar que o Pré-Modernismo não se trata de uma estética literária 
propriamente dita, isto é, não se trata de um estilo de literatura com características 
marcadas e bem limitadas, mas sim uma literatura de transição, na qual é possível ob-
servar as influências das estéticas anteriores, porém também com tendências do novo. 
Vale, ainda, observarmos alguns fatos históricos e sociais relevantes para que se 
compreenda o contexto no qual emergiram esses autores, ou seja, para que seja pos-
sível compreender melhor algumas influências observáveis nas suas obras. 
Nesse sentido, sem nenhuma dúvida, este foi um momento de grande tensão política 
e social no Brasil, tanto isso é verdade que houve várias revoltas (Revolta Armada, 
15Literatura BrasiLeira ii
Revolta de Canudos, Revolta da Chibata) e a sociedade brasileira sofria com as in-
certezas próprias de um momento de transições. Transições essas tanto no cenário 
econômico quanto social do país. 
Um dado importante para se destacar com relação a esse período histórico é que ele é 
marcado por transições e crises. A primeira das transições é a da produção rural que, 
até então, concentrava-se no norte e nordestecom a cana-de-açúcar e mão de obra 
escrava, passando para o sul e sudeste, especificamente São Paulo, Minas Gerais 
e Rio Grande do Sul, com o café e a pecuária, utilizando mão de obra de imigrantes 
europeus, principalmente dos italianos. 
Outra transição importante, que contribuiu para que o Brasil começasse a desenhar 
um novo cenário social fomentadora da arte, tem a ver com o processo acelerado 
de urbanização de São Paulo e o crescente número de operários que migraram do 
campo para a cidade, dentre eles os escravos recém-libertos. Outra razão para essa 
migração foi a crise do café que, com a alta produção e baixo valor de mercado, fez 
com que os trabalhadores buscassem outros meios de sobrevivência.
Essas transições não foram tão simples o quanto parecem nessas linhas resumidas, 
pois elas desenharam um quadro de forte tensão, resultando em agitações sociais por 
vários pontos do país. 
A respeito da literatura, observe o que afirma Alfredo Bosi (2013),
O grosso da literatura anterior à “Semana” foi, como é sabido, pouco inovador. As obras, 
pontilhadas pela crítica de “neos” – neoparnasianas, neossimbolistas, neorromânticas – 
traíam o marcar passo da cultura brasileira em pleno século da revolução industrial (p.327).
Em outras palavras, você pode constatar que os autores denominados pré-moder-
nistas produziam uma literatura de transição, ou seja, ao se classificar como “neos”, 
propunha fazer uma nova arte, porém sob influência daquilo que os antecedia, isto é, 
16 Literatura BrasiLeira ii
as influências parnasianas, as simbolistas e as românticas – as quais iremos observar 
no estudo que faremos dos principais autores desse período.
A literatura pré-modernista, assim como a de outros períodos, apresenta alguns traços 
comuns, nem sempre uniformes, porém observáveis, com relação à sua temática, 
geralmente expressando aquilo que estava em maior evidência no país e no mundo, 
como: a denúncia da realidade político-econômica-social brasileira, justamente pelas 
instabilidades vividas pelos autores nessa época; a focalização de tipos brasileiros 
marginalizados, como uma tentativa de registro do real. 
Para que possamos aprofundar nos estudos acerca do Pré-Modernismo, iremos estu-
dar alguns dos autores que são referência desse período, bem como suas principais 
obras. Observe o que diz Bosi (2013) a respeito dos autores considerados por ele 
como pré-modernistas:
Caberia ao romance de Lima Barreto e de Graça Aranha, ao largo ensaísmo social de 
Euclides, Alberto Torres, Oliveira Viana e Manuel Bonfim, e à vivência brasileira de Mon-
teiro Lobato o papel histórico de mover águas estagnadas da belle époque, revelando, 
antes dos modernistas, as tensões que sofria a vida nacional (p.327, grifos do autor).
Consoante o autor, esses autores observaram e registraram em suas obras a estag-
nação da arte e a tensão nacional sem que já houvesse a configuração de um novo 
período literário que se propunha a isso, isto é, sem a presunção de propor alguma 
modernidade, os pré-modernistas já a espelhavam em sua arte.
Acompanhe, a partir dos próximos tópicos, alguns desses autores para que você pos-
sa compreender de maneira mais clara o que pontuamos até aqui. 
17Literatura BrasiLeira ii
reflita
É interessante observar que o Brasil vivencia um momento bastante peculiar com 
relação à sua economia e configuração social. O nome “brasileiro” se amplia cada 
vez mais com a imigração europeia, que encontra aqui oportunidade de trabalho. En-
tretanto, os negros, recém-libertos, deixam de ser mão de obra fundamental para se 
tornar um peso social. Desse modo, qual o espaço cultural dado às minorias raciais 
no período do qual esta unidade trata? 
euclides da cunha (1866-1909)
Um dos escritores mais conhecidos e aclamados desse período é Euclides da Cunha, 
autor de o aclamado livro “Os Sertões”, de 1902. O autor Euclides Rodrigues Pimenta 
da Cunha, nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1866, perdeu sua mãe aos 3 anos de 
idade, morou com tias até os 5 anos, quando se mudou para a Bahia com seu pai. Ao 
voltar para o Rio de Janeiro anos depois, formou-se em Humanidades e escrevia poe-
mas e redações, iniciou o curso de Engenharia na Escola Politécnica até ingressar na 
Escola Militar da Praia Vermelha aos 20 anos de idade, onde permaneceu até ser des-
ligado por um ato de insubordinação. Assim, retoma seus estudos em Engenharia, até 
que seja proclamada a República, quando ele se reintegra ao Exército e lá faz carreira.
Cunha sempre teve interesse pelo político e social e, assim como sua obra, é conheci-
do por isso, tanto que escrevia para jornais a respeito do que sua consciência julgava 
oportuno sobre as tensões próprias da época. No ano seguinte a reformar-se como 
capitão, em 1896, seguiu para a Bahia para trabalhar como correspondente de guerra 
para o jornal “O Estado de São Paulo”, cobrindo a Revolta de Canudos. 
Nessa sua experiência, Cunha teve a oportunidade de cobrir um dos maiores massa-
cres em território brasileiro, denunciando os crimes provocados pelo exército brasileiro 
18 Literatura BrasiLeira ii
contra o povo de Canudos. Assim, pode fazer vários registros, os quais aproveitaria para 
a produção do seu ensaio social que lhe rendeu grande notoriedade, dando início a sua 
produção em 1897, porém a publicação ocorre em 1902, conforme citado anteriormente.
Embora Euclides da Cunha tenha escrito outros textos como “Peru versus Bolívia” 
(1907), “Contrastes e Confrontos” (1907), foi com “Os Sertões” que o autor se consa-
grou e é lembrado até a contemporaneidade. Sendo assim, neste tópico você terá a 
oportunidade de conhecer e compreender um pouco mais dessa obra.
Além do que já falamos sobre a obra, é importante saber que “Os Sertões” é um ro-
mance épico, grandioso, de linguagem rebuscada e científica, classificada pela crítica 
de “barroco-científica” e, note-se nesse aspecto, a presença da influência barroca, po-
rém a proposta de uma nova maneira de escrever. Nela, o autor denuncia o massacre 
promovido pelo Exército brasileiro contra Antonio Conselheiro, líder nordestino que lu-
tava contra as injustiças e miséria promovidas pelo descaso do governo, e seu grupo. 
Para que você compreenda melhor do que trata essa obra, vale contextualizar quem 
foi Antonio Conselheiro e as razões dessa revolta. Desse modo, tudo começou com 
a chegada desse líder, a princípio um homem comum que vagava pelo sertão após 
a traição da sua esposa, que se aproximou de pessoas marginalizadas, como ex-es-
cravos, que também vagavam sem destino certo após a sua libertação, e sertanejos 
que viam suas terras tornarem-se improdutivas e, não havendo apoio do governo, 
sofrem com a miséria. 
Vale ressaltar que isso se deu logo após a estruturação da república, entretanto, o go-
verno se aproximava dessa região apenas com o intuito de cobrar impostos altíssimos 
e de maneira agressiva. Logo, em meio a essa crise e tensão social, o povo viu em 
Antonio Conselheiro um salvador, uma vez que esse pregava que o novo governo era 
o “anticristo” e defendia o retorno da monarquia.
19Literatura BrasiLeira ii
O governo brasileiro diante desse cenário recorre ao exército que faz várias intervenções 
na região, nem sempre bem-sucedidas, culminando com um saldo de mais de 20 mil 
mortos, dentre eles crianças e mulheres, mesmo após as suas rendições, e a destruição 
total desse agrupamento. Não bastando isso, Antonio Conselheiro, que havia morrido 
supostamente de causas naturais, teve seu corpo exumado e sua cabeça arrancada. 
Segundo Antonio Candido (1999), 
Graças à conjunção de um acontecimento dramático, da férvida imaginação de um 
observador privilegiado e da força de um estilo enfático, a opinião pública sentiu que 
a sociedade brasileira repousava sobre a contradição entre o progresso material das 
áreas urbanizadas e o atraso que marginalizava as populações isoladas do interior. 
Faltou a Euclides da Cunha apenas salientara miséria que acompanha esta situação 
de abandono, para mostrar que se tratava de algo quase tão grave quanto a escravidão, 
que tinha sido abolida pouco antes. Ele baseou o seu livro no esquema determinista em 
voga naquele tempo, indicando como o meio físico e a raça condicionavam os grupos 
sociais, e como a diferença de ritmos da evolução gerava desarmonias catastróficas. A 
sua escrita transforma a pretendida objetividade científica em testemunho indignado e 
lúcido, resultando em denúncia do exército e da política dominante. Apesar disso Eucli-
des da Cunha (que tivera formação na Escola Militar) foi glorificado de imediato e o seu 
livro tornou-se um clássico, conhecendo um dos maiores êxitos editoriais que o Brasil 
virá até então. Um dos motivos disto pode ter sido o fato de ele haver despertado na 
consciência das classes médias o sentido de problemas que ela ignorava ou recalcava. 
Mas deve ter contribuído, também, o voo retórico do estilo, inclusive no rebuscamento 
do vocabulário e das construções sintáticas, bem-vindos aos “cultores da forma” (p.64).
Conforme destacado anteriormente, especificamente com relação ao estilo de Cunha, obser-
va-se que além da influência do determinismo – no qual o homem era fruto do seu meio – o 
autor revela a presença do estilo parnasiano no rebuscamento da sua linguagem e estrutura-
ção sintática, ou seja, o culto à forma. Entretanto, é equivocado concluir que sua obra tenha 
se empenhado apenas com relação à forma, de fato “Os Sertões” é muito mais que uma 
linguagem bem trabalhada, ela é, antes de tudo, um documento importante para o registro 
das atrocidades do exército, bem como das mazelas do governo despreparado da época.
20 Literatura BrasiLeira ii
Assim, nota-se que sua estrutura é dividida em três partes, cada uma delas com um 
enfoque específico, a saber:
A Terra: relato das condições físicas de Canudos, nos seus aspectos geográficos, um 
estudo digno da sua formação em Ciências Naturais;
O Homem: relato antropológico do homem sertanejo e das etnias que habitavam a região;
A Luta: narração do conflito, até que culmine no seu desfecho trágico.
Dessa maneira, com o intuído de melhor compreender essa obra, acompanhe o tre-
cho que segue:
Capítulo I
Preliminares
O Planalto Central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e 
abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das 
cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as 
terras setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba 
para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, que o despem da primitiva 
grandeza afastando-o consideravelmente para o interior. 
De sorte que quem o contorna, seguindo para o norte, observa notáveis mudanças de 
relevos: a princípio o traço contínuo e dominante das montanhas, precintando-o, com 
destaque saliente, sobre a linha projetante das praias; depois, no segmento de orla ma-
rítima entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, um aparelho litoral revolto, feito da en-
vergadura desarticulada das serras, riçado de cumeadas e corroído de angras, e escan-
celando-se em baias, repartindo-se em ilhas, e desagregando-se em recifes desnudos, 
à maneira de escombros do conflito secular que ali se trava entre os mares e a terra; em 
seguida, transposto o 15° paralelo, a atenuação de todos os acidentes — serranias que 
se arredondam e suavizam as linhas dos taludes, fracionadas em morros de encostas 
indistintas no horizonte que se amplia; até que em plena faixa costeira da Bahia, o olhar, 
livre dos anteparos de serras que até lá o repulsam e abreviam, se dilata em cheio para 
21Literatura BrasiLeira ii
o ocidente, mergulhando no âmago da terra amplíssima lentamente emergindo num 
ondear longínquo de chapadas... 
Este facies geográfico resume a morfogenia do grande maciço continental. 
Demonstra-o análise mais íntima feita por um corte meridiano qualquer, acompanhando 
à bacia do S. Francisco (CUNHA, 1984, p.4).
Note-se que nessa introdução da primeira parte da obra, Euclides da Cunha apresen-
ta, assim como ele mesmo diz, as preliminares da terra sobre a qual ele irá falar. Vale 
observar os detalhes com os quais ele descreve essa terra, uma linguagem científica, 
rica em informações tal qual um documento geográfico. 
Nesse contexto, Cunha prepara o cenário para que o seu leitor compreenda onde 
se dá o conflito narrado por ele, assim, é descrito ao leitor as peculiaridades desse 
ambiente inóspito, uma vez que a seca condenava a terra, tornando-a cada vez mais 
difícil de ser cultivada. Assim, segundo a visão determinista da qual o autor se valeu, 
justifica-se a secura do homem sertanejo e do povo que habitava essa região. Obser-
ve mais um trecho:
Abarreirados os vales, inteligentemente escolhidos, em pontos pouco intervalados, por 
toda a extensão do território sertanejo, três consequências inevitáveis decorreriam: 
atenuar-se-iam de modo considerável a drenagem violenta do solo e as suas conse-
quências lastimáveis; formar-se-lhes-iam à ourela, inscritas na rede das derivações, 
fecundas áreas de cultura; e fixar-se-ia uma situação de equilíbrio para a instabilidade 
do clima, porque os numerosos e pequenos açudes, uniformemente distribuídos e cons-
tituindo dilatada superfície de evaporação, teriam, naturalmente, no correr dos tempos, 
a influência moderadora de um mar interior, de importância extrema. 
Não há alvitrar-se outro recurso. As cisternas, poços artesianos e raros, ou longamente 
espaçados lagos como o de Quixadá, têm um valor local, inapreciável. Visam, de um 
modo geral, atenuar a última das consequências da seca — a sede; e o que há a com-
bater e a debelar nos sertões do Norte — é o deserto. 
22 Literatura BrasiLeira ii
O martírio do homem, ali, é reflexo de tortura maior, mais ampla, abrangendo a econo-
mia geral da Vida. 
Nasce do martírio secular da terra… (CUNHA, 1984, p.29).
Após essa introdução, na qual o autor apresenta a terra-cenário, é descrito o homem, 
assim como apontado anteriormente, formado nesse território. Cunha faz um estudo do 
psicológico do sertanejo e das razões das ações de um povo sofrido e marginalizado. 
Observemos um trecho da segunda parte, O Homem, no qual o autor se refere a An-
tonio Conselheiro:
É natural que estas camadas profundas da nossa estratificação étnica se sublevassem 
numa anticlinal extraordinária — Antônio Conselheiro... 
A imagem é corretíssima. 
Da mesma forma que o geólogo, interpretando a inclinação e a orientação dos estratos 
truncados de antigas formações, esboça o perfil de uma montanha extinta, o historiador só 
pode avaliar a altitude daquele homem, que por si nada valeu, considerando a psicologia 
da sociedade que o criou. Isolado, ele se perde na turba dos nevróticos vulgares. Pode 
ser incluído numa modalidade qualquer de psicose progressiva. Mas, posto em função do 
meio, assombra. É uma diátese e é uma síntese. As fases singulares da sua existência não 
são, talvez, períodos sucessivos de uma moléstia grave, mas são, com certeza, resumo 
abreviado dos aspectos predominantes de mal social gravíssimo. Por isto o infeliz, destina-
do à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência superior, bater de encontro a 
uma civilização, indo para a História como poderia ter ido para o hospício. Porque ele para 
o historiador não foi um desequilibrado. Apareceu como integração de caracteres diferen-
ciais — vagos, indecisos, mal percebidos quando dispersos na multidão, mas enérgicos e 
definidos, quando resumidos numa individualidade (CUNHA, 1984, p.66).
Note-se que no trecho anterior o autor utiliza o meio, a terra e o social para justificar 
o surgimento desse que esteve à frente daqueles que lutaram na revolta que temati-
za sua obra. Na abertura desse tópico, Cunha se refere a Antonio Conselheiro como 
23Literatura BrasiLeira ii
“documento vivo do ativismo”, elevando-o, ou reduzindo-o, dependendodo ponto de 
vista, ao nível de um objeto no sentido de personificação de um documento, em outras 
palavras, para o autor, o líder escolhido pelo povo de Canudos constituía a própria 
síntese de tudo que compunha o meio no qual ele se tornou o “Conselheiro”. 
Por fim, a obra se fecha com o seu maior destaque, que é o registro da Revolta pro-
priamente dita. O que é observável com grande clareza é a riqueza de detalhes com 
a qual o autor narra a luta do povo de Canudos e, para compor essa narrativa, ele 
introduz as preliminares e antecedentes da luta, passando pelas causas e chegando 
aos combates, configurando, assim, um verdadeiro documento histórico.
Assim, vale observar o trecho que segue:
Antecedentes
O mal era antigo.
O trato do território, que recortam as cadeias de Sincorá até às margens do S. Fran-
cisco, era, havia muito, dilatado teatro de tropelias às gentes indisciplinadas do sertão. 
Opulentada de esplêndidas minas, aquela paragem, malsina-a a própria opulência. Pro-
curam-na há duzentos anos irrequietos aventureiros ferrotoados pelo anelo de espanto-
sas riquezas, e eles, esquadrinhando afanosamente os flancos das suas serranias e as 
nascentes dos rios, fizeram mais do que amaninhar a terra com a ruinaria das catas e o in-
dumento áspero das grupiaras: legaram à prole erradia e, de contágio, aos rudes vaquei-
ros que os seguiram, a mesma vida desenvolta e inútil livremente expandida na região 
fecunda, onde por muitos anos foram moeda corrente o ouro em pó e o diamante bruto.
De sorte que, sem precisarem despertar pela cultura as energias de um solo em que não 
se fixam e atravessam na faina desnorteada de faiscadores, conservaram na ociosida-
de turbulenta a índole aventureira dos avós, antigos fazedores de desertos. E como, a 
pouco e pouco, se foram exaurindo os cascalhos e afundando os veeiros, o banditismo 
franco impôs-se-lhes como derivativo à vida desmandada. 
24 Literatura BrasiLeira ii
O jagunço, saqueador de cidades, sucedeu ao garimpeiro, saqueador da terra. O man-
dão político substituiu o capangueiro decaído. 
A transição e antes de tudo um belo caso de reação mesológica (CUNHA, 1984, p.97). 
Nesse sentido, as razões para a luta, segundo o autor, eram antigas. Assim como 
menciona anteriormente, toda a configuração social e econômica, resultante de uma 
transição nada cordial, começa a desenhar o mote da luta.
Ao avançar na narrativa, o autor relata o primeiro combate, a saber:
Eram muitos. Três mil. Disseram depois informantes exagerados, triplicando talvez o 
número. Mas avançavam sem ordem. Um pelotão escasso de infantaria que os aguar-
dasse, distribuído pelas caatingas envolventes, dispersá-los-ia em alguns minutos. 
O arraial na frente, porém, não revelava lutadores a postos. Dormia. 
A multidão aproximou-se, tudo o indica, até beirar a linha de sentinelas avançadas. E desper-
tou-as. Os vedetas estremunhando, surpresos, dispararam, à toa, as carabinas e refluíram 
precipitadamente para a praça que ficava à retaguarda, deixando em poder dos agressores 
um companheiro, espostejado a faca. Foi, então, o alarma: correndo estonteadamente pelo 
largo e pelas ruas; saindo, seminus, pelas portas; saltando pelas janelas; vestindo-se e 
armando-se às carreiras e às encontroadas... Não formaram. Mal se distendeu às pressas, 
dirigida por um sargento, incorreta linha de atiradores. Porque os jagunços lá chegaram 
logo, de envolta com os fugitivos. E o recontro empenhou-se brutalmente, braço a braço, 
adversários enleados entre disparos de garruchas e revólveres, pancadas de cacetes e co-
ronhas, embates de facões e sabres — adiante, sobre a frágil linha de defesa. Esta cedeu 
logo. E a turba fanatizada, entre vivas ao Bom Jesus e ao Conselheiro, e silvos estridentes 
de apitos de taquara, desdobrada, ondulante, a bandeira do Divino, erguidos para os ares 
os santos e as armas, seguindo empós o curiboca audaz que levava meio inclinada em 
aríete a grande cruz de madeira — atravessou o largo arrebatadamente... 
Este movimento foi instantâneo e foi, afinal, a única manobra percebida pelos que teste-
munhavam a ação. Dali por diante não a descrevem os próprios protagonistas. Foi uma 
desordem de feira turbulenta. 
25Literatura BrasiLeira ii
Na maioria, as praças, protegidas pelas casas, e abrindo-lhes as paredes em seteiras, 
volveram à defensiva franca. 
Foi a salvação. Os matutos conjuntos à roda dos símbolos sacrossantos, no largo, co-
meçaram de ser fuzilados em massa. Baquearam em grande número; e tornou-se-lhes 
a luta desigual a despeito da vantagem numérica. Batidos pelas armas de repetição, 
opunham um disparo de clavinote a cem tiros de Comblain. Enquanto o soldado os al-
vejava em descargas nutridas, os jagunços revolviam os aiós, tirando sucessivamente 
a pólvora, a bucha e as balas do demorado processo da carga de seu armamento gros-
seiro; enfiando depois pelo cano largo do trabuco a vareta; cevando-o devagar, socando 
lá dentro aqueles ingredientes como se enchessem uma mina; escorvando-o depois; 
aperrando-o afinal, e ao cabo disparando-o; realizando o heroísmo de uma imobilidade 
de dois minutos na estonteadora ebriez do tiroteio... (CUNHA, 1984, p.103).
Ao narrar o combate, o autor não poupa detalhes, e é justamente nessa riqueza de in-
formações que o leitor encontra elementos suficientes para visualizar a realidade vivida 
pelo povo de Canudos durante essa revolta. Além dos detalhes, o autor segue narran-
do e fazendo a análise, segundo o seu ponto de vista, dos erros e dos acertos dos dois 
lados do combate, sem deixar de destacar o caráter fanático de ambos os lados.
Sem se alongar mais, pois o tom da obra se mantém até o fim, vale dar destaque a 
maneira como Cunha conclui o seu texto e também a narrativa da luta. Ele não se limi-
ta com relação à descrição do massacre, sendo fiel às suas impressões com tamanha 
crueldade do exército brasileiro. Desse modo, o autor finaliza sua obra dando desta-
que à bravura de Canudos, afirmando que ele não se rendeu, e a Antonio Conselheiro 
que, mesmo após a sua morte, teve sua tumba profanada e sua cabeça arrancada 
como troféu conquistado via massacre, acompanhe:
O cadáver do Conselheiro
Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede escolhida descobrira o cadáver de 
Antônio Conselheiro. 
26 Literatura BrasiLeira ii
Jazia num dos casebres anexos à latada, e foi encontrado graças à indicação de um 
prisioneiro. Removida breve camada de terra, apareceu no triste sudário de um lençol 
imundo, em que mãos piedosas haviam desparzido algumas flores murchas, e repou-
sando sobre uma esteira velha, de tábua, o corpo do “famigerado e bárbaro” agitador. 
Estava hediondo. Envolto no velho hábito azul de brim americano, mãos cruzadas ao 
peito, rosto tumefato, e esquálido, olhos fundos cheios de terra — mal o reconheceram 
os que mais de perto o haviam tratado durante a vida. 
Desenterraram-no cuidadosamente. Dádiva preciosa — único prêmio, únicos despojos 
opimos de tal guerra! —, faziam-se mister os máximos resguardos para que se não desar-
ticulasse ou deformasse, reduzindo-se a uma massa angulhenta de tecidos decompostos. 
Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa firmando a sua identidade: im-
portava que o país se convencesse bem de que estava, afinal, extinto aquele terribilís-
simo antagonista. 
Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em guardar a sua cabeça tantas ve-
zes maldita — e, como fora malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca jeitosa-
mente brandida, naquela mesma atitude, cortou-lha; e a face horrenda, empastada de 
escaras e de sânie, apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores... 
Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multidões em festa, aquele crânio. Que 
a ciência dissesse a última palavra. Ali estavam, no relevo de circunvoluções expressi-
vas, as linhas essenciais do crime e da loucura... (CUNHA, 1984, p.265).
Assim, o autor conclui sua obra e sua reflexão, documentando a capacidade humanaem se vangloriar da dor alheia, da briga desmedida pelo poder. Não é por acaso que 
o autor finaliza seu texto não com um ponto final, mas sim com reticências logo após 
a palavra “loucura”, sugerindo uma possível reflexão ou conclusão para o leitor.
27Literatura BrasiLeira ii
lima barreto (1881-1922)
Outro autor que é conhecido como pré-modernista, embora não tenha sido reconheci-
do por sua qualidade enquanto vivo, ganhou destaque na literatura nacional com seu 
romance social. O autor a que nos referimos aqui, caro(a) aluno(a), é Afonso Henri-
ques de Lima Barreto, popularmente conhecido apenas como Lima Barreto. 
Nascido no Rio de Janeiro, em 1881, filho de mestiços, sua mãe professora primária 
e seu pai funcionário da Imprensa Nacional, recebeu a proteção do Visconde de Ouro 
Preto, que era seu padrinho, e pode matricular-se na Escola Politécnica após con-
cluir seus estudos secundários, em 1897, porém abandonou o curso em 1903. Assim, 
tornou-se funcionário da Secretaria de Guerra e colaborador da imprensa. Segundo 
consta, foi nessa época que o autor planejou boa parte dos seus romances, sob in-
fluência da literatura ficcional europeia, da qual era leitor assíduo – a leitura era seu 
refúgio dos preconceitos sofridos por sua cor e raça – literatura essa que possibilitou 
a ele uma considerável proximidade com a tradição realista e social dessa literatura, 
principalmente a de origem russa.
De personalidade depressiva e solitária, o autor frequentava a vida boemia e foi 
se tornando alcoólatra, chegando a se internar em uma clínica de recuperação por 
duas vezes. Porém, seu vício o venceu e ele veio a falecer em 1922 vitimado por 
um ataque cardíaco. 
Sua obra é bastante influenciada, também, pelo seu estilo objetivo e informal, próprio 
da sua vivência como jornalista. Escrevia principalmente crônicas nas quais falava 
das desigualdades sociais, dos preconceitos contra a raça e, também, sobre os des-
mandos do governo. Nesse sentido, a pobreza e a opressão são temas recorrentes 
em seus textos, revelando, também, aspectos autobiográficos, como é possível ob-
servar em duas de suas obras: “Clara dos Anjos” (1923) e “Recordações do escrivão 
Isaias Caminha” (1909).
28 Literatura BrasiLeira ii
Além das obras mencionadas anteriormente, as mais conhecidas pelo público são: 
“Numa e a Ninfa” (1915), “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá” (1919), “Histórias e 
sonhos” (1920) e, a mais conhecida delas, “O triste fim de Policarpo Quaresma” (1915). 
Segundo Antonio Candido (1999), Barreto:
Se pôs voluntariamente à margem da sociedade dominante, pela repulsa dos seus 
padrões [...]. Contrariando as normas preconizadas, a sua escrita é cursiva e a mais 
simples possível, buscando o ritmo coloquial, despreocupada da “pureza vernácula”, 
frequentemente incorreta, parecendo desafiar intencionalmente a gramática. A sua ten-
dência mais natural era o comentário jornalístico e a apresentação pitoresca de costu-
mes, regidos pelo sarcasmo e dirigidos contra o pedantismo, a falsa ciência, as apa-
rências hipócritas da ideologia oficial. Mas o bloco principal de sua obra é a narrativa, 
que deixa a impressão de esforço mal realizado, apesar da generosidade das posições. 
Nela se destaca o romance O triste fim de Policarpo Quaresma (1915), sátira quase 
trágica dos equívocos do patriotismo (muito invocado naquela fase inicial da República), 
onde conta a destruição de um inofensivo idealista pela realidade feia e mesquinha da 
política e dos fariseus (p.64).
Assim, a respeito do seu estivo, contrariamente a Cunha, Lima Barreto escrevia na lingua-
gem mais próxima ao coloquial, chegando algumas vezes a desafiar as regras impostas 
pela gramática. Nesse sentido, acompanhemos alguns trechos de sua obra mais conhe-
cida, “O triste fim de Policarpo Quaresma”, para validar o que expomos anteriormente. 
I
A Lição de Violão
Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em 
casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo 
do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas fru-
tas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa. Não gastava 
nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, 
tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa 
rua afastada de São Januário, bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a 
aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, 
29Literatura BrasiLeira ii
previsto e predito. A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capi-
tão Cláudio, onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, 
a dona gritava à criada: “Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou.” E 
era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros 
rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida 
superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da conside-
ração e respeito de homem abastado (BARRETO, 1994, p.2).
Nesse primeiro trecho, que abre a narrativa, o autor apresenta o protagonista como 
homem simples, previsível, respeitado pela sua vizinhança. O enredo da história é 
composto pela história desse homem, um trabalhador simples, porém cheio de ideias 
revolucionárias e amor por sua pátria, beirando ao fanatismo. Fanatismo esse que o 
levou a estudar a língua Tupi e a propô-la como língua oficial do Brasil por meio de uma 
petição apresentada à Câmara dos Deputados. Esse fato o fez virar motivo de piada 
na cidade, perdendo assim o seu respeito e sua dignidade ao ser internado em um 
hospício por seis meses. Assim, Quaresma se desgosta da cidade, vende tudo o que 
tinha, e vai embora para o campo para viver em um sítio, o qual ele chama “Sossego”. 
No campo, sua plantação e seus animais são vitimados por pragas e ele resolve parti-
cipar da Revolta Armada ao lado de Floriano. Em reconhecimento à sua participação, 
ganha o cargo de carcereiro dos prisioneiros de guerra, porém Policarpo se depara 
com crueldades que o desgostam ainda mais. Assim, ele não se aguenta e denuncia 
tudo aquilo com o que não concordava. Ironicamente, Quaresma é condenado por 
traição a Pátria ao querer fazer justamente o contrário.
A respeito do estilo e dos temas trabalhados pelo autor, Bosi (2013) afirma que: 
As realidades sociais, isto é, o conteúdo pré-romanesco, embora escolhidas e elabora-
das pelo ponto de vista afetivo e polêmico do narrador, não parecem, de modo algum, 
forçadas a ilustrar inclinações puramente subjetivas. O resultado é um estilo ao mesmo 
tempo realista e intencional, cujo limite inferior é a crônica (p.340).
30 Literatura BrasiLeira ii
Embora Lima Barreto tenha sido reconhecido tardiamente, sua obra se tornou conhe-
cida e é ainda atual, revelando um Brasil imaturo e limitado moralmente.
Graça aranha (1868-1931)
Outro autor de ficção pré-modernista, porém este vindo de uma classe social mais abas-
tada e culta, é Graça Aranha. Seu nome de nascimento é José Pereira da Graça Ara-
nha, natural do Maranhão, cursou Direito em Recife, trabalhou como juiz municipal em 
Cachoeira de Santa Leopoldina, no Espírito Santo, onde coletou material para sua obra 
“Canaã” (1902). Exerceu também a função de diplomata por vinte anos, viajando fre-
quentemente para a Europa, onde teve contato com a efervescência das vanguardas. 
Outro fato relevante foi sua participação na Semana de Arte Moderna, em 1922, com a 
conferência “A emoção da Estética Moderna”, dada a sua assimilação das influências 
das vanguardas europeias. Embora seu empenho na área literária, publicando Malas-
sarte (1911), “A estética da vida” (1920) e o “O Espírito Moderno” (1925), há apenas 
uma obra reconhecida por sua qualidade que é “Canaã”. 
A obra “Canaã” – uma referência clara à ideia de terra prometida presentena bíblia 
- narra a história de dois alemães que migram para o Espírito Santo, Milkau e Lentz, 
ambos seguidores de correntes filosóficas diferentes e, por essa razão, conflitam. 
Milkau vê o Brasil de maneira ideológica como terra prometida, porém Lentz, seguidor 
das correntes nazistas, acredita na superioridade do povo alemão a todos os outros. 
A certa altura da narrativa, Milkau se apaixona por Maria que é uma empregada do-
méstica, a qual engravidou do patrão e foi expulsa de casa. Assim, ela dá à luz ao seu 
filho na margem do rio e ele é devorado por porcos selvagens. Maria é acusada de 
ter matado seu filho e é levada presa, porém Milkau consegue resgatá-la e a narrativa 
termina com a fuga do casal. 
31Literatura BrasiLeira ii
O que é importante destacar nessa obra é a presença da mistura do determinismo 
naturalista e dos recursos impressionistas. Assim a obra, enquanto pré-modernista, 
apresenta a fusão de correntes realistas e simbolistas. 
No intuito de exemplificar o mencionado anteriormente, observemos o trecho que nar-
ra o nascimento do filho de Maria:
E o que tinha de acontecer acontecia... No meio do cafezal que estava a limpar, Maria, 
que já desde a véspera vinha sofrendo, sentiu repentinamente uma dor aguda nas 
entranhas, como de uma violenta punhalada. Caiu pesada no chão, o corpo se lhe 
retorceu todo e o rosto desmaiado desfigurou-se numa contorção medonha. A dor fora 
viva e passageira e logo que a rapariga voltou a si, assaltada por um grande terror, o 
seu primeiro movimento foi de se recolher a casa e aí, no abrigo doméstico, esperar o 
desenlace da crise. Teve, porém, medo de afrontar a ira dos patrões, que dia e noite 
ameaçavam despedi-la, para se furtarem ao incômodo do tratamento. Resistiu e con-
tinuou a labutar debaixo dos pés de café, sozinha, no silêncio do dia. O trabalho não 
prosseguia bem; das mãos entorpecidas deixava cair frouxa a enxada, e as pernas 
trôpegas, volumosas, não se sustinham firmes. De espaço a espaço, a mesma dor 
voltava, como se lhe dilacerasse o ventre. Maria se amparava, apertando-se com as 
mãos para sufocar o sofrimento estranho e vergonhoso que sentia. Nos intervalos er-
guia-se, esforçando-se por trabalhar, desbastando o mato tecido ao cafezal, mas logo 
era derrubada exausta, alagada em suor frio. Às vezes, tinha ímpetos de gritar, e contra 
toda a vontade gemia alto, clamando socorro. Quando serenava, espanta-se dos seus 
inconscientes desabafos e tremia de pavor, pensando que lhe viriam acudir. Sabia bem 
que qualquer auxílio dos amos importaria em um aumento de tortura, de aviltamento e 
seguramente em uma expulsão imediata daquele lar desagasalhado, mas ainda assim 
um lar (ARANHA, s.d., s.p.).
monteiro lobato (1882-1948)
O autor Monteiro Lobato é bastante conhecido no Brasil como produtor de literatura 
infantil, entretanto, essa não é sua única faceta. José Bento Monteiro Lobato nasceu 
em Taubaté, em 1882, formou-se em Direito pela conhecida Faculdade de Direito do 
Largo de São Francisco. Ao se formar, trabalhou como promotor público e herdou uma 
32 Literatura BrasiLeira ii
fazenda, trabalhou como agricultor durante anos, porém vendeu tudo e retornou para 
São Paulo onde adquiriu a “Revista do Brasil”. Embora a revista estivesse mal finan-
ceiramente, Lobato conseguiu reerguê-la e, vendo a área crescer, investiu no ramo 
editorial, tornando-se assim fundador da indústria do livro no Brasil.
Sem dúvida, muito do seu sucesso se deve à literatura infantil, com seus persona-
gens das “Reinações de Narizinho”, Emília, Visconde de Sabugosa, Dona Benta etc. 
Esta é uma literatura de cunho didático, expondo dados da Matemática, da Biologia, 
do Folclore, da História, e assim por diante. Porém, há um lado de idealista que o fez 
defender a liberdade democrática e a melhoria das condições públicas para o povo. 
Assim, envolveu-se em várias questões políticas chegando a ter sua prisão decreta-
da, ficando preso por meses.
Com relação a sua literatura voltada para o público adulto, é notável sua ironia fina com 
a qual faz duras críticas ao sistema social de sua época. Um dos seus personagens mais 
marcantes foi o caricato “Jeca Tatu”, com o qual ele representava o caipira brasileiro, 
porém sua infelicidade é notória quando da crítica a essa figura feita no artigo “Urupês”. 
A respeito do autor, observe o que diz Antonio Candido (1999),
Parcialmente regionalista é a obra de Monteiro Lobato (1882-1948), escritor inquieto e per-
sonalidade poderosa, que misturava o senso moderno dos problemas a um naturalismo já 
superado, em contos ordenados em torno da anedota-chave. Mas sua maior contribuição 
literária foram os livros infantis, de uma invenção original e moderna, escritos em lingua-
gem da mais encantadora vivacidade. No começo da carreira fracassou como proprietário 
rural, e isso talvez haja contribuído para o desprezo amargo com que tratou o homem do 
campo em vários contos e artigos. A seguir fundou em São Paulo a importante Revista do 
Brasil (1916-1925) e uma editora que revolucionou a feitura do livro. Antes, este era, ou 
editado na Europa, ou editado aqui de maneira graficamente incaracterística, por empre-
sas de pequeno porte ou associadas a firmas europeias. Monteiro Lobato concebeu um 
tipo materialmente original de livro, barato e elegante, destinado a publicar autores brasilei-
ros contemporâneos. A tentativa acabou alguns anos depois no malogro econômico, mas 
a editora que fundou tornou-se, noutras mãos, uma das mais importantes do Brasil (p.67).
33Literatura BrasiLeira ii
Dentre as obras voltadas ao público adulto escritas por Lobato, destacam-se “Urupês” 
(1918), “Cidades Mortas” (1919), “Negrinha” (1920), “O escândalo do petróleo” (1936). 
O trecho que leremos a seguir pertence ao livro de contos “Cidades Mortas” e é do 
conto que dá o nome ao livro. Nele, o autor faz uma crítica, com seu estilo sutil, às ci-
dades do Norte de São Paulo, decadentes com a crise do café, vivendo de aparências 
e de um passado promissor.
Os ricos são dois ou três forretas, coronéis da Briosa, com cem apólices a render no 
Rio; e os sinecuristas acarrapatados ao orçamento: juiz, coletor, delegado. O resto é a 
“mob”: velhos mestiços de miserável descendência, roídos de opilação e álcool; famílias 
decaídas, a viverem misteriosamente umas, outras à custa do parco auxílio enviado 
de fora por um filho mais audacioso que emigrou. “Boa gente”, que vive de aparas. Da 
geração nova, os rapazes debandam cedo, quase meninos ainda; só ficam as moças 
— sempre fincadas de cotovelos à janela, negaceando um marido que é um mito em 
terra assim, donde os casadouros fogem. Pescam, às vezes, as mais jeitosas, o seu 
promotorzinho, o seu delegadozinho de carreira — e o caso vira prodigioso aconteci-
mento histórico, criador de lendas. 
Toda a ligação com o mundo se resume no cordão umbilical do correio — magro estafe-
ta bifurcado em pontiagudas éguas pisadas, em eterno ir-e-vir com duas malas postais 
à garupa, murchas como figos secos. Até o ar é próprio; não vibram nele fonfons de 
auto, nem cornetas de bicicletas, nem campainhas de carroça, nem pregões de italia-
nos, nem ten-tens de sorveteiros, nem plás-plás de mascates sírios. Só os velhos sons 
coloniais — o sino, o chilreio das andorinhas na torre da igreja, o rechino dos carros de 
boi, o cincerro de tropas raras, o taralhar das baitacas que em bando rumoroso cruzam 
e recruzam o céu (LOBATO, 2007, p.23).
Observe que Lobato faz críticas ao perfil do rico produtor de café que vive em casa-
rões, sobrevivendo às custas de algum filho que emigrou para a cidade: “’Boa gente’, 
que vive de aparas”. Fala também das meninas que ficam debruçadas à janela a es-
pera de um casamento que lhe renda algum lucro, sendo que, por vezes, conquista 
um “delegadozinho” ou um “promotorzinho”, que seriam o mais promissor para aquela 
cidade decadente. Note-se que, embora o autor não utilize nenhum adjetivo explícito 
34 Literatura BrasiLeiraii
para criticar os cargos citados por ele (delegado e promotor), mas ele utiliza o dimi-
nutivo reduzindo a suposta grandeza desses cargos públicos valorizados no período.
Citemos um outro trecho, desta vez do conto chamado “Negrinha”, o qual pertence ao 
livro de mesmo nome. Acompanhe:
Negrinha
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de 
cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos 
escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a 
patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, animada dos padres, com 
lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no 
trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o 
vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama 
de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. 
Há muito o que se observar nesse pequeno trecho, entretanto, concentremo-nos na 
descrição nada ingênua feita por Lobato acerca da patroa, “uma virtuosa senhora”, 
que, segundo o vigário, era “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião 
e da moral”. A crítica se encontra justamente na ironia construída entre o primeiro e 
segundo parágrafos, a saber: no primeiro, o narrador afirma que a negrinha ainda 
bebê vivia escondida na cozinha, provavelmente em condições precárias, porque a 
patroa/dona da sua mãe não gostava de crianças. Ou seja, como uma senhora tão 
boa poderia ainda ter escravos e se incomodar com a presença de uma criança ino-
cente? Não é em vão que o narrador a descreve como “dona do mundo”, pois é sabido 
que a relação entre escravo e senhor é justamente essa: dono e objeto, ou seja, a 
“patroa” poderia ser mesmo dona do mundo, inclusive das pessoas.
35Literatura BrasiLeira ii
Dessa maneira, vale destacar também que as obras de Lobato frequentemente apre-
sentam humor, porém visando um riso consciente da crítica lúcida pretendida por ele. 
augusto dos anjos (1884-1914): um poeta marginal
Estudamos até agora autores de prosa, entretanto, há um poeta de grande relevância 
no Pré-Modernismo que é Augusto dos Anjos. Seu nome de nascimento é Augusto 
Carvalho Rodrigues dos Anjos, natural da Paraíba, de uma família numerosa e rigoro-
sa. Foi educado pelo pai, que era um apaixonado por literatura e tinha uma biblioteca 
composta de obras que ele mesmo mandava vir da Europa. Augusto formou-se em 
Direito na cidade do Recife em 1907, porém sem frequentar nenhuma aula, apenas 
fazia as avaliações as quais respondia com brilhantismo. Embora advogado, foi como 
professor de Literatura que fez carreira. 
Como fazendeiros de cana-de-açúcar, sua família sofreu com o cenário político e eco-
nômico do Brasil, vendo sua situação financeira se agravar com a abolição dos escra-
vos e a mudança do sistema político para a República. Assim, casou-se e mudou-se 
para o Rio de Janeiro com sua família, passou por dificuldades com o desemprego, 
conseguindo uma aula ou outra.
A partir da influência de seu cunhado, conseguiu o cargo de diretor no Grupo Esco-
lar de Leopoldina, em Minas Gerais. Porém, o salário baixo o fez dividir seu tempo 
entre essa função e aulas particulares, o que foi debilitando sua saúde e autoestima 
enquanto escritor. Morre em novembro de 1914 de maneira peculiar: mirando-se em 
um espelho, logo após ter ditado ao farmacêutico, que o acompanhava no seu leito de 
morte, seu último poema “O último número”. 
Sua obra é composta de poemas, os quais foram reunidos no livro chamado “Eu”, sendo 
acrescido mais tarde de outros poemas e passando a se chamar “Eu e outras poesias”. 
36 Literatura BrasiLeira ii
O estilo do poeta causou estranheza no público, porém os críticos se dividiam em 
elogios ou repulsa. Segundo Candido (1999), o poeta:
Foi também um marginal, não pela conduta, mas pela singularidade do seu único livro, 
Eu (1912). São poemas, na maioria sonetos, quase únicos na literatura brasileira. A 
sua escrita aproveita a divulgação científica que dominou o fim do século XIX e que ele 
elaborou num verdadeiro sistema poético, marcado pela influência de Baudelaire e do 
português Antero de Quental, além da de Cruz e Sousa. A sua matéria são o micróbio, 
a célula, o embrião, o escarro, a ferida, a decomposição da carne, que ele combina em 
poemas pessimistas e agressivos, fascinado pela cadeia que liga o infinitamente pe-
queno ao infinitamente grande, o destino da matéria e a vertigem dos mundos. As suas 
imagens são tomadas à ciência e à técnica, cravando-se na sonoridade agressiva de 
um verso que incorpora a ênfase retórica e o mau gosto com tamanho destemor, que a 
aparente vulgaridade torna-se grandiosa e a oratória sai da banalidade para gerar uma 
espécie de mensagem apocalíptica (p.65).
Nesse sentido, o autor também foi classificado por vezes como simbolista ou parna-
siano. Independentemente disso, sua obra pode ser considerada singular. Observe-
mos alguns poemas para exemplificar o que foi mencionado:
IDEALIZAçãO DA HUMANIDADE FUTURA
Rugia nos meus centros cerebrais 
A multidão dos séculos futuros 
-- Homens que a herança de ímpetos impuros 
Tornara etnicamente irracionais! 
Não sei que livro, em letras garrafais, 
Meus olhos liam! No húmus dos monturos, 
37Literatura BrasiLeira ii
Realizavam-se os partos mais obscuros, 
Dentre as genealogias animais! 
Como quem esmigalha protozoários 
Meti todos os dedos mercenários 
Na consciência daquela multidão... 
E, em vez de achar a luz que os Céus inflama, 
Somente achei moléculas de lama 
E a mosca alegre da putrefação
(ANJOS, 1998, p.6).
Ao analisar o poema anterior, é possível notar que, com relação ao conteúdo, encon-
tra-se um traço característico de Augusto dos Anjos ao falar da produção artística, 
assim como os parnasianos, fazendo analogias com aspectos escatológicos (“húmus 
dos monturos”, “mosca alegre da putrefação”). No nível formal, observe que se trata 
de um soneto clássico, com rimas bem definidas.
O próximo poema não difere com relação aos termos escatológicos, a começar pelo 
título, no qual o autor se refere ao “verme” como “Deus”, acompanhe:
38 Literatura BrasiLeira ii
O DEUS-VERME
Fator universal do transformismo. 
Filho da teleológica matéria, 
Na superabundância ou na miséria, 
Verme -- é o seu nome obscuro de batismo. 
Jamais emprega o acérrimo exorcismo 
Em sua diária ocupação funérea, 
E vive em contubérnio com a bactéria, 
Livre das roupas do antropomorfismo. 
Almoça a podridão das drupas agras, 
Janta hidrópicos, rói vísceras magras 
E dos defuntos novos incha a mão... 
Ah! Para ele é que a carne podre fica, 
E no inventário da matéria rica 
Cabe aos seus filhos a maior porção!
(ANJOS, 1998, p.7).
39Literatura BrasiLeira ii
Mais uma vez o autor utiliza um estilo de poema fixo, o soneto, entretanto, ele o faz 
para exaltar a tarefa do verme, ou seja, para o poeta, o trabalho do verme é o de um 
Deus, pois ele transforma a matéria e, para chegar a essa conclusão, observe que ele 
praticamente descreve o processo de putrefação. 
Os poemas de Augusto dos Anjos não diferem no tom sarcástico e no gosto pela 
linguagem científica, muito comum nos textos da época, dada a influência da ciência 
emergente. Todavia, seus textos são ricos com relação a composição estrutural e uso 
da linguagem rebuscada e bem articulada.
a caminho do modernismo: as vanguardas artísticas europeias das 
primeiras décadas do século XX
Caro(a) aluno(a), até aqui estudamos algumas das principais características com rela-
ção à literatura do final do século XIX e início do século XX, marcada por transições e 
tensões do Brasil no início da República. No entanto, cabe aqui um especial destaque 
para o que ficou conhecido como as “Vanguardas Europeias” e que marcam o início 
do Modernismopropriamente dito, ou seja, os movimentos artísticos que influencia-
ram nossa literatura de maneira definitiva, revelando que este país emergente ainda 
dependia em vários aspectos da cultura que o colonizou. 
O contexto histórico e social do surgimento dessas vanguardas é marcado pelo caos 
e pela necessidade de ruptura com o tradicional, com o clássico, com o passado, uma 
vez que o início do século XX é o momento do surgimento de tecnologias, que faci-
litavam e aceleravam a vida social (rádio, cinema, automóvel, eletricidade), e novos 
valores ideológicos. Nesse período, o mundo conhece correntes ideológicas como o 
nazismo, o fascismo e o comunismo, as quais movimentaram o mundo como um todo, 
ora com otimismo e ora com descrença. 
40 Literatura BrasiLeira ii
Assim, as artes também se propuseram a mudar, a se reinventar, rompendo e questio-
nando tudo aquilo que as antecederam. Dessa maneira, as vanguardas aqui referidas, 
que mais influenciaram a literatura brasileira, podem ser divididas em cinco, a saber: 
Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo e Surrealismo. 
Na corrente chamada de Futurismo teve como precursor Filippo Tomaso Marinetti 
(1876-1944), fundador da revista italiana “Poesia” que revolucionou a literatura com 
seus manifestos que propunham negar o ultrapassado e se render ao verso livre, com 
os padrões da linguagem culta e tradicional, para exaltar os avanços tecnológicos. 
O Expressionismo propôs revelar o que havia de subjetivo em todas as coisas, segun-
do a visão do artista, distorcendo o real e objetivo para representar a expressão. Em 
se tratando de arte, o artista deveria expressar as sensações vivenciadas por ele a 
partir de alguma imagem ou sensação.
Com relação ao Cubismo, especificamente nas artes plásticas, propunha a renovação 
da arte utilizando formas geométricas, colagens, com multiplicidade de perspectivas. 
Assim como as demais correntes, ela teve seus pressupostos traçados em manifes-
tos, porém a partir das ideias de Marinetti quando essas chegaram a Rússia – futuris-
mo ganhou outras vertentes: egofuturismo e cubofuturismo. Os principais nomes do 
cubismo são, sem dúvida, Pablo Picasso e Léger. 
O nome Dadaísmo, de origem incerta e significado indefinido, seria uma espécie de 
junção das vanguardas citadas anteriormente, assim, tem como tendência o non-sen-
se, faz críticas à burguesia. Iniciou-se em Zurique e revela uma forte tendência ao 
pessimismo de Voltaire e a ingenuidade de Rimbaud. 
Por fim, o Surrealismo, do qual o maior representante é o pintor espanhol Salvador 
Dali, propõe a arte como emanada do inconsciente. Dessa maneira, ao propor a par-
ticipação do inconsciente na arte, essa corrente encontra seus pressupostos na Psi-
canálise de Sigmund Freud.
41Literatura BrasiLeira ii
A relevância dessas correntes, assim como mencionado na introdução desse tó-
pico, está na influência exercida sobre o período literário que começa a se confi-
gurar, o Modernismo. Desse modo, estudaremos mais profundamente esse novo 
período na próxima unidade. 
saiba mais
Caro(a) aluno(a), vale a sugestão do filme a seguir para a melhor compreensão do 
que foi a Revolta de Canudos retratada por Euclides da Cunha:
Título: Guerra de Canudos
Sinopse: Em 1893, Antônio Conselheiro (José Wilker) e seus 
seguidores começam a tornar um simples movimento em algo 
grande demais para a República, que acabara de ser procla-
mada e decidira por enviar vários destacamentos militares para 
destruí-los. Os seguidores de Antônio Conselheiro apenas de-
fendiam seus lares, mas a nova ordem não podia aceitar que 
humildes moradores do sertão da Bahia desafiassem a República. Assim, em 1897, 
esforços são reunidos para destruir os sertanejos. Estes fatos são vistos pela ótica de 
uma família com opiniões conflitantes sobre Conselheiro.1
Pré-requisitOs Para a cOmPreensãO da unidade
Assim como a proposta inicial dessa unidade, estudamos as características, os auto-
res mais relevantes, bem como suas obras, desse corte temporal do final do século 
XIX e início do XX, observamos o contexto histórico marcado fortemente, principal-
mente no Brasil, por revoltas, transformações sociais, econômicas e políticas. 
1 Sinopse disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-118416/>. Acesso em: 14 jun. 2016.
42 Literatura BrasiLeira ii
Pudemos nos aprofundar na literatura proposta por autores como Euclides da Cunha, 
Graça Aranha, Lima Barreto, verificamos que a literatura de Monteiro Lobato não se 
constitui apenas de obras voltadas ao público infantil. Chegamos ao autor Augusto 
dos Anjos que, embora causasse repulsa em parte do público, também teve boas 
críticas a seu favor.
Todo esse período, ao qual denominamos como Pré-Modernismo, de fato prepara o 
cenário para a chegada das influências da arte inovadora advinda da Europa, forte-
mente relacionada ao avanço tecnológico, à migração do trabalho predominantemen-
te agrícola para o industrial, enfim.
Finalizamos esta unidade com as Vanguardas Europeias, fonte de inspiração para os 
artistas, bem como manifestação da necessidade de rompimento com o tradicional, 
com tudo aquilo que já não encontrava mais espaço em um novo mundo.
Espero que tenha aproveitado seus estudos e, assim, seguiremos para a próxima 
unidade. Até lá!
atividades Para cOmPreensãO dO cOnteúdO
1) Os períodos literários que motivaram o Pré-Modernismo foram:
a) Realismo e Romantismo.
b) Simbolismo e Parnasianismo.
c) Romantismo e Simbolismo.
d) Realismo e Barroco.
e) Simbolismo e Realismo.
43Literatura BrasiLeira ii
2) Os principais autores pré-modernistas são:
a) Lima Barreto, Euclides da Cunha e Manuel Bandeira.
b) Euclides da Cunha e Gregório de Matos.
c) Oswald de Andrade e Mario de Andrade.
d) Euclides da Cunha, Lima Barreto e Graça Aranha.
e) Manuel Bandeira e Graça Aranha.
3) São consideradas obras pré-modernistas:
a) “A hora da estrela” e “Os sertões”.
b) “Antes do baile verde” e “Lusíadas”.
c) “Os sertões”, “O triste fim de Policarpo Quaresma” e “Canaã”.
d) “Negrinha” e “Senhora”.
e) “Lira dos 20 anos” e “Canaã”.
4) Com relação ao livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, todas 
as alternativas estão corretas, exceto:
a) Narra a história de um ex-funcionário público que acaba preso acusado de cri-
me contra a pátria, justamente quando era o oposto.
b) O personagem principal tenta mudar a língua do país para o Tupi.
c) Conquista sucesso na cidade e realiza seu sonho de cidadão correto.
d) Revela a tentativa do personagem principal de mudar o país ora pela política, 
ora pela agricultura e ora pela justiça.
e) Revela o estilo de Lima Barreto de escrever sobre o preconceito e a opressão.
44 Literatura BrasiLeira ii
5) Dentre as alternativas a seguir, qual está incorreta com relação ao contexto histó-
rico do Pré-Modernismo?
a) Republica do café-com-leite.
b) Marginalização dos escravos recém-libertos.
c) Crise na produção de café.
d) Quebra da Bolsa de Nova Iorque.
e) Mão de obra de imigrantes, principalmente italianos.
livrOs recOmendadOs
Título: À margem da história
Autor: Euclides da Cunha
Editora: Martin Claret 
Desbravador, consciência rebelde em conflito entre ciência e 
arte, entre pesquisa e denúncia, Euclides da Cunha trouxe para 
o primeiro plano de sua obra o homem do interior do Brasil. Seu 
interesse pela Amazônia leva-o a ser nomeado chefe da missão exploradora do Alto 
Purus, o que lhe ofereceu material para “À Margem da História” (1909). O volume é a 
reunião de artigos publicados em revistas e jornais da época.2
2 Sinopse disponível em: <http://www.martinclaret.com.br/index.php/a-margem-da-historia/>. Aces-
so em: 14 jun. 2016.
45Literatura BrasiLeira ii
Título: Vanguarda europeia & modernismo brasileiro
Autor: Gilberto Mendonça Telles
Editora: José Olympio Editorial
A intenção de chocar dos modernistas de 1922 não foi gratuita. 
Para negar o academicismo reinante na época era precisoromper 
de forma radical. O grito de liberdade do grupo de artistas e escri-
tores encabeçado por Mário de Andrade foi dado 13 anos depois 
do Manifesto Futurista, do italiano F.T. Marinetti. O porquê de ter acontecido tanto tempo 
depois e o contexto da Semana de Arte Moderna, que completa 90 anos, está na anto-
logia de Gilberto Mendonça Teles. “Vanguarda europeia & modernismo brasileiro” 
reúne poemas, manifestos e conferências vanguardistas publicados entre 1857 e 1972. 
O simples trabalho de reunir tais textos numa única fonte de consulta já seria em si 
louvável, mas, além disso, Teles brinda o leitor com comentários pertinentes sobre a 
arte e os contextos políticos e históricos de cada época, citando detalhadamente as 
agitações literárias da época e as vanguardas europeias. A coletânea reúne autores 
que anteviram os sopros de mudança ainda no século XIX como Baudelaire, Rimbaud 
e Mallarmé, passando pelos principais expoentes daquelas revoluções: o surrealista 
francês André Breton, o futurista russo Maiakovski e o dadaísta romeno Tristan Tzara.3
artiGOs, sites e links
Artigo: Lima Barreto e a crítica (1900 a 1922): a conspiração de silêncio
Link: <https://pendientedemigracion.ucm.es/info/especulo/numero16/lbarreto.html>.
Biografia dos principais autores brasileiros:
<http://www.academia.org.br/>.
3 Sinopse disponível em: <http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=26134>. Acesso 
em: 14 jun. 2016.
46 Literatura BrasiLeira ii
PrOPOsta Para discussãO on-line
O Brasil do início do século XX passou por várias revoltas e movimentos reacionários 
à miséria e aos excessos cometidos pelo governo. Assim, uma vez que a arte, em 
especial a literária, dialogam com sua realidade, em qual medida pode se afirmar que 
a literatura brasileira desse início de século é reacionária aos excessos do Brasil ou 
seria apenas um espelhamento daquilo que acontecia no mundo? Temos uma litera-
tura nacional consolidada de fato?
47Literatura BrasiLeira ii
Unidade ii: a SeMana de aRTe 
MOdeRna e O MOdeRniSMO 
ObjetivOs a serem alcançadOs nessa unidade:
Prezado(a) Acadêmico(a), ao concluir seus estudos desta unidade, você deverá ser 
capaz de: 
• Compreender como se deu a Semana de Arte Moderna de 1922.
• Identificar os principais fatos históricos relacionados a este evento.
• Compreender as características da Primeira Geração de Autores Modernistas.
• Compreender o que foi o início do Modernismo no Brasil.
• Conhecer os principais autores modernistas.
• Identificar e analisar as principais obras modernistas.
48 Literatura BrasiLeira ii
a semana de arte mOderna e O mOdernismO 
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a essa nova unidade. Nela, iremos estudar de 
maneira mais aprofundada o que foi o período Moderno na literatura nacional. Assim, 
começaremos pela notória Semana de Arte Moderna de 1922, a qual faz a abertura 
oficial da nova estética literária proposta por autores que buscavam a renovação, a 
quebra radical com o tradicional, a inovação de temas e técnicas, e assim por diante. 
Entretanto, vale ressaltar que não se apresenta uma originalidade na literatura pro-
posta neste momento, mas sim uma espécie de espelhamento de tendências euro-
peias, revelando o cenário de dependência cultural do qual o Brasil ainda sofria.
A nação da época também sofria com os efeitos da Primeira Guerra Mundial, uma 
vez que a instabilidade era crescente no mundo e impactava no desenvolvimento dos 
problemas internos do país. Esses problemas e toda essa instabilidade faziam com 
que os trabalhadores se organizassem em sindicatos, organizando greves e gerando 
ainda mais instabilidade. Assim, em 1922 houve a fundação do Partido Comunista do 
Brasil, formado em sua maioria por operários.
Nesse contexto, a tensão social, econômica e política continua crescendo, resultando 
em revoltas como a Revolta do Forte de Copacabana. Porém, sem dúvida, o maior 
marco histórico desse período e que se refletiu em grande escala pelo mundo foi o 
“crack” da bolsa de Nova Iorque, em 1929, pois fez com que inúmeros burgueses fa-
lissem, pelo mundo todo, inclusive no Brasil.
Outro aspecto relevante para se destacar nesse período é a influência francesa 
na cultura brasileira. Desde sempre o Brasil manteve essa dependência não só 
cultural, mas sim como padrão de sucesso social. Os valores advindos da França, 
inclusive com relação à língua, eram comuns no cenário cultural brasileiro, inclu-
sive na Semana de 1922.
49Literatura BrasiLeira ii
Nesse sentido, para Candido (1999),
O Modernismo não foi apenas um movimento literário, mas, como tinha sido o Roman-
tismo, um movimento cultural e social de âmbito bastante largo, que promoveu a reava-
liação da cultura brasileira, inclusive porque coincidiu com outros fatos importantes no 
terreno político e artístico, dando a impressão de que na altura do Centenário da Inde-
pendência (1922) o Brasil efetuava uma revisão de si mesmo e abria novas perspecti-
vas, depois das transformações mundiais da Guerra de 1914-1918, que aceleraram o 
processo de industrialização e abriram um breve período de prosperidade para o nosso 
principal produto de exportação, o café. 
Como no caso de movimentos literários anteriores, o Modernismo resultou de impulsos 
internos e do exemplo europeu. No caso, as vanguardas francesas e italianas, a co-
meçar pelo Futurismo, que ofereceram modelos adequados para exprimir a civilização 
mecânica e o ritmo das grandes cidades, além de valorizar as componentes primitivas, 
que no Brasil faziam parte da realidade (p.68).
Dessa maneira, assim como aponta o autor, o Brasil vivencia uma espécie de crise 
existencial, como se necessitasse passar por uma reavaliação de si, haja vista as 
várias crises sociais, políticas e econômicas no período. Para tanto, a arte teve papel 
considerável ao movimentar a sociedade em torno de reflexões acerca do meio. 
semana de 1922
Já mencionamos algumas vezes a Semana de Arte Moderna de 22 até aqui, porém 
para que ela acontecesse alguns fatos prepararam o ambiente para que ela aconte-
cesse nos dias 13, 15 e 17 do mês de fevereiro daquele ano, na cidade de São Paulo. 
Iremos relacionar a seguir os principais antecedentes dessa semana:
- Em 1912, um dos idealizadores da Semana, que é Oswald de Andrade, viaja para 
Europa e conhece o Expressionismo, o Cubismo e o Futurismo. Já no Brasil, funda a 
revista “O Pirralho”, em 1915, no qual ele exige que haja uma arte plástica nacional; 
50 Literatura BrasiLeira ii
• Em 1913, o pintor expressionista Lasar Segal promove a primeira exposição 
moderna no Brasil;
• Em 1915, Ronald de Carvalho ajuda a fundar em Portugal a revista “Orpheu” 
que marcou o início do Modernismo Português;
• Em 1917, Menotti Del Picchia publica “Juca Mulato”, Manuel Bandeira publi-
ca “Cinza das horas”, Guilherme de Almeida publica “Nós”, Mario de Andrade 
publica “Há uma gota de sangue em cada poema”. Além de todas essas 
publicações claramente influenciadas pelo espírito moderno, Anita Mafaltti 
chega ao Brasil e, segundo Bosi (2013), faz a exposição mais importante que 
antecedeu à Semana: obras expressionistas e cubistas. Neste momento, há 
a publicação infeliz de um artigo escrito pelo Monteiro Lobato no qual ele 
reconhece o talento da artista, porém lhe faz duras críticas que repercutiram 
fortemente no cenário artístico. Assim, Mário de Andrade compõe um poema 
parnasiano em sua homenagem;
• Em 1918, Manuel Bandeira publica “Carnaval”;
• Em 1920, a imprensa se posiciona a favor dos modernos e faz críticas ao aca-
demismo e ao passadismo;
• Em 1921, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Armando Pamplona con-
seguem integrar novos nomes de peso ao grupo idealizador da Semana: Ma-
nuel Bandeira, Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto, Álvaro Moreira, Renato de 
Almeida, Villa-Lobos e Sérgio Buarque de Holanda. Ainda neste ano, Graça 
Aranha retorna ao Brasil após passar mais de 20 anos na Europa e segue 
para São Paulo após saber

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