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O Sistema Regional Africano de Proteção aos Direitos Humanos uma análise do Genocídio de Ruanda KARINE ARNEMANN

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO 
GRANDE DO SUL 
 
 
KARINE ARNEMANN 
 
 
 
 
 
 
 
 
O SISTEMA REGIONAL AFRICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS: 
UMA ANÁLISE DO GENOCÍDIO DE RUANDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Três Passos (RS) 
2017
 
 
 
 
KARINE ARNEMANN 
 
 
 
 
 
 
O SISTEMA REGIONAL AFRICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS: 
UMA ANÁLISE DO GENOCÍDIO DE RUANDA 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão do Curso de 
Graduação em Direito objetivando a 
aprovação no componente curricular Trabalho 
de Conclusão de Curso - TCC. 
UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste 
do Estado do Rio Grande do Sul. 
DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e 
Sociais 
 
 
 
 
 
Orientadora: MSc. Eliete Vanessa Schneider 
 
 
 
 
 
 
Três Passos (RS) 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho ao meu pai Arno Luis (in 
memorian) por ter me ensinado os verdadeiros 
valores da vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À minha família, em especial a minha mãe Marli Clair Arnemann, que sempre me 
incentivou e apoiou nas batalhas da vida, com quem aprendi que todos os desafios podem ser 
superados. 
 
Ao meu companheiro Gustavo Kohl por todo incentivo e apoio durante toda esta 
jornada. 
 
À minha orientadora Eliete Vanessa Schneider, com quem eu tive o privilégio de 
conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do 
conhecimento. 
 
Aos meus colegas de trabalho da Procuradoria Geral do Município de Três Passos, que 
colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu 
aprendizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A menos que modifiquemos a nossa maneira de 
pensar, não seremos capazes de resolver os 
problemas causados pela forma como nos 
acostumamos a ver o mundo”. Albert Einstein 
RESUMO 
 
O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise sobre a internacionalização 
dos direitos humanos apresentando os marcos decisivos para a formação e evolução desses 
direitos. Além disso, quer-se analisar a formação dos sistemas global e regionais de proteção, 
em especial o Sistema Africano, fazendo uma análise de um caso conhecido como Genocídio 
de Ruanda. Diante da urgente necessidade da reconstrução dos direitos humanos após a 
Segunda Guerra Mundial, pôde-se observar o surgimento de diversas organizações 
internacionais com o objetivo de promover a cooperação internacional, que culminaram na 
formação do sistema Global de proteção aos direitos humanos e paralelamente surgem os 
sistemas regionais, quais sejam: Europeu, interamericano, africano e árabe. Ainda, aborda o 
genocídio ocorrido no ano de 1994, em um pequeno país do continente africano denominado 
Ruanda, o qual presenciou um dos maiores massacres já ocorridos no mundo, em 
aproximadamente 100 dias cerca de 800.000 pessoas foram assassinadas, demonstrando o 
abandono e descaso com o continente africano por parte do resto do mundo. Esse massacre é 
um exemplo recente da violação aos direitos humanos, bem como demonstra a influência que 
o poder econômico e político têm no mundo. 
 
Palavras-Chave: África. Direitos Humanos. Genocídio de Ruanda. Sistema global. 
Sistemas regionais. 
ABSTRACT 
 
The present work of conclusion of course makes an analysis on the internationalization 
of human rights presenting the decisive milestones for the formation and evolution of these 
rights. In addition, we want to analyze the formation of global and regional protection 
systems, especially the African System, by analyzing a case known as Rwandan Genocide. In 
view of the urgent need for the reconstruction of human rights after the Second World War, it 
was possible to observe the emergence of several international organizations with the 
objective of promoting international cooperation, which culminated in the formation of the 
Global System for the protection of human rights. Regional systems: European, inter-
American, African and Arab. It also addresses the genocide that took place in 1994 in a small 
African country called Rwanda, which witnessed one of the largest massacres ever in the 
world, in approximately 100 days approximately 800,000 people were murdered, 
demonstrating abandonment and neglect with The African continent by the rest of the world. 
This massacre is a recent example of the violation of human rights, as well as demonstrating 
the influence that economic and political power has on the world. 
 
Keywords: Africa. Global system. Human rights. Regional systems. Rwanda genocide. 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 
 
1 A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E A FORMAÇÃO DOS 
SISTEMAS GLOBAL E REGIONAIS ................................................................................ 11 
1.1 Trajetória histórica da internacionalização dos Direitos Humanos ............................ 12 
1.1.1 A Convenção de Genebra .................................................................................... 14 
1.1.2 A Liga das Nações ................................................................................................ 15 
1.1.3 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) ............................................. 17 
1.1.4 A Segunda Guerra Mundial ................................................................................ 18 
1.2 A formação do Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos ............................ 20 
1.2.1 A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) ...................................... 22 
1.2.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos................................................. 24 
1.3 A formação dos Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos .................... 26 
1.3.1 O Sistema Europeu de Proteção aos Direitos Humanos ................................... 27 
1.3.2 O Sistema Americano de Proteção aos Direitos Humanos ............................... 28 
1.3.3 O Sistema Africano de Proteção aos Direitos Humanos................................... 29 
1.3.4 O Sistema Árabe de Proteção aos Direitos Humanos ....................................... 31 
 
2 O SISTEMA REGIONAL AFRICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS 
HUMANOS ............................................................................................................................. 34 
2.1 História geral do continente africano ............................................................................. 34 
2.1.1 Período pré-colonial e colonial da história africana ......................................... 34 
2.1.2 A independência dos Estados africanos e a Organização da União Africana 
(OUA) ....................................................................................................................................... 37 
2.2 A Carta Africana de Direitos do Homem e dos Povos “Carta de Banjul” .................. 41 
2.2.1 A Comissão Africana de Direitos Humanos ...................................................... 42 
2.2.2 A Corte Africana de Direitos Humanos ............................................................. 43 
2.2.3 O Tribunal Africano de Direitos Humanos e dos Povos ................................... 432.3 Uma análise do Genocídio de Ruanda ............................................................................ 44 
2.3.1 O crime de genocídio ............................................................................................ 44 
2.3.2 A organização política de Ruanda em 1994 ....................................................... 48 
2.3.3 Genocídio de Ruanda: o valor do sangue africano ........................................... 49 
2.3.4 A Atuação da sociedade internacional e o julgamento do Genocídio de 
Ruanda ..................................................................................................................................... 51 
 
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 55 
 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 58 
 
 
ANEXO A ................................................................................................................................ 61 
 9 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa aborda inicialmente a trajetória histórica da internacionalização 
dos direitos humanos, destacando os principais marcos para a formação do Sistema Global de 
Proteção aos Direitos Humanos e consequentemente dos sistemas regionais, sendo analisado 
mais profundamente o Sistema Regional Africano de Proteção aos Direitos Humanos e o 
Genocídio de Ruanda. 
 
Para atingir os objetivos, o presente estudo utilizou a pesquisa do tipo exploratória, 
coletando dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de 
computadores. Ainda, na sua realização foi utilizado o método de abordagem hipotético-
dedutivo. 
 
 Inicialmente, no primeiro capítulo, é feita uma abordagem do surgimento dos Direitos 
Humanos no âmbito internacional, ou seja, a trajetória histórica da internacionalização desses 
direitos e consequentemente os marcos decisivos para a evolução dos mesmos. Os primeiros 
passos rumo à construção de um Direito Internacional dos Direitos Humanos foram dados 
logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, com o surgimento da Liga das Nações e da 
Organização Internacional do Trabalho, porém o processo de universalização e consolidação 
deste novo ramo do Direito ocorreu apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial. Ainda, 
nesse contexto de internacionalização dos direitos humanos, qual a importância da criação de 
um segundo nível de proteção, os chamados sistemas regionais? 
 
No segundo capítulo é analisado mais profundamente o Sistema Regional Africano de 
Proteção aos Direitos Humanos, relatando a história desse continente e o surgimento da Carta 
Africana dos Direitos dos Homens e dos Povos. Também, é analisado o Genocídio de Ruanda, 
pois no ano de 1994, esse pequeno país do continente africano, presenciou um dos maiores 
 10 
massacres já ocorridos no mundo, entre as vítimas duas tribos diferentes, hutus e tutsis, mas 
diferentes apenas em alguns detalhes culturais, sendo identificados apenas em seus 
documentos. Em aproximadamente 100 dias cerca de 800.000 pessoas foram assassinadas, e o 
mundo virou as costas para o continente que mais sofre, e mais uma vez não se fez quase nada 
para impedir o massacre de crianças, jovens, adultos e idosos inocentes. 
 
Diante de toda a exploração por parte dos Europeus no período colonial, os africanos, 
mesmo após conquistar sua independência, continuaram divididos em tribos. Será que essa 
divisão dificultou a implantação de um sistema de proteção aos direitos humanos nesse 
continente que tanto sofreu com a escravidão? Mesmo com a criação da ONU em 1945 e da 
Organização da Unidade Africana (atual UA) em 1963, como não foi possível evitar o 
genocídio de Ruanda em 1994? Ainda, sobre o genocídio de Ruanda, porque as tribos 
africanas não respeitaram a Carta Africana de Direitos do Homem e dos Povos, conhecida 
também como “Carta de Banjul”, que entrou em vigência no ano de 1986? 
 
É inadmissível que mesmo após a formação de um sistema global de proteção aos 
direitos humanos tais direitos continuem sendo violados. Ainda, como entender que o 
continente que possui uma Organização e uma Carta de Direitos Humanos, não consegue 
evitar a morte de aproximadamente 800 mil pessoas em menos de 100 dias? A reposta a estes 
questionamentos justifica a realização do presente trabalho. 
 
 11 
1 A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E A FORMAÇÃO DOS 
SISTEMAS GLOBAIS E REGIONAIS 
 
 Os direitos humanos são considerados direitos fundamentais, sem eles não se consegue 
participar plenamente da vida, pois correspondem às necessidades que devem ser atendidas 
para que a pessoa possa viver com dignidade. Portanto, se deve compreender o sentido e a 
abrangência da expressão direitos humanos, como a de que todas as pessoas são iguais e 
merecem o mesmo valor, os mesmos direitos e principalmente dignidade. A partir do 
momento que se tiver claro o sentido da expressão diretos humanos haverá possibilidade de 
superar os preconceitos existentes na sociedade (DALLARI, 2004). 
 
Todos os seres humanos devem ter asseguradas, desde o nascimento, as condições 
mínimas e necessárias para se tornarem úteis à humanidade, como também devem 
ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em sociedade pode 
proporcionar. Esse conjunto de condições e de possibilidades associa as 
características naturais dos seres humanos, a capacidade natural de cada pessoa e os 
meios de que a pessoa pode valer-se como resultados da organização social. É a esse 
conjunto que se dá o nome de direitos humanos (DALLARI, 2004, p. 12). 
 
 Diante disso, se afirma que uma pessoa não vale mais nem menos que outra. Ainda, 
quando se fala que todos são iguais, não nos referimos a questão física, intelectual ou 
psicológica, pois cada um tem sua individualidade, sua personalidade, sua cultura e seu 
próprio modo de ver as coisas. Mas, mesmo que cada um tenha sua individualidade 
continuam sendo iguais como seres humanos, tendo as mesmas necessidades e faculdades 
essenciais, sendo esta a base da existência dos direitos fundamentais. 
 
 Nas palavras de Dallari (2004, p. 14): 
 
[...] é preciso ter sempre em conta que todas as pessoas nascem com os mesmos 
direitos fundamentais. Não importa se a pessoa é homem ou mulher, não importa 
onde a pessoa nasceu nem a cor de sua pele, não importa se a pessoa é rica ou pobre, 
como também não são importantes o nome da família, a profissão, a preferência 
política ou a crença religiosa. Os direitos humanos fundamentais são os mesmos 
para todos os seres humanos. 
 
 A dignidade da pessoa humana é o que a coloca acima de todas as coisas da natureza, 
sendo esta inerente à condição humana, a preservação dessa dignidade faz parte dos direitos 
humanos, logo a mesma deve ser respeitada em todos os momentos. Por fim, deixa-se uma 
pequena passagem da obra de Dallari (2004, p. 16) sobre a solidariedade, que, segundo ele, 
decorre da fragilidade da pessoa humana: 
 12 
Aí está o ponto de partida para a concepção básica dos direitos humanos neste 
começo de milênio. Se houver respeito aos direitos humanos de todos e se houver 
solidariedade, mais do que egoísmo, no relacionamento entre as pessoas, as 
injustiças sociais serão eliminadas e a humanidade poderá viver em paz. 
 
O que se quer deixar claro nesse primeiro momento é a importância da pessoa e de sua 
dignidade, pois apesar de suas características individualizadas e peculiaridades culturais, no 
fim todos somos iguais como seres humanos. 
 
1.1 Trajetória histórica da internacionalização dos direitoshumanos 
 
 Todos os seres humanos merecem igual respeito, apesar de suas diferenças biológicas 
e culturais. Nenhum indivíduo é superior aos demais. Nesse sentido, os direitos humanos 
dizem respeito à inclusão de pessoas e grupos, sempre respeitando a sua dignidade. 
 
Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é sua natureza e seu 
fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim 
qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes 
declarações, eles sejam continuamente violados (BOBBIO, 1992, p. 25). 
 
 Os direitos humanos são uma construção da humanidade, porém, o que é construído 
não surge do nada, assim se pode dizer que esses direitos remontam a noções pré-modernas 
no âmbito da filosofia, da teologia e da política (BRUNKHORST apud NEVES, 2005). 
 
Pois bem, a compreensão da dignidade suprema da pessoa humana e de seus 
direitos, no curso da História, tem sido, em grande parte, o fruto da dor física e do 
sofrimento moral. A cada grande surto de violência, os homens recuam, 
horrorizados, à vista da ignomínia que afinal se abre claramente diante de seus 
olhos; e o remorso pelas torturas, as mutilações em massa, os massacres coletivos e 
as explorações aviltantes faz nascer nas consciências, agora purificadas, a exigência 
de novas regras de uma vida mais digna para todos (COMPARATO, 2001, p. 36). 
 
A cidade antiga que surgiu nos continentes que contornam o Mediterrâneo teve seus 
fundamentos na religião, fazendo com que a sociedade se organizasse de maneira que o 
cidadão estava submetido à cidade, sendo o homem considerado um animal político. A 
religião criou o Estado e este dela cuidava. Ambos formavam um poder quase “sobre-
humano”, que subjugava a alma e o corpo. Os antigos não conheciam a liberdade da vida 
privada, nem educação e liberdade de religião. A pessoa humana não tinha valor para o 
Estado, exemplos disso são os códigos de Esparta e Roma que ordenava aos pais que 
matassem os filhos que nascessem com algum defeito (BICUDO, 1997). 
 13 
 
A noção de Direitos Humanos, ou seja, direitos inerentes a toda pessoa devido à sua 
natureza racional, tem suas bases na filosofia da Grécia antiga, mas principalmente 
na concepção cristã do ser e do Estado, como é professa pela Bíblia. Dali passou 
para a civilização ocidental (SODER, 1998, p. 235). 
 
Nesse contexto do surgimento da ideia de homem como sujeito de direitos, não se 
pode deixar de destacar a filosofia kantiana, segundo a qual todo homem tem dignidade e não 
um preço, como as coisas (COMPARATO, 2001). 
 
 No período da Renascença o indivíduo passou a ter mais valor dentro da sociedade, e a 
partir deste momento emerge a noção moderna de direitos humanos, os quais são 
considerados superiores ao Estado, sendo definidos como direitos inerentes à pessoa humana. 
Assim, em resposta ao absolutismo do Estado, surgem as primeiras Declarações de Direitos 
Humanos nos Estados Unidos e na França (SODER, 1998). 
 
Já em 1215, a “Magna Charta Libertatum”, num compromisso entre o rei da 
Inglaterra e a nobreza, estipulava direitos dos nobres. Mais tarde a “Petition of 
Rights”, de 1628, bem como o “Habeas-Corpus-Act”, de 1679, e a “Bill of Rights”, 
de 1689, continham certos direitos para todos os súditos ingleses (SODER, 1998, p. 
236, grifo do autor). 
 
 Em reação aos abusos do absolutismo, os filósofos, estadistas e legisladores 
proclamaram a liberdade e igualdade de todos os seres humanos, as quais deveriam ser 
respeitadas e garantidas pelas constituições, porém nem todos os Estados o fizeram. 
 
Os direitos humanos buscam uma tutela universal, abrangendo todos os seres 
humanos, independente de suas peculiaridades. Nessa perspectiva universal, observa-se que 
quando os direitos humanos são instituídos por cada Estado, dentro do seu sistema normativo, 
são chamados de direitos fundamentais. “No dizer de Hannah Arendt, os direitos humanos 
não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em constante processo de 
construção e reconstrução” (ARENDT apud PIOVESAN, 2003). 
 
A ideia de direitos humanos ganhou demasiada importância ao longo da história, 
tendo em vista que seus pressupostos e princípios têm como finalidade a observância e 
proteção da dignidade da pessoa humana de maneira universal. Diante disso, serão 
apresentados os principais marcos históricos que contribuíram para o reconhecimento e 
evolução destes direitos. 
 14 
A primeira fase de internacionalização dos direitos humanos teve início na segunda 
metade do século XIX e findou com a Segunda Guerra Mundial. Apesar dos primeiros passos 
rumo à construção de um Direito Internacional dos Direitos Humanos terem sido dados logo 
após o fim da Primeira Guerra Mundial, com o surgimento da Liga das Nações e da 
Organização Internacional do Trabalho, a consolidação deste novo ramo do direito ocorre 
apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial (COMPARATO, 2001). 
 
Segundo Piovesan (2004), o sistema internacional de proteção dos direitos humanos 
insere – se no lento e gradual processo de positivação das garantias dos direitos humanos 
iniciado nas Declarações Liberais de Direitos. Foram, porém, os perversos acontecimentos da 
Era Hitler e da Segunda Guerra Mundial que colocaram os direitos humanos na pauta de 
preocupações mais urgentes das nações, levando-as a adotar medidas realmente efetivas para 
sua proteção no âmbito internacional. Nesse contexto, surge o sistema global de proteção aos 
direitos humanos e paralelamente os sistemas regionais. 
 
A tutela dos direitos humanos se deu através de muito trabalho e luta por aqueles que 
desejavam consolidar as garantias fundamentais da vida e a dignidade humana. Nesse 
contexto de construção dos direitos humanos cita-se os principais marcos históricos que 
contribuíram para o reconhecimento e evolução de tais direitos, quais sejam: Convenção de 
Genebra; Liga das Nações; e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A partir destes 
marcos, a maneira como cada Estado trata seus cidadãos não é mais competência exclusiva 
sua, mas passa a ser de interesse internacional. Ainda, não se pode deixar de citar a Segunda 
Guerra Mundial, que foi o marco histórico mais desumano já visto até hoje, foi o ápice da 
desconsideração da dignidade humana (PIOVESAN, 2004). 
 
1.1.1 A Convenção de Genebra 
 
O primeiro grande marco na formação histórica da internacionalização dos direitos 
humanos foi a Convenção de Genebra. A partir deste momento nasce a proteção humanitária 
em caso de guerra, para proteger os militares e civis feridos na guerra (PIOVESAN, 2004). 
 
Conforme leciona Comparato (2001) em 1859, ocorreu a Batalha de Solferino, um 
combate decisivo no processo de independência italiana. Durante este período de guerra o 
comerciante Jean Henri Dunart, em uma de suas viagens presenciou os horrores da guerra e 
 15 
comovido com o sofrimento e mortalidade dos civis reuniu um grupo de pessoas para estudar 
e discutir a insuficiência de serviços sanitários dos exércitos. Ainda, escreveu um livro 
“Lembranças de Solferino” narrando todos os horrores e as condições desumanas que 
presenciou na batalha. O livro, publicado em 1862, ficou conhecido internacionalmente, e a 
partir daí alguns países aceitaram a intervenção na sua soberania, ou seja, começou a haver 
limites na liberdade e autonomia dos Estados. 
 
Em 22 de agosto de 1864, a Convenção de Genebra, ocorrida na cidade suíça com o 
mesmo nome, tinha o objetivo de garantir alguns direitos mínimos para os civis durante as 
guerras, portanto foram determinadas regras para proteger, em caso de guerra, os militares 
fora de combate,ou seja, os feridos, doentes, náufragos e prisioneiros (COMPARATO, 2001). 
 
Ela inaugura o que se convencionou chamar direitos humanos, em matéria 
internacional: isto é, o conjunto das leis e costumes da guerra, visando a minorar o 
sofrimento de soldados doentes e feridos, bem como de populações civis atingidas 
por um conflito bélico. É a primeira introdução dos direitos humanos na esfera 
internacional (COMPARATO, 2001, p. 167). 
 
Neste mesmo contexto, surge a Cruz Vermelha, um órgão imparcial, criado para 
garantir a vida. Os hospitais e ambulâncias passaram a receber o símbolo da Cruz Vermelha e 
tornaram-se imunes de ataques hostis, pois os militares feridos e os doentes deveriam ser 
tratados sem discriminação. A Cruz Vermelha tinha sua sede na Suíça, foi criada com uma 
estrutura de ONG, entretanto o direito internacional a reconhece como uma organização 
internacional que possui personalidade jurídica. Portanto, na sua área de atuação, podia firmar 
tratados (PIOVESAN, 2004). 
 
1.1.2 A Liga das Nações 
 
A Liga das Nações foi criada pelo Tratado de Versalhes em 28 de abril 1919, após a 
1ª Guerra Mundial, baseada nos princípios da segurança coletiva e da igualdade entre Estados 
soberanos. Pela primeira vez havia uma organização internacional com o objetivo específico 
de manter a paz através de mecanismos jurídicos. As funções básicas da Liga eram: a 
segurança; a cooperação econômica, social e humanitária; e a execução de certos dispositivos 
dos tratados de paz de Versalhes (SEITENFUS, 2003). 
 
 16 
O objetivo da Liga era promover a paz e a ordem internacional através da mediação e 
arbitragem, condenando agressões externas contra a integridade territorial e independência 
política dos seus membros. Neste sentido, o preâmbulo da Convenção da Liga das Nações 
consagrava: 
 
As partes contratantes, no sentido de promover a cooperação internacional e 
alcançar a paz e a segurança internacionais, com a aceitação da obrigação de não 
recorrer à guerra, com o propósito de estabelecer relações amistosas entre as nações, 
pela manutenção da justiça e com extremo respeito para todas as obrigações 
decorrentes dos tratados, no que tange à relação ente povos organizados uns com os 
outros, concordam em firmar este Convênio da Liga das Nações. 
 
Analisando este preâmbulo indaga-se: Depois de todos os horrores presenciados na 
Primeira Guerra Mundial, como a sociedade internacional, a Liga das Nações, conseguiu 
falhar em sua missão? Como não pensaram nas milhões de vidas perdidas? Como não se 
importaram com os direitos humanitários? 
 
Infelizmente, não há possibilidade de respostas convictas para tais questionamentos, 
apenas a elaboração de teses que justifiquem o comportamento de uma parcela da população 
mundial da época. Sabe-se que havia muitas divergências ideológicas entre os Estados-parte e 
faltava força militar efetiva da Liga das Nações, pois no contexto da época, as sanções 
econômicas pouco adiantavam. Além disso, as tentativas de conciliação e sanções 
superficiais fizeram com que os países tomassem iniciativas agressoras, dando início à 
Segunda Guerra Mundial. “A Liga das Nações foi concebida como uma espécie de aliança 
internacional para garantir a paz e a segurança das nações. Mas ela foi e permaneceu muito 
fraca, não podendo conseguir estes objetivos” (SODER, 1998, p. 200). 
 
A Liga das Nações falhou em sua missão, então não restou outra alternativa senão 
dissolvê-la, fato este que ocorreu formalmente em 31 de julho de 1947, pois desde a década 
de 1930 a organização já havia perdido sua credibilidade. Porém, pode-se dizer que esta 
organização foi substituída pela a Organização das Nações Unidas (ONU) (SEITENFUS, 
2003). 
 
Ainda, a Liga das Nações criou a Corte Permanente de Justiça Internacional, que 
iniciou suas atividades a partir de 1922, e pela primeira vez na história a sociedade 
internacional teve um tribunal mundial, porém a referida Corte teve o mesmo fim da Liga. 
 17 
Mas, após a Segunda Guerra Mundial ela foi transformada na Corte Internacional de Justiça 
(SODER, 1998). 
 
1.1.3 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) 
 
A necessidade de estabelecer regras de proteção ao trabalho surgiu desde a Revolução 
Industrial. Porém, foi no início do século XIX que os líderes industriais Robert Owen e Daniel 
Le Grand tentam propor melhores condições de trabalho e higiene das manufaturas e minas 
europeias, além de apoiarem o desenvolvimento de legislação trabalhista. Porém os governos 
não levaram em consideração tais apelos sua preocupação maior era a concorrência externa. 
Diante disso, percebe-se que somente um esforço internacional poderia ser aceitável 
(SEITENFUS, 2003). 
 
Após a assinatura do Tratado de Versalhes em 1919, que deu fim a Primeira Guerra 
Mundial, a Liga das Nações instituiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma 
organização com o objetivo de regular as condições de trabalho no âmbito mundial, 
formando-se sobre a convicção de que a paz universal e permanente somente pode estar 
baseada na justiça social (LOCATELI; BRAUN; STELZER, 2006). 
 
Pelo art. 387 do Tratado de Versalhes foi criada a Organização Internacional do 
Trabalho, cujo secretariado permanente ficaria na sede da Liga, em Genebra. Não 
era um órgão da Liga das Nações, por isso podiam participar dela também Estados 
não-membros desta, como aconteceu com a Alemanha e, posteriormente, com os 
EUA em 1934” (SODER, 1998, p. 198, grifo do autor). 
 
Além disso, a OIT teve como base argumentos humanitários, políticos e econômicos. 
Pois, os trabalhadores viviam em condições injustas, difíceis e degradantes e por isso havia o 
risco de conflitos sociais. 
 
Finalmente, deve-se salientar que a forma mais adequada encontrada pela OIT, com 
vista a melhorar as condições sócio-laborais no mundo, consiste no trabalho técnico 
e na progressiva tomada de consciência para a defesa da dignidade do trabalhador 
(SEITENFUS, 2003, p. 190). 
 
Segundo Piovesan (2004), os Estados passaram a ser encorajados a cumprir com as 
novas obrigações internacionais, assim pode-se dizer que esta organização foi um dos marcos 
que mais contribuiu para a formação do direito internacional de direitos humanos, pois foi a 
partir dela que começou a haver uma preocupação internacional com o bem-estar individual, 
 18 
sendo geradas várias convenções que estabeleceram padrões mínimos de condições de 
trabalho. 
 
1.1.4 A Segunda Guerra Mundial 
 
A Segunda Guerra Mundial teve início em 1939, quando a Alemanha invadiu a 
Polônia. Em 1941, os japoneses atacaram os Estados Unidos, fazendo com que este último 
declarasse guerra ao Eixo. Neste momento se formaram dois grupos: os Aliados (Alemanha, 
Itália e Japão) e os Países do Eixo (Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos). Destaca-se 
que neste período, os nazistas torturaram e mataram milhares de pessoas que não eram 
descendentes da raça ariana, pois eram considerados inferiores (PIOVESAN, 2004). 
 
A partir de 1942, os Países do Eixo começaram a sofrer sucessivas derrotas. Em 
1944, ocorre o “Dia D”, dia em que os Estados Unidos desembarcam na Europa e começaram 
a neutralizar as últimas forças nazistas que permaneciam naquele continente. Em 1945, Hitler 
suicida-se e logo após a Alemanha se rende, porém, o Japão não admitiu a derrota e resolveu 
continuar sozinho na Guerra, levando os Estados Unidos a lançar duas bombas atômicas, uma 
sobre Hiroshima e outra sobre Nagasaki. Assim, teve fim a Segunda Guerra Mundial 
(PIOVESAN, 2004). 
 
Sem dúvidas esse acontecimento foi o que provocou maiores mudanças no mundo, 
pois desde o ataque à Polônia em 1939 até 1945,o mundo testemunhou o início da era 
atômica e a morte de milhões de pessoas, na sua maioria civis, exterminando com qualquer 
direito humano conquistado até então. Frustrando totalmente com a missão da Liga das 
Nações, a qual tentava manter a paz mundial, e da Convenção de Genebra que objetivava 
garantir direitos mínimos aos civis durante as guerras (HIDAKA; LIMA JR., [s.d.]). 
 
Portanto, a Segunda Guerra Mundial foi o marco histórico mais desumano já visto 
até hoje, foi o ápice da desconsideração da dignidade humana, pessoas foram utilizadas como 
cobaias em experimentos com câmaras de pressão, enxertos de ossos, baixas temperaturas e 
muitos outros meios de tortura, foram milhões de mortos durante este período. Por isso, é 
considerado o fato histórico impulsionador decisivo do surgimento e consolidação do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Neste sentido, Piovesan (2004) leciona que a construção 
 19 
dos direitos humanos é um movimento extremamente recente na história, vez que surgiu 
somente no período pós-guerra. 
 
Entendeu-se com o fim da Segunda Guerra Mundial, que, se houvesse um efetivo 
sistema de proteção internacional dos direitos humanos, capaz de responsabilizar os 
Estados pelas violações por eles cometidas, ou ocorridas em seus territórios, talvez o 
mundo não tivesse tido que vivenciar os horrores perpetrados pelos nazistas, ao 
menos não em tão grande escala (HIDAKA; LIMA JR., [s.d.], p. 05). 
 
Este marco histórico na internacionalização dos direitos humanos mostrou o fracasso 
da humanidade em promover e proteger os seus direitos, mas, de uma maneira dolorosa, 
também fez surgir as bases desse novo direito, que teve como impulso a urgência e a 
necessidade da promoção e proteção da dignidade da pessoa humana (PIOVESAN, 2004). 
 
Diante da urgente necessidade da reconstrução dos direitos humanos após a Segunda 
Guerra Mundial, pôde-se observar neste período o surgimento de diversas organizações 
internacionais com o objetivo de promover a cooperação internacional, que culminaram na 
formação do sistema global de proteção aos direitos humanos (PIOVESAN, 2004). 
 
A partir de então, os direitos humanos tornaram-se uma preocupação em escala 
mundial, impulsionando o processo de universalização e desenvolvimentos do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos, permitindo que os Estados fossem responsabilizados 
quando não conseguissem proteger os direitos humanos de seus cidadãos. Assim, teve início a 
compreensão de que a soberania estatal não poderia ser absoluta (HIDAKA; LIMA JR., 
[s.d.]). 
 
A atuação de um sistema global eficiente e eficaz de promoção, proteção e reparação 
dos direitos humanos é uma exigência do processo de internacionalização construído na 
história recente da humanidade, para a salvaguarda da dignidade da pessoa humana 
(PIOVESAN, 2004). 
 
Paralelemente ao sistema global surgem os sistemas regionais, tendo sua importância 
devida as peculiaridades culturais e históricas de cada continente, pois a implantação desses 
sistemas facilita a adoção de mecanismos de controle respeitando a cultura de todos os povos 
(PIOVESAN, 2004). 
 
 20 
1.2 A formação do Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos 
 
Apesar de todas as situações desumanas ocorridas durante estes marcos, todos 
contribuíram para o processo de internacionalização dos direitos humanos. A Convenção de 
Genebra visava proteger direitos fundamentais em situação de conflito armado. A Liga das 
Nações tinha como objetivo a manutenção da paz e segurança internacional e a OIT, 
assegurou parâmetros globais mínimos para as condições de trabalho (PIOVESAN, 2004). 
 
Após a Segunda Guerra Mundial nasceu no continente europeu a esperança de se 
implantar um “standard” mínimo de proteção aos direitos humanos. Visava-se a salvaguarda 
dos direitos humanos e não das prerrogativas dos Estados, alterando o conceito de direito 
internacional, que antes era apenas o direito que regulava as relações entre os Estado 
(PIOVESAN, 2004). 
 
Prenuncia-se o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus nacionais 
era concebida como um problema de jurisdição doméstica, restrito ao domínio 
reservado do Estado, decorrência de sua soberania, autonomia e liberdade. Aos 
poucos emerge a ideia de que o individuo é não apenas objeto, mas também sujeito 
de direito internacional (PIOVESAN, 2004, p. 130). 
 
Portanto, esse momento Pós-Guerra foi o de reconstrução dos direitos humanos 
mediante a valorização da pessoa e da dignidade da pessoa humana, preocupação com o ser 
humano não na qualidade de minoria, mas de maneira geral. O movimento de 
internacionalização dos direitos humanos se deu de forma efetiva após a Segunda Guerra 
Mundial. As escandalosas e absurdas violações aos Direitos Humanos ocorridas fizeram com 
que a sociedade internacional pensasse que muito poderia ter sido evitado. Assim, dos 
escombros da Segunda Guerra Mundial, uma nova forma jurídica desponta para um Estado de 
Direito que precisava se renovar e o estímulo maior para tal renovação seria o compromisso 
em grau máximo com o respeito à dignidade humana. 
 
A barbárie do totalitarismo significou a ruptura do paradigma de direitos humanos, 
através da negação do valor da pessoa humana como valor fonte do Direito. Diante 
desta ruptura, emerge a necessidade de reconstrução dos direitos humanos, como 
referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral. Neste cenário, o 
maior direito passa a ser, adotando a terminologia de Hannah Arendt, o direito a ter 
direitos, ou seja, o direito a ser sujeito de direitos (PIOVESAN, 2004, p. 132). 
 
Com o término da Segunda Guerra Mundial começou a se pensar que a Alemanha 
deveria ser responsabilizada pelos atos bárbaros cometidos durante o período, assim os países 
 21 
Aliados chegaram a um consenso e criaram o Tribunal de Nuremberg para julgar os 
criminosos de guerra (PIOVESAN, 2004). 
 
Outro marco do processo de universalização dos direitos humanos no pós-guerra foi 
a constituição e o funcionamento dos tribunais de Nuremberg e de Tóquio (1945-
1949), que consistiram em tribunais internacionais ad hoc destinados a julgar os 
criminosos de guerra. O Tribunal de Nuremberg, por exemplo, processou 13 
julgamentos, e, pela primeira vez na história, ao considerar a Alemanha culpada por 
violação do direito costumeiro internacional, um Estado foi julgado e condenado por 
violações ocorridas dentro do seu próprio território durante o Holocausto (HIDAKA; 
LIMA JR., [s.d.], p. 06). 
 
Assim, começam a surgir os passos decisivos para a internacionalização dos direitos 
humanos e consequentemente a formação dos Sistemas Global e Regionais de proteção aos 
Direitos Humanos. Dentre esses passos decisivos podem ser destacados: A criação da ONU 
em 1945 e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada em 1948. Nesse contexto, 
foram elaborados dois tratados internacionais, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que 
incorporaram os direitos contidos na Declaração (PIOVESAN, 2004). 
 
Em primeiro lugar, deve ser esclarecido que foram elaborados dois Pactos, um para 
os direitos humanos civis e políticos, e outro para os direitos humanos econômicos, 
sociais e culturais, em decorrência do maior poder político das nações ocidentais, 
que, conforme a sua natureza capitalista e liberal, alegavam que deveriam ser 
elaborados dois Pactos distintos, visto que a implementação dos direitos humanos 
civis e políticos poderia ocorrer de imediato, enquanto que os direitos humanos 
econômicos, sociais e culturais só poderiam ser concretizados a longo prazo(HIDAKA; LIMA JR., [s.d.], p. 10). 
 
A partir da elaboração desses tratados, forma-se a Carta Internacional de Direitos 
Humanos que inaugurou o Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos. Paralelamente, 
também se formaram os Sistemas regionais de proteção, nos âmbitos europeu, interamericano, 
africano e como quarto Sistema regional, embora de forma insipiente, tem-se o Sistema Árabe 
de proteção aos direitos humanos, sendo o que menos se assemelha aos outros devido a sua 
cultura (PIOVESAN, 2004). 
 
A utilização dos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos não 
implica, portanto, em abandonar o uso dos sistemas nacionais. Ambos devem ser 
fortalecidos, na perspectiva do pleno respeito aos direitos humanos. No plano 
internacional, o desafio é, através de instrumentos e mecanismos de proteção, 
ampliar o respeito aos direitos humanos (HIDAKA; LIMA JR., [s.d.], p. 18). 
 
 22 
Os Sistemas - global e regionais - são complementares interagindo com o Sistema 
Internacional de Proteção, para tornar mais eficaz a proteção de direitos fundamentais. Ambos 
os Sistemas são inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal (PIOVESAN, 
2004). 
 
1.2.1 A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) 
 
A ONU foi fundada oficialmente em 24 de outubro de 1945, após o final da 2ª 
Guerra Mundial. Representou importante mecanismo de cooperação internacional, a fim de 
construir a paz no pós-guerra, e prevenir guerras futuras. A ONU substituiu a Liga das 
Nações, e tinha como objetivo manter a paz e a segurança internacional, promover os direitos 
humanos, além de desenvolver as relações amistosas entre os Estados, promovendo assim a 
cooperação internacional nos meios econômico, politico e cultural (PIOVESAN, 2004). 
 
A ONU difere da Sociedade das Nações, na mesma medida em que a 2ª Guerra 
Mundial se distingue da 1ª. Enquanto em 1919 a preocupação única era a criação de 
uma instância de arbitragem e regulação dos conflitos bélicos, em 1945 objetivou-se 
colocar a guerra definitivamente fora da lei. Por outro lado, o horror engradado pelo 
surgimento dos Estados totalitários, verdadeiras máquinas de destruição de povos 
inteiros, suscitou em toda parte a consciência de que, sem o respeito aos direitos 
humanos, a convivência pacífica das nações tornava-se impossível (COMPARATO, 
2001, p. 215). 
 
Segundo Soder (1998), para conseguir alcançar seus objetivos, a ONU foi estruturada 
em diversos órgãos, sendo estes os principais: Assembleia Geral, Conselho de Segurança, 
Corte Internacional de Justiça, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela e o 
Secretariado, todos estabelecido no seu artigo 7º. 
 
A Assembleia Geral possui competência para discutir e fazer recomendações 
relativas a qualquer matéria que for objeto da carta. O Conselho de Segurança é o principal 
responsável por manter a paz e a segurança internacionalmente, e para isso é composto por 
cinco membros permanentes (China, França, Reino Unido, Estado Unidos e a Rússia) e dez 
membros não permanentes (SEITENFUS, 2003). 
 
 A Corte Internacional de Justiça é composta por quinze juízes, que podem ser 
reeleitos, as sentenças proferidas por ela são inapeláveis, porém podem ser revistas com a 
apresentação de um novo fato. O Secretariado é chefiado pelo Secretário Geral, principal 
funcionário administrativo da ONU. Por fim, o Conselho Econômico e Social, que tem 
 23 
competência para promover a cooperação nas questões econômicas, sociais e culturais. Este 
último órgão é o responsável por fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a 
observância dos direitos humanos, além de elaborar projetos de convenções que são 
submetidos à Assembleia geral (SEITENFUS, 2003). 
 
A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, assim, o movimento de 
internacionalização dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que 
elevam a promoção desses direitos a propósito e finalidade das Nações Unidas. 
Definitivamente, a relação de um Estado com seus nacionais passa a ser uma 
problemática internacional, objeto de instituições internacionais e do Direito 
internacional (PIOVESAN, 2004, p. 142/143). 
 
A Carta das Nações Unidas deixa clara a importância de se defender, promover e 
respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, porém não há o significado da 
expressão “direitos humanos e liberdades fundamentais” no mencionado documento. Diante 
disso, o próximo passo foi dado em 1946, aonde o Conselho Econômico e Social da ONU 
criou a Comissão de Direitos Humanos com o objetivo de elaborar uma Carta Internacional de 
Direitos Humanos. Assim, em 1948 veio a Declaração Universal dos Direitos Humanos, para 
definir a expressão “direitos humanos e liberdades fundamentais” (PIOVESAN, 2004). 
 
Nas palavras de Soder (1998, p. 214): 
 
Para conseguir alcançar seus objetivos, as Nações Unidas criaram uma “comissão de 
Direitos Humanos”, a qual elaborou uma Declaração (1948) e Duas Convenções, 
uma sobre Direitos Civis e Políticos, a outra sobre Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais (1966), bem como uma Convenção sobre o Genocídio (1951) e uma 
Convenção para os Prófugos (1951), com Protocolo Adicional (1967), assinados 
pela grande maioria dos Estados-membros. Para sua implementação, criou, em 1951, 
o Alto Comissariado das NU para os Prófugos. 
 
Portanto, com a assinatura da Carta das Nações Unidas, a sociedade internacional se 
comprometeu a promover e encorajar o respeito aos direitos humanos, para isso a Comissão 
de Direitos Humanos, principal órgão da ONU, foi incumbida de elaborar uma Carta 
Internacional de Direitos, e assim começou a elaboração de uma Declaração. 
 
 Mas, infelizmente, apesar de todas as convenções da ONU, os Direitos Humanos 
continuam sendo violados, pois os Estados alegam o princípio da não intromissão em assuntos 
internos, ou dão outras interpretações a estes direitos. 
 
 24 
1.2.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos 
 
Em 16 de fevereiro de 1946, durante a sessão do Conselho Econômico e Social das 
Nações Unidas, foi decidido que a Comissão de Direitos Humanos, a ser criada, deveria 
elaborar uma declaração de direitos humanos, produzir um documento com efeito vinculante 
já que a declaração não o possuía, além de criar um órgão adequado para assegurar o respeito 
aos direitos humanos (COMPARATO, 2001). 
 
Em 18 de junho de 1948, a Comissão elaborou um projeto de Declaração Universal 
de Direitos Humanos, sendo aprovada em 10 de dezembro do mesmo ano pela Assembleia 
Geral da ONU. Em 1966 foram aprovados dois Pactos, um sobre direitos civis e políticos e 
outro sobre direitos econômicos, sociais e culturais (COMPARATO, 2001). 
 
Em dez de dezembro de 1948, em Paris, foi adotada e proclamada pela Resolução n. 
217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas, a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos (UDHR, leia-se Universal Declaration of Human Rights). Este 
instrumento é considerado o marco inicial do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos, e conseqüentemente, da tutela universal dos direitos humanos, que visa a 
proteção de todos os seres humanos, independente de quaisquer condições 
(HIDAKA; LIMA JR., [s.d.], p. 08). 
 
Segundo Piovesan (2004), a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada 
em 1948, sob a forma de resolução, após aprovada pela Assembleia Geral, com o objetivo de 
delinear uma ordem pública mundial com base no respeito à dignidade humana, em que a 
condição de pessoa é o único requisito para a titularidade de direitos. 
 
Esta Declaração se caracteriza, primeiramente, por sua amplitude. Compreende um 
conjunto de direitos e faculdades sem as quais umser humano não pode desenvolver 
sua personalidade física, moral e intelectual. Sua segunda característica é a 
universalidade: é aplicável a todas as pessoas de todos os países, raças, religiões e 
sexos, seja qual for o regime político dos territórios nos quais incide (PIOVESAN, 
2004, p. 145). 
 
A Declaração estabeleceu duas categorias de direitos: os direitos civis e políticos e os 
direitos econômicos, sociais e culturais. E neste aspecto foi inovadora, pois até então apenas 
os direitos civis e políticos eram consagrados, ou seja, a Declaração combinou o discurso 
liberal da cidadania com o discurso social, pois passou a elencar tanto os direitos civis e 
políticos, como direitos sociais, econômicos e culturais. Assim, a Declaração demarca a 
concepção contemporânea de direitos humanos, classificando tais direitos em gerações, aonde 
 25 
uma geração de direitos interage com outra, não havendo sucessão de direitos, pois estes se 
complementam e se fortalecem (PIOVESAN, 2004). 
 
A primeira geração desses direitos inclui os direitos cívicos e políticos, dirigidos, 
originalmente, à defesa dos cidadãos perante os possíveis abusos perpetrados pelo Estado. A 
segunda geração inclui os direitos sociais, econômicos e culturais que permitem aos cidadãos 
usufruir das condições materiais necessárias a uma vida digna, sem a qual não é possível o 
exercício efetivo dos direitos da primeira geração. E, por fim, a terceira geração de direitos 
humanos engloba os direitos relacionados ao acesso e usufruto de bens que pertencem em 
comum à humanidade, ou seja, direitos relacionados com o ambiente, bens culturais, a 
identidade, a solidariedade entre outros (PIOVESAN, 2004). 
 
Segundo Piovesan (2004) a Declaração Universal foi adotada pela Assembleia Geral 
sob a forma de resolução, logo não possui força de lei. O seu propósito é o de promover o 
reconhecimento internacional dos direitos humanos e das liberdades fundamentais 
consolidando um parâmetro internacional para a proteção desses direitos, já os Estados 
membros da ONU têm a obrigação de promover o respeito e a observância universal dos 
direitos proclamados pela Declaração. 
 
Apesar de ter sido adotada como resolução, muitos defendem que a Declaração 
possui força jurídica vinculante por integrar o direito costumeiro internacional, e ainda que 
não assuma a forma de tratado internacional, apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, 
na medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão “direitos humanos” 
(PIOVESAN, 2004). 
 
Neste contexto, partindo da corrente que defende a Declaração como uma resolução, 
sem força jurídica obrigatória e vinculante, instaurou-se uma discussão sobre qual a maneira 
mais eficaz para assegurar o reconhecimento e a observância universal dos direitos nela 
previstos. Houve o entendimento de que ela deveria ser recebida em forma de tratado 
internacional. Esse entendimento teve início com a elaboração de dois tratados internacionais, 
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais, que incorporaram os direitos contidos na Declaração 
(PIOVESAN, 2004). 
 
 26 
A partir da elaboração desses tratados, forma-se a Carta Internacional de Direitos 
Humanos que inaugurou o Sistema Global de proteção aos Direitos Humanos. Paralelamente, 
também se formaram os Sistemas Regionais de proteção, nos âmbitos europeu, 
interamericano e africano (PIOVESAN, 2004). 
 
1.3 A formação dos Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos 
 
Todos os instrumentos analisados até aqui integram o Sistema Global de Proteção 
aos Direitos Humanos, na medida em que foram produzidos no âmbito das Nações Unidas, 
que representa os Estados participantes da sociedade internacional. Portanto, o campo de 
incidência do Sistema Global não se limita a uma determinada região, mas pode alcançar 
qualquer Estado integrante da ordem internacional. 
 
Ao lado do Sistema Global, surgem Sistemas Regionais de proteção, que buscam 
internacionalizar os direitos humanos no plano regional. Os Sistemas Global e Regionais são 
complementares interagindo com o Sistema Internacional de proteção, para tornar mais eficaz 
a proteção de direitos fundamentais. Ambos os Sistemas são inspirados pelos valores e 
princípios da Declaração Universal (PIOVESAN, 2004). 
 
A ONU estimulou a criação de Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos 
Humanos. O envolvimento de dois países, às vezes três, num conflito, não justifica o 
acionamento do Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos, sendo um Sistema 
regional mais ágil e eficaz no recebimento de denúncias, investigação e resolução de 
violações aos pactos (PIOVESAN, 2004). 
 
Também é vantajoso no sentido de que um sistema regional possui um aparato 
jurídico próprio, que reflete com maior autenticidade e proximidade as peculiaridades e 
características históricas dos países envolvidos (PIOVESAN, 2004). 
 
Cada sistema regional de proteção apresenta um aparato jurídico próprio. O Sistema 
europeu conta com a Convenção Europeia de Direitos Humanos, que estabelece a Comissão e 
a Corte Europeia de Direitos Humanos. Já o Sistema Africano apresenta como principal 
instrumento a Carta Africana de Direitos do Homem e dos Povos de 1981, que, por sua vez, 
estabelece a Comissão Africana de Direitos Humanos. O Sistema Interamericano tem como 
 27 
principal instrumento a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, que estabelece 
a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana. Por fim, como 
quarto sistema regional, embora de forma insipiente, tem-se o Sistema Árabe de proteção aos 
direitos humanos, que conta com a Carta Árabe de proteção (PIOVESAN, 2004). 
 
1.3.1 O Sistema Europeu de Proteção aos Direitos Humanos 
 
Após a Segunda Guerra Mundial nasce no continente europeu a esperança de se 
implantar um “standard” mínimo de proteção aos direitos humanos. Os países europeus 
buscaram união e cooperação entre si, principalmente em razão da situação política 
econômica pós-guerra que os deixou fragilizados para atuar individualmente no cenário 
internacional. Assim, começaram a nascer várias organizações internacionais na Europa 
Ocidental (PIOVESAN, 2004). 
 
Neste momento, alguns estados europeus (Bélgica, Luxemburgo, Dinamarca, França, 
Holanda, Irlanda, Itália, Reino Unido e Suécia) reuniram-se em Londres, em 05 de maio de 
1949, para fundar o Conselho da Europa, uma organização representativa dos Estados da 
Europa Ocidental, com o objetivo de promover a unidade europeia, proteger os direitos 
humanos e fomentar o progresso econômico e social. Além do Conselho, foram criadas a 
União Europeia e a Organização para segurança e cooperação na Europa (PIOVESAN, 2004). 
 
No continente europeu, o marco inicial do sistema de proteção é a Convenção sobre 
Direitos Humanos de 1950. Ela estabeleceu a criação de três órgãos de 
monitoramento: a Comissão Européia de Direitos Humanos (criada em 1954), a 
Corte Européia de Direitos Humanos (criada em 1959), e o Comitê de Ministros do 
Conselho da Europa (criado em 1959) (GORENSTEIN; LIMA JR., [s.d.], p. 60). 
 
Em 1950, foi fundada a Convenção Europeia de Direitos Humanos que visava 
estabelecer padrões mínimos de proteção. A Convenção Europeia, aberta à assinatura em 4 de 
novembro de 1950, é o Tratado Regente do Sistema Europeu de Proteção aos Direitos 
Humanos. Entrou em vigor internacional em 3 de setembro de 1953, quando dez Estados 
europeus a ratificaram (PIOVESAN, 2004). 
 
Na primeira parte da Convenção, são elencados direitos e liberdades fundamentais, 
essencialmente civis e políticos. NaSegunda Parte, a Convenção regulamenta o 
funcionamento da Corte Europeia de Direitos Humanos. E, por fim, na terceira parte, A 
 28 
Convenção estabelece algumas disposições diversas, como as Requisições do Secretário Geral 
do Conselho da Europa, poderes do Comitê de Ministros, reservas à Convenção, sua 
denúncia, entre outros (PIOVESAN, 2004). 
 
A Convenção Europeia, em seu texto original, instituiu três órgãos distintos: Um 
semijudicial, a Comissão Europeia de Direitos Humanos; um judicial, a Corte Europeia de 
Direitos Humanos; um diplomático, o Comitê de Ministros (Conselho da Europa) 
(PIOVESAN, 2004). 
 
Em 11 de maio de 1994, o Protocolo n. 11 reestruturou o sistema de monitoramento, 
uma vez que o grande número de petições encaminhadas provocou a necessidade de 
simplificar os mecanismos. A solução adotada foi a criação de uma Corte 
permanente, para diminuir a demora nos procedimentos, e reforçar o caráter judicial 
do sistema, extinguindo-se a antiga Corte (31 de outubro de 1998), a Comissão (um 
ano depois, em 31 de outubro de 1999, pois tinha que cuidar dos casos previamente 
declarados admissíveis), e o papel do Comitê no exame de petições 
(GORENSTEIN; LIMA JR., [s.d.], p. 60). 
 
A Corte possui competência consultiva, ou seja, pode formular opiniões consultivas 
sobre questões jurídicas relativas à interpretação da Convenção e de seus protocolos, e 
contenciosa, pois suas decisões são juridicamente vinculantes e têm natureza declaratória 
(PIOVESAN, 2004). 
 
O Sistema Europeu trouxe órgão de fiscalização em relação ao cumprimento da 
Convenção e elevou o indivíduo como sujeito de direito internacional, no que tange à 
proteção dos direitos humanos. 
 
1.3.2 O Sistema Americano de Proteção aos Direitos Humanos 
 
O Sistema Interamericano foi instituído por meio da Carta da Organização dos Estados 
Americanos (OEA). Essa carta, que leva o nome oficial de Declaração Americana dos 
Direitos e Deveres do Homem, foi aprovada em 1948 (PIOVESAN, 2004). 
 
No âmbito das Américas, em 30 de abril de 1948, durante a IX Conferência 
Internacional Americana, realizada em Bogotá, foi adotada a Carta da Organização 
dos Estados Americanos (OEA), criando a Organização da qual fazem parte todos os 
35 Estados das Américas do Norte, Central (incluindo o Caribe), e do Sul. O 
Sistema Interamericano de Direitos Humanos tem como seu marco inicial a 
Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem, que foi aprovada na 
mesma ocasião, pela Resolução XXX (GORENSTEIN; LIMA JR., [s.d.], p. 61). 
 29 
Órgão central da Organização dos Estados Americanos (OEA), a Comissão 
Interamericana, criada em 1959, atua na supervisão e no monitoramento do grau de 
cumprimento das obrigações internacionais pelos Estados-membros em matéria de direitos 
humanos no âmbito regional (PIOVESAN, 2004). 
 
A competência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos alcança todos os 
Estados-Partes da Convenção Americana, bem como os membros da Organização dos Estados 
Americanos (OEA) em relação aos direitos humanos consagrados tanto na convenção quando 
na Declaração Americana de 1948. A principal função da Comissão é promover a observância 
e a proteção dos direitos humanos na América (PIOVESAN, 2004). 
 
Os comissários (comissionados) não representam seus países de origem ou mantém 
qualquer tipo de vínculo governamental, seu papel é o de assegurar o respeito aos 
direitos humanos pelos Estados-Membros. Os comissários são eleitos pela 
Assembleia Geral da OEA, para um mandato que dura quatro anos e é renovável por 
igual período (GORENSTEIN; LIMA JR., [s.d.], p. 65). 
 
Segundo Piovesan (2004) o principal instrumento do Sistema Interamericano é a 
Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida também como Pacto de San José da 
Costa Rica, um tratado internacional entre países-membros da OEA, aprovado em 1969, 
entrando em vigor em 1978, e ratificada até janeiro de 2012, por 24 países, incluindo o Brasil. 
Ela estabelece a estrutura do Sistema Interamericano, formado por dois órgãos: a Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos, com sede em Washington, Estados Unidos da América, 
e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em San José, na Costa Rica. 
 
A Corte Interamericana, instalada em 1979, é um órgão jurisdicional que possui 
competência consultiva e contenciosa. No exercício da competência consultiva, qualquer 
membro da OEA pode solicitar o parecer da Corte. No plano contencioso, a competência da 
Corte para o julgamento de casos é limitada aos Estados-Partes da Convenção. Ainda, 
somente a Comissão e os estados-parte podem submeter um caso à Corte. As decisões da 
corte têm força jurídica vinculante e obrigatória, devendo os Estados cumprir de imediato 
(PIOVESAN, 2004). 
 
1.3.3 O Sistema Africano de Proteção aos Direitos Humanos 
 
 30 
Segundo Piovesan (2004) o Sistema Regional Africano, objeto central da presente 
pesquisa, surgiu em momento posterior, quando comparado aos Sistemas Europeu e 
Interamericano. Tal Sistema teve origem no ano de 1963, durante a realização da sessão 
ordinária da Assembleia de Chefes de Estado e Governo, que criou a OUA, o alicerce do 
Sistema Regional Africano. 
 
Os objetivos da OUA, segundo o artigo 2º do ato constitutivo firmado em Adis-
Abeba, são os seguintes: 
1) reforçar a unidade e a solidariedade entre os membros; 
2) defender sua soberania, integridade territorial e independência; 
3) eliminar todas as formas de colonialismo na África (SEITENFUS, 2003, p. 278). 
 
A origem deste sistema encontra-se nos debates ocorridos durante a sessão ordinária 
da Assembleia de Chefes de Estado e Governo da antiga Organização da Unidade Africana. 
Em junho de 1981, o projeto da Carta Africana foi votado, aprovado e assinado pelos 
membros da organização. Cinco anos mais tarde, em 21 de outubro de 1986, após atingir o 
número mínimo de ratificações necessárias, a Carta entrou em vigência (PIOVESAN, 2004). 
 
A União Africana (UA) é substituta da Organização da Unidade Africana (OUA), 
criada em 1963, e que tinha, entre outros, o objetivo de lutar contra o colonialismo e 
o apartheid, além de harmonizar as políticas econômicas, promover a integração 
econômica e o desenvolvimento (CARVALHO; STELZER; GONÇALVES, 2006, 
p. 330). 
 
Em 2002, foi assinado protocolo à Carta Africana, que somente alcançou o número 
necessário de Estados aderentes (15), em 2006, somente então entrando em vigor. O referido 
protocolo criou a Corte Africana de Direitos Humanos, nos moldes do Sistema Europeu e 
Interamericano, tendo função consultiva e contenciosa (PIOVESAN, 2004). 
 
Dentro do Sistema Africano, a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos 
foi criada pela Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (adotada em 
Nairobi/Quênia, em 1981, pela Assembléia Geral da Organização da Unidade 
Africana), que entrou em vigor em 21 de outubro de 1986, e tem o objetivo de 
promover e proteger os direitos humanos e dos povos dentro do continente africano 
(GORENSTEIN; LIMA JR., [s.d.], p. 59). 
 
Conhecida também como Carta de Banjul, a Carta Africana de Direitos do Homem e 
dos Povos procura espelhar e preservar contornos característicos da cultura e da formação 
histórica africana (PIOVESAN, 2004). 
 
 31 
Após a análise sucinta do Sistema Africano, entende-se a necessidade de se destacar 
um fato histórico que marcou a história recente do continente africano, em especial, por ter 
sido uma atrocidade à questão central do presente artigo, a proteção aos direitos humanos. Tal 
evento histórico é o genocídio que ocorreu em 1994, de Ruanda, que, em menos de cem dias, 
deixou mais de 800 mil mortosem uma guerra interna decorrente de conflitos étnicos. 
Assunto este que será analisado de maneira mais profunda no próximo capítulo (ver Anexo 
A). 
 
1.3.4 O Sistema Árabe de Proteção aos Direitos Humanos 
 
A liga dos Estados Árabes, ou Liga Árabe, é uma associação voluntária de países que 
são predominantemente de língua Árabe. A liga foi fundada no Cairo em 1945 por Egito, 
Iraque, Arábia Saudita, Síria, Transjordania (Jordania a partir de 1950), e Yemen. Os 
principais objetivos da Liga são o de estabelecer relações mais estreitas entre os Estados 
membros e coordenar a relação entre estes, com o fim de proteger sua independência, 
soberania, defender de modo geral os assuntos e interesses dos países Árabes (PIOVESAN, 
2004). 
 
 A tomada de consciência dos Estados Árabes sobre a necessidade de adequar seus 
ordenamentos jurídicos, em conformidade com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, 
começa a partir dos anos 70. A partir desta data, o mundo Árabe-muçulmano começa as 
diversas declarações sobre Direitos Humanos (PIOVESAN, 2004). 
 
A cooperação entre países islâmicos consiste no objetivo da Organização da 
Conferência Islâmica (OCI) cuja carta fundamental foi fundada em 1972. Trata-se 
de uma organização de caráter político, composta por treze dezenas de países. A 
OCI se propõe, segundo o artigo 2 de sua Carta, aos seguintes fins: 
1) consolidar a solidariedade islâmica; 
2) coordenar as ações para salvar os lugares santos e sustentar a luta do povo 
palestino, ajudando a recuperar seus direitos a libertar seus territórios; 
3) consolidar a luta de todos os povos muçulmanos para salva-guardar sua 
dignidade, sua independência e seus direitos nacionais. (SEITENFUS, 2003, p. 277). 
 
A Declaração Universal Islâmica sobre Direitos Humanos, de 19 de setembro de 
1981, foi elaborada pelo Conselho da Organização da Conferência Islâmica e compilada por 
juristas Islâmicos e pelos representantes de diversas escolas de pensamento Islâmico, sobre a 
inspeção da Unesco. Em seu teor, trouxe características bastantes peculiares adaptativas em 
relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas de 
 32 
1948. Ainda, percebe-se que a Declaração Islâmica se trata de uma adaptação da declaração 
original voltada aos princípios da fé-islâmica, invocados constantemente ao longo do 
documento (PIOVESAN, 2004). 
 
Do mesmo modo, os Direitos Humanos se integram com o quadro do ordenamento 
jurídico islâmico, proclamando as liberdades tradicionais liberais como o direito a vida, a 
liberdade, a igualdade, a proibição contra a discriminação, o direito a justiça, e a um justo 
processo penal. Igualmente a carta Islâmica reconhece os direitos sociais, econômicos, e 
alguns direitos coletivos, como o direito as minorias religiosas, individualizando 
expressamente o pluralismo religioso (PIOVESAN, 2004). 
 
A Declaração universal dos direitos humanos das Nações Unidas de 1948 foi muito 
criticada por muitos muçulmanos, qualificando-a de ter exclusivamente uma visão ocidental, 
sem ter em consideração a realidade cultural, religiosa e histórica, não só do Islã senão de 
todos os países não ocidentais. Alguns muçulmanos opinam inclusive que esta declaração não 
é compatível com a Charia. Por isso, em 1990, todos os países da Organização para a 
Cooperação Islâmica (OCI) adotaram a Declaração do Cairo sobre Direitos Humanos no islã. 
A Declaração do Cairo baseia-se fundamentalmente na Charia e no conceito de "O Islã, como 
representante de Alá na terra" (PIOVESAN, 2004). 
 
Com relação ao conteúdo desta declaração, se afirma o discurso teológico-jurídico 
iniciando na Declaração Islâmica Universal de 1981, no sentido de colocar os Direitos 
Humanos em um quadro complementar ao Islã (PIOVESAN, 2004). 
 
A Carta Árabe de Direitos Humanos foi adotada pelo Conselho da Liga dos Estados 
Árabes em 1994, e em março de 2008 entrou em vigor após a ratificação do sétimo Estado, Os 
Emirados Árabes Unidos. Este é um dos resultados das iniciativas dos países árabes de aderir 
ao movimento internacional de tutela dos Direitos Humanos (PIOVESAN, 2004). 
 
 Destarte, encerra-se este capítulo enfatizando a importância dos sistemas global e 
regionais de proteção aos direitos humanos, os quais surgiram no período pós-guerra, pois a 
implantação desses sistemas facilitou a adoção de mecanismos de controle respeitando a 
cultura de todos os povos. 
 
 33 
Além disso, a atuação de um Sistema Global eficiente e eficaz de promoção, proteção 
e reparação dos direitos humanos é uma exigência do processo de internacionalização 
construído na história recente da humanidade, para a salvaguarda da dignidade da pessoa 
humana. 
 
Porém, mesmo após a formação deste Sistema Global de Proteção dos Direitos 
Humanos tais direitos continuam sendo violados. Um exemplo disso foi o fato ocorrido no 
Continente Africano em 1994, pois mesmo com uma Organização e uma Carta de Direitos 
Humanos, não foi possível evitar a morte de mais de 800 mil pessoas em menos de 100 dias. 
Tal acontecimento ficou conhecido como “Genocídio de Ruanda”, o qual será analisado no 
próximo capítulo (ver Anexo A). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 34 
2 O SISTEMA REGIONAL AFRICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS 
HUMANOS 
 
Neste capítulo será abordada a história geral do continente africano, trazendo 
aspectos dos períodos pré-colonial, colonial, mas principalmente do período em que os países 
desse continente buscaram a sua independência. Ainda, será relatado o processo de formação 
do Sistema Regional Africano de Proteção aos Direitos Humanos, e o desrespeito aos seus 
diplomas legais. Mesmo após a criação da Organização da União Africana (1963), da vigência 
da Carta de Banjul (1987), a qual institui a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos 
Povos (1987), não foi possível evitar o Genocídio de Ruanda no ano de 1994 (ver Anexo A). 
 
A África foi colonizada e sofreu o mais brutal crime contra a humanidade que foi a 
escravidão. Mas pouco se sabe da história desse continente com uma cultura tão rica, têm-se 
apenas registros da história dos europeus na África, assim conhecemos menos da história 
desse continente do que de qualquer outra parte do mundo. 
 
Identifica-se a África como um continente subdesenvolvido, com escassez de recursos 
básicos para a sobrevivência, mas apesar de tudo, sua cultura é vasta e expressivamente 
extensa. A África é um grande continente, onde estudiosos acreditam ser o berço da 
humanidade. 
 
2.1 História geral do continente africano 
 
2.1.1 Período pré-colonial e colonial da história africana 
 
No período pré-colonial da história africana, as relações entre as cidades 
independentes eram baseadas na soberania e cooperação. Para o povo africano os valores se 
encontravam na família ou na tribo, a terra pouco importava. Viviam de maneira diferenciada, 
quando comparado aos padrões ocidentais, pois eles não se viam como indivíduos, sua única 
preocupação era com o seu papel na sociedade, sempre preocupados com o grupo. Além 
disso, as decisões políticas eram tomadas através de consenso comunitário, e a riqueza era 
automaticamente redistribuída, não havia propriedade privada (ANDRADE, 1993/1994). 
 
 35 
O colonialismo na África surgiu aproximadamente na década de 1880 e estendeu-se 
até os anos de 1935, sendo que esta dominação colonial pode ser dividida em três períodos. O 
primeiro iria de 1880 a 1919, chamado de período da defesa da soberania e da independência 
africana. O segundo iria de 1919 a 1935, é o período de adaptação.E, o terceiro, com início 
em 1935, é o período dos movimentos de independência (BOAHEN, 2010). 
 
Quando descoberta pelos Europeus, a África foi alvo de exploração, vista apenas 
como uma fonte de dinheiro pelos seus descobridores. O continente foi dividido e colonizado 
pelos europeus sem considerar as diferentes tribos, idiomas, religiões e culturas presentes. Os 
africanos eram vistos como inferiores pelos europeus e, devido a isto, muitos deles foram 
tomados como escravos, as riquezas naturais encontradas no continente eram extraídas e 
exportadas para as metrópoles não restando nada para os nativos (ANDRADE, 1993/1994). 
 
Com efeito, havia uma recusa a considerar o povo africano como criador de culturas 
originais que floresceram e se perpetuaram, através dos séculos, por vias que lhes 
são próprias e que o historiador só pode apreender renunciando a certos preconceitos 
e renovando seu método. [...] Este processo de falsa identificação depreciou a 
história dos povos africanos, no espírito de muitos, rebaixando-a a uma etno-história 
em cuja apreciação das realidades históricas e culturais não podiam ser senão 
falseada (MAZRUI, 2010, prefácio). 
 
Ainda, foram empregadas noções racistas, sendo os colonizadores superiores pela 
pigmentação branca de sua pele, e os africanos, colonizados, considerados inferiores, 
transformados em mercadoria, condenados ao trabalho forçado (BOAHEN, 2010). 
 
Em meio ao período de colonização da África, não se pode esquecer das grandes 
guerras mundiais, em especial a Primeira Guerra Mundial que eclodiu na última década em 
que se consolidava o colonialismo na África, a qual trouxe grandes consequências ao 
continente africano no âmbito, político, social e econômico. 
 
Não houve, no geral, preocupação por parte dos Estados colonizadores quanto ao 
desenvolvimento econômico de suas colônias – pelo menos até o início da Segunda 
Grande Guerra, quando as exigências do estado de beligerância forçaram uma 
consideração mais racional de seus recursos (ANDRADE, 1993/1994, p. 3). 
 
Diante do fato de ser colonizada pelas potências europeias, a África viu-se direta e 
indiretamente envolvida na Primeira Guerra Mundial. A consequência imediata desta guerra, 
para a África, foi a invasão das colônias alemãs pelos Aliados. Ainda, a guerra foi responsável 
 36 
pelo grande número de mortos e feridos na África, não só por causa das batalhas, mas também 
devido à epidemia de gripe. “A imposição do colonialismo afetou outro aspecto da vida social 
dos africanos, a religião. Às vésperas do domínio colonial, três religiões haviam se 
estabelecido na África: a tradicional, o islamismo e o cristianismo.” (SILVÉRIO, 2013, p. 
406). 
 
A vida econômica da África foi prejudicada consideravelmente com a guerra, pois 
provocou a queda dos preços dos produtos básicos e a elevação dos preços dos artigos 
importados, dada à redução da oferta. Quanto às consequências sociais e políticas, a guerra 
despertou os movimentos nacionalistas, intensificou as reinvindicações, como consequência 
das imposições dos europeus. “A Primeira Guerra assinalou ao mesmo tempo o fim da 
partilha do continente e das tentativas africanas para reconquistar uma independência fundada 
na situação política anterior a essa partilha.” (SILVÉRIO, 2013, p. 381). 
 
Após os acontecimentos desumanos da Primeira Guerra Mundial, a população 
africana começou a apresentar formas de resistência à autoridade europeia, sendo que a 
principal causa dessas revoltas foi o recrutamento forçado de soldados e de carregadores. 
Além disso, as restrições econômicas causadas pela guerra impulsionaram esse movimento de 
resistência às autoridades coloniais. 
 
Nas palavras de Silvério (2013, p. 379): 
 
Múltiplas razões explicam os levantes: desejo de recuperar a independência; 
ressentimento contra as medidas de guerra, como o recrutamento obrigatório e o 
trabalho forçado; oposição religiosa, nomeadamente pan-islâmica, à guerra. Reação 
às restrições econômicas geradas pela guerra; descontentamento com certos aspectos 
do regime colonial, cuja natureza se desvendou nitidamente durante os anos de 
guerra. 
 
A dominação e influência estrangeira teve um impacto muito grande no continente 
africano. Algumas das consequências desse período colonial foram: a redução da participação 
da África no cenário internacional; a ridicularização do conceito de que a vida humana era 
sagrada; e, o respeito pela dignidade humana passou a significar respeito pelo homem branco 
(ANDRADE, 1993/1994). 
 
Os “rebeldes” eram compulsoriamente alistados no exército, chicoteados ou até 
enforcados; os chefes exilados ou presos; as aldeias, arrasadas como advertência. A 
 37 
resistência nem sempre era violenta, no entanto. Muita gente esquivou-se dos 
motivos de queixa emigrando, por exemplo. [...] para escapar aos agentes de 
recrutamento, os habitantes de aldeias inteiras sumiam na floresta. Os jovens 
mutilavam-se para não servir o exército colonial (SILVÉRIO, 2013, p. 379). 
 
Portanto, ocorreram impactos positivos e negativos do colonialismo na África. Quanto 
aos impactos positivos destaca-se a instauração de um grau maior de paz e de estabilidade na 
África, bem como a criação dos Estados independentes da África, pois as partilhas coloniais 
reformularam a política Africana. E, por fim, o surgimento de um novo tipo de nacionalismo 
africano e do pan-africanismo (BOAHEN, 2010). 
 
 Em contrapartida, têm-se os impactos negativos do colonialismo, como o sentimento 
de frustração, humilhação, opressão, discriminação e exploração. Ainda, houve o 
enfraquecimento dos sistemas de governo indígenas, a mentalidade de que a propriedade 
pública pertencia às autoridades brancas, devendo tirar proveito dela em todas as 
oportunidades. Mas, o mais importante impacto do colonialismo foi a perda da soberania e da 
independência, e consequentemente a perda do direito de escolher seu destino, de decidir seu 
futuro (BOAHEN, 2010). 
 
O período colonial diminuiu, senão extinguiu por completo, os direitos humanos, não 
houve respeito algum aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e muito menos 
culturais. Após esse período de colonização, mais precisamente após a Segunda Guerra 
Mundial, muitos países africanos conseguiram sua independência, e começaram a participar 
ativamente no âmbito internacional, dando a oportunidade de se estabelecer uma organização 
regional nos moldes já existentes em outros continentes. 
 
2.1.2 A independência dos Estados africanos e a Organização da União Africana (OUA) 
 
 Após a colonização, inicia-se a fase de independência dos países africanos, tendo 
como ponto de partida o ano de 1935, momento em que se iniciou a Segunda Guerra Mundial 
para os Africanos e que posteriormente impulsionou a independência de seus Estados. “Os 
anos decorridos desde 1935 constituem, em particular, um período da história durante o qual o 
mundo ocidental relembrou aos africanos, involuntariamente, a sua identidade pan-africana.” 
(SILVÉRIO, 2013, p. 456). 
 
 38 
Ainda, o movimento do pan-africanismo nasceu nos séculos XVIII e XIX em favor da 
luta dos negros pela libertação e contra a dominação e a exploração dos brancos, tinha como 
objetivo libertar e unir a África, assim como a Organização da União Africana (OUA). 
 
No período de 1935-1945 novas formas de resistência africana se cristalizaram, 
notadamente: movimentos políticos, uma ebulição religiosa e cultural, uma nova 
atividade sindical, um crescimento dos movimentos grevistas, bem como a aparição 
do jornalismo político africano (SILVÉRIO, 2013, p. 468). 
 
Entre os anos de 1940 e 1945, a África sofreu novamente com

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