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Leonardo David – 1º Semestre – T1AA – 2017.1 INFLAÇÃO DE DEMANDA A inflação de demanda é o tipo de inflação mais comum na economia mundial. Ela trata do aparecimento da inflação em tempos econômicos de euforia – por conta do alto poder de compra da população, onde a maioria está empregada, gerando maior demanda - e, quando há a taxa de desemprego alto, ou seja, a população não vive um momento de alto poder de compra, não há inflação. Nesse sentido, esse tipo de inflação pode ser explicado pela Curva de Philips, no qual o gráfico mostra o eixo das ordenadas definindo as taxas inflacionárias (PI) e o eixo das abscissas definindo as taxas de desemprego (U). No meio dos eixos, há dois fatores: o NAIRU (U*), que consiste na taxa de desemprego médio histórico de cada país e, nas ordenadas, há o “PI*”, que consiste na taxa de inflação média histórica de cada país. Dessa forma, pode ser observado que para cada Estado a Curva de Philips é interpretada de maneira diferente. Isto posto, é importante salientar que o gráfico da Curva de Philips é dividido em quatro quadrantes: I, II, III e IV. I QUADRANTE: O primeiro quadrante define a inflação de demanda propriamente dita. É aonde se encontra a inflação de demanda de forma explícita, na qual está presente apenas neste quadrante. Mostra que, quanto menor a taxa de desemprego, maior o poder de compra da população, acarretando na presença da inflação de demanda para que se restabeleça o equilíbrio na economia daquele país. Entretanto, alguns países desenvolvidos negariam a curva, visto que não há inflação alta e nem taxa de desemprego alta, como, por exemplo, Canadá e Suiça. Contudo, o que é alto para um país, pode ser baixo para outro e vice-versa. Ou seja, como dito anteriormente, a Curva de Philips varia de cada sociedade, pois cada país tem o seu PI* e o seu U*. Para ilustrar: se na Suiça a inflação chegar a 3% ao ano, o governo fará políticas de contensão de demanda, o que não aconteceria no Brasil, pois esse Leonardo David – 1º Semestre – T1AA – 2017.1 número, para os brasileiros, é caracterizado como inflação baixa, visto que a média do país gira em torno dos 7%. III QUADRANTE: O terceiro quadrante consiste na inflação controlada, mas taxa de desemprego em ascensão. É diametralmente oposto ao primeiro quadrante, visto que ocorre em situações de baixa inflação, mas com desemprego acima da média histórica do país. O primeiro e o terceiro quadrante fazem-se analogia à teoria do “cobertor curto”: ou cobre o pé, ou cobre a cabeça. Ou seja, ou tem-se a inflação alta com baixo desemprego, ou tem-se a inflação controlada com alto desemprego. Dessa forma, quando o país vive uma demanda maior do que a oferta, gerando a inflação de demanda, o governo trata de realizar políticas tradicionais de contensão de demanda - via política monetária, política fiscal ou política cambial – que são, na prática, políticas que estimulam o desemprego, ou seja, impopular. Para o caso do desemprego, quando a taxa está alta e a inflação controlada, o governo faz políticas tradicionais de estímulo de demanda – também via política monetária, fiscal ou cambial, só que com ações exatamente opostas às políticas de contensão de demanda, estimulando o emprego para movimentar a economia. II QUADRANTE: O segundo quadrante é a pior situação em que um país pode estar. É o quadrante da estagflação, que consiste na situação de inflação alta e de desemprego alto que, por algum caso – variando de cada país, visto que a estagflação é um fenômeno restrito a cada lugar, ou seja, cada caso é um caso – culminou na quebra da economia nacional. A estagflação normalmente está associada a um déficit público grande sendo financiado por emissão de moedas. É mais conhecida pelo o que não se pode fazer do que o que tem de fazer para controlá-la. Por exemplo, a sua causa não foi impulsionada pela alta demanda, portanto uma política para conter a demanda não é viável. Normalmente o que se faz para comedir a estagflação é a troca da moeda nacional – embora possa ser que sozinha ela não resolva, visto que mudar a moeda com um Governo desacreditado não resolverá (vulgo o que aconteceu no Brasil até que chegasse ao Plano Real). Leonardo David – 1º Semestre – T1AA – 2017.1 Obs: Venezuela hoje vive um período de estagflação. IV QUADRANTE: Caso um país consiga viver um econômico retratado no quarto quadrante, não é fácil permanecer por muito tempo. Esse quadrante mostra o oposto da estagflação, ou seja, é o momento econômico ideal, onde as taxas inflacionárias estão baixas, bem como as taxas de desemprego. Países que conseguem esse feito, normalmente transitam entre o IV e o I quadrantes. O governo de Clinton, em seu primeiro mandato, nos anos 90, nos EUA, conseguiu ficar um bom tempo no IV quadrante da economia. Associado ao então Presidente do Banco Central Americano, Alan Greenspan, o qual era liberal, desregulou a economia com taxas de juros muito baixas, fazendo com que as famílias americanas se endividassem, aumentando a demanda e a produtividade e, portanto, aquecendo a economia. Dessa forma, em curto prazo, criou-se uma euforia e excelente momento econômico nos EUA, mas a bolha estourou em 2008, levando-os direto ao III quadrante. Com isso, algumas pessoas dizem que Greenspan foi o pai da crise de 2008. INFLAÇÃO DE CUSTOS A inflação de custos pode também ser chamada de “choque de ofertas”. Não são exatamente a mesma coisa, mas estão muito próximas. Esta inflação ocorre quando uma matéria prima (petróleo, energia elétrica, aço, etc.), fundamental no processo de produção, tem, de forma abrupta, seu preço aumentado, contaminando, assim, toda a cadeia de produção, impactando no consumidor final. O melhor exemplo para tal inflação é a crise do petróleo. O choque de oferta é quando uma matéria prima tem a sua produção de maneira abrupta diminuída, aumentando o seu preço. Pela lógica, o choque de oferta vem antes da inflação de custos, levando-a a ela. Ou seja, a inflação de custos normalmente acontece pelo choque de oferta, mas pode acontecer, por exemplo, por intervenção estatal, como no caso Dilma, onde não houve choque de oferta. Leonardo David – 1º Semestre – T1AA – 2017.1 Pode-se perceber, portanto, que não ocorre por pressão de demanda. Dessa forma, não se pode resolvê-la pelas políticas de contensão de demanda. Esse tipo de inflação não é tão comum quanto a inflação de demanda, porém não é rara. Pode-se dizer que a inflação de custos é microeconômica e a de demanda é macroeconômica. Para resolvê-la, uma das maneiras é trocar a matéria prima ou o fornecedor, entretanto nem sempre é eficaz (como não foi eficaz na crise do petróleo). Outra maneira é a utilização de subsídios, que são tributos indiretos ao contrário. Para melhor entendimento, vai uma explicação dos tributos: Os tributos podem ser diretos e indiretos. Os tributos diretos atingem diretamente a pessoa; atingem a renda e o patrimônio da pessoa física e pessoa jurídica. Por exemplo: imposto de renda, IPVA, IPTU. Já os tributos indiretos atingem a circulação de bens e produtos. Ou seja, ao comprar algo, há o tributo indireto embutido. Dessa forma, só há a tributação indireta se houver a circulação. Exemplos de tributos indiretos: IPI. ICMS, ISS. Esses tributos estão dentro dos preços dos produtos. Situação: um produto custa nove reais, mas é vendido por doze reais. Isso porque há nele o tributo indireto que, ao comprar, o consumidor está automaticamente pagando. Essa é a forma mais rápida de se arrecadar dinheiro, onde não há como haver sonegação de impostos.Já no caso da tributação direta há, visto que a pessoa física ou jurídica pode não pagá-lo, o que se configura em crime. O subsídio, então, é um tributo indireto ao contrário. Ou seja, ele reduz o preço ao invés de aumentá-lo. Entretanto, com o governo dando subsídios, acarreta em duas situações: ou está diminuindo a sua receita, ou está aumentando os seus gastos, o que determina o déficit público. A título de comparação entre ricos e pobres, pode-se dizer que o rico tende a pagar muito tributo direto, mas no caso do tributo indireto há duas interpretações: ele pode pagar muito tributo indireto, caso suas compras sejam Leonardo David – 1º Semestre – T1AA – 2017.1 de luxo, ou pagar pouco tributo indireto comprando pouco; e, comparando-se com o pobre, o efeito da tributação indireta nos ricos é muito menor que nos pobres, mesmo fazendo eles as mesmas compras. INFLAÇÃO INERCIAL Inflação inercial é um fenômeno raro de acontecer na economia. Em 1962, o brasileiro Inácio Rangel lançou o seu livro “A inflação brasileira”, no qual dizia que a inflação no Brasil, na época, era muito complicada e, uma de suas razões, era a inflação inercial. No período do governo de JK houve um intenso crescimento econômico, gerando um grande déficit público que acarretou na inflação. Os superavitários tinham medo de colocar dinheiro no banco por conta da inflação, então eles entesouravam o seu dinheiro, por meio da compra de bem, mas ainda assim depositavam alguma coisa. Com isso, o banco ficou com pouco dinheiro para emprestar aos deficitários e, por isso, aumentou as taxas bancárias. O banco também tinha medo da inflação e, por conta disso, aumentou o seu spread bancário, pois tinham que cobrar algo bem acima da inflação para não correr risco de quebrar. Dessa forma, o banco brasileiro vivia uma realidade de pouco dinheiro circulando e taxas de empréstimo muito altas. Rangel disse que isso era problema e que isso acontecia por conta dos superavitários que entesourava o seu dinheiro. Portanto, Rangel concluiu que a inflação de ontem leva à inflação de hoje. As empresas eram os grandes deficitários, pois precisavam de grandes quantias para fazer os seus investimentos. Entretanto, com essa situação, eles preferiram aumentar os preços de seus produtos – por conta das altas taxas bancárias, o que levaria ao endividamento. Então, se a sociedade pagasse os produtos mais caros, a empresa se financiaria com isso. JK tinha um déficit gigantesco e os bancos não tinham muito dinheiro para financiá-lo. Nesse contexto, o presidente financiou o déficit com a emissão de moeda, o que gerou mais inflação. Ou seja, a inflação se perpetua por conta Leonardo David – 1º Semestre – T1AA – 2017.1 de uma insuficiência na estrutura bancárias: “a inflação de hoje cria a inflação de amanhã.” Em 1964, os militares leram Rangel e criaram a OTN (obrigação do tesouro nacional). A OTN é um título público que corrigiu os ativos e passivos bancários, por meio da garantia que concedia aos superavitários de que podiam depositar o dinheiro nos bancos, pois os bancos pagariam x + a correção da inflação. Dessa forma, foram criadas as taxas pós-fixadas. O Governo também corrigiu o ativo do banco, pois garantiria a correção para emprestar aos deficitários. Dessa forma, o Governo Militar obriga aos bancos a fazer isso, acabando com o medo dos superavitários e, a partir daí, o mercado bancário começa a ficar forte. Essa medida resolveu o problema da época. Em 1985, Tancredo Neves – endeusado pelo povo - vence as eleições. Entretanto, morre antes do seu mandato e Sarney – odiado pelo povo – assume em seu lugar. Sarney, desconfiado pela população, assume o Brasil na estagflação. Os heterodoxos da economia assumiram com Sarney. Disseram que era uma inflação atípica: foram procurar o que havia de comum entre os países que viviam a mesma situação. Nesse sentido, concluíram que a inflação se dava pelo excesso de indexação. Sempre que, automaticamente, altera os preços de hoje, em função de uma variável de ontem, de maneira formal e informal. Esta seria aumentar sem uma lei, aquela seria o aumento por meio de uma lei ou contrato que diz que pode alterar o preço. O que diziam é que a correção monetária foi banalizada e, então, os preços aumentavam o tempo todo. Heterodoxos diziam, então, que era por conta da indexação: os preços estão subindo por inércia, não tendo atrito para segurá-los. Dessa forma, era necessária a criação desse atrito. Para isso, foi feito primeiramente o Plano Cruzado, que consistiu no congelamento de preços e aumentou o salário em 8%. Com isso, a Leonardo David – 1º Semestre – T1AA – 2017.1 popularidade de Sarney aumentou e a inflação inercial caiu, mas a demanda aumentou também e, conseqüentemente, os produtos começaram a faltar. Delfim Neto sempre foi ortodoxo e estes odeiam o congelamento de preços. Disse que o Plano Cruzado congelou os preços, mas a moeda continuava podre e, por isso, o governo continuava emitindo moeda por conta do grande déficit. No outro dia da eleição, Sarney descongelou os preços e estes explodiram. Assim, pois, o congelamento resolveu a inflação apenas no período em que vigorou. Dessa forma, pode-se concluir que, de maneira simplificada, a inflação inercial é, basicamente, o excesso de correção monetária na economia.
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