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LIVRO_U4_Economia

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Unidade 4
Conjuntura 
econômica e políticas 
econômicas
Flávio Benilton da Silva Medeiros
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Imagens
Adaptadas de Shutterstock.
Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das 
imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. 
Conteúdo em websites
Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento 
pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros.
Sumário
Unidade 4
Conjuntura econômica e políticas econômicas ......................................... 5
Seção 1
Política fiscal ........................................................................................ 7
Seção 2
Política monetária e política de rendas ..........................................20
Seção 3
Exemplos de ações governamentais marcantes no Brasil ............38
Unidade 4
Flávio Benilton da Silva Medeiros
Conjuntura econômica e políticas econômicas
Convite ao estudo
Olá, tudo bem? Você já parou para pensar no quanto nossa qualidade 
de vida pode ser afetada por decisões e ações do governo? Além disso, os 
negócios entre as empresas e entre agentes de países diferentes também são 
afetados pelas políticas econômicas, o que torna o assunto desta unidade, as 
políticas macroeconômicas, fundamental para sua carreira profissional.
Para analisar esse tema, conheceremos as diferenças entre as políticas 
fiscal e monetária, e por meio do estudo das ações econômicas recentes do 
governo brasileiro, compreenderemos os motivos pelos quais elas são feitas. 
Assim, você poderá fazer a análise da conjuntura econômica de um país para 
se antecipar às possíveis políticas fiscal e monetária a serem feitas pelo governo 
e seus efeitos sobre a economia como um todo e sobre setores específicos.
Nosso primeiro tema será a Política Fiscal (Seção 4.1), relacionada aos 
gastos e às receitas do governo. A análise fundamental é a da relação entre 
receitas e despesas públicas: quando o governo gasta mais do que arrecada, 
ele incorre em déficit nas contas governamentais. Por outro lado, quando 
o governo consegue equilibrar suas contas e arrecadar mais do que gasta, 
ele tem superávit nas contas governamentais. A Política Fiscal Expansionista 
ocorre quando o governo toma decisões que aumentam os seus gastos e 
diminuem os impostos pagos pelas pessoas e empresas. Já quando o governo 
diminui seus gastos e aumenta os impostos, ele está praticando uma Política 
Fiscal Contracionista. 
A Política Monetária (Seção 4.2) está relacionada à quantidade de 
moeda em circulação e à taxa de juros. Uma política expansionista atua 
para aumentar a oferta de moeda (e, consequentemente, diminuir a taxa de 
juros), e a Política Monetária Contracionista atua no sentido oposto. Você 
conhecerá também o multiplicador bancário, que pode ser utilizado como 
instrumento de política monetária. Nossa análise dos impactos das diferentes 
políticas econômicas sobre o crescimento econômico e a inflação partirá da 
constatação de que existe um trade-off entre eles. Em seguida, ainda na Seção 
4.2, veremos como o controle de preços e salários e os programas de transfe-
rência de renda compõem a política de rendas ou distributiva.
Para terminar, na Seção 4.3, acompanharemos exemplos de ações gover-
namentais marcantes no Brasil, começando pelos planos malsucedidos de 
combate à inflação da década de 1980 e o sucesso do Plano Real. Você verá 
a predominância do neoliberalismo com a estabilidade econômica após o 
Plano Real e os benefícios trazidos por ela. Por fim, conheceremos as políticas 
recentes para o reequilíbrio das contas públicas.
Mãos à obra!
7
Seção 1
Política fiscal
Diálogo aberto
Oi, você já viveu uma situação em que um cliente seu atrasou algum 
pagamento ou, até mesmo, lhe “deu o cano”? Como fornecedor, você se 
defrontou com cenários em que ficou muito difícil manter o que foi acordado 
com o cliente? É muito ruim, não é mesmo? Só que, às vezes, isso ocorre por 
situações fora do nosso controle, concorda?
É sob essa perspectiva que quero convidá-lo a conhecer a Empresa S, 
que trabalha com o fornecimento de refeições em larga escala e que cresceu 
muito nos últimos anos tendo empresas contratadas pelo governo do Estado 
como principais clientes. Lúcia é a proprietária da empresa e a responsável 
por seu gerenciamento. Os últimos anos foram de intenso crescimento, 
pois o governo criou um programa de obras públicas em que as empresas 
de construção civil contratadas tinham a obrigação de fornecer alimen-
tação para os trabalhadores temporários, e, com isso, as encomendas dessas 
empresas com a Empresa S cresceram muito. 
Contudo, nos últimos meses, Lúcia passou a ter dificuldades em receber 
alguns pagamentos, e passou a ouvir de vários clientes que o governo, apesar 
de estar em seu último ano, estava atrasando os pagamentos para as constru-
toras que estavam realizando as obras.
No final do ano, ocorreram as eleições e o atual governador não foi 
reeleito. O ganhador da eleição estabeleceu uma equipe para estudar a 
situação fiscal do estado, e após poucas semanas de trabalho, convocou uma 
entrevista coletiva em que fez uma declaração à imprensa afirmando que o 
governo anterior havia conduzido a política fiscal de forma irresponsável, 
deixando tanto uma enorme dívida quanto uma perspectiva de déficit nas 
contas públicas para os próximos anos. 
Por conta disso o futuro governador afirmou que ele precisará imple-
mentar uma política fiscal contracionista nos próximos anos. 
A partir dessa informação, Lúcia precisa responder à seguinte pergunta: 
ela deve continuar focando as empresas contratados pelo governo como 
principais clientes ou fazer algum ajuste na estratégia da sua empresa?
Para responder a essa pergunta, você precisa entender o que é a Política 
Fiscal, como alterações nos gastos e nas receitas do governo impactam tanto a 
economia em geral como setores específicos, bem como o que leva o governo 
8
a adotar políticas expansionistas ou contracionistas. Esses conhecimentos 
lhe permitirão desenvolver habilidades de entendimento da realidade e de 
projeção de cenários futuros, sendo fundamental a sua dedicação, ok? 
Boa aula!
Não pode faltar
Olá, tudo bem? Os temas desta aula estarão muito próximos do seu dia a 
dia, já que nossas discussões seguirão uma linha muito específica: a análise da 
atuação do governo. Assim, iremos estudar como o governo pode influenciar 
a atividade econômica por meio da política fiscal entendendo suas razões e 
seus objetivos. De forma simples, podemos dizer que a política fiscal envolve 
os gastos do governo e as receitas do governo (advindas da tributação). 
A expansão dos gastos públicos para a recuperação dos Estados Unidos, 
após a Grande Crise de 1929, tornou hegemônica a ideia de usar os gastos 
governamentais como indutores do crescimento econômico, ou seja, todas 
as vezes que a economia tivesse sua atividade produtiva reduzida, enfren-
tando altos níveis de desemprego, o governo deveria recorrer à Política Fiscal 
expansionista, ou seja, aumentar os gastos públicos e diminuir os tributos, 
o que estimularia a demanda agregada (intenção de compra dos agentes 
econômicos), fazendo com que as empresas voltassem a contratar novos 
funcionários para ampliar a produção (OLIVEIRA, 2018).Assimile
Quando o governo aumenta os seus gastos ou diminui os tributos 
(impostos, taxas e contribuições), ele está fazendo Política Fiscal expan-
sionista, o que aumenta a atividade econômica e, consequentemente, 
o nível de emprego.
Esse processo ocorre da seguinte forma: imagine que o governo decida 
construir um novo porto (ampliando seus gastos). Para essa obra, ele contra-
tará uma empresa que, por sua vez, irá contratar trabalhadores, adquirir (ou 
alugar) máquinas, comprar matérias-primas, contratar o serviço de outras 
empresas, etc. Percebe que esse processo ampliará a produção de diversas 
empresas (aumentando a renda correspondente aos pagamentos pela utili-
zação dos recursos produtivos), bem como gerará empregos? 
Da mesma forma, a política fiscal expansionista pode ser feita com uma 
redução dos tributos, que fará com que os consumidores se interessem por 
comprar mais bens e serviços, pois estarão com sua renda disponível maior. 
9
Ou seja, esse aumento da Demanda Agregada (causado pelo aumento da 
Renda Disponível, como consequência da diminuição tributária) resultará 
em um aumento da produção de bens e serviços, diminuindo o desemprego 
do país.
Exemplificando
Imagine se o governo reduzisse a alíquota do Imposto de Renda Pessoa 
Física de 7,5% para 2% para pessoas que ganham R$ 2.500,00 por mês. 
Isso faria com que o seu imposto pago passasse de R$ 187,50 para 
R$ 50,00. Dessa forma, a Renda Disponível (Renda Recebida menos 
Tributos pagos) dessa pessoa passaria de R$ 2.312,50 para R$ 2.450,00. 
Esse aumento de R$ 137,50 (ou seja, essa ampliação da Renda Dispo-
nível) liberaria mais recursos para essa pessoa que seriam utilizados 
para a aquisição de mais bens e serviços, o que traria incentivo para as 
empresas produzirem mais, reduzindo o nível de desemprego do país.
A política fiscal contracionista opera de forma inversa: o governo diminui 
os seus gastos e/ou aumenta a carga tributária. Com isso, temos menor ativi-
dade produtiva (menos obras são realizadas, menos automóveis são vendidos, 
menos pessoas vão jantar fora, etc.) e, em consequência, menos empregos são 
gerados e menos riqueza é criada. Pode parecer estranho que um governo 
realize uma política que reduz a atividade econômica, e você irá entender em 
breve esse processo, mas, para isso, em primeiro lugar, é preciso conhecer os 
indicadores dos resultados fiscais de um país. Vamos a eles?
Da mesma forma que eu, você e todas as empresas, o governo precisa 
que suas receitas sejam maiores do que suas despesas. Quando isso acontece, 
ocorre um superávit nas contas públicas. Já o déficit surge quando o governo 
gasta mais do que arrecada. Esses são chamados indicadores de fluxo, pois 
comparam os valores das receitas e dos gastos públicos, apresentando o 
resultado desse saldo em um determinado período.
E se o governo continuar gastando mais do que arrecada ou se toma 
algum empréstimo para realizar uma obra? Isso resultará em dívida, que é 
um conceito de estoque, ou seja, déficits ou superávits irão alterar o tamanho 
da dívida pública. Agora, antes de avançarmos para entender melhor a 
contabilidade pública, precisamos compreender a diferença entre o resultado 
nominal e o resultado primário. Vamos lá?
O resultado primário recebe esse nome por excluir os pagamentos ou 
recebimentos relativos aos juros da dívida, ou seja, indica o saldo das opera-
ções que resultam em endividamento “novo” ou “primário”. Pode também 
10
ser entendido como a diferença entre receitas e despesas não financeiras 
(sem juros), bem como pode ser superavitário ou deficitário. A importância 
desse indicador de fluxo é que ele mostra o nível de comprometimento da 
autoridade fiscal na amortização da dívida pública, ou seja, quanto que um 
país está conseguindo economizar para pagar os juros da dívida (TESOURO 
NACIONAL, 2017), podendo ser medido também em porcentagem do PIB.
Exemplificando
Imagine que, em janeiro, o governo arrecadou R$ 100,00 e gastou R$ 
120,00, apresentando, portanto, R$ 20,00 de déficit público. Esse valor 
fez com que o governo acumulasse (estoque) R$ 20,00 de dívida pública, 
que foi acrescida de juros (por exemplo, mais R$ 5,00), pois o governo 
precisou pegar dinheiro emprestado para acertar essa pendência finan-
ceira. No mês seguinte, em fevereiro, o resultado público do governo 
(receitas menos despesas) deverá apresentar um superávit primário, 
sobrando dinheiro para o pagamento dos juros da dívida que foi 
acumulada no mês anterior (por exemplo, se o governo, em fevereiro, 
arrecadar R$ 110,00 e gastar R$ 108,00, ele poderá usar esse superávit 
primário de R$ 2,00 para pagar parte dos juros (no valor de R$ 5,00) que 
recaem sobre sua dívida). Isso mostrará aos participantes do mercado 
que o governo está conseguindo organizar suas contas públicas para 
evitar que sua dívida continue crescendo.
Já o resultado nominal inclui o pagamento de juros sobre o fluxo de 
receitas e despesas do governo, e de forma similar, pode ser superavitário 
ou deficitário. No exemplo anterior, mesmo que o governo tenha apresen-
tado superávit primário de R$ 2,00, ele terá um déficit nominal de R$ 3,00 
– correspondente a R$ 110,00 (arrecadados em fevereiro) menos R$ 113,00 
(o total de R$ 108,00 gastos em fevereiro acrescidos de R$ 5,00 referentes aos 
juros da dívida). Déficits nominais, obviamente, não são bons, mas o déficit 
primário é pior, pois implica crescimento da dívida do governo.
Reflita
O governo pode apresentar um resultado primário superavitário e, ao 
mesmo tempo, um resultado nominal superavitário? Se sim, quando 
isso acontece? Reflita sobre o assunto.
O padrão das contas públicas brasileiras era apresentar superávit primário 
e déficit nominal, ou seja, apesar do volume gasto para o pagamento da dívida 
ser elevado, os resultados permitiam alguma economia para o pagamento 
11
dos juros da dívida. Contudo, a partir de 2014, o Brasil passou a apresentar 
déficits primários, o que resultou em grande elevação da dívida, conforme 
pode ser visto nas figuras 4.1 e 4.2:
Figura 4.1| Resultado primário e nominal do governo central – 2008 a 2018 – em R$ bilhões
Fonte: adaptada de Tribunal de Contas da União ([s.d.]).
Figura 4.2 | Dívida bruta do governo geral – 2008 a 2019 – em % do PIB
Fonte: adaptada de Banco Central ([s.d.]). 
A dívida bruta do governo geral abrange o total dos débitos de responsa-
bilidade do Governo Federal, dos governos estaduais e dos governos munici-
pais junto ao setor privado, ao setor público financeiro e ao resto do mundo 
(BRASIL, 2019a; 2019b) e alcançou um valor de R$ 5,431 trilhões, em março 
de 2019, o que correspondeu a 78,4% do PIB (OLIVEIRA, 2019). Essa relação 
entre dívida e PIB é a maior da série histórica, iniciada em dezembro de 2001 
(OLIVEIRA, 2019).
12
O crescimento recente da dívida é o resultado de uma combinação de 
três fatores: os sucessivos resultados primários negativos (causados pelo 
excessivo aumento de gastos), o baixo crescimento do PIB (que causam uma 
diminuição na arrecadação tributária) e os juros pagos. Em 2018, os juros 
nominais pagos pelo governo alcançaram R$ 379,2 bilhões, o que equivale a 
5,6% do PIB, colocando o Brasil entre os cinco mais endividados dos países 
emergentes (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, [s.d.]). A evolução dos 
gastos públicos no Brasil é mostrada na Figura 4.3.
Figura 4.3 | Despesas Primárias do Governo Federal em R$ Bilhões – 1998 a 2018
Fonte: Tesouro Nacional ([s.d.]). 
Precisamos agora responder a uma pergunta muito importante: como o 
Brasil chegou a esse ponto? A utilização da política fiscal expansionista como 
indutora do crescimento foi intensivamente utilizada por diversos países, 
incluindo o Brasil, durante boa parte do século XX. Contudo, tanto aqui 
quanto em outros países, o processo não foi conduzido de forma respon-
sável, pois levou a um aumento de gastos públicos sem correspondência nas 
receitas, gerando desequilíbrio e consequentes déficits fiscais. Em vez de 
adotar uma políticafiscal restritiva (para reequilibrar as contas públicas), 
boa parte dos governos optou por financiar esses déficits fiscais por meio de 
emissão de moeda ou empréstimos externos, o que gerou a crise da inflação 
e da dívida externa nos anos 1980 e 1990, no Brasil. 
Esse processo começou com Juscelino Kubitschek, manteve-se com 
os militares e depois no governo Sarney. Os dois mandatos de Fernando 
13
Henrique Cardoso e o primeiro mandato de Lula foram de responsabilidade 
fiscal (apresentar superávits primários), mas a partir da crise mundial de 
2008, os gastos do governo brasileiro dispararam e, mesmo com o aumento 
da arrecadação, o país passou a enfrentar déficits primários, desde 2014. 
Desde o impeachment de Dilma, os governos Temer e Bolsonaro tem feito 
esforços para reverter esse quadro, mas existe muitas dificuldades. 
O esforço para se garantir despesas em um nível menor do que o das 
receitas é essencial para o equilíbrio financeiro, tanto das pessoas quanto das 
empresas. Em relação aos governos, é importante lembrar que é o dinheiro 
de todos os contribuintes que é usado para pagar os gastos públicos. Por isso, 
o desejável é sempre buscar um resultado primário com superávit, a fim de 
se gerar uma “poupança” para pagar os juros da dívida pública e reduzir o 
endividamento do governo no médio e longo prazos.
Atenção
O crescimento da dívida traz menor credibilidade e afasta investidores 
que ficarão temerosos quanto ao futuro do País.
É por isso que, quando os resultados fiscais estão ruins, governos respon-
sáveis optarão por uma política fiscal restritiva (contracionista), mesmo que 
ocorra redução da atividade econômica no curto prazo.
Vale destacar que fica claro, nesse ponto, o trade-off entre inflação e cresci-
mento econômico: o aumento dos gastos do governo e a diminuição dos 
impostos geram um aumento da atividade econômica (elevando o emprego), 
contudo, isso pode trazer o crescimento da inflação. Por outro lado, quando 
a inflação está elevada, uma das formas de controlá-la é reduzir os gastos 
do governo e aumentar os impostos, que reduzem a atividade econômica e, 
consequentemente, o emprego.
Assimile
O aumento da Demanda Agregada resultante de uma política fiscal 
expansionista acontece numa velocidade maior do que o aumento da 
Oferta Agregada, o que traz inflação.
E como está a questão fiscal brasileira? Infelizmente, nada bem. De 
forma resumida, podemos dizer que tanto a arrecadação quanto os gastos 
governamentais brasileiros têm problemas de quantidade e de qualidade, ou 
seja, a política fiscal brasileira apresenta algumas injustiças que precisam ser 
corrigidas. Na verdade, há quatro problemas fundamentais na política fiscal 
14
brasileira, dois em relação aos gastos e dois em relação às receitas. Vamos 
começar falando da arrecadação? 
Grande parte do volume arrecadado com tributos no Brasil vem de 
impostos sobre o consumo, ao contrário de países de tributação mais justa, 
onde os impostos sobre a renda e sobre a posse representam uma parcela 
muito mais significativa. Além disso, os impostos sobre o consumo aumentam 
o custo dos produtos e prejudicam ainda mais as famílias mais pobres.
Exemplificando
Imagine que o imposto inserido em uma latinha de cerveja seja de 18%. 
Se uma latinha dessas é vendida por R$ 10,00, qualquer consumidor 
paga R$ 1,80 (18% desses R$ 10,00) de imposto. Assim, se uma pessoa 
ganha R$ 1.800,00 e compra uma latinha de cerveja, ela está compro-
metendo 0,1% de sua renda (R$ 1,80 dividido por R$ 1.800,00) para o 
pagamento de imposto a cada cerveja adquirida, enquanto uma pessoa 
que ganha R$ 7.200,00 por mês compromete 0,025% de sua renda com 
imposto (R$ 1,80 dividido por R$ 7.200,00) a cada latinha adquirida. Ou 
seja, proporcionalmente (à renda), pagar R$ 1,80 é mais “pesado” para 
quem ganha R$ 1.800,00 por mês do que para quem ganha R$ 7.200,00 
por mês. Isso comprova que os impostos sobre o consumo (que são 
a maioria no Brasil) são mais injustos, em termos de capacidade de 
pagamento.
O segundo problema é que nossa carga tributária (percentual total de 
tributos, com relação ao PIB, pago por todas as empresas e pessoas físicas do 
país) é extremamente elevada quando comparada a outros países (se os gastos 
públicos são tão elevados, isso não poderia ser diferente, não é mesmo?), e a 
nossa legislação é uma das mais complexas do mundo, o que faz com que as 
empresas sejam obrigadas a contratar uma grande quantidade de advogados 
e contadores em vez de administradores e engenheiros, por exemplo. Esse 
aspecto diminui muito nossa competitividade, o que desestimula outros 
empreendedores a abrirem empresas no país. 
Para solucionar esse problema, em termos gerais, é necessário promover 
uma reforma tributária que simplifique os tributos, tornando o peso maior 
sobre impostos de Renda e propriedade e diminuindo o peso dos Impostos 
sobre consumo, pois a simplicidade do sistema tributário é fator crucial 
para o desenvolvimento de negócios em qualquer país. No Brasil, as áreas 
tributárias, que não geram nenhum valor para as empresas, são tão grandes 
quanto áreas estratégicas, como marketing e logística (ENDEAVOR BRASIL, 
2019). Em 2019, no ranking elaborado pela Endeavor, o Brasil manteve-se 
15
entre os 10 piores países do mundo em horas utilizadas para o pagamento 
de tributos, ocupando o 184º lugar, mesmo com a queda de 1.958 horas, em 
2018, para 1.500 horas, em 2019 (ENDEAVOR BRASIL, 2019). Em 2017, na 
Argentina, por exemplo, o tempo médio era de 311,5 horas/ano, enquanto 
no México, o número caia para 240,5 horas/ano (MOVIMENTO BRASIL 
COMPETITIVO, 2017).
Por parte dos gastos, o primeiro problema é o grande volume dos gastos 
públicos, causado pelo enorme tamanho do Estado brasileiro. Se isso signi-
ficasse bons serviços, tudo bem, mas essa não é a realidade, não é mesmo? 
O outro aspecto é que boa parte do orçamento público está engessado por 
gastos obrigatórios cujo crescimento independe do volume arrecadado. 
Como consequência, eles estão correspondendo a uma parcela cada vez 
maior do PIB com crescimento, cada vez mais destacado, dos gastos previ-
denciários, que cresceram a uma média de 13,7% ao ano entre 1995 e 2017, 
muito acima da inflação (ROQUE, 2019). 
Figura 4.4 | Evolução de quatro rubricas das despesas correntes do governo federal 2000 a 
2018:
Fonte: adaptada de Brasil (2019a; 2019b).
Assimile
Os gastos do governo brasileiro são elevados e o orçamento público é 
engessado (travado) por gastos obrigatórios concentrados nas despesas 
correntes (aquelas de custeio para a manutenção das atividades da 
administração pública, como os gastos com: pessoal, juros da dívida, 
previdência, serviços terceirizados, energia, telefone, etc.), que são de 
difícil redução, em caso de queda da arrecadação.
Pelo lado da receita, os tributos são complexos e grande parte da carga 
tributária é de impostos indiretos.
16
Esse problema já é conhecido há muito tempo, e muitos estudos indicam a 
necessidade de amplas reformas para se corrigir essas distorções que limitam 
o crescimento da nossa economia. Por exemplo, a diretora-gerente do Fundo 
Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, apontou a necessidade 
de uma reforma tributária que restaure a sustentabilidade fiscal, além de 
reformas estruturais que melhorem o crédito, a infraestrutura e a liberali-
zação do comércio (BASILE, 2018). Além dessas, reafirmou a importância 
da reforma da Previdência Social e a continuidade da política monetária para 
estimular a economia (BASILE, 2018).
O reflexo dessa situação pode ser visto no valor destinado a investimentos 
públicos (aplicações de recursos do Estado que impulsionam o desempenho 
econômico – como as feitas em: infraestrutura de transporte, energia, 
comunicação, saneamento, pesquisa e desenvolvimento, etc. – estimulando 
o investimento privado), que apresentou queda significativa a partir de 2010, 
como pode ser visto na Figura 4.5:
Figura 4.5 | Gastos do governo federal com investimentos2000 a 2017
Fonte: adaptada de Brasil (2019a; 2019b). 
Percebe o quanto a Política Fiscal pode influenciar o desempenho econô-
mico de um país? Por isso, é importante que você estude os materiais desta 
disciplina para se aprofundar nesses conhecimentos que poderão fazer muita 
diferença na sua carreira. Bons estudos!
Sem medo de errar
Muito bem, agora que você já entendeu os desafios relativos à política 
fiscal, é hora de ajudar a resolver a questão enfrentada pela Lúcia. Vamos 
17
relembrar a situação? Ela é a proprietária e a gerente da Empresa S que 
fornece refeições em larga escala e que cresceu muito nos últimos anos tendo 
as empresas contratadas pelo governo do Estado como principais clientes.
Apesar dos últimos anos terem sido de intenso crescimento, nos últimos 
meses, a empresa enfrentou dificuldades em receber alguns pagamentos e 
passou a ouvir de vários clientes (construtoras que prestam serviço para a 
esfera pública) que o governo estava atrasando os pagamentos.
Seus temores aumentaram quando, após as eleições perdidas pelo atual 
governador, o candidato ganhador declarou em entrevista coletiva que, após 
estudo realizado pela equipe de transição, precisaria adotar uma política 
fiscal restritiva nos próximos anos, pois o governo anterior havia conduzido 
a política fiscal de forma irresponsável, deixando tanto uma enorme dívida 
quanto uma perspectiva de déficit nas contas públicas para os próximos anos. 
Diante desse cenário, a pergunta que Lúcia precisa responder é: ela deve 
continuar focando as empresas contratadas pelo governo como principais 
clientes ou fazer algum ajuste na estratégia da sua empresa?
Desequilíbrios fiscais são enfrentados por governos comprometidos 
a resolver esses problemas por meio de medidas de austeridade. Por isso, 
a redução dos gastos do governo estadual é certa! Continuar apostando 
nas empresas contratadas pelo Estado como clientes confiáveis não é uma 
estratégia viável. Por isso, a empresa precisa se preparar para um cenário de 
redução da demanda, já que as políticas fiscais contracionistas diminuirão a 
atividade econômica, tanto pela redução dos gastos do governo quanto pelo 
aumento nos tributos.
Perceba a importância de se conhecer os mecanismos à disposição do 
governo que compõem a política fiscal e os efeitos que eles causam sobre a 
economia como um todo e sobre empresas específicas em particular. Além 
disso, note como esse conhecimento está ligado a situações reais e como o 
domínio desses assuntos fará diferença na sua vida profissional.
Faça valer a pena
1. O termo custo Brasil refere-se a uma série de aspectos que dificultam a 
exportação de produtos brasileiros ou a competição de produtos nacionais 
com os produtos importados. Para a diminuição desses custos, é necessária 
a realização de reformas.
Em relação à arrecadação tributária brasileira, quais aspectos fundamentais 
têm sido obstáculos e, por isso, precisam ser alterados?
18
a. A maior parte da arrecadação vir de impostos sobre renda e posse; e a 
complexidade dos tributos que eleva nossa competitividade.
b. A maior parte da arrecadação vir de impostos sobre o consumo; e a 
complexidade dos tributos que diminui nossa competitividade.
c. A maior parte da arrecadação vir de impostos sobre o consumo; e a 
simplicidade dos tributos que diminui a arrecadação.
d. Os elevados gastos do governo com a aposentadoria de políticos e 
militares; e a falta de investimentos em educação.
e. A elevada desvalorização da moeda nacional que dificulta nossas 
exportações; e a legislação que dificulta a condenação de corruptos. 
 2. Em artigo recente, Marcos Lisboa, Marcos Mendes e Marcelo Gazzano 
apontaram que “em 2013 e 2014, a economia brasileira desacelerou apesar 
da forte expansão dos gastos públicos. O déficit primário estrutural saiu de 
um resultado próximo de zero em 2013 para um déficit de quase 2% do PIB, 
e isso não impediu que entrássemos em uma das maiores recessões de nossa 
história” (LISBOA; MENDES; GAZZANO, 2019, [s.p.]).
Tomando como referência os efeitos de uma política fiscal excessivamente 
expansionista no Brasil ao longo do século XX, classifique as afirmativas a 
seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas.
( ) O aumento de gastos públicos levou a déficits fiscais.
( ) Os déficits fiscais foram financiados pela desvalorização cambial.
( ) O financiamento da dívida pública com aumento da quantidade de moeda 
ajudou a controlar a inflação.
( ) A diminuição da intenção de compra contribuiu para aumentar a inflação.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de classificação, de 
cima para baixo.
a. V – F – F – F.
b. F – V – F – F.
c. V – V – V – F.
d. V – F – V – V.
e. F – F – V – V.
19
3. A política fiscal ocupa um papel central nos instrumentos que o governo 
tem à sua disposição para atuar na economia, em especial no estímulo à 
atividade econômica. A política fiscal brasileira apresenta alguns problemas 
graves e de difícil solução.
Tomando como referência os problemas fiscais brasileiros, classifique as 
afirmativas a seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas
( ) Gastos públicos crescentes.
( ) Orçamento público engessado por gastos obrigatórios.
( ) A maior parte da arrecadação vem de impostos sobre a renda.
( ) Sistema tributário complexo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de classificação, de 
cima para baixo. 
a. V – V – F – V. 
b. F – F – F – V.
c. F – F – V – V.
d. V – V – V – F.
e. V – F – V – F.
20
Seção 2
Política monetária e política de rendas
Diálogo aberto
Olá, tudo bem? Você já percebeu que, de alguns anos para cá, as manchetes 
sobre a inflação não são mais tão frequentes? Você saberia dizer se isso é bom 
ou ruim? E sobre a taxa SELIC, você já ouviu falar? Sabia que o resultado de 
muitos negócios é afetado pelos juros? Essas e outra importantes perguntas 
serão respondidas neste encontro.
Para nos ajudar a respondê-las, quero que você conheça a Eliane, que 
concluiu o curso superior e recentemente fez uma pós-graduação em 
gestão de empresas. Ela recebeu a notícia de que seus pais e tios juntaram 
as economias de vários anos e compraram a Empresa C, uma loja que vende 
eletrodomésticos que estava à beira da falência. Logo em seguida, Eliane foi 
convidada a ser o sócio-gerente da empresa, mas, como não tinha recursos 
financeiros para investir, sua parte na sociedade seria adquirida pelas suas 
horas de trabalho. Com isso, ela precisaria fazer a empresa ter sucesso para 
ter alguma remuneração.
Ao analisar as contas da empresa, Eliane percebeu que o fracasso da 
gestão anterior teve duas causas: a empresa tinha problemas sérios de gestão; 
e ela acabou enfrentando um grave momento de recessão no país (fruto de 
um período de sucessivas políticas monetárias contracionistas), tendo uma 
elevada dívida com fornecedores, um grande volume de produtos em estoque 
e gastos fixos elevados. 
Eliane sabe que terá o apoio da família para realizar as mudanças que 
a Empresa C precisa, mas estava em dúvida sobre o cenário econômico, e 
procurou se informar sobre o panorama atual e as perspectivas futuras. Sua 
pesquisa indicou que as políticas contracionistas foram necessárias para 
controlar a inflação, mas, que agora, como a inflação do país está sob controle, 
as expectativas dos agentes são bastante positivas para que o governo passe a 
promover política monetária expansionista. Frente a essa expectativa sobre 
a economia do país, e sabendo que um aquecimento da atividade econômica 
é fundamental para a recuperação financeira da Empresa C, Eliane poderia 
se beneficiar dessa política monetária expansionista para fazer a empresa 
vender mais? E sobre a dívida acumulada da Empresa C: Eliane teria mais 
facilidade em pagá-la, caso o governo faça política monetária expansionista? 
Por qual motivo?
21
Para responder a essas perguntas, você precisará entender os conceitos 
fundamentais da política monetária, bem como diferenciar os motivos que 
levamos governos a aplicarem uma política expansionista ou contracionista, 
bem como os efeitos de cada uma dessas políticas. Esses conhecimentos 
são fundamentais para quem quer assumir posições de comando dentro de 
qualquer empresa. É esse o seu caso? Então, vamos lá! 
Não pode faltar
Olá, como você está? Chegou o momento de conhecermos uma política 
essencial que mostra a atuação do governo na economia: a política monetária. 
Vamos a ela? 
Money, moneda, münze… sabe o que essas palavras têm em comum? 
Todas elas têm o mesmo significado: moeda. E é daí que vem o tema principal 
desta unidade: a política monetária. O primeiro passo para entendermos a 
mecânica desta política é entender o papel fundamental da moeda. Você sabe 
qual é? A resposta é: ser meio de troca! Não há como precisar uma data, 
mas, em algum momento da história, as pessoas começaram a perceber que 
utilizar uma mercadoria (no caso, a moeda) para facilitar o processo de troca 
diminuía o tempo gasto na realização das transações, o que liberava mais 
tempo para ser gasto em atividades produtivas e aumentava a produtividade. 
Com isso, o uso da moeda se incorporou rapidamente à vida das pessoas.
Assimile
Além de meio de troca, a moeda também tem as funções de ser reserva 
de valor e unidade de conta. A função de reserva de valor da moeda 
quer dizer que o seu poder de compra se mantém no tempo, sendo 
uma forma de se medir a riqueza. Assim, se R$ 100,00 hoje compram 
5 unidades da mercadoria A, seis meses depois, os mesmos R$ 100,00 
também poderiam ser usados para a aquisição de 5 unidades da merca-
doria A (caso não houvesse inflação nesse período). 
Já a função de unidade de conta refere-se ao fato de a moeda ser o 
referencial das trocas, ou seja, o padrão para cotação das mercadorias 
(os preços dos bens e serviços são expressos em valores monetários).
Cabe destacar que independentemente da forma como ela é utilizada 
(meio físico ou digital), a moeda continua tendo como principal função 
ser instrumento (meio) de troca.
22
Imagine
Por ser meio de troca, o dinheiro, em si, só tem valor quando há bens ou 
serviços pelos quais ele possa ser trocado. Imagine as seguintes situa-
ções que parecem roteiro de cinema, mas que ajudam a entender a 
função meio de troca do dinheiro: na primeira, um avião cai no deserto 
e não há como se comunicar com ninguém, sendo que, para se salvar, 
você precisará caminhar vários quilômetros até encontrar uma civili-
zação. Entre carregar uma caixa cheia de moedas ou água, qual seria sua 
escolha? Agora, imagine que você estivesse em um barco que naufragou 
em um local extremamente frio e você só tivesse notas (moeda) para 
acender o fogo: o que você faria? Esses exemplos mostram a função 
fundamental da moeda, que é facilitar o comércio entre os agentes; não 
havendo bens para comprar, a moeda perderia a sua função de meio 
de troca.
Depois que definimos as funções da moeda, já podemos falar sobre 
política monetária, que está relacionada com o controle da quantidade de 
dinheiro na economia, sendo que isso é feito pela autoridade monetária do 
país, o Banco Central (BC). Esse termo, autoridade monetária, tem a ver com 
o fato de que o Banco Central é o responsável por controlar a taxa de inflação, 
principalmente com o uso de política monetária. Além disso, saiba também 
que as notas e moedas não podem ser emitidas por bancos privados, pois o 
Estado possui o monopólio das emissões. 
Nós já citamos a inflação, mas, agora, precisamos nos aprofundar um 
pouco mais sobre esse tema. Vamos lá? Em primeiro lugar, grande parte 
da população brasileira não viveu os anos de elevada inflação, por isso não 
se lembra dos danos causados por ela: a corrosão do poder de compra dos 
trabalhadores (especialmente os de renda mais baixa) e o abandono de 
muitos investimentos produtivos (existem outros, mas esses são os princi-
pais). Vamos entender melhor esses processos?
Em uma economia com inflação elevada, a taxa de juros precisa ser alta 
para compensar a perda do valor da moeda. Isso faz com que os recursos 
deixem de ser investidos em atividades produtivas para serem direcionados 
em aplicações nos bancos. Se um agente pode receber mais de 10% ao ano, em 
um título do governo, por qual motivo ele se arriscaria a investir esse dinheiro 
na construção de uma nova fábrica, por exemplo? E tem mais: a história 
mostra que a inflação só foi controlada em muitos países após intensas crises, 
o que gera incerteza quanto ao futuro, fator que também desestimula os 
investimentos produtivos das empresas. Como resultado, muitos empregos 
23
deixam de ser gerados, a produção diminui e o país empobrece no longo 
prazo. 
A perda do poder de compra do trabalhador pode ser facilmente demons-
trada por um exemplo:
Exemplificando
Desde o início da década de 1980 até 1994, a inflação no Brasil, disparou 
com taxas chegando, em alguns momentos, a quase 100% ao mês (o 
que fazia com que o preço de alguns produtos dobrasse de um mês 
para outro). A inflação elevada obrigava que houvesse uma correção 
mensal dos salários, mas isso não mantinha o poder de compra dos 
trabalhadores, pois havia uma diferença entre o dia em que o valor do 
salário era definido (dia 20 de um mês, por exemplo) e o dia do recebi-
mento (considere que seria no dia 5 do mês seguinte). Nesse espaço 
de tempo grande parte do poder de compra se perdia. Outro dano 
ao trabalhador era que, com a inflação elevada, os preços mudavam 
diariamente, obrigando o trabalhador a fazer suas compras no mesmo 
dia do recebimento do salário, pois no dia seguinte o seu dinheiro não 
seria mais suficiente para comprar a mesma quantidade de produtos. 
Já os trabalhadores de maior renda tinham acesso a correções diárias 
de suas aplicações financeiras, o que diminua o dano da inflação para 
essas pessoas.
Por causa desses danos (o baixo nível de investimentos produtivos e a 
perda de poder de compra de boa parte da população), a inflação é consi-
derada como uma das maiores responsáveis pelo aumento da desigualdade 
social no Brasil, em especial, no período entre o início da década de 1980 
até 1994. Nessa época, o descontrole inflacionário gerou um aumento na 
desigualdade social e redução nos investimentos, piorando a condição de 
vida da população. Por isso, o controle da inflação, a partir de 1994 (fruto do 
Plano Real), permitiu que o efeito de outras políticas públicas fosse intensifi-
cado na redução da desigualdade social registrada no Brasil, a partir do final 
do século passado.
Desde 1999 o Brasil está sob o regime de metas de inflação para orientar 
sua política monetária. Mas você sabe o que isso quer dizer? A meta se refere 
à inflação acumulada em um ano e utiliza o IPCA (Índice Nacional de Preços 
ao Consumidor Amplo) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE). A cada mês de junho, o Conselho Monetário Nacional 
(CMN) define a meta para a inflação dos três anos seguintes: por exemplo, 
em junho de 2019, o CMN definiu a meta para 2022. A partir da definição do 
24
valor dessa meta, há um intervalo de tolerância, também definido pelo CMN 
(ou seja, há um percentual para cima e para baixo do valor da meta, que a 
inflação pode atingir, sem comprometer a meta inflacionária prevista). Nos 
últimos anos, o intervalo definido pelo CMN tem sido de 1,5% para cima e 
para baixo.
Exemplificando
A meta da taxa da inflação brasileira informada pelo Banco Central para 
2020 é de um IPCA de 4,00% ao ano, com uma tolerância de 1,5%, ou 
seja, aceita-se que a inflação anual do Brasil em 2020 fique dentro do 
intervalo de 2,5% (4% da meta menos 1,5% da tolerância) a 5,5% (4% da 
meta mais 1,5% e tolerância) (BCB, 2019). Para 2021, a meta anual é de 
3,75% e de 3,5% para 2022 (BCB, 2019).
No final de cada ano, se a inflação estiver fora do intervalo de tolerância, 
o presidente do Banco Central tem que enviar carta aberta ao Ministro da 
Fazenda e presidente do CMN, que apresente as razões do descumprimento 
da meta, bem como as providênciasa serem tomadas para normalizar a 
situação. Além disso, ele deve informar o prazo esperado para que as provi-
dências surtam efeito.
O estabelecimento das metas inflacionárias reduz incertezas e melhora 
a capacidade de planejamento das famílias, empresas e governo, pois a meta 
pode funcionar como uma âncora para as expectativas dos agentes sobre a 
inflação futura, desde que desvios da inflação em relação à meta sejam corri-
gidos pelo BC. Dessa forma, a redução da incerteza faz com que as pessoas 
possam planejar melhor seu futuro e as famílias não tenham sua renda real 
corroída, o que acaba contribuindo para o crescimento da economia no 
longo prazo.
Assimile
O regime de metas de inflação é utilizado por diversos países com 
o objetivo de estabelecer um ambiente de previsibilidade para a 
economia. O Brasil utiliza esse regime desde 1999.
A Figura 4.6 mostra a meta (linha contínua no meio do gráfico), os limites, 
superior e inferior (linhas tracejadas acima e abaixo da meta, respectiva-
mente), e o comportamento do IPCA (linha que sobe e desce e, efetivamente, 
mostra o comportamento da inflação, ao longo dos anos), de dezembro de 
2009 até dezembro de 2019, bem como a projeção do mercado para 2020. 
25
Figura 4.6 | Comportamento da inflação
Fonte: BCB ([s.d.]). 
A inflação pode ter diferentes causas. Vamos conhecer uma das princi-
pais? Para isso, vamos adaptar a ideia desenvolvida por Milton Friedman, 
prêmio Nobel de economia: imagine uma ilha onde não ocorra nenhuma 
importação e exportação, ou seja, todos os produtos produzidos na ilha são 
vendidos ali, bem como tudo aquilo que é consumido na ilha é produzido 
ali dentro (ou seja, não há exportação nem importação). Há uma moeda na 
ilha, cuja função principal é servir de instrumento de troca. Um dia, de forma 
inesperada, cai dinheiro do céu (de forma literal), de forma que cada um 
dos habitantes da ilha tenha um aumento instantâneo de renda de 20%. O 
resultado desse aumento de renda será um aumento na demanda (intenção 
de compra de bens e serviços). Os vendedores, ao perceberem esse aumento 
na demanda, vão trazer um aumento nos preços daquilo que vendem, pois é 
mais fácil (e rápido) ampliar os preços do que aumentar a quantidade produ-
zida. Como os habitantes tiveram um aumento de renda, o resultado será 
que o preço dos produtos e serviços negociados na ilha sofrerá um aumento 
na mesma proporção do aumento da quantidade de moeda em circulação 
(MEDEIROS, 2019). Interessante, não é mesmo? 
Essa é uma situação imaginária, mas cujas conclusões são muito úteis: 
perceba que o aumento da quantidade de moeda em circulação não gerou 
26
aumento efetivo na renda (nem da produção), apenas da inflação, pois 
o aumento nos preços fez com que a capacidade de compra da população 
não se alterasse (MEDEIROS, 2019). A principal constatação dessa história 
apresentada é que sempre que ocorre um aumento da oferta de moeda 
(estoque total de moeda na economia) que não corresponda a um aumento 
na quantidade produzida em um país, não haverá aumento na renda, apenas 
na inflação (MEDEIROS, 2019).
Reflita
Além do excesso de moeda (relacionado à política monetária), o 
aumento do gasto público e a redução de tributos (que configuram uma 
política fiscal expansionista) também trazem inflação (por aumentarem 
a intenção e compra por bens e serviços). Dessa forma, qual a impor-
tância de uma harmonia entre as políticas fiscal e monetária? Em que 
medida ações populistas de estímulo ao consumo ou de redução de 
impostos podem comprometer o combate à inflação e acabar gerando 
instabilidades e crises?
Por isso que foi exposto até aqui (o excesso de moeda causa inflação), os 
instrumentos da política monetária tentam reduzir a quantidade de moeda 
em circulação para controlar o aumento generalizado e persistente dos preços 
(a inflação). Mas quais as ferramentas mais importantes para controlar a 
quantidade de dinheiro em circulação?
Vamos ver duas ferramentas, que correspondem aos dois principais instru-
mentos utilizados pelo BC para controlar a quantidade de moeda e, conse-
quentemente, a inflação: a taxa de juros e as condições de oferta de crédito, 
especialmente a taxa de recolhimento compulsório dos bancos comerciais.
Você lembra que a moeda tem como principal função ser meio de troca? 
E se a considerarmos como uma mercadoria, qual, então, seria o seu preço? 
Se você pensou em taxa de juros, acertou, pois, de forma similar aos bens 
e serviços, é a taxa de juros (ou, o preço do dinheiro) que vai equilibrar as 
forças de demanda e oferta de moeda. Pense em um mercado simples: quanto 
mais pessoas oferecerem recursos monetários para serem emprestados, 
menor será a taxa de juros (ou seja, menor será o preço do dinheiro). Por 
outro lado, quanto mais gente quiser tomar dinheiro emprestado, maior será 
a taxa de juros (o preço desse dinheiro será maior). Assim, em um mercado 
em que não houvesse intervenção do governo na taxa de juros, a interação 
entre os agentes determinaria a taxa de juros de equilíbrio. 
27
Contudo, o Banco Central é um agente com tanto poder que as taxas de 
juros que ele utiliza (para remunerar os títulos públicos) acabam por balizar 
as taxas aplicadas por outros agentes. Quer ver? Existe uma taxa muito 
conhecida sobre a qual você já deve ter ouvido falar: a SELIC, que é a taxa 
de financiamento do Tesouro Nacional para operações financeiras feitas de 
um dia para o outro, utilizada nos empréstimos que ocorrem entre os bancos 
ao final de cada dia. O lastro dessa taxa são justamente os títulos públicos 
federais, listados e negociados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia 
(SELIC).
Agora, imagine que você dispõe de um recurso para investimento e 
pode emprestá-lo para o governo (comprando um título público). Você 
só vai emprestar esse dinheiro ao governo (comprar um título público), se 
ele trouxer uma remuneração atrativa para você (ou seja, se os juros forem 
altos). Assim, se os juros forem altos (se taxa SELIC estiver alta), você vai 
preferir emprestar recursos ao governo, em vez de manter o dinheiro consigo 
mesmo (para adquirir bens e serviços), ou seja, ao adquirir títulos públicos 
do governo, o dinheiro que está em circulação diminui (o dinheiro deixa de 
ser usado por você para a aquisição de um bem ou serviço, sendo utilizado 
para a aquisição de um título governamental). 
E se o governo aumenta a taxa SELIC, o que acontece no mercado produ-
tivo? Lembre-se que grande parte das compras das empresas (equipamentos, 
instalações etc.) tem valor (preço) unitário elevado, o que também acontece 
com alguns itens adquiridos pelas famílias (eletrodomésticos, automóveis, 
casa própria etc.). Assim, esses bens mais caros, normalmente, são adqui-
ridos de forma parcelada. Por esse motivo, se houver um aumento da taxa de 
juros, o valor à vista desses bens não muda, mas o valor das parcelas crescerá 
(caso a compra tenha acontecido a prazo). Isso levará a uma diminuição na 
demanda (intenção de compra) por esses produtos, forçando os empresários 
a diminuírem o preço que estão cobrando pelas suas mercadorias (ou seja, 
haverá um deslocamento da curva da demanda agregada para a esquerda, o 
que fará com que o novo preço de equilíbrio do mercado seja menor). 
Cabe destacar também que, além disso, quando a taxa de juros está maior, 
muitos investidores direcionam seus recursos monetários para investimentos 
nos bancos (por meio de aplicações financeiras que são remuneradas com 
juros), em vez de utilizá-los em investimentos produtivos (assim, a aquisição 
de máquinas e equipamentos para aumentar a produção é menor, o que 
diminui a produção desses bens, aumentando o desemprego). 
Dessa forma, quando o governo vende um título público, ele está fazendo 
política monetária contracionista (ou seja, ele está retirando moeda de 
circulação da economia), cujo principal objetivo é o controle da inflação. 
28
Contudo, outro efeito dessa política é a diminuição da atividade produtiva, 
que aumentao desemprego.
Em contrapartida, o governo pode fazer política monetária expansionista 
(ou seja, aumentar a quantidade de moeda em circulação), comprando de 
volta os títulos públicos. Mas como isso acontece? Depois de 5, 10 anos que 
o governo vendeu um título público, ele deve comprá-lo de volta, pagando o 
seu valor inicial com o acréscimo de juros. Quando isso acontece, o governo 
coloca moeda na mão daqueles que detinham o título público, o que faz o 
preço do dinheiro (ou seja, a taxa de juros, cair). Com juros menores, os 
agentes econômicos vão querer comprar mais mercadorias, o que é ótimo 
para a produção e para o emprego, mas é ruim para a inflação (os preços 
tendem a subir). Assim, quando o governo compra um título público, ele está 
fazendo política monetária expansionista (ou seja, ele está colocando mais 
moeda em circulação da economia), sendo que os efeitos dessa política são 
a ampliação inflacionária e o aumento da atividade produtiva, que diminui 
o desemprego. 
Os efeitos negativos (aumento da inflação) da política monetária expan-
sionista são o motivo principal de o governo não imprimir mais dinheiro para 
dar aos pobres (certamente, em algum momento da sua vida, você já deve ter 
se perguntado por qual motivo o governo não imprime mais dinheiro para 
repassar aos mais necessitados, certo?). Essa outra forma de fazer política 
monetária expansionista (emitir mais moeda) ampliaria a quantidade de 
moeda em circulação que culminaria, no final do processo, em um aumento 
violento de preços. Interessante, não é mesmo? 
Mas vamos pensar em uma coisa. A moeda (física) é a única forma de 
alguém pagar alguma dívida? A resposta é não! Para efetuar pagamentos, você 
pode tanto utilizar notas e moedas em meio físico quanto utilizar um dinheiro 
que está na sua conta no Banco, via transferência bancária, pagamento de 
boleto ou cheque (lembre-se que o cartão de crédito, como o próprio nome 
diz, não é moeda, apenas um facilitador do processo de pagamento). Além 
disso, não há lastro metálico em ouro ou prata que garanta a conversibilidade 
do papel-moeda, ou seja, esse sistema é integralmente fiduciário, o que signi-
fica que se baseia apenas na confiança dos agentes na moeda.
Pare para pensar um pouco: hoje, você carrega um número maior ou 
menor de notas (cédulas) do que as pessoas andavam antigamente? É quase 
certo que a quantidade é menor, correto? A razão disso é que os meios digitais 
de pagamento estão substituindo o uso de cédulas e moedas metálicas. É 
muito mais prático e seguro deixar o dinheiro no banco e pagar “no crédito 
ou no débito”, ou por outros meios digitais.
29
Sempre que falamos em recursos financeiros que são depositados nos 
bancos comerciais, precisamos falar também da taxa de compulsório (que 
também acaba sendo uma ferramenta de política monetária). Calma, o nome 
não é muito atrativo, mas seu entendimento é simples. Vamos a ele?
Existe um processo em que os bancos comerciais acabam “criando” 
moeda, que se inicia com um banco comercial recebendo um depósito de um 
cliente qualquer. Esse banco não vai guardar todo o dinheiro que foi deposi-
tado, já que repassará uma parte desses recursos financeiros para outros 
clientes que estão à procura de empréstimos bancários (essa é a atividade 
central de uma instituição bancária). O percentual a ser recolhido (ou seja, o 
percentual do dinheiro que foi depositado que o banco comercial não pode 
emprestar para outro cliente) é chamado de taxa de reserva compulsória de 
depósitos e é definido pelo governo. Depois de “guardar” parte do dinheiro 
que foi depositado (de acordo com a taxa de compulsório), os recursos finan-
ceiros que foram emprestados (ou seja, o valor depositado menos o que ficou 
reservado no banco comercial de forma compulsória, obrigatória) circularão 
na economia e, de alguma forma, voltarão a ser depositados, dando início a 
uma nova etapa do processo. A cada etapa, uma parcela é retida no banco e 
o restante retorna ao sistema bancário gerando outros empréstimos, o que 
amplia a quantidade de moeda (chamada de moeda escritural) na economia. 
Complicado? Que tal alguns exemplos para que você entenda melhor 
esse processo?
Imagine que o banco receba R$ 1.000,00 em 10 cédulas de R$ 100,00, de 
um depósito de um novo cliente (o cliente A). Se a taxa de reserva compul-
sória (estipulada pelo governo) for de 20%, R$ 200,00 precisam perma-
necer retidos no banco, obrigatoriamente. Os outros R$ 800,00 (R$ 1.000,00 
depositados menos R$ 200,00 retidos) ficarão à disposição do banco e serão 
emprestados para outro cliente (o cliente B, por exemplo). Agora, pense 
comigo: quando alguém (o cliente B, por exemplo) pega algum empréstimo 
no banco, essa pessoa não tem o objetivo de deixar esse dinheiro embaixo 
do colchão, concorda? Ela vai utilizá-lo para comprar alguma coisa ou saldar 
alguma dívida. Assim, imagine que o cliente B tenha pego R$ 800,00 empres-
tados no banco para um comprar um armário na Loja X. Esse dinheiro (R$ 
800,00), então, será pago pelo cliente B à Loja X, que vai depositá-lo no 
banco. Assim, temos um novo depósito no banco, de R$ 800,00, feito pelo 
cliente Loja X. Desses R$ 800,00 depositados, 20% (ou seja, R$ 160,00) são 
guardados de forma compulsória e a diferença (R$ 800,00 – R$ 160,00 = R$ 
640,00) serão emprestados a outro cliente (o cliente D, por exemplo), que o 
utilizará para pagar por uma impressora adquirida na Loja Y, que depositará 
o valor no banco. O processo continua e dos R$ 640,00 depositados pela Loja 
Y, 20% (ou seja, R$ 128,00) são reservados compulsoriamente e, a diferença, 
30
R$ 512,00, serão emprestados para o cliente E comprar uma máquina de 
café expresso na Loja W, que depositou esse valor no banco, que reservou R$ 
102,40 de forma compulsória e emprestou R$ 409,60… Este ciclo continua 
até que seu efeito multiplicador termine.
Quadro 4.1 | Criação de moeda escritural pelos bancos
Cliente de-
positário
Valor de-
positado
(R$)
Compulsó-
rio (20%)
(R$)
Dinheiro a 
ser empres-
tado (R$)
Cliente 
tomador do 
emprésti-
mo (R$)
Loja que 
recebeu o 
dinheiro
Novo 
depósito 
(R$)
Cliente A 1.000,00 200,00 800,00 Cliente B (800,00)
Loja X 
(800,00) 800,00
Loja X 800,00 160,00 640,00 Cliente D (640,00)
Loja Y 
(640,00) 640,00
Loja Y 640,00 128,00 512,00 Cliente E (512,00)
Loja W 
(512,00) 512,00
Loja W 512,00 102,40 409,60…
Total 2.952,00 590,40
Fonte: elaborado pelo autor. 
Perceba que, no exemplo trazido (ilustrado no Quadro 4.1), de uma valor 
inicial de R$ 1.000,00 em dinheiro (10 notas de R$ 100,00), foi criada moeda 
escritural adicional e, até onde podemos acompanhar pela evolução do 
Quadro 4.1, temos um total de R$ 2.952,00 nessa economia (afinal, o cliente 
A tem direito a sacar R$ 1.000,00, a Loja X tem direito a sacar R$ 800,00, a 
Loja Y tem direito a sacar R$ 640,00 e a Loja W tem direito a sacar R$ 512,00). 
Portanto, não é apenas o Banco Central (mas também os bancos comerciais) 
que consegue influenciar a quantidade de moeda na economia. Dessa forma, 
o governo também faz política monetária contracionista (diminuindo a 
quantidade de moeda na economia), se ele ampliar a Taxa de Compulsório, 
por exemplo, para 60% (Quadro 4.2), pois ele diminui o total de moeda escri-
tural criada (valor dos novos depósitos), a partir de um depósito inicial.
Em contrapartida, se o governo diminuir a taxa de compulsório (para 
10%, por exemplo, conforme Quadro 4.3), ele estará fazendo política 
monetária expansionista, pois aumentará a quantidade de moeda escritural 
criada (valor dos novos depósitos).
31
Quadro 4.2 | Criação de moeda escritural pelos bancos, com elevação da taxa de compulsório
Cliente de-
positário
Valor de-
positado
(R$)
Compulsó-
rio (60%)
(R$)
Dinheiro a 
ser empres-
tado (R$)
Cliente 
tomador do 
emprésti-
mo (R$)
Loja que 
recebeu o 
dinheiro
Novo 
depósito 
(R$)
Cliente A 1.000,00 600,00 400,00 Cliente B (400,00)
Loja X 
(400,00) 400,00
Loja X 400,00 240,00 160,00 Cliente D (160,00)
LojaY 
(160,00) 160,00
Loja Y 160,00 96,00 64,00 Cliente E (64,00)
Loja W 
(64,00) 64,00
Loja W 64,00 38,40 25,60…
Total 1.624,00 974,40
Fonte: elaborado pelo autor.
Quadro 4.3 | Criação de moeda escritural pelos bancos, com diminuição da taxa de compulsório
Cliente de-
positário
Valor de-
positado
(R$)
Compulsó-
rio (10%)
(R$)
Dinheiro a 
ser empres-
tado (R$)
Cliente 
tomador do 
emprésti-
mo (R$)
Loja que 
recebeu o 
dinheiro
Novo 
depósito 
(R$)
Cliente A 1.000,00 100,00 900,00 Cliente B (900,00)
Loja X 
(900,00) 900,00
Loja X 900,00 90,00 810,00 Cliente D (810,00)
Loja Y 
(810,00) 810,00
Loja Y 810,00 81,00 729,00 Cliente E (729,00)
Loja W 
(729,00) 729,00
Loja W 729,00 72,90 656,10…
Total 3.439,00 343,90
Fonte: elaborado pelo autor.
Além da política fiscal e da política monetária existe uma área de atuação 
do governo que precisamos conhecer: a redução da desigualdade social por 
meio da política de rendas ou política distributiva. Existe uma associação 
entre violência e desigualdade de renda (CARDIA; SCHIFFER, 2002) e a 
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) apontou 
que essa desigualdade cria obstáculos para o aumento das capacidades de 
32
consumo da população de menor renda, o que reduz a demanda de bens e 
serviços e tira o dinamismo das economias. Além disso, também gera descon-
tentamento e instabilidade política e social, que também afetam a economia 
dos países (ONU, 2019). Quantos problemas são advindos das desigualdades 
de renda, não é mesmo?
Mas como obter informações sobre a desigualdade de renda? 
Normalmente, o primeiro indicador a ser calculado é a renda per capita, que 
é obtido dividindo-se o valor do PIB pelo número de habitantes do país. Esse 
valor dá uma ideia da riqueza média gerada por habitante, mas não fornece 
informações a respeito de como essa renda é distribuída. Por isso, é neces-
sário calcular um indicador de desigualdade, e o mais conhecido deles é o 
índice de Gini, que varia de zero (igualdade absoluta) até um (desigualdade 
máxima). No Brasil, o Índice de Gini foi estimado em 0,545, em 2018, o que 
o torna um dos países mais desigual do mundo (IBGE, 2019).
A desigualdade de renda se manifesta também no fato do Brasil ter, em 
2018, cerca de 52,5 milhões de pessoas – um quarto de sua população – 
vivendo na linha de pobreza, com renda familiar inferior a US$ 5,5 por dia, 
critério adotado pelo Banco Mundial para definir pobreza (NERY, 2019).
Frente a essas situações, a sociedade demanda intervenções do governo, 
e, por isso, é importante analisar quais as medidas mais efetivas. Uma que é 
defendida por muitos, o controle de preços (máximos) por parte do governo 
(que acontece quando o governo controla preços de produtos como combus-
tíveis, energia elétrica etc. ou mesmo impõe tabelamentos) não costuma ter 
elevada eficiência, pois os dados indicam que a concorrência tem se mostrado 
mais eficiente na redução de preços (ROQUE, 2019).
Outra estratégia de política de preços é a imposição de preços mínimos, 
como acontece com o salário mínimo, pois isso pode evitar que os salários 
caiam a níveis ainda mais baixos, o que ampliaria as desigualdades de rendas 
no país.
Atenção
É importante lembrar que não há como se pensar em melhoria da 
distribuição de renda sem ter a estabilização monetária como condição 
fundamental, o que foi alcançado, na história recente do Brasil (a 
partir de 1994), após o Plano Real, que permitiu que o efeito de outras 
políticas públicas fosse intensificado na redução da desigualdade social 
registrada no Brasil.
33
Outra forma de fazer política de renda é a transferência direta de renda 
(em que indivíduos ou famílias carentes recebem recursos monetários, direta-
mente do governo), que tem o Bolsa Família como exemplo, um programa 
direcionado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, que 
busca garantir a elas o direito à alimentação e o acesso à educação e à saúde. 
Em 2019, por exemplo, mais de 13,9 milhões de famílias foram atendidas 
pelo Bolsa Família, em todo o Brasil (CEF, [s.d.]).
É importante que você perceba que o Bolsa Família tem dois focos 
com horizontes distintos: o primeiro é atender às necessidades básicas das 
famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, enquanto o segundo, 
menos conhecido, é promover uma mudança geracional, pois ao manter as 
crianças na escola e dar a elas condições de saúde, espera-se que, quando elas 
cheguem à idade adulta, tenham condição de gerar renda suficiente para que 
sua família não necessite mais ser atendida por um programa desse tipo.
Exemplificando
Dona Irani Estevão cria os quatro filhos sozinha, e sua única renda vem 
dos recursos do Bolsa Família. O filho Valdecir, de 12 anos, foi o único 
da sua turma a ser convidado para participar da Olimpíada Brasileira de 
Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) (BOZZATO, 2019). Em repor-
tagem do jornal A Gazeta, ela afirmou:
Eu imagino um futuro muito melhor para eles. Quem 
tem quatro filhos, igual eu tenho, tem que se orgulhar. 
Esse meu, de 12 anos, foi um dos melhores alunos 
da sala. Fechou o bimestre com 30 pontos (máximo 
possível) e foi selecionado para fazer a prova do 
OBMEP. Foi o único da sala que conseguiu no meio de 
um monte de aluno. (BOZZATO, 2019, [s.p.])
No Brasil existem outros programas de transferência direta de renda que 
merecem destaque: o primeiro é a previdência rural, que garante uma aposen-
tadoria para homens de 60 anos e mulheres de 55 anos, que tenham traba-
lhado no campo, mesmo que não tenham contribuído para a previdência 
social. O outro é o Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da 
Assistência Social (BPC-LOAS), que concede um salário mínimo mensal à 
pessoa com incapacidade comprovada para o trabalho, incapazes de prover 
seu próprio sustento (nesse caso, também não é necessário que essa pessoa 
tenha contribuído para o INSS para ter direito a recebê-lo).
34
Atenção
É fundamental que as políticas econômicas sejam aplicadas de forma 
harmônica: um excesso de gastos na área social que venha a compro-
meter o equilíbrio fiscal, por mais que possa gerar benefícios no curto 
prazo, pode dar início a um processo inflacionário com potencial de 
gerar crises que anulem todas as conquistas ou até tragam retrocessos.
Agora é com você: estude os materiais disponíveis e seja persistente no 
seu crescimento profissional. Até a próxima!
Sem medo de errar
Nesse encontro, conhecemos a Eliane, que recebeu uma proposta da 
família: tornar-se sócio-gerente de uma loja que vende eletrodomésticos 
(a Empresa C) e que estava à beira da falência (resultado da má gestão 
combinada com a recessão enfrentada pelo país). Sua parte na sociedade 
seria adquirida pelas suas horas de trabalho (pois Eliane não tem recursos 
financeiros para investir), o que torna obrigatório que ela faça a empresa ter 
sucesso para ter alguma remuneração.
Certa do apoio da família para realizar as mudanças que empresa precisa, 
Eliane precisa analisar o ambiente econômico: as políticas utilizadas para 
controlar a inflação surtiram efeito, e as expectativas dos agentes são bastante 
positivas frente à perspectiva de uma política monetária expansionista. 
Frente a essa expectativa sobre a economia do país, e sabendo que um aqueci-
mento da atividade econômica é fundamental para a recuperação financeira 
da Empresa C, Eliane poderia se beneficiar dessa política monetária expan-
sionista para fazer a empresa vender mais? E sobre a dívida acumulada da 
Empresa C: Eliane teria mais facilidade em pagá-la, caso o governo faça 
política monetária expansionista? Por qual motivo?
Para encontrar essas respostas, Eliane precisa saber que as políticas 
contracionistas trazem queda do crescimento produtivo (e, consequente-
mente, do emprego) e da inflação, enquanto a política monetária expansio-
nista (feita com emissão de moeda, compra de títulos públicos e/ou redução 
da taxa de compulsório) tem como consequência uma redução da taxa 
de juros da economia,que faz com que o interesse de compra por bens e 
serviços (demanda) seja ampliado, o que aumenta a produção das empresas 
e traz queda no nível de desemprego do país. Portanto, esse aumento da 
demanda vai favorecer a Empresa C, no sentido de ela poder ampliar as suas 
vendas, o que é fundamental para uma recuperação da loja de eletrodomés-
ticos. Já com relação ao pagamento da dívida acumulada pela Empresa C, 
35
uma situação de diminuição da taxa de juros da economia (causada pela 
política monetária expansionista), normalmente acaba reduzindo também 
os juros cobrados pelos bancos comerciais, quando eles concedem emprés-
timos aos seus clientes. Essa redução da taxa de juros dos empréstimos faz 
com que a Empresa C tenha a possibilidade de pagar a sua dívida com menos 
dificuldade, o que também é uma ótima notícia para Eliane. Dessa forma, 
consegue-se perceber que o cenário econômico é favorável para a Empresa C 
reverter a situação econômica em que se encontra, cabendo a ela aproveitar o 
momento para, por meio de uma boa gestão, fazer a loja de eletrodomésticos 
ser lucrativa.
Faça valer a pena
1. A desigualdade excessiva de renda não é apenas um problema social. 
Além da questão da violência, economias menos desiguais tendem a 
apresentar maior dinamismo econômico, por terem um contingente maior 
de consumidores. 
Tomando como referência a distribuição de renda e as políticas de renda, 
classifique as afirmativas a seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas.
( ) A renda per capita é o indicador de desigualdade mais conhecido e utili-
zado pelos economistas, mas apresenta uma grande complexidade de cálculo. 
( ) O Bolsa Família é um exemplo de política de renda feita no Brasil. 
( ) O índice de Gini varia entre zero e um, sendo que quanto mais próximo 
de zero melhor, pois menos desigual será a distribuição da renda no país. 
( ) Programas como o Bolsa Família melhoram a qualidade de vida de 
famílias carentes e possibilitam que as crianças tenham mais condições de 
uma renda futura melhor.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de classificação, de 
cima para baixo.
a. V – V – F – V.
b. F – V – V – V.
c. F – F – V – F.
d. V – F – V – V.
e. V – V – F – F.
36
2. Em julho de 2013, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional 
da Indústria (CNI), a preocupação dos brasileiros com o comportamento 
da inflação no futuro atingia o maior nível desde 2001 (PREOCUPAÇÃO…, 
2013). 
Com base nos efeitos da inflação sobre o ambiente econômico, avalie as 
seguintes asserções e a relação proposta entre elas.
I. A inflação descontrolada traz muitos problemas para um país, preci-
sando ser combatida por políticas econômicas.
PORQUE
II. A política monetária expansionista ajuda a combater a inflação, já 
que tem como consequência uma ampliação da taxa de juros que 
desestimula a intenção de compra por bens e serviços, forçando os 
preços para baixo.
A respeito das duas asserções e da relação entre elas, assinale a alternativa 
correta.
a. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.
b. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.
c. As asserções I e II são proposições falsas.
d. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.
e. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.
3. Manter a inflação sob controle é um dos principais objetivos econô-
micos de um governo que dispõe de diversos instrumentos, entre os quais a 
definição do percentual da taxa de recolhimento compulsório pelos bancos, 
que afeta o multiplicado bancário. 
Sobre a política monetária feita com a alteração da taxa de compulsório, 
avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas:
I. Quando o governo reduz a taxa de recolhimento compulsório, ele 
está praticando uma política monetária expansionista. 
PORQUE
II. A redução da taxa de compulsório vai diminuir a quantidade de 
dinheiro que os bancos teriam para emprestar, o que aumenta a 
quantidade de moeda escritural criada por eles.
37
A respeito das duas asserções e da relação entre elas, assinale a alternativa 
correta.
a. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.
b. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.
c. As asserções I e II são proposições falsas.
d. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.
e. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.
38
Seção 3
Exemplos de ações governamentais marcantes 
no Brasil
Diálogo aberto
Oi, e assim chegamos ao final, não é mesmo? E este nosso último encontro 
tem uma característica muito interessante: veremos, ao longo da história 
recente do Brasil, como as escolhas econômicas nos trouxeram até aqui e 
quais as perspectivas para o futuro.
Para nos auxiliar nisso, vamos acompanhar o Felipe em uma decisão que 
precisa tomar. Ele é um brasileiro que mora no exterior há muitos anos e 
que, depois de muito esforço, abriu sua própria empresa de construção fora 
do país. Felipe tem um sobrinho, Paulo, que se formou em Engenharia em 
2014, mas que foi demitido em 2015, pois a empresa que o contratou (logo 
depois de sua formatura) quebrou devido ao contexto da crise econômica 
desse período. A partir disso, ele passou a prestar serviço como autônomo, 
mas recebia valores muito baixos junto a alguns clientes, apesar de ele estar 
atuando como engenheiro e adquirindo experiência. O Paulo é uma pessoa 
com muita responsabilidade e que já tinha passado alguns meses morando 
com o Felipe, que pôde comprovar a ética e o compromisso com a qualidade 
de trabalho que o sobrinho possui.
Com a saída de Dilma do poder, Paulo convenceu Felipe a empreender 
no Brasil, por isso, Felipe abriu uma empresa de construção no nosso 
país (similar àquela do exterior da qual é dono), tendo o sobrinho como 
engenheiro e diretor da empresa. Felipe não abandonou sua empresa fora 
do país e está aguardando o que irá acontecer com o empreendimento no 
Brasil para tomar algumas decisões sobre o seu próprio futuro. Tendo em 
vista as notícias recebidas da estabilização da inflação, da queda dos juros 
e das reformas que estão sendo feitas no país, Felipe quer ter uma resposta 
à seguinte pergunta: essas medidas aumentam a possibilidade da empresa 
aberta no Brasil obter novos clientes e, assim, aumentar suas vendas?
Você deve se colocar no papel de alguém que vai trazer essa resposta para 
Felipe. Ao longo desta seção, o entendimento das políticas contracionistas e 
expansionistas aplicadas no Brasil nas últimas décadas dará a você um ótimo 
direcionamento sobre o assunto. Boa aula! 
39
Não pode faltar
Oi, tudo bem? Neste encontro, vamos acompanhar uma história que 
continuará se desenrolando depois do fim desta disciplina: a da trajetória 
econômica do Brasil. A ruptura da ordem democrática que ocorreu com o 
início do governo militar de 1964 será nosso ponto de partida. Esse período 
foi marcado por uma política fiscal expansionista, que se aproveitou da 
grande disponibilidade de capitais a juros baixos na década de 1960 e início 
da década de 1970. 
Contudo, a partir da inesperada alta do preço do petróleo, em 1973, 
conhecida como o primeiro Choque do Petróleo, em que o barril subiu de 
US$ 3 para US$ 11,60, houve uma redução da atividade econômica em escala 
global. Em resposta, o governo militar brasileiro aproveitou que ainda havia 
recursos financeiros internacionais disponíveis e tomou muitos emprés-
timos, elevando nossa dívida externa de 12 bilhões para 40 bilhões de dólares 
entre 1974 e 1979, sendo que a inflação passou de 16% para 40% ao ano entre 
1973 e 1978 (GOMES, 1985; JULIÃO, 2016). 
Essa situação piorou com o segundo Choque do Petróleo, em 1979 (a 
cotação média do barril saiu de US$ 12,44 para US$ 34,43 entre 1978 e 1981), 
que resultou no aumento das taxas de juros internacionais, que subiram de 
uma média anual de 7,5%, em 1977, para 20,18%, em 1980 (SAFATLE, 2012). 
Como as taxas de juros dos financiamentoscontratados pelo Brasil eram 
pós-fixadas, nossa dívida externa cresceu muito.
Assimile
Quando um empréstimo é feito com taxas pré-fixadas, o valor das 
parcelas é conhecido no momento da contratação (qualquer alteração 
nas condições do mercado não vai mudar o valor dessas parcelas). Já 
com taxas pós-fixadas (como os empréstimos que o Brasil fez antes dos 
Choques do Petróleo), o valor das parcelas sofre mudanças quando há 
uma alteração cambial de inflação ou de outras taxas praticadas no 
mercado. No caso exemplificado, o aumento dos juros internacionais 
fez com que o total da nossa dívida crescesse exponencialmente.
O aumento da inflação e o elevado déficit das contas públicas reduziram 
os investimentos públicos. João Figueiredo (que assumiu o Poder Executivo 
em 1979 e foi o último presidente da era dos governos militares no país) se 
deparou com um elevado déficit em transações correntes (que subira de US$ 
11,4 bilhões, em 1981, para US$ 16,3 bilhões, em 1982, o equivalente a 6% do 
PIB) e efetuou desvalorizações da moeda brasileira para equilibrar as contas 
40
externas: a primeira em 1979 e a outra em 1983, ambas de 30% (durante todo 
esse período a taxa de câmbio era determinada pelo governo), recuperando 
os superávits da Balança Comercial, mas impulsionando a inflação (GOMES, 
1985; SAFATLE, 2012).
Apesar de recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e efetuar 
ajustes fiscais, a inflação continuou crescendo (atingiu mais de 160% ao ano, 
em 1983), a produção interna continuou caindo (a queda do PIB, entre 1981 
e 1983, foi de 6,3%) e as contas públicas continuaram deficitárias (OREIRO, 
2017; IBGE, [s. d.]).
Reajustes salariais abaixo da inflação foram o gatilho para a recessão entre 
os anos 1981 a 1983, que fez o desemprego crescer de forma intensa. Em 
1984, apesar do processo indireto, a pressão popular levou Tancredo Neves, 
o candidato da oposição, ao cargo de presidente do Brasil. Como ele faleceu 
antes de aceder essa posição, seu vice, José Sarney, assumiu.
Após algum tempo de governo e com a popularidade em baixa, Sarney, 
em vez de controlar os gastos públicos e o excesso de moeda, apelou para uma 
solução heterodoxa para controlar a inflação, implementando, em fevereiro 
de 1986, um congelamento de salários e preços (ação que ficou conhecida 
como Plano Cruzado I). 
Os salários foram congelados com base na média dos últimos 6 meses 
acrescidos de um abono de 8% para os salários gerais e 16% para o salário 
mínimo (NERI, 1991). O plano também estabeleceu um gatilho salarial (os 
salários seriam automaticamente corrigidos) que seria acionado sempre 
que a inflação acumulada ultrapassasse 20% (NERI, 1991), o que gerou 
uma explosão de consumo. A pressão sobre a inflação continuou, já que as 
políticas expansionistas permaneceram, ou seja, o governo manteve os gastos 
públicos em um alto patamar e não se comprometeu a diminuir a quantidade 
de moeda na economia. 
Em uma nova tentativa de controlar a inflação, o plano Cruzado II foi 
lançado em novembro de 1986 e uma série de reajustes de preços se deu em 
vários setores, o que trouxe a inflação de volta (a inflação mensal chegou 
a 11,65% em dezembro) (PORTAL BRASIL, [s. d.]). A partir disso, segui-
ram-se planos que fracassaram (Bresser e Verão), pois o excesso de gastos 
do governo não foi combatido, fazendo com que, no último ano do governo 
Sarney (1989), a inflação anual chegasse a 1.972% (CASTRO, 2016).
41
Assimile
Durante boa parte do século XX, a política fiscal (por meio da ampliação 
dos gastos governamentais) foi utilizada como indutora do crescimento 
econômico por diversos países, incluindo o Brasil. Contudo, tanto aqui 
quanto lá, o processo não foi conduzido de forma responsável, levando 
a um aumento de gastos públicos sem correspondência nas receitas, 
gerando desequilíbrio e consequentes déficits fiscais. Esse processo 
começou com Juscelino Kubitschek, manteve-se com os militares e 
depois com o Sarney.
Os financiamentos desses déficits se deram, muitas vezes, por meio 
de emissão de moeda (política monetária expansionista), aumen-
tando a quantidade de moeda em circulação, fazendo com que o país 
enfrentasse elevadas taxas de inflação nos anos 1980 e 1990. Além 
disso, as políticas fiscais expansionistas adotadas deslocaram a curva 
da Demanda Agregada para a direita, colaborando com o aumento da 
inflação.
Fernando Collor foi o primeiro presidente eleito de forma direta, desde 
o período militar, e assumiu em meio a uma grave crise econômica. Em 16 
de março de 1990, um dia depois de assumir a presidência, anunciou seu 
plano de controle da hiperinflação (o Plano Collor), composto das seguintes 
medidas: bloqueio dos valores depositados superiores a 50 mil cruzados 
novos, tanto em Contas Correntes quanto nas Cadernetas de Poupança dos 
brasileiros (que só seriam liberados 18 meses depois, de forma parcelada); 
congelamento de preços; reforma administrativa (redução de ministérios, 
programa de demissão voluntária de servidores e de desestatização); política 
fiscal contracionista (aumento de tributos e redução de despesas); e abertura 
comercial (câmbio flutuante, redução de barreiras e tarifas de importação) 
(BRASIL, 1990). A inflação caiu fortemente nos meses seguintes, mas, no final 
do ano, já havia retornado aos dois dígitos (18,44% ao mês, em dezembro de 
1990) (PORTAL BRASIL, [s. d]). A impopularidade do presidente (causada, 
principalmente, pelo confisco dos depósitos bancários) e uma série de 
denúncias de corrupção levaram a um processo de impeachment e à renúncia 
de Collor, levando seu vice, Itamar Franco, a assumir a presidência.
Depois de dois ministros da Fazenda em 5 meses, Itamar convidou o 
sociólogo Fernando Henrique Cardoso (FHC) para assumir o cargo. FHC, 
então, montou uma equipe econômica de alto gabarito (Edmar Bacha, Pérsio 
Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco e Pedro Malan) que elaborou 
o Plano Real, que tinha como propósito combater a hiperinflação de forma 
totalmente diferente, anunciando previamente as etapas que seriam implan-
tadas, o que reduziu a especulação por parte dos agentes econômicos. 
42
Foram três as etapas fundamentais; vamos conhecê-las?
A primeira foi o Programa de Ação Imediata (PAI), que focou a eliminação 
do desequilíbrio das contas do governo (a principal causa da inflação): um 
ajuste fiscal limitou os gastos com folha de pagamento de servidores públicos 
em 60% das receitas da União, o Fundo Social de Emergência (FSE) desvin-
culou 20% das receitas obrigatórias (IANONI, 2009) e um novo tributo foi 
criado: o Imposto sobre Movimentações Financeiras (IPMF). A sonegação 
fiscal foi combatida pelo aumento da fiscalização sobre as empresas e sobre 
as declarações de renda das pessoas físicas. 
Ocorreu uma ampla renegociação das dívidas dos estados e municípios 
com a União, que, como contrapartida, aumentou o controle sobre Bancos 
Estaduais. O saneamento dos bancos federais e a privatização de várias 
empresas estatais reduziram o déficit público (REGO et al., 2010) e permi-
tiram à iniciativa privada participar da modernização da infraestrutura do 
país, defasada pela falta de investimentos nos anos 1980. Apesar do ambiente 
de descrédito (resultado do fracasso dos planos anteriores) e da oposição de 
diversos partidos, a primeira etapa foi concluída e, em agosto de 1993, 1.000 
cruzeiros passaram a valer 1 cruzeiro real, a nova moeda oficial do Brasil 
(BRASIL, 1993).
Na segunda etapa do Plano, foi criada a Unidade Real de Valor (URV), 
lançada em março de 1994, junto com a informação de que, em quatro 
meses, ocorreria a transição para a nova moeda, o Real. Uma unidade de 
URV equivalia a 647,50 cruzeiros reais (GIAMBIAGI et al., 2011) e foi elabo-
rada uma tabela, divulgada diariamente pelo Banco Central, com a cotação 
da URV. A transparência e antecedência no fornecimento de informações 
reduziram a desconfiança associada aos planos anteriores, e a URV passou 
a ser utilizada para determinar preços e salários,

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