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1 AULA 1 - DIREITO CONTRATUAL 1. Teoria Geral dos Contratos – Princípios I. 2. Teoria Geral dos Contratos – Princípios II. 3. Teoria Geral dos Contratos – Interpretação dos Contratos. 4. Formação dos Contratos. Teoria Geral dos Contratos – Princípios I e II Introdução O contrato é uma das fontes mais comuns e importantes das obrigações, sendo fator determinante, originário de boa parte das obrigações. Segundo a doutrina, temos como fontes das obrigações, os CONTRATOS, as DECLARAÇÕES UNILATERAIS DE VONTADE e os ATOS ILÍCITOS, DOLOSOS E CULPOSOS. Etimologicamente, contrato é derivado de “contractus” e significa que é o acordo entre duas ou mais pessoas, as quais assumem certos compromissos ou obrigações, assegurando entre si algum direito. “Espécie de negócio jurídico que depende, para sua formação, da participação de pelo menos duas partes. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral”, o qual resulta em um acordo de vontades que gera efeitos obrigacionais.1 - negócio jurídico informal - liberdade na sua formação, podendo até mesmo ser verbal – mas recomenda-se que seja escrito, quando de alto valor.2 Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. 1 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro˸ Teoria Geral das Obrigações. vol.III. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 22. 2 Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. 2 “Exemplo de contrato solene/escrito é a compra e venda de imóvel (108) e a doação (541). São contratos informais/verbais a compra e venda de móveis, a locação e o empréstimo”.3 Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição. Contudo, quanto a compra e venda de carros, exige-se documento escrito para a venda que é o original do Certificado de Registro de Veículo (CRV) do proprietário anterior preenchido em nome do comprador e firma reconhecida, apesar da informalidade desse tipo contratual. - acordo de vontades: o consenso das partes é que vai formar o contrato, o qual deve ser, no mínimo, bilateral. “O que se admite é o autocontrato, ou contrato consigo mesmo, quando uma única pessoa vai agir por duas partes (ex: A vai viajar e precisa vender sua casa, então passa uma procuração a seu amigo B autorizando-o a vendê-la a quem se interessar, eis que o próprio B resolve comprar a casa, então B vai celebrar o contrato como vendedor, representando A, e como comprador, em seu próprio nome). São duas vontades jurídicas distintas, embora expressas por uma só pessoa”.4 Princípios: 3 http://rafaeldemenezes.adv.br/aulas/fonte-das-obrigacoes/5 4 http://rafaeldemenezes.adv.br/aulas/fonte-das-obrigacoes/5 3 Função Social do Contrato: A teoria contratual clássica, baseada nos fundamentos apostos após a Revolução Francesa sobre a liberdade e o individualismo, pautava sua doutrina, principalmente, nos princípios da autonomia da vontade e da obrigatoriedade dos contratos (Pacta sunti servanda), o que pode ser resumido, sucintamente, com a frase “o contrato obriga”5 Contudo, uma nova sistemática fora sendo implantada que importou em uma nova visão da seara contratual, deixando para trás a tônica individualista e implementando aspectos baseados em uma visão mais social dos contratos. Nesse sentido, as bases da eticidade, sociabilidade e operabilidade, permeiam as relações estabelecidas, não se podendo falar em contratos sem destacar a sua função social, a boa-fé objetiva, a supremacia da ordem pública, entre outras coisas. Socialidade – reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem que se deixe de valorizar o homem singular, ou seja, proteger o valor fundamental da pessoa humana. 6 Guarda intimidade com a função social da propriedade e visa realizar “uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contraentes”, de tal forma, que “subordina a liberdade contratual à sua função social, com prevalência dos princípios condizentes com a ordem pública”. 7 Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Limita a autonomia da vontade, quando esta se confronta com o interesse social, fazendo do contrato uma FONTE DE EQUILÍBRIO SOCIAL8, funcionando como cláusulas gerais de tutela. 5 FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil: à luz do novo Código Civil Brasileiro. 3 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Renovar, 2012. 6 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 710. 7 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 710. 8 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 711. 4 Cláusulas gerais (diretrizes) – dão um norte ao juiz no momento de julgar, vinculando-o e ao mesmo tempo lhe dando liberdade para julgar de acordo com os valores sociais, posto que se tratam de normas genéricas e abstratas, as quais o juiz deve preencher. “A propriedade, outro pilar do Direito Civil, também deve ser exercida respeitando sua função social”.9 Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. Enunciados da I Jornada de Direito Civil do CJF: 21 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil , constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. 22 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil , constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. 23 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil , não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.Enunciados da III Jornada de Direito Civil do CJF: 166 - Arts. 421 e 422 ou 113: A frustração do fim do contrato, como hipótese que não se confunde com a impossibilidade da prestação ou com a excessiva onerosidade, tem guarida no Direito brasileiro pela aplicação do art. 421 doCódigo Civil. 167 - Arts. 421 a 424: Com o advento do Código Civil de 2002, houve forte aproximação principiológica entre esse Código e o Código de 9 http://rafaeldemenezes.adv.br/aulas/fonte-das-obrigacoes/5 5 Defesa do Consumidor , no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos. Enunciados da III Jornada de Direito Civil do CJF: 360 - Art. 421. O princípio da função social dos contratos também pode ter eficácia interna entre as partes contratantes. 361 - Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475. Probidade e boa-fé As partes devem agir corretamente uma com as outras, com honestidade (probidade), lealdade, confiança e colaboração recíprocas. Estabelece um caráter ético nas negociações, com o fim último de ser um instrumento, também, ao livre desenvolvimento da personalidade.10 Vai desde as negociações até a execução do contrato. “A boa fé deve estar na mente de todo contratante”.11 Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. O juiz deve estabelecer a conduta que deveria ter sido adotada pelo contratante no caso, levando em consideração os usos e costumes, confrontando esse modelo com o que foi realmente realizado.12 10 FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil: à luz do novo Código Civil Brasileiro. 3 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Renovar, 2012. 11 http://rafaeldemenezes.adv.br/assunto/Fonte-das-Obriga%C3%A7%C3%B5es/5/aula/7 12 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 726. 6 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. A boa-fé das partes deve ser presumida pelo juiz (BOA-FÉ OBJETIVA), enquanto a má-fé deverá ser comprovada por quem a alega. É a boa-fé tratada como CLÁUSULA GERAL, que em conjunto com a função social e a ordem pública, devem ser rigorosamente aplicadas no julgamento da ação. Boa-fé subjetiva Boa-fé objetiva - concepção psicológica da boa-fé; - CC/1916; - conhecimento ou ignorância da pessoa a certos fatos ao agir em conformidade com o direito; - INTENÇÃO do sujeito; - Ex.: casamento putativo (aparência). - concepção ética da boa-fé; - CC/02; - cláusula geral do direito (regra de conduta – fonte de direito e de obrigações); - RETIDÃO, HONESTIDADE, LEALDADE, CONFIANÇA E COLABORAÇÃO RECÍPROCA. Proibição de Venire contra factum proprium13 (teoria dos atos próprios): “protege uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente”, ou seja, limita, vedando ou punindo o exercício de direito subjetivo quando o sujeito quebrar a confiança ao agir de forma diferente do que se esperava, causando prejuízo a outra parte.14Veda que o sujeito seja incoerente com seus atos anteriores, traindo a confiança que lhe foi depositada pelo outro contratante. 13 Enunciado 412 CJF – Art. 187: As diversas hipóteses de exercício inadmissível de uma situação jurídica subjetiva, tais como supressio, tu quoque, surrectio e venire contra factum proprium, são concreções da boa-fé objetiva. 14 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 727. 7 Suppressio: um direito que não for exercido por um tempo, não mais poderá sê-lo, por contrariar a boa-fé. Ex.: se o devedor deixou de cumprir um contrato de prestação continuada por falta de iniciativa do credor, não poderá mais ser cobrado do devedor.15 Surrectio: é o nascimento de um direito, frente a continuada prática de certos atos.16 Ex.: receber sempre o aluguel atrasado e não cobrar juros, não poderá ser cobrado depois. Tu quoque: quem não cumpre o contrato ou a lei, não pode exigir que o outro o faça (exceptio non adimpleti contractus). Ex.: violo a regra do condomínio permitindo que meu cachorro ande solto pelo mesmo, não posso exigir que seja multado o condômino que permitiu que seu cachorro defecasse no meu jardim. No contrato de seguro a boa-fé é exigida com mais rigor. Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes. Enunciados da I Jornada de Direito Civil do CJF: 24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil , a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. 25 - Art. 422: o art. 422 doCódigo Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós - contratual. 15 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 728. 16 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 729. 8 26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. 27 - Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos Enunciados da III Jornada de Direito Civil do CJF: 168 - Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva importa no reconhecimento de um direito a cumprir em favor do titular passivo da obrigação. 169 - Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo. 170 - Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. Enunciados da IV Jornada de Direito Civil do CJF: 362 - Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil . 363 - Art. 422. Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar a existência da violação. Supremacia da ordem pública “Limita o princípio da autonomia da vontade, dando prevalência ao interesse público”.17 São as leis obrigatórias existentes no direito. Comono caso do pacta corvina. Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. 17 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 729. 9 Cláusula geral (art. 2035 CC; 17 LINDB)18 Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Autonomia da vontade As partes têm liberdade para contratar ou não, de forma livre. Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. “Este princípio contratual da autonomia da vontade é um poder criador, sendo amplo mas não absoluto, encontrando limites na ordem pública e nos bons costumes”.19 Princípio do consensualismo É o acordo consensual de vontades. Basta este para sua realização, independentemente da entrega da coisa. (regra) Ex.: contrato de compra e venda – basta acordar no objeto e preço; o pagamento e a entrega constituem outra fase, a do cumprimento das obrigações.20 18 Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. 19 http://rafaeldemenezes.adv.br/assunto/Fonte-das-Obriga%C3%A7%C3%B5es/5/aula/7 20 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 721. 10 Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Mas existem, por exceção, contratos que são Reais, os quais somente se aperfeiçoam com a entrega do objeto, subsequente ao acordo de vontades. Ex.: contrato de depósito (exige a entrega do bem ao depositário) - quando deixo o carro no estacionamento do shopping, estabeleço um contrato de depósito. Súmula 130/STJ. A empresa responde, perante o cliente pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento. Ex.: quando deposito dinheiro em um banco, também estabeleço um contrato de depósito, protegido pelo CDC, mas os depósitos de dinheiro, regulam-se pelos dispositivos do contrato de mútuo, já que se trata de coisa fungível. Art. 645. O depósito de coisas fungíveis, em que o depositário se obrigue a restituir objetos do mesmo gênero, qualidade e quantidade, regular-se-á pelo disposto acerca do mútuo. Art. 629. O depositário é obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante. Ex.: depósito do hóspede no hotel, de seus bens. Art. 649. Aos depósitos previstos no artigo antecedente é equiparado o das bagagens dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde estiverem. Parágrafo único. Os hospedeiros responderão como depositários, assim como pelos furtos e roubos que perpetrarem as pessoas empregadas ou admitidas nos seus estabelecimentos. Art. 650. Cessa, nos casos do artigo antecedente, a responsabilidade dos hospedeiros, se provarem que os fatos prejudiciais aos viajantes ou hóspedes não podiam ter sido evitados. 11 Art. 651. O depósito necessário não se presume gratuito. Na hipótese do art. 649, a remuneração pelo depósito está incluída no preço da hospedagem. Obrigatoriedade dos contratos O contrato faz lei entre as partes (pacta sunt servanda) Deve ser cumprido por uma questão de segurança jurídica e paz social. Depois de celebrado, não poderá ser modificado unilateralmente. “Se uma das partes não cumprir o contrato, a parte prejudicada exigirá o cumprimento forçado, através do Juiz, ou uma indenização por perdas e danos”.21 Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. Exceção: a lei permite que o Juiz, nos contratos comutativos de longa execução, diante de um fato novo, modifique o contrato para manter a igualdade entre as prestações (teoria da imprevisão). 22 Revisão dos Contratos (onerosidade excessiva) Aplicação da Teoria da imprevisão ou cláusula rebus sic stantibus (revogável se insustentável). Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. 21 http://rafaeldemenezes.adv.br/assunto/Fonte-das-Obriga%C3%A7%C3%B5es/5/aula/7 22 http://rafaeldemenezes.adv.br/assunto/Fonte-das-Obriga%C3%A7%C3%B5es/5/aula/7 12 Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá- la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. Consiste em presumir que nos contratos comutativos de trato sucessivo e execução continuada (contratos de longa duração), a existência implícita dessa cláusula Por força dela, “a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato”. 23 Se acontecer fato extraordinário que torne excessivamente onerosa o cumprimento, poderá o juiz isentar total ou parcialmente a obrigação.24 “Ex: compro um carro para pagar em três anos com prestações atreladas ao dólar, eis que por causa de uma guerra no Oriente Médio, o dólar triplica de preço e as prestações se tornam muito vantajosas para o vendedor, devendo então o Juiz modificar o contrato para restaurar o equilíbrio entre as partes”.25 Relatividade Contratual O contrato é relativo às partes celebrantes, só produz efeitos para eles, não interessando/prejudicando a terceiros. * Romanos: res inter alios acta, aliis neque nocet neque prodest (a coisa contratada entre uns, nem prejudica e nem beneficia terceiros). Exceções: - herdeiros com relação as obrigações de dar. Ex.: Antônio empresta R$ 1000,00 de Paulo, e este falece. Os herdeiros de Antônio terão que pagar a dívida a Paulo, nos limites da herança. 23 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 722. 24 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 722. 25 http://rafaeldemenezes.adv.br/assunto/Fonte-das-Obriga%C3%A7%C3%B5es/5/aula/7 13 - estipulação em favor de terceiro. O contratante, bem como o beneficiário poderão exigir a prestação se o devedor atrasar. Ex: alugo minha sala comercial, e determino em contrato queo valor seja depositado para minha mãe. Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438. - nas convenções coletivas: a lei trabalhista e consumeirista permite que sindicatos e associações negociem no lugar dos prejudicados diretos. Art. 611 CLT. Convenções coletivas de trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais do trabalho. § 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho. § 2º As Federações e, na falta desta, as Confederações representativas de categorias econômicas ou profissionais poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em Sindicatos, no âmbito de suas representações. Art. 107 CDC As entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria econômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo que tenham por objeto estabelecer condições relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia e características de produtos e serviços, bem como à reclamação e composição do conflito de consumo. § 1º - A convenção tornar-se-á obrigatória a partir do registro do instrumento no cartório de títulos e documentos. § 2º - A convenção somente obrigará os filiados às entidades signatárias. § 3º - Não se exime de cumprir a convenção o fornecedor que se desligar da entidade em data posterior ao registro do instrumento. Teoria Geral dos Contratos Interpretação e Formação dos Contratos. 14 Interpretação Exerce função objetiva (análise do texto escrito no contrato). Exerce função subjetiva (busca a intenção das partes contratantes). Esta é mais importante, pois o Código dá prevalência a TEORIA DA VONTADE (prevalece a real intenção das partes). Princípios básicos da interpretação: - Boa-fé (presume-se)/ a má-fé deverá ser comprovada. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. - Conservação ou aproveitamento do contrato: “se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito”.26 Regras de interpretação - Contrato de Adesão Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. - Transação Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos. - Fiança Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. - Testamento 26 GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1˸ Esquematizado. São Paulo˸ Saraiva, 2013, p. 736. 15 Art. 1.899. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador. - Pactos sucessórios (afasta-se a sucessão contratual, com exceções) Regra: sucessão causa mortis (legítima e testamentária) Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Exceção: partilha inter vivos. Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários. Formação dos Contratos - se forma pelo consenso, pelo acordo de vontades entre duas pessoas, de forma consensual. Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. - Duas partes do contrato – proposta (oferta)27 X aceitação - Pessoas do contrato – proponente (policitante) X aceitante (oblato) - pode ser verbal ou escrito Ex.: quando compro uma roupa (contrato verbal com a loja) Vendedor (proposta) – oferta as mercadorias ao público em geral Essa oferta o vincula (segurança das relações jurídicas), e deve ser clara, precisa, de possível entendimento (CDC, art. 31). Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. 27 Outros nomes: policitação ou oblação 16 Comprador - se aceitar a proposta, o contrato está perfeito e acabado Mas este pode fazer uma contraproposta Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. E ainda, na compra e venda, o próprio comprador pode ser o proponente, buscando algo que o outro tem, como quando vejo o carro do meu amigo, e pergunto se ele não quer vender. São considerados presentes, quando se faz a compra na internet ou telefone São considerados ausentes, as pessoas que contratam por intermediário ou mensageiro. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. Quanto ao AUSENTE, tem-se na doutrina algumas teorias acerca do momento da formação contratual, que devem ser levadas em conta: Teoria da Cognição (informação): “considera-se formado o contrato quando a resposta positiva do aceitante chega ao conhecimento do proponente”.28 28 http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/119278/fases-da-formacao-do-contrato 17 Teoria da Agnição (declaração): “não é necessário que a resposta do aceitante chegue ao conhecimento do proponente”. 29 Se divide em 3 teorias menores: - Declaração propriamente dita: o contrato se forma quando o aceitante redige, escreve sua resposta. - Expedição: o contrato se forma quando o aceitante expede, envia sua resposta ao destino (art. 434, caput CC). Aceitação parcial da doutrina. Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente (433 CC); II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado. ** EXCEÇÕES a teoria da expedição: 433 e incisos do 434: Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponentea retratação do aceitante. Ou seja, nesse caso, havendo retratação do aceitante que chegue antes ou junto com a resposta, será considerada inexistente a aceitação. O mesmo cabe para o item II e III do 434 CC. Por isso mesmo diz-se que a teoria da recepção é a adotada pelo CC e não da expedição. - Recepção: o contrato se forma quando o proponente recebe efetivamente a resposta. 29 http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/119278/fases-da-formacao-do-contrato 18 Vamos analisar a seguinte questão: Quando da formação do contrato, I. deixa de ser obrigatória a proposta se, feita sem prazo à pessoa presente, não foi imediatamente aceita; art. 428, I CC II. os contratos entre ausentes deixam de ser perfeitos se, antes da aceitação, ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante; art. 433 CC III. os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, mesmo se o proponente não houver se comprometido a esperar a resposta; está errado - art. 434, II CC IV. a proposta é obrigatória quando, feita com prazo à pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente. Não se presume – art. 428, III CC São verdadeiras as afirmativas (A) I e II, somente. (B) III e IV, somente. (C) I, II e III, somente. (D) II e III, somente. Concluído o contrato, faz lei entre as partes Se uma delas desistir depois, terá que indenizar a outra pelas perdas e danos causados (para justificar uma indenização tem que ter havido dano concreto, material ou moral) Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. ATENÇÃO: MINUTA não é contrato ainda, e possibilita desistência.
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