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Nicolle Guerreiro Chaboudet Teoria da Literatura II NFR

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
		Centro de Educação e Humanidades
Faculdade de Educação / Coordenação das Licenciaturas – EAD
Avaliação a Distância
 (AD
 
2
)
D
ISCIPLINA
: 
Teoria da Literatura II
Coordenador (
a)
:
 
Profa. Diana Klinger
CURSO
:
 
LETRAS
POLO
:
 
NOVA FRIBURGO
ALUNO
(
A)
:
 
NICOLLE GUERREIRO CHABOUDET
MATRÍCULA
:
 
15113120146
DATA
:
 
28
 
/ 
04
 
/ 201
7
 
 QUESTÃO ÚNICA: Comente a citação a seguir e, a partir dela, explique o conceito de estranhamento formulado pelo formalismo russo. Exemplifique com um texto literário.
“A automatização engole os objetos, os hábitos, os móveis, a mulher e o medo à guerra. “Se toda a vida complexa de muita gente se desenrola inconscientemente, então é como se esta vida não tivesse sido”.  E eis que para devolver a sensação da vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objetos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção.” (Chklovski, V. “A arte como procedimento”. In: Teoria da literatura. Formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1976, p. 44-45)
 
 O conceito de estranhamento foi um termo utilizado pelo formalista russo Victor Chklovski em seu trabalho “Arte como Procedimento”. Para Chklovski seria então o efeito criado pela obra de arte literária para nos distanciar (ou estranhar) em relação ao modo comum como apreendemos o mundo e a própria arte, o que nos permitiria entrar numa dimensão nova, só visível pelo olhar estético ou artístico.
 O mundo real está repleto de coisas: pessoas, animais, plantas, matéria inanimada etc. E todos nós somos capazes de perceber a existência e a utensilidade dessas coisas. É justamente neste ponto em que a arte atua: ela amplia a nossa percepção da realidade desautomatizando os objetos e dando a eles uma percepção singular. 
 Chklovski afirma que nem sempre procedimentos de arte são criados de maneira poética, mas acabam servindo para a contemplação estética por acaso, logo o objeto pode ser criado como prosaico e percebido como poético, ou criado como poético e percebido como prosaico. Essa afirmação indica que o caráter poético do objeto está relacionado com a nossa percepção, e deixa claro que qualquer obra pode ter conotações de estranhamento mesmo que seja concebida sem essa intenção, tudo vai depender do contexto da obra. O objetivo da imagem não seria facilitar a nossa compreensão, e sim o oposto: criar uma percepção particular, que enfatize os aspectos subjetivos do receptor. Para isso, o autor russo enfatiza a importância da obscuridade da forma, que consiste em ampliar o tempo e a dificuldade de percepção do objeto de arte.
 Chklovski ainda diz que o ato de percepção em arte é um fim em si mesmo e deve ser prolongado ao máximo, a fim de fazer com que os objetos em arte muitas vezes percebidos como um simples reconhecimento seja, de fato, percebido como visão de uma expressão, o que caracteriza o teor poético da obra de arte. A arte, segundo o Chklovski, devolve a sensação de vida, para sentir e experimentar os objetos. Seu objetivo é dar uma ideia do objeto como visão; seu procedimento é o da singularização dos objetos. A obra de arte se estende da visão ao reconhecimento. A arte vista de uma forma ou de outra, é aqui vista como procedimento, ou seja, como uma fórmula a ser decifrada. 
 
 
 A crônica “Vista cansada” exemplifica bem o processo de automatização dos objetos, muito presente no nosso cotidiano. Os formalistas discutem isso no âmbito da arte. 
 Vista cansada
 Otto Lara Resende
 Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.
Se eu morrer morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.
 Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.
Referências Bibliográficas:
Livro Teoria da Literatura II CEDERJ CECIERJ – Volume 1 e 2. 
www.releituras.com

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