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Aluno: Dr. Rafael Gouvêa de Aguiar Inscrição: 201608129225 REDAÇÃO INSTRUMENTAL - CCJ0130 Título SEMANA 3 Descrição NADA DE DESCULPAS E MÃOS À OBRA! Os objetivos de cada operador do Direito são diferentes, portanto o representante de uma parte envolvida não poderá narrar os fatos de um caso concreto com a mesma versão da parte contrária. Portanto o juiz deve sempre considerar os dois pontos e vista apresentados pelas partes, dentre outros elementos a serem analisados, antes de prolatar decisão dele. Observe: Caso Concreto A reclamada contratou o reclamante para exercer a função de marceneiro no setor de produção de cozinhas moduladas. O reclamante, ao desempenhar sua atividade profissional, foi pregar um gabinete duplo, um dos componentes da cozinha modulada, quando o prego se soltou da madeira ao sofrer a batida do martelo. O prego atingiu em cheio o olho direito do trabalhador reclamante, perfurando-o. Esse infortúnio ocorreu por culpa exclusiva da reclamada, porque esta não ofereceu óculos de proteção ao obreiro. Trata-se de um trágico e irremediável acidente de trabalho que pôs fim não somente a qualquer perspectiva de ascensão profissional do reclamante, mas também o deixou deficiente visual para o resto de sua vida. Questão 1 A linguagem forense utilizada pelo advogado na exposição dos fatos no caso em questão teve como objetivo produzir uma certa reação emocional no receptor (juiz) por meio e uma engenhosa seleção vocabular. Comente, em até 10 linhas, a escolha lexical intencional do advogado, considerando os valores semânticos de algumas palavras utilizadas na construção desse parágrafo. Resposta: O Advogado trouxe características de um texto narrativo persuasivo, onde é percebida a tentativa de persuadir ( convencer) o leitor (juiz). O Advogado trouxe motivos e características do ocorrido. Questão 2 Identifique, no parágrafo acima, pelo menos duas informações ou versões que a parte contrária não teria narrado. Justifique a sua resposta. O reclamante se negou-se a utilizar os equipamentos de proteção individual que são obrigatórios, mesmo depois da reclamada solicitar a utilização, pois havia comprado para a finalidade de preservação da integridade física do funcionário. Trabalho de pesquisa: Função persuasiva da narrativa jurídica Compor conflitos de interesses é uma das funções primordiais do Direito. Tais conflitos costumam advir de divergentes formas de se interpretar um determinado fato jurídico. É nessa instância que se legitima o texto argumentativo.[1: ESTUDO INTERDISCIPLINAR: leia sobre as formas de composição (judicial e extrajudicial) de conflitos.] Tese B (réu) Tese A (autor) Interpretação B Interpretação A FATO JURÍDICO A argumentação jurídica caracteriza-se, especialmente, por servir de instrumento para expressar a interpretação sobre uma questão do Direito, que se desenvolve em um determinado contexto espacial e temporal. Ao operar a interpretação, impõe-se considerar esses contextos, ater-se aos fatos, às provas e aos indícios extraídos do caso concreto e sustentá-la nos limites impostos pelas fontes do Direito.[2: A esse respeito, leia, também, CAVALIERI FETZNER, Néli Luiza (Org.). Interpretação e produção de textos aplicadas ao Direito. Projeto Livro Universitário (WWW.livrouniversitario.com.br). Rio de Janeiro: Forense, 2008, capítulo 1.] Parece claro que nenhum juiz pode apreciar um pedido sem conhecer os fatos que lhe servem de fundamento. A narração ganha status de maior relevância, porque serve de requisito essencial à produção de uma argumentação eficiente. É por essa razão que se costuma dizer que a narração está a serviço da argumentação.[3: CAVALIERI FETZNER, Néli Luiza (Org.). Lições de argumentação jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2008, capítulo 2.] Resumidamente, um profissional do Direito deve recorrer ao texto argumentativo para defender seu ponto de vista, mas para o sucesso dessa tarefa, precisa ter, antes, uma boa narração, na qual foram expostos os fatos de maior relevância sobre o conflito debatido. Na disciplina Interpretação e produção de textos aplicadas ao Direito, você desenvolveu de forma mais consistente o estudo da narração (simples e valorada); é chegada a hora de aprofundar o estudo da argumentação. Para melhor compreender as características que distinguem narração e argumentação, observe a tabela. NARRAÇÃO ARGUMENTAÇÃO Qual o Objetivo? Expor os fatos importantes do caso concreto a ser solucionado no Judiciário. Defender uma tese (ponto de vista) compatível com o interesse da parte que o advogado representa. Como o fato é tratado? Cada fato representa uma informação que compõe a história da lide a ser conhecida no processo. O fato (informação) narrado é aqui retomado com o status de elemento de persuasão; é um elemento de prova com o qual defende a tese. Qual o tempo verbal utilizado? Pretérito – é o mais utilizado, porque todos os fatos narrados já ocorreram. (Ex.: o empregado sofreu um acidente); Presente – fatos que se iniciaram no passado e que perduram até o momento da narração. (Ex.: o empregado está sem capacidade laborativa); Futuro – não é utilizado porque fatos futuros são incertos. Presente – tempo verbal mais adequado para sustentar o ponto de vista. (Ex.: o autor deve ser indenizado por seu empregador); Pretérito – deve ser usado para retomar os fatos (provas / indícios) relevantes da narração, com os quais defenderá a tese. (Ex.: o autor deve ser indenizado por seu empregador porque sofreu um acidente no local de trabalho); Futuro – deve ser usado ao desenvolver as hipóteses argumentativas. (Ex.: o trabalhador deve receber o benefício do INSS, pois, caso contrário, não terá como se sustentar). Qual a pessoa do discurso? Utiliza-se a 3ª pessoa, por traduzir a imparcialidade necessária à atividade jurídica. Também se utiliza a 3ª pessoa, pela mesma razão. Como os fatos são organizados? Os fatos são dispostos em ordem cronológica, ou seja, na mesma ordem em que aconteceram no mundo natural. Os fatos e as idéias são organizados em ordem lógica, ou seja, da maneira mais adequada para alcançar a persuasão do auditório. Quais seus elementos constitutivos? Uma narrativa bem redigida deve responder, sempre que possível, às seguintes perguntas: a) O quê? (fato gerador); b) quem? (partes); c) onde? (local do fato); d) quando? (momento do fato); e) como? (maneira como os fatos ocorreram); f) por quê? (motivações da lide). Antes de redigir uma argumentação consistente, tente refletir sobre, pelo menos, as seguintes questões: a) Qual o fato gerador do conflito? b) qual a tese que será defendida? C) com que fatos sustentará essa tese? d) Que tipos de argumento deverá utilizar? Qual a natureza do texto? O texto narrativo tem natureza predominantemente informativa. Sua função persuasiva está atrelada à fundamentação. O texto argumentativo tem função persuasiva por excelência. Quanto à parcialidade... Uma narrativa pode ser simples (imparcial) ou valorada, dependendo da peça a produzir. Não há como defender uma tese sem adotar um posicionamento. Toda argumentação é valorada. Questão 3 Acesse o site do STF ou do STJ e transcreva fragmento de um voto em que a narração esteja a serviço da argumentação. Obs: Narrar- Contar uma história ou fato e ter em sua essência os elementos da narrativa. Argumentação- Trta-se da defesa de uma tese , tentando assim, persuadir ( convencer)o leitor. Questão 3 Resposta: Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.676.369 - DF (2017/0132896-4) RELATORA : MINISTRA PRESIDENTE DO STJ RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : CARLOS EDUARDO MAGALHAES DE ALMEIDA ADVOGADOS : SIMÃO GUIMARÃES DE SOUSA E OUTRO(S) - DF001023 RENÉ ROCHA FILHO - DF008855 LUIZ CLÁUDIO DE ALMEIDA ABREU - DF000301 MARCELO ANTONIO RODRIGUES VIEGAS - DF018503PLAUTO AFONSO DA SILVA RIBEIRO - DF020567 DECISÃO Vistos, etc. Trata-se de recurso especial interposto pela FAZENDA NACIONAL com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, no âmbito do qual se decidiu que não incide imposto de renda sobre o abono de permanência instituído pelo art. 3º, § 1.º, da Emenda Constitucional n.º 41/2003. Os autos foram encaminhados à Vice-Presidência do Tribunal local, que determinou a sua remessa ao Órgão Julgador para que houvesse a reapreciação da matéria, segundo a sistemática dos recursos repetitivos, tendo em vista a divergência com a orientação firmada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp n.º 1.192.556/PE. Em juízo de retratação, o Tribunal de origem manteve o entendimento anteriormente adotado, seguindo-se juízo positivo de admissibilidade do recurso especial. Nas razões do recurso alega-se a contrariedade aos arts. 43 e 111, ambos do Código Tributário Nacional, sob o fundamento de que, tratando-se de verba de natureza remuneratória, incidiria o imposto de renda sobre o abono de permanência. É o relatório. Decido. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o Tema n.º 424 , ao qual está vinculado o Recurso Especial Repetitivo n.º 1.192.556/PE (Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe de 06/09/2010), firmou entendimento no sentido de que incide imposto de renda sobre o abono de permanência, nos termos da seguinte ementa: "TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ABONO DE PERMANÊNCIA. INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA. 1. Sujeitam-se incidência do Imposto de Renda os rendimentos recebidos a título de abono de permanência a que se referem o § 19 do art. 40 da Constituição Federal, o § 5º do art. 2º e o § 1º do art. 3º da Emenda Constitucional 41/2003, e o art. 7º da Lei 10.887/2004. Não há lei que autorize considerar o abono de permanência como rendimento isento. 2. Recurso especial provido." Documento: 74013987 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 27/06/2017 Página 1 de 3 Superior Tribunal de Justiça Vale ainda citar os seguintes julgados desta Corte, que ressaltam a natureza infraconstitucional da matéria, in verbis: "PROCESSUAL CIVIL. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO CONFIGURADO. CONTROVÉRSIA ACERCA DA INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE O ABONO DE PERMANÊNCIA. QUESTÃO INFRACONSTITUCIONAL. MATÉRIA PACIFICADA. RECURSO REPETITIVO. 1. Segundo a jurisprudência do STJ, o prequestionamento implícito está configurado quando o provimento jurisdicional, ainda que não indique expressamente a legislação enfrentada, emite juízo de valor a respeito da tese jurídica por ela disciplinada, o que não ocorreu na hipótese dos autos.
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